terça-feira, 26 de agosto de 2014

Opinião do dia: José de Souza Martins

Nesta eleição de 2014, deve-se acrescentar os jovens e os identificados com as manifestações de 2013, um grupo singular que capturou o imaginário dos brasileiros e que se expressa no protesto difuso.

Mas que parece ter um núcleo de consistência ao modificar, nestes últimos dias, os resultados das pesquisas eleitorais em favor da candidata recém-chegada. Já não são os pobres e excluídos de 2002 que vão protagonizar a eventual mudança, mas os jovens radicais da classe média ascendente. Em 1998, a esperança cultivada durante a ditadura finalmente triunfou. Em 2002 o ressentimento acumulado com a derrota de um projeto popular alternativo teve seu triunfo e no poder próprio sua derrota. É possível que 2014 seja o ano da frustração, dos desiludidos com as promessas não cumpridas na eleição de 2002 e com os óbvios recuos da eleição de 2010. Porém, é ele, o frustrado ativo, que vota porque recusa. Um radical do gesto, mas não da política ou da política apenas como teatro.

Nesse plano, os perigos são mais do que óbvios. Em primeiro lugar porque o eleitorado vai às urnas consciente de que programas de governo já não são programas para governar, mas programas para ter poder. Em segundo lugar porque nem os candidatos nem seus partidos têm um projeto de nação.

O que foi forte na formulação das esperanças que levaram ao fim da ditadura deixou de comparecer à política brasileira. A crua realidade das razões de Estado e a do imperativo das razões de mercado tiveram um efeito corrosivo sobre a utopia que finalmente nos aglutinara, a da esperança num mundo novo de justiça, fartura e alegria.

*José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de Uma sociologia da vida cotidiana (Contexto, In. Incertezas da hora. O Estado de S. Paulo/ Aliás, 24 de agosto de 2014.

Tráfico e milícia impedem campanha em 41 favelas

• Número é de relatório entregue ao TRE PELA Secretaria de Segurança do Rio

Votos ameaçados pelo crime

• Tráfico e milícia impedem campanha em 41 áreas do rio; pezão não pedirá ajuda das forças federais

Paula Ferreira – O Globo

A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Seseg) entregou ontem ao desembargador eleitoral Fábio Uchôa um relatório apontando 41 áreas no Estado do Rio dominadas por tráfico ou milícia e onde candidatos enfrentam problemas para fazer campanha. De acordo com o documento, dez dessas localidades têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Os complexos da Maré e do Alemão são citados como locais onde candidatos governistas foram intimidados e proibidos de entrar. A Rocinha, na Zonal Sul, também registra problemas. Na sessão de ontem no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Uchôa classificou como "caótica" a situação descrita no relatório. Mesmo assim, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição, informou ontem que não pedirá ajuda das forças federais para garantir o pleito.

O levantamento do serviço de inteligência da Seseg dá conta de 16 comunidades sob domínio da milícia e as demais controladas por traficantes e associações de moradores, usadas pelo crime. Ainda de acordo com o estudo, moradores de áreas de milícia são obrigados a fazer parte de um cadastro de títulos eleitorais.

O relatório da secretaria menciona também um pedágio de R$ 10 mil, cobrado por traficantes da Vila Ipiranga, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. No mesmo município, placas de candidatos da base do governo foram destruídas no Morro do Caramujo. A Secretaria de Segurança omitiu no relatório se há necessidade da ajuda da Força Nacional para garantir a ordem durante a campanha e no dia das eleições.

"Há temor de dizer que há necessidade"
Ontem à tarde, o presidente do TRE, Bernardo Garcez, disse que havia reenviado um ofício a Pezão para ouvi-lo sobre a necessidade de reforço de segurança no processo eleitoral. De acordo com Garcez, o primeiro documento enviado foi respondido por um secretário, a quem chamou de subalterno, e era preciso uma manifestação do próprio governador, afinal se trata de um tipo de intervenção no estado. Por isso, um outro ofício foi encaminhado diretamente para o gabinete de Pezão.

- Há um temor de dizer que há necessidade (da Força Nacional) - destacou Garcez, antes de saber da posição de Pezão.

Em resposta ao presidente do TRE-RJ, Pezão informou que, em consulta à Secretaria Estadual de Segurança, definiu que, até o presente momento, não há necessidade de requisição de forças federais.

Durante caminhada ontem pela manhã no Batan, favela da Zona Oeste que já foi controlada pela milícia, o governador do Rio insinuou que policiais expulsos da corporação podem estar por trás de currais eleitorais em comunidades. Segundo ele, caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgue necessário aumentar a segurança na cidade até as eleições, não será um sinal de fracasso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs):

- Há policiais que foram expulsos do serviço público e que jogam contra. (...) Eu tenho consciência de que o eleitor desses lugares onde o tráfico ou a milícia não deixam entrar a minha placa com o meu número me tem dentro do coração - disse Pezão, que prorrogou o acordo de Garantia da Lei e da Ordem no Complexo da Maré e a presença da Força Nacional no Morro Santo Amaro, no Catete, até depois das eleições.

Freixo diz que milícias mantêm poder
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) que investigou em 2008 a atuação das milícias, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), candidato à reeleição, afirmou ontem que, mesmo após a prisão de líderes milicianos, o poder dos grupos se manteve. O deputado explica que as milícias têm "estrutura de máfia" e, sempre que um integrante é preso, outro assume suas funções. Freixo destaca que, nestas eleições, a pressão dos milicianos sobre os candidatos tem sido maior do que nos pleitos anteriores.

Eles também mudaram a forma de escolha dos candidatos que recebem o apoio das milícias.

- Antes, as candidaturas eram dos próprios chefes das milícias. Hoje, há um acerto entre candidatos que não integram esses grupos. Essa negociação pode ser financeira. Os escolhidos têm livre acesso nas áreas dominadas, e os demais são proibidos. Para não despertar suspeitas, esses nomes têm ficha limpa - disse Freixo. - As milícias dominam as comunidades por meio do assistencialismo, em centros sociais, e do terror. Assim, garantem o poder político - acrescentou.

Em carreata ontem pela favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste, área de milícia, o candidato do PR ao Palácio Guanabara, Anthony Garotinho, acusou empresários de ônibus de financiarem o discurso de que há atuação de milicianos entre funcionários do transporte alternativo, sobretudo das vans. Mantendo a estratégia de atacar o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o adversário Pezão, Garotinho ressaltou que a CPI das Milícias mostrou que houve crescimento de 300% desses grupos na gestão de Cabral. O candidato do PR cobrou, ainda, explicações dos peemedebistas sobre a ampliação da atuação dos milicianos no estado:

- A milícia atua em vários lugares. Não se pode querer usar o discurso dos empresários de ônibus de que van é milícia. Temos um levantamento bem claro de onde estão e como atuam (os milicianos)

Candidato do PT a governador, Lindbergh Farias disse ontem, em caminhada no Largo do Machado, na Zona Sul, que até o momento não teve problemas para fazer campanha em locais dominados pelo crime. O petista afirmou que manterá o programa das UPPs, caso eleito. (Colaboraram Carolina Oliveira Castro, Chico Otávio, Igor Melo, Juliana Castro, Leticia Fernandes e Marcelo Remigio).

Campanhas querem governo com papel maior na segurança

• Transferência mais ágil de verbas a estados é outra ideia em comum

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - Dirigentes das campanhas eleitorais dos principais candidatos à Presidência estão concluindo as suas propostas sobre combate à violência e ao tráfico de drogas, entre outros temas ligados à Segurança Pública. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) têm pelo menos uma ideia em comum. Os seus coordenadores de campanha sugerem ampliar em diferentes graus o papel do governo federal na Segurança. A campanha da presidente Dilma fala até em mudar a Constituição.

"Para que a União possa assumir um novo e mais amplo papel na indução de políticas na área de Segurança Pública, propomos alterar a Constituição Federal, para definir a Segurança Pública como atividade comum de todos os entes federativos, permitindo à União estabelecer diretrizes e normais gerais válidas para o território nacional", informou a coordenação de Dilma.

Mudança na Constituição
Essa mudança visaria a permitir ao governo federal "induzir políticas uniformes no país e disseminar a adoção de boas práticas". Pela Constituição, a Segurança Pública é responsabilidade direta dos estados. As policias civis e militares são subordinadas aos governadores.

Pela Constituição, o governo federal tem papel subsidiário. O que limita sua ação no financiamento de projetos e sugestão de programas. Governadores e prefeitos podem ou não acolher as sugestões. A campanha de Dilma não informou quais trechos da Constituição pretende mudar.

A campanha de Aécio também propõe que o governo federal tome a dianteira nesse setor. "A principal proposta do candidato é que o governo federal assuma o protagonismo de forma inequívoca em relação à Segurança Pública. Ao contrário do que o atual governo diz, esta não é uma responsabilidade apenas dos governadores, mas da União também", informou a campanha tucana.

Aécio pretende criar o Ministério da Segurança Pública e Justiça, no lugar no Ministério da Justiça. A partir dessa estrutura, o governo federal replicaria nos estados o Fica Vivo e outros programas que, segundo a campanha, ajudaram a reduzir os índices de homicídio em Minas Gerais e em São Paulo, estados administrados pelo PSDB.

A campanha de Marina não mencionou mudanças constitucionais ou a criação de um ministério, mas também tentou realçar o papel que o governo federal teria em relação à Segurança.

Maurício Rands, um dos coordenadores da campanha do PSB, disse que a ideia é difundir o Pacto pela Vida, programa lançado pelo ex-governador Eduardo Campos, em Pernambuco.

- O papel da União não será apenas subsidiário - disse Rands.

Transferências fundo a fundo
As três campanhas têm uma segunda proposta parecida: sugerem a criação de um novo sistema de financiamento. Pela proposta, o governo federal criará uma estrutura para repassar dinheiro a estados e prefeituras, sem necessidade de convênios.

A ideia é transferir o dinheiro de um fundo federal diretamente para fundos estaduais e municipais. Hoje, o volume mais expressivo de recursos federais para a Segurança Pública está concentrado no Fundo Nacional de Segurança (FNS); os repasses dependem de aprovação de projetos apresentados por governadores e prefeitos e são firmados em convênios.

Os repasses fundo a fundo eliminariam os entraves burocráticos e facilitariam investimentos de estados e prefeituras que tenham iniciativas próprias para enfrentar a criminalidade. A fórmula tem por base o Sistema Único de Saúde (SUS). As transferências poderiam acontecer quase automaticamente.

O sistema atual tem causado dissabores aos três níveis de governo. Governadores e prefeitos sofrem desgaste quando têm projetos rejeitados pela administração do Fundo Nacional de Segurança Pública. O governo federal também se vê, frequentemente, obrigado a dar explicar a baixa execução dos recursos.

- Nossa proposta é multiplicar por dez para transferência fundo a fundo - disse Rands, da equipe de Marina.

A campanha de Dilma disse que "será criado um mecanismo de repasse direto fundo a fundo, assegurando assim, com agilidade, investimentos em integração, estrutura, modernização, reaparelhamento e valorização das policias e das unidades de perícia".

A campanha de Aécio disse que o sistema de repasse fundo a fundo será um dos principais mecanismos de apoio a governos estaduais e prefeituras. "A ideia é que passe a vigorar um sistema semelhante ao que já ocorre na Saúde e na Educação", com repasses regulares e de forma automática, independentemente de convênios.

- As campanhas estão com propostas muito parecidas. Acho que andaram ouvindo as mesmas pessoas - disse o presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Marcos Leôncio Ribeiro.

Papéis de candidatos à Presidência se invertem na bolsa de promessas

• No PSDB de Aécio, discurso de austeridade dá lugar a aumento de bolsas e aposentadoria; no PSB de Marina, movimento é o contrário

Pedro Venceslau e Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo

Faltando 40 dias para o primeiro turno da eleição presidencial, os dois principais candidatos da oposição, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), inverteram os papéis e passaram a defender propostas adaptadas às suas circunstâncias políticas. Enquanto o tucano deixa de lado o discurso do rigor fiscal e promete a ampliação de programas de transferência de renda, a ex-ministra do Meio Ambiente concentra sua agenda na economia e envia sinais ao mercado financeiro, agronegócio e empresários.

O então candidato do PSB, Eduardo Campos, com 9% das intenções de voto, que morreu num acidente aéreo no dia 13 de agosto, apostava em promessas como o passe livre estudantil, escolas em tempo integral para todos alunos da rede pública, fim do fator previdenciário e aumento dos gastos com saúde.

Ungida substituta do ex-governador na chapa pessebista, Marina inverteu o discurso. Deu uma pausa nas promessas dispendiosas e passou a refazer o movimento de aproximação com o mercado que seu antecessor já havia feito no primeiro semestre. Suas falas mais recentes enfatizam a defesa do tripé formado por superávit fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante. No primeiro ato de campanha, no Recife, no sábado, ela destacou a necessidade de combate à inflação.

Por outro lado, a campanha do PSB pôs em campo assessores econômicos da candidata para dar entrevistas procurando mostrar que ela vai tocar a economia de forma conservadora. Falaram recentemente Neca Setubal e o Eduardo Giannetti.

Outra questão importante no atual repertório de Marina é o “respeito às instituições”. Em nota divulgada no domingo, a candidata diz que a Coligação Unidos pelo Brasil vai respeitar as “instituições que sustentam o Estado de Direito”.

O objetivo, segundo ela, é evitar “qualquer interpretação errônea sobre o compromisso com os marcos constitucionais que regem as relações da sociedade com o Estado brasileiro”.

Outra característica importante de Campos era sua abertura para alianças com outros partidos, repetindo o que havia feito em seu governo em Pernambuco. Marina, nessa época, mantinha um discurso duro em relação a alianças partidárias. Com a saída de Campos de cena e o crescimento de Marina nas pesquisas, o discurso da campanha está mudando. Ela já faz acenos para setores do PT e do PSDB para indicar que conseguirá governar caso seja eleita.

Promessas. Após a morte de Campos e do luto que paralisou a campanha, Aécio voltou à cena com um figurino bem diferente do adotado no primeiro semestre, quando apresentava-se como o candidato da austeridade.

Enquanto o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que coordena o programa do tucano na área econômica, dava entrevistas dizendo que o gasto público deveria ser limitado por lei, Aécio citava uma máxima de seu avô, Tancredo Neves: “É proibido gastar”. “Se precisar passar quatro anos devendo popularidade para fazer o que precisa ser feito, vou fazer. Que venha outro depois para colher os louros”, disse em abril.

Em eventos com empresários, o candidato chegou a defender a flexibilização das leis trabalhistas em alguns setores da economia, como o turismo.

Na retomada da campanha, porém, o tucano passou a fazer promessas que elevariam o gasto público, mas sem explicar de onde viriam os recursos. Em visita a um abrigo de idosos no domingo, Aécio prometeu que, se eleito, ampliará os benefícios pagos aos aposentados, complementando a renda destes com valor adicional para a compra de medicamentos. A proposta faz parte de um programa chamado Digna Idade. Os detalhes do programa, segundo o presidenciável, ainda serão definidos por sua equipe econômica. Ao ser questionado de onde viriam os recursos, Aécio partiu para o ataque ao governo da presidente Dilma Rousseff.

Em passagem por Salvador no sábado, o tucano reuniu as grandes lideranças do partido na região e aliados de outras siglas para anunciar a grande “vitrine” de sua candidatura na região: o programa “Nordeste Forte”. Entre outras promessas, o projeto prevê elevar a renda per capita, Ideb e IDH da região semiárida da região Nordeste em dez anos. E ainda “garantir”, em quatro anos, que a renda per capita mínima das famílias nordestinas seja de US$ 1,25 por dia. Na prática, a promessa significa um complemento aos rendimentos dos nordestinos beneficiários do Bolsa Família.

Para agradar aos sindicalistas que o apoiam, o tucano mandou sua equipe produzir materiais específicos de campanha para os “trabalhadores” onde garante a “manutenção das leis trabalhistas”.

Candidata vive momento estelar

• Ex-ministra causa sensação entre jovens na Bienal

Isadora Peron e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

"É a presidenta que não morreu no acidente do avião", explicou uma eleitora à criança que a acompanhava na Bienal do Livro, em São Paulo. Falava sobre Marina Silva.

Por onde passava, a nova candidata do PSB à Presidência era imediatamente reconhecida e, invariavelmente, vinculada à imagem de Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13.
Terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2010, Marina sempre foi uma vice pop. Quando ia a um evento com Campos, costumava ser mais assediada que o próprio candidato.

Agora na cabeça de chapa, e depois de toda a exposição involuntária por causa da tragédia, tem causado frisson por onde passa. Na tarde de ontem, crianças e adolescentes, principal público do evento em dias de semana, se aglomeraram em torno dela para tirar fotos e as já populares selfies.

"Eu não posso votar ainda, mas você teria meu voto", gritou um adolescente ao ver Marina. A candidata teve dificuldades para andar pelo pavilhão da Bienal. Precisou que assessores fizessem uma corrente ao seu redor e agilizassem o percurso.

Enquanto ela era bastante assediada, seu vice, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), passava despercebido. Depois de servir de fotógrafo para alguns jovens, foi instruído por assessores a também sair nas fotos. "Deixa eu aparecer junto", dizia sem constrangimento e abraçando a candidata. /

Marina leva novo tom conciliador a 1º embate na TV

• Alvo de críticas por falta de experiência, ela deve recorrer a trajetórias de Lula e FHC

Vera Rosa, Débora Bergamasco, Rafael Moraes Moura, Daiene Cardoso e Bernardo Caram
- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O primeiro debate entre os candidatos ao Palácio do Planalto, nesta terça-feira à noite, na TV Band, será marcado pela tentativa da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB) de se apresentarem como gestores eficientes, sugerindo fragilidades de Marina Silva (PSB) nessa área. A ex-ministra do Meio Ambiente, por sua vez, pretende recorrer às trajetórias dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso para desconstruir o argumento de inexperiência como gestora.

A subida da ex-ministra do Meio Ambiente nas pesquisas preocupa tanto o comando da campanha de Dilma como o comitê de Aécio. Convencida de que será alvo de estocadas, Marina pretende se apresentar como a candidata que não chegou para segregar, mas sim para quebrar a polarização e unir “pessoas de bem” na política, mesmo sendo elas de outros partidos, como o PT ou o PSDB. Marina substituiu o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no último dia 13 e, desde então, tenta encarnar o discurso da mudança mais confiável.

Dilma será a primeira a falar no debate da Bandeirantes, seguida por Marina. A ordem, definida em sorteio, foi comemorada pela equipe de Aécio, para quem o tucano poderá captar o tom da discussão entre as adversárias para reagir “com serenidade”, caso seja necessário.

Ex-governador de Minas Gerais, o candidato do PSDB buscará o confronto com Dilma e suas críticas a Marina devem ser mais sutis. Coordenadores da campanha tucana disseram ao Estado que Aécio só atacará diretamente a candidata do PSB se ela tomar a iniciativa. A tática principal consiste em ser mais incisivo com Dilma. As provocações endereçadas ao governo terão o objetivo de reforçar a polarização entre petistas e tucanos.

Com essa estratégia, o mau desempenho da economia e o atraso nas obras estarão na mira de Aécio, que também pretende questionar a eficácia de Dilma como “gerente”. Na tentativa de apresentar um discurso simples e sem rodeios, o candidato do PSDB vai bater na tecla da volta da inflação, da escassez de investimentos e criticar o pífio crescimento do País.

A presidente passou boa parte do dia de segunda-feira reunida com auxiliares no Palácio da Alvorada, preparando-se para o debate. À noite embarcou para São Paulo. Antes de ir para a emissora, Dilma vai se encontrar nesta terça-feira com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu sempre me preparo para os debates porque acho que é minha obrigação chegar lá e responder às perguntas o melhor que eu posso”, disse Dilma em entrevista, na segunda à noite, no Alvorada.

Lula disse a Dilma, na semana passada, que é preciso tomar muito cuidado com Marina. Para o ex-presidente, a candidata do PSB herda um ativo de quase 20 milhões de votos da eleição de 2010, quando concorreu ao Planalto pelo PV, além de um clima de comoção nacional com a morte de Campos, e pode encarnar a retórica da mudança. No diagnóstico de Lula, o PT precisa fazer de tudo para repaginar o discurso e tentar atrair os eleitores da ex-ministra descontentes com o governo.

Pesquisas internas do PT indicam que a candidata do PSB está a oito pontos de distância de Dilma - ainda líder dos levantamentos de intenção de voto -, mas bem à frente de Aécio. A equipe do tucano dá como certo que ele aparecerá em terceiro lugar na pesquisa a ser divulgada nesta terça-feira pelo Ibope/Estado/TV Globo, mas ainda acredita na reversão desse quadro.

O comando da campanha de Dilma se debruçou sobre problemas da época em que Marina foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula, de 2003 a 2008. Na lista de “fragilidades” de Marina os petistas citam a falta de experiência administrativa e o radicalismo, que provoca entraves ao crescimento econômico, além da resistência dela ao agronegócio e da ausência de estrutura partidária e de aliados para governar.

Trajetórias. Em resposta à críticas sobre sua capacidade de gestão, Marina deve argumentar que Lula nunca havia ocupado cargo administrativo antes de ser eleito presidente, em 2003. Fernando Henrique, da mesma forma que ela, só havia sido ministro. A candidata do PSB vai rebater os possíveis ataques de Dilma e de Aécio enfatizando que, num momento de crise, o País precisa de alguém com capacidade de juntar no mesmo governo nomes do PT e do PSDB.

Em um recado direto a Dilma, Marina vai repetir, se provocada, o discurso de que a petista será a primeira presidente na história a entregar um País pior do que recebeu. “A chamada ‘gestora’ entregará o País no caos”, afirmou o coordenador adjunto da campanha, Walter Feldman (PSB-SP). Marina vai se apresentar como a única com “visão estratégica”, capaz de promover uma “transição positiva” e sem a polarização entre PT e PSDB.

Quarto colocado nas pesquisas, o candidato do PSC, Pastor Everaldo, disse na segunda-feira que vai manter o equilíbrio e usar o debate para reforçar a “defesa incondicional da livre concorrência e do empreendedorismo”.

Na Saara (RJ, Aécio diz que ‘onda Marina’ vai passar

• O Brasil viveu uma experiência que não foi boa com a atual presidente

• Tucano ironizou depoimento de aliado da ex-senadora que mencionou aliança com FH

Luiz Ernesto Magalhães – O Globo

RIO — O candidato à presidente da República Aécio Neves (PSDB) disse, na manhã desta segunda-feira, que a candidatura da ex-senadora Marina Silva (PSB) vive uma “onda” que vai passar. O senador disse também estar confiante que vai disputar o segundo turno. Em sua avaliação, o cenário eleitoral tende a ser mais real em 15 ou 20 dias e será demonstrado por futuras pesquisas eleitorais. As declarações foram dadas após Aécio participar de um ato de campanha na Rua da Alfândega, na Saara, polo de comércio popular no Centro do Rio.

— As pesquisas que virão após os debates, em 15 ou 20 dias, darão um quadro mais real. Espero estar no segundo turno. Temos a experiência de quem já fez. Política e eleições funcionam muitas vezes como esse mar maravilhoso que banha o Rio de Janeiro. As ondas vêm. No início do ano ninguém achava que teria segundo turno e a eleição estava ganha pela atual presidente, na avaliação inclusive de especialistas. Depois surgiu o fenômeno de uma candidatura nova do Eduardo (Campos), que seria avassaladora, o que acabou não acontecendo. Depois veio o avanço nosso, se consolidando o lugar no segundo turno. Vem o episódio Marina agora — disse Aécio em entrevista à Rádio Saara.

A declaração do tucano foi uma resposta a uma pergunta do apresentador que pediu que ele avaliasse o fato de pesquisas eleitorais divulgadas após a morte de Eduardo Campos terem apontado que Marina, sua substituta, aparecia tecnicamente emparada com ele.

Aécio também ironizou a entrevista dada pelo economista Eduardo Gianetti da Fonseca, publicada nesta segunda-feira no jornal “Folha de S. Paulo”. Segundo Giannetti, caso seja eleita, Marina pretende buscar apoio no PT e PSDB para formar suas equipes.

— Não sei se é um bom começo para quem tem que apresentar ou viabilizar propostas. Nós temos as melhores para o Brasil. Temos os melhores quadros para colocá-las em prática, para resolver o drama da saúde pública, melhorar a qualidade da educação e para gerir a economia. Eu fico muito honrado em ouvir referências positivas aos nossos quadros. Mas o que acho que vai prevalecer é o software original. Quem vai governar é o PSDB com seus aliados e, obviamente, com figuras qualificadas e também de outras partidos — disse Aécio.

O candidato acrescentou:

— O que acho que vai vencer é a nossa capacidade de transformar proposta, as nossas boas intenções em realidade. Ninguém tem propostas em condições melhores que a nossa. A própria declaração do meu amigo Gianetti é que ele encontra no PSDB os quadros mais qualificados

O tucano acrescentou ainda que o cenário de uma possível reviravolta no quadro eleitoral existe, mas seria circunstancial.

— Todos nós fomos extremamente abalados com a morte trágica de Eduardo Campos. Isso, claro, trouxe uma modificação clara, pelo menos momentânea, no quadro eleitoral. O que é essencial é o que cada candidatura representa. A nossa continua representando a mesma coisa de antes do acidente. Um projeto novo de política onde nós achamos que temos mais do que as outras candidaturas. Nos debates vamos confrontar nossas ideias com os outros candidatos.

O candidato afirmou que o PSDB tem os melhores quadros para fazer com que a Segurança Pública esteja mais próxima das pessoas, a saúde melhore e que a educação possa ser de qualidade.

— O grande desafio não é vencer as eleições. Mas vencer e governar — disse o candidato.

O senador voltou a fazer críticas a administração da presidente da República, Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT:
— O Brasil viveu uma experiência que não foi boa com a atual presidente. Legará ao sucessor o pior cenário econômico, com uma inflação saindo do controle e crescimento baixo. E, do ponto de vista da gestão, foi um desastre porque o Brasil se transformou num grande cemitério de obras abandonadas.
Após a entrevista à Rádio Saara, o candidato prometeu se empenhar para ajudar a desenvolver ainda mais as micro e pequenas empresas.

— Queremos cada vez mais diminuir a burocracia. Uma das primeiras propostas que encaminharei ao Congresso será a simplificação do nosso sistema tributário. Temos que dar mais condições de competitividade, em especial focada no micro e pequeno empresário, que mais empregam na economia brasileira. Essa simplificação ajudará a trabalhar na redução da carga de impostos. Só existe emprego onde existe crescimento. E os últimos números do cadastro do Ministério do Trabalho são preocupantes. Tivemos o pior mês de julho desde 1999 na geração de empregos e nos três meses anteriores, comparativamente a outros anos, foram os piores da última década — disse o candidato.

Antes da entrevista, Aécio fez uma caminhada de cerca de 50 minutos pela Rua da Alfândega onde cumprimentou e tirou fotos com comerciantes e populares. O corpo a corpo foi tumultuado devido a concentração de cabos eleitorais e de muitos candidatos a deputados estadual e federal. Alguns comerciantes não esconderam a irritação devido ao tumulto ocorrido no momento em que a comitiva passou. Algumas mercadorias acabaram sendo derrubadas.

O grupo do PMDB ligado a defesa da aliança “Aezão” (chapa que reúne o atual governador Luiz Fernando Pezão e Aécio), em detrimento ao apoio a presidente Dilma Rousseff, estava representado pelo ex-presidente da Alerj Jorge Picciani, que tenta voltar a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa. 

Candidatos do PSDB, PTB e outros partidos também participaram do ato. No grupo estavam também o ex-prefeito e candidato ao senado pelo DEM, Cesar Maia, que adotou uma tática diferente dos demais candidatos. Em lugar de ficar próximo a Aécio, ele preferiu esperar a comitiva se dispersar para caminhar e distribuir santinhos, sem tumulto.

Aécio diz que Marina é 'onda' que passa em 20 dias

• Sucessão presidencial. Enquanto senador minimizava desempenho da candidata do PSB, vice-presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha em São Paulo publicava artigo no qual chamava um eventual governo da adversária de uma 'aventura'

Luciana Nunes Leal, Erich Decat, Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

RIO, BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, comparou o bom desempenho da adversária Marina Silva, do PSB, em pesquisas eleitorais a uma "onda" e disse acreditar que voltará ao segundo lugar isolado "dentro de 15 ou 20 dias." Marina assumiu a candidatura no lugar de Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo no dia 13 de agosto.

Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, Marina está empatada tecnicamente com Aécio na segunda colocação. A presidente Dilma Rousseff lidera a corrida ao Planalto. Hoje, o Ibope divulga um novo levantamento.

Enquanto Aécio minimizava o desempenho da adversária, políticos de expressão do PSDB atacavam diretamente a figura de Marina. Vice na chapa de Aécio, o tucano Aloysio Nunes Ferreira disse que a candidata do PSB é "uma incógnita", um "estado de espírito". Já os tucanos, disse Aloysio, não são "de improviso". "Sou contra qualquer tipo de messianismo, o partidário de Dilma Rousseff e o pessoal de Marina Silva", afirmou o candidato a vice.

Já o ex-governador, um dos vice-presidentes do PSDB e coordenador da campanha de Aécio em São Paulo, Alberto Goldman, publicou um artigo em que questiona a governabilidade de um eventual mandato de Marina. O texto, intitulado "Marina candidata. Uma aventura", foi publicado pelo Instituto Teotônio Vilela, órgão de estudos e formação política dos tucanos.

Com o crescimento da candidata pelo PSB nas pesquisas de intenção de voto, tucanos e petistas começaram a adotar uma estratégia de que a ex-ministra não tem experiência administrativa para comandar o País pelos próximos quatro anos. Questionam também a suposta dificuldade dela em dialogar com os demais poderes da República.

Caminhada. Aécio fez ontem uma caminhada na Saara, área de comércio popular do centro do Rio, e deu entrevista à rádio local. Ele tem evitado atacar Marina, mas insiste em destacar a experiência acumulada como governador de Minas Gerais e parlamentar. "A política e as pesquisas são como o mar, as ondas vêm. Ninguém no governo achava, no início do ano, que haveria 2.º turno. Depois veio a candidatura de Eduardo Campos, que seria avassaladora, o que acabou não acontecendo. Depois veio nosso avanço, consolidando o 2.º turno. Agora vem o episódio Marina. O essencial é que nossa candidatura continua a representar o mesmo que representava antes do acidente. Temos as melhores condições de fazer o Brasil crescer. Ninguém tem os quadros que temos no nosso entorno", afirmou Aécio. O tucano disse também que houve "uma reviravolta no quadro eleitoral circunstancialmente, uma modificação momentânea".

Aécio brincou ao comentar declaração do economista Eduardo Giannetti, colaborador de Marina, segundo a qual um eventual governo do PSB poderá contar com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

"Não sei se é um bom começo para quem deve apresentar propostas e mostrar com quem vai viabilizar essas propostas. Fico honrado de ver referências positivas aos nossos quadros, mas o que vai prevalecer é o software original e quem vai governar é o PSDB com seus aliados. O núcleo que tem propostas a apresentar ao Brasil está do nosso lado", afirmou o tucano, que prometeu, sem detalhar, medidas para estimular as micro e pequenas empresas, tanto na área tributária quanto na redução do burocracia (mais informações sobre as promessas de Aécio na pág. A6).

Agenda fluminense. A visita à Saara foi a terceira atividade de campanha de Aécio no Rio em quatro dias. Os eleitores fluminenses deram a Marina Silva 31% dos votos no primeiro turno de 2010, quando a então candidata do PV a presidente ficou à frente do tucano José Serra.

Esperançosos de que as intenções de voto em Marina nas primeiras pesquisas sejam resultado da comoção causada pela morte de Eduardo Campos, aliados de Aécio no Rio disseram ontem que terão "duas ou três semanas de sofrimento, mas depois tudo se ajeita".

A caminhada de pouco mais de uma hora causou grande tumulto no coração do comércio popular do centro. A presença de pelo menos dez candidatos a deputado, com cabos eleitorais e equipes de propaganda de TV, fez com que Aécio mal conseguisse se movimentar no início da atividade. Aos poucos, o tucano se aproximou dos eleitores. Foi bem recebido por alguns, mas a comitiva também foi hostilizada por outros, que se recusaram a receber os panfletos.

Correria. Aécio começou o corpo a corpo em um ponto diferente do que havia sido anunciado, o que provocou uma correria de candidatos que ainda aguardavam o tucano enquanto ele já estava na rua, acompanhado do presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, e seus dois filhos, Rafael, deputado estadual, e Leonardo, federal, ambos candidatos à reeleição.

Para Aécio, pesquisas mostrarão quadro mais real só em setembro

• Para o tucano, sem o impacto emocional da morte de Eduardo Campos a candidatura de Marina pode perder força

Rodrigo Viga Gaier - Reuters

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou nesta segunda-feira que as pesquisas de opinião de setembro vão mostrar um quadro eleitoral mais realista e sem o impacto da morte de Eduardo Campos.

Para o tucano, sem o impacto emocional da morte de Eduardo Campos a candidatura de Marina pode perder força.

"Daqui a 15 a 20 dias vamos ter um quadro um pouco mais real", disse ele em entrevista a rádio de um comércio popular do Saara no centro do Rio. "Todas (as pesquisas) ainda têm o impacto do acidente que vitimou o Eduardo."

"Ainda tenho conhecimento baixo e o conhecimento sobre nossas propostas também precisa ser aumentado... acredito que a partir de 10 de setembro começaremos a ter um quadro mais próximo daquele que será o quadro eleitoral" , acrescentou um pouco depois a jornalistas, referindo-se à falta de conhecimento de eleitores de sua candidatura.

O tucano garantiu que mesmo passada a emoção da morte de Campos não vai atacar a campanha de Marina Silva deliberadamente. "Jamais fiz campanha com ataques pessoais e vou continuar propositivo", prometeu.

Aécio foi irônico sobre a declaração do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos colaboradores da campanha de Marina Silva, de que, se eleita, a candidata do PSB buscaria o apoio dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

"Respeito mas não sei se é um bom começo para quem quer apresentar propostas", disse o tucano. "Fico honrado ao ver referências positivas aos nossos quadros mas o que vai prevalecer é o software original... a declaração do Giannetti comprova que no PSDB estão os quadros mais qualificados."
No Saara, Aécio Neves fez caminhada e corpo a corpo ao lado de políticos e candidatos locais, como o senador Francisco Dornelles (PP) e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM).

O tucano aproveitou a visita ao comércio popular para prometer uma simplificação tributária para micro e pequenas empresas.

Aécio ironiza intenção do PSB de governar com apoio de Lula e FHC

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O senador Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência, ironizou nesta segunda-feira (25) a intenção de auxiliares de Marina Silva (PSB) degovernar com o apoio dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Ele disse que "vai prevalecer o software original".

O tucano respondeu à afirmação do economista Eduardo Giannetti, que disse à Folha que um eventual governo Marina buscaria apoio dos líderes petista e tucano.

"Não sei se é bom começo para quem tem que apresentar propostas e mostrar com quem vai viabilizar. [...] Fico muito honrado ver sempre referências positivas aos nossos quadros. Mas o que vai prevalecer é o software original. Quem vai governar é o PSDB e com figuras qualificadas", disse Aécio, em visita ao mercado popular do Saara, no Rio.

Em entrevista à Folha, Giannetti afirmou que, se for eleita, Marina procurará pessoas do PT e do PSDB para formar sua equipe de governo e garantir apoio a seus projetos no Congresso.

Para o economista, até os ex-presidentes Lula e FHC poderiam colaborar. "Se [José] Sarney, Renan [Calheiros] e [Fernando] Collor [de Mello] vão para a oposição, com que se governa e com quem se negocia? É com Lula e FHC."

"O PSDB é um partido de muitos técnicos e pouca liderança", afirmou Eduardo Giannetti da Fonseca. "O PT também tem técnicos de excelente qualidade, que trabalharam no primeiro mandato de Lula, e a gente adoraria trazê-los. Nossa ideia é governar com os melhores na política e na gestão de políticas públicas", concluiu.

Aécio usou as declarações do economista para afirmar que o PSDB é o partido com os melhores quadros e mais capaz de concretizar suas propostas. "Ninguém tem melhores condições de transformar as propostas em realidade. Até a própria declaração do meu amigo Giannetti é uma demonstração de que ele encontra no PSDB os quadros mais qualificados", afirmou o tucano, após entrevista na rádio local.

O tucano disse que o empate técnico com Marina nas pesquisas de intenção de votos é consequência do que considera baixo conhecimento sobre sua candidatura. Ele afirmou que na segunda semana de setembro o quadro eleitoral estará mais próximo do que considera "real".

"Estamos tranquilos e serenos porque temos os melhores quadros para o Brasil. Tenho um conhecimento baixo. Quem já fez tem melhores condições de dizer que vai fazer", disse ele. O tucano fez campanha acompanhado de candidatos do PMDB, entre eles o presidente regional da sigla, Jorge Picciani.

Dilma ataca Marina

• Para Dilma, só não se preocupa com gestão quem quer ser rainha

• Presidente volta a mirar ex-colega de ministério e diz que é 'intrínseco' ao chefe do Executivo cuidar de andamento de projetos

Rafael Moraes Moura, Ricardo Della Coletta - O estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia depois de rebater pela primeira vez nesta campanha a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, a presidente Dilma Rousseff voltou ontem a mirar a ambientalista, afirmando que o cargo exige uma preocupação "intrínseca" com a gestão.

"Acho que para um presidente da República é intrínseco se preocupar com a gestão, porque, se não se preocupar com a gestão, esse presidente da República está querendo ser ou rei ou rainha da Inglaterra", disparou a petista, em mais uma das entrevistas coletivas que vêm sendo realizadas no Palácio do Planalto desde o início da cobertura da campanha presidencial no Jornal Nacional, da TV Globo.

Marina criticou no sábado a imagem de "gerente" pela qual Dilma ficou conhecida nas eleições de 2010. Segundo a ex-ministra do Meio Ambiente, essa característica não é fundamental para a Presidência.

No domingo, Dilma disse que o presidente da República "é um executor" e não "simplesmente um representante do poder, que anda pra baixo e pra cima só representando". Dilma atribuiu o comentário de Marina a quem "nunca teve experiência administrativa e, portanto, não sabe que é fundamental para um país com a complexidade do Brasil dar conta de tudo". Na coletiva de ontem, Dilma evitou comentar explicitamente a polarização com Marina na disputa, mas a fala foi interpretada como mais uma forma de se contrapor à candidata do PSB - o Planalto aguarda um crescimento nas intenções de voto de Marina nas próximas pesquisas.

Na entrevista, a presidente também voltou a defender uma reforma política que seja feita via consulta popular. Segundo ela, isso trará força para que o tema vingue. Ela disse ainda que a pauta não é específica de nenhum dos três poderes da República.

Dilma relatou um encontro que manteve com o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, no qual o tema foi discutido. A presidente disse que foi informada de que a CNBB vai promover, no feriado de 7 de Setembro, um grande esforço para recolhimento de assinaturas para a realização de um plebiscito sobre a reforma política. "Do ponto de vista do governo, apoiamos essas iniciativas que busquem uma reforma política que torne as instituições do tamanho do Brasil."

Marina muda cenário eleitoral nos estados

• Depois de ter anunciado aposentadoria, senador Pedro Simon (PMDB) tentará se reeleger no RS. No Amapá, morte de Campos levará Dilma ao palanque de candidato do PSB

Edla Lula, Eduardo Miranda – Brasil Econômico

A 40 dias do pleito, a entrada de Marina Silva na disputa presidencial ainda provoca mudanças no cenário eleitoral. Ontem, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que, aos 84 anos, já havia anunciado sua aposentadoria, mudou de ideia e disse, em coletiva de imprensa, em Porto Alegre, que é candidato à reeleição no Congresso. O parlamentar ocupará a vaga deixada por Beto Albuquerque, que assumiu a candidatura à vice-presidência da República pelo PSB. No Rio Grande do Sul, PMDB e PSB estão coligados.

Atualmente, a disputa gaúcha pela vaga única do Senado está polarizada entre o novato Lasier Martins (PDT) e o ex-governador Olívio Dutra, tecnicamente empatados com 29% e 26%, respectivamente, segundo a última pesquisa do Datafolha. No cenário anterior, Beto Albuquerque vinha em terceiro lugar, com 12%. A exposição pré-eleitoral do senador Pedro Simon é um fator que pode desequilibrar o jogo, como aposta Rodrigo Stumpf González, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Pedro Simon tem o benefício de uma larga exposição de mídia anterior ao processo eleitoral. Por outro lado, como ele havia manifestado o desejo de se aposentar, terá agora que explicar aos eleitores. Mas é um nome de peso e não sabemos ainda, porque é cedo, se sua candidatura estará em detrimento da de Lasier ou de Dutra”, argumenta o professor, acrescentando que o fato de PMDB estar coligado com PSB na eleição estadual e com PT na nacional é algo que pode se tornar um problema, se explorado pela oposição.

Quem também terá que explicar ao eleitorado as diferenças entre alianças estaduais e nacionais e as mudanças com a entrada de Marina na disputa será o governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB). Candidato à reeleição, ele corre o risco de perder no primeiro turno para o ex-governador Waldez Góes (PDT), que tem 40% das intenções de voto, segundo pesquisa do Ibope. Capiberibe tem apenas 12% da preferência e sua estratégia, de acordo com uma integrante da campanha, é dar mais prioridade à presidenta Dilma Rousseff que para Marina.

Apesar da acirrada disputa entre Marina e Dilma na eleição presidencial, os diretórios do PT e do PSB no Amapá formam uma aliança regional em torno da candidatura de Capiberibe. A assessoria do governador nega que Dilma será priorizada. Mas, diante da baixa popularidade do governador, do alto índice de aprovação de Dilma e das intenções de voto da presidenta no estado (ela tinha 56% antes da entrada de Marina), líderes do partido estão atrás de um apoio mais substancial da petista. Apesar da ligação da família Capiberibe com Marina, o governador era mais próximo de Eduardo Campos e sente-se agora mais à vontade para correr atrás de votos e reverter o desfavorável quadro eleitoral.

No Distrito Federal, a situação é menos complicada, porque envolve o senador Cristovam Buarque (PDT), que não concorre a nenhum cargo. Àépoca da morte de Campos, ele declarou que apoiaria Dilma, apesar da aliança regional de seu partido com o PSB. Já em Santa Catarina, onde esperava-se uma ruptura de Marina com o PSDB (coligado ao PSB), a família Bornhausen tem, até agora, mantido a promessa de apoio à ex-senadora.

Pesquisa Ibope mostra que Beto Richa lidera, com 43%, as intenções de voto no Paraná

• Roberto Requião aparece em segundo lugar, com 26%, e Gleisi Hoffmann, em terceiro, com 14%

- O Globo

O governador do Paraná Beto Richa (PSDB) está na liderança na disputa para o governo do estado, segundo pesquisa Ibope divulgada ontem. Richa tem 43% das intenções de voto, contra 26% do ex-governador Roberto Requião (PMDB). Em terceiro lugar nas intenções de voto aparece a ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT), com 14%. Já Tulio Bandeira (PTC), de acordo com a pesquisa, tem 1%.

Os candidatos Bernardo Pilotto (PSOL), Geonisio Marinho (PRTB), Ogier Buchi (PRP) e Rodrigo Tomazini (PSTU) somaram, juntos, 1%. A pesquisa Ibope apontou 8% de votos em branco e nulos. Já 7% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder.

O candidato que aparece em segundo lugar nas intenções de voto é também o que apresenta maior taxa de rejeição dos eleitores: 30% não querem Requião. Ele é seguido, na taxa de rejeição, por Richa e Gleisi, com 20% cada.

A pesquisa foi feita entre os dias 21 e 23 de agosto, e 1.008 eleitores foram entrevistados em 59 municípios do estado. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) sob o número 00411/2014 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR- 00411/2014.

Para Aécio, 2º lugar de Marina é 'reviravolta momentânea'

Guilherme Serodio – Valor Econômico

RIO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, classificou como uma "reviravolta momentânea" a atual posição da adversária Marina Silva (PSB) em segundo lugar nas pesquisas eleitorais. Depois de corpo a corpo no centro do Rio, Aécio criticou a posição do economista Eduardo Giannetti, apoiador de Marina, que disse que a candidata espera contar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) num eventual governo do PSB.

Aécio se disse honrado com a referência feita ao ex-presidente tucano, mas alertou: "O que vai prevalecer é software original", disse em uma referência ao seu programa de governo e aos quadros do PSDB e em tom crítico ao programa de governo de Marina. O candidato tucano afirmou respeitar a posição de Giannetti, mas questionou a afirmativa. "Não sei se esse é um bom começo de campanha para quem ainda tem de apresentar propostas".

Na avaliação de Aécio, sua posição em terceiro lugar na corrida eleitoral deve-se ao desconhecimento de sua candidatura junto ao eleitorado. O tucano disse que haverá consolidação do cenário nas próximas semanas e confiou que a propaganda de TV deve ajudar a reduzir o desconhecimento de sua candidatura.

Na manhã de ontem, Aécio caminhou pelas ruas do mercado popular do Saara, no Centro do Rio, ao lado de líderes do PSDB e do PMDB fluminense. O tucano prometeu enviar ao Congresso como uma de suas primeiras medidas, caso seja eleito, uma proposta de simplificação do sistema tributário que favoreça micro e pequenas empresas. Ele voltou a dizer que o Brasil precisa recuperar a confiança dos investidores: "O atual governo perdeu a capacidade de imprimir a confiança para que o crescimento melhore. Vamos resgatar a credibilidade e desburocratizar para tornar o sistema tributário menos oneroso".

A caminhada do candidato foi organizada por cabos eleitorais do presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani. Também participaram do ato o senador Francisco Dornelles (PP), candidato a vice-governador de Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o ex-prefeito do Rio e vereador Cesar Maia (DEM), candidato ao Senado. Depois da caminhada Aécio deu entrevista à Rádio Saara, na qual reconheceu que Marina causou uma reviravolta no quadro eleitoral e prometeu expandir os programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família, com orçamento atual do governo.

O candidato do PSDB começa a enfrentar o ceticismo de que possa ser capaz de chegar ao segundo turno. O ex-marqueteiro de Luiz Inácio Lula da Silva, Duda Mendonça, disse ontem que Aécio Neves se desidratou. "Apostaria em segundo turno entre Dilma e Marina", afirmou, ao chegar ao debate entre os candidatos ao governo paulista. Duda é marqueteiro do candidato do PMDB, Paulo Skaf. Para ele, a campanha de Dilma, com o maior tempo de televisão, poderia ampliar a vantagem em relação às outras campanhas. (Colaboraram Cristiane Agostine e Fernando Taquari, de São Paulo)

Virada após estreia na TV seria inédita

• Presidenciáveis que lideravam pesquisas no início do horário eleitoral sempre venceram as disputas, desde 1989

• Neste ano, porém, situação é peculiar, por ter dois oposicionistas com um alto patamar de intenção de votos

Fernando Rodrigues - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - As seis eleições presidenciais diretas pós-ditadura mostram que quem começou o horário eleitoral liderando pesquisas de intenção de voto acabou vencendo o pleito.

Nunca houve uma virada a partir do início dos comerciais eleitorais, independentemente de quanto tempo cada candidato tinha disponível no rádio e na TV.

Seria um equívoco concluir que esse é um padrão imutável, pois há poucas eleições para fazer tal afirmação. O fato é que, até hoje, quem está na frente nas pesquisas de intenção de voto no início do horário eleitoral vence a disputa presidencial.

Houve nuances nos seis casos (1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010). Em três eleições presidenciais (1994, 1998 e 2010), o candidato vencedor teve mais tempo de TV.

O que parece fazer diferença é o momento pelo qual passa o país. Em anos de economia em baixa e governos mal avaliados (1989 e 2002), ganha um candidato de oposição, mesmo sem ter o maior naco do horário eleitoral.

Em 1989, ano da primeira eleição presidencial direta pós-ditadura militar (1964-1985), os candidatos que representavam o establishment da época eram detentores do maior tempo no horário eleitoral --Ulysses Guimarães (PSDB) e Aureliano Chaves (PFL, o antigo nome do DEM).

Ulysses e Aureliano começaram na TV com 2% e 1% de intenções de voto, respectivamente. Tiveram amplo espaço, mas nunca decolaram. No final, ficaram em 7º e 9º lugares. Naquele ano foram ao segundo turno Fernando Collor (PRN) e Lula (PT), que tinham só cinco minutos por bloco de propaganda.

Em 2002, Lula teve 5min19s no horário eleitoral. Mas começou o programa com 37% de intenções de voto. José Serra (PSDB), o candidato do governo, teve 10min23s na TV e no rádio, só que pontuava 13%. O petista ganhou.

Quatro anos depois, Lula ganhou a reeleição, mas não conseguiu uma grande aliança. Ficou com 7min12s na TV. Seu adversário principal em 2006, Geraldo Alckmin (PSDB), tinha 10min13s. A diferença foi que o petista entrou no horário eleitoral já com 47% no Datafolha, contra apenas 24% do tucano.

Apenas em 1994 houve empate técnico na pesquisa entre dois candidatos no início da propaganda. Lula tinha 32% contra 29% de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O tucano, que venceu a disputa, tinha ampla vantagem no tempo de TV (7min49s X 3min31s), além do Plano Real que começava a dar certo.

Neste ano, Dilma Rousseff tem o maior tempo de TV (11min24s) e teve 36% no Datafolha na semana anterior ao início do horário eleitoral.

A peculiaridade desta disputa em relação às demais é que os dois candidatos de oposição estão empatados num patamar alto: Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) registram 21% e 20% no Datafolha, respectivamente. Marina tem 2min3s na TV, e o tucano, 4min35s.

Se Marina ou Aécio vencer a eleição, o fato será inédito na atual fase democrática do país: nunca um candidato a presidente ganhou tendo começado o horário eleitoral com pouco tempo de TV e atrás nas pesquisas.

Merval Pereira: Revendo conceitos

- O Globo

Nos últimos 19 dias, muita coisa mudou para a candidata à Presidência da República pelo PSB Marina Silva, inclusive algumas ideias. Para se manter na condição em que deve aparecer na pesquisa Ibope/Estadão a ser divulgada hoje, à frente do tucano Aécio Neves e abrindo boa vantagem para a presidente Dilma no segundo turno, Marina está tendo que rever alguns de seus conceitos mais arraigados.

No dia 5 de agosto, então candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva elogiou o decreto da presidente Dilma Rousseff que cria conselhos populares em órgãos do governo, medida que teve uma forte reação contrária do Congresso e da sociedade civil independente.

Para Marina, o decreto era tão bom que foi classificado como uma "medida eleitoral" de Dilma, pois já deveria ter sido editado antes. "A participação da sociedade é algo muito bom em um país como o nosso, com essa dimensão territorial e diversidade cultural. É fundamental que os governos façam coisas com as pessoas e não para as pessoas. Mas isso é para ser feito ao longo de toda uma vida, e não apenas vinculado à eleição. É algo a ser cultivado, independente de ser estratégia eleitoral. É uma inovação na gestão pública".

A ideia era tão boa que foi parar no programa que o PSB estava organizando para o candidato Eduardo Campos, e que agora Marina herdará. O que se buscaria era o "controle social" da política, com a criação de "instâncias próprias para o exercício de pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização".

Da mesma maneira que o decreto da presidente Dilma foi considerado uma tentativa de aparelhar a sociedade civil, criando conselhos populares que seriam manipulados pelas organizações e movimentos ligados ao PT para passar por cima do Congresso, também a decisão de Marina Silva de se utilizar desses conselhos para ações de "pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização" provocou o mesmo temor, principalmente tratando-se de quem não leva muito em conta os partidos políticos como Marina.

Essa rejeição à "política tradicional", aliás, é uma das suas vantagens competitivas no atual momento junto a um eleitorado que em sua maioria quer mudanças no país e desacredita os líderes políticos. Mas, ao mesmo tempo, Marina não pode assumir posições radicais, senão se arrisca a perder um eleitorado mais conservador que quer mudanças, mas não revoluções.

Instada a reafirmar sua posição nesse assunto tão controverso, Marina tratou de dar um passo atrás e disse que o texto a que os jornalistas do "Estadão" tiveram acesso não havia sido aprovado por ela, e que o programa de governo que será lançado na sexta-feira pretende, isso sim, "valorizar as instituições".

"O nosso documento fala em aprofundar a democracia, o que significa a valorização das instituições, e que essas instituições e as representações políticas possam estar ligadas à sociedade brasileira", explicou a candidata. A explicação verdadeira só saberemos quando o texto oficial for divulgado, mas está claro que a Marina candidata já não está tão empolgada com o decreto da presidente Dilma, a ponto de seu vice, o deputado federal Beto Albuquerque, ter dito que controlar representantes eleitos "é muito perigoso", e que a proposta de sua chapa é bem diferente da de Dilma.

Da mesma maneira Marina está sendo chamada a se posicionar sobre a origem do avião que era usado na campanha por ela e por Eduardo Campos, e caiu no mesmo erro de Aécio Neves ao falar do aeródromo de Cláudio, em Minas. "A explicação será dada no tempo necessário", disse ela.

O tempo necessário do candidato geralmente não é o tempo do eleitor, do cidadão comum. A própria Marina sabe disso, pois na ocasião cobrou providências, pois achava que havia "fortes indícios de ilicitudes". E completou, criticando tanto o PT quanto o PSDB: "Eu e o Eduardo Campos estamos lutando contra estes grandes grupos que se alimentam da corrupção. É por isso que cada um tem um mensalão para chamar de seu".

Hoje, é ela quem está tendo que dar explicações e justamente quando anuncia querer o apoio "da parte boa" do PT e do PSDB para formar um eventual futuro governo. Ao citar o ex-governador José Serra como um desses, Marina deixou no ar uma questão: por que negou-se a apoiá-lo em 2010 no segundo turno?

Dora Kramer: O recomeço

- O Estado de S. Paulo

Ainda sem ataques, fazendo a linha bem comportada, os três candidatos competitivos a presidente deram uma rearrumada nos discursos a fim de adaptá-los para a nova realidade da campanha, com a entrada de Marina Silva no páreo.

A mexida maior, claro, até agora foi no PSB, obrigado a trocar os pneus com o carro em movimento. Com a candidatura de Eduardo Campos, a estratégia era a de acentuar a oposição ao governo Dilma e apresentar as propostas para consertar os erros cometidos por ela na visão do então candidato.

Agora, o PSB precisa mostrar, ao mesmo tempo, que honra os compromissos com os aliados, que a candidata não é tão sectária como parece, que o mercado e o empresariado não têm nada a temer, que ela terá pulso firme para governar, que suas propostas "sonháticas" não são necessariamente lunáticas e, sobretudo, que dispõe de lastro em termos de equipe para o caso de vir a se eleger.

O movimento desde os últimos dias da semana passada foi intenso nesse sentido. Emissários saíram para conversas em todas as direções: o agronegócio, o setor empresarial, a área financeira, os partidos aliados nos Estados.

Não foi esquecida nem a velha carta de união dos "melhores" do PT e do PSDB para a formação de um governo de qualidade.

A ideia muito ventilada tempos atrás andava arquivada havia mais de dez anos. Por um motivo óbvio: a completa impossibilidade de convergência entre tucanos e petistas no tocante ao papel do Estado e na relação deste com a sociedade. Mas ao PSB nessa altura cabe isso mesmo, fazer gestos de conciliação, mostrar-se agregador, capaz de unir "os melhores" como convém ao projeto de terceira via.

Evidentemente, a tal associação soa inexequível. Primeiro, porque aquelas duas forças têm candidatos à Presidência. E depois, o PT e o PSDB nessa altura pensam em tudo, menos em colaborar com a adversária.

Na realidade nua e crua, querem mais é que Marina e o PSB se esfrangalhem a fim de não conseguirem consolidar a mudança do roteiro original em que petistas e tucanos se enfrentariam no segundo turno.

No fim de semana Dilma Rousseff e Aécio Neves já começaram a explicitar a divergência, ambos ressaltando o mesmo ponto de deficiência de Marina. A presidente aproveitou uma crítica da ex-senadora ao seu perfil de gerente para qualificar a declaração de "coisa de quem não tem experiência administrativa".

O candidato tucano em suas andanças de campanha também deu um jeito de encaixar uma fala ressaltando a si como a única alternativa "segura", para destacar a representação de insegurança em Marina. Hoje à noite, no primeiro debate entre os candidatos na TV Bandeirantes, será o teste inicial do peso da artilharia das campanhas presidenciais.

Legado. No PSB há a convicção de que o partido sai ganhando mesmo se Marina Silva perder a eleição para presidente ou, se eleita, deixar a legenda quando a Rede Sustentabilidade conseguir o registro definitivo na Justiça Eleitoral.

Com a candidatura presidencial forte, o PSB tem chance de eleger boa bancada de deputados federais. Isso dará ao partido direito a um tempo de televisão maior e uma parcela mais substanciosa do fundo partidário.

Caça ao apoio. Ávidos por boas notícias, PSB e PSDB adorariam neste momento contar com a declaração de voto do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Ambos trabalham em surdina. Nenhum dos dois ousa registrar sombra de êxito.

Ou vai... O acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa funciona assim: ou ele dá à Justiça informações - vale dizer, nomes - que permitam esclarecer o esquema de corrupção na empresa, ou não sairá da cadeia.

Eliane Cantanhêde: Bater ou não bater?

- Folha de S. Paulo

Os programas na TV mostram Dona Nalvinha de dentes novos, humanizam Dilma e colorem Aécio como estadista e Marina como salvadora da pátria. Mas tudo muda nos debates, a partir de hoje.

A discussão é quem, como e onde vai bater primeiro na intrusa Marina, que chegou atrasada, por uma fatalidade, e já bagunçando o coreto. Dilmistas e aecistas estão loucos para bater, mas morrem de medo.

Marina, com seus 50 quilos, alimentação de passarinho e um prontuário recheado de doenças nativas, está emergindo da perplexidade geral e da dor particular com a morte de Eduardo Campos. Como bater numa figura frágil assim?

Ocorre que Dilma e Aécio não têm como fugir disso. Marina é competitiva, uma incógnita fantástica e um fantasma para a polaridade PT-PSDB. Se os dois antes favoritos lavarem as mãos, correm o risco de acordar com Marina disparada. Se bater, o bicho pega; se não, o bicho come.

Dilma vai desviar as baterias de Aécio para Marina, hoje a ameaça principal. Com a economia crescendo 7,5%, Serra tinha em torno de 30% em agosto de 2010. Com crescimento menor que 1%, Aécio só chega a 20% no mesmo mês da campanha. Ou seja: ele se enclausurou nos votos tucanos. É bobagem Dilma bater aí, porque são votos que não vão para ela e para o PT de jeito nenhum.

Aécio vai ter de bater no mau governo de Dilma e nos desmandos do PT, mas sem deixar Marina correndo solta rumo ao segundo turno. E Marina pode bater em quem quiser, mas o problema dela não é só mostrar o que há de ruim nos outros, mas o que há de bom nela além dos sonhos.

Até aqui, Dilma e Aécio questionam a capacidade executiva de Marina e a ausência de quadros suficientes do PSB e da Rede, tanto para compor um eventual governo quanto para cumprir a promessa de combater a síndrome do vitorioso no Brasil: a dependência do que há de pior na política para ter maioria no Congresso.

Bom debate!

Raymundo Costa: Lições da primeira crise de Marina Silva

• Racha no PSB expôs diferenças de estilo entre candidatos

- Valor Econômico

Vista de perto, não haveria o menor perigo de a campanha de Marina Silva a presidente da República dar certo. A candidatura da ex-senadora está assentada sobre um campo minado, que pode explodir a qualquer sinal de fragilidade nas pesquisas. Este não parece ser o caso, no momento. Mas como faltam ainda 40 dias para a eleição, a candidata terá de tomar cuidado com o front interno, para se mover com mais tranquilidade no front externo, no embate com os adversários.

Ainda há o que contar sobre a crise da coligação, durante o processo de mudança da chapa, episódios abafados diante da expectativa real de poder que tomou conta do PSB. O papel de Marina na arbitragem do conflito entre o pessoal do PSB e do Rede Sustentabilidade, por exemplo, duas culturas distintas cuja convivência já não era fácil sob Eduardo Campos. É fato que o PSB foi alvo de um ataque especulativo do PT, mas as diferenças poderiam ser contornadas sem estardalhaço, se o estilo da candidata fosse mais parecido com o de Campos. No limite, Marina cedeu.

No calor da crise, Marina havia designado para chefiar o comitê financeiro um de seus mais próximos auxiliares, Bazileu Margarido. Depois recuou e o PSB indicou para a função o tesoureiro do partido, Márcio França, candidato a vice-governador de São Paulo na chapa de Geraldo Alckmin, candidato do PSDB.

Nesses dez meses de convivência entre PSB e Rede Sustentabilidade, França por mais de uma vez tentou marcar um encontro formal com Marina Silva. Os dois só passaram a conversar efetivamente na semana passada, depois da explosão da crise que levou à renúncia de Carlos Siqueira, primeiro-secretário do PSB, da coordenação da campanha.

França agora tem a chave do cofre do partido e do comitê. Nenhum cheque da campanha pode ser emitido sem ter também a sua assinatura - a outra é a do "adjunto" Bazileu Margarido, o nome que Marina antes havia anunciado como chefe. Na realidade, Bazileu deve cuidar da conta pessoal da candidata. Até ontem, a situação de França resumia, talvez como nenhuma outra, a diferença entre Marina e Campos no que se refere a política de alianças.

O episódio da saída de Siqueira é pedagógico. O primeiro-secretário reagiu ao que considerou uma tentativa do grupo mais próximo a Marina de tomar conta da campanha. O incidente foi direto entre o primeiro-secretário e a candidata, mas expunha um contencioso de meses entre as duas turmas.

Depois Marina teve uma conversa particular com Siqueira, desculpou-se, mas o estrago estava feito. Junto com ele deixou a campanha o coordenador de mobilização, Milton Coelho. Em solidariedade. A sangria poderia ser maior, mas foi contida com a indicação da deputada Luiz Erundina para a coordenação de campanha.

Marina conversou com França, os dois se entenderam e pode-se esperar do candidato a vice de São Paulo um comportamento partidário. Ele já foi exigido antes em outras situações. O PSB, por exemplo, teve de engolir goela abaixo a candidatura de Fernando Haddad a prefeito, em 2012. França não gostou, mas assimilou.

Quem participa desde o início da engenharia da aliança PSB-Rede sabe o que Marina pensa da atual direção partidária e o que os atuais dirigentes pessebistas acham de fato de sua candidata. O fio que sustenta as lealdades será mais ou menos tênue de acordo com os percentuais de Marina nas pesquisas. No momento, o PSB se considera com um pé dentro do Palácio do Planalto.

O processo de mudança na cabeça de chapa do PSB à Presidência expôs as diferenças de estilo entre Marina, a nova candidata, e Eduardo Campos, o mestre de obras da terceira via. A chapa só prosperou devido à imensa capacidade agregadora de Eduardo Campos, político jovem mas com trânsito de veterano em todos os partidos, até no PMDB que elegeu como símbolo da velha política a ser varrida do cenário político nacional.

Campos tinha um controle absoluto do PSB, partido que configurou de modo a atingir um objetivo definido, a Presidência da República. Marina é ela e seu entorno, o grupo de auxiliares que aparece no organograma da campanha como "adjunto", mas que realmente deve dar as cartas a partir de agora. A aposta do PSB é na capacidade "agregadora" do candidato a vice, o deputado gaúcho Beto Albuquerque.

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) escreve para informar que não tratou com o PMDB de assuntos relacionados a financiamento de campanha de candidatos aos governos estaduais, conforme publicado na coluna de 19 de agosto. Por meio de sua assessoria, o ministro afirma que não "participou de nenhuma articulação, em qualquer nível, para o financiamento de campanha eleitoral do PMDB" e "reitera também que jamais participou de reunião, com qualquer liderança do partido sobre o tema".

A nota a que se refere o ministro reportava uma separação de funções na coordenação da campanha da presidente Dilma Rousseff: o presidente do PT, Rui Falcão, ficara com a incumbência de articular os partidos da coligação e Mercadante, restrito à coordenação das ações de governo. A queda de braço já durava algum tempo e a reunião com os pemedebistas fora a gota d'água para a mudança. A participação de Mercadante nas reuniões foi confirmada à coluna por três dirigentes do PMDB e um aliado da presidente.

Em decorrência desse episódio o vice Michel Temer reassumiu a presidência do PMDB, atendendo a uma antiga exigência de aliados próximos, a fim de dar mais representatividade à participação da sigla nas negociações com os demais integrantes da coligação da presidente da República. De volta ao cargo, Temer ampliou os critérios de partilha da arrecadação financeira entre os candidatos do PMDB aos governos estaduais. O Ceará, por exemplo, que estava fora das reuniões de que Mercadante diz não ter participado, agora está dentro.

Luiz Carlos Azedo: Perdida no espaço

• Dilma Rousseff passa recibo de que Marina Silva a incomoda, e muito, embora o programa eleitoral da petista na tevê tenha sido destinado a atacar o tucano Aécio Neves e o governo de Fernando Henrique Cardoso

Correio Braziliense

Desde a morte trágica do ex-governador Eduardo Campos (PSB) e sua substituição pela ex-senadora Marina Silva (PSB), a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, está em órbita. Precisa pôr os pés no chão, rapidamente, mas corre o risco de ficar perdida no espaço. É na volta à atmosfera terrestre que mora o perigo.

Nos voos espaciais, uma nave gira ao redor da Terra a 26 mil km/h. Na hora da reentrada, freia para mudar a trajetória em relação à órbita e cair devagar. O sucesso da manobra depende da altitude, da posição e, principalmente, do ângulo em relação à Terra. É uma situação de vida ou morte: se for maior que 3 graus, a espaçonave cai em alta velocidade e pega fogo.

A maioria das espaçonaves entra com o bico para a frente, mas a candidatura de Dilma Rousseff, com a coalizão de partidos governistas, é semelhante a um ônibus especial: tem que entrar de barriga, para aumentar a força de atrito e diminuir a velocidade. É uma operação que faz subir a temperatura e necessita de revestimento especial para a tripulação não ser carbonizada. As condições climáticas são outro problema: qualquer borrasca pode ser fatal.

A campanha à reeleição de Dilma foi minuciosamente planejada para operar num cenário idealizado, no qual a relação entre tempo político — o passado versus o presente — e espaço social — os pobres contra os ricos — obedecia a lógica fácil do “nós contra eles”. Deu tudo errado: a vida real já não permite essa simplificação maniqueísta.

É por isso que o ônibus espacial governista corre risco de ficar perdido na volta à terra firme, ricocheteando na atmosfera, como uma pedra chata que foi atirada ao lago. Como a água, a atmosfera é um fluido gasoso, tal qual o ambiente político que emergiu após o desastre aéreo que tirou Eduardo Campos da disputa.

O debate
Assim, o que parecia líquido e certo para os governistas se esvaneceu no ar. Pesquisas dirão nesta semana qual foi o impacto real da entrada em cena de Marina no processo eleitoral, considerando-se a primeira semana de horário eleitoral gratuito. A candidata do PSB passou por uma crise no partido, que ainda está digerindo a troca de candidatos. As eleições ganharam mais emoção e, também, uma discussão de conteúdo nova.

Hoje teremos uma mostra da complexidade deste novo cenário, com a divulgação das primeiras pesquisas. Vamos ver também os potenciais de desconstrução de imagens e afirmação de identidades dos candidatos no debate da TV Bandeirantes, no qual, pela primeira vez, estarão frente a frente Dilma, Aécio, Marina e Pastor Everaldo (PSC).

Desde o domingo, Dilma Rousseff passa recibo de que Marina Silva a incomoda, e muito, embora o programa eleitoral da petista na tevê tenha sido destinado a atacar o tucano Aécio Neves e o governo de Fernando Henrique Cardoso. Sem muito o que mostrar diante da estagnação da economia, essa era a muleta para Dilma alavancar a candidatura nos indicadores do governo Lula. A estratégia vinha dando resultados enquanto a eleição estava polarizada. Agora, foi para o espaço.

A equipe de campanha governista está como os tripulantes de uma espaçonave que tentam contato com o centro de controle de voo para saber como e quando proceder para voltar à Terra. Tanto Marina Silva quanto Aécio Neves focam os discursos nos maus resultados da administração de Dilma, cuja imagem de gerentona do PAC está sendo desconstruída e precisaria ser reforçada, mas não tem resultados econômicos e administrativos suficientes para isso.

Além disso, o sistema de alianças construído a partir do “presidencialismo de coalizão” neutraliza o discurso de mudança da presidente da República. É um sistema de forças essencialmente conservador, no qual o PT não tem força eleitoral suficiente para romper a inércia, quando nada por causa dos desgaste sofridos com o processo do mensalão e outros escândalos, o mais recente, envolvendo a Petrobras, um ícone nacional. Ou seja, a campanha de Dilma precisa fazer uma arriscada e dramática mudança de curso.