quarta-feira, 9 de julho de 2014

Opinião do dia: Marco Antonio Villa

Paradoxalmente foi durante o regime militar — especialmente no período ditatorial, entre os anos 1968-1978 — que os valores democráticos ganharam enorme importância. A resistência ao arbítrio foi edificando um conjunto de valores essenciais para termos uma cultura política democrática. E foram estes que conduziram ao fim do regime e à eleição de Tancredo Neves, em janeiro de 1985.

Marco Antonio Villa, historiador, Os desiludidos da República, O Globo, 8 de julho de 2014.

Mineirazo



Vexame pode reforçar votos nulos

Cristian Klein – Valor Econômico

SÃO PAULO- A derrota humilhante de 7 a 1 da Seleção brasileira para a Alemanha deve ter impacto na eleição deste ano, com aumento de votos em branco e nulos, mas provavelmente não beneficiará nenhum dos candidatos à Presidência. É o que prevê o filósofo político Marcos Nobre, do Cebrap e da Unicamp, autor do livro "Choque de democracia - Razões da revolta", sobre a eclosão das manifestações de rua no ano passado.

Para Nobre, a Seleção "sem meio de campo" é a metáfora perfeita para o governo Dilma Rousseff - "que não consegue se comunicar com os empresários, com os sindicatos, que se isola". Mas a presidente não deverá ser responsabilizada pelo fracasso do futebol brasileiro, na segunda Copa do Mundo sediada pelo país.

Em sua opinião, os dois principais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), não terão condições de culpar Dilma, já que se aproveitar do mau resultado do futebol pode ser um risco. "A oposição não pode capitalizar. É como comemorar a morte do inimigo no velório dele", afirma Nobre, para quem o Brasil passa a viver um luto, que deve ser reconhecido por Dilma Rousseff.

A vantagem da presidente, ressalta o filósofo político, é que Dilma procurou se identificar com o craque Neymar Jr. - que ficou fora da semifinal - mas não com o técnico Luiz Felipe Scolari, sobre quem deve recair a maioria das críticas. Na segunda-feira, Dilma imitou o gesto de Neymar com os braços em forma de T para reproduzir nas redes sociais o bordão "É Toiss!", pelo qual o jogador costuma cumprimentar os companheiros. Foi uma homenagem ao atleta depois que uma pancada na região lombar o tirou da Copa, durante a partida contra a Colômbia, nas semifinais.

Para Marcos Nobre, o marketing da campanha à reeleição de Dilma pode até se beneficiar ou pelo menos neutralizar possíveis efeitos da derrota com a estratégia de "salvar a imagem do país", "sair do luto", ao argumentar que o Brasil conseguiu fazer a "Copa das Copas", sem os transtornos de organização previstos. Seria a "parte boa" para se guardar do Mundial. E nisso Dilma poderia reivindicar os créditos pela realização do evento.

"Mas essa estratégia tem que ser muito sutil, pois o luto vai ser muito pesado", diz. Para Nobre, a única saída de Dilma é dizer: "Nós fomos bons anfitriões. Estamos de luto. Mas somos bons perdedores". O filósofo político crê que a presidente possivelmente será vaiada na entrega da taça, no domingo, no Maracanã, mas não xingada, como na abertura da Copa, pois o comportamento destes torcedores "pegou muito mal".

Para Marcos Nobre, a realização de protestos de rua por causa do vexame da Seleção é improvável, ao menos na proporção dos já observados neste e, principalmente, no ano passado. É preciso separar, destaca o professor, a existência de três instâncias: o futebol (a Seleção), a Fifa e os governos (nos diversos níveis: federal, estadual e municipal).

"O movimento #Não vai ter Copa não tinha a ver com futebol. Os manifestantes não podem dizer: 'A gente avisou'. Pois as críticas eram dirigidas à Fifa e aos governos, não ao futebol. Foi o futebol que fracassou. E ele é a imagem da sociedade. A sociedade fracassou. Não adianta buscar um culpado. Foi o Felipão? Foi o zagueiro da Colômbia que tirou o Neymar da Copa? O Thiago Silva? O Dante, que estava mal posicionado no primeiro gol? É um luto absoluto e não tem a quem culpar", diz.

O desânimo da sociedade, no entanto, pode reforçar uma tendência já detectada em pesquisas eleitorais desde os protestos de junho de 2013: o aumento dos votos em branco e nulo. "O grande risco dessa eleição, que vem do terremoto de junho, é o de os eleitores não encontrarem nenhuma esperança institucional, o de haver um aumento da descrença. A Seleção ser humilhada contribui para esse sentimento", afirma.

A falta de correlação entre resultados da Copa e o das eleições à Presidência, lembra Marcos Nobre, já está estabelecido no debate político brasileiro.

Por outro lado, o que é "muito frustrante", qualifica, é o grau de humilhação da derrota depois de um momento de alívio, em que o país e o mundo faziam o balanço de que a organização da Copa no Brasil deu certo. "Não só tudo deu certo, como fizemos o que nenhum país fez, que foi combater o comércio ilegal de ingressos. Não deu vexame e quando nos concentramos no futebol, aí acontece esse desastre", afirma. Na segunda-feira, Raymond Whelan, CEO da Match, empresa que detém direitos exclusivos de venda de pacotes e camarotes da Fifa, foi preso pela polícia, no hotel Copacabana Palace, no Rio.

Oposição evita associar derrota às eleições

Murillo Camarotto - Valor Econômico

RECIFE e SÃO PAULO - Os dois principais opositores da presidente Dilma Rousseff na disputa presidencial deste ano, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), evitaram ontem associar a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo às eleições. Nas redes sociais, Aécio afirmou que o resultado do jogo, de 7 x 1 para a Alemanha, é "difícil de entender", mas ponderou que "não apaga o brilho" do futebol brasileiro. Já Campos disse que em 2018 a seleção voltará "mais forte".

Em texto divulgado no Facebook, Aécio afirmou que "como torcedor e brasileiro" compartilha a frustração que o povo está sentindo. "Uma derrota sofrida, difícil de entender, mas que não apaga o brilho do futebol brasileiro e muito menos do nosso povo. Apesar do resultado, envio o meu abraço aos nossos jogadores, à comissão técnica e a todos que lutaram para colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio. Dessa vez não deu, mas vamos em frente! Outras vitórias virão!", escreveu o candidato tucano. Aécio assistiu ao jogo em Belo Horizonte, mas sua assessoria de imprensa não confirmou se o tucano foi ao estádio.

Em sua página em uma rede social, Campos lamentou a derrota da seleção brasileira e a publicação do governador provocou uma série de críticas à presidente Dilma Rousseff.

"Lamento, como todos os brasileiros, o resultado do Brasil e Alemanha hoje. O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda a Copa, mas o sonho do hexa foi, por hora, adiado", afirmou Campos na internet. "Tenho certeza que voltaremos mais fortes em 2018", disse. O candidato do PSB e ex-governador de Pernambuco assistiu ao jogo em sua casa no Recife.

A publicação gerou rapidamente uma série de reações críticas ao governo federal. Muitos dos seguidores de Campos culparam Dilma pela derrota ou manifestaram que suas principais preocupações são os rumos do país. "Sinto mais pela saúde, a educação e a segurança do povo brasileiro, que vem perdendo há anos", disse um dos seguidores da página de Campos.

Antes da Copa, o ex-governador de Pernambuco foi questionado se o desempenho da seleção brasileira dentro do campo poderia influenciar a corrida presidencial deste ano. O pessebista sempre foi categórico em negar essa possibilidade.

Poucos minutos após o fim da partida, foram registradas depredações a pontos de ônibus na zona norte capital pernambucana.

FT questiona efeitos eleitorais de derrota na Copa

Olívia Bulla - Agência Estado

É difícil pensar em uma humilhação maior na história desportiva do que o placar de 7 a 1 da Alemanha contra Brasil, ontem. Em reportagem publicada hoje, o jornal britânico Financial Times lembra que muitos times de futebol perderam por 7 a 1, "mas nunca o autoproclamado ''país do futebol'', vencedor de cinco Copas do Mundo, anfitrião e favorito para o torneio, jogando em uma semifinal".

Para o estatístico norte-americano Nate Silver, citado pelo jornal, esse era o placar mais inesperado na história da Copa do Mundo, com base em classificações pré-jogo das equipes.

Simbolicamente, na visão do FT, foi um final apropriado para os longos anos de boom econômico do Brasil. Mas, em termos desportivos, foi algo mais específico: o fim da tradição do futebol do Brasil. A frase "joga bonito" agora pode ser abandonada junto com clichês sobre "futebol e samba", afirma.

Segundo o período britânico, os brasileiros pararam de oferecer fintas, dribles e belos gols há muito tempo. Eles devem agora certamente perceber que o País precisa, mais rápido do que pensa, adotar um novo um estilo "mais europeu, mais alemão", diz o FT. O futebol brasileiro precisa começar de novo também, idealmente, liderada por treinadores alemães, emenda o jornal.

Para o FT, depois de os jogadores brasileiros choraram em campo, a presidente Dilma Rousseff deve se sentir perturbada também, antes das eleições de outubro. "Ela expressou sua tristeza pela derrota no Twitter", lembra o jornal. "Não vamos nos deixar alquebrar (enfraquecer). Brasil, ''levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima''", escreveu ela, citando a letra do conhecido samba "Volta por cima", de Paulo Vanzolini.

No entanto, historicamente, não há correlação entre o desempenho do Brasil em Copas do Mundo e o desempenho nas eleições no mesmo ano. "Muitos têm mantido Dilma responsável pelo desperdício, gastos excessivos, mas organização relativamente boa do torneio", afirma o FT. "A responsabilidade pelo 7 a 1 reside, em primeiro lugar, nos jogadores infelizes da Seleção e seu treinador sem imaginação Luiz Felipe Scolari, mas, de forma mais ampla, no futebol tradicional desatualizado do país".

Goleada em campo não vai influenciar eleição, diz Planalto

• Depois de Alemanha fazer quinto gol, torcida do Mineirão repete xingamentos da abertura da Copa; Aécio também foi alvo de ofensas

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a derrota acachapante do Brasil para a Alemanha um dia depois de a presidente Dilma Rousseff divulgar foto fazendo pose de Neymar e confirmar que vai entregar a taça da Copa do Mundo ao campeão no domingo, o Palácio do Planalto apressou-se em minimizar, logo após o jogo, os eventuais efeitos negativos da eliminação na eleição.

Na tentativa de impedir a associação de Dilma com o fracasso do time de Luiz Felipe Scolari, o Planalto adotou o discurso de que o Brasil organizou uma Copa de primeiro mundo.

"Assim como todos os brasileiros estou muito, muito triste com a derrota", escreveu Dilma no Twitter, minutos após encerrado o jogo pela semifinal do Mundial. "Sinto imensamente por todos nós, torcedores, e pelos nossos jogadores. Mas não vamos nos deixar alquebrar. Brasil, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima."

Os torcedores presentes no Mineirão voltaram a xingar Dilma no intervalo da partida, quando a Alemanha já vencia por 5 a 0 - a exemplo do que ocorreu na abertura da Copa, com a presidente presente no estádio Itaquerão.

O Planalto teme que novas hostilidades venham a ocorrer no domingo, no Maracanã. Anteontem, num bate-papo com internautas numa rede social, Dilma ironizou críticos do torneio e afirmou que as vaias "são ossos do ofício". Ontem, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, procurou neutralizar o mal-estar com o que chamou de "balde de água fria" nas expectativas da população. Para Carvalho, quando começar a propaganda política na TV, em 19 agosto, ninguém se lembrará mais do "vexame" brasileiro na Copa do Mundo.

Avaliação. "Eu sempre disse que quem quisesse tirar proveito eleitoral da Copa ia quebrar a cara", afirmou Carvalho. "A Copa é a Copa. Em agosto o clima será outro. Agora é um momento de purgação e de sofrimento, mas em agosto a página estará virada. Enquanto governo demos conta de fornecer tudo e a infraestrutura funcionou perfeitamente. Eleição é outro capítulo", disse o ministro.

Embora o caos previsto pela oposição na organização da Copa não tenha ocorrido, o Planalto teme que o trauma da população com o fracasso do Brasil afete a autoestima dos brasileiros e provoque, sim, impacto eleitoral.

O senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB), os dois principais candidatos de oposição à Presidência, solidarizaram-se com a torcida brasileira pela derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1. Campos lamentou a derrota do Brasil, lembrando que é possível voltar mais forte. Aécio assistiu ao jogo no estádio e foi alvo de xingamentos, nos mesmos termos em que Dilma também foi hostilizada: "Ei, Aécio, vai tomar no c...", gritou parte da torcida em um momento (mais informações ao lado).

Tanto o candidato tucano quanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmaram, nos últimos dias, que Dilma tenta se aproveitar politicamente da Copa do Mundo.

"O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda Copa, mas o sonho do hexa foi, por ora, adiado. Tenho certeza de que voltaremos mais fortes em 2018", afirmou Eduardo Campos pelo Facebook.

O candidato a vice-presidente na chapa do tucano, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), seguiu à risca a orientação de separar futebol e eleição. "Acho que a notícia mais preocupante do dia foi o índice do IPCA que aponta alta da inflação. Os 6,5% de inflação são mais preocupantes que o 7 a 1, isso sim é um golpe na autoestima dos brasileiros. Mas não acredito que isso vá influenciar no resultado das eleições", afirmou.

O ex-governador Alberto Goldman, coordenador de campanha de Aécio em São Paulo, foi na mesma linha: "Isso não muda nada nas eleições. Nunca acreditei que a vitória do Brasil ajudasse o governo".

Efeito eleitoral

• Derrota do Brasil no Mundial faz governo mudar estratégia para evitar prejuízos

• Dilma traça estratégia para evitar prejuízos com derrota brasileira; candidatos lamentam

• Ideia é explorar imagem da presidente vinculada somente à organização do evento

Fernanda Krakovics, Maria Lima e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA — A humilhante derrota do Brasil na Copa do Mundo, fora de qualquer prognóstico, acendeu, no Palácio do Planalto, o alerta sobre o efeito político do 7 a 1 na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Se até o momento Dilma estava explorando politicamente as vitórias da seleção brasileira, a estratégia agora é tentar colar sua imagem apenas à organização do evento, considerada um sucesso pelo governo.

Logo após a derrota, a presidente tentou se colocar como uma torcedora comum, afirmando por meio de sua conta no Twitter que estava “muito, muito triste” com a derrota da seleção brasileira, e tentou passar uma mensagem de motivação para a população.

“Sinto imensamente por todos nós, torcedores, e pelos nossos jogadores. Mas, não vamos nos deixar alquebrar. Brasil, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, escreveu a presidente.
O perfil institucional do Palácio do Planalto no Facebook adotou imediatamente a linha de defender a organização do evento: “Valeu Brasil! Vamos continuar mostrando ao mundo que, mesmo sem nossa seleção na final, batemos um bolão fora de campo”.

O perfil da presidente Dilma no Facebook, que é administrado pelo PT, foi ainda mais explícito: “Perdemos a taça, mas a #copadascopas é nossa”, afirmou, repetindo o bordão adotado pelo governo para referir ao Mundial.

Preocupação com o pessimismo
A presidente não foi poupada nas redes sociais. Assim que tuitou lamentando a derrota do Brasil, os internautas partiram para cima, respondendo desaforos, na maioria. Alguns, mais leves, como: “Auto-ajuda não, presidente!”, “Foco nas vagas de medicina que a senhora prometeu”, “Vamo (sic) construir hospital agora que perdemos?” e até brincadeiras, como “Faz outra Copa aí pro Brasil vencer”, e “Cancela a Copa”. Mas os palavrões dominaram a timeline.

O discurso no entorno da presidente é que ela foi uma das maiores torcedoras e incentivadoras da seleção, mas que não estava em campo:

—A Copa deu certo e ela foi a maior torcedora (da seleção) — disse um auxiliar da presidente.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, garantiu que a presidente irá à final entregar a taça ao capitão do time campeão da Copa:

— O jogo foi um desastre, como nunca tinha acontecido. Ninguém pode dizer que o governo ou Dilma tenha responsabilidade sobre isso — disse Bernardo.

A presidente Dilma assistiu ao jogo no Palácio da Alvorada e, como os seus principais adversários na disputa pelo Planalto, não divulgou nenhuma foto durante a partida — ao contrário do que faziam nos jogos anteriores. O candidato do PSB a presidente, Eduardo Campos, como em todos os jogos, assistiu em casa, com a família. O único que foi ao estádio do Mineirão foi o candidato do PSDB, Aécio Neves. Ele foi discretamente, sem anúncio, segundo a assessoria, como um torcedor comum. O presidenciável tucano considerou a derrota sofrida, mas afirmou que o brilho do futebol brasileiro continua.

“Uma derrota sofrida, difícil de entender, mas que não apaga o brilho do futebol brasileiro e muito menos do nosso povo. Apesar do resultado, envio o meu abraço aos nossos jogadores, à comissão técnica e a todos que lutaram para colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio”, disse no Facebook.

O primeiro a lamentar a derrota, nas redes sociais, foi Eduardo Campos. E mandou um recado, para a próxima Copa. “O povo brasileiro fez uma festa linda durante toda Copa, mas o sonho do hexa foi, por ora, adiado. Tenho certeza de que voltaremos mais fortes em 2018”, afirmou, pelo Facebook.

Integrantes do governo afirmaram após a derrota da Seleção que uma coisa é futebol e, outra, é política. Mas reconheciam que o resultado do campo deve ser usado para atacar a presidente Dilma durante a campanha eleitoral. Um ministro afirmou que o governo e a campanha petista devem se preparar para a enxurrada de críticas e cobranças, ao menos, até a final da Copa do Mundo. O ministro do Turismo, Vinicius Lages, defendeu a realização da Copa no Brasil, dizendo que foi a mais intensa realizada até hoje:

— O sucesso da Copa até aqui não dependia da Seleção. Fomos gigantes na hospitalidade, no carinho com os turistas, marcamos pele e corações. A derrota em campo, por mais absoluta, não deve afetar nossa capacidade de reconhecermos o que somos hoje, um dos melhores países do mundo — disse o ministro do Turismo.

O ministro da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco, disse que a função do governo era de garantir condições para realização da Copa no Brasil:

— Futebol é esporte. Eleição é política.

O candidato do PT ao governo de São Paulo, o ex-ministro Alexandre Padilha, verbalizou no Twitter a defesa que deverá ser repisada pelo comando também da campanha da presidente Dilma. “Brasil e os brasileiros estão de parabéns. Garantimos a estrutura, a hospitalidade, saímos um país mais forte p/ nossos desafios. Faltou futebol”, escreveu Padilha.

Há mais de uma semana havia dúvidas no PT quanto à estratégia de Dilma de avocar para si a defesa da realização do evento no Brasil — com a repetição como um mantra de que os “pessimistas” foram derrotados — e de tentar capitalizar o desempenho da seleção.

O discurso de que “Dilma não estava em campo” já vinha sendo preparado como antídoto bem antes da derrota acachapante do time brasileiro. O coordenador da campanha à reeleição e presidente do PT, Rui Falcão, já tinha dado a deixa depois do zero a zero com o México.

— A única coisa que não depende do governo federal é o Brasil ganhar a Copa. Nós queremos que ganhe, mas aí a Dilma não está em campo. Se ganhar melhor, tem tudo para ganhar.

Às vésperas do início do Mundial, o governo e o comando da campanha estavam tensos com a perspectiva de haver novamente grandes manifestações, nos moldes das que ocuparam as ruas em junho do ano passado. Também temiam alguma falha grave nos novos estádios. Desse ponto de vista, ficaram todos aliviados.

A atuação da presidente na Copa foi dividida em dois momentos. Primeiro, ela estava preocupada com o mau humor da população em relação aos gastos públicos para sediar o evento e pretendia acompanhar de longe os jogos. Mas depois que o Palácio do Planalto captou que as agressões sofridas na abertura da Copa repercutiram mal e poderiam ser revertidas a favor de Dilma, a presidente passou a tentar capitalizar politicamente a atuação da seleção brasileira.

Especialistas veem pouco impacto nas eleições

• Vexame da seleção pode afetar humor no curto prazo, mas efeito seria passageiro

Thiago Herdy, Germano Oliveira e Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA — O mau desempenho da seleção brasileira em campo, ontem, poderá interferir no humor nacional a curto prazo, mas não no resultado da campanha eleitoral que se inicia, na avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO.

— A Copa tirou o foco nos problemas econômicos e políticos do país. O governo ficou um mês em estado de graça e isso criou um clima de otimismo — disse o cientista político da UFSCar, Fernando Antônio Farias de Azevedo, lembrando a leve recuperação de Dilma na última pesquisa Datafolha.

No entanto, em sua avaliação, para o bem ou para o mal, tratava-se de um “efeito passageiro”. Ele lembra da memória das últimas cinco eleições, que provaria não haver “qualquer conexão” entre o resultado do Brasil na Copa e o das urnas.

Para o cientista político Roberto Romano, da Unicamp, a continuidade do sentimento de otimismo poderia ter beneficiado Dilma.

— Ela vai perder um pouco. Quando o Lula trouxe a Copa, imaginou que seria um passeio, com uma grande vitória brasileira, o que ajudaria o PT a vencer as eleições de 2014. Como isso não aconteceu, algum prejuízo ela terá e isso será usado por seus adversários na campanha, que tudo indica será bastante violenta — disse Romano.

O especialista lembra, no entanto, que problemas reais como a crise econômica e o retorno dos índices de inflação independem do resultado da Copa. E estes, sim, poderiam interferir no debate eleitoral.

— O que salva Dilma de efeitos mais negativos será a ação dos marqueteiros. A sorte é que ela tem o João Santana, que é um mágico e poderá fazer refluir, durante a campanha eleitoral, o pessimismo que permanecerá durante certo tempo — diz Romano.

O sociólogo Luiz Werneck Vianna acredita que o fracasso no futebol tem potencial para dar novo impulso ao desejo de mudança que atinge patamares elevados na população desde o ano passado. Para ele, entretanto, é “irresponsável e oportunista" qualquer análise sobre o impacto disso nas próximas eleições.

— O sentimento de mudança agora em relação à seleção vai se espalhar para outras dimensões e poderá ser um impulso novo para aquele desejo de mudança na população, que apareceu forte nas últimas pesquisas — afirmou Vianna.

Para Fernando Azevedo, “o jogo das eleições é diferente" e “se dá em outro campo":
— Se a seleção fosse campeã, isso não ajudaria a Dilma, assim como a derrota do Brasil não favorece a oposição. O eleitor ficou mais maduro, não mistura os canais. Eleição está de um lado, o esporte, do outro — acredita Azevedo.

O meio de campo dos presidenciáveis

• Candidatos ao Palácio do Planalto escalam interlocutores de campanha para se aproximarem de setores estratégicos da corrida eleitoral

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Iniciada a fase do pé no chão da campanha eleitoral, mais do que nunca os presidenciáveis precisarão de interlocutores com os diversos setores da sociedade para ouvir queixas, demandas e levar a eles as propostas de cada uma das campanhas. Os times não estão completos, alguns porta-vozes ainda dividem o tempo entre os atuais afazeres e as missões futuras. Estruturas ainda seguem sendo montadas. Mas a necessidade de diálogo aumenta a cada dia e se intensificará quando a campanha esquentar de fato, após o término da Copa do Mundo.

Candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) tem dois importantes porta-vozes para reforçar o discurso econômico que tem impregnado a candidatura tucana nos últimos meses. Ao escolher o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como seu escudeiro fiel, atraiu para si a simpatia do setor financeiro nacional. "Eduardo estava bem à vontade nessa área. Quando Aécio trouxe Fraga (que é dono da Gávea Investimentos) oficialmente para seu lado, os investidores vieram como um imã", confirmou um investidor.

Dentro da campanha, Fraga é visto como um importante avalista. Mas é outro nome que atrai os olhos do empresariado: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ministro da Fazenda responsável pela criação do Plano Real, eleito e reeleito presidente na esteira da estabilidade econômica, FHC dá o peso institucional na relação com o setor produtivo nacional. "A presença de Fernando Henrique na nossa campanha transmite a imagem de seriedade, de competência e de uma pessoa que sabe montar uma equipe qualificada a serviço do país", justificou Aécio, em conversa recente com o Correio.

Na área sindical, Aécio escolheu o presidente do Solidariedade e ex-presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. O deputado federal tentou emplacar Miguel Torres, atual presidente da Força, como vice de Aécio, mas o mineiro optou pelo colega de Senado Aloysio Nunes Ferreira. Há duas semanas, o presidenciável tucano anunciou que Júnior, da ONG Afrorreggae, faria a ponte com os movimentos sociais. Integrantes da campanha afirmam que outros nomes serão agregados ao longo do processo, principalmente nessa área. "Da mesma forma que precisamos intensificar as pontes com a área social, os petistas buscam aliados no setor econômico", constatou um estrategista de Aécio.

O PT, aos poucos, vai montando seu staff. Mas o estilo Dilma Rousseff de governar fez com que a presidente se afastasse do setor produtivo, que a considera centralizadora. Presidente da Câmara de Gestão e Competitividade, o empresário Jorge Gerdau chegou a participar de encontros com a presença de Aécio Neves e outros empresários. Mas os tucanos não acreditam que ele fará campanha para o PSDB. "A relação dele com Lula e Dilma é forte. Uma vitória do Aécio não seria lamentada por ele. Mas, daí a se engajar em nosso time, há uma distância enorme", disse um aliado do tucano.

Para tentar reaproximar Dilma dos empresários, os encontros promovidos por Lula em seu Instituto, em São Paulo, têm sido essenciais. Nas campanhas anteriores do PT, Antonio Palocci e Henrique Meirelles exerciam com desenvoltura esse papel. Mas, hoje, Palocci está mais preocupado com as consultorias privadas do que em envolver-se diretamente na política. E Meirelles afastou-se da presidente. Além de Lula, outros representantes do setor produtivo que estão buscando essa ponte entre Dilma e os empresários são Abílio Diniz e Josué Gomes — curiosamente, ambos recusaram o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Movimentos sociais
O comando de campanha do PT anunciou ontem como um dos coordenadores o secretário Nacional da CUT, Jacy Afonso. Ele será o responsável pela ligação com o movimento sindical, área que os petistas dominam há muito tempo, embora tenham visto a defecção da Força Sindical para o PSDB e de outras centrais, como a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) para o PSB. Na área social, além da facilidade de ter pastas ministeriais com esse canal de diálogo, a campanha de Dilma poderá contar com Gilberto Carvalho, que ainda não se licenciou, mas é aguardado com ansiedade por estrategistas dilmistas.

Gilberto, inclusive, foi o responsável pela inflexão no discurso em relação às vaias e aos xingamentos direcionados a Dilma na abertura da Copa. Discurso endossado pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. "Um partido de esquerda que conseguiu mudar tanta coisa como nós mudamos no país, para melhor, não pode sentar sobre essas mudanças e dizer que está tudo resolvido. Não podemos ter ilusão de que vivemos em uma situação de social-democracia europeia", declarou o ministro.

O PSB anunciará, ainda este mês, um Conselho de Política e Cidadania incluindo nomes da sociedade civil e políticos de peso, como Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos. Os grandes responsáveis pela ponte com os movimentos sociais são Milton Coelho e Pedro Ivo. Na área sindical, o nome é Jailson Cardoso, secretário-geral da CTB. "Com os empresários, o principal interlocutor é o próprio Eduardo Campos. Ele transita com desenvoltura no setor produtivo brasileiro", elogiou o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. "Os parceiros nessa tarefa são escolhidos diretamente por ele", completou o socialista.

Colaboraram André Shalders e Grasielle Castro

Merval Pereira: O Mineirazo e Dilma

- O Globo

Assim como Dilma não faz gol, nem defende pênalti, também não escala o time. Por isso, nada tem a ver com o vexame protagonizado pela seleção brasileira na tarde de ontem no Mineirão. Mais uma vez, porém, foi xingada por parte da torcida presente ao estádio, em igualdade de condições com Felipão e Fred.

Nada mais equivocado do que essa repetição de comportamento, mas, mais uma vez, a equipe de marketing que assessora a candidata à reeleição errou na dose ao imaginar que a campanha da seleção poderia reverter em seu benefício, que não tem nada a ver com o sucesso do campeonato.

Até mesmo a derrota desmoralizante é mais um ingrediente para tornar esta a Copa das Copas, por razões alheias à atuação do governo. Dentro dos estádios, a Copa pode ser considerada a melhor de todos os tempos, e provavelmente a goleada de 7 a 1 sofrida pelo Brasil vai consolidar o recorde de gols marcados nesta edição.

Ficou claro, à medida que a seleção brasileira chegava aos trancos e barrancos à semifinal, que o Palácio do Planalto arvorou-se o responsável pelo sucesso da Copa, e tudo estava sendo preparado para que a presidente Dilma revertesse a situação da abertura, quando, mesmo não discursando por temor das vaias, foi xingada em uníssono no Itaquerão.

Com a seleção se classificando para as semifinais, Dilma confirmou que entregaria a taça ao campeão e classificou as vaias como “ossos do ofício”, na afoita esperança de que, entregando a Copa do Mundo ao capitão brasileiro Thiago Silva, tudo lhe seria perdoado.

Fez de tudo para associar sua imagem à da seleção pretensamente vitoriosa, fazendo até o “é tois” do Neymar para exibir-se nas redes sociais.

Mais grave, fez uma ligação direta — mais desastrada do que os passes longos da defesa brasileira para o ataque inexistente — entre o sucesso da Copa e as previsões pessimistas para a economia brasileira este ano. Como seus críticos supostamente erraram nas previsões catastróficas sobre a realização da Copa do Mundo, Dilma achou-se no direito de dizer que as previsões catastróficas para o crescimento de nossa economia também não se realizarão.

Se a seleção em campo não justificava um otimismo tão grande assim, mas ia seguindo em frente, na economia nada indica que uma previsão otimista tenha base na realidade.

Nos últimos 30 dias, vivemos em um país, pelo menos nas 12 capitais que sediam a Copa, que um dia poderá ser, mas ainda não é.

Mesmo o desabamento do viaduto em Belo Horizonte, que sinaliza a decadência de nossas obras públicas e o açodamento com que o PAC da mobilidade está sendo tocado, não provocou grandes reações, pois estávamos todos anestesiados pelo encantamento do futebol.

A fantasia da Copa do Mundo, que fez o país sair de sua realidade para criar uma bolha de felicidade e segurança nos últimos 30 dias, neutralizou por efêmeros momentos as conseqüências de uma política econômica que produz resultados desastrosos.

Mas eles estão aí, vigendo enquanto a bola rola nos estádios padrão Fifa e, assim como voltariam a ditar a vida dos brasileiros na próxima segunda-feira, na hipótese de uma vitória da seleção brasileira numa final que não acontecerá, retornaram ontem mesmo diante da tragédia do Mineirazo. A inflação superando o limite máximo aceitável é uma demonstração de que os efeitos perversos da política econômica são inexoráveis
mesmo no país do futebol.

Já tivemos a tragédia do Maracanazo, quando perdemos a final da Copa de 1950 para o Uruguai em pleno Maracanã. Tivemos a tragédia do Sarriá, quando a notável seleção de 1982 perdeu para a Itália por 3 a 2 quando dependíamos apenas de um empate. Mas nunca uma seleção perdeu de 7 em uma semifinal, onde os jogos são equilibrados geralmente, nem nunca uma seleção brasileira perdeu de 7.

Nada disso teria a ver com a presidente Dilma se ela não tivesse tentado afoitamente se aproveitar da Copa em benefício de sua candidatura. Tendo feito isso de caso pensado, a tragédia de ontem volta-se também contra ela. 

Dora Kramer: Ilusão à toa

- O Estado de S. Paulo

A vitória da técnica sobre o improviso no vexame planetário de ontem na partida entre Brasil e Alemanha pareceu corroborar a escrita: não se pode fazer tudo errado esperando que no fim dê tudo certo.

A despeito disso, em um ponto situação e oposição estão de acordo: o Brasil tem sido anfitrião de uma Copa do Mundo inesquecível. Ainda que não tenha saído tudo certíssimo conforme o figurino ideal, saiu tudo na medida do agradabilíssimo.

É a Copa de um país de sorte. Ou melhor, um país onde ocasionalmente dá tudo certo apesar de todos os pesares. Nada para se orgulhar. Ao contrário, é para fazer pensar.

Se no improviso, na base da simpatia é quase amor, na reversão da expectativa que de tão negativa faz dos erros meros detalhes nos safando do desastre, é de se imaginar o que faríamos com planejamento correto, cumprimento de prazos, gastos dentro da previsão, respeito ao cidadão local.

Seríamos coletivamente mais felizes. Ou, por outra, teríamos mais razões objetivas para sermos essas pessoas cuja amabilidade tanto tem impressionado os estrangeiros. Novidade nenhuma, uma vez que o Brasil aparece em pesquisas como um dos países cuja população tem alto grau de satisfação pessoal.

Um pouco dessa capacidade de organizar e produzir se expressa no sambódromo do Rio de Janeiro naquele espetáculo de sincronização algo incompreensível para quem já participou de um desfile e pôde testemunhar o grau de improvisação na concentração em contraposição ao profissionalismo do resultado na passarela.

Assim foi também na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, quando por aqui esteve o papa Francisco e provavelmente será na Olimpíada de 2016. Mas não se pode viver assim na base do remendo, na ilusão de que no limite a presumida nacionalidade do Divino dá seu jeito.

Trata-se de uma falsa competência. Realiza o sucesso ocasional, mas é incompetente para proporcionar ao povo de maneira permanente condições mínimas de conforto e bem-estar.

Daqui a menos de cinco dias tudo volta ao normal. E por "normal" entenda-se o que é absolutamente anormal: insegurança nas ruas, trânsito caótico, sistema de transportes deficiente, contas a pagar das obras superfaturadas, economia devagar quase parando, preços subindo, serviços públicos de quinta, uma realidade muito distante do Brasil maravilha disponível à diversão geral.

Nada do que se viu nesses dias era de verdade em relação ao cotidiano. Todo o empenho dos governos federal e estaduais esteve voltado para atender às exigências do Mundial. Concentraram-se esforços e o resultado foi positivo.

Se isso é possível ocasionalmente para efeito externo, seria também possível permanentemente para efeito interno.

O grande legado da Copa não são aeroportos modernos nem "arenas" ao molde de elefantes brancos. É, sim, a percepção de que nossos governantes podem, mas não fazem o melhor porque tratam o Brasil como uma nação de vira-latas.

Olho vivo. No ano passado Eduardo Campos comentava assim as especulações de que poderia aceitar a proposta de desistir em troca do apoio do PT a uma candidatura em 2018: "Tem gente que ainda espera o cumprimento de compromissos firmados em 1989".

Sinalizava que não seria ele a acreditar em acordo futuro lastreado em palavras não cumpridas no passado.

Sou você. O ex-presidente Lula está se movimentando (e falando) de modo a dar às suas plateias - principalmente aquelas formadas por empresários e políticos - a impressão de que um segundo mandato de Dilma Rousseff seria um ensaio geral para o retorno dele de fato e de direito em 2018.

Com isso, ele promete nos próximos quatro anos um ambiente mais Lula e menos Dilma.

Fernando Rodrigues: Agora, a ressaca

- Folha de S. Paulo

Ganhar ou perder faz parte da vida. Mas a derrota com certa dose de humilhação da seleção brasileira para a da Alemanha por 7 a 1 produz uma sensação um pouco mais desoladora.

Passaram-se 64 anos desde a decepção de 1950. O imaginário local sobre ganhar "em casa" provocou um estado de transe coletivo. A nação escancarou todo o seu atraso civilizatório resumido na dicotomia reducionista e infantil do "é tóis" (o Brasil) contra "eles" (o restante do mundo), como se uma disputa esportiva fosse vital para o país conseguir sanar seus problemas.

Protofascistas pediram na internet o assassinato do colombiano que causou a contusão em Neymar. O principal telejornal do país dedicou quase 90% do seu tempo diário ao futebol. O paroxismo da patriotada.

Agora, a ressaca. Talvez seja necessário esperar algumas décadas para ter outra Copa do Mundo no Brasil. O sonho de ganhar a atual se dissipou com os sete gols alemães de ontem (8). E ainda há o "jogo mais triste de todos", com os derrotados das semifinais disputando no sábado o 3º lugar.

O mundo não acabou, mas o bom humor das últimas semanas vai se evanescer um pouco. O país voltará a se enxergar como de fato é.

Haverá efeito político relevante? Não creio. O jogador Ronaldo teve um apagão durante a Copa de 1998. A seleção brasileira perdeu de maneira contundente. Mas o tucano Fernando Henrique Cardoso, com a economia no buraco, conseguiu se reeleger presidente. Em 2006, o petista Lula foi reeleito ainda sob os eflúvios do mensalão e de uma derrota do Brasil na Copa da Alemanha.

É claro que a vitória da seleção prolongaria o estado de torpor quase geral. Ajudaria quem já está no poder, a presidente e os governadores. O despertar do sonho --ou do pesadelo-- acelera a percepção da realidade. Não é ruim. O Brasil ainda é uma nação a ser construída, e tem pressa.

Rosângela Bittar: Armação ilimitada

Mercadante é o único com vaga garantida no Dilma II

- Valor Econômico

Como favorita, por estar no cargo e ter já uma equipe forjada em quatro anos de administração, na execução de um programa de governo em andamento e um projeto político pendular vacilante entre a continuidade e a mudança, a presidente Dilma Rousseff deveria ser, dos candidatos a presidente nas eleições de outubro, a mais bem resolvida. Tanto para saber o que vai fazer no futuro próximo de um segundo mandato, caso venha a ser reeleita, como com quem vai à luta, quem é seu time.

No entanto, enquanto seus adversários apresentam os principais colaboradores, notadamente entre eles aquele que deve comandar a economia, definidos para um futuro governo, dando nitidez às suas candidaturas, Dilma faz questão de informar que não tem nomes e só dará as linhas mestras de seu projeto após a eleição. Noutras palavras, quem quiser votar em Dilma que o faça no escuro, no máximo com base na permanência da equipe atual. O que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral como programa de sua candidatura foi um plano fantasia, para cumprir tabela legal. O eleitor que crie a expectativa que quiser sobre o que vem aí, prenúncio de que boa coisa não é, senão o governo propagaria.

Serve como garantia, e dá segurança ao eleitorado, o conhecimento de que em qualquer rumo que ingresse o candidato Aécio Neves, o fato de ter Armínio Fraga como líder da formulação do projeto dessa candidatura para a economia clareia um pouco o futuro; bem como serve como atestado de que não se cometerão desatinos ou repetições dos erros atuais a escalação de Eduardo Giannetti para a economia no time do candidato Eduardo Campos.

Não há um ministro entre os mais próximos de Dilma que se sinta à vontade para ao menos especular sobre os nomes disponíveis a convites para trabalhar em um segundo governo Dilma.

Duas informações que circulam, porém, criam mais ansiedade que solução para os graves problemas de credibilidade da equipe econômica do atual governo. Uma, é que a presidente, não abrindo agora seus planos e equipe que poderia testar, consolida a desconfiança de que pode até mesmo manter o atual comando da economia, de baixo conceito. Arno Augustin e Guido Mantega continuariam nos cargos, uma vez ela reeleita presidente.

Outra é que só há um ministro de hoje com lugar garantido no governo Dilma II, exatamente o homem do confronto, atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Ainda assim, não necessariamente no mesmo cargo, o que abre brechas aos temores de que, finalmente, o ex-senador por São Paulo pode, finalmente, colocar em prática suas teorias econômicas.

Certo é que Mercadante seria um ministro, na aposta de colegas, o único até o momento, a transpor os períodos I e II, por enquanto. Deve ter cargo, também, Fernando Pimentel, entre outros mais chegados, mas aqui entram dezenas de condicionantes, a primeira, no seu caso, é a eleição para governador de Minas Gerais.

Outra certeza é que o ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, continuará sendo seu principal, senão único, conselheiro, alguém que a presidente realmente ouve e leva em consideração. Assim, se estiver havendo busca por empresários ou juristas de renome, pessoas fora de partidos políticos da aliança que possam integrar o segundo governo Dilma, é ali, no Rio Grande do Sul, onde ele mora, que esta roda gira.

Muito pouca definição, ou sinal ao eleitorado, para a favorita na disputa que pede um segundo mandato. Enquanto a presidente segue sendo uma esfinge, é da conversa com os executivos da campanha da reeleição que começam a surgir os sinais de que esse vácuo já está sendo ocupado. Por ele mesmo, o ex-presidente Lula.

Uma reportagem esclarecedora publicada pelo Valor na segunda-feira mostra que o movimento Volta, Lula adquiriu outro tônus, mas trata das mesmas perspectivas: se Dilma perder a eleição, o ex-presidente fará campanha, na oposição, no dia seguinte à derrota, mas não é para isso que se prepara. Reeleita Dilma, o ex-presidente Lula já decidiu assumir um protagonismo que se assemelha mesmo ao comando de um governo paralelo.

Os repórteres Raymundo Costa e Andrea Jubé contaram que nas hostes de Lula e Dilma formula-se um modelo em que fica evidente o papel de Chefe de Estado para a presidente Dilma e chefe de governo para o ex-presidente Lula.

Os mais próximos a Lula, que o representam no comando da campanha da reeleição, avisam que o ex-presidente terá uma atuação "proativa". Um jargão diplomático para uma ação que se pode imaginar muito pouco diplomática.

Informam, por exemplo, que a movimentação de Lula após as eleições- em direção a partidos aliados, ao Congresso, aos movimentos sociais, aos empresários, aos sindicatos - forçará Dilma também a conversar mais, a incorporar o diálogo ao processo político.

Devagar se chega ao ponto: Lula, assinalam, deverá liderar o debate sobre propostas de que Dilma eventualmente não queira tomar a frente. Ou seja, fará o ex o que a atual não quiser fazer no governo para o qual foi eleita. Parece algo estapafúrdio mas é o que prometem e preveem. Nesse caso está o exemplo do projeto de controle da mídia, agora já aprovado por Lula e ainda sub-judice nas intenções de Dilma em um segundo tempo.

Lula poderia, ainda, noutro exemplo, ter posição diferente de Dilma sobre assuntos econômicos, como a política de desonerações, admitem os assessores de campanha. Daí para impor um nome para comandar a economia - Lula já queria trocar Guido Mantega e Arno Augustin há muito tempo, optando por uma solução de mercado -, seria um pulo.

Sem ter uma segunda reeleição pela qual resistir às interferências, Dilma seria forçada a ter seu governo com um pé em cada canoa e veria o impaciente ex-presidente, que não quis desbancá-la da candidatura à reeleição, fazer sua volta em 2014 mesmo deslocando o centro do poder precocemente.

Acenando com a perspectiva da glória formal logo ali, em 2018, para onde marcharia em campanha incessante a partir da reeleição da atual presidente. É Lula 2018 na travessia de 2014. Com Dilma no cargo.

Luiz Carlos Azedo: A agenda de Dilma

- Correio Braziliense

Papel aceita tudo, diz o ditado. É comum ouvi-lo nas reuniões programáticas, nas quais as equipes dos candidatos se digladiam — muito mais em função da expectativa de poder que a elaboração dos programas exacerba do que em razão dos problemas nacionais. Em geral, é nessa atividade que a futura tropa de ocupação se concentra; a tropa de assalto cuida do marketing eleitoral e da campanha de rua. Depois da eleição, em caso de vitória, acaba numa posição periférica ou é descartada.

Tanto é verdade que a presidente Dilma Rousseff se tornou a favorita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de sua participação na elaboração do programa de governo do PT, que garantiu a ela uma vaga na equipe de transição, depois o Ministério de Minas e Energia e, finalmente, a Casa Civil. Acabou ungida por Lula e chegou lá. É um caso único, mas mostra bem a importância desse núcleo estratégico das campanhas. O programa é outra história.

No papel, o programa de Dilma é de continuidade em relação aos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não de mudança. Essa seria a condição para promover "um novo ciclo histórico de prosperidade, oportunidades e de mudanças". É que a insatisfação do eleitorado, demonstrada nas pesquisas, criou uma espécie de fosso a separar as imagens dos dois petistas.

É curioso: Lula beneficiou-se da política de estabilização da moeda executada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas, ao mesmo tempo, trabalhou dia e noite para desconstruir a imagem do tucano. Depois da crise de 2008, executou um cavalo de pau na economia, que foi bem-sucedido em curto prazo. Isso garantiu a eleição de Dilma, mas o aprofundamento de sua política anticíclica resultou no cenário de baixo crescimento, com inflação à beira do teto, de 6,5%, da meta do Banco Central (BC). Só não extrapolou esse limite até agora por causa da contenção forçada dos preços administrados pelo governo.

Dilma não tem respostas de curto prazo para a economia voltar a crescer. Alavanca a sua reeleição nos programas sociais que herdou, no financiamento da casa própria, nos incentivos fiscais para os automóveis e à linha branca e nos sacrifícios impostos à Petrobras, que dão sinais de esgotamento como fatores de expansão econômica.

Deixemos de lado o loteamento do governo entre os aliados. Dilma busca uma nova clivagem política, a partir da convocação de um plebiscito para fazer a reforma política com apoio popular, na qual o Congresso se veria de joelhos diante do PT revigorado e no poder. Após os protestos de junho do ano passado, bem que tentou fazer isso, mas não foi possível: os aliados refugaram. Agora, acredita que radicalização desse debate fará com que a polarização eleitoral se dê a seu favor.

O maniqueísmo político não resolve os problemas do país. Com acertos e erros, desde a redemocratização, cada presidente da República cumpriu uma parte da agenda nacional, mais ou menos de acordo com os interesses das forças políticas que representava. O programa da oposição democrática ao regime militar vem sendo executado gradativamente, por quase três décadas, ou seja, o tempo de uma geração — para frustração dos que acreditavam que a mudança do regime se confundiria com a revolução.

Não foi o que ocorreu. O ex-presidente José Sarney garantiu uma transição segura à democracia, que nos legou a atual Constituição (ou seja, o direito à igualdade de oportunidade), mesmo com o país à beira da hiperinflação. Embora apeado do poder no meio do mandato, o ex-presidente Fernando Collor de Mello promoveu a abertura da economia e nossa integração à globalização. O falecido Itamar Franco, no seu breve governo, deu início ao programa de estabilização da economia, com o lançamento do Plano Real. Fernando Henrique Cardoso saneou o sistema financeiro, fez as privatizações e implantou a Lei de Responsabilidade Fiscal. O ex-presidente Lula completou a reforma previdenciária, implementou um grande programa de transferência de renda e fortaleceu o mercado interno.

Qual é o legado da presidente Dilma? Suas prioridades eram melhorar o ensino e a assistência à saúde; resolver os problemas de infraestrutura (mobilidade urbana, portos, aeroportos, ferrovias e rodovias); aumentar a produção de energia; reduzir o deficit habitacional e a violência urbana. Essa agenda está negativa porque exige mais crescimento econômico e inflação controlada para ser implementada, mas as urnas é que dirão se o atual governo fracassou.

Elio Gaspari: O risco de uma campanha tipo Zúñiga

• Os candidatos não se decidiram entre um joelhaço nas costas ou um gol como o de James Rodriguez

- O Globo

Nos próximos dois meses não vai ter Copa, vai ter campanha eleitoral. Da Copa ficará a lembrança de uma festa, de um desastre, das traficâncias dos amigos da Fifa, do soco de Rodrigo Paiva em Pinilla, da mordida de Suárez em Chiellini e, acima de tudo, do joelhaço de Zúñiga em Neymar. Caberá a Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos decidir que tipo de campanha farão. Podem escolher a elegância de James Rodriguez ou um modelo Zúñiga 2.0. Um jogou para um gol inesquecível. O outro, para destruir o adversário.

Em 2002 os Zúñigas do tucanato apresentavam uma eventual vitória de Lula como a bancarrota do país. (Um dólar de R$ 4 era boa aposta.) Em 2006 foi a vez dos Zúñigas petistas: se Alckmin fosse eleito, venderia a Petrobras. Quatro anos depois, Dilma Rousseff, por sua posição diante do aborto, seria uma matadora de criancinhas. Os dois lados prenunciavam o fim do mundo.

Até agora nenhum candidato mostrou simpatia pelo modelo de James Rodriguez. A doutora Dilma lançou-se com platitudes ("Brasil sem Burocracia", "Banda Larga para Todos"). Aécio Neves oferece "gestão", um conceito saudável, porém neutro, como as boas maneiras. Os repórteres Vandson Lima e Raquel Ulhôa mostraram que no dia 28 de junho o doutor Eduardo Campos comprometeu-se a garantir escolas em tempo integral para todas as crianças do país. Foram procurar a boa nova nas diretrizes gerais que ele registrou no TSE uma semana depois e, cadê? Sumiu a promessa.

Enquanto os candidatos procuram as costas dos adversários, nos últimos meses o Congresso aprovou dois contrabandos em medidas provisórias. Num, aliviava os planos de saúde das multas impostas por negativas de atendimento à freguesia. O gato foi aprovado por todas as bancadas. Felizmente, a doutora Dilma vetou-o. Não fez o mesmo com outro, que matou o sistema de licitação para a concessão de serviços de ônibus interestaduais. Há outro gato na tuba: uma emenda à MP 641, que alivia as dívidas de sonegadores com o fisco, estende o mimo a prefeitos condenados a ressarcir a Viúva por atos de improbidade administrativa. A ver se os candidatos têm algo a dizer ou se isso está acontecendo em Marte.

Zúñiga está em campo, mas assim como houve Copa, há um Brasil capaz de surpreender seus instintos animais. Nele, tucanos e petistas sabem jogar bola. Por exemplo: o "British Medical Journal" acaba de publicar uma pesquisa associando o Programa Saúde da Família (o maior do mundo) a uma redução de 21% na mortalidade por doenças cardíacas no municípios onde opera. A mortalidade por acidentes vasculares cerebrais caiu 18%. O trabalho, de Davide Rasella, Michael Harhay, Marina Pamponet, Rosana Aquino e Mauricio Barreto, não crava uma relação de causa e efeito, mas mostra que a prevenção oferecida pelo programa foi relevante para o bom resultado.

O "Saúde da Família" deslanchou em 1995, durante o tucanato. A pesquisa cobriu dados de 1.622 municípios entre 2000 a 2009. Portanto, foram dois anos de governo tucano e sete petistas. Segundo o modelo Zúñiga, os tucanos desviavam verbas da saúde e os petistas aparelharam o programa. Na vida real, ambos contribuíram para que a saúde dos brasileiros melhorasse.

'Dilmar' tropeça na bola: O Estado de S. Paulo - Editorial

Depois da partida de sexta-feira, em que o Brasil venceu a Colômbia e perdeu Neymar, a equipe da presidente Dilma Rousseff programou para daí a três dias um bate-papo entre ela e internautas sobre um único e óbvio assunto: a Copa. Tanto se tratava de uma jogada eleitoral que a primeira ideia foi usar a página que o PT administra na rede social em nome da candidata. Aí, abandonando-se ao cinismo, resolveram dar um tom "institucional" à marquetagem, transferindo a conversa para a página oficial da Presidência da República.

Foi tudo confeccionado para parecer uma interlocução natural entre a dirigente do País e cidadãos-torcedores, na véspera da penúltima das sete etapas que a seleção precisa superar para chegar ao hexa. Mas a manobra apenas serviu de escada para Dilma subir o tom dos ataques aos seus críticos, apropriar-se do bom andamento do Campeonato, como se fosse mais uma das incontáveis realizações fictícias do seu governo, e forçar uma identificação, para brasileiro ver, com o craque excluído das finais. "Dilmar" não se limitou a soltar o verbo fácil e ensaiado dos elogios ao ídolo "guerreiro" e da comunhão com a sua dor ao ser atingido, que "feriu o coração de todos os brasileiros".

Mandando às favas o senso de ridículo que manda o respeito que se lhe atribua, colocou na internet uma foto em que aparece apoiando o braço esquerdo sobre o punho do direito, numa simulação patética do "É tóis". Trata-se do divertido gesto que Neymar inventou para ilustrar a sua versão do dito "É nóis", que se tornou uma das marcas desse jovem sempre criativo dentro e fora das quatro linhas. Bem que a presidente, ela mesma, avisou há pouco mais de um ano: "Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição". Infernal, festejou a "belezura" que enxerga no torneio apenas para distribuir caneladas, chamando os adversários, grosseiramente, de "urubus".

Ela os culpa pelo "indevido pessimismo" que antecedeu a Copa. Indevido por quê? A imprensa - a ré que ela se guardou de nominar - deu margem, sim, a fundamentadas dúvidas sobre o preparo do País para acolher o mais popular evento esportivo do mundo, ao descobrir, divulgar e debater os muitos malfeitos (em todos os sentidos do termo) que precederam a competição. Não fez mais do que o seu dever. Se isso ressoou no Planalto como oposicionismo, nada mais adequado, também. "Jornalismo é oposição", dizia o genial Millôr Fernandes (1923-2012). "O resto é armazém de secos e molhados." Se, afinal, tudo acabou bem - descontado o viaduto que desabou em Belo Horizonte, matando dois -, tanto melhor. Mas não foi por obra e graça da presidente.

Esperta, Sua Excelência. Em dado momento do chat, para desdenhar das críticas, ela equiparou as previsões pessimistas em relação à Copa às que cercam, com mais razão ainda, o desempenho da economia este ano. A taxa do PIB em 12 meses mal supera 1%. Ninguém com a cabeça minimamente no lugar aposta numa metamorfose que redima os desastres da política econômica. Mas - e aí reside a esperteza dilmista - o resultado final do ano só será conhecido em começos de 2015. A essa altura, a presidente ou terá sido reeleita ou terá deixado o Planalto. Em qualquer hipótese, não haverá quem perca o seu tempo lhe cobrando o despropósito de agora.

Bem pensadas as coisas, o empenho da candidata em tirar proveito eleitoral da festa esportiva, para não falar do que fará se a seleção for campeã, parece ignorar dois fatos básicos. De um lado, se é verdade que aumentou a adesão popular à realização do evento no Brasil - ajudando a presidente a subir três pontos na mais recente pesquisa -, é verdade também que, na casa de 63%, o apoio à Copa seria notável nos Estados Unidos, digamos, mas está aquém do que se poderia esperar no país do futebol, na pátria em chuteiras. De outro lado, não há relação previsível entre o desfecho do Campeonato e o da disputa nas urnas. O Brasil pode ganhar, e Dilma perder. Ou vice-versa. Seja lá o que se possa supor a respeito está confinado ao rarefeito espaço das probabilidades.

Oitenta e quatro dias separam a final do próximo domingo e a votação no primeiro domingo de outubro. Esses são, metaforicamente, os 90 minutos decisivos.

Brasília-DF - Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Cambismo mundo afora
O site http://us.ticketbis.net oferecia ontem ingressos para a final da Copa do Mundo no Maracanã a preços que variavam de US$ 6,3 mil (somente para residentes no Brasil) a US$ 14,8 mil. Havia ainda dois disponíveis no "VIP pavillion" pela bagatela de US$ 18.915,60.

Legado além das obras
Assim que terminar a Copa, o governo baterá bumbo nos avanços tecnológicos que o país conquistou com a Copa do Mundo. A principal delas será o avanço da banda larga de internet, algo que, aliás, também será parte do portfólio de campanha de Dilma. O mesmo vale para os centros de controle de segurança montados para o Mundial e que ficarão agora para uso das polícias nas cidades-sedes.

O pós-Copa do PMDB
Passado o Mundial, na semana que vem, os peemedebistas planejam uma reunião de bancada para a próxima terça-feira. A ideia é fazer um balanço das alianças e dos principais problemas que o partido enfrenta com o PT Brasil afora.

Ei! Você aí...
Que jingle que nada! A música que promete embalar os bastidores das campanhas é a velha marchinha de carnaval: "Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí...". Afinal, todos os deputados que passam por Brasília reclamam da falta de recursos para fazer girar a máquina eleitoral com bandeiras, adesivos, carros de som e, especialmente, o programa de tevê, considerado a peça mais cara. A ladainha começou ontem com os poucos presentes na cidade desabafando que está difícil conseguir algum para custear os próximos dois meses e meio.

...Ajeita isso aí!
O que mais incomodava ontem a classe política nem era a ansiedade por conta do jogo do Brasil. A maior dor de cabeça é conseguir o CNPJ para poder começar a soltar material de campanha. Sem esse registro, deputados e senadores não podem receber recursos para colocar adesivos e outros materiais nas ruas. E quem soltar, sem o CNPJ regularizado, corre o risco de sofrer algum processo logo ali na frente.

A Copa e a espada do Congresso
Na disputa constante entre congressistas e governo, a ideia que promete vingar ainda hoje é deixar esta sessão legislativa aberta durante o recesso. Para isso, basta não votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Por trás dessa decisão, está a vontade de manter a CPI Mista da Petrobras "funcionando". Deixar a comissão de deputados e senadores como uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do PT e da presidente Dilma Rousseff nesta largada eleitoral. Assim, se os petistas não honrarem seus acordos ou estiverem em débito com a maioria dos aliados, basta fazer um esforço concentrado e dar fôlego à investigação para desgastar o governo da presidente-candidata.

VIP/ A área VIP reservada à presidente Dilma Rousseff na final da Copa terá apenas chefes de Estado e da Fifa. Até parte dos ministros deve ser colocada em outro setor. Afinal, estarão lá os chefes dos Brics, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, que já confirmaram presença. Foi Xi Jinping que pediu a troca da data da reunião de cúpula do grupo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul de abril para julho com o intuito de assistir à final do Mundial no Maracanã.

Honras da Casa.../ O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (foto), até que tentou fazer desta uma semana sem expediente no Congresso, uma vez que não haverá sessões deliberativas. Ele, entretanto, virá a Brasília apenas para receber o grupo de parlamentares russos que antecede a visita do presidente Vladimir Putin. Há quem aposte que o sonho de consumo do grupo é um ingresso para a final da Copa.

...Sem muito esforço/ Na semana que vem, a agenda internacional também vai tomar conta do plenário. Tem sessão solene na quarta-feira, em homenagem a Xi Jinping na Câmara. Só a delegação chinesa já é suficiente para dar aquele aspecto de casa cheia na véspera da data oficial do início do recesso que será mais branco do que nunca.

Do governo para a campanha/ O secretário Nacional de Reforma do Judiciário, Flávio Caetano, deixa o governo para coordenar a área jurídica da campanha da presidente Dilma Rousseff.

Painel - Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Pedras no caminho
Aécio Neves (PSDB) terá dificuldades na corrida ao voto evangélico, que ele mesmo iniciou ao visitar um templo da Convenção Geral das Assembleias de Deus. Presidente do conselho político da entidade, o pastor Lélis Marinhos diz que a imagem de "bon vivant" pode atrapalhar o tucano. "Aécio não comunga do modo de vida pregado por nós", afirma. "A igreja é muito conservadora. Qualquer fato que destoe é considerado desvio de conduta, que não indicamos aos fiéis."

Brecha Apesar de frisar a "dificuldade de convergência" com o tucano, o pastor Lélis Marinhos diz que o apoio da igreja não depende só da imagem pessoal do candidato. "Tem de ser estudado em uma conjuntura muito mais ampla, que não aborde só esse tema", afirma.

Sintoma Os números do Datafolha deixam claro que o desafio de Aécio será grande. Ele tem apenas 14% das intenções de voto entre os evangélicos pentecostais. Na média da população, aparece bem melhor, com 20%.

Fidelidade O presidente da Convenção Geral, pastor José Wellington, apoiou o tucano José Serra em 2010. Sua filha Marta Costa (PSD), vereadora em São Paulo, é a segunda suplente do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), vice na chapa de Aécio.

Vem, Dudu A defesa de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras suspeito de corrupção, indicou o presidenciável Eduardo Campos (PSB) como testemunha de defesa no processo em que ele é acusado de participar de superfaturamento na refinaria de Abreu e Lima (PE).

Fica, Dilma Advogados do ex-diretor, que está preso, sustentam que Campos pode esclarecer que a construção foi regular. O ex-governador de Pernambuco não foi consultado antes da indicação. A defesa diz que estudou apontar Dilma Rousseff como testemunha, mas desistiu.

Meus garotos O ex-governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB) anda se gabando pela entrada de Aloysio na chapa tucana. "Veja como escolho bem: os dois candidatos a vice estiveram em meu gabinete. Aloysio foi meu vice, e Michel Temer, o vice da Dilma, foi meu secretário da Justiça."

Lá vem vaia O Planalto reconhece que o vexame da seleção pode respingar em Dilma, que prometeu entregar a taça aos campeões neste domingo, no Maracanã. A primeira ordem é baixar o tom ufanista, mas insistir no discurso de que a organização da Copa foi um sucesso.

Culpa dela Enquanto Aécio e Campos divulgavam lamentos protocolares, parte da oposição vibrava com a derrota. "Certo que Lula e Dilma se ferraram. Muda Brasil", disse Xico Graziano, um dos coordenadores da campanha tucana, no Twitter.

Culpa dele Petistas de baixa patente também tentaram surfar na tragédia de BH. "Agora que soube que o Aécio estava no camarote do Mineirão. Pé frio!", debochou Gabriel Medina, coordenador de Juventude do prefeito Fernando Haddad (PT).

Culpa da CBF Alberto Cantalice, vice-presidente do PT, preferiu atacar os cartolas. "Enquanto máfias continuarem a comandar o futebol brasileiro, tanto os grandes clubes como a seleção ficarão nesta merda!", esbravejou, em uma rede social.

Aerotrem E o nanico Levy Fidelix (PRTB) sentenciou, eufórico: "A Alemanha salvou o Brasil do PT".

Dura O candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, foi revistado pela PM ao chegar para assistir ao jogo em um parque de São Miguel, na zona leste.

Tiroteio
"O PT quis fingir que o filho não era dele, mas a Justiça decidiu: o deputado acusado de se reunir com o PCC é sim da chapa do Padilha."
DO DEPUTADO ESTADUAL PEDRO TOBIAS (PSDB-SP), sobre liminar que permite ao colega Luiz Moura disputar a reeleição à Assembleia Legislativa pelo PT.

Contraponto
Plínio, a sensação dos debates

O bom humor de Plínio de Arruda Sampaio, que morreu ontem aos 83 anos, quebrou a monotonia dos debates presidenciais de 2010. No primeiro encontro, na Band, ele mostrou a que veio logo na abertura:

--Imagino que vocês estejam surpresos, não é? Porque eram só três. Agora apareceu mais um!

O socialista não conseguiu ameaçar os favoritos, mas divertiu ao distribuir rótulos como "hipocondríaco", para José Serra, e "ecocapitalista", para Marina Silva. Quando Dilma Rousseff faltou ao debate da Gazeta, ele ironizou:

--Essa moça é um blefe... ela foi inventada!

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Portugal oferece ‘pacote de bancos’ ao Brasil
Os principais bancos privados de Portugal foram oferecidos para aquisição aos maiores bancos brasileiros, durante reunião-almoço em São Paulo. Em princípio, os portugueses propuseram que os brasileiros adquirissem parte das sociedades, mas depois evoluíram para a venda do controle acionário. Estiveram no almoço, realizado a pedido dos portugueses, representantes das suas maiores instituições financeiras.

• Apenas banqueiros
Somente presidentes, de ambos os lados, participaram dessa primeira conversa sobre aquisição do pacote de bancos portugueses.

• É grave a crise
Portugueses dizem preferir vender o controle dos bancos a brasileiros, a entregá-lo, como seria inevitável, a europeus, sobretudo alemães.

• Só no bilateral
Após o primeiro encontro, os banqueiros portugueses e brasileiros não se reuniram de novo. Mas negociações bilaterais estão em curso.

• Espírito Santo
Entre os mais interessados no controle brasileiro é o tradicional Banco Espírito Santo, que teve a iniciativa da reunião em São Paulo.

• Enrolado com Youssef, Argolo disputará reeleição
Alvo de processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética devido ao envolvimento com doleiro Alberto Youssef, com direito a declarações afetuosas interceptadas pela Polícia Federal, o deputado Luiz Argôlo (Solidariedade) já está em plena campanha pela reeleição na Bahia. Ele quadriplicou limite de gastos da campanha passando para R$ 4 milhões este ano, conforme registrou na Justiça Eleitoral.

• Em troca de apoio
Segundo políticos baianos, Argôlo tem distribuído a prefeitos shows da banda Calcinha Preta, que nega ter qualquer contrato com o deputado.

• Shows aconteceram
A assessoria do Calcinha Preta informou que fechou com o empresário Augusto Teixeira 18 shows na Bahia, realizados até o dia 29 de junho.

• Embaixo do colchão
Além de fazendas e imóveis, Luiz Argôlo declarou na Justiça Eleitoral que guarda em espécie R$ 188 mil.

• Explica aí
Por que milionários entram em política? O candidato a governador de Pernambuco, Armando Monteiro (PTB), bem que poderia explicar. Rico pra dedéu, seu patrimônio cresceu de R$ 1,2 milhão, em 2006, para R$ 14,9 milhões, agora. E espera gastar R$ 30 milhões na campanha.

• Ninguém merece
Além do recesso branco durante a Copa do Mundo, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), já informou a deputados que a partir do próximo dia 18 de julho, nada funcionará na Casa.

• Juntos na causa
Levantamento da equipe de campanha do presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) sobre o mapa eleitoral no país revela que tucanos estão fechados com o DEM em cerca de 90% dos estados brasileiros.

• Plantão
Apesar do marasmo que tomou conta do Congresso esta semana, o relator da CPMI da Petrobras, Marco Maia (PT-RS), esteve em Brasília para estudar autos do inquérito disponibilizados pela Justiça Federal.

• Recuperação
Pesquisa Dados mostra a recuperação de Agnelo Queiroz (PT) no DF. Sua avaliação positiva cresceu na proporção das intenções de voto. Agora com 15,9%, Agnelo está tecnicamente empatado com José Roberto Arruda (PR), que soma 17,7%. Registro no TSE: BR 189/2014.

• Câmara mal na fita
A população do DF continua envergonhada de sua Câmara Legislativa. Segundo a pesquisa Dados, 42,4% acham sua atuação “ruim” ou “péssima”, contra aprovação de míseros 1,4% dos entrevistados.

• Milagre
Faz inveja o milagre da multiplicação de bens dos políticos em 4 anos. O celebre ex-boxeador e deputado Popó (PRB-BA) fez seu patrimônio crescer 50% entre 2010 e 2014, de R$ 2 milhões para R$ 3,1 milhões.

• Vacina
Só alguns gatos pingados assinaram a petição no site Avaaz sondando a reação ao decreto da presidenta Dilma Rousseff que instituiu os conselhos populares.

• Maluquice
O deputado Sibá Machado (PT-AC) bate recorde de asneiras no Twitter. Disse até que o jogo com a Alemanha era uma “parada dos brasileiros com os arianos.”

Panorama Político – Ilimar Franco

- O Globo

Mobilizar a militância
O PT quer recuperar e colocar seus militantes novamente nas ruas. O presidente do PT, Rui Falcão, cobrou dos coordenadores regionais uma ação com esse objetivo. Os petistas avaliam que o diálogo com as bases foi negligenciado no governo Dilma. O partido quer que a reeleição da presidente funcione como uma âncora dessa mobilização como foram, no passado, a reação ao mensalão e o carisma do ex-presidente Lula.

O quadro eleitoral segundo o PT
A campanha da presidente Dilma está fazendo pesquisas semanais de intenções de voto. E, com base nesses resultados, o PT vai dedicar atenção especial ao maior eleitorado do país, São Paulo. Seus dirigentes avaliam que a presidente sairá vitoriosa se garantir 35% dos votos no estado. Os petistas trabalham para que a presidente, que é mineira, consiga chegar aos 40% dos votos válidos em Minas. Eles preveem que Dilma vencerá por larga margem no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e no Rio. A situação é difícil no Sul, embora tenha melhorado com a candidatura Roberto Requião.

Todos pelo social
As diretrizes dos programas de governo dos principais candidatos (Dilma, Aécio e Eduardo) assumem compromisso de manter as políticas sociais, como o Bolsa Família, e ampliar os recursos públicos destinados aos mais pobres.
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“A Copa na Argentina deu lucro de US$ 78 milhões. Os lucros na Alemanha e na África do Sul passaram de US$ 6 bilhões. Isso é o que chamo de administrar. Foi isso que procurei fazer”
João Havelange, ex-presidente da Fifa (1974-1998), sobre os lucros da Fifa nas Copas do Mundo (em 12/11/2010
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O arquiteto
Presidente da Fifa por 24 anos, João Havelange foi quem tornou as Copas um Empreendimento altamente lucrativo. Ele globalizou a Fifa, que tem 207 países filiados. Em 1999, pesquisa o elegeu um dos três maiores dirigentes
do século, ao lado do Barão Pierre de Coubertin (fundador do COI) e de Juan Antonio Samaranch (ex-presidente do COI).

E por falar em lucro
As micro e pequenas empresas do Brasil já faturaram R$ 500 milhões com a Copa do Mundo. As áreas que mais ganharam foram as de construção civil, turismo, artesanato e serviços. Os dados foram levantados pelo Sebrae.

Testemunhas do apagão
Eles estampavam perplexidade em seus rostos, ontem, no Mineirão. Mesmo abatidos, os ministros Vinicius Lages (Turismo), José Eduardo Cardozo (Justiça), Aldo Rebelo (Esporte) e Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores) ficaram no camarote, destinado às autoridades, até o fim do jogo em que a Alemanha goleou o Brasil.

A agenda tucana
O comando da candidatura de Aécio Neves ao Planalto planeja dividir assim a campanha tucana: 20 dias em São Paulo, 25 dias entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, 15 dias no Nordeste, 15 dias no Sul e 15 dias no Centro-Oeste.

#Meugovernador
Henrique Alves se inspirou no “Rousselfie” da presidente Dilma e criou a mesma seção no seu site de candidato a governador (RN). Ele pede aos eleitores para enviar fotos com o presidente da Câmara, com a hashtag #Meugovernador.
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O VICE MICHEL TEMER (PMDB) fará campanha paralela à da presidente Dilma. Ele vai percorrer São Paulo pregando a reeleição da chapa Dilma-Temer