quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Opinião do dia: Marina Silva

Uma das coisas mais importantes para que a gente possa resolver os problemas é reconhecer que existem. Quando a gente não reconhece, não passa esperança para a população de que serão enfrentados à altura. Esse Brasil colorido, quase cinematográfico que Dilma mostrou, não existe na vida das pessoas. A gente continua parado no trânsito, a reforma política virou troca de ministros em troca de apoio e tempo de televisão.

Marina Silva, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, no debate da TV Bandeirante, São Paulo, 26 de agosto de 2014.

Aliados pedem a Dilma mais presença na rua para barrar ascensão de Marina

• Estratégia da campanha petista é colocada em xeque por aliados peemedebistas e por parte do próprio partido

Ricardo Galhardo, Vera Rosa, Tânia Monteiro, Ricardo Della Coletta e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

Depois de a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo apontar a possibilidade de vitória da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, no 2.º turno contra a presidente Dilma Rousseff, o comitê pela reeleição passou a ser alvo de pressões por mudanças. Diante do crescimento da ex-ministra do Meio Ambiente, aliados da presidente e dirigentes do PT cobram uma campanha com mais viagens pelo País e atividades de rua, além de mudanças no conteúdo dos programas eleitorais na TV.

O conselho político da campanha, formado por partidos que apoiam a reeleição, se reuniu ontem com Dilma para avaliar as mudanças no quadro eleitoral. Os aliados chegaram ao Palácio da Alvorada dispostos a pressioná-la a abrir um confronto direto com Marina e a direcionar a campanha com mais propostas para o futuro, em vez do tom atual, focado mais na comparação da era petista com a era de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

De acordo com um peemedebista, o publicitário João Santana deveria aproveitar o "latifúndio de tempo na TV" e deixar parte do programa para apresentar propostas para o futuro e não apenas fazer a comparação com o governo tucano.

Aliados e petistas também defendem que Dilma parta para o ataque contra a campanha do PSB, explorando as suspeitas de irregularidades na compra do avião Cessna que caiu no dia 13, matando Eduardo Campos e seis integrantes de sua equipe.

Petistas chegaram a sugerir ontem, nas redes sociais, que o partido recorra à Justiça Eleitoral e peça punições pelo suposto uso irregular do avião. A possibilidade de embate direto com Marina, por enquanto, é descartada pela campanha e a ordem é terceirizar os ataques.

Para o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, Marina "bateu no teto" e Aécio acabará ajudando o PT ao mostrar as "contradições" da ex-ministra.

"Aécio está na mesma situação que o Fernando Haddad em São Paulo, em 2012", lembrou Marinho, numa referência às dificuldades enfrentadas pelo então candidato do PT à Prefeitura de São Paulo para chegar ao 2.º turno. "Se o PSDB não desconstruir a Marina, vai ficar de fora."

Partidos aliados, entre eles o próprio PT, também querem que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajem mais aos Estados e se dediquem a atividades de rua. "O que falta é Dilma e Lula irem mais para a rua. Não é no gabinete que se ganha eleição", cobrou o deputado José Guimarães (PT-CE), vice-presidente nacional do PT.

Em reuniões com coordenadores da campanha, ontem, Lula confirmou viagens a Pernambuco e Bahia na próxima semana, enquanto Dilma prepara agendas em São Paulo.

Material. Cerca de 8 milhões de jornais com as "realizações" do governo Dilma, como Mais Médicos, Educação Infantil e Minha Casa Minha Vida, serão distribuídos pelos Correios, nos próximos dias, nas 76 cidades do Estado de São Paulo com mais de 70 mil eleitores, que representam 74% dos votantes.

Nas redes sociais, petistas promoverão uma "guerrilha virtual" para dizer que apoiadores de Marina defendem arrocho salarial quando falam em crescimento econômico e juros mais baixos.
O PT também lançará dúvidas sobre a capacidade gerencial de Marina. "Nós temos muito o que mostrar e nada a esconder", afirmou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. "Nossas propostas são as mais consistentes e viáveis para o País."

O programa eleitoral de Dilma na TV sofrerá ajustes e não mais focará na polarização com o candidato do PSDB, Aécio Neves, hoje inexistente. Além disso, aliados pediram maior presença de Lula nas viagens de campanha, de preferência acompanhando Dilma. A orientação também é para que internautas mostrem que Marina não só "não é o que as pessoas pensam" como defende "medidas amargas" para o Brasil na política macroeconômica, a exemplo de Aécio.

Em entrevista, no Palácio da Alvorada, a presidente disse ontem que a reunião seria “muito mais colaborativa do que de cobrança, uma reunião em que se constrói as estratégias, os caminhos”. Dilma não quis responder, no entanto, se e quando passará a atacar Marina. Anteontem, no debate, Dilma evitou ataques diretos à candidata do PSB.

‘Efeito Marina’: equipes de ministérios são chamadas a atuar para Dilma

• Coordenação da candidata à reeleição orienta secretários a defender governo

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA — No momento em que a candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, disparou nas pesquisas de intenção de voto, a coordenação da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião, na noite de terça-feira, com os secretários-executivos e secretários nacionais dos ministérios para pedir empenho na disputa por um segundo mandato. Segundo participantes, o tom do encontro foi o de que quem está dentro da máquina administrativa tem mais condições de fazer o enfrentamento político, por ter mais argumentos. A orientação, de acordo com pessoas presentes, foi manter o debate propositivo, defender o governo, ocupar espaço e rebater críticas.

Estratégia é não bater
A reunião foi conduzida por Cezar Alvarez, que faz a articulação da campanha com estados e municípios, e por Alessandro Teixeira, coordenador de programa de governo. Entre os presentes, de acordo com participantes da reunião, estavam o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland; o subchefe de articulação da Casa Civil, Luís Antônio Padilha; e o secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência da República) participou de parte do encontro.

Há uma preocupação na coordenação da campanha, na cúpula do PT e no Palácio do Planalto de evitar um clima de derrotismo com o crescimento vertiginoso de Marina Silva. A aposta é na desconstrução da imagem da ex-senadora a partir de agora.

— Nada de pânico com pesquisas neste momento. Temos que esperar a evolução do quadro. Ainda faltam 40 dias para a eleição — disse um auxiliar da presidente.

Apesar de apostar na desconstrução da imagem de Marina, a equipe de Dilma resiste em atacar a ex-senadora e, pelo menos por enquanto, pretende insistir em uma campanha propositiva, focando nas realizações do governo:

— Não é eficaz bater. Vamos fazer discussão de conteúdo, sem bater — disse uma pessoa próxima a Dilma.

Assessores de Dilma foram surpreendidos com o resultado da pesquisa Ibope divulgada anteontem. O entorno da presidente não esperava que Marina estivesse tão colada na petista no primeiro turno, e abrindo vantagem no segundo turno. Também chamou a atenção o fato de a candidata do PSB ter tirado votos de Dilma. A expectativa da campanha à reeleição era que a ex-senadora crescesse em cima do candidato do PSDB, Aécio Neves, e conquistasse parte do eleitorado que pretendia votar em branco, anular ou que estava indeciso.

Segundo o Ibope, Dilma caiu quatro pontos percentuais — mesmo patamar que o tucano. A expectativa da campanha petista era que Marina e Aécio ficassem embolados em segundo lugar, disputando quem iria para o segundo turno. Seria a “antropofagia de anões” prevista ainda na pré-campanha pelo marqueteiro João Santana, que trabalha para Dilma.

Como presidente do PMDB, o vice-presidente Michel Temer disse a interlocutores e à presidente que é preciso “dar corpo à campanha” nesta reta final, com o envolvimento direto dos partidos nas mobilizações de rua. Temer alertou que é preciso dar mais intensidade à campanha em termos de eventos públicos.

Presidente Dilma tenta retomar contato com movimentos sociais

• Governo libera 93,7 mil hectares de terra, ou 30% do volume liberado em 2013; número chegou a 1,9 milhão em 2011

Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

Diante de um cenário pessimista para a sua reeleição, em que pela primeira vez aparece na pesquisa Ibope sendo derrotada em 2.º turno pela candidata Marina Silva (PSB), a campanha e o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) decidiram fazer acenos aos movimentos sociais, como sindicatos e o MST, parceiros históricos do petismo que se afastaram no seu governo.

Integrantes do grupo que coordena o programa de governo na área trabalhista preparam a divulgação, nos próximos dias, de um documento que vai abraçar algumas das reivindicações sindicais, como a regulamentação da terceirização em condições que agradam ao segmento e a correção anual da tabela do imposto de renda (IR) pela inflação acumulada com recomposição gradual da defasagem dos últimos anos.

Segundo minuta do programa de governo da área de trabalho, obtida pelo Estado, o ponto central é marcar posição contra a terceirização das chamadas atividades-fim - a principal atividade da empresa, descrita na cláusula-objeto do seu contrato social - e permitir a prática apenas para as atividades-meio, aquelas que têm a finalidade de dar suporte à atividade principal da empresa.

Também deve constar uma defesa da responsabilidade solidária, nos casos de indenizações, entre as empresas que contratam terceirizados e as que fornecem a mão de obra, outra reivindicação do sindicalismo. A presidente também deverá apontar a correção anual da tabela do imposto de renda (IR) pela inflação acumulada e a recomposição gradual da defasagem dos últimos anos.

Em outra frente, o governo tenta recuperar o tempo perdido na reforma agrária, uma vez que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) faz muitas críticas à gestão da presidente nessa área.

Amazônia Legal. Ontem, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) realizou a transferência de 86 mil hectares de terras da União para a reforma agrária, ampliando o número de assentados na Amazônia Legal. Trata-se da maior ação na área de reforma agrária deste ano, que vai beneficiar 1.005 famílias nos Estados do Amazonas e do Pará. Somados aos dois atos semelhantes nesta semana, Dilma liberou 93,7 mil hectares de terra para 1.290 famílias. Essa soma representa cerca de 30% de toda a área autorizada por Dilma para reforma em todo o ano de 2013.

A presidente liberou em 2011, seu primeiro ano no Palácio do Planalto, 1,9 milhão de hectares para a reforma agrária, conforme dados do Incra. O número caiu para 322 mil hectares, em 2012; e para 315 mil hectares, em 2013. O ministério não apresentou os dados de 2014.

As liberações ocorrem depois da convocação, pelo MST, de uma marcha em defesa da reforma agrária no Estado de São Paulo, entre 29 de agosto e 1.º de setembro. No último dia 25, 150 militantes ocuparam a sede do Incra em Santa Catarina para pressionar pela desapropriação de áreas no Estado. Segundo nota do MDA, “a União continua desapropriando áreas que se apresentam com índices mínimos de utilização, desde que se confirme sua viabilidade para tornar-se um assentamento de reforma agrária”.

Ministro critica Aécio e Marina sobre conselhos populares

• Gilberto Carvalho diz que tucano está mal informado e que PSB pratica "velha política"

- O Globo

BRASÍLIA – O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, criticou ontem os principais rivais da presidente Dilma Rousseff na disputa eleitoral pelas posições sobre o decreto que cria o sistema nacional de participação social e altera algumas regras dos conselhos populares. Ele acusou Aécio Neves (PSDB) de estar mal informado sobre o decreto, e disse que o PSB de Marina Silva se posicionou contra o tema, revelando a velha política que a candidata diz condenar.

- O candidato Aécio já explicitou a sua crítica, que revela, de fato, o que o PSDB sempre foi: um verniz democrático e, na prática, autoritário; na prática, distante do povo; na prática, fechado para qualquer padrão de investigação, de transparência, como era o governo do Fernando Henrique Cardoso - afirmou Carvalho.

Segundo o ministro, Aécio está mal informado e deveria ler melhor o texto do decreto, já que ele não cria um novo conselho. Carvalho lembrou que, sob a gestão dos tucanos, vários conselhos foram instituídos.

Em referência a Marina, o ministro disse que "a verdadeira nova política" está sendo feita por Dilma, ao abrir seu governo à participação popular.

- O que me estranha é que o PSB está contra o decreto também lá no Congresso. A Marina vai ter que resolver esse problema, porque o partido dela se posicionou contra o decreto da presidenta e, portanto, contra a participação social. É a velha política. Então, é um problema que não é nosso, é dela - pontuou Carvalho.

Marina surpreende PT com enfrentamento

• Avaliação de aliados de Aécio é que ele foi bem, mesma opinião de deputado Márcio França, do PSB

Fernanda Krakovics e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA – A avaliação do debate no meio político repetiu o padrão de se criticar o desempenho dos adversários e elogiar o dos aliados. A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, surpreendeu petistas ao partir para o enfrentamento. Os aliados do PSDB criticaram o desempenho tanto de Marina quanto da presidente Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, e consideraram como ponto alto da participação de Aécio Neves (PSDB) o anúncio de que Armínio Fraga será o ministro da Fazenda, caso o tucano seja eleito.

- A Marina causou uma certa surpresa, porque ela tirou a veste de boazinha e foi para o enfrentamento - disse o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Campo da filosofia
Já para o líder do DEM, senador José Agripino (RN), que é coordenador da campanha de Aécio, Marina não explicou como colocará em prática suas ideias:

- Marina ficou no campo da filosofia - disse Agripino.

Ele também criticou o desempenho de Dilma. A presidente é a primeira candidata à reeleição a participar de debate no primeiro turno.

- Dilma se saiu muito mal ao pintar um Brasil no qual as pessoas não acreditam. Ela falou para eleitores já carimbados, não convenceu (novos eleitores).

Agripino elogiou o anúncio de que Armínio Fraga será ministro da Fazenda em eventual governo do PSDB. Aécio Neves deixou para revelar o fato apenas nas considerações finais, por volta de 1h:

- Aécio foi pragmático, colocou até um símbolo do ministério dele, Armínio Fraga. Ele sinalizou um padrão.

Já para o líder do governo, com o anúncio, Aécio tentou recuperar terreno depois que Marina defendeu a autonomia do Banco Central:

- Como a Marina anunciou a autonomia do Banco Central, Aécio quis tentar recuperar esse espaço que era dele - disse Chinaglia.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), coordenador jurídico da campanha de Aécio, disse que a principal adversária do tucano, no momento, Marina Silva, não apresentou propostas concretas. Quanto à presidente Dilma, afirmou que não tem preparo para o cargo:

- Aécio demonstrou, claramente, que é o mais preparado para cuidar do país. A Marina, apesar de não apresentar nenhuma proposta concreta, evidenciou preparo para responder as perguntas. Já a Dilma, como de costume, demonstrou que não está preparada para absolutamente nada! Que tristeza tê-la como presidente - avaliou Sampaio.

Vice-presidente do PT, Alberto Cantalice disse que Marina não mostrou propostas:

- Qual foi a proposta que ela apresentou até agora?

Integrantes da coordenação da campanha de Dilma, no entanto, consideram que, no debate, Marina consolidou um discurso de terceira via:

- Marina achou um discurso de terceira via. Nem PT nem PSDB. Brasil unido - disse um dos coordenadores da campanha à reeleição.

Polarização de PT E PSDB
A cúpula da campanha de Dilma continua defendendo que a presidente insista na polarização com o PSDB, como fez no debate, apesar de sua adversária agora, de acordo com as pesquisas, ser Marina:

- Ela (Dilma) defendeu o governo. Está correta a linha - disse um dos coordenadores da campanha petista.

A estratégia da equipe de Dilma é manter uma campanha propositiva e deixar para Aécio a tarefa de atacar Marina.

O deputado Márcio França (PSB-SP) disse que a presidente Dilma destoou de Marina e de Aécio, que considerou que se apresentaram bem no debate da Band. Ele considerou que a petista estava mal no enfrentamento, enquanto o tucano teria respondido bem a todas as perguntas. Quanto à sua candidata, Marina Silva, afirmou que correspondeu às expectativas do partido, usando um tom firme sem atacar demais os adversários.

- Dilma foi muito ruim. A Marina ficou dentro das nossas expectativas, e o Aécio respondeu bem - afirmou França.

PSB já se preocupa em buscar caminhos para garantir governabilidade

• Cúpula do partido pensa em alianças para compensar bancada reduzida

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - O resultado favorável na pesquisa Ibope e a avaliação positiva do desempenho no debate da TV Bandeirantes despertaram dentro do PSB otimismo em relação ao futuro de Marina Silva, candidata do partido à Presidência, nas eleições de outubro. A crença na vitória é tão forte que a preocupação na cúpula da legenda passou a ser a busca de um caminho que garanta a governabilidade, uma vez que a bancada socialista na Câmara não deverá passar de 45 deputados na próxima legislatura.

- A situação é muito boa. Basta agora não cometer nenhum erro - afirmou um cacique do PSB.

Fala-se muito no partido das experiências desastrosas dos presidentes Jânio Quadros (1961) e Fernando Collor (1990-1992), que tinham base frágil no Congresso e deixaram o cargo antes da conclusão do mandato: o primeiro renunciou e o segundo sofreu impeachment. Também é dado como certo que o modelo de coalização adotado por Dilma Rousseff (PT) está esgotado e não pode ser perseguido.

O PSB elegeu 35 deputados em 2010, mas, hoje, tem só 24 representantes na Câmara. A direção do partido acredita que a presença de Marina poderá fazer a bancada na Câmara crescer para um número entre 40 e 45 parlamentares. No melhor dos cenários, os deputados do partido de Marina não representariam nem 10% das 513 cadeiras da Câmara. O PPS, segunda maior sigla da aliança, elegeu 12 deputados há quatro anos e hoje tem apenas seis representantes.

O presidente do PSB, Roberto Amaral, deve começar a procurar, nos próximos dias, parlamentares de vários partidos e tentar atraí-los para o projeto de Marina. Apenas o grupo de políticos que vinham sendo chamados por Eduardo Campos de "raposas", como Renan Calheiros e Fernando Collor, não serão assediados.

Um dos caminhos estudados é buscar o apoio da sociedade civil sempre que um projeto importante tiver que passar pelo Congresso, apoiando-se na legitimidade alcançada com uma vitória nas urnas.

Amaral disse que pretende criar um grupo suprapartidário, independente da campanha, para discutir uma reforma do Estado que viabilize as ações de um futuro governo.

- O modelo em vigor precisa ser repensado porque não funciona - afirmou Amaral, citando a necessidade um novo pacto federativo.

Um dos pontos que também já está sendo discutido dentro do PSB é como receber um eventual o apoio do PSDB num segundo turno contra Dilma. Para algumas lideranças, não há necessidade de uma formalização da aliança, porque os eleitores do candidato tucano Aécio Neves já migrariam de forma espontânea para a presidenciável do PSB, impulsionados pelo desejo de acabar com o domínio de 12 anos do PT no governo federal.

Porém, caciques do PSB próximos aos tucanos acreditam que o melhor caminho seja uma aliança no segundo turno, que poderia se estender para uma parceria no governo, o que facilitaria o caminho para obter a governabilidade.

No círculo mais próximo de Marina, a ordem é manter os pés no chão, mesmo com as boas notícias dos últimos dias. Por ordem da candidata, está proibido tratar publicamente da conjuntura política em um eventual governo. A presidenciável tem afirmado que, caso eleita, vai governar com os "melhores do PT e do PSDB".

- Temos que ter humildade. Nada está definido. Hoje, os melhores estão com seus candidatos e seria desrespeitoso com os adversários procurá-los - afirmou Walter Feldman, coordenador da campanha de Marina.

Para analistas, Marina terá que ser confrontada

• Especialistas preveem que, após ibope e debate, dilma e aécio serão obrigados a pressionar candidata a detalhar propostas

Alessandra Duarte e Carolina Benevides – O Globo

Num debate horas depois de a última pesquisa Ibope ter mostrado mudança na disputa presidencial, a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves não confrontaram o suficiente a candidata do PSB Marina Silva. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, Dilma foi a que mais precisou se defender da cobrança dos outros presidenciáveis na TV Bandeirantes, anteontem. Inclusive de Aécio, que centrou fogo mais na petista, apesar de Marina ter subido dez pontos na pesquisa, ficando à frente do tucano no primeiro turno. Dilma, que na pesquisa aparece atrás de Marina numa simulação de 2º turno, também preferiu manter o embate PT x PSDB, em vez de confrontar a candidata do PSB.

- Dilma e Aécio receberam uma notícia ruim (a pesquisa) e foram debater. Aécio estava assustado, mas conseguia disfarçar sorrindo. Dilma não disfarça, tem aquela expressão enfezada - afirma Eugenio Giglio, professor de Marketing da ESPM-Rio. - Se houve vencedor, do ponto de vista de marketing, foi a Marina, que conseguiu escorregar sem definir propostas, mas marcando a imagem de não ser contra ninguém e querer pegar o melhor de todos.

Para Oscar Vilhena, professor da FGV-SP, a pesquisa "fez com que houvesse mudança muito forte no cenário eleitoral":

- Além disso, a partir da morte do Eduardo (Campos, candidato do PSB), todos já tiveram que se recolocar. Dilma e Aécio sabem que o quadro mudou. Se as próximas pesquisas confirmarem o crescimento de Marina, vai ser impossível manter o discurso polarizado. O apelo da candidata do PSB é forte, e eles vão ter de tentar desconstruí-la.

- Em comparação com 2010, Dilma estava com mais desenvoltura. Passou a impressão de que tinha o controle do seu governo. Aécio fez críticas ao governo já esperadas. Até pressionou Marina também, mas jogou para empatar - acrescenta Claudio Couto, professor da FGV-SP.

Relação com o Congresso
O bom desempenho de Marina se deu, em boa parte, porque ela não foi pressionada o suficiente, diz Eugenio Giglio. Um dos pontos que Dilma e sobretudo Aécio poderiam ter cobrado mais da ex-senadora é como ela governaria, na prática, sem a estrutura partidária:

- Marina falou que consegue conciliar todos, mas não como faria. Ela conseguiu sair do debate sem se posicionar, o que, para o eleitor indeciso, é o ideal. Por isso ela pegou tantos votos dos indecisos e das abstenções. E, por passar a imagem de que consegue uma solução fora da estrutura partidária, também é o ideal para aqueles que, nos protestos do ano passado, não queriam partidos. Além disso, por ela não se posicionar, foi difícil para os adversários atacá-la. Como você se posiciona contra alguém que não tem posição?

- Aécio e Dilma terão que encontrar pontos fracos na Marina, que não tem apresentado propostas. Mas não acredito que apresentá-las seja decisivo nesta eleição. O ponto fundamental é o candidato passar credibilidade quando faz promessas. Isso está sobrando na Marina e em falta para os outros dois - destaca Daniel Aarão Reis, historiador da UFF. - Os adversários podem bater nas bases políticas da Marina. Dilma e Aécio podem tentar mostrar que, por melhor que seja a intenção, sozinho não se vai longe.

Cientista político da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Yan Carreirão sublinha que a petista e o tucano perderam oportunidade de mostrar contradições de Marina: por exemplo, como ela manteria o desenvolvimento econômico e lidar com o agronegócio; e como ela conviveria com o Congresso:

- Ela pode escolher os ministros, mas não o Congresso com o qual vai ter de lidar. Nem tudo depende do presidente. O discurso de conciliar tudo pode pegar bem, mas vimos, pela experiência de (Fernando) Collor, que governar sem base partidária não é algo necessariamente bom.

- A polarização já era, a petista e o tucano vão ter que mostrar propostas concretas - completa David Fleischer, da UnB. - Marina está aí para ficar, não é uma marola.

Dilma arma ofensiva para conter avanço de Marina

Raymundo Costa, Andrea Jubé e Guilherme Serodio – Valor Econômico

BRASÍLIA e RIO - A campanha da presidente Dilma Rousseff desencadeou ontem uma ofensiva para conter o avanço da candidata do PSB, Marina Silva, nas pesquisas e assegurar que o PT estará no segundo turno da eleição, seja o adversário Marina, como indicam as últimas sondagens de opinião, ou o senador Aécio Neves, candidato do PSDB, que caiu do segundo para o terceiro lugar. No comitê de Dilma discute-se, inclusive, a possibilidade de a presidente fazer acenos mais claros ao mercado sobre o que pretende fazer em relação à economia, em novo mandato, algo que ela resistia fazer, até agora.

Numa frente dessa ofensiva, a presidente convocou para o final da tarde de ontem uma entrevista coletiva, no Palácio da Alvorada, entre outras coisas para esclarecer aspectos sobre a segurança pública que pretendia abordar no debate entre os candidatos promovido pela TV Bandeirantes, mas sobre os quais não teve oportunidade de falar - a presidente esperava por uma tréplica que não veio e deixou no ar uma resposta sobre o assunto. Em outra frente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fazer uma incursão ao Nordeste, ainda nesta semana, a fim de preservar o capital político do PT na região.

A viagem é simbólica: Lula irá a Juazeiro, na Bahia, e a Petrolina, em Pernambuco, e na quinta-feira se encontra com a presidente Dilma Rousseff no Recife, capital de Pernambuco, o berço político do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no último dia 13. Lula e Dilma farão campanha para os candidatos ao governo do Estado, Armando Monteiro (PTB), e ao Senado, o ex-prefeito da capital João Paulo (PT). Não está prevista nenhuma visita aos familiares de Campos.

Enquanto isso, a cúpula da campanha estuda como desconstruir Marina, uma candidatura em ascensão a pouco mais de um mês da eleição. A ideia era esperar para ver como Marina se sairia ontem à noite na entrevista ao "Jornal Nacional", um público de 40 milhões de brasileiros, e como ela se comporta na pesquisa Datafolha a ser divulgada neste fim de semana. O PT esperava que Aécio atacasse Marina, mas já armazena munição.

A linha da desconstrução deve atacar a "auréola de pureza" que envolve a candidata, o questionamento de sua capacidade administrativa - esperava-se que Dilma, no debate, dissesse que ela não conseguiu gerenciar nem a criação de seu próprio partido -, desmontar a ideia de que Marina não é da "velha política", pois ela já está em sua quinta legenda e dizer que a eleição da candidata do PSB, um partido pequeno, significa "ingovernabilidade". Com o cuidado de não mencionar o ex-presidente Fernando Collor, que hoje é seu aliado. Além disso, a passagem de Marina pelo PV e pelo Ministério do Meio Ambiente está sendo escrutinada pelo PT.

A linha adotada no debate da Bandeirantes era tentar manter a polarização com Aécio Neves e não tratar Marina como a principal adversária. Isso será revisto. A percepção é que a superexposição da ex-ministra do Meio Ambiente, somada ao clamor pela morte trágica de Eduardo Campos, impulsionaram a adversária nas pesquisas.

"Já falei que não comento pesquisas, nem quando sobe, nem quando desce, nem quando estaciona", disse a presidente Dilma, na entrevista concedida ontem. "Numa campanha eleitoral você tem de ver a conjuntura, estamos no início da eleição, muita coisa vai rolar por debaixo dessa ponte, pra que lado a água vai".

Petistas que integram o primeiro escalão comandaram uma ampla reunião de emergência com militantes e servidores do governo federal, na noite de quarta-feira, no comitê central da campanha em Brasília. O clima era de perplexidade com a ascensão de Marina nas pesquisas. Os militantes foram convocados a "descer do salto alto" e sair às ruas para pedir votos. A reunião foi conduzida pelo secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, Carlos Gabas - um dos auxiliares mais próximos de Dilma - e contou com a participação do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O recado foi dirigido às centenas de ocupantes de cargos de confiança no governo, como secretários-executivos, secretários de ministérios e chefes de gabinete, entre outros.

Segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, Carvalho voltou a afirmar que a insatisfação da população brasileira com o PT não parte, exclusivamente, das classes A e B ou dos jovens que saíram às ruas pedindo mudanças em junho do ano passado. O secretário-geral afirmou que essa insatisfação parte, inclusive, de beneficiados de programas sociais do governo, como Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Para Carvalho os sinais apontam para "fadiga de material" em relação ao PT.

Dilma também deve conceder mais entrevistas coletivas para assegurar espaço diário nos telejornais. Também intensificar as viagens. Ontem ela visitou um restaurante popular em Bangu, zona oeste do Rio, ao lado do ex-governador Anthony Garotinho (PR), candidato bem posicionado nas pesquisas ao governo do Estado. Dilma almoçou ao lado de Garotinho e sua esposa, a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), e comeu abóbora com arroz, feijão e frango.

Na entrevista que concedeu no Alvorada, Dilma anunciou que pretende tornar permanente o modelo de segurança pública adotado na Copa do Mundo, que envolve a ação conjunta das polícias federal e estaduais, abrigadas em Centros de Comando e Controle. "Vamos replicar o modelo que deu certo na Copa, compartilhar uma ação conjunta de segurança de forma objetiva", disse a presidente.

Ascensão de Marina agita o mercado

Lucinda Pinto, Antonio Perez, Téo Takar, Silvia Rosa e Luciana Seabra – Valor Econômico

SÃO PAULO - O mercado financeiro embarcou em uma onda de entusiasmo movida pelo aumento das chances de troca de governo no país e também pela perspectiva de liquidez farta no mundo. Com os juros negativos nas economias desenvolvidas, investidores globais reforçam a busca por melhores oportunidades de retorno, quesito no qual a economia brasileira se destaca.

As pesquisas apontando a candidata do PSB, Marina Silva, como favorita sustentam apostas em um esperado ajuste na economia, que inclui política fiscal mais austera e menor intervenção em estatais e no câmbio, o que abriria espaço para a queda dos juros ao longo do tempo. Esses elementos justificaram a disparada da bolsa - que ontem subiu 1,89% e chegou a ultrapassar os 61 mil pontos, fechando em 60.950, maior nível desde janeiro de 2013 - e a queda do dólar.

Desde que a candidatura de Marina Silva passou a ser cogitada, após a morte de Eduardo Campos há duas semanas, o Ibovespa subiu 7,99%. As ações de empresas vinculadas ao risco eleitoral puxaram a alta. Os papéis da Petrobras, a principal delas, avançaram 16,12%. Só ontem, Petrobras PN subiu 4,57%.

Os investidores compraram a ideia de que haverá uma gestão macroeconômica mais favorável com Marina. Entre gestores, porém, há o temor de um certo exagero nos movimentos de mercado, com risco de alguma reversão. Ontem, por exemplo, o dólar caiu 0,79%, mas existe a convicção de que, no médio e longo prazos, a tendência é de desvalorização do real. O fundamento é o discurso dos principais assessores econômicos de Marina, principalmente de Eduardo Giannetti, favorável ao câmbio flutuante e menos artificial.

Um importante gestor de recursos observa que o mercado financeiro pode estar "comprando sonhos". Para ele, por maior que seja o otimismo, os empresários vão querer ver o novo governo em funcionamento antes de realmente fazer investimentos. Uma das preocupações é com o diálogo entre Marina e o Congresso Nacional, o que pode travar o governo. Outro ponto de desconfiança é com a posição histórica da candidata em defesa do meio ambiente.

Aécio mira em Marina e afirma que Brasil 'não é para amadores'

• Tucano diz não ser 'oposição circunstancial' e provoca ex-ministra: 'Ela vai na direção do Lula ou do FCH?'

Débora Bergamasco e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Um dia após pesquisa Ibope mostrar a consolidação de Marina Silva (PSB) em segundo lugar, com 10 pontos à sua frente, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves aproveitou sua participação na série Entrevistas Estadão para provocar a adversária. “Não somos oposição circunstancial. Somos oposição coerente há muito tempo. Não mudamos de lado”, disse. “O Brasil não é para amadores.”
fato de Marina, que assumiu a candidatura ao Planalto após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo, ter construído sua carreira política no PT e ter sido ministra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ouvi recentemente o (economista) Eduardo Giannetti da Fonseca (conselheiro da candidata do PSB) dizer que a Marina gostaria de governar com apoio do Lula e do Fernando Henrique. É muita bonita a expressão, mas em que direção: do Lula ou do Fernando Henrique? Da estabilidade ou do mensalão? Essas contradições precisam ficar claras.”

Aécio voltou a dizer que, se for eleito, governará com um conjunto de pessoas “altamente qualificadas”. Questionado sobre o motivo de ter anunciado anteontem, no debate da TV Bandeirantes, que o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga será seu ministro da Fazenda em caso de vitória do PSDB, o tucano afirmou que a ideia era sinalizar “de forma muito clara” que tem um “projeto de País”.

A relações com FHC. O candidato do PSDB evitou dizer quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai aparecer em sua propaganda eleitoral, embora tenha dito que ele terá “papel importante” em seu governo. Aécio também comentou a declaração de FHC, de que gostaria de ver Marina participar da gestão em caso de vitória.

“Ela é uma candidata que está disputando a eleição. Não vou convidá-la para meu governo. O Fernando Henrique deu, na verdade, uma resposta a uma provocação que a candidata fez. Ele quis dizer que acredita na nossa vitória.”

O tucano afirmou ser uma opção de mudança “muito mais consistente” e disse que não vai buscar “emprestado” referências de outros grupos políticos para conduzir seu projeto de governo.
Nesse momento, Aécio reforçou uma frase que será o mote de sua campanha na atual fase, em que está atrás de Marina nas pesquisas, na disputa por uma vaga no 2.º turno. “O Brasil não é para amadores. O futuro que nos espera enseja experiência e competência.”

Apesar das críticas, o mineiro lembrou que apoiou a tentativa de criação da Rede Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar sem sucesso. E ainda fez um afago à deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que assumiu a coordenação-geral da campanha da ex-ministra. “Tenho enorme respeito por ela e pelo que sei, isso é mútuo.”

O aeroporto e a blitz. Responsável pela pior crise da campanha de Aécio até agora, a revelação de que o governo de Minas gastou quase R$ 14 milhões na reforma de um aeroporto que é administrado por familiares do senador e fica próximo à fazenda de sua família também foi tema da entrevista.

Um dos entrevistadores lembrou que em 1983 o então governador, Tancredo Neves, avô de Aécio, construiu a pista de terra na fazenda de Múcio Guimarães Tolentino, seu cunhado. “A crítica vem da oposição, o que é natural, e de quem não conhece a realidade de Minas Gerais”, afirmou Aécio.

O presidenciável disse que o aeroporto foi uma construção “estratégica” para a região. “A grande diferença das obras do meu governo, pelas quais eu respondo integralmente do ponto de vista legal e moral, é que elas foram acompanhadas e aprovadas pelo Ministério Público de Minas Gerais e não foram questionadas pelo Tribunal de Contas”, alegou. “A obra foi correta e planejada.”

Ao ser lembrado sobre o episódio em que foi parado por uma blitz da Lei Seca no Rio, em 2011, e usou o direito de não fazer o teste do bafômetro, Aécio respondeu que, dessa vez, não se recusaria a assoprar o aparelho e que aquela decisão havia sido um “equívoco”.

“Sou um cidadão, um homem comum. Não ando com motorista e segurança”, disse Aécio. “Nesse caso específico, minha carteira de habilitação estava vencida há 30 dias”. Como não estaria autorizado a dirigir de volta para casa, afirmou que não achou necessário assoprar no aparelho.

Oposição e mea culpa. O candidato manteve as críticas à condução da política econômica, tema que tem dominado sua campanha. Acusou o governo de esconder os dados oficiais sobre a economia e atribuiu à ausência de transparência da atual gestão à perda de credibilidade do setor produtivo brasileiro. “Tenho convicção que grande parte desta perda crescente da confiança e credibilidade do Brasil vem da pouca transparência dos dados oficiais. O orçamento hoje é uma grande peça de ficção.”

Ao falar sobre os 12 anos do PT à frente do Palácio do Planalto, declarou que o modelo atual está esgotado e que o partido “fracassou”. Para o candidato, o PT acertou ao manter os pilares macroeconômicos e ao unificar os programas sociais, com a criação do Bolsa Família. Ao fazer referência à continuidade das políticas macroeconômicas de FHC, Aécio acabou fazendo um mea culpa: “Nós que deveríamos ter unificado lá atrás”.

Aécio citou uma série de dados para criticar a política econômica do governo e a gestão fiscal do País.

“Este ano tivemos um aumento de 15% dos gastos correntes do governo”, disse. O tucano afirmou ter o compromisso de simplificar a área tributária e de reduzir gastos da máquina pública.
O presidenciável voltou a dizer que a Petrobrás se tornou motivo de notícias “das páginas policiais” e apontou problemas de gestão também na Eletrobrás. Aécio defendeu a necessidade de se repensar a matriz energética brasileira, com a adoção de fontes de energias alternativas, como a eólica, a biomassa e o gás natural.

Segurança pública . Aécio acusou o governo Dilma de “criminosa omissão" na área da segurança pública. Segundo o tucano, a Polícia Federal “tem o menor orçamento desde 2009”. “Dilma prometeu (em 2010) que colocaria em funcionamento 14 Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados) para patrulhar as fronteiras. Só dois estão em funcionamento”, apontou.

O candidato do PSDB também criticou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ter executado apenas “10% do Fundo Penitenciário Nacional”, segundo ele. O objetivo desse fundo é proporcionar recursos e meios para financiar e apoiar as atividades de modernização e aprimoramento do sistema penitenciário brasileiro.

O candidato voltou a defender a proposta de transformar o Ministério da Justiça em Ministério da Segurança Pública e prometeu fazer uma “profunda” reforma no Código Penal, que depende do Congresso.

Na entrevista, Aécio defendeu a proposta do senador e seu candidato a vice, Aloysio Nunes Ferreira, de elevar o tempo de internação de jovens infratores em casos específicos. “A utilização do menor em crime virou uma verdadeira indústria”, justificou.

O senador registrou na entrevista uma divergência com FHC ao se dizer contra a legalização do uso da maconha, Aécio disse respeitar as opiniões do ex-presidente, mas argumentou que o Brasil não deve ser cobaia neste sentido. “Fernando Henrique pode falar o que ele quiser, mas sou contrário à proposta.”

Bolsa Família . Aécio afirmou que o principal programa do governo para o Nordeste “se resumiu ao Bolsa Família”. O tucano disse que o projeto é importante, mas precisa ser ampliado, e criticou a forma de cadastro das famílias. “O cadastro do Bolsa Família é uma caixa-preta. Queremos dar transparência a isso”, disse o tucano.

Para o candidato do PSDB, é preciso continuar obras “inacabadas” na região Nordeste, como a transposição do Rio São Francisco, projeto iniciado no governo Lula. “A política da presidente Dilma para o Nordeste também foi fracassada.”

Questionado se todas as propostas feitas recentemente, como promessa de maior reajuste para os aposentados, teriam estimativas de custo, Aécio afirmou que as propostas são realizáveis do ponto de vista orçamentário. “Se alguém tem autoridade para falar de responsabilidade fiscal sou eu. Esse é o governo do desperdício e da ausência de prioridades claras. Nossas propostas são factíveis, vamos fazer o Brasil voltar a crescer.”

Mercosul e espionagem. Aécio foi questionado no fim da entrevista sobre a política externa do atual governo. Sobre o Mercosul, o tucano criticou o alinhamento estratégico promovido pelos petistas. “O artigo mais valioso da política é o tempo”, frisou, destacando que a atual gestão deixou de fazer acordos comerciais com parceiros estratégicos. “A incapacidade do atual governo de ter uma política externa pragmática nos trouxe enorme prejuízo.”

O candidato foi questionado sobre a decisão de Dilma de cancelar a visita de Estado aos Estados Unidos no ano passado, após a crise da espionagem americana. “Se o gesto mais adequado era cancelar a viagem eu não sei. Mas ela acertou ao manifestar a indignação brasileira com a situação”, afirmou Aécio. “Não acho que alguém por estar em outro campo político está todo errado.”

Melhor pesquisa é a do dia 5 de outubro, afirma Aécio

• Candidato do PSDB minimiza desempenho de Marina nas pesquisas de intenção de voto e diz que sua proposta de governo 'não é improvisada'

Wladimir D'Andrade - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, minimizou o crescimento da adversária Marina Silva (PSB) na corrida eleitoral ao afirmar que a campanha está em aberto e que no dia da eleição o País saberá o real desejo do eleitor. "A melhor pesquisa eleitoral é a do dia 5 de outubro", afirmou, durante visita nesta quinta-feira, 28, a um canteiro de obras de um condomínio na zona oeste de São Paulo. O ex-governador José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também participaram da agenda de campanha.

De acordo duas pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta semana, a candidata do PSB aparece no segundo lugar. Levantamento Ibope, contratado pelo Estado e pela TV Globo, mostrou Marina com 29%, 10 pontos a frente de Aécio.

Aécio lembrou que ainda há cerca de 40 dias de campanha pela frente para reverter a atual situação, que o deixaria fora do segundo turno. Nessa terça, 26, o tucano disse que em até 20 dias voltará a ocupar o segundo lugar isolado nas pesquisas.

Para Aécio, a morte do ex-governador Eduardo Campos alterou completamente o cenário eleitoral, mas entre as três principais candidaturas, a sua é a que representa mais experiência. "O Brasil não é para principiantes, mas para gente competente e experiente, e nós temos os melhores quadros", afirmou. "Nossa proposta não é improvisada", disse o candidato do PSDB, que tem focado em seus ataques o fato de Marina não ter experiência em cargos públicos eletivos.

'Esperança'. Durante a agenda de campanha de Aécio, Serra e Alckmin pediram aos trabalhadores da construção civil que mantenham a esperança em torno da vitória do candidato à Presidência. Os tucanos disseram que há muita campanha pela frente e que uma vitória de Aécio na disputa para presidente depende do esforço da militância.

Em cima de um carro de som estacionado em frente ao canteiro de obras de um condomínio na zona oeste da Capital paulista, Serra, também candidato ao Senado, relembrou viradas de posição em campanhas eleitorais. E chamou a militância para trabalhar pela eleição de Aécio Neves. "O resultado depende de nós", afirmou Serra, que concorre neste ano ao Senado. "Muita coisa vai acontecer", completou. Ao lado de Serra estavam, além de Aécio, o senador Aloysio Nunes (PSDB), o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (SD) e Alckmin, que disputa a reeleição no Estado.

O governador reforçou o discurso de Serra. "Política é esperança", disse Alckmin. "E o nome da esperança é Aécio Neves", disse, ao final de um discurso repleto de críticas ao baixo crescimento do País no governo da presidente, e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT). Correligionários presentes no ato de hoje também convocaram a militância a buscar os votos de eleitores que atualmente votariam em branco ou nulo.

No rádio, Dilma ataca: 'ninguém quer incerteza' nem 'passado'

• Em indiretas aos seus adversários, propaganda petista destaca sua experiência; Marina repete programa e Aécio repete críticas à gestão da Petrobrás

Stefânia Akel - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - No primeiro programa eleitoral após o debate da última terça-feira, 26, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) destacaram no rádio trechos de suas participações no embate. Aécio fez críticas à condução da Petrobrás e o programa do PT afirmou que "ninguém quer a incerteza de uma aventura ou a volta ao passado". Já a campanha de Marina Silva (PSB) repetiu seu último programa, em que combate a "velha política".

O programa de Dilma, além de mostrar o desempenho da petista no debate, ressaltou a importância da continuidade do seu governo para que os programas federais sejam mantidos. "Já pensou se entra outro aí e para um programa importante como o Mais Médicos?", disse um dos locutores.

Em referência indireta a Marina e a Aécio, o programa petista disse que "ninguém quer a incerteza de uma aventura ou a volta ao passado". Em relação ao debate, a inserção destacou que a presidente "mostrou a diferença entre promessa e realização nas áreas de segurança integrada, mobilidade urbana e combate à corrupção".

A propaganda petista, que, pela primeira vez, não apresentou um depoimento do ex-presidente Lula, focou também em saúde. O programa voltou a falar sobre a criação do Mais Especialidades, em continuidade ao Mais Médicos, que prevê a criação de uma rede de clínicas para realização de exames e serviços especializados. O programa do PT também criticou o Poupança Jovem, criado por Aécio em Minas Gerais, citando uma reportagem que aponta que o pagamento de ume mensalidade a estudantes pobres do ensino médio só alcançou 1% das cidades mineiras.

A propaganda do tucano, por sua vez, diz que o debate foi "quente" e que as diferenças entre os candidatos ficaram bem claras. "Aécio mostrou que aprendeu muito ao longo da vida e sabe as mudanças que vai fazer", afirmou o locutor. A propaganda destacou cobranças feitas por Aécio a Dilma, envolvendo a gestão da Petrobrás e a condução da política econômica.

O programa frisou também que, com o tucano, é possível saber claramente o que o Brasil vai ter.

Como exemplo, citou a confirmação, feita no debate, de que o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga será o ministro da Fazenda em um governo de Aécio.

Repetindo o programa da última terça, Marina diz que elaborou um plano real, sem "peças de propaganda", e que pode reunir as melhores pessoas com capacidade para executar esse plano. "Não temos que dar ministério em troca de tempo de televisão", frisou. Marina repetiu que os grupos que estão há 20 anos no poder não conseguem mais dialogar e que é preciso superar a "velha política que está atrasando o Brasil".

A propaganda do Pastor Everaldo (PSC) também se manteve a mesma, destacando escândalos de corrupção. "Meu objetivo é cortar na carne, passar para a iniciativa privada todas as empresas que são foco de corrupção, como a Petrobrás", afirmou o candidato.

Cai influência do horário eleitoral no voto

Renata Batista, Raphael Di Cunto e Vandson Lima – Valor Econômico

RIO e BRASÍLIA - Aguardado por candidatos e marqueteiros como o marco para o início - de fato - da campanha, o horário eleitoral gratuito nas TVs começa a confirmar a teoria de que terá menos audiência e importância na decisão de voto em 2014. Parte dos telespectadores tem migrado para os canais fechados de TV, que não exibem a programação. A expectativa de convergência com as mídias sociais, por meio do uso da chamada segunda tela - quando o espectador simultaneamente acompanha a programação e faz comentários nas redes sociais -também não se confirmou.

Em pesquisa realizada pelo instituto MDA a pedido da Confederação Nacional do Transporte (CNT), apenas 11,5% dos entrevistados disseram que a propaganda eleitoral na TV e no rádio o fez ficar em dúvida sobre em qual candidato votar. Dados da audiência da TV Globo em São Paulo conseguidos pelo Valor mostram que a audiência no canal chega a cair mais de 20% quando a propaganda eleitoral gratuita começa, depois do Jornal Nacional. No mesmo horário, a audiência dos canais fechados sobe mais de 60% e o número de TVs ligadas cai 5%, o que mostra que há migração também de outros canais para a TV fechada. A audiência praticamente dobra quando retorna a programação normal da emissora, com a exibição da novela das 21h.

A proposta de marqueteiros de ampliar a integração com as redes sociais, por meio da estratégia conhecida como segunda tela, também é restrita. Nesta quarta, nenhum dos candidatos ao governo do Rio de Janeiro, por exemplo, fez qualquer menção aos canais no Facebook, Twitter e You tube. Não houve também nenhuma tentativa de interação com o eleitor. Prevaleceu o formato tradicional, com promessas, apresentação da biografia dos candidatos e críticas ao governo por parte dos candidatos de oposição.

Luciana Salgado, especialista em marketing digital para campanhas eleitorais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que atua na campanha da candidata Ana Amélia, no Rio Grande do Sul, diz que os candidatos estão em vários canais na web e os programas são divulgados na rede também, mas iniciativas de mobilização ainda são raras.

"A gente coloca o programa nas redes sociais porque hoje está todo mundo conectado. Às vezes, as pessoas nem ligam a TV, mas assistem os programas. As estratégias ainda são muito independentes", diz, frisando que, nas equipes de campanha, a primazia ainda é dos estrategistas de TV.

Uma exceção foi o debate entre presidenciáveis da Band que alcançou forte repercussão nas redes sociais, com os internautas comentando o debate durante a exibição. De acordo com a emissora, a iniciativa alcançou 10% de share (participação entre os televisores ligados) com 5 pontos de média, e pico de 7 pontos. Foi o terceiro lugar na audiência do horário na noite de terça-feira. De acordo com a previa do Ibope, o encontro foi ainda vice-líder por 30 minutos.

Para a analista, o mais comum é o próprio eleitor recorrer ao Google ou às redes sociais para conhecer melhor um candidato que vê na TV, o que pode ajudar os candidatos com menos tempo, principalmente para os cargos proporcionais. "Ele dá um Google e sabe tudo o que a pessoa já fez ou disse", resume, reconhecendo que, mesmo assim, os candidatos não se preocupam em divulgar seus canais oficiais na internet.

De acordo com a pesquisa do instituto MDA, feita no terceiro dia do horário eleitoral, 51,2% da população pretende acompanhar a propaganda eleitoral "de vez em quando". Apenas 12,2% disseram que vão assistir todos os dias, e 35,6% afirmaram que não tem interesse em assistir a propaganda.

Mesmo assim, 41,5% disseram que os programas eleitorais não influenciaram na sua decisão, e 40,5% afirmaram que reforçou a decisão sobre votar no candidato já escolhido.

Dos 39% que disseram ter assistido ou ouvido o horário eleitoral na TV e rádio, 32,3% acharam que o candidato que se saiu melhor foi a presidente Dilma Rousseff (PT). Para 19,4%, quem foi melhor foi Marina Silva (PSB), e 18,1% apontaram Aécio Neves (PSDB) como o candidato com a melhor propaganda. O pastor Everaldo (PSC) foi lembrado por 2,1% dos entrevistados.

As redes sociais podem ter influência na decisão de voto de apenas 7% dos entrevistados. Isso pode ser explicado pela falta de confiança dos eleitores em relação as redes sociais: 73,8% afirmaram que não confiam na veracidade das informações recebidas por este meio, enquanto 23 % disseram confiar.

Essa é a primeira edição da pesquisa CNT/MDA realizada após a morte de Eduardo Campos, que era candidato da chapa liderada pelo PSB e morreu num acidente de avião no dia 13. Foram entrevistadas 2.002 pessoas, em 137 municípios, entre os dias 21 e 24 de agosto de 2014. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

FHC: Dilma entende pouco de economia. Perdeu credibilidade.

- Observatório Político

Agora vejo o motivo pelo qual a presidente Dilma Roussef não conseguiu obter grau de pós-graduação na Unicamp: ela entende pouco de economia. E mesmo de números. Disse no debate de ontem (26/8), na Band, que o Brasil “quebrou três vezes” no governo do PSDB. De onde tirou tal falsidade?

O Brasil estava em moratória desde o final do governo Sarney (será que é a isso que ela se refere quando diz “quebrado”). Desde quando assumi o ministério da Fazenda, no governo Itamar, começamos a refazer a credibilidade do país. Em outubro de 1993 assinamos uma renegociação da dívida externa e voltamos aos mercados internacionais. Fizemos em 1994 o Plano Real, sem apoio do FMI, e erguemos a economia. Começava o período de construção da estabilidade, que durou todo meu primeiro mandato, passando por crises bancárias, Proer, renegociação das dívidas dos estados e municípios etc.

No início do segundo mandato, depois das consequências da crise da Ásia (1997), da crise argentina e toda sorte de dificuldades externas e internas –graças a atos políticos irresponsáveis da oposição e à incompletude do ajuste fiscal – sofremos forte desvalorização cambial em janeiro de 1999, apesar de havermos assinado em 1998 um acordo de empréstimo com o FMI (será que é isso que a Presidente chama de “quebrar o país?). A inflação não voltou, apesar das apostas em contrário, e antes do fim do primeiro semestre de 1999 já havíamos recuperado condições de crescimento, tanto assim que em 2000 o PIB cresceu 4,7%.

Nova dificuldade financeira, a despeito das restrições na geração de energia, só ressurgiu no segundo semestre de 2002. Por que? Devido ao “efeito Lula”: os mercados financeiros mundiais e locais temiam que a pregação do PT fosse para valer. Sentimos o efeito inflacionário (os 12% a que a Presidente sempre se refere, que devem ser postos à conta do PT). Aí sim, recorremos ao FMI, mas com anuência expressa de Lula e para permitir que seu governo reagisse em 2003, como fez. Do empréstimo, 20% seriam para usar no resto de meu mandato e 80% no de Lula… Não houve interrupção do fluxo financeiro internacional, nem quebradeira alguma.

É mentira, portanto, que o governo do PSDB tenha quebrado o Brasil três vezes. Por essas e outras, o governo Dilma Roussef perdeu credibilidade: em vez de informar, faz propaganda falsa.

Merval Pereira: Mudança de tom

- O Globo

A entrada em cena da candidata Marina Silva com ares de favorita tornou a campanha eleitoral mais aberta e franca por parte dela e do candidato do PSDB Aécio Neves. É natural, os dois disputam o mesmo espaço, isto é, a possibilidade de derrotar a presidente Dilma no segundo turno. O próprio Eduardo Campos achava que quem fosse ao segundo contra a presidente venceria as eleições, diante do clamor da sociedade por mudança.

Chegou até mesmo a imaginar um segundo turno entre PSB e PSDB, candidatos de perfis semelhantes que chegaram a vislumbrar uma parceria. Cenário que ficou impossível com a chegada em cena de Marina Silva, uma oposicionista de outro calibre, que exasperou a disputa. Aécio foi o mais atingido pelo surgimento de uma candidatura nova na área da oposição, pois está tendo que mudar o ritmo de sua campanha em plena corrida. Com Campos na disputa, teria tempo para apresentar-se ao eleitor, pois o adversário também teria que se apresentar.

Agora, ao mesmo tempo em que se torna mais conhecido, vai subindo o tom para entrar na disputa com uma candidata que foi poupada em toda a primeira parte da campanha e chegou a ela já com índices vigorosos. A presidente Dilma não pode fazer mais do que tentar convencer o eleitor de que o país não está tão ruim quanto seus adversários dizem. O problema dela, e por isso tem tido um sucesso relativo, é que os eleitores-espectadores sabem o dia a dia que vivem, e não é um filmete publicitário que mudará suas opiniões.

Uma bela sacada de Aécio foi dizer que o sonho de todo brasileiro é viver no mundo virtual da propaganda de Dilma, que é muito melhor do que o mundo real. Tanto é assim que a avaliação de seu governo melhora na margem e não se reflete no número final da votação, que está em queda.

Marina, por sua vez, já entrou no debate da TV Bandeirantes muito mais assertiva do que sempre foi, para enfrentar as tentativas de desqualificação a que será submetida nesses pouco mais de 30 dias de campanha. Terá que esclarecer posições, assumir compromissos e mostrar-se agregadora, que não é exatamente seu perfil de ação pública até agora. A seu favor, poderá dizer que teve de enfrentar interesses encastelados tanto no governo petista quanto nos partidos em que já esteve, e por isso teve atritos.

Aécio está acelerando a apresentação de seu projeto e a explicitação de seus programas, para ganhar crédito como o candidato da mudança segura, como está se apresentando. Desse ponto de vista, anunciar formalmente que o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga será o comandante de sua equipe econômica, ou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é e será seu grande conselheiro, é uma maneira de marcar posição contra Marina, que classifica como uma "amadora".

O que atrapalha sua campanha é a ineficiência até agora dos acordos regionais que montou, seu grande trunfo como articulador político. Para quem pretendia sair de São Paulo e Minas com cerca de 5 milhões de votos na frente da presidente Dilma, os resultados até agora são decepcionantes, muito pelo surgimento da opção Marina Silva.

Em SP, Marina está à frente, e Dilma em segundo, mesmo com o PT levando uma surra para governador e senador, o que sugere que a máquina tucana não se move a favor de Aécio. Uma vingança silenciosa pelas campanhas anteriores em Minas não é de se descartar.

Em MG, seu território político, o candidato do PT está à frente na disputa para governador e Aécio aparece quase empatado com Dilma na preferência do eleitorado. Marina reafirma a boa votação que teve em 2010 no Estado, com cerca de 20% das preferências.
No nordeste, onde pretendia reduzir a diferença a favor de Dilma, o candidato do PSDB não está tendo sucesso até mesmo nos Estados onde as dissidências da base aliada teoricamente estariam a seu lado. Na Bahia, Dilma está bem à frente, seguida por Marina. Em Pernambuco, Marina Silva absorveu a força política de Eduardo Campos e está liderando a disputa, seguida da presidente Dilma. No DF, aonde Aécio chegou a liderar, Marina tomou a frente. No Rio de Janeiro, primeiro grande estado em que a dissidência do PMDB surgiu em seu apoio, Dilma lidera com folga, seguida de Marina, relegando-o a um terceiro lugar.

Os dias de setembro dirão se esta é uma situação mutável ou se o quadro está cristalizado fora da polarização PT-PSDB, que prevalece há 20 anos.

Dora Kramer: Satisfação garantida

- O Estado de S. Paulo

A campanha vinha meio morna, como de resto ocorre desde que as eleições deixaram de ser uma novidade, passando de exceção a regra repetida de dois em dois anos como parte do calendário nacional.

Aos que sentiam sua falta, eis de volta a emoção pela via da tragédia que abriu caminho à realização de dois tipos de anseios existentes no eleitorado: desalojar o PT do poder e a possibilidade de dar ao próprio voto o sentido de utilidade cívica e bem-estar psicológico.

Os fatores aí envolvidos podem ser a esperança difusa, o protesto à deriva, a admiração por uma figura ímpar em relação ao elenco tradicional ou mesmo a sensação gostosa de ficar ao lado do "bem" imaginando-se partícipe de uma espécie de reinvenção do Brasil.

Seja por qualquer desses pontos ou pela junção de todos eles e outros tantos, fato é que a entrada de Marina Silva no páreo pôs a eleição deste ano em outro patamar, no mínimo despertou o interesse de quem andava desinteressado.

Esse contingente que por ora opta por Marina Silva dando a ela o segundo lugar nas pesquisas, distante do tucano Aécio Neves, derrotando com folga a presidente Dilma Rousseff no segundo turno, não necessariamente escolhe um projeto de País com começo, meio e fim. Até porque isso a candidata do PSB ainda não apresentou.

Nem é certeza de que seja necessário que apresente planos e propostas detalhadas para sentar praça no coração (sim, é mais com corações e menos com mentes que estamos lidando) do eleitorado. No debate da Band, na terça-feira, a candidata do PSB trabalhou basicamente com conceitos. Ou "ideias-força".

Projetos passados, presentes ou futuros, números, índices, resultados e porcentagens ficaram ao encargo da presidente Dilma Rousseff e do candidato do PSDB, Aécio Neves.

O tucano procurando se mostrar como o caminho da mudança segura citando exemplos de sua administração em Minas e, quando provocado, remetendo-se às realizações do governo Fernando Henrique.

A presidente repetidamente forçando comparações com as gestões FH e se perdendo na confusão de dados oficiais na pressa de encaixar a maior quantidade possível de citações de programas de governo na limitação das regras do tempo para cada debatedor.

Marina fugiu desse enquadramento. Numa perspectiva mais realista, isso pode ser visto como ausência de clareza e consistência. Mas, do ponto de vista do eleitor ávido pelo "novo" pode ser percebido como sinal de uma visão diferente.

Em resumo, quais as "ideias-força" de Marina? As seguintes: Dilma não admite erros do governo, mostra "um Brasil que não existe", PT e PSDB querem dividir o País enquanto ela pretende unir. Marina vai governar com "as melhores competências", sempre voltada para as demandas da sociedade e não para os interesses partidários. Além disso, ela, apenas ela, tem uma visão abrangente e não preconceituosa do que seja "elite".

Conta meias-verdades para adaptar a realidade à sua narrativa. Por exemplo: os tucanos jamais foram partidários da dicotomia do "nós" contra "eles", de autoria petista, mas Marina socializa a tese para se diferenciar dos adversários. Cria, assim, sua própria versão dos fatos, repetindo um truque da velha política.

Mas nela não cola. Neste aspecto, tem vantagem semelhante à de Lula: certas características não muito positivas são toleradas simplesmente porque as pessoas só querem enxergar o que convém ao que já elegeram como fonte de alívio de consciência e de bem-estar. Chega um momento em que não estão dispostas e serem importunadas com o contraditório.

Marina terá atingido esse patamar de inviolabilidade? Ainda é dúvida. Certo é que ela mostrou no debate ser competidora dura, bem articulada, embora vulnerável à tentação da soberba.

Eliane Cantanhêde: Aécio no pior dos mundos

- Folha de S. Paulo

A dúvida é se a situação de Aécio Neves é "difícil" ou "crítica". Afora a nuance semântica, o mar não está para peixe e o ar eleitoral não está para tucano.

Aécio contava em crescer a partir de agora, mas desabou um avião na cabeça de todo mundo, e ele, em vez de crescer, ou ao menos estabilizar por baixo, passou a cair. Num momento decisivo, isolou-se no terceiro lugar, assistindo à ida de Dilma e Marina para o segundo turno, com Marina disparando para a vitória.

Acrescente-se a isso o quadro eleitoral em Minas, que é o coração da campanha e do discurso de Aécio: o PT enfrenta dificuldades por toda a parte, mas o candidato petista ao governo do Estado de Aécio, Fernando Pimentel, tem uma posição bastante confortável em relação ao tucano Pimenta da Veiga.

Um segundo turno em Minas tende a favorecer o tucano, mas, por ora, Aécio está diante do pior dos mundos: a possibilidade de tirar o PSDB do segundo turno presidencial, pela primeira vez, e de perder no seu próprio reduto, onde se crê imbatível.

Na reta final das campanhas, ondas, de um lado, e a percepção de derrota, de outro, são avassaladoras. A onda é Marina. A percepção de que pode não haver mais tempo de reverter o desastre atinge Aécio.

Para ilustrar: no debate da Band, Marina só repetiu obviedades contra a polarização PT-PSDB e sobre "a nova política"; Dilma ficou acuada, com o mesmo blablablá de sempre sobre seus programas pontuais e batendo no adversário errado; Aécio saiu-se bem, botando o dedo nas feridas do governo e pegando o ponto fraco de Marina, a imprevisibilidade. Mas a mídia --a Folha, por exemplo-- concentrou-se nas duas favoritas, mal deu bola para o tucano.

Essa situação, "difícil" ou "crítica", reacende uma velha acusação: Aécio lavou a mãos para os tucanos paulistas em 2002, 2006 e 2010. Quando entrasse, julgava, estaria virtualmente eleito. E já serão 16 anos fora do poder. Quantos mais?

Jarbas de Holanda: Disparada de Marina. Peso dos debates. E maior estagnação da economia

O reforço da onda em favor da candidatura de Marina Silva, na pesquisa do Ibope divulgada ontem à noite, afirmou-a como finalista do 1º turno na disputa presidencial. Situando-a dez pontos acima da alternativa representada por Aécio Neves, por 29% a 19%. Aproximando-a de Dilma Rousseff, com a redução da distância entre as duas para apenas cinco pontos, dos 29% a 34%. E projetando-a como ganhadora do 2º turno contra Dilma com ampliação para nove pontos, 45% a 36%, de sua vantagem sobre a presidente/candidata nessa etapa da disputa. Segundo o novo Ibope, o avanço de Marina absorveu nova atração de votos nulos e de indecisos e provocou queda de quatro pontos nas intenções de voto de Aécio e de Dilma.

O reforço dessa onda frustra a meta de Aécio de capitalizar o começo do cenário eleitoral (que enseja maior conhecimento seu pelo conjunto da população) para aumento significativo da taxa de intenção de votos. Ao invés disso, sua candidatura é sufocada pelo risco maior de exclusão do 2º turno. E para a campanha de Dilma, além da proximidade de Marina no embate do 1º turno e de maior dianteira da concorrente na simulação do turno final, a onda pró-Marina complica ou inviabiliza o enorme esforço que está sendo feito pelo ex-presidente Lula para aproveitar o horário eleitoral no sentido de uma “virada” das precárias campanhas dos candidatos petistas, majoritários e de voto proporcional, em vários estados, com destaque para os de São Paulo, Rio e Bahia. Num cenário que aponta, até agora, para a perda de dois importantes governos ganhos em 2010 (os do Rio Grande do Sul e da Bahia), um fiasco do projeto de conquista do de São Paulo e insucesso do plano de controle de uma das Casas do Congresso Nacional. Pois o avanço de Marina se nutre, também, do desgaste do petismo no Centro-Sul e nas cidades de maior porte das diversas regiões.

O protagonismo ganho pela candidata do PSB e da Rede terá de enfrentar nas próximas semanas, ademais da reorientação tática que impõe às campanhas de Dilma e de Aécio, os questionamentos que lhe serão feitos nos debates na televisão e no rádio, como o de ontem na TV Bandeirantes e o tête-a-tête com a dupla William Bonner-Patrícia Poeta, na rede Globo. Tais questionamentos, dos quais ela estava inteiramente livre, porão em xeque contestadas posturas tradicionais de Marina sobre questões relevantes da economia (como as restritivas às atividades do agronegócio, e de investimentos em hidrelétricas) e políticas-institucionais (como a de apoio ao projeto petista de criação dos “conselhos sociais” de conteúdo antidemocrático). Assim como as relacionadas à fragilidade e às contradições de sua base de apoio, que, somadas à inexperiência administrativa, limitam suas condições de gerir o governo, sobretudo no contexto de complexa e grave crise econômica a ser enfrentada pelo próximo presidente da República. Quanto a esta, uma semana de piora da conjuntura e das perspectivas à frente. Na segunda-feira, o boletim Focus, do BC, reduziu para 0,7% a projeção do PIB de 2014. E depois de amanhã, balanço do IBGE poderá apontar um quadro de recessão técnica – dois trimestres consecutivos de taxas negativas da economia .

Cabe por fim assinalar que a onda pró-Marina – venha ou não a ser contida – capitaliza boa parte do sentimento mudancista predominante na sociedade. Por meio da afirmação de um oposicionismo ético ao governo petista, ao seu sistema fisiológico de alianças e ao conjunto da “classe política”. Afirmação feita em detrimento da centralidade do debate das causas da estagnação da economia e dos seus efeitos sociais (inclusive do encolhimento do mercado de trabalho e da precarização dos empregos). E de alternativas de governabilidade e de política econômica capazes de libertar o país da agenda populista e do intervencionismo estatal, para que ele se recoloque na trilha de crescimento e do desenvolvimento sustentado.

Jarbas de Holanda é jornalista

Arminio Fraga: Mitos do PT

• Populismo e mentira são inimigos da democracia. É preciso melhorar a qualidade do debate público, que deve ser baseado em fatos e dados

- Folha de S. Paulo

Não é de hoje que o PT adota uma retórica agressiva e populista para marcar suas posições. Em tempos de campanha, esta prática se radicaliza, adquirindo tons cada vez mais berrantes, e chegando frequentemente a se desentender com os fatos. Abaixo alguns exemplos.

O primeiro mito, mencionado em entrevista na televisão pela própria presidente Dilma, é que a culpa do baixo crescimento é da economia internacional. Não é verdade. Nos governos FHC e Lula, o Brasil cresceu a taxas médias muito próximas das da América Latina. Para os anos Dilma, o crescimento projetado está 2% ao ano inferior ao da região, o que demonstra que não foi problema externo, foi interno mesmo.

O segundo diz que "basta estimular a demanda e o resto se resolve". Não tem sido bem assim. Falta investimento, vítima de preconceitos ideológicos e má gestão. A produção e a importação de bens de capital afundaram nos últimos meses. A infraestrutura virou uma barreira ao crescimento. O investimento está flutuando em torno de 18% do PIB há anos, valor insuficiente para acelerar o ritmo de crescimento. É preciso elevar esse porcentual a 24% até 2018, que é a nossa meta.

O terceiro é que os problemas da indústria serão resolvidos com medidas pontuais. Na verdade, a indústria nunca esteve tão mal. As taxas de juros estão para cima e o câmbio para baixo. O complexo sistema tributário é custoso e cumulativo, prejudicando as exportações e o investimento. A logística não está à altura das necessidades do país.

O quarto é o "querem fazer um arrocho", em resposta à posição honesta de que (para voltar a crescer) o país necessita corrigir muitas de suas políticas. A verdade é que a economia está devagar quase parando, amarrada por uma enorme e crescente incerteza sobre seu futuro. As perspectivas para o ano que vem são sombrias, como mostram todos os indicadores de confiança disponíveis. O arrocho, com dispensas e suspensões de contrato de trabalho, já chegou, vamos cair na real.

O quinto é o estridente "vão fazer um tarifaço". Aqui cabe perguntar, antes de mais nada, que situação é essa e como chegamos nela. Falo do irresponsável represamento dos preços de combustíveis e de energia, e da taxa de câmbio. No campo dos combustíveis, sofre a Petrobras asfixiada em seu fluxo de caixa, sofre o setor de etanol, onde as falências crescem, e sofre o meio ambiente, com o absurdo subsídio implícito a combustíveis fósseis. No setor elétrico, um movimento voluntarista de redução de tarifas saiu pela culatra, e vem gerando uma dívida bilionária com as distribuidoras de energia. Por último, a repressão da taxa de câmbio desestimula as exportações e pressiona ainda mais o deficit em conta corrente, hoje em 3,5% do PIB.

Em sexto lugar, há a acusação de que "o governo FHC sempre cortou o gasto social". Acusação falsa, como demonstra Samuel Pessôa em artigo recente nesta Folha. Medido como a soma de INSS, Lei Orgânica da Assistência Social, abono salarial, seguro-desemprego e bolsas, o gasto social cresceu cerca de 1,5 ponto do PIB em cada um dos governos Itamar/Collor, FHC, Lula e Dilma (esta em cerca de 1 ponto até agora). Na verdade, o governo FHC representou uma guinada no foco do gasto público na direção da educação e da saúde, ponto nunca reconhecido pelo PT.

Finalmente, o governo diz que "quebraram o país e nós pagamos o FMI". Em 2002, o Brasil quase quebrou, sim, em função do medo do que faria o PT no poder (e que Lula resolveu, para seu eterno mérito). No segundo semestre de 2002 o governo FHC (com anuência da oposição) tomou um empréstimo com o FMI de US$ 30 bilhões. Cerca de 80% do empréstimo foram reservados para o próximo governo, sendo 20% desembolsados (e não gastos) em dezembro de 2002 e o restante já durante o governo Lula. Portanto os recursos ficaram, na prática, à disposição do governo Lula.

O populismo e a mentira são inimigos da democracia e da boa política. Temos que melhorar a qualidade do debate público, que deve ser baseado em fatos e dados.

Arminio Fraga Neto, 57, economista, foi presidente do Banco Central (governo Fernando Henrique). É assessor do candidato à Presidência da República pelo PSDB, senador Aécio Neves (MG)

Almir Pazzianotto Pinto: A informatização da sociedade e o trabalhador

- O Estado de S. Paulo

"Proteção em face da automação, na forma da lei" Constituição de 1988,artigo 7.º, XXVII (sobre os direitos dos trabalhadores)

Visitava uma modesta fábrica de móveis para escritório. O proprietário, ao mostrar-me detalhes da produção, apontou para máquinas empoeiradas e fora de uso. Enaltecia a robustez das velhas ferramentas, exaltava a durabilidade, mas dizia que se tornaram ultrapassadas e inúteis.

A certa altura eu me detive diante de algo diferente. Tinha à frente três equipamentos importados, talvez da China, projetados para desempenharem complexas tarefas de forma rápida, coordenada e segura, controlados por computadores. Não erram no corte, no alinhamento e na montagem de partes diferentes. Cem, mil ou dez mil peças podem ser concluídas sem defeitos. Vieram-me à lembrança visitas anteriores a indústrias onde observei placas de aço dividas com a utilização de raio laser, sofisticados conjuntos usinados e carrocerias de veículos soldadas e pintadas por robôs.

Ao indagar sobre as condições de compra dos tais equipamentos, mostrou-me o empresário placas em que se dizia que haviam sido financiados com recursos do FAT. A frase intrigou-me porque a sigla pertence ao Fundo de Amparo ao Trabalhador. Perguntei quantos empregos haviam sido suprimidos e ele me respondeu que foram 15, ocupados até então por calejados profissionais.

O caso da pequena marcenaria assemelha-se ao que sucede em todos os ramos industriais, agroindustriais, comerciais, financeiros, de comunicação, na imprensa, no transporte: a tecnologia de ponta opera milagres, mas, ao mesmo tempo, dizima profissões e ofícios. Além de ser produtiva e segura, traz como importante vantagem, sobretudo nos dias de hoje, estar fora do alcance da legislação trabalhista: não se sindicaliza, desconhece o direito de greve, opera ininterruptamente sem pagamentos adicionais, ignora domingos, feriados e férias, não exige 13.º salário, não tem carteira profissional, conta vinculada no FGTS e inscrição no INSS. Em resumo, flexibiliza radicalmente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sem adversários.

Em dezembro de 1976, antevendo o que estava por vir, o então presidente da França, Valéry Giscard d'Estaing, ordenou ao inspetor-geral de Finanças, Simon Nora, a apresentação de um relatório sobre o advento da tecnologia da informação. Dizia, no ofício: "O desenvolvimento das aplicações da informática é um fator de transformação da organização social e do modo de vida; convém que a nossa sociedade esteja em condições, ao mesmo tempo, de o promover e de o controlar para colocá-lo a serviço da democracia e do desenvolvimento humano".

Para dar cumprimento ao exigido o inspetor-geral elaborou o documento conhecido como Relatório Nora. Ao tratar dos riscos decorrentes das inovações tecnológicas, o investigador alertou que "as consequências de uma informatização maciça sobre o emprego resultam de um saldo: o resultado de uma corrida de velocidade entre a liberação da mão de obra ligada aos ganhos da produtividade e o aumento das aberturas que pode resultar de uma competitividade assim melhorada. O primeiro efeito é certo, e a curto prazo. O segundo será condicional e mais lento de se efetuar" (página 31). Dito de outra maneira, de imediato a informatização desemprega; a longo prazo, pouco se sabe.

Antiga é a aversão do operariado às inovações que lhe retirem o salário. Jürgen Kuczynski, no conhecido livro Evolução da Classe Obreira (Editora Guadarrama, Madri, 1967), relata como nasceu a categoria assalariada. Segundo o historiador alemão, "a introdução da ferramenta mecânica foi obra do gênio inventivo inglês e da prática industrial inglesa, baseada no estado de produção capitalista e das suas exigências". No século 18, crescente demanda por tecidos provocou o surgimento de máquinas de fiar e de tecer, que, organizadas em companhias industriais, com centenas de operários, eliminaram o trabalho artesanal e a produção doméstica. Segundo Kuczynski, "a classe trabalhadora moderna é produto da máquina. Resulta da associação não política de pessoas, nem formada por outros motivos, por tendência pessoal ou ingresso individual. É o resultado do desenvolvimento da energia produtiva. É a criação da máquina, mais exatamente da ferramenta mecânica. Sem máquinas não haveria classe trabalhadora".

Combater o avanço tecnológico, como imagina ser possível a Constituição federal, a pretexto da garantia do mercado de trabalho, seria irracional e impossível. Devemos aceitá-lo como indispensável ao desenvolvimento e único caminho para que o Brasil adquira condições de competir dentro do mundo globalizado.

A situação vigente guarda semelhança com aquela do início da Revolução Industrial. Como diz o Relatório Nora, a informática e o robô liberam mão de obra que se tornou redundante, para reduzir custos, aprimorar a produção, alargar mercados, multiplicar chances de trabalho.

Se o assalariado tem direito à defesa "em face da automação", não faz sentido tornar viável a compra de máquinas, que à primeira vista desempregam, com recursos do FAT. O crescente desemprego tecnológico adverte acerca das consequências da informatização. Para administrá-la exige-se a evolução de cabeças atrasadas, redução do custo Brasil, revisão inteligente da legislação laboral, recuperação da confiança na economia mediante implantação de clima de segurança jurídica.

Nada se espere da presidente Dilma Rousseff, adepta do assistencialismo estéril e do Estado tutor ineficiente. Marina Silva é salto no vácuo, sem paraquedas. As esperanças recaem, portanto, em Aécio Neves, que dirá a que vem no decorrer da campanha eleitoral.

*Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)