sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Opinião do dia: Antonio Campos

Pela escolha de Eduardo quando fez a aliança, na ausência dele, Marina assumiria a Presidência. Vamos colocar no debate o nome de um vice.

Antonio Campos, advogado, membro do Diretório Nacional do PSB, irmão do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto tragicamente. O Globo, 15 de agosto de 2014.

PT pressiona para rachar o PSB de Eduardo Campos

• Interlocutores petistas pressionam líderes socialistas em estados onde as siglas são próximas

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - O PT já começou a operar na tentativa de fazer com que o PSB abra palanques nos estados para a presidente Dilma Rousseff, segundo lideranças socialistas. A intenção é rachar a sigla ex-aliada e fazer com que setores regionais do partido embarquem na campanha de Dilma, o que enfraqueceria uma eventual candidatura da ex-senadora Marina Silva, que era vice na chapa de Eduardo Campos, morto anteontem em acidente aéreo.

Interlocutores do PT já começaram a assediar líderes do PSB em estados onde há uma boa relação entre as duas siglas, como Bahia e Sergipe. Em meio a esse processo, a própria Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligaram ontem para Roberto Amaral, presidente em exercício do PSB, que assumiu a responsabilidade de conduzir o processo para a nova candidatura.

Na pauta, oficialmente, constam apenas condolências pela morte de Campos. O vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, negou que haja assédio da legenda ao PSB. Cantalice disse que questões eleitorais só serão discutidas a partir de segunda-feira, após o sepultamento de Campos, previsto para domingo.

Ao mesmo tempo que evita dar um tom eleitoreiro, Lula disse que não há como negar que a morte de Campos provoca uma mudança no cenário.

-Obviamente que mudou a conjuntura política e eu não sei qual o tamanho do impacto. Não vamos tentar antecipar os fatos. Vamos esperar enterrar o companheiro Eduardo e os companheiros que estavam com ele, e depois voltamos a falar da política, a falar da campanha - disse Lula ontem.

Próximos passos em discussão
Membros da Executiva do PSB se reuniram ontem num hotel em São Paulo para discutir os próximos passos. A expectativa é que a decisão sobre a nova composição da chapa saia entre os dias 19 e 20. No entanto, o partido também só vai se pronunciar oficialmente sobre o novo projeto político após domingo.

Enquanto uma ala ligada ao presidente nacional em exercício, Roberto Amaral, mais próxima do PT, defende um nome do próprio partido para a cabeça de chapa, outra, ligada aos tucanos - e que conta com o candidato ao governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, o líder na Câmara, Beto Albuquerque (RS), e os deputados Márcio França (SP) e Julio Delgado (MG) - apoia o nome de Marina Silva como cabeça de chapa, com um vice do PSB.

De acordo com um dos dirigentes nacionais do partido que esteve na reunião ontem em São Paulo, a "parte mais pragmática do partido" defende o alinhamento com o nome de Marina Silva. A leitura é que o nome da senadora seria a salvação para a consolidação do PSB. Outro grupo, mais preocupado com o futuro do partido, trabalha com a posição de não haver candidatura do PSB. O receio é que Marina, na prática, desestruture o partido. Segundo esse dirigente, será convocada uma reunião da Executiva do partido, em Brasília, depois da missa de sétimo dia de Eduardo Campos, onde seria tomada a decisão.

Antes da entrada da Rede Sustentabilidade na coligação, o PSB já era rachado. O grupo liderado por Amaral, ex-ministro do governo Lula, é simpático ao PT. Já a outra ala chegou a defender o apoio ao candidato do PSB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG). Com a morte de Campos, principal líder socialista e que costurou os palanques regionais para esta campanha, a sigla voltou a ficar dividida entre uma ala que defende Marina e outra que prefere retirar a candidatura.

Partidários saem em defesa de marina
Enquanto o partido não se decide, partidários de Marina defendem sua candidatura. Com isso, tentam evitar a aproximação do PT. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse que, ao se aliar a Eduardo Campos, apoiava uma candidatura alternativa e de oposição a Lula e ao PT. Segundo Freire, a substituição terá que levar isso em conta: uma candidatura capaz de garantir a realização de um segundo turno e que trabalhe para derrotar Dilma. Freire descartou deixar a coligação para apoiar Aécio informalmente:

- Não somos adeptos da prática de algo que implique apoio por debaixo dos panos. Um dos motivos de apoiar Eduardo Campos era viabilizar o segundo turno nas eleições presidenciais. Agora, o novo candidato terá também que ter o compromisso de ser contra Dilma. O que preocupa é viabilizar isso, mas acho que é fácil - disse Freire.

Para o líder do PPS, Marina é o nome mais provável para encabeçar a chapa. Segundo ele, não há data ainda para a reunião dos partidos da coligação. Indagado se há no PPS resistência ao nome de Marina, Freire respondeu:

- Não afirmo (que não há resistência), mas não vejo esse sentimento. O sentimento de derrota ao lulopetismo é forte para (o PPS) não ter candidato. Queremos que tenha segundo turno. Com Marina ou com qualquer outro candidato que se viabilizar.

Antônio Campos, irmão do candidato morto, defendeu a candidatura de Marina à Presidência. "Tenho convicção de que essa seria a vontade de Eduardo", escreveu Antônio em uma carta. O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), também apoia Marina:

- A Marina Silva é um grande nome, sem dúvidas. Agora, o partido vai conversar, discutir e amadurecer essa decisão. E vai anunciar o mais rápido possível, apesar do momento que passamos - afirmou Lyra.

Enquanto o PSB discute, a ordem na Rede é silêncio. Recolhida desde o acidente, Marina ordenou que a discussão da chapa só seja feita após o sepultamento de Campos.

- Todo mundo sabe do rigor de Marina Silva. E por conta disso, e pela recomendação dela, todos nós vamos respeitar o momento dos familiares até o sepultamento. A partir daí é que trataremos da sucessão no âmbito da coligação - afirmou o ex-deputado Walter Feldman, porta-voz da Rede.

Feldman disse que o PSB continua como cabeça de chapa. Frisou que o que foi determinado por Campos será mantido.

Líderes: Ex-senadora está diferente
Líderes dos partidos coligados ao PSB na chapa Unidos pelo Brasil declararam ao GLOBO que apoiarão a escolha de Marina para encabeçar a coligação. Eles frisaram, porém, que Marina está diferente desde que iniciou a campanha com Campos, abraçando um partido cuja bandeira nunca foi essencialmente a causa ambiental e a renovação da política. Alguns pedem que ela reafirme compromissos da época em que entrou no PSB, em novembro do ano passado.

Eduardo Machado, presidente nacional do PHS, afirmou que o nome de Marina é o mais natural para encabeçar a chapa, não por ela ser vice de Eduardo, e sim por ter popularidade. Ele disse esperar que a decisão sobre o novo candidato à Presidência seja tomada em conjunto entre os seis partidos.

- Não abrimos mão de que essa decisão passe por todos os partidos. O Eduardo Campos não era candidato do PSB, e sim da coligação Unidos pelo Brasil. Eu diria que é natural não em função dela ser a vice, mas em função da popularidade que ela tem. Se algo acontecesse com a Dilma, eu não diria que o Michel Temer seria o candidato do PT

PSB garante apoio a Marina, mas cobra acordos estaduais

• Maioria dos líderes do partido defende confirmação da vice como candidata; representante da Rede diz que grupo respeitará acertos

Erich Decat, Isadora Peron, Pedro Venceslau, Valmar Hupsel Filho e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

O grupo majoritário do PSB defende a confirmação de Marina Silva como nome do partido ao Palácio do Planalto após a trágica morte de Eduardo Campos em um desastre aéreo ocorrido anteontem em Santos, no litoral paulista. Os dirigentes e líderes da legenda, no entanto, querem em troca garantias da candidata a vice. Pedem, por exemplo, que ela não ataque as alianças políticas estaduais costuradas pela cúpula.

Marina é contra acertos do PSB com os tucanos, por exemplo, em São Paulo e no Paraná, por considerá-los um obstáculo ao discurso da "nova política", usado por ela e adotado por Campos. A pedido do companheiro de chapa, ela havia parado de fazer críticas públicas às alianças. Mas não vinha participando de eventos ao lado de Campos nesses Estados-problema.

O temor dos líderes é de que, com a morte do ex-governador, a ex-ministra do Meio Ambiente volte à carga contra os acordos. Só após obter as garantias da aliada - que se filiou ao PSB em outubro do ano passado após não conseguir registro da Rede Sustentabilidade na Justiça Eleitoral -, é que ela deverá ser confirmada candidata.

Na Rede, que, apesar de não ter sido registrada oficialmente, tenta se organizar como uma estrutura autônoma dentro do PSB, a promessa é de que tudo o que foi acordado antes será respeitado. "Houve muita colaboração e harmonia entre o PSB e a Rede desde outubro do ano passado. Aprovamos o que foi feito pelo PSB. Vamos manter o programa e tudo o que já foi decidido", afirmou ontem Pedro Ivo, um dos coordenadores da campanha de Marina e o responsável pelos acordos nos Estados.

O tempo é outra preocupação dos líderes do PSB. Para que qualquer acordo seja fechado, Marina tem de mostrar, antes, que está disposta a levar adiante o projeto. A ex-ministra está reclusa em seu apartamento em São Paulo. Não quer falar de política num momento trágico como esse.

Pela lei eleitoral, o partido tem dez dias para definir o substituto de Campos. Os programas de TV dos candidatos, porém, começam na terça que vem. "O (prazo) legal são dez dias, e o (prazo) político nós temos que ter a consciência que o guia eleitoral (propaganda) começa no dia 19", disse ontem o governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB).

Nota
Oficialmente, o PSB afirma que somente discutirá a escolha do substituto de Campos após o sepultamento do ex-governador - há previsão de que isso ocorra até o fim de semana, mas tudo depende dos trabalhos de identificação dos restos mortais das sete pessoas que estavam no jatinho que caiu em Santos.

Em nota assinada por Roberto Amaral, que assumiu a presidência do PSB com a morte de Campos, o partido disse que "tomará, quando julgar oportuno e ao seu exclusivo critério, as decisões pertinentes à condução do processo político-eleitoral". Ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Amaral é o principal foco de resistência ao apoio a Marina.

A ala majoritária da legenda, porém, vê na ex-ministra uma maneira de não "sumir" na campanha presidencial, o que poderia prejudicar, por exemplo, a eleição de parlamentares. "Tenho certeza de que pela relação que Eduardo e Marina construíram nos últimos meses ele quer que ela seja candidata", disse Júlio Delgado, do grupo majoritário.

Em 2010, quando disputou o Planalto pelo PV, ela obteve 19,33% dos votos e acabou na terceira colocação. Nas mais recentes pesquisas de intenção de voto, Campos variava de 8% a 9%.

Aliados
Os outros quatro partidos que integram a coalizão formada em torno do ex-governador de Pernambuco (PHS, PRP, PPL e PSL) também defendem seu nome.

O presidente do aliado PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse considerar natural que Marina assuma o lugar de Campos. Mas, para ele, fundamental é a manutenção do projeto lançado pelo ex-governador. "Quero frisar que o mais importante não são os candidatos, mas a continuidade do projeto de Eduardo Campos para o País", disse Freire, para quem o PSB precisa ter candidato sob o risco de a eleição ser decidida no 1.º turno a favor da presidente Dilma Rousseff.

Família de Eduardo Campos quer candidatura de Marina

• Herdeira do espólio político do marido, Renata terá peso na decisão do PSB

• Primeiro integrante da família a se pronunciar, irmão do ex-governador manifesta em carta apoio à ex-senadora

Natuza Nery, Ranier Bragon - Folha de S. Paulo

RECIFE, BRASÍLIA - Principal herdeira do espólio político de Eduardo Campos, sua mulher Renata quer, segundo amigos e aliados, ver Marina Silva representando a família na cédula eleitoral como cabeça de chapa.

O único irmão de Eduardo, Antônio Campos, foi o primeiro integrante da família a se pronunciar publicamente a favor de Marina.

"Tenho convicção [de] que essa seria a vontade de Eduardo", disse em nota divulgada nesta quinta (14), um dia após a morte do presidenciável do PSB em acidente aéreo.

Além da família, dirigentes de todos os outros cinco partidos da coligação comandada pelo PSB disseram à Folha defender a indicação da ex-senadora, vice na chapa de Campos após ter anunciado em outubro a adesão ao projeto presidencial do então governador de Pernambuco.

No PSB, o nome de Marina ainda enfrenta resistências.

A Folha apurou que a decisão sobre quem substituirá Campos passará pela bênção de "dona Renata", como o marido a chamava.

Desde que recebeu a notícia da morte do marido, ela não fala de futuro eleitoral, apenas pratica o luto com a família e a romaria de pessoas que foram à sua casa, no bairro recifense de Dois Irmãos.

Renata, porém, não quer ver o trabalho de Dudu, como o chamava, perdido.

Referência emocional do marido, que a agradecia publicamente pelo apoio, ela exercia papel maior que o de mulher de governante. Tinha influência e palpitava em todas as definições tomadas pelo homem por quem se apaixonou desde a adolescência.

Campos reverenciava a mulher. Certa vez, diante de um pedido de entrevista com a potencial primeira-dama, respondeu: "Ela é um p... quadro, não uma peça auxiliar. Entende de política e tem muita sensibilidade".

Assim como o marido, a figura de Renata é reverenciada no PSB, justamente por seu papel ao lado dele. Mas ninguém aposta, por exemplo, na possibilidade de uma candidatura na vaga de vice, embora seja unânime em Pernambuco a avaliação de que ela teria força eleitoral.

Amigos e políticos íntimos que visitaram a família afirmam que a escolha de Marina como titular do partido seria chancelada por Campos.

A união do PSB em torno de Marina será um desafio, já que a aliança dos dois estava mais cristalizada entre eles do que entre outros dirigentes.

Coligação
Marina tem se recusado a falar com aliados sobre o futuro político, sob o argumento de que a hora é de luto. Mas em seu entorno a expectativa é a de que seja seguido o chamado "caminho natural".

"Campos construiu um legado programático junto com a Marina, e nós temos que tocar esse legado. É o que Eduardo gostaria que fizéssemos e é o que faremos após chorarmos e nos solidarizarmos com os familiares", disse o ex-deputado Walter Feldman, um dos principais aliados dela.

Pela lei, o PSB tem a preferência na indicação do candidato, que precisa ainda ser aprovada por pelo menos 4 dos 6 partidos da coligação.

Dirigentes das outras cinco siglas disseram ser favoráveis à escolha da ex-senadora, entre eles o PPS, o maior aliado do PSB no bloco.

"Vamos caminhar para continuar o projeto do Eduardo. Se for ela [Marina], ótimo, o PPS não vai criar obstáculo", disse o presidente da sigla, Roberto Freire.

Os dirigentes das outras quatro legendas, todas nanicas, afirmaram que defendem o nome da ex-senadora.

Já o vice na possível chapa de Marina ainda é questão em aberto. Na lista de cotados estão, entre outros, o ex-deputado Maurício Rands (PSB), primo de Renata e coordenador do programa de governo da campanha, e o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).

Colaborou Mônica Bergamo, colunista da Folha

Aliados do PSB fazem pressão a favor de Marina

• Vice na chapa de Eduardo, fundadora da Rede tem o apoio de aliados para assumir a candidatura ao Planalto, mas ela terá de superar uma série de obstáculos antes

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Apesar de, em nota oficial, o PSB afirmar que só tomará a decisão sobre a sucessão na chapa presidencial após o enterro de Eduardo Campos, aliados da legenda e o advogado Antonio Campos reforçam a pressão para que a atual vice, Marina Silva, seja escolhida como a candidata oficial da coligação ao Palácio do Planalto, embora saibam que, para isso, ela precise superar uma série de dificuldades e empecilhos com o PSB e os aliados (veja quadro).

Depois de conversar reservadamente com lideranças partidárias, Antonio Campos, irmão de Eduardo, resolveu mandar uma carta à direção partidária. "Marina vai agregar valor à chapa presidencial e ao debate no Brasil. Se meu irmão chamou Marina para ser sua vice, com essa atitude ele externou sua vontade", disse Tonca, como é conhecido. "Eduardo morreu na busca de um caminho para melhorar a nação. Marina Silva tem essa capacidade de empunhar uma luta que debata os caminhos do Brasil e crie caminhos para melhorar este país".

A cúpula do PSB reuniu-se ontem em São Paulo. O novo presidente da legenda, Roberto Amaral, afirmou que caberá a ele decidir quando o processo sucessório será feito. Em nota, Amaral afirmou que "o Partido Socialista Brasileiro (PSB) está de luto pela trágica morte de seu presidente nacional, Eduardo Henrique Accioly Campos, ocorrida em 13 de agosto de 2014. Recolhe-se, neste momento, irmanado com os sentimentos dos seus militantes e da sociedade brasileira, cuidando tão somente das homenagens devidas ao líder que partiu. A direção do PSB tomará, quando julgar oportuno, e ao seu exclusivo critério, as decisões pertinentes à condução do processo político-eleitoral".

Amaral, contudo, é visto com desconfiança por setores da Rede Sustentabilidade, que enxergam nele alguém perigosamente próximo do PT. Em um passado recente, ele criticou o partido que Marina tentava criar e nunca escondeu um desejo de que a aliança com Dilma Rousseff fosse mantida, mesma opinião que levou à saída dos irmãos Ciro e Cid Gomes do PSB. Ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou falar por duas vezes com Amaral, sem sucesso.

Na sede do instituto que leva seu nome, Lula confirmou que também pretende falar com Marina. Mas a intenção seria, apenas, expressar o pesar pela tragédia atual. "Obviamente que mudou a conjuntura política e eu não sei qual o tamanho do impacto. Não vamos tentar antecipar os fatos. Vamos esperar enterrar o companheiro Eduardo e os companheiros que estavam com ele e aí depois nós voltamos a falar de política", disse o ex-presidente.

"Luto e silêncio"
Embora seja o caminho natural e estejam pressionados pelo tempo escasso, já que a legislação eleitoral estipula um prazo de 10 dias para a troca do candidato em caso de morte, e a propaganda política já começa na próxima terça-feira, o PSB e os aliados esperam que Marina tenha a consciência de que terá de mudar algumas posturas se quiser ser efetivada na chapa. "Não temos tempo de ficar inventando outras saídas. Mas Marina também tem que entender que estará assumindo para manter o acordo programático firmado na coligação", disse o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP).

Freire lamentou o ocorrido, mas disse que não é hora de Marina inventar ou pressionar pelas coisas que gosta ou não. Candidato do PSB ao governo do Distrito Federal, o senador Rodrigo Rollemberg (DF) lembra que a aliança firmada entre o PSB e a Rede foi baseada em uma construção que respeitava a identidade e a independência das duas legendas. Mas que, nesse momento, quem assumir o cargo terá de se adequar aos acordos e às propostas firmadas anteriormente.

O senador brasiliense afirmou que, no momento, as discussões políticas estarão abafadas pelo luto e pesar do partido. E que, mesmo que reuniões aconteçam e declarações sejam dadas, só após o sepultamento de Eduardo Campos e dos demais integrantes da campanha que morreram no acidente aéreo em Santos, uma solução será anunciada. Na próxima semana, estão previstas uma missa na Catedral de Brasília e sessões solenes no Congresso. "Mas a maior homenagem que podemos prestar a Eduardo é dar continuidade ao projeto político que ele ajudou a construir e cruzou o Brasil para defender", completou.

Marina submergiu. Fez um pronunciamento, emocionado, na noite de quarta-feira. Falou dos sonhos e da energia do companheiro de chapa, mas recusou-se a falar sobre política. A aliados próximos, afirmou que este é um momento de luto. Na manhã de quarta, ao se encontrar com o porta-voz da Rede, o ex-deputado Walter Feldmann (PSB-SP), antes de saber dos desdobramentos completos da tragédia, uma atônita Marina dirigiu-se ao aliado. "Walter, pelo amor de Deus, me diga que isso não está acontecendo. Pelo amor de Deus, isso não pode estar acontecendo", disse ela, antes da morte de Campos ser confirmada oficialmente.

Para Feldmann, ninguém da Rede vai se pronunciar sobre a possibilidade de Marina ocupar o lugar deixado após a morte de Eduardo. "O momento é de luto e de silêncio", disse. Para ele, não há como negar que Campos fará falta, pois ele conduziu, com maestria, as divergências internas entre sonháticos e socialistas. "Mas tudo o que foi acertado e que estava sendo discutido na campanha foi uma construção programática conjunta dos dois partidos. Isso será mantido, não há dúvidas", assegurou Feldmann.

Os obstáculos
Confira os problemas que a ex-ministra de Lula, idealizadora da Rede, precisa superar para se tornar a sucessora de Eduardo Campos

Alianças regionais
Marina terá de abandonar o discurso purista que adotou em algumas coligações para aceitar os acordos fechados pelo PSB

Agronegócio
Quando a aliança foi formalizada, Marina rechaçou uma aproximação do PSB com produtores rurais, deixando prevalecer o discurso ambiental. Terá que reconstruir as pontes

Futuro da Rede
Às vésperas da convenção que homologou a candidatura, a direção da Rede disse que o projeto de criação do partido seguia incólume. E acrescentava que, tão logo o TSE concedesse o registro, o grupo migraria para a outra legenda, o que muda nesse novo cenário em que ela se torna cabeça de chapa no processo do PSB

PSDB
A ex-ministra ficou incomodada com os elogios mútuos e a política de aproximação entre Eduardo Campos e Aécio Neves. Se quiser ter expectativas em um eventual segundo turno, precisará dessa relação com os tucanos

Discurso religioso
Vice de um candidato a presidente extremamente católico, Marina terá de superar o rótulo de evangélica se desejar ampliar o número de eleitores nos demais seguimentos religiosos
Rejeição interna

Marina terá de vencer a desconfiança de setores do PSB, que a viam como estrangeira. E superar o discurso daqueles que, inspirados pelos irmãos Cid e Ciro Gomes (que deixaram o PSB para filiar-se ao Pros), defendem o apoio à reeleição de Dilma

Entrevista: Irmão de Campos pede Marina candidata

  • "Marina tem densidade para fazer o debate do Brasil"

Sérgio Roxo – O Globo

RECIFE - De participação política discreta e com atuação maior nos bastidores, o único irmão de Eduardo Campos, o advogado Antonio Campos, diz que aceita assumir a linha de frente para propagar o legado do irmão. Apesar do impacto da morte, ele acha que a definição do candidato do PSB deve ser imediata. Integrante do diretório nacional da legenda, Campos acredita que o projeto de Marina Silva de criar a Rede Sustentabilidade não é empecilho para que ela encabece a chapa presidencial.

Por que a Marina deve ser a candidata do PSB?

Pela escolha de Eduardo quando fez a aliança, na ausência dele, Marina assumiria a Presidência. Ela tem densidade política e eleitoral para fazer o debate do Brasil neste momento. Vamos colocar no debate democrático dentro da coligação que surja o nome de um vice que complemente o perfil de Marina. Assim como o perfil de Eduardo e Marina eram complementares.

E deveria ser alguém do próprio PSB?

Acho que deveria ser alguém do PSB, já que Marina representa a Rede.

Qual deve ser o perfil do candidato a vice?

Alguém que agregue valor a essa chapa, que tenha diálogo com a classe empresarial, e que tenha o apoio do grupo político de Eduardo. E que também esteja disposto a desenvolver um papel de resistência, dentro desse debate que o Eduardo, com sacrifício pessoal, travou desde 2013, resistindo aos ataques especulativos ao PSB.

O senhor aceitaria ser vice?

Não ponho meu nome em discussão. Coloco o debate de que o partido precisa definir antes do prazo legal essa questão. E que a morte de Eduardo seja não apenas o luto e o choro, mas também signifique que o Brasil que está tão descrente com a política, com o voto nulo tão forte, desperte. O Brasil precisa participar desta eleição.

Até quando isso deve ser definido?

Até meados da semana, isso vai estar definido. Vou tentar ajudar a criar um consenso dentro do partido, conversando com as lideranças. Até em respeito ao sacrifício que Eduardo fez de discutir o Brasil, vale uma reflexão do partido de que precisa dar continuidade a esse projeto.

Marina já anunciou que no ano que vem ela pretende sair do PSB para criar a Rede Sustentabilidade. Isso não complica a situação?

Acho que ela teria que fazer um acordo político com o PSB. A morte de Eduardo em plena campanha presidencial, a 45 dias da eleição, cria uma situação política nova. Essa situação expressa a necessidade de algo novo. Marina é uma força importante.

Mas ela teria que abandonar o projeto da Rede?
A questão central não é essa. A questão é a linha do programa de governo dela. Criando-se a Rede ou não, o que importa são os compromissos com o ideário do PSB. Ela pode criar um compromisso programático de alinhamento a alguns pensamentos do PSB.

Marina assumiria então o compromisso de que o PSB continuaria participando mesmo com a criação da Rede?

É, isso.

E a divergência dela sobre as alianças nos estados?

Teria que haver uma rearrumação. Essa situação, de uma certa forma, rearruma as coisas.

Por quê?

Essas costuras tinham muito a ver com Eduardo,com seu talento para unir diferentes forças. Teria quer haver uma restruturação mínima. Algumas forças adversárias não querem que Marina seja candidata e acabariam se afastando. Essas forças começam a tentar evitar a candidatura da Marina conversando com alguns setores do partido que não são hegemônicos. Isso é um desserviço ao Brasil porque teríamos uma campanha sem debater o país, sem opções, uma campanha só com reeleição e oposição.

Quem herdará o legado político do seu irmão e do seu avô?

Aprendi com meu avô Arraes que liderança política não se herda por sangue, se herda por trabalho. Eduardo construiu o seu espaço. Tem uma valorosa esposa, a Renata, que é um quadro político. Mas está fortemente impactada pela perda de Eduardo, seu companheiro desde os 13 anos, Meu sobrinho mais velho (João), que deseja entrar na política, tem apenas 21 anos. É um quadro ainda em formação. Minha mãe (Ana Arraes) é ministra do TCU e está impedia de fazer uma carreira política. Sem dúvida, estou colocando meu nome para colaborar nessa fase. A família Arraes, que tem 60 anos de política, não ficará sem sucessor. Se convocado for para colaborar na preservação desse legado, estarei pronto.

Até assumindo a candidatura a vice?

Não digo a vice, porque não a pleiteio, mas tendo uma postura mais presencial na política.

Irmão de Campos defende Marina como candidata à Presidência

• Antonio Campos vai manifestar posicionamento em carta ao PSB e diz que escolha seria coerente com pensamento do ex-governador

Ângela Lacerda - O Estado de S. Paulo

RECIFE - Único irmão do ex-governador Eduardo Campos, o advogado Antonio Campos defende que a candidata a vice, Marina Silva, assuma a candidatura à Presidência pelo PSB no lugar do ex-governador, morto nessa quarta-feira em um acidente aéreo em Santos. "Vou defender publicamente e dentro do partido esta posição", afirmou ele, em entrevista por telefone, ao Estado, na manhã desta quinta-feira, 14.

"Marina vai agregar valor à chapa presidencial e ao debate no Brasil", afirmou ele, ao anunciar que vai encaminhar uma carta ao partido explicitando sua defesa. "Se meu irmão chamou Marina para ser sua vice, com esta atitude ele externou sua vontade", afirmou Antonio Campos, confiante de estar defendendo a posição que o ex-candidato aprovaria.

"Acho que o mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e de correr riscos para viver seus sonhos", destacou ele. "Eduardo morreu na busca de um caminho para melhorar a nação". Para o advogado, Marina Silva "tem essa capacidade de empunhar uma luta que debata os caminhos do Brasil e crie novos caminhos para melhorar este País".

O PSB ainda não fala sobre questões eleitorais. A interlocutores, Marina Silva também evita o assunto. De acordo com a legislação eleitoral, o PSB tem dez dias para indicar um novo candidato. Dentro da coligação, composta pelo PPS, PHS, PRP, PPL e PSL, Marina é tratada como sucessora natural.

Antonio Campos disse não ter conversado com Marina sobre o assunto, mas reforçou que se Eduardo Campos lutava para abrir uma nova via política, fora da polarização entre PT e PSDB, Marina deve ser o nome escolhido pela coligação.

"Falo como membro do diretório nacional do PSB, com direito a voto, como o neto mais velho vivo do ex-governador Miguel Arraes e presidente do Instituto Miguel Arraes", disse ele, ao lembrar da luta do avô para construir o partido socialista.

Leia a íntegra da carta:

'Não vamos desistir do Brasil'

A minha perda afetiva do único irmão é imensa, mas é grande a perda do líder Eduardo Campos, político de talento e firmeza de propósitos.

A nossa família tem mais de 60 anos de lutas políticas em defesa das causas populares e democráticas do Brasil. O meu avô Miguel Arraes foi preso e exilado, não se curvando à ditadura militar. Eduardo Campos continuou o seu legado com firmeza de propósitos, tendo trazido uma nova era de desenvolvimento para Pernambuco. Desde 2013 vinha fazendo o debate dos problemas e do momento de crise por que passa o Brasil, querendo fazer uma discussão elevada sobre nosso país. Faleceu em plena campanha presidencial, lutando pelos seus ideais e pelo que acreditava.

O mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e de correr o risco para viver os seus sonhos pessoais e coletivos. Ambos faleceram, no dia 13 de agosto, e serão plantados no mesmo túmulo, no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, túmulo simples, onde consta uma lápide com a frase do poeta Carlos Drummond: " tenho duas mãos e o sentimento do mundo". Essas sementes de esperança e de resistência devem inspirar uma reflexão sobre o Brasil, nesse momento, para mudar e melhorar esse país, que enfrenta uma grave crise, sendo a principal dela a crise de valores. Não vamos cultivar as cinzas desses dois grandes líderes, mas a chama imortal dos ideais que os motivava.

Como filiado ao PSB, membro do Diretório Nacional com direito a voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes, presidente do Instituto Miguel Arraes - IMA e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição pessoal que Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo Brasil liderada pelo PSB, devendo a coligação, após debate democrático, escolher o seu nome e um vice que una a coligação e some ao debate que o Brasil precisa fazer nesse difícil momento, em busca de dias melhores. Tenho convicção que essa seria a vontade de Eduardo.

Agradeço, em nome da minha família enlutada, as mensagens do povo brasileiro e de outras nacionalidades.

João Lyra defende que PSB defina candidato até terça-feira

• Segundo o governador de Pernambuco, partido vai obedecer prazos legais e vai "amadurecer" decisão sobre Marina como substituta

Igor Gadelha, Mateus Coutinho e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

O governador de Pernambuco, João Lyra (PSB), afirmou nesta quinta-feira, 14, que a tendência é o PSB continuar a ter candidato próprio à Presidência da República nas eleições deste ano. De acordo com ele, apesar do momento de dor com a perda de Eduardo Campos, lideranças do partido levar em consideração o prazo legal de dez dias para indicar o novo nome e o início da propaganda eleitoral, na próxima terça-feira, 19. Lyra avaliou ainda que a candidata a vice na chapa, Marina Silva, é "sem dúvida" um grande nome, mas o partido "vai amadurecer essa decisão" e anunciar o mais rápido possível.

"O [prazo] legal são 10 dias, e o político nós temos que ter a consciência que o dia eleitoral começa no dia 19", disse, durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, após reunião entre a comitiva do PSB com o governador Geraldo Alckmin (PSBD). O pessebista afirmou também que a unidade já defendida por Campos deverá prevalecer no processo de escolha do novo candidato.

"Temos convicção e absoluta certeza de que o PSB vai encontrar o melhor caminho para suceder Campos", afirmou. O governador pernambucano comentou que já chegou, inclusive, a conversar com o presidente interino do PSB, Roberto Amaral. "Essa é a tendência: de ter candidato próprio e deve se confirmar", declarou, acrescentando logo em seguida: "Não posso adiantar absolutamente nada em relação a isso, porque depende das conversações que vamos iniciar a partir de agora".

Em entrevista, Lyra não afirmou claramente se o PSB vai continuar apoiando Alckmin em São Paulo numa eventual candidatura de Marina Silva, mas agradeceu, em nome dele e da família de Campos, a solidariedade e o empenho do tucano no processo de identificação dos corpos das vítimas e das causas do acidente. Ele afirmou que, por telefone, a presidente Dilma Rousseff colocou à disposição todos os serviços do governo federal e informou que os corpos devem ser transportados em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Para economista, Marina é 'candidata natural'

• Eduardo Gianetti, um dos elaboradores do plano de governo do PSB, acredita que decisão de assumir candidatura caberá a ex-senadora

Gustavo Porto - Agência Estado

CURITIBA - O economista Eduardo Gianetti da Fonseca, um dos elaboradores do plano de governo do PSB à Presidência, afirmou que a ex-ministra Marina Silva é a "candidata natural" do partido à sucessão de Dilma Rousseff (PT), com a morte de Eduardo Campos. No entanto, a decisão de assumir o desafio será exclusivamente da atual candidata a vice. "Ela é a vice e elaborou o programa. Não concebo outro caminho que não seja ela assumindo a liderança dessa força política, mas é lógico que depende fundamentalmente da vontade dela", disse em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

Apoiador e formulador de propostas econômicas para Marina desde a candidatura dela em 2010 à presidência, Gianetti disse acreditar que o apoio de setores da economia seguirá sem mudanças com a morte de Campos e uma possível candidatura da ex-ministra pelo PSB e que o "programa na área econômica seguirá exatamente como foi elaborado".

Segundo ele, os principais pontos do programa, ainda previsto para ser entregue na próxima semana, são um forte ajuste na economia logo no começo do governo, com a volta do tripé macroeconômico - com metas fiscais e controle do superávit primário, dólar flutuante e Banco Central independente - e ainda uma reforma tributária. "O acordo programático prevê corrigir as tarifas administradas, corrigir o câmbio, aperto de política e possivelmente recalibrar, no início, a taxa de juros. Isso vai ter efeito saneador para que tudo possa melhorar", afirmou.

Sobre a resistência de setores internos do PSB ao nome de Marina Silva, que ainda tenta obter o registro do seu grupo político, o Rede Sustentabilidade, Gianetti afirmou que essa divergência pode mudar. "Isso tem de ser conversado e negociado; as forças políticas do PSB vinham conversando e terão de continuar convivendo", concluiu.

O PSB terá dez dias para apresentar à Justiça Eleitoral o nome de um novo candidato à Presidência. Assessores próximos a Marina dizem que a ex-ministra não vai discutir assuntos relacionados à sucessão presidencial nos próximos dias. Nesta manhã, Antonio Campos, irmão do ex-governador, defendeu publicamente a indicação de Marina.

Presidente do PPS diz que é hora de manter a unidade em torno do projeto de Eduardo Campos

Assessoria do PPS – Portal do PPS

Um dia após o trágico acidente aéreo que tirou a vida do candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) e outras seis pessoas, o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), afirmou que esse é o momento de manter a unidade em torno do projeto da coligação para o país. “O fundamental é a manutenção do projeto que nos reuniu. Mostrar nossa unidade em torno de uma proposta alternativa e eficiente para o Brasil”, afirmou.

Para Freire, Eduardo Campos tinha o respeito e a dignidade para não ser plano B de ninguém. “Era uma alternativa no primeiro e no segundo turno”, frisou o parlamentar, que diz que decisões políticas sobre quem serão os candidatos a presidente e a vice da coligação só serão tomadas após o funeral, que deve ocorrer no final de semana.

“Quero frisar que o mais importante não são os candidatos, mas a continuidade do projeto de Eduardo Campos para o país”, disse, reconhecendo que é natural que a então candidata a vice-presidente, Marina Silva, seja a principal cogitada para a cabeça de chapa. “Mas esse é um assunto que será definido pelos partidos da coligação. Primeiro vamos aguardar que o luto se complete”, ponderou.

O presidente do PPS salienta ainda que o partido está, como sempre se posicionou, firme e comprometido com o projeto de Campos, que construiu uma alternativa ao governo do PT, que tantos prejuízos está trazendo para o país.

Formam a coligação, além do PPS, o PSB de Eduardo Campos, a Rede Sustentabilidade, o PPL, o PHS, o PRP, e o PSL

Partidos coligados ao PSB apoiam 'Marina 2.0' como candidata da chapa

• Lideranças destacam que a ex-ministra está ‘diferente’ e pedem reafirmação de compromissos de campanha

Carina Bacelar- O Globo

RIO — Líderes dos cinco partidos coligados ao PSB na chapa "Muda Brasil", que até a quarta-feira tinha Eduardo Campos como candidato à Presidência, declararam ao GLOBO que vão apoiar uma provável escolha de Marina Silva (PSB) para encabeçar a coligação. Eles pontuam, entretanto, que Marina está diferente desde que iniciou a campanha com Campos e alguns pedem que ela reafirme compromissos da época em que ingressou no PSB, em novembro do ano passado. Nesta quinta-feira, membros da Executiva do PSB se reuniram em um hotel em São Paulo para discutir os próximos passos a serem tomados na eleição.

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS, afirmou que a legenda vai “conversar com Marina sobre os compromissos que vamos ter que ter”. Ele disse que só depois do enterro de Eduardo Campos a coligação deve se reunir para chegar a uma posição sobre a substituição da candidatura. Inicialmente, ele declarou que “o PPS tinha compromisso claro e com muita confiança em Eduardo Campos”, sem citar o nome da ex-ministra do Meio Ambiente. No entanto, “não vê problema” na candidatura de Marina.

— Ontem não pensamos em nada e hoje estamos começando a voltar um pouco à vida. Vamos começar a conversar pra saber como encaminha. O PPS tinha compromisso claro e com muita confiança com Eduardo Campos. Não vejo nenhum problema, o partido estava integrado na campanha de Eduardo e de Marina. Vamos continuar com o projeto, vamos ter que discutir como vamos caminhar.

Já Eduardo Machado, presidente nacional do PHS, afirma que o nome de Marina é o mais natural à sucessão na chapa não por ela ser vice, e sim por ter popularidade. Ele espera que a decisão sobre o novo candidato à Presidência seja tomada em conjunto entre os dirigentes dos seis partidos.

— Não abrimos mão de que essa decisão passe por todos os partidos. O Eduardo Campos não era candidato do PSB, e sim da coligação Unidos pelo Brasil. Eu diria que é natural não em função dela ser a vice, mas em função da popularidade que ela tem. Se algo acontecesse com a Dilma, eu não diria que o Michel Temer seria o candidato do PT.

Machado afirma que, ao longo da campanha, Marina demonstrou ser “menos xiita do que pregam”.

— Ela tem os pontos de vista dela bem radicais, tudo bem, mas no momento em que ela aceitou ser vice de Eduardo, que não tinha a mesma linha de raciocínio dela, ela demonstrou flexibilidade. Quando você aceita caminhar junto com alguém, tem que aceitar minimamente essas pessoas, aceitar e respeitar.
Assim como a gente aceita a postura dela, queremos ser aceitos e discutir. Eu acredito que o simples fato de ela ter aceito caminhar com Eduardo mostrou que ela não é tão xiita quanto pregam que ela seja — afirma o presidente da sigla, que vai a Recife acompanhar o enterro de Campos.

Luciano Bivar, presidente nacional do PSL ressalta que o prazo de dez dias para a substituição, prevista pelo TSE, é uma “data muito fria”. Ele diz que o natural é que Marina assuma o lugar de Campos na chapa. No entanto, perguntado sobre a fama de radical da ex-ministra com a questão da sustentabilidade, que levou a diversos debates com ruralistas, ele afirma que Marina precisa ter “compromissos mais cristalinos”.

Passos "ponderados"
— O PSL pode comungar com a Marina, mas é preciso que ela reafirme os compromissos de Eduardo, principalmente, com respeito à reforma tributária. O próprio depoimento dela disse que ela conseguiu admirá-lo e acreditar no seu projeto [de Campos]. É uma questão natural a vice assumir a campanha.

Miguel Manso, secretário nacional de Organização do PPL, conta que a legenda está “absolutamente integrada com o Eduardo e Marina”. Ele chegou a falar com Marina na quarta-feira, que afirmou que a perda de Chico Mendes e Eduardo tinham sido importantes na vida dela. Manso avalia que a candidata à Presidência em 2010 “cresceu muito na campanha” e “aprendeu” com Eduardo.

— Ela cresceu muito nessa campanha. Nós não vemos nenhuma dificuldade. A Marina é uma pessoa que o próprio Eduardo via com muito carinho. Temos absoluta convicção de que é possível ter um projeto de desenvolvimento do Brasil com o cuidado que temos que ter.

Peguntado sobre a defesa de Marina na área ambiental, ele afirmou que é preciso “ponderar cada passo”.

— É claro que temos que ponderar cada passo, como a gente faz, como evolui a economia de baixo carbono.

O vice-presidente do PRP , Oswaldo Souza, informou que vai se reunir para decidir uma posição formal sobre a candidatura de Marina à Presidência.

— Estamos decidindo e como nós fazemos isso tudo. Daqui a pouco vou estar reunido com o presidente nacional [do partido, Ovasco Resende].

Marina faz silêncio
Em meio às expectativas sobre o que será do futuro da chapa, Marina Silva tem dito a aliados desde a última quarta-feira que "não é hora de falar de política". A frase, segundo integrantes da Rede, é repetida por ela a qualquer um que tenta falar sobre o assunto. Aliados da ex-senadora disseram que dificilmente ela aceitará tratar dessa questão até o enterro de Campos.

‘Sou eu que vou abrir o processo para a nova candidatura’, diz Roberto Amaral

• Presidente do PSB, que já foi entusiasta de aliança com o PT, evitou falar sobre Marina

Paula Ferreira – O Globo

RIO— O presidente do PSB, Roberto Amaral, em entrevista ao GLOBO, nesta quinta-feira, assumiu a responsabilidade de conduzir o procedimento para a nova candidatura do partido à presidência. De acordo com ele, o trâmite só será feito após o sepultamento de Eduardo Campos. Roberto Amaral, que já foi entusiasta da aliança entre seu partido e o PT, evitou comentar sobre Marina Silva (PSB), que seria a sucessora natural de Campos na disputa.

— Acho um desrespeito alguém tratar desse assunto enquanto estamos coletando os pedaços do Eduardo. Sou eu que vou abrir o processo para a nova candidatura e isso não será feito enquanto ele não for enterrado— declarou Amaral.

Em nota oficial assinada por Amaral, o PSB afirma que está de luto e que as decisões a respeito do futuro da campanha presidencial serão tomadas "ao exclusivo critério" do partido: "O Partido Socialista Brasileiro (PSB) está de luto pela trágica morte de seu Presidente Nacional, Eduardo Henrique Accioly Campos, ocorrida em 13 de agosto de 2014. Recolhe-se, neste momento, irmanado com os sentimentos dos seus militantes e da sociedade brasileira, cuidando tão somente das homenagens devidas ao líder que partiu.A direção do PSB tomará, quando julgar oportuno, e ao seu exclusivo critério, as decisões pertinentes à condução do processo político-eleitoral.São Paulo, 14 de agosto de 2014".

Relação antiga com o PT
A relação de Amaral com o PT desperta questionamentos a respeito de seu apoio a uma eventual candidatura de Marina Silva. No ano passado, o líder do PSB, que é ex-ministro do governo Lula, chegou a sugerir a Eduardo Campos que desistisse da corrida eleitoral e apoiasse a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Na época, Amaral propôs que o candidato partisse para a disputa presidencial somente em 2018. O socialista foi quem articulou ainda a aliança do PSB com o PT do Rio, para apoiar Lindbergh Farias (PT) ao governo do estado.

Também em 2013, Roberto Amaral escreveu um polêmico artigo no qual chamou dois economistas ligados a Marina de "adversários estratégicos" e do "campo conservador". Na ocasião, quando foi dito que o político seria contra a candidata, o ex-ministro argumentou que poderia ter suas próprias opiniões dentro do partido e que as intrigas viriam de setores interessados em desestabilizar a sigla. No mesmo texto, Amaral defendeu os governos petistas sustentando que Lula viabilizou a emergência das massas, produziu riquezas e diminuiu as desigualdades do País e que Dilma dava continuidade ao binômio "desenvolvimento- distribuição de renda".

Embora Roberto Amaral tenha negado que o partido já esteja discutindo sobre a substituição de Campos, o GLOBO apurou que na manhã desta quinta-feira, líderes do PSB se reuniram em um hotel em São Paulo para tratar dos rumos da sigla na campanha e da remoção do corpo. Questionado pela reportagem sobre a necessidade de lançar rapidamente um novo nome, já que o horário eleitoral na TV e no rádio começa na terça-feira que vem, o presidente do PSB desconversou:

— O programa de TV será uma homenagem a Campos.

Na reunião do partido, estiveram presentes, além de Amaral, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), líder no senado, Beto Albuquerque (PSB-RS), líder na Câmara, o deputado Gláuber Braga, o presidente do partido no Rio, e o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

O prazo para a substituição da candidatura já começou a correr. Segundo a Justiça Eleitoral, o partido tem até dez dias para definir o novo candidato. De acordo com a lei, o substituto pode pertencer a qualquer legenda da coligação, que é composta por PSB, PPS, PHS, PRP, PPL e PSL.

Roberto Freire quer substituto de Campos para garantir segundo turno

• Presidente nacional do PPS admite que Marina é a substituição mais provável

Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse nesta quinta-feira que o partido, ao apoiar Eduardo Campos, apoiava uma candidatura alternativa e de oposição a Lula e ao PT. Segundo ele, a substituição terá que levar em conta isso: uma candidatura capaz de garantir a realização de um segundo turno e que trabalhe para derrotar Dilma Rousseff. Freire descartou deixar a coligação para apoiar, informalmente, a candidatura de Aécio Neves.

— Não somos adeptos da prática de algo que implique apoio por debaixo dos panos. Um dos motivos de apoiar Eduardo Campos era viabilizar o segundo turno nas eleições presidenciais. Agora, o novo candidato terá também que ter o compromisso de ser contra Dilma. O que preocupa é viabilizar isso, mas acho que é fácil — disse Freire, acrescentando:

— O que o PPS quer é (a substituição de Campos por) uma candidatura que viabilize o segundo turno. Se for o nosso candidato que for para o segundo turno, melhor. se isso não ocorrer, estaremos junto com a oposição para derrotar o lulo-petismo.

Freire afirma que não há clima para discutir isso neste momento e admite que a substituição mais provável é pela Marina, a vice na chapa. Segundo ele, não há data ainda para a reunião dos partidos da coligação, Indagado se há, no PPS, resistência ao nome de Marina Silva, Roberto Freire respondeu:

— Não afirmo (que não há resistência), mas não vejo esse sentimento. O sentimento de derrota ao lulo-petismo é forte para (o PPS) não ter candidato. Queremos que tenha segundo turno. Com Marina ou com qualquer outro candidato que se viabilizar.

Jarbas Vasconcelos:"A lógica da política recomenda a rápida ascensão de Marina",

• "A gente está lutando contra o destino e lutando contra o tempo. A gente tem o programa eleitoral daqui a cinco dias"

• "Pelo que conversei com Marina, pelo que li dela e pelo que a conheço, ela na não é contra o agronegócio"

Raquel Ulhôa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Após rompimento de 22 anos, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) reaproximou-se do então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em 2012. Foi uma aliança local, para a eleição à Prefeitura de Recife. Em outubro de 2013, Jarbas anunciou da tribuna do Senado apoio à união entre Campos e a ex-ministra Marina Silva, que classificou como "um episódio antológico da História com H maiúsculo".

Agora, com a morte de Campos, Jarbas defende sua substituição por Marina, vice em sua chapa. Mais do que isso, cobra do PSB e dos partidos que integram a coligação "Unidos para o Brasil" (PSB, PPS, PPL, PRP e PHS) pressa nessa decisão. "O que a gente perdeu na tragédia tem de ganhar com iniciativas", disse, em entrevista ao Valor.

Para Jarbas, não há dúvida que Marina deve disputar a Presidência da República em substituição de Campos pela "confiança recíproca" existente entre eles. "Política tem lógica. E a lógica da política nesse caso específico é a ascensão rápida de Marina [de candidata a vice] para presidente", afirma.

O senador disse que há "preconceito" em relação a Marina e admitiu que sua candidatura trará "ônus e bônus". Por isso, ela precisa deixar claro que não é contra o agronegócio e assumir os compromissos de Campos.

"Ela precisa arrebentar o preconceito, a indiferença e o medo. Ela tem que ser uma candidata leve, tem que dizer que, se ganhar a eleição no Brasil, não vai ter nenhuma tragédia. Ao contrário, vai ser um Brasil decente e correto. Vai ser um Brasil em que não apenas o homem que mora na periferia será ouvido. Vai ser ouvido o homem que mora na periferia, a classe média e o empresário."

Valor: O PSB quer decidir o futuro da chapa presidencial depois do sepultamento do governador Eduardo Campos. O senhor cobra pressa. Por quê?

Jarbas Vasconcelos: É hora de chorar, mas também de trabalhar. Temos que compatibilizar as duas coisas. A coligação tem dez dias para resolver. Política tem lógica. E a lógica da política nesse caso específico é a ascensão rápida de Marina [de candidata a vice] para candidata a presidente. Que ela ascenda para a posição de Eduardo.

Valor: O senhor não tem dúvida de que Marina deve assumir?

Jarbas Nenhuma, nenhuma, nenhuma. Pela confiança recíproca que existia. Havia uma confiança entre os dois. Ele me disse isso. Eu vi de público e pessoalmente, ele conversando comigo. Então é natural. A candidatura da Marina pode causar algum dano aqui, acolá... Vai causar algum dano aqui e acolá. Pode desmanchar alguma coisa que estava feita. Mas política é risco. Tem que ser feito. Então eu defendo a ascensão rápida, o mais rápido possível, que não seja cumprido o prazo. A gente tem programa eleitoral terça-feira. Daqui para terça-feira, faltam cinco dias. Então a gente tem que correr com isso.

Valor: O programa deveria começar com a chapa definida?

Jarbas: Acho. Por que não? Por que não tirar esse final de semana para resolver isso? Se a gente perder um ou dois programas eleitorais será ruim. Só há 19 programas. As inserções já podem ser gravadas na segunda-feira com o novo candidato, para veiculação na terça.

Valor: E o vice? Deve ser do PSB?

Jarbas: Tem que fazer uma escolha casada. Marina ascende e escolhe o vice dentro da coligação. Eu acho que Marina, que está de passagem pelo PSB, deve disputar a presidência, com uma pessoa do PSB de vice. Ela não esconde de ninguém que está de passagem pelo PSB, até criar a Rede. Mas não quero me meter nisso, porque eu não pertenço à coligação.

Valor: Já falou com o PSB sobre essa urgência?

Jarbas: Liguei cedo para Geraldo Júlio [prefeito de Recife e um dos coordenadores regionais da campanha de Campos], única pessoa de coordenação que está aqui, porque a chapa majoritária está toda em São Paulo. Seguiram o Paulo Câmara [candidato do PSB ao governo], o Raul Henry [deputado do PMDB, candidato a vice na chapa de Câmara] e o Fernando Bezerra Coelho [candidato ao Senado]. Eu disse que o momento era muito grave e me coloquei à disposição dele. A gente está lutando contra o destino e lutando contra o tempo. O tempo não é favorável. A gente tem o programa eleitoral daqui a cinco dias.

Valor: O senhor não teme que a Marina enfrente muita dificuldade para manter a coesão dos aliados de Campos? Inclusive no PSB?

Jarbas: Ela pode desarrumar coisas já arrumadas, mas, por outro tempo, vai trazer bônus. Tem ônus e tem bônus. Tem coisas que são negativas, mas tem coisas que são muito positivas, como o capital eleitoral dela entre a juventude, na periferia das cidades, entre as pessoas mais humildes, no setor de igreja, de religião.

Valor: Qual discurso Marina deve assumir para conquistar setores que têm resistência a ela, no meio empresarial e no agronegócio, por exemplo?

Jarbas: Pelo que conversei com Marina, pelo que li dela e pelo que a conheço, Marina não é contra o agronegócio. Ela tem que explicar a questão do agronegócio, que nunca foi bem explicada. Pode colocar na minha boca a frase que eu queria que Eduardo dissesse: ninguém pode ganhar eleição sem o agronegócio nem ninguém administra o Brasil sem o agronegócio. Eu havia pedido ao Eduardo para cunhar essa frase.

Valor: Mas ele não chegou a ser tão explícito...

Jarbas: Acho que não faz mal nenhum que agora isso seja esclarecido. Mesmo que não seja ela, mas que a linha do programa eleitoral seja essa.

Valor: A resistência do setor produtivo à ex-ministra não está restrita ao agronegócio.

Jarbas: Há também um preconceito. Embutido nisso é um preconceito. Ela precisa arrebentar o preconceito, a indiferença e o medo. Ela tem que ser uma candidata leve. Tem que dizer que, se ganhar a eleição, não vai ter nenhuma tragédia. Ao contrário, vai ser um Brasil decente e correto. Vai ser um Brasil que vai ser ouvido. Não vai ser ouvido só o homem que mora na periferia. Vai ser ouvido o homem que mora na periferia, a classe média e o empresário. Ela deve assumir todos os compromissos do Eduardo, até porque ele assumiu ao lado dela.

Valor: Mas tinham divergências.

Jarbas: Tinham, mas sempre disseram que as divergências estavam muito conversadas. Vendiam abertamente a imagem de uma dupla que estava afinada. Que ninguém jogasse no choque entre os dois. Isso ficou muito claro.

Valor: Os dois sempre foram críticos do presidencialismo de coalizão e defensores de uma "nova política". Como Marina, se eleita, conseguiria governar?

Jarbas: Ela não precisa de uma base ampla, com toma-lá-dá-cá. Base ampla só dá problema. Ela precisa da base necessária. Essa é a verdadeira governabilidade, a nova política.

Valor: Se eleita, teria condições de garantir segurança jurídica e medidas atrativas a investimentos?

Jarbas: Não tenho a menor dúvida. O problema dela é com o agronegócio. Com os grandes e os pequenos, que têm medo de ser prejudicados. Esse tem que ser o foco dela: assumir e explicitar a garantia do cumprimento de contratos, da segurança jurídica. Quanto à capacidade de atrair investimentos, se ela quer uma economia sustentável, vai ter que ir atrás. Ela tem um discurso muito claro contra tudo isso que está aí. Contra a falta de investimentos, contra o avanço do Brasil e o desarranjo da democracia.

Valor: Qual o impacto da morte do ex-governador na eleição de Pernambuco, já que o candidato do PSB, Paulo Câmara, dependia do apoio dele?

Jarbas: No momento em que colocar no ar as gravações que Eduardo tinha feito para ele, elas não vão operar milagres, mas vão esclarecer as posições. O Paulo Câmara vai aparecer como o candidato de Eduardo. Eu já tinha certeza de que ele iria crescer. Isso agora vai se juntar à emoção e à comoção. Ele vai crescer e com amplas chances de ganhar.

Valor: Com a lacuna deixada na política de Pernambuco, o senhor pensa em retomar o protagonismo político no Estado?

Jarbas: Posso fazer isso. Vou conversar com a chapa majoritária, vou conversar com o prefeito de Recife, Geraldo Júlio, com outras lideranças do PSB local, com Roberto Freire [presidente do PPS], que é daqui de Pernambuco e tem influência no Estado. A gente precisa consolidar as coisas e avançar.

Valor: O senhor ficou rompido com Eduardo Campos por mais de 20 anos...

Jarbas: Comecei com o avô dele, Miguel Arraes, e ele era muito jovem. Quando ganhei a eleição para prefeito do Recife, ele tinha 20 anos e foi trabalhar comigo na prefeitura [Campos foi chefe de gabinete do secretário de governo, Fernando Correia]. Depois trabalhamos na eleição de doutor Arraes, em 86. Vieram as desavenças, mas depois a gente ficou com um ponto de vista muito comum com relação ao PT. A união começou por aí. Quando eu disse num programa que ele, agarrado com o PT, não iria para lugar nenhum. Eduardo foi o político mais brilhante de sua geração. Com uma inteligência, determinação e capacidade de trabalho admiráveis. O desaparecimento dele é praticamente uma perda irreparável para a política brasileira. E, sobretudo, para os familiares e amigos. Era um exemplar chefe de família e tinha um círculo de amizades muito grande.

Valor: Marina tem chance de ser eleita?

Jarbas: Tem chance e deve ser feito de imediato. Temos de correr com isso, para ganhar tempo. O que a gente perdeu na tragédia tem de ganhar com iniciativas.

Merval Pereira: Por baixo dos panos

- O Globo

Ao sentir que existe o perigo de o PSB tomar um rumo diametralmente oposto ao traçado por Eduardo Campos em sua campanha, apoiando oficialmente ou em uma aliança branca a reeleição da presidente Dilma Rousseff, sua família não se furtou a definir uma posição a favor da candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência da República.

Seu irmão, também membro do diretório nacional do partido, disse que a vontade de Campos seria que Marina o sucedesse. O filho mais velho, João, postou no Facebook uma mensagem direta: as bandeiras de meu pai precisam ser levadas adiante.

Quem as representará melhor? Marina, que era sua vice, ou Dilma, que era seu alvo preferencial?

Enquanto a direção nacional do partido, tendo o novo presidente Roberto Amaral à frente, se escudava no luto oficial para adiar a discussão da sucessão, por baixo dos panos as negociações já começaram, especialmente através do ex-presidente Lula, para que o PSB não lance candidato próprio, ou lance um nome de sua base política que não seja Marina, a pretexto de preservar a estrutura partidária.

Na verdade, além do interesse político de recolocar o PSB na base aliada governista, há a preocupação de ala importante da direção nacional da legenda de não perder o controle sobre a máquina partidária. Com a assunção de Marina Silva à condição de candidata oficial do condomínio PSB-Rede, o controle da campanha passará naturalmente para os seus aliados. É Marina, e não qualquer outro político do PSB, que detém hoje uma expectativa de poder altamente avaliada, e por isso os candidatos pelo país afora devem também pressionar a direção nacional para que ela seja a escolhida.

Marina não dará nenhum passo para ser indicada, e terá que ser convidada pela direção nacional dos partidos aliados, na sua maioria já dispostos a apoiá-la. Ela sem dúvida começa a campanha com alto potencial de crescimento, e deverá atrair boa parte dos eleitores que hoje se declaram indecisos, ou dispostos a anular o voto, especialmente os jovens, que já começaram nas redes sociais campanha pela sua candidatura.

Embora se apresente como alternativa ainda mais viável à polarização PT/PSDB, num primeiro momento Marina deve tirar mais votos de Dilma do que de Aécio Neves, mas pode retardar o crescimento dos tucanos. Uma perspectiva radicalmente oposta ao quadro atual, que Eduardo Campos gostava de lançar nas conversas, era a possibilidade de ele ir para o segundo turno contra Aécio Neves, com a presidente Dilma ficando de fora.

Essa hipótese se torna mais possível, embora improvável, com a candidatura de Marina, que acrescenta elementos novos à disputa. A ex-senadora terá, no entanto, mais dificuldades em sua campanha do que teria Eduardo Campos, já que ela não contará com um partido unido a apoiá-la.

O PSB entrará em disputa interna, e também com a Rede, o que é perigoso para uma campanha majoritária. Além do mais, acordos feitos por Eduardo Campos em vários estados poderão reagir a uma candidatura Marina. O PMDB do Mato Grosso do Sul, por exemplo, com a candidatura de Nelsinho Trad, de uma família do agronegócio, já anunciou que reverá a aliança.

Em Pernambuco, o PSDB acha que agora tem espaço para polarizar com a presidente Dilma porque Marina não terá um terço dos votos que Eduardo teria, e um eleitorado de oposição ficará em busca de um candidato. Em São Paulo desaparece a campanha para o PSB, pois Marina foi contra a aliança.

Os apoios estruturais, montados com candidatos a deputados, ela não terá em São Paulo, onde foi muito bem votada em 2010. Pode repetir a boa votação na capital, mas no interior a falta de estrutura a prejudicará. Em Santa Catarina, o grupo político dos Bornhausen, que lançou Paulo Bornhausen ao Senado, não tem ligações com Marina e tende a apoiar o candidato tucano à Presidência.

Em Alagoas, Marina se recusava a subir no palanque do senador Benedito de Lira, do PP, candidato ao governo apoiado por Campos. Em Mato Grosso, o senador Pedro Taques, do PDT, que apoiava Campos, já anunciou que mudará para apoiar a candidatura de Aécio Neves.

Como se vê, são muitas as alternativas abertas com a saída de cena de Eduardo Campos, e é impossível prever o que acontecerá. Quem disser, a esta altura, que sabe o que vai acontecer, estará errando.

Dora Kramer: A sangue quente

- O Estado de S. Paulo

Se ainda não há fatos a comentar, só nos resta raciocinar sobre hipóteses. É assim, meramente hipotético, que se desenha o horizonte eleitoral a partir da morte do candidato do PSB, Eduardo Campos.

No necessário afã de analisar o quadro por ora presumido (inexistente do ponto de vista estrito da realidade), as premissas não necessariamente estão corretas e, portanto, as conclusões de hoje podem ou não se realizar.

De onde convém conferir a elas peso relativo. Rezou o consenso nas análises políticas feitas a sangue quente logo após a confirmação do acidente que a eleição presidencial virou de cabeça para baixo, voltou ao ponto zero, sofreu uma mudança radical e que nada do que aconteceu até agora pode ser considerado.

Houve até quem dissesse que as pesquisas de opinião deveriam ser rasgadas, por inúteis. Um exagero, pois não medem apenas as intenções de votos entre os candidatos. Por outra, registram as respectivas taxas de rejeição, as posições do eleitorado de acordo com as faixas etárias, de renda, escolaridade, distribuição de votos por regiões, dados importantes que não se perdem como referência.

Evidentemente, haverá mudança no cenário. Só não é possível - fora do terreno da especulação - dizer ainda qual a dimensão dela nem em que qual direção será. Nos mais das vezes as variáveis mais lógicas contrariam o resultado esperado. A realidade costuma ser desobediente.

Por exemplo: quando Eduardo Campos e Marina Silva anunciaram a inesperada aliança, em outubro de 2013, a interpretação da maioria dos analistas (entre os quais me incluo) foi a de que haveria um abalo na eleição, que a tradicional polarização entre PT e PSDB estaria definitivamente ameaçada e que aquela união alteraria o quadro de maneira acentuada.

A tragédia do avião que caiu em Santos não permitiu que soubéssemos o restante da história, mas até aqui o roteiro não havia obedecido ao previsto: com a exposição inicial proporcionada pelo lance político, o candidato do PSB chegou a alcançar 15% nas pesquisas, mas depois voltou ao patamar entre 8% e 9%, enquanto foi se confirmando concentração da disputa entre Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves.

Eduardo Campos estava com dificuldade para explicar seu discurso sobre a "nova política", era muito cobrado a respeito das fontes de recursos para executar as propostas que apresentava, carregava a tarefa de aparar arestas em setores refratários à sua vice Marina Silva e, ao mesmo tempo, a missão de seduzir o eleitorado identificado com o simbolismo da antipolítica representado por ela.

E agora? Agora há pouquíssima margem para manobras. A lei eleitoral dá ao PSB dez dias, a contar de ontem (14), para registrar outra candidatura no Tribunal Superior Eleitoral ou abrir mão de disputar a Presidência. O prazo vence no sábado (23).

A direção do partido bem como a candidata a vice até ontem se recusavam a conversar sobre o futuro antes de concluídas as homenagens fúnebres a Eduardo Campos. As lideranças do PSB estavam em São Paulo ocupadas com a liberação dos restos mortais para o velório e enterro, no Recife.

Isso aconteceria no fim de semana ou até depois, pois a viúva de Eduardo Campos, Renata, determinou que o corpo do marido só fosse liberado junto com o das outras seis vítimas. Sobraria muito pouco tempo para uma decisão política. O que encaminha a solução para a saída mais natural, que é o nome de Marina Silva.

Isso por si só zera o jogo? Depende. De vários fatores. Do comportamento do eleitorado que pode não ser o mesmo que deu a ela 20 milhões de votos em 2010; do PSB, cujo controle estava nas mãos de Eduardo Campos; da repercussão no eleitorado do Nordeste; na durabilidade da comoção nacional que lamentavelmente só fez o País despertar para a qualidade de Eduardo Campos após a sua morte.

O PSB fica num dilema: vai com Marina ou racha com ela ou sem ela.

Eliane Cantanhêde: O fator Marina

- Folha de S. Paulo

Clériston Andrade era o favorito ao governo da Bahia, em 1982, quando morreu num acidente de helicóptero às vésperas da eleição. Seu sucessor, João Durval Carneiro, ganhou espetacularmente depois de uma campanha relâmpago empurrada pela comoção e por Antonio Carlos Magalhães, o ACM.

O Brasil não é exatamente a Bahia, 2014 não é 1982, e o líder mais próximo ao que já foi ACM é Luiz Inácio Lula da Silva, que está com Dilma. Mas com Marina Silva não se brinca.

Evangélica, carismática, com uma biografia de romance, Marina acumulou um rico capital de votos em 2010 e teve 27% de intenções de voto no Datafolha de abril, quando nem era candidata. A quanto ela poderá ir nas próximas pesquisas?

Dilma Rousseff e Aécio Neves, tremei. No rastro da comoção nacional pela morte estúpida de Eduardo Campos, apoios da família dele à sua vice serão avassaladores. O irmão, Antônio, já se manifestou publicamente. E quando a mulher, Renata, ladeada pelos cinco filhos, inclusive o bebê Miguel, lançar Marina? E quando a mãe, Ana Arraes, apadrinhar a candidatura aos prantos?

Se Marina tem a força eleitoral, Eduardo Campos é quem tinha o poder político. Cabe agora a ela somar as duas coisas para se tornar uma candidata competitiva. Aliás, para se tornar candidata. Não será fácil.

O PSB, que batia continência a Campos, terá --já tem-- restrições à "agregada". Afinal, Marina nunca escondeu que o PSB era um ritual de passagem até a criação da Rede.

O PSB ligado aos tucanos, liderado por Márcio França, de São Paulo, não tem força para puxar o partido para Aécio. Mas o PSB do agora presidente Roberto Amaral pode muito bem empurrá-lo de volta aos braços de Lula e Dilma.

Resta saber quem, no partido, vai trocar a grande novidade da campanha, com altos índices nas pesquisas, por outra que tem alta rejeição e é alvo de enormes críticas --como foi, inclusive, de Eduardo Campos.

Marcos Nobre: Depois da tragédia

• Marina ruma para mais um casamento de conveniência

Valor Econômico

Amigos e próximos de Eduardo Campos sempre lembram sua impressionante capacidade de imitar políticos conhecidos. É um traço de personalidade que exige talento e paciência para observar. É um talento que só se desenvolve com muito exercício, ao longo de anos e que costuma vir acompanhado de uma capacidade fina para analisar pessoas e cenários políticos. Para o país, a tragédia é saber que produzir um imitador como esse exige gerações. E décadas de determinação e de esforço pessoal.

Não se conhece de Marina nenhum pendor para a imitação. Mas é conhecida sua determinação e capacidade de análise política. Quando, ao longo do governo Lula, era fustigada de todos os lados e acusada de desempenhar papel meramente decorativo, persistiu na missão de levar a problemática ambiental para o centro da agenda. Quando, em 2009, era generalizada a ideia de que sua candidatura à Presidência era uma aventura, a aventureira alcançou nada menos do que 20% dos votos válidos no primeiro turno da eleição de 2010.

O que uniu Eduardo e Marina foi uma análise convergente do quadro político. Essa análise dizia que um acordo tácito entre PT e PSDB servia apenas para manter uma liderança inconteste do PT no condomínio de governo e inviabilizar a entrada de outras candidaturas. O PSDB praticava uma opção passiva, esperando que o acaso da conjuntura lhe jogasse o poder no colo. Estava satisfeito com a contrapartida dada pelo PT de mantê-lo como espantalho eleitoral, sem incomodar na gerência de Estados tão expressivos quanto São Paulo e Minas Gerais.

Esse jogo encenado de situação e oposição só fez reforçar um quadro em que toda aliança fisiológica passou a se justificar internamente em nome da manutenção do PT na liderança do condomínio de governo. E não de todo o PT, mas de certo grupo majoritário dentro do partido que gira em torno de Lula. Mesmo quando perdeu todos os seus quadros mais destacados, no rastro do mensalão, a opção foi por Dilma, que não tinha vida partidária ou qualquer experiência eleitoral. Até aquele momento ainda filiada ao PT, o nome de Marina sequer foi cogitado, por exemplo.

Essa estratégia para se manter como síndico do condomínio de poder tomou contornos ainda mais acentuados com a mudança de tática eleitoral do PT a partir das eleições municipais de 2012. Ficou claro ali que tinha se encerrado a tática histórica de conferir prioridade absoluta à eleição presidencial, deixando ao resto dos condôminos parte substancial do butim nos demais níveis de governo. A partir de 2012, o PT deixou claro que iria investir em duas frentes de maneira mais ou menos equânime: na eleição presidencial e nos maiores colégios estaduais (o que tem como efeito secundário decisivo a eleição de uma maior bancada no Congresso).

Foi nesse momento que Eduardo percebeu que até mesmo seu espaço de aliado histórico do PT estava ameaçado. Era necessário partir para uma posição ofensiva. A partir daquele momento, apenas defender o espaço conquistado tinha se tornado arriscado demais, uma atitude derrotista. Um sinal dessa incapacidade do PT de construir verdadeiras coalizões políticas, mesmo entre aliados históricos, já tinha lhe aparecido em 2006, quando da duríssima oposição do partido líder do condomínio à sua candidatura ao governo de Pernambuco.

A aliança de Eduardo e Marina não se parecia em nada com tentativas anteriores de romper o bloqueio PT-PSDB, como as apostas freelancer de um Ciro Gomes ou de um Anthony Garotinho. A consistência das carreiras políticas e dos personagens, a consistência da estranha aliança tática que fizeram apontava para uma novidade de grande importância no cenário. O que aproximou Eduardo e Marina foi a condição de excluídos pelo jogo combinado PT-PSDB, unindo dois modos de atuação e dois conjuntos de objetivos políticos muito distintos. Marina em sua tática de outsider, Eduardo Campos em sua habilidade de operar no interior do sistema político.

Para se ter uma ideia da habilidade de Eduardo, basta pensar em como uniu seu partido em torno do que pareceria o mais arriscado dos passos para um sócio minoritário do condomínio de governo, lançar uma candidatura independente. Eduardo estimulou alianças sólidas e duradouras do PSB com o PSDB, especialmente nos Estados mais importantes comandados pelos tucanos. Com isso, produziu uma divisão no interior do partido entre quem se inclinava por manter a aliança com o PT e quem pretendia migrar para a candidatura do PSDB. Foi assim que a candidatura própria surgiu como única forma de conciliar o partido, foi assim que ele mesmo se consolidou como candidato a presidente.

Isso significa que só Eduardo representava a união entre essas forças divergentes dentro do partido, o que quer dizer que a guerra pelo poder dentro do PSB já está declarada. Mas, dada a correlação de forças, um racha pode facilmente se tornar suicídio político, caso um lado tente se impor sobre o outro neste momento. Também por isso, Marina aparece como a única solução no momento. Se Marina for confirmada como candidata à Presidência, vai acontecer com o PSB o que já acontece com todos os partidos que não o líder do condomínio no poder: a candidatura presidencial fica com o tempo de TV e cada qual vai apoiar quem bem entender.

Sendo confirmada candidata, Marina está, do ponto de vista político, na situação em que joga mais à vontade: como outsider. Vai estabelecer uma relação com o PSB semelhante à que estabeleceu com o PV em 2010, de pura conveniência. Pertence a Maria Cristina Fernandes, em seu livro eletrônico "Os Candidatos" (Companhia das Letras, 2014) a observação arguta: mesmo sendo o grande imitador que era, não há registro de que Eduardo tenha alguma vez imitado Marina. Excede agora em importância o registro de que Marina não ter qualquer inclinação ou intenção de imitar quem quer que seja.

Marcos Nobre é professor de filosofia política da Unicamp, pesquisador do Cebrap