sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Opinião do dia: Perry Anderson

Em nível nacional, praticamente em toda parte, os Executivos domesticam ou manipulam os Legislativos com grande desembarço; partidos perdem membros, eleitores perdem a crença na própria relevância, enquanto as opções políticas se estreitam e as diferenças propagandeadas nas campanhas eleitorais diminuem ou desaparecem quando os eleitos assumem o poder.

Com essa involução generalizada veio uma corrupção que se difundiu pela classe política, tópico a respeito do qual a ciência política – muito loquaz naquilo que, na linguagem dos contadores, é chamado de déficit democrático – silencia.As formas dessa corrupção ainda não foram plenamente sistematizadas. Existe a corrupção pré-eleitoral: o financiamento de pessoas e partidos por fontes ilegais – em troca da promessa, explicita ou tácita, de favores futuros. Existe a corrupção pós-eleitoral: o uso do cargo para obter dinheiro pela malversação de receitas, ou por propinas em contratos. Existe a compra de vozes ou votos nos parlamentos. Existe o roubo direto do erário. Existe o enriquecimento resultante do exercício de cargo público, antes, durante ou depois.

Perry Anderson (Londres, 1938) é um historiador marxista, professor de História e Sociologia na UCLA e editor da New Left Review. Berlusconização da Política. Revista Piauí, pp. 46-55, agosto de 2014

Energia pode subir 24% com socorro a elétricas

• Distribuidoras terão novo socorro, de R$ 6,6 bi. mercado prevê alta de 24% na tarifa ano que vem

Danilo Fariello, Martha Beck, Ramona Ordoñez e Victor Furtado* - O Globo

Crise do setor elétrico

BRASÍLIA, RIO E BELÉM - Os consumidores terão que arcar com um custo de, pelo menos, R$ 23,3 bilhões em suas contas de luz, a partir do ano que vem, decorrente dos empréstimos tomados pelas distribuidoras de energia elétrica junto a um grupo de bancos. As operações somam R$ 17,8 bilhões, mas o cálculo considera também os juros. Ontem, o Ministério da Fazenda confirmou o segundo empréstimo para ajudar o setor elétrico, no valor de R$ 6,6 bilhões, com recursos de oito instituições financeiras. Segundo fontes do governo, o impacto estimado nas tarifas é de 11,7% em 2015. O mesmo percentual seria aplicado em 2016. No setor privado, no entanto, as previsões indicam reajustes ainda maiores. Estimativa feita pela Safira Energia aponta impacto total de 24,1% em 2015, conforme O GLOBO antecipou no mês passado. A consultoria diz que somente o empréstimo anunciado ontem tem impacto de 2,9% na tarifa do próximo ano. Já a Thymos Energia segue a mesma tendência e prevê impacto total nas tarifas em 2015 entre 20% e 25%.

- Essa "bolha" de custos será dividida entre todos os consumidores nos próximos cinco anos, ou seja, somente em 2020 as tarifas voltarão aos patamares de 2014 - disse Ricardo Savoia, diretor de Regulação e Gestão em Energia da Thymos.

As previsões do setor privado não levam em conta o efeito do vencimento de contratos de hidrelétricas a partir de 2015, o que deve colocar volume considerável de energia no mercado a preço mais baixo. O governo conta com este fator para aliviar as tarifas no próximo ano.

Bancos exigem juro maior
Para fechar o segundo empréstimo ao setor elétrico, anunciado ontem, o governo teve que aceitar uma taxa de juros mais alta em relação ao primeiro, de R$ 11,2 bilhões, contratado em abril. A operação foi fechada com Certificado de Depósito Interbancário (CDI), mais 2,35% ao ano. No anterior, a taxa era CDI mais 1,9%.

Os bancos consideraram excessiva a concentração de R$ 17,8 bilhões em apenas um segmento da economia. Os cálculos das instituições financeiras foram influenciados pelo excesso de ingerência política do governo no setor elétrico. Participam dessa segunda operação: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Santander, Itaú, BTG Pactual, Citibank e BNDES.

- As instituições alegam que o nível de exposição conjunto das instituições ao setor elétrico aumenta (com o novo empréstimo). Se eu tivesse R$ 10 bilhões para emprestar, preferiria emprestar parte ao setor elétrico, parte ao setor industrial e ao agronegócio, para diluir risco. Se concentro tudo no setor elétrico e ele tem algum problema, naturalmente, na percepção da gestão de risco, ele fica maior. E, portanto, o custo do dinheiro é um pouco mais alto. Essa é a lógica - disse ao GLOBO o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino.

Essa concentração de risco reduziu a participação de bancos privados na operação de 11 para cinco e exigiu o ingresso do BNDES com parcela de R$ 3 bilhões. Os demais bancos ficaram com R$ 3,6 bilhões, dos quais R$ 1,5 bilhão de outros bancos públicos, o Banco do Brasil e a Caixa, em parcelas iguais. Segundo a Fazenda, porém, a participação de cada instituição no novo empréstimo não é definitiva, porque seis bancos ainda avaliam a possibilidade de entrar na operação.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, explicou que, se algum desses seis bancos quiser participar, os que já deram sinal verde poderão ceder espaço, sem que exista aumento no valor do empréstimo. Segundo ele, o aumento das taxas de juros é natural para o mercado financeiro:

- Toda operação que se submete a uma operação anterior tem a tendência a ter um custo mais alto.

Além dos empréstimos, o setor elétrico recebeu, até agosto, aportes de R$ 6,45 bilhões do Tesouro Nacional na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), destinada a cobrir os custos das distribuidoras com o uso de energia térmica e com a compra de energia no mercado à vista. O número deve chegar a R$ 13 bilhões até dezembro.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Fonseca Leite, o novo empréstimo é suficiente para cobrir o déficit até o fim do ano. De janeiro a junho, a conta foi de R$ 13,7 bilhões, mas, segundo ele, a demanda ficou menor por conta da conjuntura:

- A crise agora é mais amena.

Governo descarta racionamento
A Fazenda prevê quatro desembolsos do empréstimo de R$ 6,6 bilhões a partir da próxima semana. Romeu Rufino, da Aneel, informou que o volume de pagamentos dos bancos ao setor elétrico deverá seguir a necessidade mensal das distribuidoras. Caffarelli fez questão de afirmar que o empréstimo será a última ajuda dos bancos ao setor elétrico em 2014 e que não há previsão para que isso ocorra em 2015:

- Não teremos mais operação para o setor elétrico em 2014 e não há previsão de nenhuma operação em 2015.

O secretário executivo da Fazenda assegurou que o quadro do setor está melhor, sem risco de racionamento:

- Descartamos possibilidade de qualquer tipo de racionamento e conseguimos atestar e comprovar isso. O risco de racionamento no Brasil hoje é zero. Os estudos hidrológicos atestam isso.

Assim como no primeiro empréstimo, os reajustes das contas de energia em 2015 e 2016 serão usados como garantias para a operação. A partir do próximo ano, os consumidores já sentirão os efeitos dessa operação nos reajustes aplicados a partir de fevereiro. Mas Caffarelli não quis estimar o impacto dos empréstimos nas tarifas.

- Se vai ter ou não aumento da energia elétrica, não depende apenas do empréstimo, mas de diversas variáveis. Uma delas é chuva. O setor vai ter mais 5 mil megawatts médios no ano que vem.

Em outro sinal da crise do setor, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou informações à Aneel e à Celpa, distribuidora do Pará, para apurar o reajuste de 34,34% para baixa tensão e 36,41% para a alta tensão (comércio e indústrias) na tarifa de energia elétrica paraense. O aumento já foi autorizado pela agência.

Bancos públicos vão arcar com 70% do socorro às elétricas

• Dos R$ 6,6 bilhões emprestados, R$ 4,5 bilhões virão de BNDES, BB e Caixa

• Operação, segunda a ser montada neste ano, visa pagar por energia mais cara sem elevar tarifa em ano eleitoral

Sofia Fernandes, Valdo Cruz - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em sua estratégia para evitar reajustes extras de tarifas ou mais sangria no caixa do Tesouro no ano eleitoral, o governo anunciou nesta quinta (7) a segunda rodada de empréstimos para socorrer as distribuidoras de energia elétrica, no valor de R$ 6,6 bilhões e a juros mais altos.

A nova operação conta, até agora, com a participação de oito bancos --três públicos e cinco privados--, que vão receber juros mais altos para bancar o financiamento. O governo afirma que esse será o último empréstimo.

Ao todo, o governo negociou R$ 17,8 bilhões com instituições financeiras neste ano, um pouco mais da metade de bancos públicos, para que as distribuidoras possam pagar pela energia mais cara que estão sendo obrigadas a comprar.

Sem esses empréstimos, o governo teria de socorrer as distribuidoras de energia elétrica com recursos do Tesouro em valor semelhante ao dos empréstimos, o que se mostrou inviável diante da queda na receita provocada pela retração da economia.

Ou teria de optar por reajustes extras de tarifas já neste ano, num momento em que a inflação segue acima dos 6%, o que poderia estourar o teto da meta, de 6,5%.

A segunda rodada de empréstimo terá juros de 2,35% ao ano, mais correção pelo CDI (Certificado de Depósito Interbancário), com prazo de carência até outubro de 2015 e pagamento entre novembro do ano que vem e novembro de 2017. A primeira operação, de R$ 11,2 bilhões, teve taxa de 1,9%, mais CDI.

"A equação do setor elétrico não se faz apenas de empréstimo. Estou afirmando que não teremos mais empréstimo e não consta no planejamento do ano que vem nenhum tipo de empréstimo", disse o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Cafarelli.

Questionado sobre se haverá novo aporte do Tesouro, caso as distribuidoras precisem de mais recursos, o secretário afirmou "não sei" e explicou que, dentro do compromisso do Tesouro de R$ 13 bilhões com o setor elétrico neste ano, o órgão já gastou R$ 6,45 bilhões até agora.

A operação já tem garantida a participação de sete bancos --Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco, Itaú, Santander e BTG Pactual (como antecipou a Folha) e Citibank--, além do BNDES, que vai arcar com R$ 3 bilhões da operação.

Segundo Caffarelli, outros seis bancos ainda avaliam a proposta. O prazo para novos participantes é o dia 15, quando o dinheiro estará disponível às distribuidoras.

Como na primeira rodada, a garantia são os encargos cobrados pelas distribuidoras.

Os R$ 3,6 bilhões da operação que serão bancados pelos demais bancos, fora o BNDES, serão distribuídos seguindo a proporcionalidade do empréstimo anterior, afirmou o secretário. BB e Caixa devem entrar, cada um, com R$ 750 milhões. Na primeira rodada, foi R$ 2,45 bilhões cada um. Bank of America, Credit Suisse e JPMorgan são os bancos que participaram da primeira rodada e não confirmaram presença na segunda.

Graça Foster fica no meio do tiroteio

• Integrantes da CPI Mista da Petrobras vão tentar convocar novamente a presidente da estatal, que corre o risco de ter os bens bloqueados pelo TCU. Governistas prometem impedir a manobra

Étore Medeiros – Correio Braziliense

A oposição quer evitar que o recesso branco no Congresso, esvaziado pelo período de campanhas, prejudique o andamento dos trabalhos das CPI Mista da Petrobras. A ideia é convocar novamente a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, e aumentar a pressão sobre a dirigente, que pode ter os bens bloqueados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) ao ser incluída no grupo de responsáveis pela desastrosa compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006.

Na quinta-feira, mesmo após chegar a ler o voto em que se coloca favorável ao bloqueio do patrimônio de Graça Foster, o ministro relator do caso na Corte de contas, José Jorge, tirou o processo da pauta de julgamentos para analisar as considerações feitas pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Na defesa, Adams argumentou que a pena imposta à presidente da estatal seria "gravíssima" e poderia comprometer a imagem da própria Petrobras.

O suposto repasse de "gabaritos" para depoentes da CPI da Petrobras no Senado suscitou uma avalanche de requerimentos da oposição na comissão mista que investiga a estatal, para que sejam convocados, além de Foster, outros dirigentes da empresa, servidores da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), ligada à Presidência da República, assessores parlamentares e o senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Para aprovar os pedidos de convocação, os opositores pedem uma sessão extra do colegiado, já na próxima quarta-feira — quando será ouvido o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. A base aliada recusa a nova reunião deliberativa, alegando que é preciso esperar pelas investigações já em curso da Polícia Federal e da comissão de sindicância instalada no Senado.

"Há uma forte tendência de serem aprovados (novos requerimentos de convocação), o problema é que não temos sessão deliberativa", explica o deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR). Autor de cerca de um terço dos requerimentos protocolados na CPMI, o parlamentar confia no pedido de sessão extra feito para o presidente da comissão, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). "Ele tem sido, no limite das suas forças, muito correto, ajudando a CPMI a avançar". Esperançoso, Bueno acredita que mesmo as campanhas não impedirão a formação de quórum para votação dos novos pedidos. "Tendo convocação, não vejo por que não termos quórum. Os parlamentares podem vir de manhã e voltar à noite. Parlamentar que não quer trabalhar tem que pedir licença", ironiza.

Requerimentos
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), assegura que não há acordo para o agendamento de uma sessão deliberativa na próxima semana, especialmente se o objetivo for convocar os envolvidos no caso dos gabaritos. "Se for convocada", promete, "estaremos presentes para não aprovar. Já aprovamos mais de 200 requerimentos que precisam ser levados em consideração", argumenta.

Costa diz que as reuniões entre integrantes da SRI, assessores parlamentares e depoentes da CPMI são naturais e não caracterizariam crime algum. "É preciso aguardar os resultados da investigação da Polícia Federal e a sindicância Senado", defende. "A oposição quer palanque demais, mas nós não vamos dar", acrescentou o senador.

Governo conta com aposentadoria de Jorge

• Ministro do TCU José Jorge, relator do caso sobre compra de refinaria, diz que vai dar parecer sobre bloqueio de bens de Graça Foster até novembro

Vera Rosa, João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo conta com a aposentadoria do ministro do Tribunal de Contas da União José Jorge, em novembro, para adiar a decisão sobre o bloqueio de bens da presidente da Petrobrás, Graça Foster, pelo menos até a eleição. Na avaliação do Palácio do Planalto, um veredicto desfavorável à presidente da estatal atingiria não só a imagem da companhia, num momento de crise econômica, como causaria danos políticos à campanha da presidente Dilma Rousseff.
"Vou me aposentar, mas não vou deixar de herança esse processo", disse José Jorge, que é relator do caso no TCU. O ministro completará 70 anos daqui a três meses e vai se aposentar por idade, mas promete apresentar o parecer sobre o assunto antes de sua última sessão no TCU, em 11 de novembro.

Na prática, o governo tenta ajudar Graça Foster a conseguir se livrar do processo rapidamente, mas, se a estratégia não funcionar, a alternativa é pressionar novamente o TCU para outro adiamento da decisão. A presidente da Petrobrás entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal para que seus bens não sejam bloqueados.

O TCU avalia a responsabilidade de Graça Foster pelos prejuízos decorrentes da compra da refinaria de Pasadena, no Texas. No mês passado, José Jorge isentou Dilma, que era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás na época da polêmica transação, em 2006. No diagnóstico do governo, a inclusão de Graça Foster na lista dos diretores com bens bloqueados ressuscitaria a vinculação do negócio mal feito com Dilma, que pretende "vender" na campanha a imagem de boa gestora.

O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, disse ontem não ter feito pressão para evitar o bloqueio de bens da presidente da Petrobrás no TCU, mas apenas uma "sustentação administrativa".

Na quarta-feira, Adams ocupou a tribuna da corte para fazer a defesa oral de Graça e de outros diretores da Petrobrás indicados no processo, sob a alegação de que o bloqueio do patrimônio deles causaria repercussão negativa.

José Jorge chegara a se manifestar pela indisponibilidade dos bens de Graça ao colocar em pauta recurso do Ministério Público, que pedia uma correção da decisão do plenário, do dia 23, apontando uma lista de 11 diretores e ex-dirigentes da Petrobrás como responsáveis por prejuízo de US$ 792,3 milhões à empresa. Diante dos argumentos de Adams, porém, pediu vista no processo para avaliar os argumentos da AGU.

"Quem sou eu para pressionar José Jorge?", questionou Adams, ontem, em conversa com jornalistas. "Vocês acham que sou tão poderoso assim?" O ministro disse que não poderia representar Graça Foster, nem os diretores da Petrobrás no Judiciário. "Mas no tribunal administrativo atuo ao lado da Petrobrás. E os atuais gestores da empresa foram indicados pela União."

Planalto altera perfil de jornalistas

• Mudanças em textos da enciclopédia virtual foram feitas com o objetivo de criticá-los

Paulo Celso Pereira – O Globo

BRASÍLIA - A rede de internet do Palácio do Planalto foi usada para fazer alterações nos perfis dos jornalistas Míriam Leitão, colunista do GLOBO, e Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, na Wikipédia, com o objetivo de criticá-los. O IP 200.181.15.10, da Presidência da República, foi usado na enciclopédia colaborativa virtual para fazer alterações em maio do ano passado. O IP é uma espécie de identidade digital que permite saber de onde partiram as modificações. No entanto, apenas os administradores da rede do Planalto têm como saber exatamente qual equipamento do local foi usado.

As mudanças ocorreram em uma sexta e uma segunda-feira, dias 10 e 13 de maio. A primeira alteração no perfil de Míriam Leitão, feita dia 10, às 16h43m, foi para qualificar análises suas como "desastrosas". Três dias depois, às 18h32m, a rede da Presidência voltou a ser usada para incluir trechos contra a jornalista, desta vez associando-a ao banqueiro Daniel Dantas: "Míriam Leitão fez a mais corajosa e apaixonada defesa de Daniel Dantas, ex-banqueiro condenado por corrupção entre outros crimes contra o patrimônio público. A forma como Míriam Leitão se envolveu na defesa de Dantas chamou a atenção de Carlos Alberto Sardenberg, seu companheiro na CBN, para quem a jornalista estava diferente naqueles dias. Para Míriam Leitão, apesar do vídeo que flagrava o suborno a um delegado da Polícia Federal, a prisão de Dantas não se justificava, posto que se tratava de coisas do passado".

Por fim, às 18h50m, o mesmo IP fez uma última alteração no perfil da jornalista:

"Um dos maiores erros de previsão ocorreu durante a Crise Financeira Internacional. Em 29/06/2009, Míriam Leitão escreveu o seguinte sobre a previsão de crescimento do Ministro Guido Mantega de 4,5% do PIB de 2010: "Ele fez uma afirmação de que em 2010 o Brasil está preparado para crescer 4,5%. É temerário dizer isso". Contrariando o pessimismo de Míriam Leitão, o Brasil cresceu 7,5% naquele ano".

Procurada pela reportagem, Míriam mostrou-se surpresa com o uso da estrutura do Palácio e desmentiu as acusações:

- É mentira que eu tenha defendido Daniel Dantas. Acho que é espantoso que um órgão público, ainda mais o Palácio do Planalto, use recursos e funcionários públicos para fazer esse tipo de ataque a jornalistas, quando deveria estar dedicado às questões de Estado.

"É imoral, é antiético"
Com Carlos Alberto Sardenberg, a disposição foi semelhante. No dia 10, às 12h51m, quatro horas antes das alterações no perfil de Míriam, o IP do Planalto começou a fazer mudanças no perfil do jornalista. O texto anteriormente publicado já dizia que o âncora da CBN e da Rede Globo era um forte crítico das políticas econômicas de Lula e Dilma, então o equipamento no Planalto adicionou: "... principalmente em relação aos cortes de juros promovidos nesses governos. É irmão de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, instituição que tem grande interesse na manutenção de juros altos no Brasil, uma medida geralmente defendida também por Carlos Alberto Sardenberg em suas colunas. Já cometeu erros notáveis em suas previsões, como afirmar que "(...)a economia mundial segue em marcha de sólido crescimento. Sólido porque não é nenhuma bolha financeira (...)" um ano antes de estourar a crise mundial de 2008".
Três dias depois, às 14h31m, o IP do Planalto foi então usado para criticá-lo explicitamente: "A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico".

Procurado, Sardenberg reagiu:

- Minhas opiniões são sempre muito claras. A política do Banco Central tem sido muito errática e sem uma lógica, tanto é que fizeram uma redução de juros forte e, depois, tiveram que subir, então, é óbvio que está errado. É evidente que minha posição é claramente crítica a esse governo. Esse é um debate de ideias, agora dizer que, porque meu irmão trabalha na Febraban, sou lacaio dos bancos é uma canalhice, uma baixaria. É imoral, é antiético, porque você coloca no perfil uma ilação. Usando um equipamento do governo, se faz uma ilação que não pode ser feita - afirmou.

Ao longo dos três anos e meio do governo Dilma, o IP da Presidência foi usado para realizar cerca de 170 alterações na Wikipédia. Muitas modificaram verbetes relativos a órgãos ligados à Presidência e de ministros e ex-ministros como Moreira Franco, Antonio Palocci, Thomas Traumann, Ideli Salvatti e Alexandre Padilha, além do assessor especial da presidente, Marco Aurélio Garcia, e do vice-presidente, Michel Temer.

O Palácio do Planalto afirmou que "o número do protocolo de internet (IP) citado pela reportagem é o endereço geral do servidor da rede sem fio do Palácio do Planalto. Isso significa que qualquer pessoa que utilizou essa rede via internet móvel terá como endereço de saída este número geral de IP. Por isso, não é possível apontar com segurança a identidade de quem alterou os textos citados pela reportagem a partir deste número de IP em maio de 2013".

Eleições 2014 - No Ibope, quadro se mantém estável

• Dilma manteve os 38% na pesquisa; Aécio e Campos cresceram um ponto

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - A segunda pesquisa Ibope/Rede Globo divulgada ontem mostrou que permanece estável a disputa eleitoral à Presidência e que segue ainda indefinido se haverá segundo turno. A presidente Dilma Rousseff, com 38% das intenções de votos, manteve o mesmo percentual do primeiro levantamento feito pelo Ibope desde que teve início a campanha eleitoral, realizado há duas semanas. O segundo colocado na pesquisa, o candidato do PSDB, Aécio Neves, oscilou um ponto para cima e chegou a 23%. Da mesma forma, Eduardo Campos, do PSB, subiu um ponto, para 9%. O quarto colocado na corrida presidencial, Pastor Everaldo (PSC), manteve 3% das intenções de voto. As mudanças ocorreram dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O levantamento, realizado entre domingo e quarta-feira, mostrou também que a aprovação da maneira como Dilma está governando aumentou para 47%. Na pesquisa anterior esse percentual era de 44%. A desaprovação diminuiu um ponto, de 50% para 49%. A avaliação do governo também teve leve melhora. Os que avaliam o governo como ótimo ou bom oscilaram de 31% para 32%. Os que consideram como regular foram de 36% para 35%. As avaliações de ruim e péssimo diminuíram de 33% para 31%.

Na simulação do segundo turno entre Dilma e Aécio, a disputa ficou mais apertada. O tucano cresceu três pontos em relação à pesquisa feita há duas semanas, de 33% para 36%, e a petista um, de 41% para 42%. Na simulação entre Dilma e Campos, ambos subiram três pontos, mantendo estável a distância entre eles. Segundo o Ibope, hoje Dilma venceria com 44% dos votos, contra 32% de Campos. No levantamento anterior, a presidente pontuava 41% e o socialista, 29%.

Os demais candidatos à Presidência - Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Zé Maria (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) - somaram 3%. Como a soma dos pontos de todos os adversários de Dilma é de 38%, mesmo percentual de votos da presidente, permanece incerto se haverá segundo turno. O percentual de votos em branco e nulos diminuiu de 16%, na pesquisa anterior, para 13%.

Os dados levaram cada partido a comemorar um dos aspectos da sondagem. Para o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), a recuperação nos índices de aprovação é o mais importante:

- Essa avaliação positiva do governo é um bom sinal. A tendência é melhorar. O que estamos vendo é que, quando um sobe, todos sobem, e quando um desce, desce todo mundo. Essas pesquisas nos animam pela perspectiva de vitória ainda no primeiro turno - disse.

Já o coordenador da campanha de Aécio, o presidente do DEM, José Agripino Maia (RN), considera que o crescimento constante do candidato tucano nas sondagens de segundo turno revelam uma perspectiva clara de derrota de Dilma.

- O mais importante é que a curva é letal. A curva de Aécio contra Dilma é ela caindo ou estacionando e Aécio subindo progressivamente. Quem analisar a curva vai chegar à constatação de que Dilma vai perder a eleição e que as chances de Aécio são consistentes, crescentes e progressivas - defendeu.

O líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg, acredita que os números tendem a mudar quando se intensificar a presença dos candidatos na mídia, especialmente com o horário eleitoral.

- Com a cobertura da mídia espontânea nessas duas semanas e, depois, com os programas de TV, os candidatos vão ter efetivamente oportunidade de se apresentarem e se tornarem mais conhecidos. Vamos observar Eduardo crescer.

Aécio faz comício em porta de fábrica e provoca Dilma

• Ato da campanha tucana em São Paulo é organizado no mesmo dia em que a presidente virá à capital para receber apoio de centrais

Elizabeth Lopes e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, participou nesta quinta-feira, 7, em São Paulo, de sua primeira atividade em porta de fábrica desde o início da campanha. O tucano participou de um minicomício na porta da Voith, fábrica de máquinas e equipamentos para indústria, no bairro do Jaraguá, zona norte da capital paulista. O evento foi organizado pela Força Sindical, entidade que apoia o tucano, e a data foi escolhida para fazer um contraponto ao encontro que a presidente Dilma Rousseff (PT) terá mais tarde na capital com dirigentes de centrais sindicais que irão declarar apoio à candidatura petista, inclusive parte da própria Força.

Aécio Neves provocou a adversária petista ao recomendar que a candidata à reeleição vá para a rua fazer campanha para "olhar nos olhos das pessoas e perceber qual é o sentimento do brasileiro hoje", que segundo o tucano é de "desânimo".

O deputado Paulinho da Força (SD), principal liderança da Força Sindical, disse que Aécio não tem medo do contato com as pessoas. "Estamos aqui para mostrar que o Aécio vem para a rua porque tem cara limpa e não tem medo de olhar no olho do trabalhador. Enquanto ela faz campanha em ambiente fechado". Questionado sobre a facção da Força Sindical que apoiará Dilma, Aécio respondeu que não quer "ter o monopólio de absolutamente nada".

Em seu discurso em cima do carro de som, Paulinho defendeu o fim do fator previdenciário, regra instituída durante governo FHC, mas evitou defender outras bandeiras históricas dos sindicatos que ele representa, como a redução da jornada de trabalho. Em entrevista na saída do evento, Aécio evitou se comprometer com o fim do fator previdenciário. "O governo do PT teve oportunidade, mas não fez até agora. Eu vou trabalhar para valorizar o trabalhador brasileiro", disse o senador.

Aécio chegou ao local acompanhado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por volta das 6h40. Os dois tomaram café na padaria próxima à indústria e conversaram com trabalhadores que saíam do turno da madrugada. Depois eles se encontraram com o candidato do partido ao Senado, José Serra; o senador e candidato a vice na chapa presidencial tucana, Aloysio Nunes Ferreira, e com o ex-governador Alberto Goldman, coordenador do comitê de campanha em São Paulo.

Setor de máquinas e equipamentos está na UTI, diz Campos

• Segundo candidato, solução para recuperar setor é a retomada do crescimento do Brasil

Ana Fernandes – O Estado de S. Paulo

O candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, afirmou nesta quinta-feira, 7, em discurso para a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que a indústria de equipamentos "está na UTI". Depois de a associação apresentar dados que mostram uma crise no setor, Campos afirmou que a única solução para recuperá-lo é a retomada do crescimento do Brasil.

"Não tem solução isso aqui se o País continuar patinando a 0,9% (de crescimento do PIB)", afirmou.

Campos voltou a fazer críticas à gestão econômica do atual governo. "A gestão do País não tem foco, não tem visão de longo prazo", afirmou. Ele defendeu novamente melhorias na condução da macroeconomia, para corrigir desequilíbrios de inflação alta, juros altos e baixo crescimento. E criticou também a política do atual governo de priorizar determinados setores. "Setores da indústria conseguiram ter ambientes e nichos diferentes para sobreviver."

O setor de máquinas e equipamentos vem recebendo incentivos do governo federal, especialmente nos últimos cinco anos, mas mostra queda nos índices de produção. O setor reclama das condições de câmbio e do custo Brasil.

Campos afirmou que a solução para melhorar o ambiente econômico está na política, antes que na economia, criticando o sistema presidencialista de coalizão, que, segundo ele, está "esclerosado".

Voltou também a bater na tecla de que é preciso acabar com a polarização entre PT e PSDB e que a sua proposta é governar "com os bons".

O candidato falou que o setor do agronegócio tem uma importância grande para o País, mas que o Brasil precisa de um presidente com "coragem" para defender a indústria e que não seja conivente com esse processo que leva ao "derretimento" de empregos. "Precisamos salvar a indústria brasileira da maior crise que viveu nos últimos 40 anos." Ontem, Campos falou na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) sobre suas propostas para fortalecer o ambiente para o agronegócio. Também falaram à CNA a presidente Dilma Rousseff (PT) e o candidato tucano Aécio Neves.

A Abimaq ouviu Aécio Neves, candidato do PSDB, no início de julho e ouvirá Michel Temer, vice-presidente, representando Dilma, no início do mês que vem.

Eleições 2014 - Dia de bater ponto

• Aécio vai a porta de fábrica e Dilma se reúne com centrais; ambos prometeram garantir empregos e salários

Silvia Amorim, Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - Os dois primeiros colocados na disputa pelo Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidato à reeleição, e o senador Aécio Neves (PSDB) centraram ontem seus esforços em atos com trabalhadores, com a participação das maiores centrais sindicais do país. Pela manhã, o tucano adotou expediente muito usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): discursou na porta de uma fábrica na capital paulista. A seu lado, tinha o deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade (SDD) e principal líder da Força Sindical. À noite, também em São Paulo, Dilma recebeu o apoio de cinco centrais sindicais do país e de dissidentes da própria Força.

A divisão política afeta praticamente todas as centrais sindicais nestas eleições. Entre as seis maiores representações dos trabalhadores - Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) -, apenas a CUT, com mais de sete milhões de filiados, é majoritariamente aliada ao PT.

A segunda maior representação dos trabalhadores, a Força Sindical, está dividida. Com mais de cinco milhões de associados, a entidade tem dois de seus principais líderes - Paulinho, o próprio presidente da entidade, Miguel Torres - com Aécio. À noite, porém, um grupo dissidente declarou apoio a Dilma.

Dilma diz que não vai achatar salários
Ao lado dos dirigentes sindicais e de Lula, Dilma voltou a adotar o discurso do "bem contra o mal":

- Eles quebraram o Brasil três vezes, por três vezes eles levaram o Brasil ao Fundo Monetário Internacional. No nosso período de governo Lula, fomos lá e pagamos. Eles levaram a inflação à estratosfera antes de entregar para nós o governo - afirmou Dilma, referindo-se à gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em recado direto aos sindicalistas, Dilma afirmou que não foi eleita para achatar salário nem para tirar direito do trabalhador, em referência a declarações de Aécio a empresários, na qual disse que seria necessário adotar medidas impopulares, se eleito.

- Sabe qual é a medida impopular que ele vai tomar? É acabar com a valorização do salário - afirmou Dilma.

Lula também discursou e ressaltou a "unidade" das centrais sindicais, alfinetando o deputado Paulinho da Força. O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, compareceu ao evento representando a dissidência do sindicato que apoia a reeleição de Dilma.

- Esses companheiros, às vezes, são chatos, às vezes, falam mal da gente, reivindicam coisas que não podemos atender; às vezes, ele são duros com a gente, mas pode ter certeza que, em qualquer momento em que os adversários estiverem atacando a gente, eles serão os primeiros a se levantarem para defender nosso governo - afirmou Lula, dirigindo-se aos sindicalistas.

No final do evento, após os discursos, um documento assinado pelos presidentes de CUT, UGT, CTB, NCST, CSB e por Juruna, da Força Sindical, foi entregue a Dilma. No documento, são cobrados novos compromissos do governo com os trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho, o fim do fator previdenciário e diálogo permanente com a classe trabalhadora.

Pela manhã, antes mesmo da confirmação do apoio das centrais a Dilma, Aécio minimizou o ato da presidente realizada à noite e propôs à adversária que ela fizesse campanha nas ruas. Para Aécio, Dilma precisa conferir o desânimo da população:

- Eu estimulo muito que ela vá às ruas, e não apenas nos eventos organizados e programados, que ela vá olhar nos olhos das pessoas, e possa perceber o sentimento do brasileiro, hoje de desânimo - disse Aécio.

O tucano ironizou a vantagem que Dilma diz ter juntos às centrais sindicais:

- Ninguém quer ter monopólio de absolutamente nada, que ela tenha suas interlocuções é legítimo - disse Aécio.

Aécio se compromete com crescimento
Aécio fez um minicomício em frente a uma fábrica na Zona Norte da capital paulista e tirou foto nos braços de trabalhadores, estratégia que marcou Lula ao longo de sua carreira política. Em fila no portão de entrada dos funcionários, o presidenciável - acompanhado do seu candidato a vice, Aloysio Nunes, do governador Geraldo Alckmin e do candidato ao Senado José Serra - apertou as mãos de trabalhadores que chegavam à firma e, ao seu estilo, pediu um voto de confiança:

- Vamos juntos fazer este Brasil crescer - disse o candidato a cada cumprimento.

A visita de Aécio na porta da empresa Voith, fabricante de máquinas e turbinas, foi agendada por Paulinho para fazer um contraponto ao evento que Dilma teria, no início da noite.

Aécio chegou à fábrica antes das 7h: começou a campanha em uma padaria onde os funcionários costumam tomar café. Depois, caminhou cerca de dez minutos até o portão da fábrica. Lá, esperou por mais de meia hora a chegada dos trabalhadores. Com a liberação dos funcionários para o que seria uma assembleia do sindicato da categoria, cerca de cem dos quatro mil empregados da Voith compareceram. Mas não houve reunião para discutir questões da categoria: quem estava em cima do carro de som, em frente à fábrica, eram Paulinho, Aécio e os demais tucanos.

Aécio prometeu crescimento econômico como garantia de empregos, controle da inflação e correção da tabela do Imposto de Renda pelo IPCA. No entanto, evitou comentários sobre uma das principais reivindicações da Força Sindical: o fim do fator previdenciário, criado no governo Fernando Henrique Cardoso.

A primeira greve de funcionários da Voith foi comandado por Paulinho nos anos 1980. Ele é responsável por organizar agendas para aproximar Aécio do setor. Em outras campanhas, o deputado levou Serra à porta de fábricas. Foi a primeira vez nesta campanha que Aécio recorreu a esse expediente.

Já Lula, ex-líder sindical, costuma levar seus candidatos para falar com trabalhadores nas firmas. Na última terça-feira, ele acompanhou o candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, em visita à Ford, em São Bernardo do Campo. Em 2010, Dilma foi pelas mãos do padrinho à fábrica da Mercedes Bens, também no ABC paulista.

Merval Pereira: Voto útil

- O Globo

Pesquisa a pesquisa, vai sendo reduzida a diferença num cada vez mais provável segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff e os dois principais candidatos oposicionistas. Nesta rodada da consulta Ibope Inteligência/TV Globo, a soma de votos nos adversários já empata com a da presidente no primeiro turno, 38% a 38%. Num segundo turno, reduz-se a distância que a separa tanto de Aécio Neves (PSDB), quanto de Eduardo Campos (PSB).

Na disputa com Aécio Neves, a candidata-incumbente venceria hoje por uma diferença de seis pontos percentuais: 42% das intenções de voto, contra 36% do candidato tucano. Essa distância entre os dois era de nove pontos percentuais na pesquisa anterior. Na disputa simulada pelo Ibope entre Dilma e Eduardo Campos, a petista continua na frente, mantendo uma diferença de 12 pontos - 44% a 32%.

Isso quer dizer que o candidato do PSDB, Aécio Neves, agrega 13 pontos percentuais num hipotético segundo turno, enquanto Dilma acresce à sua votação apenas mais quatro pontos. Já o candidato do PSB, Eduardo Campos, cresce nada menos que 23 pontos, enquanto Dilma apenas seis.

À dificuldade que os dois estão tendo, especialmente Campos, de subir no primeiro turno, opõe-se todo potencial de crescimento na eventualidade de um segundo turno, quando o eleitor terá diante de si um duelo de vida ou morte entre a presidente candidata à reeleição e um oposicionista. Nesse caso, entra em ação o voto útil.

O resultado da nova pesquisa Ibope/TV Globo mostra que a campanha petista sobre o aeroporto de Cláudio, em Minas, não afetou a competitividade de Aécio Neves, que cresce lentamente na margem de erro. Já a resiliência da candidatura de Dilma fica mais uma vez demonstrada, reforçada pela sensação generalizada de que, ao final, ela será a vencedora.

Como a avaliação do governo não mudou, e sua rejeição continua alta, o fato de a expectativa de vitória continuar sendo a seu favor pode indicar certo desânimo do eleitorado, que ainda não enxerga nos candidatos de oposição uma alternativa real à sua ânsia de mudança, que não se alterou: 69% querem que o próximo presidente mude tudo ou quase tudo no governo.

Foi perguntado aos eleitores quem acreditam será o presidente eleito em outubro, independentemente de suas intenções de voto, e o resultado continua o mesmo: 55% acreditam que a presidente Dilma será reeleita ao fim. Outra marca que também não sofreu alteração foi a rejeição, com a presidente continuando com o maior índice, citada por 36% dos eleitores brasileiros.

A presidente também não consegue sair do inferno astral da baixa avaliação de seu governo: 35% o consideram regular, enquanto 32% o avaliam como ótimo ou bom, e 31% como ruim ou péssimo. Esse nível de aprovação coloca o governo Dilma na parte inferior de uma escala de valores que permite prever uma reeleição quando o candidato tem acima de 35% de ótimo e bom na avaliação de seu governo. Abaixo disso, como se encontra a presidente há alguns meses, a reeleição fica praticamente inviabilizada.

Como ela terá uma grande exposição na propaganda eleitoral, pode ser que consiga reverter essa impressão do eleitorado. Mas a maneira com que a presidente Dilma está governando o país é desaprovada por cerca de metade (49%) dos eleitores brasileiros, contra 47% que a aprovam. O Ibope Inteligência aponta "alterações significativas" entre alguns segmentos analisados. A intenção de votar em Aécio cresce três pontos percentuais entre eleitores de 35 a 44 anos, ao passo que as menções a Dilma nesse segmento decrescem dez pontos.

O segmento em que o candidato tucano tem maior percentual de intenções de voto é no ensino superior, em que cresceu de 33% para 35%, contra uma queda de cinco pontos percentuais de Dilma, que foi a 22% no segmento. A presidente Dilma cresceu de 45% para 50% entre eleitores menos escolarizados, e de 34% para 45% entre os do Norte e Centro Oeste.

O Nordeste permanece o maior reduto eleitoral governista, com Dilma sendo escolhida por 51% dos eleitores, contra 11% de Aécio e 12% de Campos. Até o momento, portanto, os adversários de Dilma não conseguiram reduzir a vantagem que ela tem no Norte e no Nordeste, onde tirou 11 milhões de votos à frente na eleição de 2010 recebendo 55% dos votos no Nordeste.

Dora Kramer: Treino é treino

- O Estado de S. Paulo

Estão querendo confundir as coisas a fim de conferir naturalidade ao que de forma alguma é usual. Muito menos legal.

Simular perguntas para preparar pessoas que serão submetidas a questionamentos é algo que se faz em diversas áreas e não só em comissões parlamentares de inquérito.

Candidatos são treinados para debates, advogados preparam seus clientes simulando questões que possivelmente lhes serão feitas, assim como convocados para depor em CPIs ensaiam com os respectivos grupos políticos as respostas mais adequadas aos seus interesses.

Isso não quer dizer que os candidatos se apresentem para um debate sabendo previamente do conteúdo das questões. Não significa que o advogado antes do depoimento tenha tido acesso às perguntas do juiz, do promotor ou do delegado, o que, no caso, seria uma conduta criminosa.
Da mesma forma o costume do treino não pode ser equiparado à entrega prévia do questionário ao depoente de uma CPI.

Ao que indicam os fatos até agora publicados em relação à CPI da Petrobrás no Senado, é desse tipo de escambo doloso que se tratou ali. Um funcionário da companhia recebia as questões no gabinete da liderança do PT e as levava ao conhecimento da empresa que, com isso, adequava as respostas dos depoentes às perguntas que seriam feitas.

Não foi um mero treino. Nem uma "conversa de políticos" como quis fazer crer o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, em entrevista à Folha de S.Paulo. Quando instala uma comissão parlamentar de inquérito, o nome já diz, o Congresso está travestido da função investigativa inerente aos inquéritos.

Poder e, sobretudo, dever de apurar formalmente a autoria e a materialidade de um fato criminal ou administrativo no âmbito parlamentar. Não há a ligeireza que o ministro busca imprimir à ação. O presidente da CPI é o chefe da investigação. Tem função de zelar pela lisura do processo, cuja conclusão será enviada ao Ministério Público e à Polícia Federal para as providências cabíveis.

Não se trata de uma conversa de compadres. CPI não é um fórum de debate meramente político. É o Poder Legislativo investido do poder investigativo com todos os deveres e circunstâncias daí decorrentes.

Imaginemos, só para argumentar, que a CPI dos Correios tivesse seguido esse critério da combinação de perguntas e respostas. Não teria havido o processo do mensalão. Prova de que não é sempre assim.

Evidência mesmo de que é preciso ter discernimento para distinguir as coisas e não confundi-las propositadamente em nome da proteção de eventual delito.

Prestar contas. A primeira prestação parcial de contas à Justiça Eleitoral dos candidatos às eleições de 2014 traz uma novidade e uma antiguidade.

A notícia recente: pela primeira vez um candidato da oposição supera em arrecadação a pretendente à reeleição. O tucano Aécio Neves está em primeiro (R$ 11 milhões), a petista Dilma em segundo (R$ 10 milhões) e o candidato do PSB, Eduardo Campos, em terceiro (R$ 8 milhões).

O que já se sabia: o grosso do financiamento vem das pessoas jurídicas, 91%. Falta resolver o que fazer a partir das próximas eleições quando o Supremo Tribunal Federal deverá proibir doações em empresas.

Considerando que a participação de pessoas físicas foi de apenas 3% e que o financiamento público via fundos partidários não ultrapassou 6%, haverá a partir de 2016 uma mudança compulsória nos meios e modos das campanhas.

Para compensar a arrecadação menor, a presidente Dilma foi quem menos gastou até agora: pouco mais de R$ 80 mil. A explicação é que enquanto os adversários precisam investir em publicidade, ela tem espaço garantido nos meios de comunicação pelo cargo que ocupa.

Razão pela qual os oponentes se dizem contrários ao instituto da reeleição. A conferir se, eleitos, manteriam a posição.

Eliane Cantanhêde: Comédia e tragédia

- Folha de S. Paulo

O ministro Paulo Bernardo tem razão ao dizer que governos combinam depoimentos com aliados em CPIs "desde Pedro Álvares Cabral", mas não leva em conta o "x da questão" no envolvimento do Planalto e das lideranças do PT e do governo na CPI da Petrobras.

Foi Dilma quem acusou o parecer de Néstor Cerveró de falho e incompleto e a compra de Pasadena de ser um erro; e é Dilma quem agora mexe mundos e fundos para defender o parecer, Cerveró e a operação.

Se o parecer induziu a presidência da Petrobras, a diretoria, o conselho de administração e a própria Dilma a comprar a refinaria por valores bem superiores ao que valia e com cláusulas danosas... Dilma teve razão ao apontar o erro e deveria agora querer investigar Cerveró. Houve erro? Foi técnico ou por má-fé?

E, se a operação foi supimpa e o Planalto e lideranças do PT e do governo dão uma mãozinha a Cerveró e para que ele se saia bem, Dilma não teve razão ao apontar o erro e deveria pedir desculpas publicamente a Cerveró, à Petrobras e à sociedade pela nota escrita e assinada por ela sobre a compra de Pasadena.

Ou Dilma errou antes, quando acusou, ou erra agora, quando defende. Sem contar que as histórias mal contadas da Petrobras vão muito além de Pasadena. E Abreu e Lima? E o ex-diretor Paulo Roberto Costa, que foi preso e depositou na Suíça uma fortuna de ditador africano?

Quanto ao TCU, há um impasse geral. Os ministros dizem que não incluíram Graça Foster no bloqueio de bens por erro técnico, pois a atual presidente era diretora na fase final do acerto de Pasadena.

O governo alega que joga seu peso para manter Foster fora dessa para evitar prejuízos à Petrobras (não por ela ser amigona de Dilma).

E a oposição acha que a gestão petista na Petrobras é um manancial para a campanha, mas está tonta diante da inclusão de Foster. Na opinião pública, ela é vista como mulher séria que tenta consertar a casa.

Marcus André Melo: Anatomia do descontentamento

• Coalizões oportunistas geram cinismo cívico

- Valor Econômico

Quando se aventurou em uma de suas últimas obras sobre relações entre o que chamou Kultur (civilização, na tradução brasileira) e o indivíduo, Freud enveredou em uma trilha repleta de armadilhas. Em O Mal Estar na Civilização, identificou uma tensão entre pulsões individuais (libidinais) e os constrangimentos impostos pelo contexto social. Essa tensão é para Freud a fonte permanente de frustração e descontentamento. Fazer a ponte entre o nível individual da análise e o nível macro é tarefa complexa. A imaginação política brasileira tem se debruçado sobre algo similar: as razões do mal estar na democracia brasileira. Aqui também há várias armadilhas para o analista porque são diversas as causas do descontentamento. Algumas decorrem da conjuntura - o pífio desempenho da economia, por exemplo. Outras tem natureza claramente institucional.

O suspeito usual pelo mal estar da democracia brasileira é o presidencialismo de coalizão. Segundo os críticos, embora garanta governabilidade esse modelo está ancorado em um jogo corrupto envolvendo a formação de alianças que garantem a aprovação da aliança presidencial. Esse diagnóstico confunde o modelo de governos de coalizão com traços singulares de sua evolução no país. O primeiro aspecto a destacar como fonte do mal estar é o tamanho das coalizões.

Durante o Governo Collor o número de partidos na coalizão de governo passa de dois para quatro, elevando-se para quatro no primeiro governo Itamar Franco. Nos dois mandatos de FHC, formaram-se três coalizões de governo com quatro, cinco e três partidos (redução decorrente da saída do PFL do governo em 2001), respectivamente. Nos dois governos Lula, o tamanho da coalizão se eleva significativamente, oscilando entre oito, seis e oito. Finalmente, sob Dilma, a coalizão atinge uma dimensão inédita no plano internacional: dez partidos.

O número efetivo de partidos políticos no país (NEPP) - uma medida que calcula a dispersão do voto entre os partidos e não apenas o seu número - se elevou de 7.14, em 1998, para 10.36, em 2010. A interpretação do STF, em julgamento sobre o recém criado PDS, em 2001, e que permitiu a migração de um partido existente para um partido antigo levou à criação de mais duas legendas PROS (2013) e Solidariedade (2013). Dessa forma, a fragmentação partidária, mensurada pelo NEPP (que atingiu o seu valor mais elevado na base de dados de abrangência mundial do IDEA/Gallaher -Trinity College), se intensifica.

O tamanho da coalizão de governo atualmente no país é um dos mais elevados do mundo, e possivelmente da história, só superado por países cujas regras permitem partidos provinciais (Índia, Argentina). A coalizão que governou a Índia de 1998 a 2004, a National Democratic Alliance - a mais ampla registrada na literatura -, consistia de 24 partidos, dos quais 20 eram partidos estaduais (e 17 existiam apenas em um estado). Mas no Brasil, dez partidos nacionais integram o governo. E têm caráter nacional, já que desde a Constituição de 1946 há um princípio constitucional que proíbe o registro de agremiações estaduais.

O sistema de representação proporcional adotado no país há sete décadas leva necessariamente à fragmentação partidária. Daí decorrem muitas consequências positivas como ganhos de representatividade e maior capacidade efetiva de controle do poder executivo e menor potencial de abuso de poder presidencial. No entanto, os ganhos marginais decorrente da formação de coalizões é decrescente a partir de um certo limiar e, no limite, tornam-se negativos. Isto ocorre por duas razões. Em primeiro lugar, pelo aumento dos custos de transação que podem minar os ganhos de troca no sistema político.

Em segundo, pelo aumento da heterogeneidade ideológica da coalizão de governo. A estimativa da heterogeneidade ideológica é tarefa tecnicamente complexa. Felizmente, cientistas políticos brasileiros utilizando técnicas sofisticadas (W-Nominate) já mediram a distância ideológica entre partidos. Essa medida permite que observemos a evolução da heterogeneidade média (HM) das coalizões de governo desde 1990. No Governo Collor, o escore da HM oscila entre 0,03 e 0,39. Durante os governos FHC o HM ascende para 0.77 no primeiro mandato, declinando para 0,3 em 2002. No primeiro governo Lula, ela ascende a 1.32, em 2002, quase duplicando esse escore para 2,42 no final do primeiro governo Lula. Finalmente, ela atinge 4,94 no final do governo Lula. Embora o escore não esteja disponível para o governo Dilma, a heterogeneidade ideológica média continua sua vertiginosa ascensão desde 1994. Como no peronismo, as coalizões atravessam o continuum ideológico: da extrema direita à extrema esquerda.

A crescente heterogeneidade ideológica das coalizões de governo tem várias causas mas ela é também fundamentalmente uma variável de escolha dos governantes, em particular do presidente que é o formateur da coalizão.

A heterogeneidade das coalizões é causa fundamental do descontentamento porque exacerba o cinismo cívico dos cidadãos. Ela fortalece a convicção que a política é jogo sujo marcado por interesses corruptos. Esse sentimento viceja quando o governo não tem agenda clara e o estilo de governo se abastarda no atendimento a demandas setoriais. Assim, se a fonte da insatisfação são setores empresariais a resposta é redução de tarifas aqui, desoneração de impostos acolá. Se não há agenda programática clara e o pragmatismo político não encontra limites, a inteligibilidade da política fenece. A representação política inverte sua lógica e converte-se em responsividade oportunista.

O cidadão têm demandas - os freudianos diriam que tem pulsões libidinais - e a estrutura institucional importa. Ela é um dos fatores que produzem descontentamento. No entanto, mais importante que os constrangimentos institucionais são as escolhas que governantes distintos podem fazer no mesmo marco institucional.

Marcus André Melo é professor da UFPE, foi professor visitante da Yale University e do MIT

Míriam Leitão: O tempo do emprego

- O Globo

Por quanto tempo as empresas vão evitar demissões, com o nível de atividade perto de zero? O dado do emprego é o melhor da economia, por isso o temor de que ele seja afetado pelo ambiente geral. No setor industrial, já piorou. A indústria automobilística demitiu 6,6 mil e está adotando a suspensão temporária do contrato de trabalho, o chamado Layoff , à espera de um segundo semestre melhor.

A taxa de desemprego de 4,9% é um oásis no meio dos números negativos. A indústria está encolhendo há quatro meses, a balança comercial têm déficit no ano, a inflação está acima do teto da meta, a conta-corrente está deficitária em quase 4% do PIB. O superávit primário tem caído e o déficit nominal subiu. Esses dados ruins se espalham pelo país. O IBGE divulgou esta semana o detalhamento da produção industrial de junho. Em apenas dois estados, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o indicador não ficou negativo; e comparado com o mês de junho do ano passado só ficaram positivos os dados do Pará, Espírito Santo e Goiás.

A Anfavea, associação que representa as montadores de veículos, chegou ao mês de julho com uma queda na produção de 20,5%, na comparação com os sete primeiros meses de 2013. Mesmo com a expectativa de um segundo semestre mais forte, a entidade calcula encerrar 2014 com uma redução de 10%. Com isso, as notícias de férias coletivas, programas de demissão voluntária e suspensão temporária dos contratos ( Layoff ) estão cada vez mais frequentes. Mas a questão é: até quando as empresas vão segurar as vagas, em um cenário de queda nas vendas e na produção?

Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan, a tática adotada pelas montadoras é ganhar tempo, na esperança de que o cenário à frente melhore. Ele explica que o trabalhador da indústria automobilística é altamente qualificado e recebeu bastante treinamento. Demitir esta mão de obra é dar baixa em um forte investimento em recursos humanos. Ainda assim, 6,6 mil vagas foram fechadas em 12 meses até julho, uma queda de 4,2% no nível do emprego.

- Todos as medidas possíveis para se evitar o desligamento estão sendo feitas, como férias remuneradas, banco de horas, lay-offs, programas de demissão voluntária. É muito importante que a expectativa de crescimento futuro se mantenha, para que os empregos sejam mantidos - disse Moan.

Ao mesmo tempo em que as empresas desejam um segundo semestre mais forte, o cenário projetado para 2015 é de enorme incerteza. A Anfavea, por exemplo, ainda não consegue estimar qual será o seu crescimento no ano que vem. Há dúvidas sobre a Argentina, que é grande compradora de carros brasileiros, e há incerteza sobre alguns preços, entre eles o da energia.

- Estamos vivendo um dia de cada vez, em 2014. O ano não pode acabar ainda porque tenho que vender muito carro para recuperar o que caiu no primeiro semestre. Ainda não fizemos projeções para 2015 - afirmou Luiz Moan.

O setor automotivo representa 25% da indústria de transformação e está em uma encruzilhada. Muito carro já foi vendido, as famílias se endividaram, o crédito está mais caro e seletivo, a inflação corroeu um pedaço da renda. Externamente, a crise na Argentina afeta as exportações, que estão com uma queda acumulada de 35% até julho. A previsão é que o problema cambial no país vizinho se agrave com a nova moratória decretada este mês. Somente em vendas para o exterior, de acordo com as projeções da Anfavea, o setor automobilístico deve faturar US$ 1,6 bi a menos este ano, na comparação com o que vendeu ao exterior no ano passado: US$ 14 bilhões, em 2014, contra US$ 15,6 bi, de 2013.

A produção e as vendas de carros cresceram muito em dez anos e este é um ano de queda. Por isso, apesar de as demissões já terem começado, as empresas preferem manter seus recursos humanos na expectativa de melhoras no futuro.

Por enquanto, outros setores da economia, como o de serviços, têm conseguido manter e criar vagas, ainda que a um ritmo cada vez menor. A questão chave é a expectativa. Se os empresários perderam a esperança de uma recuperação a curto prazo vão preferir demitir a manter o custo de reter o funcionário, mesmo sendo qualificado. É preciso que o mais rapidamente possível os investidores melhorem a percepção sobre o desempenho futuro da economia brasileira.

Luiz Carlos Mendonça de Barros: As razões do engasgo do consumo

• A indústria automobilística é a prova mais contundente de que vivemos o início de uma grande ressaca

- Folha de S. Paulo

Volto hoje à questão da queda do consumo, que tem afetado de forma importante a economia brasileira neste ano de 2014.

O motivo para tal é o clima de quase pânico que tomou conta do setor automobilístico nas últimas semanas. Uma das áreas mais dinâmicas da indústria brasileira, ele representa o maior símbolo do crescimento do consumo que marcou o período Lula. Hoje ele é a prova mais contundente de que vivemos --desde 2011-- o início de uma grande ressaca.

Embora vários analistas tenham advertido sobre o fim do ciclo do consumo, o governo manteve inalterada sua política econômica. Quando os sinais de queda ficaram mais claros, no início do mandato da presidenta Dilma, a resposta do Palácio do Planalto foi forçar a expansão do crédito dos bancos públicos e reduzir o superavit primário operacional do Tesouro via gastos adicionais.

Como a economia reage sempre com um intervalo de tempo, entre o início de um ciclo econômico e seu ocaso, somente agora é que essa dura realidade se mostra aos olhos de grande parte da sociedade.

E a queda nas venda de automóveis dos últimos meses --seguida da redução sob várias formas do emprego-- é uma realidade que ninguém pode mais esconder. Como a indústria não se preparou para este momento da verdade, mantendo a produção próxima da capacidade máxima, o ajuste será doloroso.

Mas é preciso separar o ajuste cíclico que vamos viver nos próximos meses da dinâmica de longo prazo do setor automobilístico. As vendas de automóveis cresceram entre 2005 e 2013 de uma forma impressionante, passando de 1,66 milhão de unidades anuais para mais de 3,6 milhões, com uma expansão média anual de 10,6% em oito anos.

Entre julho de 2007 e fins de 2013, por vários meses as vendas ficaram no intervalo entre 3,5 milhões e 4 milhões de unidades por ano. O quarto maior mercado consumidor do mundo. Se considerarmos três anos, entre outubro de 2005 e outubro de 2008, as vendas cresceram 50%, ou seja, a uma taxa anual de 15% anuais. Impressionante.

As principais forças por trás desse crescimento de vendas tiveram duas naturezas distintas: entre 2005 e fins de 2008, as forças tinham natureza estrutural, de longo prazo, em razão principalmente do aumento simultâneo da renda, do emprego e do crédito ao consumo.

A partir do início de 2010, com o enfraquecimento das forças expansionistas citadas acima, inicia-se, de forma natural, um período de ajuste nas taxas de crescimento das vendas de automóveis. Dessa forma, chegamos ao início de 2012 com um crescimento zero nas vendas e, nos meses seguintes, a uma taxa de expansão negativa.
O governo reagiu a essa situação elevando a oferta de crédito dos bancos públicos para sustentar a venda de veículos. A resposta do consumidor foi positiva, mas de curta duração, como todo movimento associado a estímulos fora de hora e sem respeito à dinâmica do mercado.

A taxa de crescimento das vendas voltou a atingir 10% ao ano, entre junho de 2012 e junho de 2013, para rapidamente voltar a zero nos três meses seguintes e entrar definitivamente no terreno negativo a partir daí.

Chama-se a esse fenômeno, no jargão do mercado financeiro, de suspiro do morto, ou seja, o fracasso de tentativas artificiais do governo para tentar alterar movimentos estruturais de ajuste do mercado. No caso específico das vendas de automóveis, tentar reconstruir uma dinâmica de consumo que havia se esgotado por razões estruturais.

De agora em diante vamos viver duas fases distintas no mercado de automóveis no Brasil.

Na primeira, teremos um ajuste nos estoques acumulados pela indústria em razão da queda expressiva das vendas nos últimos meses.

Na segunda, as empresas vão ter que fazer um ajuste estrutural na sua capacidade produtiva, para se adaptar a um mercado que deve passar a crescer a taxas não superiores ao aumento da renda dos brasileiros.

Quanto mais demorarem os ajustes de estoque, maiores serão os prejuízos na fase de ajuste nos níveis de produção da indústria.

A pergunta que fica no ar é: como uma indústria tão sofisticada não percebeu a impossibilidade de manter as taxas de crescimento do passado e não se preparou melhor para a fase que vamos viver nesse mercado daqui para a frente?

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

Claudia Safatle: Os avanços e retrocessos da era PT

• Diante de um "irmão gêmeo", o país poderia ter feito muito mais

- Valor Econômico

O governo Lula foi um sucesso. A gestão Dilma Rousseff é mal avaliada. A era FHC foi dramática. Isso é o que diz o senso comum. Mas um foi bom e os outros não foram comparados a quê?

Para sair da costumeira confrontação entre os anos PT e a administração do PSDB, de 1995 a 2002, tentar ir mais fundo e considerar as conjunturas internas e externas de cada período, os economistas tomaram emprestado um método corriqueiro das ciências laboratoriais - onde o contrafactual é imitado através da produção de dados experimentais. Para tanto, criam "países gêmeos artificiais" que servirão para comparar com o país real pesquisado que foi submetido a importantes mudanças.

Três economistas - Vinicius Carrasco (PUC-RJ), João Manuel de Pinho Mello (Insper) e Isabela Duarte (PUC-RJ) - fizeram o primeiro estudo dessa natureza para avaliar o Brasil no período Lula e nos dois primeiros anos do governo Dilma. Os autores construíram um país "gêmeo" para cada variável a ser cotejada e extraíram dos dados a comparação entre qual poderia ter sido e qual foi o desempenho do Brasil entre 2003 e 2012. O método, segundo Carrasco e Mello, "é agnóstico". Ou seja, independe das preferências dos autores.

Para confrontar a performance do PIB per capita do Brasil, por exemplo, o estudo buscou nos dados ponderados dos países da América do Sul, da Tailândia, da Turquia e da Ucrânia a síntese do "melhor grupo de comparação" ou "grupo de controle sintético".

O gráfico abaixo mostra que o PIB per capita vinha mais ou menos em linha com esse grupo de 1995 a 2002, durante o governo de FHC, e começou a se descolar dele a partir do governo Lula em 2003.

O estudo estabelece o comparativo de 85 variáveis macro e microeconômicas e setoriais. Abarca do PIB à mineração, da taxa de homicídios aos termos de troca. Os resultados são: o Brasil cresceu, investiu e poupou menos; recebeu menos investimento estrangeiro direto, adicionou menos valor na indústria, teve inflação mais alta, perdeu competitividade e produtividade e piorou a qualidade regulatória. Isso ocorreu mesmo tendo recebido "um maná externo", dado pelo boom das commodities e outro "maná interno", da demografia.

"Se tivéssemos crescido em linha com os melhores grupos de comparação, estaríamos pelo menos 10% a 15% mais ricos atualmente", sugerem os autores. Por ter o Brasil ficado aquém das suas possibilidades, eles ousaram no título do trabalho - "A Década Perdida: 2003 a 2012" -, que traduz um julgamento político do período considerado. O estudo não se estendeu a 2013 por ausência de dados sobre os países dos grupos de comparação, informam os autores. Como a economia brasileira se deteriorou em termos relativos, os indicadores devem ter piorado em 2013 e 2014, sublinha Mello.

É inegável, porém, que o Brasil avançou nas questões sociais e andou em linha com seu "irmão gêmeo" na distribuição da renda, no combate à subnutrição e na saúde. Na educação, ficou aquém mesmo elevando o gasto.

E foi substancialmente melhor no mercado de trabalho. "Nesse caso, porém, colhemos as frutas que estavam baixas na árvore: colocamos as pessoas para trabalhar, o que aumentou a massa salarial e a renda dos trabalhadores", salientam os autores. Esse avanço, no entanto, não foi acompanhado de aumentos da produtividade e dos investimentos em capital físico e humano.

Uma das constatações mais importantes, destacam, é a piora na qualidade regulatória do Brasil de 2003 para cá. "Nesse quesito, pioramos em termos absolutos", informa Carrasco. "Comprometemos inutilmente as bases da prosperidade futura piorando o arcabouço institucional do país, enquanto o melhor grupo de comparação melhorou ao longo da década". A qualidade regulatória, identifica Carrasco, começou a se deteriorar em 2003, quando o governo Lula abriu uma polêmica com a Anatel por causa da autorização de aumentos nas tarifas telefônicas de até 41,7%. Desde então a autonomia das agências reguladoras foi comprometida.

O risco regulatório seria uma das razões para o aumento do custo do capital e suas consequências, como a redução dos investimentos e prejuízos para o crescimento do PIB per capita e da distribuição da renda, indica o estudo.

A intermediação financeira, telecomunicações e a produção de petróleo andaram em linha com o melhor grupo de comparação ou foram além.

Desenvolvida na década passada, essa metodologia foi aplicada na avaliação da performance, antes e depois, de países que entraram na União Europeia, mas seu uso não é pacífico entre economistas. E vem se disseminando na medição dos mais distintos objetivos, seja dos efeitos do uso da maconha nos índices de criminalidade no Colorado (EUA) ou dos danos do terrorismo para a economia dos países bascos.

O Brasil avançou de 2003 para cá na área social. Isso não está em questão. Mas poderia ter avançado muito mais. E se atrasou em outras áreas relevantes. Aí começa a discussão sobre o futuro. Não por outra razão, o texto está subsidiando a discussão no núcleo das campanhas eleitorais dos candidatos das oposições.

Eduardo Giannetti: Novos municípios

- Folha de S. Paulo

Tudo se desmente neste mundo. Estão de parabéns os nossos senadores. Quando menos se esperava, e como que para confundir os céticos, eis que uma ótima notícia vem render o desencanto e reavivar a esperança. No apagar das luzes da legislatura, nossos representantes interromperam suas campanhas, foram a plenário e aprovaram as regras que autorizam a criação de novos municípios no Brasil.

Registre-se, de início, o largo placar (52 a 4) e o sentido de urgência. Situação e oposição votaram em uníssono, sem se prender a ideologias ou regionalismos. "Vitória que deve ser muito comemorada", disse um deputado paraense. "A matéria estava certa de ser votada só em novembro e nunca imaginávamos que conseguiríamos votá-la já nesse esforço concentrado de agosto."

Venceu o empenho. Frustrados na primeira tentativa, abatida por veto presidencial, os senadores não esmoreceram. Assimilaram o golpe e voltaram à carga, desta vez com o beneplácito aberto do executivo federal. O que mudou?

Em vez dos 363 novos municípios da proposta original (segundo o Ipea), serão cerca de 200, conforme estimativa do relator do projeto. Pelos critérios aprovados, os municípios serão criados preferencialmente nas regiões com menor densidade demográfica. O número mínimo de moradores varia de 20 mil, no Sul e Sudeste, a 6.000 no Norte e Centro-Oeste. A exigência de território mínimo foi retirada, e a de número de imóveis, atenuada.

O principal, contudo, é o impacto econômico e social da medida. O município desmembrado faz brotar, como por mágica, recursos e empregos que de outro modo jamais chegariam até ele. Dado que 90% dos municípios têm menos de 50 mil habitantes e pouco (ou nada) arrecadam, mais de 85% das suas despesas são bancadas por mesada intragovernamental. Se não chega a ser o milagre da multiplicação dos pães, é parente próximo.

Mas o melhor exemplo vem das nossas 5.570 Câmaras Municipais, sem dúvida as de maior transparência, menor corruptibilidade e que melhor prestam contas aos eleitores entre todos os poderes da federação. A um custo (declarado) de R$ 15 bilhões anuais, 58 mil vereadores têm contribuído valorosamente à melhoria de serviços de saúde, educação, segurança e coleta de lixo. Como custo-benefício para o contribuinte seria difícil exigir mais.

Quem viaja pelo Brasil sabe que a criação de 1079 municípios desde a Carta de 1988 --cada um dotado de prefeitura, secretarias, assessores e Câmara de Vereadores, além, é claro, dos aposentados de hoje e do porvir-- foi obra civilizatória de raro descortino. Voltamos à trilha. O zelo dos senadores e a excelência da iniciativa honram o decreto imperial que concedeu aos membros da nossa Câmara Alta o tratamento de Excelência.

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Balão de ensaio no ar
As excelências fazem ouvidos de mercador à campanha "vai trabalhar, deputado!". Na Câmara, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-AL), deixa no ar a perspectiva de cancelamento do esforço concentrado marcado para 2 de setembro. Além das CPIs, tanto as da Petrobras quanto a do Metrô, há perigos na pauta. Nos bastidores, há quem diga ser melhor não convocar a passar pelo vexame de frustrar as reivindicações de categorias importantes do ponto de vista eleitoral, caso dos enfermeiros e a emenda constitucional que institui as 30 horas de trabalho.
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A oposição se mobilizou. Ontem mesmo, o líder do PPS, Rubens Bueno; o do PSDB, Antonio Imbassahy; e o DEM, Mendonça Filho, encaminharam ofícios ao presidente da Câmara cobrando sessões de votação e esforço concentrado na primeira semana de setembro. "Já é pouco e agora querem tirar esse pouco. Quem quiser que assuma por escrito", diz Cunha Bueno, bem dentro do espírito #vergonhaalheia.

2010, o retorno
Na enxurrada de projetos que vão ficar à espera do retorno das excelências, ficou também a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido votada até 31 de julho. Agora, só sai depois da eleição, ainda que haja um esforço concentrado. Resultado: o Orçamento chegará ao Congresso em 31 de agosto sem as diretrizes que deveriam orientar a sua elaboração.

Cândido, o discreto
Depois de ajudar o PT em contatos para arrecadação de recursos em várias campanhas, o deputado Vicente Cândido (SP), desta vez, prefere a pose de estátua. Tudo para não levantar a lebre de denúncias anteriores envolvendo o nome dele. O partido tem sentido sua falta. Afinal, passado o primeiro mês de campanha, os números divulgados não chegaram perto daquilo que o partido previu.

Rescaldo da CNA
Os empresários ficaram meio desapontados com o discurso da presidente Dilma Rousseff há dois dias na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Acharam que ela perdeu muito tempo com o balanço e não apontou novas metas. Não é à toa que ela tem dito precisar de mais tempo do que os adversários: "Eles chegam nos lugares e só prometem. Eu, além de prometer, tenho que mostrar o que fiz até agora", diz, invariavelmente.

Curiosidade
Em tempo de candidatos reunidos com a sociedade civil organizada, vale lembrar a proliferação de centrais sindicais no Brasil. Chega a ponto de o Ministério do Trabalho ter registrada uma central que aparece nas tabelas do órgão apenas como portadora de um CNPJ, sem número de trabalhadores ou filiados. É o caso da Central Nacional Sindical dos Profissionais em Geral (Cenasp). Em suma, ali cabe tudo.

Escolinha do professor Vital/ Assessores da CPI da Petrobras estão uma arara. A comissão já recebeu uma série de documentos a respeito dos sigilos fiscais dos envolvidos, mas simplesmente não consegue consultar os dados. Todos terão, agora, que se submeter a um curso para aprender a trabalhar com o sistema que armazena esse material. Ou seja, mais atrasos, para alívio do presidente das duas comissões, senador Vital do Rêgo Filho.

Quem será o Cebolinha?/ A presidente Dilma tem abusado da blusa vermelha nos eventos. Foi assim ontem, no almoço com os empreendedores e no dia anterior, no diálogo com o agronegócio. Já lhe rendeu até o apelido de Mônica, a personagem de Maurício de Sousa e brincadeiras sobre quem será o melhor amigo que vive arquitetando planos infalíveis contra ela. Piadas à parte, o vermelho tem uma razão de ser: passar a impressão de que tem orgulho da cor do PT na campanha.

Eunício, o fiel/ Candidato a governador do Ceará pelo PMDB, o senador Eunício Oliveira levou ao Planalto um santinho de campanha apenas para mostrar à presidente Dilma Rousseff que não tem essa história de fazer campanha para o PSDB. O PT, entretanto, trata o gesto de Eunício como pura encenação. Um senador dizia assim: "Esse já foi".

Ometto, o reservado/ O empresário Rubens Ometto, do grupo Cosan, informou, por meio de assessoria, que, oficialmente, não apoia o candidato do PSB, Eduardo Campos. O maior produtor de etanol do país apoia o processo democrático. Quanto ao voto, é secreto.