terça-feira, 29 de julho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Não adianta dirigente partidário questionar, cobrar demissões dentro de uma instituição financeira, porque teriam que demitir praticamente todos os analistas de todas as instituições financeiras, porque todos eles são muito céticos com o cenário da economia brasileira se continua o atual governo.

A resposta adequada do governo seria garantir um ambiente estável, de confiança, regulado, para que os investimentos pudessem voltar ao país, para que a inflação pudesse ser controlada, para que nós tivéssemos o crescimento da economia.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidência da República, O Estado de S. Paulo, 29 de julho de 2014.

Dilma: É “inadmissível” interferência do mercado no sistema político

Bruno Peres e Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira, em sabatina a veículos da mídia, ter recebido um pedido de desculpas, que definiu como “protocolar”, do Banco Santander e afirmou que adotará uma “posição clara” em relação ao banco, após o episódio envolvendo uma avaliação encaminhada a clientes que associava uma piora na economia à vitória de Dilma.

“Acho inadmissível para qualquer país aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro de forma institucional no sistema político”, disse a presidente. Para ela, há um “jogo de pessimismo inadmissível” nas projeções do mercado financeiro sobre o quadro eleitoral.

Dilma afirmou ter recebido pedido de desculpas do banco em diversas frentes e disse que conversará primeiramente com o banco antes de definir alguma posição, sem descartar a possibilidade de processar a instituição.

Dilma voltou a comparar o pessimismo em relação à Copa do Mundo no Brasil com a sensação do mercado financeiro em relação à economia. “Mesmo pessimismo que houve com a Copa está ocorrendo com a economia. No caso da economia, o pessimismo é mais grave, porque economia é expectativa”, disse a presidente. Dilma também destacou que a taxa de desemprego no país é a menor registrada historicamente e afirmou que o crescimento industrial no país é condição para o país se desenvolver.

“Mantivemos todas as conquistas sociais do período Lula, aprofundando-as”, disse.

Dilma afirmou que, para o país dar o próximo salto e se preparar para a retomada, precisa apostar em novo ciclo que vai ampliar distribuição de renda e conquistas sociais. Ela também destacou os investimentos feitos em infraestrutura e formação de mão de obra profissional.

Banco vira alvo de petistas após críticas a Dilma

• Prefeito de cidade da Grande São Paulo anuncia que romperá convênio com Santander

Fernando Rodrigues – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O banco Santander virou alvo de ataques de petistas desde a sexta (25), quando veio a público texto enviado a clientes ricos dizendo que o eventual sucesso eleitoral da presidente Dilma Rousseff iria piorar a economia do país.

Jorge Lapas (PT), prefeito de Osasco, anunciou que romperá convênio com o banco para recolhimento de impostos e taxas municipais. Segundo ele, o Santander já foi notificado, e o contrato será encerrado em 30 dias. A cidade tem o 12º maior PIB do país.

O texto do banco dizia que, se Dilma subir nas pesquisas, juros e dólar vão subir, e a Bolsa, cair. A análise já frequentava o mercado de forma difusa, mas nunca assumida.

Militantes lançaram uma campanha de boicote. Em redes sociais, defenderam a transferência de contas para o Banco do Brasil e a Caixa.

Rui Falcão, presidente do PT, classificou o caso como "terrorismo eleitoral". O site Muda Mais, vinculado à campanha de Dilma, definiu o episódio da mesma forma.

Em sabatina feita nesta segunda (28) por Folha, UOL, SBT e Jovem Pan, Dilma chamou de "lamentável" e "inadmissível" o texto do banco.

Dilma: comunicado do Santander 'é inadmissível para qualquer país'

• Para Aécio, não houve interferência política na carta do banco sobre cenário eleitoral

Catarina Alencastro, Sílvia Amorim e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff classificou como inadmissível e lamentável a análise enviada pelo banco Santander a clientes de alta renda relacionando a melhora da situação da petista nas pesquisas eleitorais a uma piora na economia. Esta foi a primeira vez que ela se manifestou sobre o caso. Suas declarações foram dadas durante entrevista à "Folha de S.Paulo", ao UOL, ao SBT e à Jovem Pan no Palácio da Alvorada. Segundo Dilma, todos que especularam durante o período eleitoral "não se deram bem".

- Acho muito perigoso especular em situações eleitorais. O Brasil tem experiência disso, que aconteceu com o presidente Lula na eleição de 2002 e não foi bem-sucedido. Eu acho que é inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro de forma institucional na atividade eleitoral. A pessoa que escreveu a mensagem fez isso, sim (especulação). Isso é lamentável, inadmissível para qualquer candidato - disse a presidente, afirmando que terá uma atitude "bastante clara" em relação ao banco.

Dilma disse ter considerado o pedido de desculpas que recebeu do Santander "bastante protocolar". O presidente mundial do Grupo Santander, Emílio Botin, solicitou oficialmente uma audiência com a presidente para se desculpar e deve ser recebido nos próximos dias.

Pessimismo sobre economia
Em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, disse não considerar o comunicado do Santander uma interferência no cenário político-eleitoral, e criticou dirigentes do PT pela cobrança de demissões no banco.

- Não adianta um dirigente partidário cobrar demissões dentro de uma instituição financeira porque teriam que demitir praticamente todos os analistas de todas as instituições financeiras. Todos eles são muito céticos em relação ao cenário da economia brasileira se continuar o atual governo - afirmou Aécio.

O ex-presidente Lula criticou a direção do Santander ontem à noite, na abertura da 14ª Plenária Nacional da CUT. Disse que que o banco deveria demitir a diretora que enviou a análise aos clientes. Para Lula, o banco ganha mais dinheiro no Brasil que em qualquer outro país.

- Essa moça não entende porra nenhuma de Brasil e de governo Dilma. Manter uma mulher dessa num cargo de chefia, sinceramente... Pode mandá-la embora e dar o bônus dela para mim - disse Lula.

Dilma avaliou que o mesmo pessimismo que se espalhou sobre a capacidade de realização da Copa está sendo observado agora em relação à economia.

- Eu acho que há no Brasil um jogo de pessimismo inadmissível. Eu acho que está havendo com a economia o mesmo pessimismo que ocorreu com a Copa. Mas na economia é mais grave. (...) É especulação contra o país - reclamou ela.

Dilma rebateu as críticas sobre o fraco desempenho da economia e comparou a situação brasileira com a de outros países emergentes. Disse que seu governo tem enfrentado a crise econômica internacional e gerado 5,1 milhões de empregos. Perguntada sobre uma troca do ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso seja reeleita, ela respondeu que não comenta ministério.

- A última vez que botaram o carro na frente dos bois sentaram na cadeira do prefeito antes da eleição e perderam a eleição - disse, em referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em 1985 sentou na cadeira de prefeito de São Paulo antes das eleições para fazer uma foto e não se elegeu.

Humor do varejo de SP é o pior em 3 anos

• Confiança do empresário do setor ficou abaixo de 100 pontos em julho, indicando pessimismo, revela pesquisa da Fecomércio de SP

Márcia de Chiara - O Estado de S. Paulo

O mau humor predominou entre os empresários do comércio este mês. Pela primeira vez em pouco mais de três anos, o Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (ICEC) ficou abaixo de 100 pontos em julho na Região Metropolitana de São Paulo, o que indica pessimismo. Foi o menor resultado da pesquisa, iniciada em março de 2011 pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP).

"A confiança bateu no fundo do poço", afirma o assessor econômico da Fecomércio-SP, Fábio Pina. O ICEC deste mês ficou em 98,6 pontos, com recuo de 2,5% ante junho. Em 12 meses até julho, o indicador caiu 10,4% e, neste ano, 17,2%.

O economista destaca que faz seis meses que tanto a confiança dos empresários como a do consumidor só caem e essa deterioração das expectativas é o principal problema do varejo.

Por causa do pessimismo generalizado, Pina acredita que o faturamento do comércio na Região Metropolitana de São Paulo deve ter fechado o primeiro semestre deste ano com crescimento de apenas 1,5% em relação ao mesmo período de 2013, descontada a inflação. Para este ano como um todo, a expectativa é de um acréscimo entre 1% e 2% na receita real das lojas, depois do avanço de 4% registrado em 2013.

A desaceleração de vendas no varejo é endossada pelas projeções do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), que reúne grandes redes varejistas. Para este mês, a expectativa é que as vendas cresçam 1,1% em relação a julho de 2013, depois de terem aumentado 4,4% em junho, na comparação anual.

Nem mesmo a decisão do governo de injetar mais dinheiro na economia, reduzindo os depósitos compulsórios que os bancos têm de fazer com o Banco Central, deve impulsionar a atividade do comércio, segundo avaliação de Pina. Tanto é, diz ele, que em resposta a essa decisão anunciada na última sexta-feira, os juros subiram no mercado futuro. Isso indica que o mercado acredita que a medida deve provocar mais inflação, em razão da maior liquidez na economia, do que acréscimo nas vendas a prazo.

Duráveis. Um dos destaques do ICEC deste mês é a baixa confiança dos empresários do varejo do segmento de duráveis, geralmente itens de maior valor, como carros, eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, cujas vendas estão ligadas ao crédito e que foram beneficiadas pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido. Entre os três segmentos pesquisados (bens duráveis, semiduráveis e não duráveis), o menor nível de confiança dos empresários do comércio neste mês foi observado no varejo de duráveis, que recuou para 91,8% e desde maio deste ano está baixo de 100. O ICEC varia entre zero e 200 pontos. Abaixo de 100 pontos indica pessimismo e acima de 100 pontos, otimismo.

Outra influência desfavorável captada pelo indicador diz respeito à propensão dos empresários do comércio para fazer investimentos. Em julho, esse item que compõe o ICEC, fechou em 96.1 pontos, o mais baixo da série em mais de três anos. Segundo Pina, o indicador de investimentos está amparado na visão dos empresários em relação às incertezas sobre o futuro. Tanto é que a maior alta que houve de junho para julho ocorreu no indicador de expectativas, que recuou 3,1%, enquanto o de condições atuais teve retração menor, de 2% no mesmo período.

Expectativa de crescimento encolhe novamente, para 0,9%

• Analistas consultados pelo Banco Central agora esperam um crescimento da economia brasileira de 0,90% em 2014

Victor Martins - Agência Estado

A previsão de crescimento da economia brasileira em 2014 recuou de 0,97% para 0,90% na pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda-feira, 28, a nona revisão consecutiva do número para baixo. Na semana passada, a expectativa recuou para menos de 1% pela primeira vez no ano. Para 2015, a estimativa de expansão segue em 1,50%.

O BC anunciou na semana passada uma série de mudanças no recolhimento da compulsório para estimular o crédito.
A projeção para a inflação medida pelo IPCA em 2014 caiu de 6,44% para 6,41%. Segundo o boletim Focus, há quatro semanas, a estimativa era de 6,46%. Para 2015, a projeção se elevou entre uma semana e outra, passou de 6,12% para 6,21%. Um mês antes, a expectativa estava em 6,10%. A previsão de inflação para os próximos 12 meses à frente recuou de 5,95% para 5,94%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas estava em 5,91%.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2014 no cenário de médio prazo caiu de 6,51% para 6,39%. Para 2015, a previsão dos cinco analistas, no entanto, permaneceu estável entre uma semana e outra, ficou em 6,75%. Há quatro semanas, o grupo apostava em altas de 6,33% para 2014 e 7,03% para 2015.

Os economistas ainda mantiveram em 5% a previsão para os preços administrados para 2014, mesma previsão que consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Um mês antes a expectativa era de alta de 5%. Para 2015, a projeção subiu de 6,50% para 6,75%. Há quatro semanas, era de 7,00% para o próximo ano. O Banco Central espera um valor bem mais baixo para o período, alta de 6%.

Selic. Os economistas mantiveram a previsão para a taxa Selic no fim de 2014 em 11% ao ano pela oitava semana seguida. Para 2015, a projeção ficou estável em 12% pela nona semana consecutiva. A taxa básica de juros está em 11,00% ao ano desde a reunião do Copom que ocorreu em 27 e 28 de maio. O próximo encontro da diretoria colegiada do BC será em 02 e 03 de setembro.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para a Selic no fim de 2014, no médio prazo, segue em 11% há cinco semanas. Para 2015, no entanto, caiu de 12,25% para 12% entre uma semana e outra.

Para Campos, Santander não deveria ter personificado crítica

• Candidato do PSB à Presidência afirma que analise do banco estava correta, mas que não precisava citar o nome da presidente na crítica

Daiene Cardoso - Agência Estado

O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, comentou nesta segunda-feira, 28, a carta enviada pelo banco Santander a correntistas de alta renda sugerindo que a reeleição da presidente Dilma Rousseff levaria a uma piora da economia. "A análise do cenário econômico feita pelo banco foi correta, mas o documento não deveria ter personificado a crítica", disse Campos.

Mais cedo, o candidato do PSDB Aécio Neves ironizou a postura do PT e do governo da adversária. "O que o Santander fez foi explicitar o cenário atual da economia brasileira. Não adianta cobrar demissões porque teriam de demitir praticamente todos os analistas de todas as instituições financeiras", afirmou.

Em sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, portal UOL, SBT e rádio Jovem Pan, Dilma considerou "muito perigoso" especular em situações eleitorais e disse que é "inadmissível" qualquer interferência nesse sentido. Perguntada se o Santander havia feito essa interferência, respondeu: "A pessoa que escreveu a mensagem (do Santander) fez isso, sim, e é lamentável e inadmissível".

Fala sobre mensalão é infeliz, diz Aécio

• Em sabatina, Dilma sugeriu que tucanos agiram para bloquear investigações sobre supostos desvios do PSDB

• Segundo candidato ao Planalto, se alguém for condenado no mensalão tucano, não será tratado como herói

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), rebateu na noite desta segunda-feira (28) declaração da presidente Dilma Rousseff sobre o mensalão tucano, que envolve o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, acusado de desviar dinheiro de empresas ligadas ao governo para sua campanha à reeleição em 1998.

Segundo ele, se um tucano for condenado no caso, ele não será "tratado como herói, como buscou fazer o PT".

Em sabatina promovida pela Folha, o portal UOL, o SBT e a Jovem Pan, a petista insinuou que o PSDB agiu para "interromper" a Justiça e que, no caso do mensalão petista, integrantes do partido foram julgados com "dois pesos e 19 medidas".

"Não é uma manifestação feliz da presidente. Tudo tem que ser julgado, independente de a qual partido pertençam os que são acusados", disse Aécio. "No caso do PSDB, se eventualmente alguém ligado ou filiado ao partido cometer algum delito e for punido por ele, nós não o trataremos como herói, como buscou fazer o PT".

Aécio também rebateu insinuação da presidente de que ele tem uma "visão fundamentalista" de Cuba, por defender a revisão do contrato com os profissionais de saúde da ilha que trabalham para o Mais Médicos. "Se há fundamentalismo na relação com Cuba, certamente ele não tem origem nas nossas posições, provavelmente nas posições da presidente."

As declarações foram dadas após o tucano participar de um encontro com integrantes de ONGs, em São Paulo, e defender um marco civil para o setor.

Antes disso, ele teve uma reunião com todos os coordenadores estaduais de sua campanha, onde foi anunciado que sua filha mais velha, Gabriela, será coordenadora de "comitês voluntários" de Aécio no Rio de Janeiro.

A ideia é que essas estruturas de apoio "espontâneo" existam em todo o país. Elas serão identificadas como "agentes da mudança".

A ideia é similar à que levou a ex-senadora Marina Silva criar, em 2010, as "Casas de Marina", fórmula que replicou agora como vice na chapa presidencial de Eduardo Campos (PSB).

Servidores ajudam Dilma em debate

• Servidores foram orientados a estudar temas de encontro de candidatos

Geralda Doca e Cristiane Bonfanti – O Globo

BRASÍLIA - Funcionários de vários órgãos dos ministérios de Minas e Energia e da Fazenda - como Receita Federal, Tesouro Nacional, Secretarias de Acompanhamento Econômico e de Política Econômica, além da própria secretaria executiva da pasta - foram encarregados de se preparar para o debate eleitoral que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fará amanhã com os três principais candidatos a presidente da República.

Segundo fontes, que pediram para não ser identificadas, servidores receberam ontem pela manhã a missão de dissecar o conjunto de 42 estudos encomendados pela CNI com sugestões em 10 áreas apontadas pela entidade como "decisivas para promover a competitividade". A determinação causou mal estar entre os membros da equipe, por se tratar de órgãos de Estado, que não deveriam ter qualquer vinculação com o comitê de campanha da presidente.

- A ordem foi estudar as propostas para nos preparar para o debate. A gente não deveria estar fazendo isso, mas estamos prestando uma espécie de consultoria pública - contou uma fonte, acrescentando que a ordem teria partido do comitê da campanha da presidente Dilma Rousseff ainda no fim de semana.

A assessoria de imprensa da CNI disse ter enviado os estudos aos organizadores da campanha de Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Procurado, o comitê da campanha da presidente nega que tenha despachado as propostas para os ministérios. A assessoria da pasta de Minas e Energia diz desconhecer o documento e a da Fazenda não respondeu.

No entanto, fontes ouvidas pelo GLOBO confirmam que este tipo de determinação é uma prática recorrente. Teria ocorrido inclusive em 2010.

- É a famosa mistura entre público e privado - disse um servidor.

Ao divulgar os estudos, a CNI avaliou que é possível melhorar o ambiente de negócios no país e reduzir o custo dos investimentos com modificações no sistema tributário. Estudo apresentado pela confederação mostra, por exemplo, que o custo final de instalação de uma siderúrgica no Brasil é elevado em 10,6% pelos efeitos dos tributos sobre bens e serviços.

A difícil tarefa de levar a campanha às ruas

• Da falta de palanques a problemas na produção de material, Dilma, Aécio e Eduardo esbarram em obstáculos na hora de intensificar a divulgação dos próprios nomes

Grasielle Castro, João Valadares e Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Depois de quase um mês do início oficial da campanha eleitoral, as três principais candidaturas ainda sofrem para colocar o bloco na rua. Faltam estrutura, articulação de palanques nos estados e até material de divulgação. A organização da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, ainda patina. Os próprios petistas apontam que há uma série de dificuldades. Um dos entraves é a falta de disponibilidade da presidente para fazer o corpo a corpo, que poderia, inclusive, reforçar a candidatura de correligionários em alguns estados. Em vez disso, tem preferido a reclusão, e só agora começa a se movimentar para negociar os palanques que precisam ser abertos — e em quais ela vai subir.

Líder do PT no Sendo, Humberto Costa (PE) admite que é preciso pisar no acelerador. "Falta estruturar a campanha. Algumas coisas estão muito incipientes em termos de organização, como material e garantias de infraestrutura para os estados", diz. Outros integrantes do partido ressaltam que os comandos regionais ainda estão sem orientação. A expectativa é que a situação se desenrole nos próximos dias, com novas reuniões de campanha. Na semana passada, o coordenador da agenda eleitoral de Dilma, Giles Azevedo, deu início a uma série de encontros com prefeitos aliados.

Os correligionários do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos (PE), também sofrem com a falta de material. A estratégia para driblar o problema é pegar carona nas unidades da Federação em que a legenda apresenta candidatura própria. Em Pernambuco, por exemplo, a maior parte do material da publicidade nas ruas é do candidato Paulo Câmara (PSB). "A imagem de Eduardo Campos está em todo o material de Paulo Câmara. Aqui é mais fácil. Mas, em outras estados, a situação é muito complicada. Os empresários ainda não decidiram em que cavalo apostar. Por isso, há uma seca de recursos", explica um integrante da campanha.

Insatisfeito com a mobilização de rua até o momento, Campos resolveu "importar" o chefe de gabinete quando esteve à frente do governo de Pernambuco, Renato Thiebaut. Ele estava na campanha de Paulo Câmara, mas teve que deixar Pernambuco depois de ter sido requisitado pelo próprio Campos. A avaliação interna é de que a campanha de rua está travada.

"Unzinho"
Uma das ideias para driblar a falta de recursos é transformar a casa de eleitores em comitês, reeditando a estratégia de Marina Silva em 2010, quando ela concorreu ao Planalto pelo PV — hoje, está filiada ao PSB e é vice na chapa de Campos. Ontem, em Osasco (SP), a dupla passou por uma saia justa. O proprietário de uma "Casa de Eduardo e Marina", Edvaldo Sevino, informou que "ganharia unzinho" para ajudar a campanha. Ele fez um gesto com as mãos ao ser questionado pela própria equipe do PSB por que aceitou ceder a residência para servir como base de divulgação.

O PSDB também estuda como aumentar a visibilidade do presidenciável Aécio Neves. Ontem, a coordenação de campanha se reuniu para definir estratégias. A sigla entendeu que é urgente implementar ações de logística para atender a demanda da militância — só nesta semana começou a distribuição de panfletos.

De acordo com os tucanos, é preciso ter a garantia de que a distribuição de material será eficiente. No sábado, por exemplo, o PSDB espera reunir 10 mil pessoas num evento em Porto Alegre. Existe a preocupação de que não faltem adesivos, bandeiras e faixas. Onde não há candidatura própria ao governo local, a ideia é aproveitar a capilaridade de candidatos a deputado e a senador.

As pedras no caminho
Saiba quais são os principais entraves que os três principais presidenciáveis enfrentam

Dilma Rousseff (PT)
Indefinição de palanques
» O Rio de Janeiro se tornou um calo na campanha de Dilma. Embora conte com quatro palanques —Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindbergh Farias (PT), Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB) — a presidente se preocupa com os peemedebistas, que são fortes e prometem fazer campanha para Aécio.

Economia fraca
» Um dos principais fantasmas que a campanha de reeleição da presidente Dilma precisará enfrentar é o da política econômica. O baixo crescimento da economia, a inflação e a relação com a indústria e os empresários têm servido de munição para os adversários.

Alto índice de rejeição
» Nas pesquisas mais recentes, o índice de rejeição da Dilma chegou a 35%, com crescimento em quatro das cinco regiões do país. Aliados avaliam que, em um possível segundo turno, esse indicador pode inviabilizar a reeleição.

Aécio Neves (PSDB)
Concentração no Sudeste
» Um dos maiores desafios de Aécio é se tornar um nome conhecido em todo o país. Atualmente, ele tem grande receptividade nos maiores colégios eleitorais, mas precisa intensificar a campanha em regiões como Norte e Nordeste.

Formatar um discurso de renovação
» Apesar de nunca ter sido candidato da República, Aécio é filiado a um partido — o PSDB — que governou o país por oito anos e comanda São Paulo há quase 20, o que dificulta a identificação dos tucanos com a imagem de renovação na política.

Funcionalismo público e movimentos sociais
» Aécio precisa estabelecer uma ponte com servidores e entidades da sociedade civil organizada, tradicionais eleitores do PT, e que reclamam de falta de diálogo com os governantes tucanos. Nos últimos dias, Aécio, por exemplo, se encontrou com o AfroReggae para estreitar relações.

Eduardo Campos (PSB)
Curto tempo de tevê
» Eduardo Campos conta com aproximadamente dois minutos na propaganda eleitoral no rádio e na televisão para apresentar as propostas da coligação. O tempo é considerado bastante pequeno se comparado aos dois principais adversários.

Sem palanque
» Nos 10 maiores colégios eleitorais do país, o pessebista não tem palanque em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pará e Santa Catarina, o que dificultará a inserção no eleitorado dessas localidades.

Nordeste em baixa
» Ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos encontra dificuldade para crescer justamente no Nordeste, região onde se encontra o maior número de beneficiários dos principais programas sociais da gestão petista. Mesmo após priorizar atos de campanha em estados nordestinos, Campos ainda não conseguiu reverter o quadro.

Merval Pereira: O Estado e o capitalismo

- O Globo

Concordo com a presidente Dilma, que classificou ontem o que está acontecendo no mercado financeiro de "inadmissível" e "lamentável", mas tenho a visão oposta à dela: o que é inaceitável é um governo, qualquer governo, interferir em uma empresa privada impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país. Sobretudo uma instituição financeira, que tem a obrigação de orientar clientes para que invistam seu dinheiro da maneira mais rentável ou segura possível.

Numa democracia capitalista como a nossa, que ainda não é um "capitalismo de Estado" como o chinês - embora muitos dos que estão no governo sonhem com esse dia -, acusar um banco ou uma financeira de "terrorismo eleitoral", por fazerem uma ligação óbvia entre a reeleição da presidente Dilma e dificuldades na economia, é, isso sim, exercer uma pressão indevida sobre instituições privadas.

Daqui a pouco vão impedir o Banco Central de divulgar a pesquisa Focus, que reúne os grandes bancos na previsão de crescimento da economia, pois a cada dia a média das análises indica sua redução, agora abaixo de 1% este ano.

Outro dia, escrevi uma coluna sobre a influência da economia nos resultados eleitorais, e o incômodo que a alta cúpula petista sentia ao ver análises sobre a correspondência entre os resultados das pesquisas eleitorais e os movimentos da Bolsa de Valores: quando Dilma cai, a Bolsa sobe.

Essa constatação, fácil de fazer e presente em todo o noticiário político do país nos últimos dias, ganhou ares de conspiração contra a candidatura governista e gerou intervenções de maneiras variadas do setor público no privado. O Banco Santander foi forçado a pedir desculpas pela análise enviada a investidores sugerindo que prestassem atenção às pesquisas eleitorais, pois, se a presidente Dilma estancasse a queda de sua popularidade ou a recuperasse, os efeitos imediatos seriam a queda da Bolsa e a desvalorização cambial. E vice-versa.

O presidente do PT, Rui Falcão, já havia demonstrado que o partido governista não se contenta com um pedido de desculpas formal, como classificou a presidente Dilma: "A informação que deram é que estão demitindo todo o setor que foi responsável pela produção do texto. Inclusive gente de cima. E estão procurando uma maneira de resgatar o que fizeram". Ontem, na sabatina do UOL, a presidente Dilma disse, em tom ameaçador, que terá "uma conversa" com o CEO do Banco Santander.

Mas não foi apenas o Banco Santander que sofreu esse assédio moral por parte do governo. Também a consultoria de investimentos Empiricus Research foi acusada pelo PT de campanha eleitoral em favor do candidato oposicionista Aécio Neves, tendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acatado o pedido para que fossem retirados do Google Ads anúncios bem-humorados do tipo "Como se proteger de Dilma" e "E se Aécio ganhar".

Justamente é este o ponto. A cada demonstração de autoritarismo e intervencionismo governamental, mais o mercado financeiro rejeita uma reeleição da presidente Dilma, prepara-se para enfrentá-la ou comemora a possibilidade de que não se realize. Isso acontece simplesmente porque o mercado é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão da opinião pública.

Atitudes como as que vêm se sucedendo, na tentativa de controlar o pensamento e a ação de investidores, só reforçam a ideia de que este é um governo que não tem a cultura da iniciativa privada, e não lida bem com pensamentos divergentes, vendo em qualquer crítica ou mesmo análise uma conspiração de inimigos que devem ser derrotados.

Um dos sócios da consultoria Empiricus Research, Felipe Miranda, afirmou em entrevistas que não se intimidará, e fez uma constatação óbvia. "O que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento".

Dora Kramer: Desculpas por nada

- O Estado de S. Paulo

Francamente, não deu para entender a razão da polêmica em torno da análise do Banco Santander, enviada a um grupo seleto de clientes, apontando risco de piora da situação econômica caso a presidente Dilma Rousseff venha a ser reeleita.

O incompreensível nesse episódio não foi a reação do PT. Ofendido, o partido falou em entrar na Justiça (contra o quê?) e aludiu logo ao já batido "terrorismo eleitoral". Isso sempre acontece: qualquer coisa diferente de elogios é vista sob o prisma da ilegalidade e da conspiração.

Esquisito mesmo foi o banco considerar que devia "esclarecimentos" e desculpas às autoridades em geral, à presidente Dilma em particular, por uma análise de conjuntura que nem novidade é. Faz constatações que estão todos os dias nos jornais e estão no radar de praticamente todos os agentes políticos e econômicos.

Se essas previsões são acertadas ou não, são outros quinhentos. Fato é que o desenho de cenários é algo absolutamente normal. O traçado sempre será mais favorável ou desfavorável a alguém.
Se formos ver as coisas por essa ótica, ficam em princípio interditadas quaisquer formas de manifestações porque todas significariam pernicioso engajamento, interferência na decisão do voto.

O presidente do Santander houve por bem se manifestar isentando a instituição pela elaboração do informe, acrescentando que os responsáveis serão todos demitidos. Acrescentou que considera o Brasil um "país importantíssimo".

E o que um cenário de risco com base em dados sobre a condução que esse ou aquele governo dá à política econômica tem a ver com a percepção sobre as potencialidades do País e a capacidade de outras forças que não aquelas momentaneamente no poder têm de geri-lo?

Os analistas do banco traçaram um cenário - trabalho para o qual se imagina que devam ter sido contratados - e serão demitidos por isso. Por quê? Porque o governo não gostou.

E se a situação fosse oposta: se o informe dissesse aos clientes que o risco de deterioração na economia estivesse justamente na possibilidade de vitória de algum dos candidatos da oposição?

Dificilmente essa ou qualquer outra instituição ver-se-ia obrigada a pedir desculpas aos oposicionistas que, porventura, se sentissem prejudicados. O gesto de retratação decorre da força de intimidação do governo.

Isso, sim, é uma vantagem e não o contrário, como quis fazer crer o presidente do PT, Rui Falcão.

Para ele o que houve é proibido. "Não se pode fazer manifestação em uma empresa que por qualquer razão interfira na decisão do voto", disse. Por essa lógica as consultorias não poderiam se manifestar, as pesquisas de opinião não deveriam ser publicadas, muito menos interpretadas pelos especialistas, veículos de comunicação estariam proibidos de explicitar suas posições e o governo estaria impedido de usar suas prerrogativas para se dedicar em tempo integral a procurar interferir na decisão do voto.

Sub do sub. Na opinião do ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia, a conjugação de três fatores levou ao episódio do diplomata israelense que chamou o Brasil de "anão diplomático".

A posição francamente pró-árabe dos governos do PT, a convocação do embaixador brasileiro em Tel-Aviv de volta a Brasília e a impetuosidade inexperiente do autor da declaração, "um rapaz querendo mostrar serviço".

Utilidade. Discussão mais fértil que o debate até então estéril dos candidatos à Presidência seria a elevação do Brasil a um patamar mais decente que o 79.º lugar no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano, como meta a ser alcançada em tempo determinado.

Eliane Cantanhêde: Dividindo os erros

- Folha de S. Paulo

Dilma comparou a atual má vontade com a economia com a má vontade que precedeu a Copa.

"O mesmo pessimismo que ocorreu com a Copa está havendo com a economia brasileira. E com a economia é mais grave, porque economia é feita de expectativa", reclamou na sabatina desta segunda (28), no Palácio da Alvorada.

Há, porém, uma diferença enorme entre a disposição negativa diante da Copa e da economia. A da economia é calcada, não em impressões e em manifestações de rua, mas sim em dados concretos feitos por especialistas --do Banco Central e da área econômica, inclusive, além da indústria e de agências de avaliação.

Todos eles, num movimento simultâneo e sempre na mesma direção, vêm reduzindo a expectativa de crescimento da economia mês a mês, implacavelmente. E não é apenas um problema de expectativa, mas de constatação. Tanto devem ter lá seus motivos que a própria Dilma tratou de arranjar motivos e justificativas.

Depois de passar três anos e meio sob críticas e levando bronca do ex-chefe e padrinho Lula, ela distribuiu a responsabilidade pelos fiascos: "Todos nós erramos", disse, admitindo que Lula e ela própria avaliaram mal a crise internacional de 2008. O então governo minimizou o impacto da crise no Brasil e se limitou a medidas administrativas. (Na época, Lula chegou a dizer quer era só "uma marolinha", lembra?)

O resultado é que a presidente e candidata tem efetivamente resultados pífios. Para Lula, são culpa dela; para Dilma, foi erro de avaliação de ambos. Agora, ela nega crise, mas não corrigiu as previsões de PIB e declarou que a inflação vai ficar no teto da meta (logo, fora da meta de 4,5%).

Dilma menosprezou sua rejeição: "Temos mudanças e reversões muito rápidas; 45 dias antes da Copa mais de 70% dos brasileiros achavam que seria um desastre. Depois, 80% achavam que tinha sido uma boa Copa".

Bem, Copa é Copa, economia é economia, eleição é eleição...

Raymundo Costa: Dilma pronta para troca chumbo na TV

• Presidente está treinada para enfrentar debates

- Valor Econômico

Com 11 minutos e 48 segundos de tempo de televisão, a campanha da presidente Dilma Rousseff aposta no horário eleitoral gratuito para reduzir a rejeição da candidata do PT à reeleição, hoje em torno dos 35%, segundo as pesquisas, mas também nos debates na televisão. Dilma está preparada para também bater nos adversários, apesar do mantra segundo o qual o ataque não é um bom negócio para quem lidera as pesquisas.

Na campanha de 2010, para surpresa dos adversários, Dilma partiu para cima de José Serra, logo no primeiro debate. Ao final de um bloco do programa, a então candidata tomou a iniciativa de perguntar para Serra qual era o papel de Paulo Preto em sua campanha. Na volta dos comerciais, Serra ignorou solenemente a questão levantada por Dilma, de que o tal Paulo Preto havia desaparecido com R$ 4 milhões de um suposto caixa 2 da campanha do PSDB.

Um erro grave. O candidato tucano passou os dias seguintes sendo cobrado a responder a pergunta, outros tantos para dizer que não identificara em Paulo Preto o engenheiro Paulo Vieira de Souza, apontado como "arrecadador" de campanhas eleitorais do PSDB. Nada foi provado, mas o tucano ficou na defensiva, a pior posição para um candidato numa disputa eleitoral. O espectro de Paulo Preto, é bom que se diga, já se insinua na atual campanha eleitoral, quando se fala da cobrança de comissões em obras realizadas em São Paulo pelos sucessivos governos do PSDB.

A cúpula da campanha de Dilma leva a sério a rejeição da presidente detectada pelas pesquisas. As sondagens do próprio PT já haviam identificado o fenômeno, que é extensivo também ao Partido dos Trabalhadores. Há indicações de fadiga de material que o líder máximo do lulismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esperava que ainda demorasse a acontecer. Ela é palpável, especialmente em São Paulo, mas também no restante do país.

A avaliação feita no comitê da presidente é que a rejeição de Dilma, em primeiro lugar, carrega uma rejeição estrutural que está na faixa dos 30%, e nessa faixa permaneceria, mesmo se o papa Francisco estivesse do lado do PT. O raciocínio petista é simples: assim como há o núcleo duro de eleitores sinceros do partido, existe no país um núcleo duro de outras forças com interesses objetivos, concepções políticas e ideologias diferentes.

Esse "núcleo duro" - a expressão é de integrantes da coordenação da campanha da presidente à reeleição - tem sua base principal no Estado de São Paulo. Não é por acaso que o Partido dos Trabalhadores apenas uma vez ganhou a eleição em São Paulo, com Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Foi a eleição da "onda vermelha", na qual o voto urbano e de classe média teve papel importante na eleição de Lula. Quatro anos mais tarde, Lula perdeu no Estado para Geraldo Alckmin por uma diferença de quase 3 milhões de votos. Dilma também perdeu para Serra em São Paulo, em 2010, embora por diferença menor. Conclusão do PT: independente das conjunturas.

A segunda questão analisada na coordenação da campanha da presidente é a rejeição dos outros candidatos na disputa, sobretudo, é claro, o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Os dois são menos conhecidos que Dilma, naturalmente, portanto, carregam uma rejeição menor, à esta altura da corrida sucessória. À medida que a campanha avançar, o nível de conhecimento de Aécio Neves e de Eduardo Campos vai aumentar, mas o nível de rejeição também vai crescer.

Nesse momento entra na campanha o que ainda não começou pra valer: a "troca de chumbo", como se diz no comitê, que deve se dar principalmente nos debates e no horário eleitoral, na programação do rádio e da televisão de 19 de agosto até a eleição. Vale "dedo no olho". No QG de Dilma acredita-se que a presidente candidata larga na frente pela mostra das realizações do governo, pela comparação com o passado - os tais 12 anos do PT contra os oito do PSDB - e pela projeção de futuro embalada na linguagem do marqueteiro João Santana.

A tendência nesse instante, segundo o PT, é a rejeição de Dilma cair. Não a um ponto inferior à rejeição estrutural, aquela estimada em 30%, "mas vai cair", é a profissão de fé na coordenação da campanha. E se houver segundo turno, como projetam as pesquisas, a tendência é que as rejeições sejam quase equivalentes. É a rejeição do eleitor que já tem um candidato e não vota no outro de jeito nenhum. Ou seja, há vários "momentos de rejeição", assim como várias maneiras de reduzir a própria rejeição e de ampliar a dos outros.

Um exemplo é citado no comitê de Dilma: desde a publicação da denúncia da construção de um aeroporto (pode ser uma pista de pouso, mas o que ficou no imaginário da discussão foi aeroporto) em terras de um parente do senador Aécio Neves, cresceram as menções negativas ao candidato do PSDB nas redes sociais. Menções multiplicadas pelo exército que a campanha de Dilma, como as outras duas principais, mantém na internet.

Sempre que é provocado sobre a rejeição a Dilma Rousseff, o presidente do PT, Rui Falcão, recorre ao exemplo da eleição municipal de 2012 para mostrar como é possível a reversão de um quadro adverso. O PT disputou aquela eleição sob o julgamento do mensalão, episódio que mais uma vez foi utilizado à exaustão na campanha, pelos adversários, "e ainda assim nós fomos o partido mais votado do país". Poderia ser uma votação maior, não fosse o mensalão, mas isso não é mensurável. "O fato objetivo é que nós conseguimos suplantar um episódio altamente negativo", diz.

No entendimento da coordenação da campanha da presidente, Dilma está "muito bem" treinada nos debates e deve comparecer a todos aqueles promovidos pelas principais emissoras de televisão. Como presidente da República, segundo dá conta o PT, domina todos os assuntos, algo que os outros não necessariamente dominam. Além disso, "é boa no debate". Pode apanhar, mas também vai bater, se for preciso.

João Bosco Rabello: Indiscrição reveladora

– O Estado de S. Paulo

Em que pese a indevida formalização aos clientes de um ponto de vista eleitoral, a mensagem do Banco Santander aos clientes especiais sobre a conjuntura econômica reflete a visão do mercado. Associá-la a uma sugestão, implícita na análise, para que não votem na candidata governista, é ultrapassar o limite ético e legal.

A repercussão do episódio, já objeto de desculpas públicas do banco, materializou o que já indicara, mais de uma vez, o sobe e desce da bolsa a cada pesquisa – em alta nas quedas da aprovação da presidente e de seu governo e versa.

Os agentes econômicos que formam o chamado mercado não se restringem aos especuladores, que costumam ganhar em qualquer circunstância. Não é algo abstrato, mas um segmento empresarial e financeiro que representa a força produtiva do país e que conviveu bem com os oito anos de governo Lula.

Tolice, portanto, ou mera retórica defensiva do PT, atribuir as críticas do setor, e mesmo sua oposição à política econômica do governo, um sentimento antipetista que, por si só, explicaria o distanciamento dos investidores, empenhados em uma ação conspiratória.

Em outros tempos essa retórica poderia até surtir algum efeito eleitoral, mas nos dias de hoje, com a população exibindo um comportamento pragmático por melhores serviços, permanece tolo insistir nesse tipo de reação, fora da realidade.

O fosso que separa a presidente Dilma das aspirações da sociedade por gestão competente é reflexo da ausência de investimentos e de parceria entre governo e setor privado, modelo rejeitado pelo PT historicamente, mas decisivo para atender à demanda das ruas.

Por descuido, ato falho, ou algo pior que as desculpas públicas do banco não avalizam, a instituição financeira expôs o que as análises internas do setor já fazem circular pelas vias legais há muito tempo, sem que suas críticas valessem uma reavaliação do modelo econômico.

O mercado, que o PT trata como uma abstração, se guia pelos negócios e pelo lucro, como é inerente ao capitalismo. Não joga dinheiro fora e não aposta em gestões duvidosas do ponto de vista dos resultados, não importando qual partido esteja no poder – a menos que seja um que pretenda reverter o sistema capitalista.

À parte a reação de indignação motivada pelo potencial dano eleitoral da análise do Santander, o governo e seu partido não têm resposta para o conteúdo do documento enviado aos clientes, que essencialmente revela dúvidas quanto à capacidade de reversão dos resultados da economia em 2015, em caso da continuidade do modelo em curso.

É uma dúvida generalizada, permeada aqui e ali de certezas negativas. A presidente Dilma não disse ainda o que fará para reverter o quadro econômico próximo da recessão, limitando sua autocrítica a um genérico mea culpa feito de forma indireta por interlocutores não nominados.

Esse caminho, pouco claro, indireto e genérico, dá apenas aparência de boas intenções a uma gestão que ainda não se mostrou revisionista, optando até aqui por uma administração de varejo, de erro e ensaio, à base do a cada dia sua agonia.

Não há confiança que se restabeleça nesse contexto, o que não só aumenta a distância entre governo e empreendedores, como solidifica a desconfiança de que um eventual segundo mandato será mais do mesmo.

Luiz Carlos Azedo: Saída para o Pacífico

• A Aliança do Atlântico, próxima de Washington, apresenta resultados mais compensadores para os integrantes do que o Mercosul. Com a tarifa zero, o Brasil recuperaria o protagonismo perdido

- Correio Braziliense

A presidente Dilma Rousseff se encontrará hoje em Caracas com os colegas da Argentina, Cristina Kirchner; do Uruguai, José Mujica; do Paraguai, Horacio Cartes; e da Venezuela, Nicolás Maduro, anfitrião do encontro, para uma cartada decisiva para a política brasileira de comércio exterior: a proposta de antecipar a "tarifa zero" entre os países do Pacífico sul-americano.

A intenção do governo é reduzir as alíquotas comerciais nas transações entre Mercosul e Colômbia, Chile e Peru já no fim deste ano. O México, o quarto membro da Aliança do Pacífico, ficaria de fora inicialmente. Pela ideia original, o acordo entraria em vigor só em 2019. Nos últimos anos, o comércio do Brasil com a Colômbia aumentou 300%, com o Peru, 389%, e com o Chile, 200%. O acordo seria um bom negócio para o Brasil.

Com isso, o Palácio do Planalto também quer zerar o jogo em relação às críticas que vem sofrendo por causa do impasse nas negociações com os vizinhos do Mercosul em detrimento de um acordo com a União Europeia (UE). Quem paga o pato pela demora são as empresas brasileiras, à beira da recessão.

Na semana passada, o presidente da UE, o português Durão Barroso, em visita ao Brasil, disse que estamos perdendo uma grande oportunidade ao não assinar um acordo comercial com a Europa, a exemplo do que fizeram os países da Aliança com o Pacífico.

O Palácio do Planalto não digeriu a crítica e vazou que o acordo não foi assinado a pedido de Angela Merkel, chefe de governo e chanceler alemã, que é quem realmente manda nas decisões econômicas da União Europeia. Em fim de mandato, Durão teria falado demais.

Há, porém, nos meios políticos, empresariais e diplomáticos, muitas restrições aos rumos da política externa brasileira, que estaria sendo ditada pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia, a partir de uma lógica que apostava no declínio da hegemonia norte-americana, na estagnação europeia e na emergência dos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em razão da crise mundial.

Para esse setores, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo seria uma espécie de rainha da Inglaterra, embora seja mais afinado com a presidente Dilma Rousseff do que o antecessor Antônio Patriota, atual representante permanente do Brasil na ONU. Quem formula a política externa não seria o corpo diplomático do Itamaraty, mas o histórico dirigente petista.

Protagonismo
Figueiredo está incomodado com essas críticas e com o fato de a Aliança do Atlântico, próxima de Washington, apresentar resultados mais compensadores para os integrantes do que o Mercosul. Com a tarifa zero, acredita, o Brasil recuperaria o protagonismo perdido.

A tarifa zero criaria um mercado diferenciado para os produtos da zona em relação aos chineses, que são os grandes concorrentes da indústria regional, principalmente a brasileira. O Mercosul representa 72% do território, 70% da população, 80% do PIB, 58% dos investimentos estrangeiros diretos e 65% do comércio exterior da América do Sul.

Um dos complicadores da reunião é a grave situação econômica da Argentina, que ameaça decretar uma nova moratória por causa dos chamados fundos abutres. Se isso ocorrer, tanto a proposta de tarifa zero como o acordo comercial com a União Europeia subirão no telhado.

O governo da Argentina negocia em Nova York com credores, depois de perder uma ação na Justiça no valor de US$ 1,3 bilhão para os referidos fundos, que participaram de dois planos de renegociação da dívida argentina após a moratória de 2001.

Faixa de Gaza
Também está na pauta dos chefes de Estado a questão da Faixa de Gaza, objeto de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, ontem, determinando um cessar-fogo imediato, cujos termos são contestados tanto por Israel como pelo Hamas. É provável a aprovação de uma dura condenação à Israel.

A propósito, Dilma Rousseff reiterou ontem as críticas ao governo de Israel por causa dos "ataques desproporcionais" ao Hamas, na Faixa de Gaza, mas esclareceu que chamou o embaixador em Tel-Aviv do Brasil para ter mais informações sobre a crise do Oriente Médio e que ele voltará ao posto em breve. Ou seja, o Brasil vai preservar as relações diplomáticas com o governo do conservador líder do Likud, Benjamin "Bibi Netanyahu.

Alfredo Sirkis: Tratamento igual para Netanyahu e Putin

• No plano estratégico, governo de Israel não dá a menor chance a qualquer acordo de paz que contemple minimamente as aspirações nacionais dos palestinos

- O Globo

A "guerra assimétrica" de Israel com os palestinos, na sua mais recente rodada provocada pelo Hamas mas no contexto da opressão, repressão e desesperança cultivada por Bibi Netanyahu, contém uma coleção de paradoxos. Israel não alveja, deliberadamente, civis em Gaza, mas está matando-os aos montões. Hamas dispara foguetes de forma indiscriminada — até porque têm limitada precisão — e só conseguiu matar três civis, mas a invasão lhe deu a oportunidade de infligir, até agora, três dezenas de baixas militares a Israel. A rede de túneis ofensivos do Hamas justifica uma operação terrestre para neutralizá-los. A resposta aérea contra foguetes pouco efetivos em função do sistema antimísseis Iron Dome é, de fato, excessiva, uma vez que não há como efetuar esses bombardeios no tecido urbano mais denso do mundo sem atingir não combatentes, mulheres e crianças em grande quantidade.

Um governo de Israel minimamente preocupado em explorar uma chance de paz exerceria uma ação militar mais contida, priorizando a ameaça dos túneis. Sobretudo já teria tomado, preventivamente, iniciativas políticas em relação às horríveis condições de vida da população de Gaza: proibição de portos e aeroportos, fechamento de fronteiras, proibição da pesca, etc. Teria evitado as prisões na Cisjordânia de centenas de pessoas sem nenhuma ligação com o assassinato de três adolescentes judeus. No plano tático, Netanyahu adota os princípios de castigo coletivo e generalizado à população palestina e de uma resposta bélica desproporcional. No plano estratégico não dá a menor chance a qualquer acordo de paz que contemple minimamente as aspirações nacionais dos palestinos. A política de Israel é manter o status quo, de fato, do Grande Israel, do Mediterrâneo ao Jordão, com um regime de apartheid na Cisjordânia, de cidadania de segunda classe em Israel e de uma opressão remota em Gaza.

Ao expandir incessantemente os assentamentos na Cisjordânia, Netanyahu inviabiliza a cada dia um pouco mais uma solução de dois estados, cujos contornos estão claros e minuciosamente detalhados desde o Protocolo de Genebra, em 2003, "negociados" por Yossi Beilin e Yasser Abed Rabbo e que também podem ser encontrados nos chamados Parâmetros Clinton. Ao não aceitar um governo de unidade palestina que poderia permitir ao presidente Mahmoud Abbas fazer evoluir o Hamas — que já há algum tempo aceita uma hudna, uma trégua de longa duração com Israel, em determinadas condições —, Netanyahu só enfraquece politicamente o presidente Abbas e só fortalece a ala mais radical do Hamas e as organizações ainda mais extremadas, como a Jihad Islâmica e os grupos vinculados à al-Qaeda.

O maior erro de avaliação de Netanyahu e seus aliados de direita e extrema-direita é acreditarem que o tempo joga a seu favor. O futuro desse Grande Israel, de fato, com uma futura maioria demográfica palestina, sem direito algum, oprimida pelos colonos e confinada em bantustões num contexto regional cada vez mais favorável ao extremismo religioso, é assustador para qualquer pessoa minimamente lúcida. Mas o governo de Israel praticamente não possui mais gente assim, com a exceção — relativa — da ministra da Justiça, Tsipi Livni.

Por tudo isso, a crítica do governo brasileiro à política de Netanyahu é correta, embora a medida de convocar nosso embaixador seja questionável pela falta de simetria e coerência com atitudes (ou não atitudes) em relação a outras situações, algumas ainda piores, como o caso da Síria, por exemplo. Lá Bashar al Assad matou não 800, mas 150 mil civis! Vladimir Putin é responsável, em última análise, pela criminosa derrubada de um avião de passageiros, já que equipou seus rebeldes na Ucrânia com as armas mais modernas. Foi recebido como grande estadista na recente reunião do Brics. Já na Venezuela, a repressão come solta e dezenas de jovens foram mortos sem a menor reprimenda. Falemos claro: o governo de Netanyahu, coveiro de qualquer esperança de paz, merece condenação pelo conjunto da obra. Mas já que agora, ao contrário da nossa tradição, queremos exercer uma diplomacia ativista, não devemos cultivar dois pesos e duas medidas. Vale para Netanyahu? Deve valer para Putin, Assad e Maduro.

Alfredo Sirkis é deputado federal (PSB-RJ)

José Augusto Guilhon Albuquerque: O que pretendem os radicais?

- O Estado de S. Paulo

Estamos presenciando a recaída de nosso pretenso partido hegemônico, o PT, na radicalização. Não resta dúvida de que Lula está radicalizando, o PT também está e Dilma está aos poucos cedendo às pressões para radicalizar. O que resta é a questão de saber por quê. Dúvida pouco relevante nas eleições de 1982, 1989, 1994 e 1998, quando Lula foi derrotado por causa do caráter radical de seu programa.

Já a vitória de Lula em 2002 deveu-se a fatores que amainaram as aparências mais radicais da campanha. Primeiro foi a substituição de seu programa por uma "carta de princípios" que comprometia um futuro governo petista com o Estado Democrático de Direito e, sobretudo, com a manutenção da política econômica até então vigente.

Segundo, a adoção de um estilo de comunicação e um novo discurso acomodatício, de uma personalidade inteiramente nova, com expressão corporal e vestuário "executivo" - tudo diametralmente oposto ao estilo raivoso e confrontacional do passado. E, terceiro, a aliança "pragmática" com seus adversários ideológicos mais opostos, inclusive ícones do regime autoritário e donos dos currais eleitorais mais atrasados do País.

Ninguém precisou se enganar. A esquerda petista não precisava ser enganada porque entendeu o compromisso como sendo apenas uma diversão tática para chegar ao poder e, em seguida, assumir a hegemonia e impor seu programa aos aliados incômodos, às elites dominantes e às classes médias alienadas. Após as eleições de 2002, todas as bandeiras do partido continuaram vigentes, com parte da linguagem mais radical substituída por eufemismos.

As chamadas raposas e os "picaretas" também não se enganaram, porque confiavam em sua lendária capacidade para manipular o jogo parlamentar e os corações e mentes da classe dirigente em proveito próprio. Com isso, esperavam lucrar duplamente, primeiro, barrando as iniciativas inconvenientes do governo, seja as mais audaciosas agressões às instituições vigentes, seja as ameaças aos interesses vitais da maioria ou de setores relevantes da classe política. Em segundo lugar, tornando-se livres para chafurdar sem pejo no lodaçal da República, convenientemente rebatizado de "governança".

Seria a quintessência da aliança espúria, o perfeito win-win game, o jogo em que todos ganham mais do que perdem, com exceção do povo. Afinal, o PT teve de ceder quase todos os anéis, mas ficaram os dedos com os quais por 12 longos anos tem-se aferrado ao poder com todas as suas pompas e todas as suas glórias. E nem todos os anéis se foram. Eles retornam intermitentemente em pronunciamentos oficiais e oficiosos do PT e de suas organizações paragovernamentais.

Percebe-se hoje a insatisfação generalizada que corrói até a medula o pacto pelo imobilismo e a mediocridade que mantém a "governabilidade" da aliança lulo-dilmista. E pela razão muito simples de que talvez, mais ainda do que o povo, os stakeholders da aliança são precisamente os mais insatisfeitos.
O PT está insatisfeito porque, ao fim de 12 anos de tão ardentemente esperada hegemonia, muito pouco ou quase nada se concretizou dos esperados atributos de um partido hegemônico. O monopólio da "direção intelectual e moral" da sociedade, o controle da luta ideológica por meio da submissão da imprensa, a subordinação dos demais poderes e a conquista de prerrogativas supraconstitucionais para o partido vêm sendo, a cada revés, adiados para os "amanhãs que cantam".

Do outro lado, os "picaretas" e as raposas também estão insatisfeitos, porque receberam os anéis, mas não podem ostentá-los nem foram convidados ao baile. Recolhem do butim as migalhas, mas se sentem permanentemente ameaçados - e traídos - pela ganância hegemônica do PT. Sua participação no poder serve para limitar as perdas, mas não os exime de ceder às chantagens e compartilhar a culpa pelos fracassos do governo e a impopularidade que daí resulta.

A popularidade vinha mantendo essa aliança dos insatisfeitos. Mas a insatisfação do PT só era contida pela certeza da reeleição. Sem ela, os amanhãs que cantam não seriam apenas adiados para o próximo quadriênio, mas sine die.

A insatisfação da classe política, do empresariado, das classes dirigentes em geral, já não é contida pela falta de alternativas atribuída à inevitabilidade do continuísmo. A alternativa agora é possível: por que, então, as classes dirigentes optariam pelo suicídio?

Se a radicalização e o clima polarizado que ela implica levaram no passado à derrota eleitoral, e se a alternativa de uma coalizão dos insatisfeitos está fazendo água, então essa radicalização não seria para evitar a derrota, mas para evitar a ameaça da alternância no poder. A radicalização do PT não seria um erro tático, mas uma estratégia deliberada para conquistar sua almejada hegemonia fora das urnas e apesar delas.

Como? Criando um clima conflagrado que contrapõe a legitimidade das ruas à legalidade das instituições; impondo o controle "social" à pura e simples liberdade de pensamento e de expressão; concitando a convocação de assembleias constituintes oportunistas para submeter a Carta a maiorias de ocasião; dissolvendo no dia a dia o direito à propriedade individual para satisfazer os interesses dos militantes organizados; invocando a liberdade de manifestação como desculpa para agredir a liberdade de ir e vir, o patrimônio e até a integridade física das pessoas. O resultado seriam eleições tumultuadas, pondo em risco uma transição pacífica de governo.

A posse de Lula marcou a primeira alternância real entre elites no poder depois do período autoritário, como demonstra Leôncio Martins Rodrigues em suas pesquisas recentes. Resta saber se a atual elite governante e seu partido dominante acatarão o veredicto das urnas e a alternância entre elites no poder que daí deverá decorrer: será o teste de fogo para a democracia brasileira.

*José Augusto Guilhon Albuquerque é professor titular da USP.

Arnaldo Jabor: Memórias do futuro

- O Globo

Estou na clínica especial do Nada aqui neste ano remoto do futuro. Futuro de quê? Futuro de um futuro que o Brasil esperava há vários séculos. Essas clínicas são chamadas hoje de "zonas de esquecimento"; viraram "hype" há mais de um século e hoje abundam. Os sujeitos entram para perder todos os sentidos. Fica apenas a memória que, aos poucos, sem ajuda do tato, gosto, cheiro, visão, e audição, vai se transformando numa leve fonte de murmúrios, em lapsos de visões, em tênue brilho de lembranças e depois, o silêncio do nada. Muitas clínicas são arapucas e as mais baratas apenas jogam os pacientes numas salas vazias e deixam-nos na mistura de restos de comida e excrementos. Ninguém reclama. Mas, eu vivo na melhor: "Le Néant", que as famílias visitam para verificar o tratamento – é impecável no trato dos corpos sorridentes, murchos e mudos.

Hoje, inexplicavelmente, me encontro na rua com sol batendo em meus olhos e volta a mim uma enxurrada de memórias que eu sempre evitara. Como saí? Em que ano estou? Minha lembrança mais antiga jaz no deserto, quando o Califado Islâmico tomou conta do Oriente Médio, chegando até as bordas de Israel-Palestina, já considerada "área insolúvel" e que virou parque temático. Muitas terras viraram temáticas também: a desolação de Nueva Iork, depois das nuvens de antrax na Broadway, o Buraco Iraque, depois da bomba do ex-Paquistão – hoje Talibânia – e o deserto de Tokyorama, província da China...

Mas vou me ater às memórias do Brasil.

Sei que há muitos anos o futuro do País se delineou. Foi logo depois da reeleição de uma mulher... Esqueço-lhe o nome... Sei que, depois, o famoso Lula sucedeu-a em 2018, continuando em 2022, criando uma dinastia de si mesmo, reeleito em vários mandatos, até 2034, quando ele já não falava mais e tinha sido mumificado num carro móvel de vidro que desfilava entre a multidão de fiéis ajoelhados. A maioria do povo semianalfabeto celebrava a realização do projeto do seu partido, uma espécie de populismo pós-moderno (como chamavam) feito de pedaços de getulismo, chavismo e outras religiões. Quando se iniciou a decomposição, seu corpo foi entronizado no Museu Bolívar, um palácio de mármore vermelho desenhado por Oscar Niemeyer, tendo como curador Gilberto Carvalho, 108.

Nesta época o velho Brasil tinha renascido, como rabo de lagarto. Voltara a correção monetária sob uma inflação de 2.200%, um flashback do período Collor, agora representado por seu neto na grande aliança ainda presidida por Sarney, 117, que visava unir partidos no programa nacional de "decrescimento", já que a democracia se revelara um antigo sonho grego impossível. Todo o projeto do "lulismo" tinha dado frutos depois de tantos anos no poder. "Podres poderes!" – rosnavam alguns poucos inimigos, urubus complexados. Tinha-se atingido o sonho glorioso de socialismo "puro", onde só havia o Estado sem sociedade em volta. Era assim.

O MST tinha finalmente desmontado a maldita agroindústria, as manifestações de junho viraram uma data popular, como festas juninas animadas por "black blocks", considerados agora "guarda revolucionária"; a Imprensa tinha acabado, graças à proibição de papel, enquanto ex-jornalistas gritavam nas ruas e distribuíam panfletos mimeografados.

Foi nessa fase que houve o Segundo Crash da Bolsa de Nueva Iork, entre nuvens de suicidas e filas de desempregados.

Aqui foi uma surpresa. O Brasil quebrou e nada aconteceu. Houve, claro, legiões de famintos atacando os supermercados, mas logo ficou claro que a miséria é autorregulável. Muito simples: a fome diminui a população, dado benéfico para a incrível falta de comida, provocada pela decisão do governo de jamais cortar gastos fiscais. Nossos aviões e navios passaram a ser confiscados regularmente pelos países do Império Neoliberal, o que foi bom para desonerar gastos de manutenção.

Foi então que se começou a falar em um novo lema: "Ordem sem Progresso", no seio de um novo movimento de salvação nacional: o "Recua Brasil !." Entendêramos finalmente que o Brasil é um "acochambramento" secular e que isso não é um defeito, é nossa grandeza fabricada por séculos de escravismo, de burocracia e de corrupção endêmica.

A nova "república" proclamava: "Vamos assumir nosso atraso, chega de progresso!". Foi outro grande alívio o fim da angústia de progresso que oprimia os brasileiros: a Paz é a desistência dos sonhos de felicidade.

Daí veio o movimento "Desiste Brasil", organizando o antigo caos em ilhas, em zonas de atraso. Um dos sucessos foi o PEP, "Plano de Extermínio de Periferias". No inicio, alguns humanistas protestaram, mas depois, se acostumaram com o fechamento das favelas com muros de concreto, como em Gaza-Auschwitz. Outro grande programa foi o Procu (Projeto de Criminalidade Unificada), que mapeou as máfias todas, a evangélica, a ruralista, hospitalar, a de traficantes, formando um arquipélago de áreas exclusivas com regras de matança mais controláveis. Sem falar em iniciativas de vanguarda moral como a Coput (Cooperativa de Prostituição Infantil) que organizou as meninas de rua e incentivou o turismo sexual de que tanto dependemos.

Isso, além do Procrack e do Promerd (cagadas genéricas) e a Prolim (venda de liminares "a priori"). Criou-se o "Orçamento Espoliativo", que os congressistas adoraram, com sete novos necrotérios em Alagoas e nove clinicas essenciais de cirurgia plástica no Piauí, de onde veio também a bela ideia da "Comunidade Sossegada", que distribui Lexotans aos retirantes da seca.

Mas foi aí que comecei a tremer. Olhava os outros do meu canto: pareciam tão felizes... Sim, mas de vez em quando eles entravam num choro meloso, um uivo desesperado como as sirenes que circulavam em Nueva Iork, no século 21. Meu terror foi aumentando. Eu estava só, mas via o repulsivo Futuro brasileiro, preparado por séculos de atraso. Corri de volta a minha "zona de esquecimento" , a "Le Néant", mergulhei no silêncio dos cinco sentidos e, cego, surdo e mudo, pude finalmente descansar no nada.

Painel::Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Com inimigos assim...
A reação enfática de Dilma Rousseff ao banco Santander foi previamente calculada por sua campanha. Petistas dizem que ela tirou vantagem do caso ao chamar de "inadmissível" o informe que advertia correntistas mais ricos para o risco de perdas em caso de vitória do PT. "Dilma já ganhou pontos. Aquele texto parece um panfleto de campanha para ela", comemora um ministro. Outro aliado afirma que os bancos têm imagem desgastada e lideram rankings de queixas do consumidor.

Mesada Ao justificar os R$ 152 mil que diz guardar em espécie, Dilma afirmou, na sabatina da Folha, que costuma ajudar a filha. Procuradora do Trabalho, Paula Rousseff recebeu em maio R$ 17.174,72 líquidos. A mãe, só um pouco mais: R$ 19.850,31.

Sub do sub A presidente foi aconselhada a reagir com cautela ao porta-voz israelense que chamou o Brasil de "anão diplomático". Auxiliares disseram a ela que o ataque partiu da ala ultradireitista do governo Netanyahu.

Estrela de David O Brasil não foi o primeiro país a reconhecer o Estado de Israel, como afirmou Dilma. Foram os Estados Unidos.

Médio prazo O economista Mansueto Almeida nega que Aécio Neves (PSDB) planeje um corte abrupto nos subsídios à indústria, como Dilma sugeriu. "Vamos resolver problemas estruturais para que os subsídios não sejam mais necessários. Aí, você pode descontinuar", diz ele.

Critérios Aécio sustenta que a construção do aeroporto em Cláudio (MG) obedeceu aos parâmetros do ProAero. A meta do programa do governo de Minas era que todos os municípios ficassem a até 80 km de uma pista de pouso, o que já ocorria na região.

Metas O candidato diz que "o programa falava em distância máxima, e não mínima" entre as cidades e os aeroportos. "Dentro do raio de 80 km, o Estado podia construir quantos aeroportos fossem necessários. Por isso, o de Cláudio se encaixa nos critérios", afirma Aécio.

Mudou de time Ex-líder dos governos Lula e Dilma, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) indicou o coordenador da campanha tucana em Roraima, Marcelo Guimarães.

Para depois Prometido para junho e adiado para o fim deste mês, o programa de governo de Eduardo Campos deve ficar para o início de agosto. O PSB agora quer lançá-lo no dia 4, quando o "Jornal Nacional" começa a cobrir a corrida presidencial.

Totó portenho O argentino Diego Brandy, mago das pesquisas do PSB, tem levado sua cadela Victoria quase todos os dias para a produtora de TV do partido. Ela usa coleira azul e branca e só atende a comandos em castelhano.

Frente ampla A coligação de Flávio Dino (PC do B) lança amanhã a campanha "Ajude o Maranhão a derrotar o Sarney". Um site vai recolher doações de outros Estados e recrutar voluntários para fiscalizar a eleição.

Farra da toga Os desembargadores Mário Hirs e Telma Brito foram recebidos com palmas e fogos de artifício na volta ao Tribunal de Justiça da Bahia. Afastados pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), eles foram beneficiados por liminar do ministro Ricardo Lewandowski.

Bola na urna Do ex-presidente Lula para o pupilo Alexandre Padilha (PT), ontem à noite: "Você é corintiano? Se não era, passa a ser, pelo amor de Deus!"

É pra valer A candidatura de Luiz Moura (PT), o deputado estadual paulista flagrado em reunião com membros do PCC, passou a aparecer no site da Justiça Eleitoral.
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Tiroteio
"A consequência da ida de Dilma ao Rio foi o engajamento ainda maior do PMDB na campanha de Aécio. Ela espalhou brasa."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (DEM-RN), coordenador da campanha de Aécio Neves, sobre o jantar de Dilma com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
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Contraponto
O cofrinho do governador

O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) repetiu ontem, em Diadema, um ritual de todo político em campanha: parou em um bar tomar café.

No balcão, lembrou com pesar que na semana anterior gastara R$ 51 ao bancar café e pastéis para os aliados José Serra e Aécio Neves, que pediam votos com ele.

Desta vez, o secretário de Educação da cidade, Marcos Michels, se ofereceu para pagar a conta. O governador, que tem fama de pão duro, saiu satisfeito.

--Na média, gastei R$ 25,50 por dia. Finalmente consegui equilibrar as contas! --comemorou.

Brasília-DF:: Denise Rothenburg

- Correio BRaziliense

Deu certo na Copa. E agora?
Pesquisa realizada com 20 mil agentes de todo o país e que será divulgada amanhã, no Fórum Nacional de Segurança Pública, em São Paulo, mostra que 71% dos entrevistados consideram ser possível um trabalho conjunto para garantir a tranquilidade da população.

A experiência foi testada durante a Copa do Mundo e, na opinião dos pesquisados, foi exitosa. Durante os 30 dias do Mundial no Brasil, agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança e guardas municipais trabalharam sob um comando único para evitar o caos que se imaginava antes do Mundial.

Para isso, no entanto, foi montada uma estrutura especial — o centro de comando e controle. Para que dê certo daqui em diante, será preciso mais interação entre os governos federal, estaduais e municipais em uma área na qual é mais comum a troca de caneladas do que o aperto de mãos.

Prova...
O encontro de amanhã contará com a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e do secretário de Segurança de São Paulo, Fernando Grella.

...Dos nove
Ninguém consegue lembrar, com facilidade, a última vez em que os governos federal e paulista conseguiram chegar facilmente a consenso quando o assunto é unidade nas ações de segurança pública.

Mesmos padrinhos
Embora com insuficientes 14% das intenções de voto, os petistas cearenses comemoram o resultado obtido pelo candidato do partido, Camilo Santana, as pesquisas recentes. Eles lembram que, no mesmo período, na época da campanha municipal à prefeitura de Fortaleza, em 2012, o prefeito Roberto Cláudio tinha apenas 2% das intenções de voto. Antes, como agora, os padrinhos políticos eram o governador Cid Gomes e o irmão, Ciro, ambos do Pros.

Chegando
A oposição a Dilma na Bahia acredita ser possível reduzir a vantagem que a petista teve na votação presidencial de 2010. Na disputa contra o tucano José Serra, ela abriu vantagem de 2,7 milhões de votos no estado. "Só Geddel (Vieira Lima), aliado ao PT em 2010, conseguiu 1 milhão (de votos). Hoje, ele está com Aécio", lembra o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB), irmão de Geddel.

Call me later
A presidente Dilma Rousseff aprimora o inglês toda quarta-feira, às 22h, no Palácio da Alvorada. E odeia quando um ssessor, ministro ou aliado resolve ligar para ela no horário da aula.

Pote de mágoa/ O PMDB nacional jogou nas costas do publicitário Duda Mendonça a explicação para a recusa do candidato do partido ao governo de São Paulo, Paulo Skaf (foto), em abrir o palanque para Dilma Rousseff. Duda foi o marqueteiro da campanha petista de 2002, quando o mensalão teve início.
Podemos conversar?/ Interlocutores da campanha de Eduardo Campos (PSB) sondaram o publicitário Luiz Gonzales, tradicional parceiro de José Serra. As conversas, no entanto, não avançaram.

Tucanos sobre rodas/ O comando da campanha de Aécio Neves (PSDB) calcula que foram adesivados 150 mil carros em Minas Gerais apenas nos últimos 10 dias.