quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Opinião do dia: Marina Silva

Pode ser uma escolha, a sociedade brasileira me conhece, conhece os valores que eu defendo, a luta que tenho há mais de 30 anos. Comecei como vereadora, fui deputada, fui senadora por 16 anos, ministra do Meio Ambiente. Imagina se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita vereadora fosse eleita presidente do Brasil, aí sim poderia parecer Collor de Mello.

Marina Silva, ex-senadora, ex-ministra do Meio Ambiente e candidata a presidente da República, na sabatina realizada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", 2 de setembro de 2014.

Planalto retém resultado de avaliação da educação

• Principal indicador da qualidade do ensino foi liberado há 15 dias, mas ainda não foi divulgado

Antônio Gois – O Globo

O governo federal já tem em suas mãos, pronto para divulgação, os resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Os dados foram repassados para a Casa Civil há 15 dias, mas, até agora, não foram tornados públicos, apesar de já terem passado pelo crivo técnico do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do Ministério da Educação responsável pelas avaliações federais.

O Ideb é o principal indicador da qualidade do ensino do país. Ele é divulgado de dois em dois anos e é calculado a partir do desempenho de alunos em testes de Português e Matemática e das taxas de aprovação no ensino fundamental e médio. É a partir do Ideb que é possível monitorar o desempenho de gestores municipais e estaduais na Educação, além de saber se o país está cumprindo as metas estabelecidas para cada etapa de ensino.

A demora na divulgação do Ideb tem gerado críticas de educadores, secretários e governadores. Alguns, reservadamente, suspeitam que, por causa das eleições, o governo esteja segurando os resultados devido a um suposto mau desempenho do país, fato que não é possível confirmar sem que os números se tornem públicos.

Quando as primeiras críticas ao atraso foram publicadas na imprensa, o governo federal respondeu que até o fim do mês passado divulgaria os dados, o que não foi feito.

MEC diz que dados serão divulgados "logo"
Ontem, ao participar de evento na sede da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), em Brasília, o ministro da Educação, Henrique Paim, disse que os resultados seriam divulgados "logo", mas sem dar novo prazo. Ele afirmou que mais de 300 escolas apresentaram recursos e que o Inep está compilando esses dados.

- Tivemos o cuidado em analisar todos os recursos feitos pelas escolas em relação à Prova Brasil. O Inep trabalhou nessa direção, e estamos concluindo essa análise para divulgar logo. Se nós formos ver o histórico da divulgação do Ideb, sempre foi divulgado no mês de agosto. Estamos com uma semana, mais ou menos, de atraso. Assim que eu tiver segurança em relação a esses dados, o Inep vai me indicar, e nós vamos fazer a divulgação.

O último Ideb disponível é referente ao ano de 2011, e foi divulgado em 14 de agosto de 2012. Em 2010, os dados referentes a 2009 foram publicados em julho. Em 2008, indicadores de 2007 vieram à tona em junho.

A coordenadora da área de Educação da campanha de Aécio Neves, Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária-executiva do MEC e ex-presidente do Inep no governo FHC, disse estar preocupada com esse atraso.

- Na semana passada, eu estive num seminário da Associação Brasileira de Avaliação Educacional, e lá foi dito que o Ideb sairia na sexta. E hoje é terça, não saiu, e não temos nenhuma notícia sobre o Ideb. A mesma coisa sobre a Avaliação Nacional de Alfabetização. Também havia uma notícia de que eles anunciariam os resultados do ANA em maio, depois para junho, para julho, já estamos em setembro e ainda não foram divulgados. Estou preocupada, acho que é importante a sociedade brasileira ter acesso a essas informações, porque elas são muito importantes para melhorar as políticas educacionais como um todo.

Maria Alice Setúbal, a Neca Setúbal, uma das coordenadoras de campanha da candidata Marina Silva, disse não acreditar que o atraso na divulgação dos dados esteja relacionado ao calendário eleitoral.

- Acho que não, o ministro é o responsável, ele deve ter respondido isso para vocês. Mas eu acredito que vai ser divulgado no momento em que o MEC achar conveniente. Sempre tem um prazo que deve ser respeitado para a divulgação desses resultados. Vamos esperar. Temos ainda um mês antes do final do primeiro turno para que possam ser divulgados esses resultados. ( Colaborou Demetrio Weber )

Campanha de Dilma sugere que Marina terá mesmo fim de Jânio e Collor

• Campanha petista na TV questiona 'força política' da adversária do PSB e, em alusão a ex-presidentes que deixaram os cargos, compara ex-ministra a representantes de 'partidos do eu sozinho'

Lilian Venturini, Flávia Guerra, Valmar Hupsel Filho, Vera Rosa, Carla Araújo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

A campanha de Dilma Rousseff (PT) vinculou nesta terça-feira, no horário eleitoral na TV, a candidatura de Marina Silva (PSB) aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, que não concluíram seus mandatos. O palanque eletrônico da petista fez um duro ataque à ex-ministra do Meio Ambiente, questionando sua "força política" para negociar apoio no Congresso e sugerindo que, se eleita, Marina teria o mesmo destino de Jânio e Collor.

"Duas vezes na nossa história, o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do partido do 'eu sozinho'. A gente sabe como isso acabou. Sonhar é bom, mas eleição é hora de botar o pé no chão e voltar à realidade", diz um dos apresentadores do programa, que exibiu imagens com notícias de jornal após a renúncia de Jânio (1961) e ao processo de impeachment de Collor, em 1992, que o levou também à renúncia. Ambos foram eleitos com votação expressiva, mas perderam apoio popular no decorrer dos mandatos em razão de denúncias e do descontentamento com a condução política.

A alusão aos ex-presidentes foi feita pelos locutores da propaganda. O programa reproduziu falas de Dilma sobre a adversária durante o debate entre os candidatos à Presidência, segunda-feira, quando a petista também questionou a "força política" de Marina. A propaganda petista afirma ainda que a base de apoio da candidata do PSB atualmente no Congresso é composta por 33 deputados, mas seriam necessários pelo menos 129 para aprovar um projeto de lei. "Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? Será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?", questiona o locutor.

A ex-ministra, que assumiu a candidatura presidencial após a morte do ex-governador Eduardo Campos, em um acidente aéreo no dia 13 do mês passado, tem afirmado que pretende governar com uma base de apoio no Congresso formada por maiorias ocasionais, abdicando do modelo de presidencialismo de coalizão - no qual a aliança governista se dá formalmente com os partidos.
Na mais recente pesquisa Datafolha de intenção de voto, Dilma e Marina aparecem empatadas no 1.º turno, com 34% cada. Na simulação de 2.º turno, a ex-ministra vence com uma vantagem de 10 pontos porcentuais.

A rápida ascensão de Marina deu início à investida petista. Na noite de anteontem, coordenadores da campanha da presidente e ministros se reuniram no comitê, em Brasília, para avaliar a mudança de rumo. "Essa mudança é necessária porque o Brasil precisa saber quem é a boa moça", disse o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães, numa referência à candidata do PSB. "O País não pode votar no escuro. Quando votou no escuro, deu errado. Pode ter havido algum ou outro exagero no programa (de TV), mas o fato é que chegou a hora de a onça beber água e precisamos mostrar as contradições de Marina."

Na terça-feira, em um ato público pelas ruas de São Bernardo do Campo (SP), a própria Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificaram as críticas à ex-ministra. "Fiquei muito preocupada com o programa da candidata Marina porque ela reduz a pó a política industrial", disse a presidente antes de percorrer as ruas da cidade em carro aberto. Segundo Dilma, o programa de Marina "tira o poder dos bancos públicos de participar do financiamento da indústria e da agricultura". Já Lula afirmou, referindo-se indiretamente a Marina, que "no dia 5 de outubro prevalecerá a razão, o coração e o reconhecimento do povo brasileiro".

Aliados do Planalto também entraram na ofensiva contra a candidata do PSB. Em entrevista ao jornal Diário do Nordeste, o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), disse que Marina não vai concluir o mandato se for eleita. "Eu não dou dois anos de governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever."

Principal aliado do PT, o PMDB, porém, não acredita que a estratégia do confronto vá surtir efeito.

'Terrorismo'. Em resposta ao programa eleitoral petista, Marina disse ao participar da série Entrevistas Estadão, que, por não ter sido eleita nem vereadora, Dilma é que poderia ser comparada a Collor. O vice na chapa do PSB, Beto Albuquerque, foi mais enfático e disse que Dilma e Lula estão promovendo um "prenúncio do terrorismo". Ele comparou o programa do PT a uma "conduta lacerdista" - em referência ao jornalista porta-voz da oposição no segundo governo Getúlio Vargas, na década de 1950.

Comparar Marina a Jânio é lacerdismo, diz Albuquerque

• Vice reage a programa do PT que sugere que ex-ministra não teria condições de compor com Congresso e a compara aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor

Ricardo Della Coletta – O Estado de S. Paulo

O candidato a vice-presidente pelo PSB, Beto Albuquerque, reagiu nesta quinta-feira, 2, ao programa eleitoral do PT que sugere que a ex-ministra Marina Silva não teria condições de compor com o Congresso e a compara aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor.
A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, e o vice, Beto Albuquerque em coletiva de imprensa

Ao deixar a Câmara dos Deputados nesta noite, Albuquerque disse que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão promovendo um "prenúncio do terrorismo" e disse que a ação petista é uma "conduta lacerdista". "Compreendo que o PT não queira perder o aparelho e que o PSDB queira ir para o segundo turno. Mas para isso é preciso mais do que adotar o discurso do (Carlos) Lacerda (jornalista porta-voz da oposição ao segundo governo Getúlio Vargas, na década de 50", disse.

O programa de TV de Dilma veiculado nesta tarde afirma que Marina conta com uma base de apoio de 33 deputados, número insuficiente para aprovar propostas legislativas. O narrador coloca em dúvida em seguida se a ex-ministra "teria jeito para negociar" e diz que o Brasil já elegeu "salvadores da pátria, chefes do partido do eu sozinho". "E a gente sabe como isso acabou", conclui o narrador, referindo-se à renúncia de Jânio Quadros e ao processo de impeachment aberto contra Collor.

Albuquerque, que também é líder do PSB na Câmara, disse ainda que o discurso do medo foi usado contra o próprio ex-presidente Lula em 2002, quando adversários diziam que eleição do petista traria instabilidade econômica ao País. "Ele já se esqueceu disso."

'Lula de saias'. Albuquerque foi questionada ainda sobre as críticas do líder do PT no Senado, Humberto Costa, que afirmou hoje que o receituário econômico defendido por Marina faz dela "o Fernando Henrique Cardoso de saias". Em resposta, Albuquerque diz preferir a frase atribuída recentemente ao ex-ministro José Dirceu, preso pelo processo do mensalão e que teria dito que Marina é "o Lula de saias". "Não tem nada disso. O PT foi o primeiro a trazer um banqueiro ao Banco Central e fez muito bem", disse.

Ele defendeu o programa de responsabilidade fiscal proposto pelo PSB e afirmou que o senador petista se esqueceu da Carta ao Povo Brasileiro, documento divulgado pelo ex-presidente Lula em 2002 no qual ele se comprometeu a honrar contratos e com o combate à inflação.

Campanha de Dilma na TV associa Marina a Collor e a Jânio

• Dilma afirma que programa da adversária "reduz a pó a política industrial"

• Petistas reeditam a "estratégia do medo" na tentativa de desconstruir imagem da candidata do PSB

Márcio Falcão, Andréia Sadi, Valdo Cruz, Marina Dias, Gabriela Guerreiro e Fernando Rodrigues – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - A campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff repaginou a "estratégia do medo"--condenada pelo próprio partido em outras disputas eleitorais-- para tentar desconstruir a imagem da presidenciável Marina Silva (PSB), que se tornou a principal adversária da petista na disputa pelo Planalto.

Ao lado do ex-presidente Lula em uma carreata em São Bernardo do Campo (SP), Dilma disse ter ficado "muito preocupada" com o programa de Marina que, segundo a petista, "reduz a pó a política industrial e tira o poder dos bancos públicos de participar do financiamento da indústria e da agricultura".

Na propaganda na televisão, a campanha petista comparou Marina a Jânio Quadros e Fernando Collor (PTB), presidentes que enfrentaram problemas para governar e deixaram o poder antes do fim de seus mandatos.

A propaganda questiona a capacidade de Marina de reunir apoio político. Em seguida, mostra imagens de Jânio Quadros (1917-1992) e referências ao impeachment de Fernando Collor de Mello.

"Duas vezes na nossa história, o Brasil elegeu salvadores da pátria. Chefes do partido do eu sozinho""¦ E a gente sabe como isso acabou. Sonhar é bom, mas eleição é hora de botar o pé no chão e voltar à realidade."

Collor, hoje aliado do PT e de Dilma, não é citado nominalmente e o programa também não mostra imagens dele, apenas lembra o processo que o tirou do poder.

Durante sabatina do jornal "O Estado de S. Paulo" nesta terça, Marina respondeu com ironia ao teor do programa.

Ela ressaltou sua trajetória política e disse que uma pessoa "que nunca foi eleita nem vereadora e foi eleita presidente do Brasil aí sim poderia parecer Collor". Dilma venceu em 2010 sem nunca ter disputado uma eleição.

Carimbo
A série de ataques disparados pelo PT tenta vincular a Marina o risco de um governo instável e defensor de propostas que trariam retrocesso econômico e social.

A estratégia foi discutida pelo alto comando da campanha na segunda-feira. Na reunião, Lula disse, segundo relatos, que será o segundo turno mais longo"" da história.

Os ataques petistas a Marina se multiplicaram ao longo do dia. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o programa da ex-senadora é temerário por conter "instrumentos que podem reduzir a atividade econômica".

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), acusou Marina de se unir a "raposas", adotar o "obscurantismo" em suas propostas e ser o "FHC de saias" --referência ao ex-presidente tucano.

Lula evitou citar diretamente Marina. À militância, afirmou que o eleitor não tem duas opções.

"Se nós quisermos o bem desse país, que esse país continue gerador de emprego e não subordinado ao sistema financeiro, nós não temos duas escolhas e nem uma e meia. Nós temos uma escolha, que é votar na Dilma."

O candidato à vice de Marina, Beto Albuquerque, rebateu os ataques. "Nunca imaginei que Dilma e Lula se prestariam, diante do primeiro revés, ou da primeira possibilidade de não vencer, a fazer esse discurso atrasado. É uma conduta de golpismo."

A tática de instigar o medo no eleitor já foi usada anteriormente. Em 1989, a vitória de Collor (à época no PRN) foi atribuída em parte ao medo de um governo Lula. Em 1998, quando o país enfrentava dificuldades econômicas, o então candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso (PSDB) explorou o temor de que a situação pudesse piorar se Lula vencesse.

Em 2002, o PSDB novamente tentou usar a tática. O então marqueteiro petista, Duda Mendonça, cunhou a expressão "a esperança vai vencer o medo", e Lula venceu.

Marina ironiza Dilma por comparação a Jânio e Collor

• À série Entrevistas Estadão, candidata diz que seria antidemocrática se criticasse presidente por nunca ter sido 'eleita nem vereadora'; campanha petista associou Marina a ex-presidentes na TV

João Domingos, Isadora Peron e Lilian Venturini - O Estado de S. Paulo

A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, foi irônica ao responder nesta terça-feira, 2, na série Entrevistas Estadão, à propaganda da presidente Dilma Rousseff que comparou a adversária a Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello por se apresentar como “salvadora da Pátria”. Tanto Jânio quanto Collor não concluíram seus mandatos: o primeiro renunciou e o segundo foi alvo de impeachment no Congresso. Marina disse que, por não ter sido eleita nem vereadora antes de chegar ao Planalto, Dilma é que poderia ser comparada a Collor.

“A sociedade brasileira me conhece. Conhece os valores que eu defendo, a luta que eu tenho há mais de 30 anos. Eu comecei como vereadora, fui eleita deputada, senadora por 16 anos, ministra do Meio Ambiente. Imagina se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita nem vereadora fosse eleita presidente do Brasil? Aí sim poderia parecer Collor”, afirmou Marina.

Depois que as pesquisas de intenções de votos apontaram o empate entre Marina e Dilma, o PT e a própria presidente passaram a tentar desqualificar o discurso político de Marina.

Uma das principais críticas é que a candidata não teria apoio para governar. Questionada sobre o tamanho de sua base, já que é a candidata da menor coligação entre as três principais chapas presidenciais, Marina afirmou que sabe negociar. Ao ser confrontada com as dificuldades para conseguir a maioria na Câmara e no Senado apenas apresentando bons projetos, Marina brincou com o jornalista doEstado: “Você tem uma visão bem pessimista do Congresso”.

A candidata citou exemplos de quando foi ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva e disse que, mesmo sem o apoio do PT, conseguiu aprovar leis negociando diretamente com lideranças partidárias.

Perguntada se a intenção de governar sem o apoio de partidos, apenas com o suporte das “pessoas de bem” de cada legenda, não era antidemocrático, Marina respondeu que esses políticos representam as siglas pelas quais foram eleitos. “Antidemocrático é governar apenas para os partidos, como está sendo feito hoje. Temos uma governabilidade canhestra. Governar com Pedro Simon (PMDB-RS), que foi da resistência democrática deste País, um senador do quilate de Cristovam Buarque (PDT-DF), não prescindir de apoio de pessoas como Eduardo Suplicy, que é do PT, e até mesmo, tendo posição diferente do ponto de vista político, se ele for eleito, o José Serra. Não acho que ele vá se furtar a dar o apoio ao governo”, afirmou.

Menos pastas a se definir. Marina reafirmou a intenção exposta pelo seu companheiro de chapa, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13, de cortar o número de ministérios. Não disse, porém, quais pastas seriam fechadas. “Há, no meu programa, o compromisso de reduzir ministérios. Quantos vão ser cortados depende da discussão dos critérios estabelecidos.”
De acordo com ela, os 39 ministérios do governo Dilma representam concessões para partidos da base governista. “Hoje temos 39 ministérios que servem para alocar aliados. Cada um quer ter um ministério para chamar de seu”.

Durante a entrevista, Marina também fez críticas ao tucano Aécio Neves, terceiro colocado nas pesquisas. Em uma provocação velada, disse que é temeroso divulgar nomes da equipe de governo antes das eleições - o candidato do PSDB anunciou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como ministro da Fazenda. “Acho temerário andar de salto alto nomeando ministros antes de ser eleito. Primeiro tem que ser nomeado pelo povo”, disse. “Se existe insegurança do que está fazendo, é preciso utilizar esse tipo de recurso”, provocou a candidata.

Em uma crítica a tucanos e petistas, Marina disse que os dois partidos “fulanizam” as conquistas obtidas pela sociedade. Ela prometeu que nunca dirá - como o fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que tal coisa foi criada por seu governo. Marina repetiu seu discurso contra a polarização tradicional da política brasileira nos últimos 20 anos. “PT e PSDB foram para um distanciamento tão predatório, que a polarização prejudica o futuro do País”, afirmou.

A ex-ministra elogiou conquistas do PSDB, em especial a estabilidade econômica, e do PT, destacando os programas de distribuição de renda que ajudaram na inclusão social de milhões de pessoas.

Sobre a possibilidade de governar com apoio tanto de Lula quanto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, voltou a dizer que poderia ter um diálogo de governabilidade com ambos. Marina afirmou que o PSDB ficou dependente do antigo PFL e o PT, do PMDB. “Tenho certeza de que seria muito melhor conversar com FHC e Lula do que ter que conversar com como Antônio Carlos Magalhães, José Sarney, Collor, (Paulo) Maluf ou Renan Calheiros.”

Nessa hora, Marina foi lembrada que Renan já está fazendo campanha para ser reeleito presidente do Senado e questionada que, nessa situação, terá de conversar com o senador do PMDB de Alagoas. “Conversaremos, mas não com a ideia de que ele será subordinado ao Executivo”, disse a presidenciável, ao dizer que respeita a autonomia do Congresso.

'Subir gasolina é com Dilma'. A candidata do PSB voltou a jogar para Dilma a responsabilidade pelo reajuste dos preços administrados no País, a exemplo dos combustíveis. Segundo Marina, a política do governo de segurar os preços da gasolina e outros derivados do petróleo para controlar a inflação tem um custo alto para a sociedade, e cabe à presidente assumir esse problema.

“Eu espero que a presidente Dilma, que tem a responsabilidade de fazer isso (o reajuste de preços), o faça. Quem está no governo deve assumir suas responsabilidades”, afirmou. A candidata condenou o que chama de uso político da Petrobrás, assim como, segundo Marina, acontece com as instituições financeiras estatais.

Como exemplo, a candidata citou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teria emprestado mais de R$ 500 bilhões para empresas sem critérios claros e transparência. “Esse dinheiro não passou pelo Parlamento ou por discussão que os brasileiros tenham tido acesso”, afirmou.

A presidenciável voltou a desferir críticas ao atual governo pelo baixo crescimento econômico e a alta da inflação. “Ela (Dilma) está entregando o governo pior do que encontrou”, disse, repetindo um bordão criado por Campos. “Ela (Dilma)prometeu que ia abaixar juros, fazer o País crescer e reduzir inflação, mas nada disso aconteceu.”

Marina também reiterou o seu compromisso com o tripé econômico - meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Defendeu novamente a independência do Banco Central. O modelo dessa independência, explicou, ainda está sendo estudado com base em casos ao redor do mundo. Para Marina, o BC brasileiro perdeu a autonomia por causa das intervenções do governo na entidade.

Código Florestal. Em resposta a uma pergunta das redes sociais, Marina disse que seu governo vai colocar em prática as diretrizes do Código Florestal, caso seja eleita. Segundo a candidata, a legislação não foi aprovada como ela gostaria - na época da votação, a ex-ministra foi contra o projeto - mas que, uma vez aprovado pelo Congresso, o código deve ser respeitado. “Não foi a lei que eu queria, mas foi a lei aprovada e ela deve ser implementada.”

A candidata também falou sobre regularização de terras indígenas e de conservação ambiental e a relação com produtores rurais. De acordo com Marina o que as pessoas envolvidas em conflitos por terras desejam é segurança jurídica. Marina afirmou que, no caso de áreas reclamadas por populações indígenas, tanto eles quanto agricultores presentes nesses locais estão dispostos ao diálogo para resolver a questão. “Acho injusto dizer que agronegócio é oposição às populações indígenas e ao meio ambiente”, afirmou Marina.

Ela disse ainda que, em um eventual governo, o procedimento para a obtenção de licenciamento ambiental terá “qualidade, sem perder agilidade”.

Pré-sal. Sobre a matriz energética do Brasil, Marina disse não ter qualquer preconceito com a fonte hidrelétrica nem com o pré-sal. “O pré-sal é fundamental e fundamental é também investir em outras matrizes de energia.” Questionada se pretenderia reduzir os investimentos no pré-sal, como acusam adversários políticos, respondeu: “Não, muito pelo contrário”.

Ela argumentou que as receitas do pré-sal serão fundamentais para o País investir em educação e em tecnologia que irão subsidiar o desenvolvimento de novas fontes de energia.

Rede. Marina disse que o projeto de criar a Rede Sustentabilidade, partido que ela tentou tirar do papel no ano passado e não conseguiu por falta de assinaturas, é maior que ela e que, por isso, será oficializado independentemente da sua vontade. “A Rede já é uma realidade, não é o partido da Marina.”

Sobre sua posição pessoal no PSB, após a morte de Campos, Marina repetiu que foi “acolhida” pelo partido e que é solidária à legenda. “Tenho uma solidariedade profunda com o PSB”, afirmou a candidata. / Colaboraram Ana Fernandes e Wladimir D’Andrade

Dilma e Marina comparam uma a outra a Collor

• Na TV, petista questiona capacidade de ex-senadora governar; socialista contra-ataca e lembra que tem experiência

Luiz Ernesto Magalhães e Sérgio Roxo – O Globo

RIO E SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Collor de Mello serviu de munição para Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) se atacarem ontem. Foi o PT quem partiu primeiro para a ofensiva. O programa eleitoral gratuito de Dilma na TV chegou a comparar Marina, devido a uma suposta falta de apoio político, com os ex-presidentes Jânio Quadros, que renunciou ao mandato logo no início de seu governo, e Collor, que sofreu o impeachment.

Nos programas de Dilma exibidos à tarde e à noite, um locutor em off questionou a capacidade de Marina de governar e chegou a compará-la a um salvador da pátria. Enquanto isso, apareciam na TV imagens de Jânio Quadros e uma manchete de jornal noticiando o impeachment de Collor, em 1992. No programa, o locutor afirmou: "Duas vezes na nossa História, o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do partido do eu sozinho".

Marina contra-atacou durante a sabatina promovida ontem à tarde pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Questionada sobre o programa da petista, Marina respondeu com ironia e também comparou a petista a Collor.

- A sociedade brasileira me conhece, conhece os valores que eu defendo, a luta que tenho há mais de 30 anos. Comecei como vereadora, fui deputada, fui senadora por 16 anos, ministra do Meio Ambiente. Imagina se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita vereadora fosse eleita presidente do Brasil, aí sim poderia parecer Collor de Mello - afirmou ela, numa referência ao fato de Dilma ter sido eleita presidente da República, em 2010, na primeira eleição que disputou na vida.

O curioso na edição das imagens do programa de TV de Dilma é que, no caso de Jânio Quadros, o ex-presidente aparece inclusive em fotos e tem o nome reproduzido em reportagens de jornais. Em relação a Collor, o recorte de jornal exibido faz menção ao fato de o Congresso Nacional ter aprovado o impeachment na década de 1990, mas nem o nome nem a imagem de Fernando Collor - hoje um senador aliado de Dilma no Congresso - são exibidos.

O locutor prossegue: "Numa democracia, ninguém governa sem partidos. Ninguém governa sozinho. A base de apoio de Marina Silva tem hoje 33 deputados. Sabe de quantos ela precisaria para aprovar um simples projeto de lei? No mínimo 129. E uma emenda constitucional? 308. Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?"

Momentos antes do ataque, são exibidas imagens da presidente no debate de anteontem no SBT questionando Marina sobre a dificuldade que a adversária supostamente teria se fosse eleita sem o apoio de partidos.

"Candidata, sem apoio no Congresso Nacional não é possível assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais", afirmou a presidente no trecho do debate divulgado no programa eleitoral.

Também programa gratuito de TV, Dilma exibiu outras passagem do debate no qual questionava de onde Marina obteria recursos, se eleita, para ampliar investimentos em áreas como Saúde e Educação. A candidata do PT também acusou a ex-senadora de desprezar as reservas do pré-sal como um recurso importante para ampliar os gastos públicos com Educação:

-A senhora diz que vai antecipar 10% do PIB para a Educação. R$ 70 bilhões. Dez por cento da receita bruta para a Saúde: R$ 40 milhões. Passe livre para estudantes: mais R$ 14 bilhões. Mais dinheiro para os municípios: R$ 9 bilhões. E várias outras outras promessas. Todas as suas promessas dão R$ 140 bilhões. Quem governa tem que dizer como vai fazer. Não basta se comprometer ou prometer. O montante prometido pela senhora equivale a quase tudo que se gasta em Saúde e Educação. Não basta dizer que vai fazer um monte de coisas sem dizer de onde vem o dinheiro -disse a presidente.

Pré-sal também foi mencionado
Dilma prossegue falando do pré-sal:

"Jornais têm afirmado que a senhora pretende reduzir a importância do pré-sal. Em seu programa de governo de 242 páginas tem apenas uma linha sobre o pré-sal. E a senhora disse que o petróleo do pré-sal é uma aposta estratégica errada. O pré-sal é um dos maiores patrimônios brasileiros. É o nosso passaporte para o mundo. Explorado para termos uma Educação e Saúde com muito mais qualidade", disse ela no programa eleitoral.

"Ser contra o pré-sal é ser contra o futuro do Brasil", afirma o locutor.

Sobre os outros temas mencionados no programa de Dilma, Marina não deu nenhuma resposta ontem.

Marina é 'FHC de saias', diz líder do PT no Senado

Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), fez nesta terça-feira um duro discurso no qual chamou a candidata do PSB à Presidência e ex-colega de partido, Marina Silva, de um "FHC de saias". O petista acusou Marina de agir como um "pêndulo", que se bandeia para um lado e outro, e que "vai baixar a cabeça ao mercado financeiro, deixando a política neoliberal novamente aumentar juros e voltar a inflação". "A proposta de Marina é deixar que a mão do mercado regule tudo. É dar autonomia total ao Banco Central, coisa que nem o Fernando Henrique deu. Ela, agora, propõe deixar que os tecnocratas assumam as rédeas do país. É dar prioridade à inflação mínima, como aconteceu no governo passado, chegando a 45%", criticou Costa, em discurso da tribuna do Senado.

Para o petista, Marina é uma alegoria criada para ser vendida como novidade, mas tal alegoria "se travestia de velhas políticas". Ele criticou o que considera de alianças eleitorais de conveniência e disse que as "raposas" estão lá. Citou o apoio de Paulo Bornhausen, candidato ao Senado pelo PSB e filho do ex-senador Jorge Bornhausen, crítico contumaz do PT.

No pronunciamento, Humberto Costa, que também é coordenador da campanha à reeleição de Dilma Rousseff em Pernambuco, explorou as incongruências de Marina. Disse que ela não aceita doações de empresas da indústria de armas enquanto o tesoureiro do PSB, Márcio França, não faz qualquer restrições a repasses. Destacou que ela não conseguiu criar seu próprio partido, o Rede Sustentabilidade, e não tem o controle da legenda que a hospeda provisoriamente, o PSB. "Que controle teria ela sobre um eventual governo? O que quero chamar atenção é para o risco dessas incongruências, a prática de pregar uma coisa e fazer outra. Essa atitude política camaleônica que não se sabe, de fato, o que esconde. É uma política errática, sem lado", disse, ao ironizar que até um vereador de Goiás conseguiu construir um partido nacional - numa referência indireta a Eurípedes Junior, presidente do PROS.

O petista disse que Marina, se vencer, não teria "ninguém para governar". "Não teria base nesse Congresso, não teria aliados", afirmou. "O governo usaria a população como instrumento de pressão sobre o Legislativo. Transformar isso em forma de governabilidade é um equívoco absoluto", afirmou. Costa criticou ainda a política de alianças, citando que, por um lado, recrimina apoio do PSB, mas o tesoureiro do partido é candidato a vice do governador tucano, Geraldo Alckmin, assim como ela recrimina o PT, mas no Rio seu partido apoio a candidatura ao governo de Lindbergh Farias. E destacou que o programa de governo de Marina é a "síntese dessas contradições", ao citar que o conjunto de promessas não aguentou 24 horas em pé.

Aécio acusa Marina de plagiar FH sobre direitos humanos

• Candidato do PSDB chama adversária de "metamorfose ambulante" em evento em SP

Silvia Amorim e Maria Lima – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou ontem a candidata do PSB, Marina Silva, de copiar trecho do Plano Nacional de Direitos Humanos do governo de Fernando Henrique Cardoso, de 2002, para usar no programa de governo dela, apresentado na semana passada. A acusação de Aécio aconteceu em meio a ataques à ex-senadora, a quem chamou de "metamorfose ambulante".

- Eu já vi incoerências muito grandes entre a prática da candidata e o seu discurso atualizado. Mas me surpreendi ao perceber que o capítulo dos Direitos Humanos do programa de governo da candidata Marina é uma cópia fiel do PNDH feito no governo Fernando Henrique. Não se teve o cuidado sequer de alterar palavras - disse Aécio, que, no final de semana, já havia acusado Marina de plagiar pontos do programa na área econômica.

Neca Setúbal e Maurício Rands, do comando da campanha de Marina, não foram encontrados para comentar a acusação feita por Aécio.

Para tentar conter o clima de pessimismo entre aliados e rumores de que renunciaria, Aécio convocou ontem lideranças do partido, em São Paulo, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique, para reafirmar sua candidatura. Sem a presença do coordenador-geral da campanha, senador José Agripino Maia (DEM), que anteontem fez declarações que deflagraram o mal-estar, Aécio disse que "vai lutar até o último instante" e atacou Marina Silva, a quem chamou de "metamorfose ambulante".

A referência à adversária arrancou risos dos tucanos que o acompanhavam no pronunciamento. Aécio estava criticando a campanha da presidente Dilma Rousseff pela decisão de, agora, às vésperas do primeiro turno, tirar da gaveta, no Congresso, um projeto que concede benefícios tributários a templos religiosos:

- O improviso não é o melhor conselheiro. De um lado, temos um governo que reage aos índices das pesquisas alterando as suas convicções, com um certo desespero, o que não é bom. Do outro lado, o que vejo é uma candidatura que mais se assemelha a uma metamorfose ambulante, que altera suas convicções ao sabor das circunstâncias.

Sem citar Aécio Neves, Marina Silva acusou o candidato tucano de agir com "certa insegurança" por ter anunciado que colocaria o ex-presidente do Banco Central Armírio Fraga no Ministério da Fazenda em seu eventual governo.

- Eu acho muito temerário esse negócio de você andar de salto alto nomeando ministro antes de ser eleita - disse a candidata, indagada em sabatina ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo", sobre quem seriam os seus ministros.

Aécio nega renúncia e diz que luta até o fim
Com aliados por todo o país já descrentes na chegada ao segundo turno, Aécio usou ontem as câmeras para transmitir entusiasmo e confiança:

- Quero afirmar que tenho plena confiança de que iremos ao segundo turno e venceremos essas eleições. Vou lutar até o último instante.

Pesquisas divulgadas ontem mostraram o tucano em terceiro lugar no Rio e em São Paulo. Aécio já ouviu de aliados que a campanha estaria perdida. Segundo eles, a reação do mineiro foi o silêncio. Nas redes sociais cresceram os rumores de que o tucano renunciaria à candidatura para dar apoio a Marina e reduzir as chances de segundo turno. Aécio desconversou e usou ironia:

- Eu? Renúncia? Eu espero é que a presidente não renuncie, porque eu gostaria muito de enfrentá-la no segundo turno.

Aécio fez ataques ao governo Dilma, mas as críticas mais duras ficaram reservadas a Marina. Ele voltou a expor o que considera contradições da adversária, citando os tempos em que a ex-senadora era filiada do PT e foi contra o Plano Real e a cultura de soja transgênica pelo agronegócio. Fernando Henrique reforçou:

- Por que foi possível domar a inflação, criar instituições, valorizar a democracia? Porque tinha uma equipe e capacidade de juntar um time. Não se governa sozinho.

O candidato a vice na chapa de Aécio, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), disse que o boato sobre a renúncia "é desonesto e de uma canalhice sem tamanho. Uma felonia."

No Senado, duelo entre líderes de PT e PSB

• Marina é "FHC de saias", diz petista; para socialista, colega perdeu o "equilíbrio"

Maria Lima e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), usou ontem a tribuna da Casa para fazer um discurso contundente contra a candidatura da ex-companheira de partido, Marina Silva, do PSB, à Presidência da República. Ele chamou a adversária de "obscurantista", afirmou que ela apresentou um programa neoliberal que a transformou numa "FHC de saias".

- O desafio nesta eleição é enxergar o perigo do obscurantismo que envolve o discurso do novo. Marina esconde debaixo do xale o que tem de mais conservador que existe no país. Não podemos dar um salto no escuro rumo ao precipício - disse Costa.

O líder petista, valendo-se da TV Senado, disse ainda que o discurso da nova política de Marina vem travestido das velhas práticas e que todas as suas alianças são de conveniência.
- As raposas estão todas lá nos palanques estaduais da candidata Marina - disse Costa, citando o ex-senador Mão Santa (PSC), no Piauí, e o ex-deputado Paulo Bornhausen (PSB), em Santa Catarina).

O líder do PSB no Senado e candidato ao governo do Distrito Federal, senador Rodrigo Rollemberg, reagiu aos ataques à candidata feito pelo líder do PT. Rollemberg disse que o crescimento da candidatura de Marina estava levando à "perda de equilíbrio" de alguns senadores e afirmou que não poderia admitir que se tratasse a candidatura de Marina como uma "ameaça":

- Parece que o crescimento da nossa candidata a presidente nas pesquisas tem feito alguns senadores perderem o equilíbrio. Quero registrar que a população brasileira não aceita mais esse tipo de terrorismo. E quero relembrar que o ex-presidente Lula também foi vítima desse tipo de preconceito e desse tipo de ameaça. E, naquele momento, como neste momento, posso assegurar ao senador Humberto Costa que a esperança vai vencer o medo. O que a senadora Marina Silva, ex-ministra, representa para a população brasileira é um grande desejo de mudança - disse Rollemberg.

Marina cresce e abre 16 pontos sobre Dilma no Estado de São Paulo

Jose Roberto de Toledo – O Estado de S. Paulo

Marina Silva (PSB) cresceu 4 pontos em uma semana e chegou a 39% das intenções de voto no Estado de São Paulo, aumentando sua vantagem sobre Dilma Rousseff (PT), que permanece com 23% entre os paulistas. É o que mostra nova pesquisa Ibope feita entre sábado e segunda-feira, para o Estado e a Rede Globo, sobre as disputas pelos governo estadual e presidencial em São Paulo.

O crescimento de Marina no eleitorado paulista se deu pelo menos em parte às custas de Aécio Neves (PSDB). O tucano foi de 19% para 17%. Outros dois pontos vieram dos eleitores que pretendem anular ou votar em branco (foram de 9% para 7%). Há também 10% de eleitores indecisos, e 4% se dividem entre os nanicos.

O resultado da corrida presidencial em São Paulo é especialmente importante porque trata-se do maior colégio eleitoral do país, com 22% do total de eleitores. Para se eleger presidente, um candidato não precisa necessariamente ganhar no Estado, mas não pode ir mal. Esta é a primeira eleição presidencial desde a redemocratização sem que haja um paulista entre os favoritos.

A maior vantagem de Marina sobre seus adversários em São Paulo está no eleitorado evangélico. A candidata do PSB tem 49% dos votos dos eleitores dessa fé, contra 20% de Dilma e 9% de Aécio. Já entre os católicos a disputa é bem mais parelha: 36% para Marina contra 25% de Dilma e 19% de Aécio.

O voto mais comum em São Paulo, neste momento, é o “Geraldina”: 43% dos eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB) declaram preferir também Marina, contra apenas 26% que votam no governador tucano e no candidato de seu partido, Aécio, para presidente. Dilma está tecnicamente empatada com o rival no eleitorado de Alckmin, com 23% das preferências. Marina tem 51% dos eleitores de Paulo Skaf (PMDB) e 16% dos de Alexandre Padilha (PT).

A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro, em 87 municípios do Estado de São Paulo. Foram feitas 1.806 entrevistas face a face. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no TRE-SP com o número de protocolo SP-00021/2014, e no TSE como BR-00492/2014.

Marina ultrapassa Dilma no Rio, aponta Ibope

Mônica Ciarelli – O Estado de S. Paulo

Pesquisa realizada pelo Ibope e divulgada nesta terça-feira, 02, no Rio, aponta a candidata Marina Silva (PSB) pela primeira vez liderando a corrida para a Presidência da República entre os eleitores do Rio de Janeiro, com 38% das intenções de voto. Dilma Rousseff (PT) tem 32% e Aécio Neves (PSDB), 11%.

No levantamento anterior, divulgado há uma semana, a candidata do PSB aparecia com 30% das intenções de voto, atrás de Dilma, candidata à reeleição, que tinha 38%. Aécio somava os mesmos 11% de agora.

Pastor Everaldo (PSC) tem 2%. Os candidatos Eduardo Jorge (PV), Eymael (PSDC), Levy Fidélix (PRTB), Luciana Genro (PSOL), Mauro Iasi (PCB), Rui Costa Pimenta (PCO) e Zé Maria (PSTU) somam, juntos, 1%. Brancos e nulos somam 10%, e 6% não sabem ou não responderam.

A pesquisa, encomendada pela TV Globo, foi realizada entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro. Foram entrevistados 1.610 eleitores de 44 municípios do Rio de Janeiro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%, o que quer dizer que, se levada em conta a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, a probabilidade de o resultado retratar a realidade é de 95%.

A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) sob o número 00026/2014 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR- 00491/2014.

Disputa também chega aos grotões

Letícia Casado - Valor Econômico

SÃO PAULO - Redutos da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, os municípios com até 50 mil habitantes - que representam 40% do eleitorado - começam a ver um crescimento das intenções de voto na ex-senadora Marina Silva (PSB). Nas últimas três pesquisas Datafolha, Dilma manteve-se nos 44%, mas a candidatura do PSB saltou de 6% sob Eduardo Campos para 29% com Marina na cabeça de chapa. Aécio Neves (PSDB) caiu de 19% para 14%.

O avanço de Marina entre esses eleitores disparou um alarme na campanha petista. Atentos à mudança no cenário, os principais concorrentes ao Planalto preparam mobilizações nessas cidades. O eleitorado que vive em cidades com até 50 mil habitantes votou em Dilma em 2010. Dos 5.071 municípios que fazem parte do PAC 2 Equipamentos, Dilma venceu em 71,38% (3.616 cidades) e José Serra (PSDB), em 28,63% (1.450 municípios).

O "núcleo duro" formado pelos eleitores beneficiados por programas federais é a principal aposta do PT para se manter no governo. O PAC 2 Equipamentos, programa lançado em 2011, contempla a entrega de máquinas pesadas - como retroescavadeiras - a municípios com até 50 mil habitantes ou em situação de emergência - cidades do Semiárido, tais como Feira de Santana, com quase 400 mil eleitores.

Esses municípios são alvo prioritário dos programas sociais do PT, como o Bolsa Família. Mas o PAC 2 é o maior diferencial da atual campanha para a de 2010 e se tornou a principal política pública federal para esse colégio eleitoral, comum a essas cidades.

Ibope: eleição no Rio caminha para segundo turno

• Garotinho lidera, e Pezão e Crivella estão em empate técnico

Cássio Bruno e Leticia Fernandes – O Globo

Nova pesquisa Ibope divulgada ontem pelo "RJ-TV 2ª Edição", da TV Globo, mostrou que, se as eleições fossem hoje, haveria segundo turno no Rio de Janeiro. O candidato Anthony Garotinho (PR) continua liderando as pesquisas, com 27%, mas oscilou um ponto percentual para baixo em relação à última comparação do instituto, feita em 26 de agosto. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) variaram um ponto percentual para cima cada e continuam tecnicamente empatados em segundo lugar - Pezão tem 19%, e Crivella aparece com 17%. Assim, não é possível afirmar qual dos dois enfrentaria Garotinho em um eventual segundo turno.

O senador Lindbergh Farias (PT), por sua vez, oscilou um ponto percentual para baixo e está com 11%. O candidato Tarcísio Motta (PSOL) manteve os 3%, Dayse Oliveira (PSTU) continua com 1% e Ney Nunes (PCB), que tinha 1%, não pontuou. Votos brancos e nulos eram 15% no Ibope de agosto e agora somam 14%. Os eleitores indecisos passaram de 6% para 8%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O Ibope fez três simulações de segundo turno. Em duas delas, Garotinho aparece empatado com Crivella (ambos com 34%) e com Pezão (os dois tiveram 35%). Já na comparação com Lindbergh, o ex-governador venceria a disputa por 37% contra 31% do petista, que ganhou dois pontos percentuais se comparado com a última simulação do instituto.

A pesquisa mostrou também que diminuiu a rejeição aos principais candidatos. Garotinho, que tinha 35%, aparece com 34%, mas ainda é o mais rejeitado no estado. Pezão tem 16%, quatro pontos a menos que na última pesquisa; Lindbergh melhorou de 19% para 13% no índice de rejeição, e Crivella foi de 19% para 12%, e tem a menor rejeição entre os quatro principais candidatos ao Palácio Guanabara. Os eleitores que responderam que votariam em qualquer candidato foram 9%, e os que não souberam ou não responderam totalizaram 25%.

Garotinho comentou o resultado da pesquisa:

- Eleição é como futebol. Treino é treino, jogo é jogo. A pesquisa eleitoral é pesquisa, eleição é eleição.

Lindbergh, que esperava crescer nas pesquisas após o início dos programas eleitorais na TV e no rádio, com a participação do ex-presidente Lula, afirmou que os números são contraditórios:

- Os índices dos programas eleitorais estão baixos. A pesquisa é contraditória. No estado em que foi o epicentro das manifestações (de junho de 2013), estão liderando Garotinho e Pezão. Acredito que vá prevalecer o caminho da mudança.

Por meio de sua assessoria de imprensa, Pezão disse que "os comentários sobre a pesquisa cabem aos especialistas" e afirmou que "continua se dedicando a trabalhar e mostrar suas propostas".

Procurado pelo GLOBO, Crivella não comentou.

Romário é líder para senado
O Ibope também divulgou nova avaliação do governo de Luiz Fernando Pezão. Os eleitores que consideraram a administração do peemedebista ótima somaram 3%; os que consideraram o governo bom, 20%; regular, 38%; ruim e péssimo, 12% cada; não souberam ou não responderam 15% dos eleitores.

A pesquisa foi contratada pela TV Globo e realizada entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro. Foram ouvidos 1.610 eleitores em 44 municípios do estado. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é de número 00491/2014.

Para o Senado, o deputado federal Romário (PSB) cresceu três pontos e segue liderando com 40%. O ex-prefeito Cesar Maia (DEM) caiu de 22% para 19%, enquanto Eduardo Serra (PCB) e Carlos Lupi (PDT) mantiveram os índices da última pesquisa, de 5% e 3%, respectivamente.

Aécio 'vem dando sinais de confiança', diz ACM Neto

José Roberto Castro – O Estado de S. Paulo

Vivendo seu momento mais delicado desde o início da corrida presidencial, o tucano Aécio Neves deve se esforçar neste momento para "animar a tropa". A avaliação é do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), aliado e um dos principais fiadores da candidatura de Aécio na região Nordeste. "O mais importante agora é animar a tropa, não deixar as pessoas, os candidatos Brasil afora se desanimarem. Ele, como principal líder do processo, vem trabalhando muito nessa direção", afirmou o democrata ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. "A pior coisa é quando o candidato baixa a cabeça, esmorece ou dá sinais trocados", diz, revelando que tem conversas constantes com o aliado, que "vem dando sinais internos de confiança".

ACM Neto negou que a possibilidade de apoio a Marina Silva em um segundo turno esteja sendo discutida no momento. Ontem, ao Broadcast Político, o coordenador da campanha de Aécio e correligionário de ACM, José Agripino Maia, admitiu pela primeira vez a possibilidade de apoiar Marina em um segundo turno "contra um mal maior que é o PT".

Segundo o prefeito de Salvador, Agripino Maia foi mal interpretado e ligou para Aécio para explicar o caso. Ao ser questionado, momentos antes do debate no SBT, sobre a declaração do coordenador de campanha, Aécio disse que desconhecia a fala. "O que a gente menos precisa agora é de uma crise interna na campanha. Se existe uma pessoa que está empenhada por Aécio chama-se José Agripino Maia", garantiu ACM Neto.

Para o prefeito, o momento difícil de Aécio Neves já era previsto. Ele acredita, no entanto, que, passado o momento mais crítico da campanha, o mineiro pode se recolocar na disputa pelo segundo turno. "No dia do enterro de Eduardo, tive uma conversa particular com Aécio e lhe disse: se prepare que você vai ver as duas semanas mais difíceis da sua trajetória. Por outro lado, acho que passado este momento mais difícil, é possível retomar o crescimento. Ele é um bom produto, tem consistência, conteúdo, aliados fortes nos Estados."

Reversão
Na tentativa de reverter o que chamou de "fenômeno Marina Silva", ACM acha que Aécio deve explorar sua maior base partidária e os apoios em palanques estaduais. O democrata citou São Paulo, Minas Gerais e Bahia como locais onde o tucano deveria focar sua campanha nas próximas semanas.

"Ele deve focar agenda dele em locais onde tem palanque mais forte, candidatos a governador ou a senador bem posicionados. Para tentar associar o nome dele a um desses candidatos". Em São Paulo e na Bahia, Estados citados por ACM, os candidatos que apoiam Aécio - Geraldo Alckmin (PSDB) e Paulo Souto (DEM) - lideram com folga a disputa pelos governos estaduais. Os números não se traduzem, porém, em votos para o tucano, que aparece em segundo em São Paulo e em terceiro lugar na Bahia, com apenas 10% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto.

Em Minas, base eleitoral de Aécio, a situação é diferente. O tucano aparece na frente, tecnicamente empatado com Dilma Rousseff, mas vê ameaçada a hegemonia de 12 anos do PSDB no Estado. "Ele precisa olhar muito por Minas, precisa construir uma vitória dele e do candidato dele em Minas Gerais", avalia. A necessidade de uma vitória em Minas seria um dos motivos que para que Aécio pensasse em desistir da candidatura presidencial para concorrer em seu Estado ainda em 2014. A possibilidade, veiculada ontem pelo jornal Valor Econômico, foi chamada de "absurda" por ACM.

"Uma hipótese como essa jamais seria cogitada, só quem não conhece Aécio é que pode falar isso (...) Isso não merece nem um segundo de atenção", afirmou.

Ataques
Questionado se o mineiro vem sendo muito brando nos ataques a Marina Silva, focando nas críticas ao governo, ACM Neto falou em coerência. Para ele, o fato de o tucano continuar tendo Dilma como principal alvo mesmo depois de ser ultrapassado por Marina não é um sinal de que desistiu de chegar ao segundo turno. "Não é porque houve esse fenômeno Marina que ele vai deixar de ter coerência. A posição de coerência dele é ser a grande voz de oposição nesta eleição. Quem fez oposição nos últimos 12 anos neste País fomos nós, foi Aécio Neves, ele não pode perder esse foco de maneira alguma", defendeu.

Apesar da distância que separa Aécio Neves das duas candidatas mais bem colocadas, 19 pontos porcentuais no último Datafolha, ACM resiste em dizer que a eleição esteja perdida. "As pessoas estão querendo criar um quadro por conta das últimas pesquisas desconsiderando que os próximos 30 dias são decisivos. As pessoas estão começando a despertar para a eleição agora. Esses próximos 30 dias são mais importantes do que os últimos 4 anos", conclui.

Aécio diz que recebe mudança no cenário 'com humildade'

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou, na manhã desta quarta-feira, 3, em entrevista à rádio CBN, que o Brasil vive hoje uma nova eleição, após a morte do ex-governador Eduardo Campos e com a entrada de Marina Silva como cabeça de chapa do PSB.

"Recebo as modificações (cenário eleitoral, com Marina ultrapassando sua candidatura nas recentes pesquisas de intenção de voto) com humildade, mas quem decide a eleição é o eleitor, no dia 5 de outubro", disse, negando que seu partido tenha abandonado o seu pleito e reiterando que estará na disputa do segundo turno.

Na entrevista de meia hora, o tucano voltou a criticar duramente a adversária do PSB, levantando dúvidas sobre suas posições, como fez na tarde desta terça-feira, 2, em entrevista concedida para dirimir as dúvidas de que poderia desistir de sua candidatura e para deflagrar a nova estratégia de partir para o ataque às adversárias mais bem pontuadas nas recentes pesquisas eleitorais, Marina e a petista Dilma Rousseff. "Sou oposição ao atual governo, nunca fui oposição circunstancial", afirmou Aécio, que completou dizendo que nunca foi filiado ao PT.

Reforçando que Marina já integrou os quadros do PT, o presidenciável tucano voltou a dizer que ela votou contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, projetos considerados conquistas do governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. "Marina precisa dizer com clareza quais são suas propostas para o Brasil", cobrou. Com relação à Dilma, ele disse, mais uma vez, que a atual presidente e candidata à reeleição sofrerá uma derrota nas urnas, neste pleito. "Meu sentimento é que a presidente Dilma vai perder as eleições."

Na entrevista, Aécio foi questionado sobre sua posição sobre o aborto e destacou que um presidente da República não deve arbitrar sobre o tema, que já possui legislação formulada pelos congressistas. "O Congresso Nacional é quem deve debater (o assunto e as eventuais modificações na legislação) e eu não me oporia a isso (caso seja eleito)", frisou.

''Maldades''
O candidato disse ainda que o legado de Dilma será o de recessão técnica, inflação em alta, baixo crescimento e falta de credibilidade que afeta os investimentos e a geração de empregos.

"O meu governo terá uma política econômica responsável, previsível", disse Aécio, ao ser questionado sobre o receituário que pretende colocar em prática, caso seja eleito, levando em conta que seu principal colaborador econômico, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, já adiantou que será um cenário difícil e que exigirá a adoção de medidas duras. Sem entrar em detalhes sobre quais seriam tais medidas, Aécio atacou a gestão petista: "Não há espaço para maldades, pois todas já foram feitas pelo atual governo, veja a recessão técnica que já estamos vivendo." E disse que ninguém tem sido mais claro nas propostas do que a sua campanha.

O presidenciável tucano repetiu que já anunciou o nome de Armínio como seu futuro ministro da Fazenda, caso vença as eleições, para mostrar ao eleitorado que sua candidatura tem um time qualificado. "Ganhar ou perder a eleição é normal, mas acredito que vou vencer porque tenho o melhor projeto para o Brasil, que está pagando o preço pela inexperiência da atual presidente e pelas trapalhadas na economia, não podemos nos contentar com times de segunda divisão quando temos uma verdadeira seleção para colocar em campo."

Aécio prometeu resgatar os investimento em áreas prioritárias, como a saúde pública e disse, mais uma vez, que se for eleito irá rever o acordo que o Brasil firmou com Cuba para trazer os médicos daquele país para o Programa Mais Médicos. "O Brasil tem mais força do que Cuba para impor negociação diferente sobre Mais Médicos", reiterou.

Na entrevista, o tucano foi indagado sobre a situação eleitoral em seu Estado, Minas Gerais, cujo candidato de sua coligação, Pimenta da Veiga, que está atrás do candidato petista, ex-ministro Fernando Pimentel, nas pesquisas. E disse que o quadro deverá se reverter, pois sua gestão no governo mineiro (em dois mandatos) trouxe muitos benefícios e avanços à população, principalmente nas áreas sociais, como educação e saúde. "Vencemos as eleições em Minas Gerais não pelo meu sorriso, mas pelo time qualificado que sempre tivemos", disse.

Merval Pereira: Vale tudo

- O Globo

Na nossa história política recente não houve presidente que tenha sido eleito com maioria parlamentar, nem mesmo Fernando Henrique em 1994, quando fez uma coalizão com o então PFL já na campanha eleitoral. Em 2003, eleito presidente, Lula poderia ter feito uma coligação para governar com o PMDB, mas rejeitou a aproximação depois que seu chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, fizera os entendimentos partidários, e acabou se entregando ao mensalão para montar sua base aliada no Congresso.

Do jeito que vai a campanha presidencial, vamos acabar elogiando os sucessivos governos de coalizão que foram montados no país, cada vez ampliando mais a permissividade e a leniência, para aceitar apoios políticos em troca de nacos do poder. Como se só assim pudesse haver governos estáveis.

Pois é o contrário: governos de coalizão devem ser montados em bases programáticas, e é isso que a candidata Marina Silva está pregando com sua "nova política", que nada mais é do que uma marca popular para que todos entendam que é preciso formar alianças em novas bases, menos fisiológicas e mais voltadas para os interesses do país.

Discordar de Marina nos pontos do programa apresentado e pressioná-la para que desista desse ou daquele aspecto faz parte do jogo democrático. (É até engraçado ouvir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o programa de Marina vai paralisar a economia brasileira. Como se já não estivesse parada).

Duvidar de sua capacidade para governar o país também, mas iniciar uma campanha terrorista contra um eventual governo de Marina apenas porque não tem no momento uma base partidária seria aceitar a tese de que quem tem uma base que cobre quase 80% do Congresso tem capacitação para fazer um bom governo. Não tem, e o governo da presidente Dilma é exemplar nesse sentido.

Entramos em uma fase da campanha em que vale tudo para quem admitira que pode fazer o diabo para se manter no poder. Os ataques abaixo da linha da cintura que Dilma começou a fazer, comparando Marina a Collor e Jânio, seguindo-se de uma ação partidária articulada de ameaças, como as do governador do Ceará, Cid Gomes, que disse que Marina será deposta se eleita, mostram que o partido governista já tem indicações de que a candidata do PSB continua subindo.

Nem Jânio nem Collor foram derrubados por falta de apoio parlamentar, e uma das tragédias de nossa democracia representativa é que uma base parlamentar fisiológica tem condições de segurar um governo corrupto. Jânio caiu porque tentou dar um golpe, e Collor, por graves denúncias de corrupção que o inviabilizaram politicamente, embora o Supremo Tribunal Federal não tenha tido base legal para condená-lo.

O ex-presidente Lula disse que teremos o mais longo 2º turno de uma eleição, dando o tucano Aécio Neves já fora da disputa a um mês das eleições. Mas ele tem que cuidar é de seu território, pois o PT está perdendo espaço em todo o país e nem mesmo o "Volta, Lula" tem viabilidade hoje, pois, além de todas as dificuldades operacionais para substituir a incumbente, já há pesquisas que mostram que Lula teria dificuldades para derrotar Marina. Os dois estariam empatados tecnicamente, com Lula um ponto à frente. Muito risco.

Tanto Aécio quanto Dilma tentam desconstruir Marina para levar para o 2º turno a velha polarização entre PT e PSDB. Aécio, com mais seriedade que Dilma, tenta convencer o eleitorado de que ele é a mudança segura e coloca em dúvida as convicções de Marina.

Dilma tenta recuperar votos mirando o eleitorado de esquerda que passou para Marina, especialmente os mais progressistas na questão dos valores morais. Seu apoio à lei que criminaliza a homofobia está nessa direção, depois que Marina decepcionou eleitores recuando de posições mais avançadas sobre casamento gay e homofobia. Já Aécio tenta buscar o eleitor conservador que passou para Marina, e não foi à toa que anunciou apoio ao projeto do seu vice Aloysio Nunes Ferreira que reduz a menoridade penal em casos de crimes hediondos, com a análise caso a caso por um juiz.

Os dois, na verdade, tentam mesmo é evitar que a eleição termine no primeiro turno.

Dora Kramer: Telhado de vidro

- O Estado de S. Paulo

Reza a prudência que não se fale de corda em casa de enforcado. Mas a campanha da presidente Dilma Rousseff pelo visto no horário eleitoral de ontem resolveu deixar a cautela de lado para entrar de sola no tema das relações entre os Poderes Executivo e Legislativo.

Um terreno especialmente pantanoso tanto para o PT quanto para Dilma, cujos métodos na arte de conquistar amigos e influenciar pessoas no Parlamento não os credenciam como os melhores professores na matéria e deixam uma avenida de flanco aberto para o contra-ataque.

Ao que parece a urgência do ataque falou mais alto. O fato de o telhado ser de vidro pesou menos que a urgência de ressaltar a incapacidade da candidata do PSB, Marina Silva, de governar, caso seja eleita, devido à falta de apoio parlamentar.

A ideia foi exposta de maneira simplista, como convém às mistificações: com 33 deputados (hoje, antes da eleição) e a necessidade de no mínimo 129 para aprovar um projeto de lei, Marina forçosamente terá de fazer acordos.

"Será que ela tem jeito para negociar?". É a pergunta que fica no ar antes de a propaganda mostrar imagens de Jânio Quadros e do impeachment de Fernando Collor para concluir: "A gente sabe como isso acabou".

Sim, sabemos. Jânio afastado depois de ver frustrado seu plano de retorno quando o Congresso deu por efetivada sua renúncia. Collor deposto por deixar que seu tesoureiro Paulo Cesar Farias comandasse um esquema de arrecadação de propinas e hoje senador integrante da base de apoio do governo.

O questionamento sobre a disposição de Marina para fazer acordos não deixa de ser pertinente. A outra pergunta a respeito da habilidade dela para negociar da mesma forma é apropriada.

O problema é que vindas do PT de histórico acumulado nos últimos 12 anos, as questões permitem revides muito óbvios. Em relação à primeira: o que seria disposição para fazer apoios? Comprá-los, conforme ficou demonstrado no processo do mensalão que levou à cadeia parte da antiga cúpula do partido?

Não precisaria ser Marina, qualquer candidato responderia que é possível negociar sem transformar a política em negócio nem fazer do Congresso um Poder inteiramente submisso. Entre outros motivos porque é verdade. Nem sempre as coisas foram como vinham sendo nos últimos anos.

No tocante à segunda indagação sobre o "jeito" da candidata para negociar, pode ser que não tenha e que, se eleita, venha a se revelar inflexível. Mas, por ora, em matéria de intransigência é da presidente Dilma Rousseff o posto de rainha reivindicado para si com honras de Estado.

Reverso. Se há um mês os tucanos torciam para que Eduardo Campos mantivesse nas pesquisas ao menos um patamar suficiente para assegurar o segundo turno, agora são os petistas que temem uma redução maior dos índices de Aécio Neves.

Um fantasma assombra o Planalto: a possibilidade de Marina ganhar a eleição em primeiro turno.

Frutos do mar. O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso em Curitiba, desistiu do pedido de habeas corpus que o advogado Nélio Machado havia impetrado no tribunal federal da 4.ª região, em Porto Alegre, antes de deixar a causa em decorrência da decisão de Costa de fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público (MP).

A desistência é sinal claro de que as negociações com o MP estão em andamento, a despeito de a nova advogada da causa, Beatriz Catta Preta, ter dito que isso ainda dependia de uma decisão de seu cliente.

A negociação é delicada. Os procuradores querem nomes de políticos que se beneficiaram de contratos superfaturados com a Petrobrás. Não se contentarão com bagres. Estão atrás dos peixes grandes. De preferência, um tubarão.

Fernando Rodrigues: O medo como discurso

- Folha de S. Paulo

O discurso do medo estava previsto na cartilha de Dilma Rousseff, mas seria usado mais adiante. A dificuldade para combater o crescimento das intenções de voto de Marina Silva fez com que a petista antecipasse a estratégia.

Ontem, os comerciais dilmistas inundaram a TV comparando Marina a Jânio Quadros e a Fernando Collor, dois políticos que chegaram ao Planalto, ficaram sem apoio no Congresso e tiveram de acabar seus mandatos antes da hora.

Mas a questão é: Marina é Collor? Outra dúvida: quantos eleitores sabem dizer quem foi Jânio Quadros? Ou seja, trata-se de estratégia arriscada. Não quer dizer que seja ineficaz. Em várias eleições recentes usou-se essa tentativa de motivar o eleitor a votar a favor não do que ele deseja, e sim contra o que ele não quer.

Em 1989, muitos escolheram Collor por medo de ter Lula na Presidência. Em 1998, mesmo com problemas na economia, os brasileiros preferiram manter FHC por temerem instalar o PT no Planalto. Em 2002 não teve jeito. O marqueteiro Duda Mendonça criou uma frase --"a esperança vai vencer o medo"--, Lula a adotou e venceu a disputa.

Em 2006, o PT espalhou na TV que o PSDB iria vender a Petrobras e outras estatais na bacia das almas. Deu Lula de novo. Há muitos exemplos também em eleições locais e estaduais, no Brasil e no exterior.

Em resumo, usar o discurso do medo às vezes funciona. Às vezes, não. O sucesso depende de inúmeros fatores, sobretudo do estado de espírito do eleitor. Por enquanto, o cenário parece ser a favor de um tipo de voto mais destemido.

No Estado de São Paulo, o Ibope informou ontem (2) que Marina Silva continua a subir. Agora, ela tem 39% contra 23% de Dilma. O tucano Aécio Neves está com 17%. A depender do humor dos paulistas, a propaganda dilmista terá de exacerbar muito mais para disseminar o medo da mudança nesse conjunto do eleitorado.

Luiz Carlos Azedo: Pau de aroeira

• A mudança de rumo da campanha para o confronto duro e direto foi precipitada pela pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Marina abriu 16 pontos de vantagem em relação à Dilma em São Paulo

- Correio Braziliense

Bateu um desespero no comando de campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), que partiu pra cima de Marina Silva (PSB) no horário eleitoral, comparando-a aos ex-presidentes Jânio Quadros e Collor de Mello, que renunciaram aos cargos — o primeiro, na esperança de voltar nos braços do povo e dar um golpe de estado; o segundo, para evitar a aprovação de seu impeachment pelo Congresso.

A comparação já vinha sendo feita por petistas e tucanos nas redes sociais, mas a decisão de utilizá-la na propaganda oficial da candidata petista foi ideia do marqueteiro João Santana, que não sabe explicar o que está acontecendo com a campanha de Dilma na tevê, pois não surtiu efeito até agora, apesar da enorme vantagem em termos de tempo de televisão e recursos de edição.

O ataque direto já estava previsto nos cenários de um eventual segundo turno contra a candidata da PSB, mas foi antecipado porque a estratégia adotada explorava as contradições de Marina para atacá-la, porém, não deu os resultados desejados. A opção foi o tratamento de choque.

O confronto direto com a candidata Marina Silva já havia sido adotado no debate do SBT entre os candidatos à Presidência da República, que foi utilizado no programa eleitoral para vender a ideia de que Dilma venceu o embate com os demais candidatos. Dilma faz críticas e perguntas a Marina, que ficam no ar; os demais candidatos também não aparecem.

A mudança de rumo da campanha para o confronto duro e direto foi precipitada pela pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Marina abriu 16 pontos de vantagem em relação à presidente da República em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Pela mesma razão, Dilma intensificou a campanha naquele estado.

A situação do PT em São Paulo continua dramática. A mesma pesquisa Ibope aponta o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com 47% das intenções, com chances de vencer no primeiro turno. O presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB), tem 23% de intenções de voto; e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) tem apenas 7%, muito abaixo da média histórica do PT, que gravita em torno dos 30%.

Aécio reage
O presidenciável do PSDB, senador Aécio Neves, também subiu o tom das críticas a Marina Silva. Ontem, em São Paulo, falou das mudanças de posicionamento da candidata do PSB, a quem chamou de “metamorfose ambulante”. Foi uma alusão ao reposicionamento da candidata sobre o agronegócio e à mudança no programa de governo quanto ao casamento gay.

Ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o tucano disse que tem propostas e equipe para governar o país e atacou as adversárias: “O improviso não é o melhor conselheiro. Estamos vendo, de um lado, um governo que reage aos índices das pesquisas alterando suas convicções, o que não é bom — age até com certo desespero — e que vai perder as eleições. E, do outro lado, o que eu vejo é uma candidatura que mais se assemelha a uma metamorfose ambulante, que altera suas convicções ao sabor das circunstâncias”.

Nos bastidores do PSDB, sobraram críticas ao presidente do DEM, senador José Agripino Maia, coordenador-geral da campanha, por causa das declarações admitindo um eventual apoio a Marina Silva no segundo turno. A pisada de bola só não gerou uma crise no comando da campanha porque Agripino não decide nada sozinho, tudo depende do aval de Aécio.

Os tucanos acreditam que o quadro eleitoral ainda pode sofrer grandes mudanças, uma vez que Marina Silva enfrentará pelo menos 30 dias de ataques governistas para desconstruí-la. Nesse cenário, os últimos 15 dias de campanha seriam decisivos. No momento, a grande preocupação é com a candidatura de Pimenta da Veiga, em Minas Gerais, que precisaria ser fortalecida com uma maior presença de Aécio.

Rosângela Bittar: Lula em inferno astral

• PT vê chance de virar, mas se for Marina, paciência

- Valor Econômico

Como está o humor do ex-presidente Lula, ameaçado de perder a Presidência da República, as eleições nos Estados, os milhares de cargos aparelhados pelo PT, o apoio da elite, e a capacidade de ser ouvido em qualquer tipo de discurso contra tudo e todos? É o que se pergunta quem assiste à atual luta da presidente Dilma, sua discípula, para se reeleger.

Lula não tem explosões temperamentais, pelo menos diante de testemunhas de fora. O que se registra é pior: Lula está abúlico, amuado, farto. Faz campanha com indiferença, na maior parte do tempo fica discreto. Grava programas, participa de um comício, opta pela fácil e injustificada peroração contra a imprensa, sua moeda eleitoral à falta de candidatos que o empolguem. Já estava assim antes, piorou depois da troca de Eduardo Campos, morto a 50 dias da eleição, por Marina Silva.

Lula discordava das opções da campanha petista, do marqueteiro, dos integrantes do comando, do coordenador, até que cansou, desistiu e deixou que fizessem o que bem entendessem.

Quando entrou Marina, ex-ministra do seu governo, que já passou por quatro partidos à procura de sombra para instalar seu trono, Lula recolheu-se mais ainda. Nas duas últimas semanas, quando a candidata do PSB virou fenômeno, emudeceu. O baixo astral não significa que ficará paralisado ou que tenha desistido de lutar até o fim. Vai trabalhar, até para evitar o pior.

Lula estava discreto e assim vai continuar, em que pese o risco que se avizinha da candidata do PT. Ele esteve ontem no palanque de São Bernardo, a acompanhará à Bahia, viajará depois a Pernambuco, onde Dilma já teria perdido a dianteira para Marina, gravará mais programas, e basta.

O mais sintomático desse estado de espírito é que já tem muita gente ao seu redor mostrando que todos ganharão mais com Marina do que com Dilma, a quem acusam de ter um PT só seu.

Vale acompanhar a brincadeira e o raciocínio: amigos do ex-presidente perguntam-se qual o sobrenome de Marina (Silva, como ele), de onde veio e em que governo despontou (do PT, como ele), quem está votando nela (os pobres que votaram nele), essa maioria que a vê como predestinada, aquela que governará com assistência divina (como viam o santo Lula até há pouco tempo), os que vão de seringueira agora porque já foram de metalúrgico antes.

Mas há o contraponto da disputa. Um petista diz que Marina é Lula de saias; outro que não, as saias são de Fernando Henrique. Desde ontem os discursos no partido se embaralharam. Os ricos e poderosos estariam com Marina enquanto os pobres ficariam com Dilma, mas o inverso faz parte também do argumento segundo o qual Lula ganharia em qualquer hipótese porque entrou com duas candidatas, Lula A e Lula B.

E o fato de Marina distribuir acenos a Lula para tranquilizá-lo quanto à sua intenção de não disputar a reeleição, deixando 2018 para ele, dá ao PT argumento para justificar o conforto do ex-presidente com sua eleição.

O partido, e não só Lula, se beneficiaria. A petista de coração Marina não desalojaria os petistas do governo.

A argumentação na campanha embute uma constatação verdadeira. Marina deixou o PT mas o PT não a deixou nem aos seus acólitos, o chamado grupo íntimo de colegas de Igreja e petistas de coração. Não é proibido consolar, organizar abrigo no futuro, enquanto o paciente ainda respira. A preocupação do momento é a derrota no primeiro turno.

O partido tem confiança que, no segundo turno, conquistará para Dilma os votos de rejeição a Marina depois de o eleitor conhecê-la melhor. E o partido sente, hoje, alguma reação favorável, a partir de debates, entrevistas e propaganda que, na avaliação interna, mostram Dilma mais segura e consistente, em contraponto ao que seria um discurso vazio de frases que entram e saem sem contar a história, de Marina Silva. "Com quem ela vai governar? Com Ongs?" Aliás, é de se esperar a definição do papel dessas organizações, as únicas instituições que a candidata do PSB parece respeitar, no seu governo. Mas essa já é uma outra história.

Acompanhamentos feitos pelo PT, os "trackings", já apontam uma diferença de cinco pontos a favor de Marina, que até sexta estava empatada com Dilma. Se Dilma cair aos 29%, o candidato do PSDB, Aécio Neves, encolher para 10%, o que não seria surpresa com a pressão pelo voto útil, bastaria a Marina atingir 40%, ou pouco mais, para vencer no primeiro turno.

Esse é o pesadelo do momento apesar da convicção de que a vitória de Marina seria também do PT, enquanto a derrota de Dilma seria a derrota do governo, ou seja, só dela.

Ainda tem uma conversa de consolo rondando o PT: o partido pode ficar melhor com Marina do que esteve com Dilma. Militantes estão fora das ruas, tão desanimados quanto Lula. Dilma não o conquistou, agora é o partido que não faz questão.

A JBS faz rodada de explicações prévias sobre a segunda prestação de contas de financiadores de campanha que o TSE deve divulgar até sábado. Na primeira, a empresa foi a maior doadora, com cerca de R$ 50 milhões. Os valores da segunda etapa não foram ainda confirmados mas dificilmente ficarão abaixo da primeira, deixando a JBS no pedestal do financiamento de 2014 com pelo menos R$ 100 milhões.

Condená-la por isso, acredita, equivale a matar o mensageiro. O argumento é que com 185 mil funcionários, presente em todos os Estados da federação e vários países do mundo, e relações com diferentes partidos, é empresa séria e fez doação de acordo com a lei e para todos.

Há, também, questionamentos sobre o desequilíbrio das quantias que destina ao PT e PSDB, cinco vezes maiores que ao PSB de Eduardo Campos e agora de Marina Silva. Quando as eleições começaram, o quadro era um, hoje é outro, justifica.

A empresa poderia também ter dito sem medo de impropriedade: O Brasil que resolva sua salada partidária e encontre solução sobre financiamento das eleições.