domingo, 6 de julho de 2014

Opinião do dia: Aloysio Nunes Ferreira

"Fui mais longe do que ela. Mas isso não me impede de hoje ter uma visão absolutamente crítica, não só da tática, mas da concepção desses movimentos. Atacávamos a ditadura por uma via que não era democrática."

Aloysio Nunes Ferreira, senador (SP) e candidato a vice na chapa de Aécio Neves. Um tucano na guerrilha, Folha de S. Paulo, 6 de julho de 2104

Brasil tem 14 mil fichas-sujas que devem ser impedidos de disputar eleições

• Esse é o número de condenados pela Justiça que podem ser enquadrados na Lei da Ficha Limpa caso sejam candidatos, segundo cadastro do Conselho Nacional de Justiça

Daniel Biasetto e Juliana Castro – O Globo

RIO - O Brasil tem cerca de 14 mil políticos e agentes públicos condenados nos tribunais de Justiça que, caso sejam candidatos, devem ser impedidos de disputar as eleições deste ano, que começam neste domingo. Levantamento exclusivo obtido pelo GLOBO junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) permitiu reunir as condenações por improbidade administrativa e por atos previstos na Lei da Ficha Limpa que tornariam os réus inelegíveis para o pleito deste ano.

Juntas, as pessoas envolvidas nos 14.175 processos em que houve condenação nos tribunais regionais federais das cinco regiões, tribunais de Justiça estaduais e Supremo Tribunal Federal (STF) devem pagar à Justiça, entre multas e ressarcimentos, cerca de R$ 3 bilhões em decorrência de infrações criminais cometidas.

- Pode acontecer de uma pessoa ter mais de uma condenação em instâncias jurídicas diferentes, mas que não altera muito o número total de agentes punidos, que fica em torno de 14 mil - explica Clenio Jair Schulze, juiz auxiliar da Presidência do CNJ.

Os dados do Cadastro Nacional de Condenados por Ato de Improbidade Administrativa e por Ato que implique Inelegibilidade (CNCIAI) mostram ainda que a unidade da federação com o maior número de agentes públicos ou particulares envolvidos nos processos em tribunais estaduais é São Paulo, com 2.903 condenações, seguida do Distrito Federal com 2.515, e do Paraná, com 1.581. O Rio de Janeiro é o 14º colocado, com 170 condenados.

O cadastro é alimentado pelos próprios tribunais com informações de processos transitados em julgado (quando não cabe mais recurso) e com condenações em segunda instância por crimes contra a administração pública e outros que tornam a pessoa inelegível.

O fato de haver um número menor de condenações em estados com população maiores que outros pode significar que existe maior ou menor controle entre as instâncias jurídicas, e até mesmo falhas de juízes que deixaram de alimentar o cadastro nacional. Em Rondônia, por exemplo, o sistema tem 623 nomes, enquanto o do Rio tem 170.

Um acordo firmado na segunda quinzena de junho entre o então presidente do CNJ, Joaquim Barbosa, e representantes dos tribunais de contas dos 26 estados e do Distrito Federal vai permitir o fornecimento de informações sobre decisões de contas de exercícios ou funções públicas rejeitadas por irregularidades consideradas "insanáveis", hipóteses para tornar qualquer pessoa inelegível pelo período de oito anos. Com isso, o número de pessoas no cadastro deve crescer.

-A importância de um cadastro como esse é divulgar para a sociedade quais são as pessoas potencialmente inelegíveis, para a sociedade fazer esse controle, e também a própria Justiça Eleitoral, que pode indeferir o registro - afirma Schulze.

O Tribunal de Contas da União (TCU) enviou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma lista com 6,6 mil gestores públicos com contas reprovadas. Já o Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) repassou ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) uma listagem com os nomes de 1.051 gestores públicos que tiveram suas contas rejeitadas entre outubro de 2006 e maio deste ano. A reprovação de contas é uma das hipóteses de enquadramento na Lei da Ficha Limpa. No caso da improbidade administrativa, nem toda condenação implica em ser barrado pela norma.

O TCU, a Corregedoria Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça, a Corregedoria-Geral da Justiça Federal, o Superior Tribunal Militar e a Corregedoria da Justiça Militar da União já haviam aderido ao termo de cooperação técnica no último mês de março, para designar gestores que irão "acompanhar, gerenciar e administrar a execução do termo", enquanto as corregedorias dos tribunais deverão verificar a veracidade das informações. Os tribunais deverão atualizar os dados até o dia 10 do mês subsequente ao trânsito em julgado das condenações.

A eleição de 2012 foi a primeira em que a Lei da Ficha Limpa esteve em vigor. Dos 8.051 recursos que chegaram ao TSE relacionados aos pedidos de registros de candidaturas, 3.370 eram sobre a nova norma. O tribunal não tabelou os dados sobre o número de barrados.

- A Lei da Ficha Limpa representou uma grande mudança no cenário político eleitoral brasileiro, pois introduziu novos e rigorosos requisitos para as candidaturas. É bem mais difícil hoje do que antes se tornar um candidato. Só para se ter uma ideia, 1.200 pessoas que tentaram se candidatar nas eleições passadas foram impedidas pela Justiça Eleitoral de participar dos pleitos - conta Marlon Reis, juiz eleitoral que liderou o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) para a criação da lei.

O CNJ criou ainda uma ferramenta em que o cidadão pode colocar o nome do político e saber se ele é potencialmente um ficha-suja. A criação de banco de dados é uma medida para reduzir o tempo de checagem das informações sobre os candidatos. Quando os políticos apresentam o pedido de registro de candidatura, o Ministério Público Eleitoral (MPE) e os partidos têm apenas cinco dias para pedir a impugnação de quem vai concorrer. Um prazo considerado curto por procuradores e promotores. Como geralmente as siglas deixam o registro para a última hora - ontem foi o último dia -, o tempo exíguo dificulta o trabalho do MP.

- O Ministério Público, como os partidos, coligações e candidatos dispõem de um prazo extremamente exíguo para apresentar suas impugnações a candidaturas. Lembro que hoje temos mais de 30 partidos disputando eleições, o que torna muito elevado o número de candidatos. Dessa forma, na prática, é bastante provável que muitos fichas-sujas continuem disputando as eleições, pois não haverá tempo hábil para levantar todas as inelegibilidades - afirmou Sandra Cureau, vice-procuradora-geral eleitoral de julho de 2009 a setembro de 2013.

Além dos números, O GLOBO obteve a lista com os nomes que constam no cadastro. Na listagem do Rio, há nomes como o dos prefeitos de Petrópolis, Rubens Bomtempo (PSB), e Cabo Frio, Alair Corrêa (PP). Aparecem ainda o deputado federal Edson Ezequiel (PMDB) e o ex-prefeito de Magé Charles Cozzolino, além de Waldomiro Diniz, que já foi flagrado pedindo propina ao bicheiro Carlinhos Cachoeira. Waldomiro foi subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil e homem de confiança do então ministro José Dirceu. Foi exonerado em fevereiro de 2004, logo após ter sido acusado de ter recebido propina de bicheiros para a campanha do PT, em 2002.

Tanto Rubens Bomtempo quanto Alair Corrêa tiveram os registros de candidaturas negados pelo TRE-RJ na eleição de 2012, mas recorreram da decisão e foram liberados pelo TSE para assumirem as prefeituras. O deputado Edson Ezequiel já anunciou que não vai concorrer à reeleição este ano.

O juiz Marlon Reis ressalta que a Lei da Ficha Limpa não é a última barreira para impedir que maus políticos e agentes públicos exerçam cargos.

- Há uma forte necessidade de que o eleitor se ocupe cada vez mais do exercício do voto consciente para evitar o voto em relação aquele que conseguiu escapar da Ficha Limpa. Mesmo rigorosa, ela não tem o papel de substituir o eleitor na sua função. Há pessoas que têm práticas erradas, mas não têm condenações criminais da forma exigida pela lei - concluiu.

Começa o jogo pela chave do Planalto

- Correio Braziliense

A uma semana da final da Copa do Mundo no Maracanã, os candidatos a presidente em outubro estão autorizados, a partir de hoje, a iniciar a campanha rumo ao Planalto. Vencida a fase das convenções partidárias e do registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), está dado ao pontapé para uma corrida que promete ser a maior dos últimos tempos. E, possivelmente, a mais cara, apesar dos esforços para diminuir o valor das campanhas presidenciais.

A despeito das diferenças nos índices de intenção de voto, a disputa começa com três candidatos competitivos: Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Embora a polarização ainda tenda a fortalecer um segundo turno entre tucanos e petistas, a chamada terceira via, protagonizada pelo PSB, tem uma largada melhor do que a da ex-senadora Marina Silva em 2010, quando ainda militava no PV.

Os socialistas se apegam às pesquisas que apontam que Eduardo pode ter um índice de intenções de votos na casa dos 11%, o que, em termos de votos válidos, pode ser calculado em 13%, 14%. "Estamos iniciando uma disputa com um índice muito próximo ao de Marina há quatro anos. A diferença é que ela chegou a esse patamar na última semana de campanha", comemorou um estrategista do PSB.

À frente de Eduardo, contudo, aparecem uma candidata à reeleição — Dilma Rousseff (PT) — e um candidato do PSDB (Aécio Neves) que se dedicou a unificar o partido em torno da própria candidatura e que se considera com condições reais de devolver ao PSDB ao Palácio do Planalto 12 anos depois que Fernando Henrique Cardoso passou a faixa presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva. "Nunca o PSDB teve tantas chances de vencer a eleição como agora. Só não podemos errar no discurso", exultou um estrategista tucano.

O país que chega a essa eleição também é diferente do que existia em 2010. O crescimento da economia não é tão pujante como há quatro anos, quando o Brasil vivia a euforia de um aumento do PIB na casa dos 8%. O cenário tinha Lula saindo do governo com 80% de aprovação, e hoje a presidente Dilma tem um bom ou ótimo de 32% a 35%. "Mas é bom lembrar que cresceu 8% depois de um ano não tão bom, de recessão, que foi em 2009", ponderou o ministro da Secretaria de Relações Institucionais do governo, Ricardo Berzoini.

Com a experiência de ter presidido o PT durante o momento de crise mais aguda de sua história — o mensalão, em 2005 —, Berzoini comandava a legenda durante a reeleição de Lula em 2006. Deixou o cargo após o escândalo dos aloprados: a descoberta de um dossiê falso para tentar incriminar o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, envolvendo-o no esquema dos sanguessugas. Chamado às pressas ao ministério para apagar o incêndio com a base aliada, Berzoini prevê uma eleição acirrada. "Nunca achei que a disputa se decidiria em primeiro turno. Mas teremos o que mostrar", apostou.

A população, contudo, dá sinais de receio. Pesquisas recentes de opinião mostram um brasileiro preocupado com a volta da inflação — que beira o teto de meta — e com o fantasma do desemprego, que, pelo menos até o momento, se mantém com índices equilibrados de pleno emprego. A perspectiva de dificuldades econômicas a longo prazo também não passam desapercebidas pelos brasileiros. Especialmente os que sabem — ou ao menos intuem — a tendência é de um 2015 com o freio acionado e os cintos apertados para evitar um retrocesso.

Propostas concretas
Os candidatos também terão diante de si um eleitorado que está sedento por mudanças. O mote foi impulsionado após as manifestações que levaram milhões de brasileiros às ruas em junho e julho de 2013, cobrando melhorias em educação, saúde e transporte público, especialmente, e contra os gastos nas obras da Copa, em particular. Se é verdade que o Mundial foi — ou pelo menos está sendo — um sucesso, também é claro e cristalino que os eleitores brasileiros não aceitarão mais meias-verdades eleitorais. Eles querem, como reconhecem todas as campanhas que incorporaram a mudança em seus slogans — até mesmo a presidente Dilma, que busca a reeleição e representa um projeto que governa o país há 12 anos —, propostas concretas que tragam melhorias.

Será também, provavelmente, a eleição das redes sociais. Os comandos de campanha montaram exércitos virtuais para debater ideias, lançar acusações e rebater dados falsos. Até o momento, as baixarias têm sobrepujado as propostas de governo.

Oposição põe o pé na rua

- Correio Braziliense

No primeiro dia oficial de campanha eleitoral, os candidatos de oposição ao Palácio do Planalto — Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) — fazem campanha hoje, respectivamente, no Distrito Federal e em São Paulo. A escolha dos locais é cirúrgica. Eduardo está de olho no eleitorado que votou em Marina em 2010, dando à então candidata do PV à Presidência a vitória na capital federal em 2010. Já Aécio inicia a caminhada em São Paulo, estado que vem elegendo sucessivamente o PSDB há 20 anos, e onde os tucanos têm derrotado os petistas também nas recentes disputas presidenciais.

Eduardo Campos estará pela manhã no Sol Nascente, em Ceilândia, ao lado de Marina Silva e do candidato do PSB ao governo do Distrito Federal, senador Rodrigo Rollemberg. Há quatro anos, Marina conquistou 41,96% dos votos válidos no DF, contra 31,74% da petista Dilma Rousseff e 24,30% do tucano José Serra. Pesquisas internas feitas pelo PSB apontam que as intenções de voto em Eduardo crescem quando o eleitorado consegue associar a imagem dele à de Marina. Na convenção do PSB, os estrategistas da campanha tomaram cuidado para colocar as imagens de ambos do mesmo tamanho, passando o ar de cumplicidade e parceria.

Ontem, Eduardo Campos visitou o 17º Festival do Japão, no Centro de Exposição Imigrantes, em São Paulo. Dados de 2010 mostram que quase 700 mil japoneses moram no principal estado do país, o que representa metade dos japoneses radicados no Brasil. São Paulo representa também a maior comunidade nipônica fora do Japão. Antes, passou todo o dia em gravações para o programa do PSB, que vai ao ar apenas no fim de agosto.

Estado decisivo
Ao contrário de Brasília, onde tem candidato próprio ao governo local — além de contar com o recall de Marina —, em São Paulo a situação do PSB de Eduardo Campos é menos confortável. A legenda optou por não ter candidato próprio no estado — a Rede defendia que o postulante ao governo local fosse o deputado Walter Feldmann (PSB). Mas os socialistas paulistas defenderam a aliança histórica que mantém com o PSDB e garantiram a indicação do deputado Márcio França como vice de Geraldo Alckmin.

Hoje, é a vez de Aécio Neves visitar a exposição dos japoneses. O tucano também dá a largada em um estado que considera pacificado internamente. Tendo como vice em sua chapa o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), que recebeu mais de 11 milhões de votos em 2010, Aécio ainda costurou para que José Serra fosse escolhido como candidato ao Senado na coligação do governador Geraldo Alckmin, que tenta a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Aécio passou todo o dia de ontem reunido com seu staff de campanha, enquanto seus advogados entregavam o registro da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (Leia matéria ao lado).

Já a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, não tem compromissos no fim de semana. Ontem, ela mandou uma carta prestando solidariedade ao jogador Neymar.

Eduardo Campos testa sua popularidade em São Paulo

• Ex-governador de Pernambuco foi confundido com 'artista da TV', enquanto sua vice, Marina, era lembrada como 'candidata do PSOL'

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - Um dia antes do início oficial da campanha eleitoral, o candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, visitou o 17° Festival do Japão, na Zona Sul de São Paulo, ao lado de sua vice Marina Silva (Rede) e não foi reconhecido pela maior parte do público.

Apesar do partido de Marina ainda parecer confuso à população — “olha aquela candidata do PSOL”, diziam alguns visitantes ao avistar a vice de Campos — a popularidade da ex-senadora ainda é maior do que a do ex-governador de Pernambuco, que chegou a ser confundido com “algum artista da TV”.

Campos afirmou que vai andar por todo o Brasil e que conta, a partir de agosto, com a propaganda eleitoral na rede aberta de televisão para passar a ser mais conhecido. Na última pesquisa Datafolha, o pernambucano apareceu com 9% das intenções de voto, em terceiro lugar.

— Viemos hoje prestar nossa homenagem à colônia japonesa no Brasil (...) estaremos amanhã oficialmente começando nossa campanha, como determina a lei, numa comunidade próxima a Brasília que expressa muito bem o Brasil real, tão distante de Brasília. (...) E, a partir dali, vamos andar o Brasil, a partir do dia 19 de agosto vamos ter televisão aberta para que possamos divulgar nossas ideias, nossa aliança, nosso pensamento. E, com certeza, no dia das eleições nós teremos o conhecimento de 100% no Brasil das opções que vão ser oferecidas ao Brasil — afirmou Campos, que também estava companhado de José, seu filho de 9 anos.

O presidenciável, que declarou previsão máxima de gastos de R$ 150 milhões, afirmou que pretende gastar bem menos e que seu plano de governo deverá ser lançado até o final do mês.

— Tenho certeza de que vamos fazer a campanha mais barata. Vamos fazer uma campanha baseada nas ideias, na militância espontânea, uma campanha que tem muitos voluntários. Estamos fazendo o debate do plano de governo numa plataforma de internet com pesquisadores, cientistas, militantes dos movimentos sociais que têm contribuindo com horas e horas de trabalho voluntariamente. Quando a campanha iniciar, vamos a todos os debates, vamos estar nas ruas, vamos convocar pelas mídias sociais a sociedade indignada — disse Campos.

Mais cedo, o candidato ao governo do estado de São Paulo Paulo Skaf (PMDB) e o candidato ao Senado em sua chapa Gilberto Kassab (PSD) também passaram pelo Festival do Japão.

Campos lamenta debate político sobre acidente em BH

Valmar Hupsel Filho e Aline Bronzati - Agência Estado

O candidato do PSB à presidência da República, Eduardo Campos, considerou, neste sábado (5) "lamentável" a troca de acusações entre o governo federal e a prefeitura de Belo Horizonte, cujo prefeito Márcio Lacerda é do seu partido, em torno da responsabilidade sobre a queda do viaduto na capital mineira, que vitimou duas pessoas.

"É lamentável esse debate. Chega a ser um desrespeito às vidas que perdemos. A responsabilidade é de todas as autoridades de fazer apuração para ter a responsabilidade objetiva e do ponto de vista judicial", disse.

Acompanhado de sua candidata a vice, Marina Silva, Campos visitou neste sábado a abertura da Feira do Japão, no Centro de Exposição de Imigrantes, em São Paulo. Na véspera do dia determinado pela Justiça Eleitoral para o início da campanha eleitoral, Campos e Marina apenas circularam pelos estandes da feira, cumprimentando e tirando fotos.

No contato com os frequentadores da feira, Marina era visivelmente a mais conhecida dos dois e a mais assediada. "Com certeza, no dia da eleição, nos teremos o conhecimento de 100% do Brasil, das opções que vão ser oferecidas ao Brasil, das nossas ideias. Sobretudo, mostrando que é possível mudar o Brasil para melhor, que o Brasil tem jeito e que tem gente no Brasil tentando mostrar à sociedade que com coragem a gente faz a mudança para valer", disse.

Campos e Marina iniciarão a campanha oficial em uma comunidade próxima a Brasília. "A partir dali, vamos andar o Brasil. A partir do dia 19 de agosto vamos ter televisão aberta fazendo propaganda eleitoral para que possamos divulgar nossas ideias, pensamentos, aliança", disse.

Gastos de campanha
Das três principais candidaturas à Presidência, a aliança PSB/Rede foi a que estimou menor limite de gasto de campanha. À Justiça eleitoral, Campos estimou um teto de R$ 150 milhões, enquanto o candidato tucano Aécio Neves declarou estimativa de R$ 290 milhões e a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, fixou limite de R$ 298 milhões. "Vamos fazer uma campanha que é baseada nas ideias, uma militância espontânea, uma campanha que tem muitos voluntários. Estamos fazendo o debate do plano de governo numa plataforma na internet há cerca de seis meses com pesquisadores, cientistas, militantes do movimento social que têm contribuído voluntariamente com suas ideias", disse.

Campos afirmou ainda que pretende convocar a "sociedade indignada" pelas redes sociais "a transformar a indignação em atitude de mudança".

Senador Francisco Dornelles é o novo vice na chapa de Pezão

• Antes, o indicado era o deputado estadual Felipe Peixoto, do PDT

Juliana Castro – O Globo

RIO — No último dia para o registro dos candidatos que vão concorrer à eleição deste ano, o PMDB do Rio anunciou que o vice na chapa do governador Luiz Fernando Pezão, candidato à reeleição, será o senador Francisco Dornelles (PP) e não mais o deputado estadual Felipe Peixoto (PDT).

O governador se reuniu por volta do meio dia com o presidente do PDT, Carlos Lupi, para tentar disuadi-lo da ideia de se lançar candidato avulso ao Senado. Como Lupi não desistiu, o PDT saiu da chapa de apoio à reeleição de Pezão.

- O vice será o Dornelles. O Lupi não aceitou abrir mão da candidatura para o Senado - afirmou Pezão ao GLOBO.

Depois de se reunir com o PDT na Fundação Leonel Brizola Alberto Pasqualini, no Centro do Rio, o governador seguiu para o escritório do advogado do PMDB, Eduardo Damian, também no Centro. Ao sair do encontro ao lado do advogado, Pezão confirmou em primeira mão para o GLOBO que o PDT estava fora da chapa por conta da insistência de Lupi em ser candidato avulso ao Senado.

A atitude do presidente do PDT de se lançar na disputa pelo Senado de forma independente aconteceu depois que o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) foi confirmado na chapa majoritária de Pezão. Indignado, Lupi disse que seria candidato de forma independente, mas afirmou que o PDT continuaria integrando a coligação de apoio a Pezão. O pedetista fez uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes de tomar a iniciativa, mas ainda não obteve resposta. Lupi, no entanto, dizia que decisões anteriores do tribunal amparavam sua candidatura independente.

- Não há nenhum problema jurídico. O PDT saiu da chapa - afirmou Damian.

Nos bastidores, circulou a informação de que o PMDB temia correr um risco jurídico com a candidatura avulsa de Lupi. Haveria a interpretação de que, se Lupi saísse como candidato avulso e fosse para a TV só com o tempo do PDT, Cesar seria obrigado a seguir o mesmo caminho e ficar só com o minuto do DEM. Além disso, os suplentes teriam que ser do partido do ex-prefeito, uma vez que ele não poderia se coligar com ninguém. Isso traria impactos na aliança, já que os suplentes são de outros partidos.

- Acho que foi justificativa, que pode até ter procedência, mas o que eles queriam mesmo era um palanque exclusivo para o Aécio Neves - afirmou Lupi.

Entre os grandes partidos que integram a coligação do governador, apenas o PDT faria campanha por Dilma.

Felipe PTeixoto não disputará eleição este ano
Felipe Peixoto, que vinha acompanhando Pezão nas agendas, disse que, agora que não é mais o vice na chapa de Pezão, não vai disputar as eleições este ano:

- A minha decisão é de não ser candidato a mais nada. Chegou ao ponto que chegou e não teria sentido em voltar à candidatura de deputado federal. Eu sou o vice do coração dele (Pezão) e vou me dedicar à campanha dele.

Depois da entrada de Cesar Maia na chapa de Pezão, os pré-candidatos Anthony Garotinho (PR), Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB) ofereceram a vaga de vice ao PDT. As hipóteses, assim como a possibilidade de o PDT lançar Felipe Peixoto como candidato a governador, foram discutidas na reunião da Executiva do partido hoje. Mas, ficou decidido que o partido vai ter Lupi concorrendo ao Senado e que haverá apoio informal a Pezão. Apesar disso, os dois secretários estaduais do PDT entregaram os cargos ao governador, durante a reunião na fundação do PDT.

'Picciani quer se vingar de Dilma e Lula', diz Lupi
O presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, pressionou para que Lupi retirasse sua candidatura avulsa.

- Eu já falei para o Lupi. Não tem cabimento essa candidatura dele. O candidato da nossa chapa é o Cesar Maia. Se o Lupi não tirar a candidatura, o PDT está fora da chapa e o Felipe Peixoto não será o vice. Caso isto ocorra, o nome do (senador) Francisco Dornelles é natural para essa vaga de vice - disse Picciani ontem.

Lupi disse que Picciani busca se vingar do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff:

- Meu amigo Picciani trabalha com o ódio. Ele ficou com ódio do Lula e da Dilma porque eles apoiaram Crivella e não ele na disputa pelo Senado em 2010. Ele resolveu se vingar, abrindo palanque para Aécio. Infelizmente, ele atirou até em quem não merecia, como eu, que sou amigo dele há 30 anos.

O PMDB do Rio fez sua convenção no dia 26 de junho e, lá, Felipe Peixoto foi apresentado como vice. O grande banner atrás do palco tinha, inclusive, uma foto do pedetista junto com a do governador.

O senador Francisco Dornelles tinha aberto mão da reeleição para que a vaga ficasse com o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Depois de lançar do movimento do "Aezão", de apoio ao presidenciável tucano, Aécio Neves, e Pezão, o PMDB passou a pressionar o PSDB para que integrasse formalmente a chapa, cedendo o tempo de TV para o governador.

Os tucanos, por sua vez, não podiam aceitar porque Cesar Maia insistia em ser candidato ao governo do estado. Como o DEM é um aliado nacional, o PSDB teve que resolver o impasse. A vaga de senador na chapa foi, então, oferecida ao ex-prefeito, que desistiu da sucessão estadual. Com isso, DEM e PSDB passaram a integrar oficialmente a chapa de Pezão.

Hugo Leal desiste
Até então candidato ao Senado na chapa de Anthony Garotinho, o deputado federal Hugo Leal (PROS) desistiu da vaga e vai tentar reeleição. Leal queria ser o único candidato a senador da presidente Dilma, mas, com a entrada de Lupi, o cenário mudou.

"Esses últimos cinco dias foram os mais intensos de toda a minha vida política. Ouvi muitos apoiadores, conversei longamente com as lideranças da minha base eleitoral e com meus companheiros de partido. Fiquei muito feliz com as manifestações de apoios, que recebi pessoalmente, em ligações ou mensagens. Agradeço a todos o carinho e a confiança. Porém, uma disputa como essas não depende apenas de um desejo pessoal", afirmou Leal em nota.

O PROS indicou a deputada Liliam Sá para concorrer ao Senado no lugar de Hugo.

Dornelles substitui Peixoto como vice na chapa de Pezão no Rio

• Discordância sobre candidatura de Carlos Lupi ao Senado culminou com a saída do PDT da coligação

Idiana Tomazelli - O Estado de S. Paulo

Às vésperas do fim do prazo para que os partidos registrem as candidaturas junto aos Tribunais Eleitorais, o PMDB do Rio anunciou a substituição do vice na chapa de Luiz Fernando Pezão, que concorre ao governo do Estado. Quem irá dividir o palanque com Pezão será o senador do PP Francisco Dornelles.

Dornelles entra na chapa no lugar do deputado estadual Felipe Peixoto, do PDT. A mudança foi decidida hoje, diante da insistência do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, em lançar-se candidato de maneira avulsa ao Senado. Lupi não concordou com o lançamento do nome do ex-prefeito do Rio César Maia (DEM) para candidato a senador, após a desistência de Sérgio Cabral (PMDB). A discordância culminou hoje na saída do PDT da coligação de Pezão.

Pezão retalia candidatura de Lupi ao Senado e muda vice de sua chapa

- Folha de S. Paulo

RIO - O comitê de campanha do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), informou neste sábado (5) que o deputado Felipe Peixoto (PDT) não será mais candidato a vice-governador do Estado em sua chapa. Para o seu lugar foi escolhido o senador Francisco Dornelles (PP).

A mudança no último dia para registro dos candidatos foi uma reação à candidatura do ex-ministro Carlos Lupi (PDT) ao Senado. A coligação a favor da candidatura de Pezão já havia escolhido o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) para disputar a vaga ao Senado. Com a decisão, o PDT deixa a coligação que tinha 19 partidos em torno do nome de Pezão.

O ex-presidente Lula foi quem orientou Lupi a se candidatar para garantir mais um palanque para a presidente Dilma Rousseff no Rio, já que o partido de Maia faz oposição ao governo federal.

O presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, chegou a pressionar Lupi para que desistisse da candidatura e declarou recentemente que era uma manobra do Planalto para enfraquecer a aliança "Aezão", que pede votos para Pezão ao governo do Rio e para o senador Aécio Neves (PSDB) para a presidência.

Nos últimas solenidades no Rio –foram três na semana passada– Pezão e Dilma trocaram afagos públicos e falaram em parceria durante os anos da gestão do PT no país e do PMDB no Rio. Evitaram antecipar o clima durante a campanha.

Dilma terá espaço em quatro palanques de candidatos ao governo do Estado do Rio –o de Pezão, que mesmo com a parceria com Aécio prometeu espaço à presidente, o de Lindbergh Farias (PT) –que se ressente com o PT por não se esforçar pela sua candidatura–, do senador Marcelo Crivella (PRB) e o do deputado Anthony Garotinho (PR).

Um tucano na guerrilha

• Escolhido como vice na chapa de Aécio Neves, Aloysio Nunes lembra de sua atuação na luta armada para tentar derrubar a ditadura

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na noite de 9 de agosto de 1968, Aloysio Nunes Ferreira dividia insone uma cama de casal com outras três pessoas, num pequeno apartamento próximo à praça Roosevelt, na capital paulista. Preparava-se para o assalto que se tornou uma das mais célebres ações de guerrilha durante a ditadura no Brasil.

"Às vezes eu lembro da sensação, da incerteza", contou. "E se não der certo? E se eu for preso? E, se preso, for torturado? E se, torturado, eu falar? Sabe... Era um pavor. Muito medo. Me lembro disso, mas de ter dormido, não."

O relato --feito pelo hoje senador tucano à Folha, dias depois de ter sido escolhido candidato a vice-presidente da República na chapa de Aécio Neves (PSDB-MG)-- é sobre a noite que antecedeu o assalto ao trem pagador Santos-Jundiaí, em 10 de agosto.

Aloysio, na época com 23 anos, integrava a ALN (Ação Libertadora Nacional), organização liderada por Carlos Marighella. A função do tucano foi dirigir o veículo --um Fusca roubado-- usado na fuga dos parceiros.

Na guerrilha, Aloysio teve muitos nomes. Notabilizou-se por "Mateus", mas usou outros, como "Lucas". "Eram sempre evangelistas", lembra. Abriu exceção aos codinomes bíblicos quando escreveu para a "Voz Operária", publicação do PCB (Partido Comunista Brasileiro), e assinou "Nicanor Fagundes".

"Nicanor pela música do Chico Buarque [Onde andará Nicanor?', diz o primeiro verso da canção] e Fagundes porque daí ficava NF [iniciais de Nunes Ferreira]."

Aloysio nunca escondeu sua relação com a guerrilha. Iniciou a militância no PCB quando estudante de direito da USP. Dentro do "partidão", seguiu a ala de Marighella, que via como "herói", e partiu para a luta armada.

Ao lado de Dilma
Na disputa presidencial de 2010, foi contra a exploração eleitoral da atuação da então candidata Dilma Rousseff (PT) na organização VAR-Palmares, também de guerrilha.

"Fui mais longe do que ela. Mas isso não me impede de hoje ter uma visão absolutamente crítica, não só da tática, mas da concepção desses movimentos", avalia. "Atacávamos a ditadura por uma via que não era democrática."

No regime militar, Dilma guardou armas e dinheiro para a VAR-Palmares, mas não há registro de que participou de assaltos e ações armadas.

A revisão de Aloysio sobre sua atuação na guerrilha não é recente. Ironicamente, o próprio Marighella desencadeou esse processo ao providenciar a ida do tucano para Paris, em 1968. Com documentos falsos, embarcou com a missão de divulgar a guerrilha do Brasil na Europa.

Passou a acompanhar o Partido Comunista Francês e diz ter visto ali que a saída estava na "revolução com as massas" e não com as armas.

Na França, emplacou textos de Marighella na revista do filósofo francês Jean-Paul Sartre. "Aloysio tinha essa visão de guardar cartas do Marighella. A gente se preocupava, porque aquilo era fogo puro, dinamite [se fossem descobertas]", lembra a socióloga Ana Corbisier.

Era ela quem traduzia para o francês os textos de Marighella. Amiga de infância do senador, foi quem o abrigou no pequeno apartamento na véspera do assalto ao trem.

Hoje, os dois militam em campos opostos. Ana ficou pouco em Paris e partiu para Cuba. Tornou-se amiga do ex-ministro José Dirceu, exilado na ilha na época. Filiada ao PT, diz ter sido "uma pena" que Aloysio, de volta ao Brasil, tenha se filiado ao MDB, embrião do PMDB. Depois migrou para o PSDB.

Opção
No partido, aproximou-se daquele que viria a ser um dos amigos mais próximos, José Serra. A primeira vez que viu Serra, ele era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e fazia um discurso pela mobilização anti-golpe no Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964.

Depois, os dois se encontraram em Paris, na década de 1970, quando jantaram com um amigo em comum. Serra só lembra de Aloysio já no Brasil. "Tenho com ele grande afinidade eletiva. Quando nos conhecemos, depois do exílio, foi como se fôssemos amigos desde criancinha. Isso facilitou a aproximação política, que se desdobraria por décadas, naturalmente com flutuações", afirmou.

Em sua gestão no governo de São Paulo (2007-2010), Serra fez de Aloysio chefe da Casa Civil e o homem mais poderoso de seu círculo.

Cabia a ele negociar com prefeitos e deputados, além do acompanhar as principais metas do governo. Durante a eleição de 2010, quando Serra saiu candidato à Presidência, surgiram acusações de que um homem próximo a Aloysio, conhecido como Paulo Preto, havia desviado dinheiro da campanha.

Nada ficou comprovado. Aloysio sai em defesa do engenheiro, a quem chama pelo nome: Paulo Vieira de Souza, ex-dirigente da Dersa.

"O Paulo já era rico antes de entrar no governo e a acusação era absurda", afirma.

O cacife acumulado durante a gestão Serra e a capilaridade de seus contatos com políticos no Estado o colocaram entre os cotados para a vaga de vice na chapa de Aécio. A aproximação do mineiro, com quem Serra disputou protagonismo no PSDB por anos, levou às "flutuações" mencionadas pelo ex-governador.

"A trajetória do Aloysio foi marcada pela defesa da democracia. Como ele mesmo diz, é um jovem idealista. Não poderia estar em melhor companhia", disse Aécio.

Dilma perde 2 milhões de votos no entorno de grandes capitais

• Em quatro anos, foram nessas áreas onde a rejeição à presidente mais cresceu

Mariana Sanches e Thiago Herdy - Globo

SÃO PAULO - O novo obstáculo para a reeleição de Dilma Rousseff não mora no Leblon, nem nos Jardins. Tampouco no sertão nordestino ou no Vale do Jequitinhonha. Não atende pelo nome de elite branca, nem tem cartão Bolsa Família. Está em boa parte nas regiões metropolitanas e ficou conhecido como classe C. O mesmo estrato social que ascendeu durante os anos Lula e deu suporte à candidatura Dilma tem desembarcado do governo em quantidade suficiente para levar a disputa ao segundo turno. É o que mostra a comparação entre a rejeição de Dilma em 2010 e em 2014, medida pelo Ibope.

Depois das manifestações de junho de 2013, a rejeição a Dilma aumentou não apenas nas regiões metropolitanas, mas também nas capitais e no interior. O sucesso da Copa no Brasil e o início da campanha podem alterar esse cenário e confirmar uma tendência de aumento de Dilma apontada pelo último Datafolha. No entanto, considerado o quadro atual descrito pelo Ibope, o maior desgaste da presidente ocorreu no entorno das capitais das nove principais regiões metropolitanas.

Em 2010, 23% dos moradores dessas cidades diziam que não votariam em Dilma "de jeito nenhum". Hoje, são 38%. Considerando-se apenas os eleitores das 178 cidades metropolitanas, ela passou a ser rejeitada por pelo menos 2 milhões de pessoas. Se a eleição fosse hoje, em um universo de 13,3 milhões de votos, ela não contaria com 5 milhões. Em 2010, o índice de rejeição retirava de Dilma 3 milhões de votos.

Não se pode dizer que os eleitores dos entornos das capitais, em média, pertençam à elite. É gente que, segundo analistas do Ibope, ganha entre dois e cinco salários mínimos, em geral. Segundo a última pesquisa do instituto, 42% dos eleitores nesta faixa de renda não votam em Dilma.

A pesquisa Datafolha divulgada na última semana também registra um percentual não desprezível de 36% de eleitores que não votariam de jeito nenhum em Dilma entre os que possuem renda familiar de dois a cinco salários mínimos. No Datafolha, Dilma recuperou quatro pontos percentuais e lidera a pesquisa com 38% das intenções de voto.

Os números das regiões metropolitanas e da classe C confirmam a preocupação de um dos principais ministros de Dilma, Gilberto Carvalho, o primeiro a admitir que as vaias a ela no Itaquerão não eram só expressão da insatisfação da "elite branca", como disse Lula no calor da repercussão dos xingamentos. Em entrevista à "Folha de S. Paulo", Carvalho se disse preocupado com "garçom falando que o PT é o mais corrupto" e "meninos no metrô puxando o coro do mesmo palavrão usado no estádio".

O ambulante Aílton Santos, de 47 anos, diz que não engrossaria o coro. Mas não está satisfeito com o governo Dilma, em quem votou.
- Não é que a situação esteja ruim, mas não melhorou conforme eu esperava.

Depois de comprar a prestações fogão e TV plana, ele esperava abrir sua loja e dispensar a barraquinha de óculos em Osasco, na Grande São Paulo. Votou com entusiasmo em Lula, em 2006 e em Dilma, em 2010. - Achava que o meu sonho fosse se realizar no governo dela. Mas continuo aqui. Enquanto o governo gastou com Copa, minha mulher teve que ser operada em outra cidade, porque aqui falta médico.

População que ascendeu nos anos Llula quer mais melhorias
A elevação do custo de vida e do nível de exigência da classe C depois da ascensão social dos anos Lula são explicações para o aumento da rejeição de Dilma no entorno das capitais, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO.

— Parte das classes populares da região metropolitana percebeu uma desaceleração da melhora na vida, um aumento no endividamento, no poder de compra da renda. E a expectativa desse grupo era de continuar ascendendo — afirma o cientista político Fernando Abrúcio, da FGV.

— O raciocínio é simples. Se você achava que ia ter uma Ferrari, mas no fim te sobra um carro 1.0, você fica descontente. Quanto mais você tem, mais você quer — acredita.

Nos últimos anos a auxiliar de limpeza Josinete Cassimiro, de 46 anos, comprou home theater, máquina de lavar e tanquinho graças ao acesso ao crédito que conseguiu na gestão Lula. Mas ela diz que “o salário não aumentou tanto quanto as despesas”.

— Esses governos ajudaram muito o pessoal do interior. Mas agora a Dilma precisava olhar mais para o pessoal das cidades — diz Josinete, que se ressente de não ter sido capaz de pagar faculdade de Administração para a filha de 18 anos. A adolescente teve que abandonar o curso e trabalhar para ajudar no sustento da casa. Josinete afirma que não votará mais em Dilma.

O fenômeno confirma um antigo temor que circulava entre os dirigentes do PT. Não é surpresa para eles que os eleitores da classe C, que carregaram Lula e Dilma rampa do Planalto acima, não tenham engrossado a fileira de militantes do partido e não tenham sentimento de fidelidade em relação à legenda.

— Até porque a condição de escolaridade e de renda dessas pessoas melhorou, elas foram ficando mais críticas e mais exigentes do que estavam em 2006 — afirma Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência.

Para Cavallari e Abrúcio, embora seja um dado fundamental para os rumos da eleição, a rejeição da presidente ainda pode mudar. O primeiro mês de propaganda eleitoral no rádio e na televisão deverá indicar a capacidade do governo de reverter esses números. A diminuição depende, sobretudo, do que a candidatura Dilma poderá oferecer de melhorias no bem-estar para essa nova classe média.

— Para este eleitor, não importa se o governo até garantiu o emprego, mas ele não tem dinheiro para pagar a TV a cabo. Repetir conquistas que já foram obtidas não fará com que ele vote pelo governo — diz Abrúcio.

Oposição se apega a acordos nos Estados contra ampla vantagem de Dilma na TV

• Campanha oficial tem início hoje com Aécio e Campos tentando explorar insatisfação de legendas da base do governo como forma de compensar palanque eletrônico reduzido

Débora Bergamasco, Fábio Brandt - O Estado de S. Paulo

A campanha eleitoral começa oficialmente hoje com os principais candidatos à Presidência da República apostando em armas distintas para chegar à vitória. Apesar das ameaças de dissidências, a presidente Dilma Rousseff fechou com as cúpulas dos partidos da base e terá o maior tempo de TV na propaganda eleitoral. Já Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) apostaram nas dissidências locais para compensar o palanque eletrônico reduzido. A dupla conseguiu mais de dez apoios em Estados que, na teoria, deveriam estar com Dilma.

A presidente da República reuniu em sua coligação nove partidos, incluindo o PT e alguns dos que mais dispõem de tempo de propaganda, como PMDB e PSD. Terá, assim, cerca de 11 dos 25 minutos de cada bloco de propaganda a partir de meados de agosto. Aécio terá cerca de 4 minutos e Campos, aproximadamente 2 minutos.

A batalha pelos partidos teve uma dissidência governista de última hora. A presidente foi surpreendida pela debandada do PTB para a campanha de Aécio.

O tucano ainda tentou atrair PR e PSD, mas o Planalto agiu para evitar mais defecções.

Se Dilma foi bem-sucedida na soma do tempo de TV, em contrapartida terá de conviver com dissidências locais, em Estados importantes como Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul, entre outros. "Vamos ter um verdadeiro exército de dezenas de milhares de candidatos (regionais) acreditando na minha candidatura e pedindo voto para mim. Isso as pesquisas ainda não estão detectando, mas isso vai compensar. Muitos desses partidos que estão com a presidente na aliança nacional, cedendo o tempo de TV para o PT, estarão em suas cidades e Estados pedindo voto para mim", afirma Aécio, apesar de especialistas em marketing eleitoral considerarem a estratégia limitada.

Os tucanos esperam que as dissidências e a força do partido no Sudeste - em especial em São Paulo e em Minas Gerais - possam garantir sua ida ao 2.º turno. A partir dali, o tempo de TV é dividido igualitariamente entre os candidatos.

Terceira via. Com menor tempo de TV entre os principais candidatos, Campos também tenta se apoiar nos acordos locais fechados nos Estados, apesar da resistência de sua candidata a vice, Marina Silva. O discurso da "nova política" não resistiu à debandada de parceiros interessados em viabilizar suas próprias candidaturas locais, e o PSB acabou coligado em dois dos três maiores colégios eleitorais do País justamente com PSDB (em São Paulo) e PT (no Rio), protagonistas da polarização nacional vivida desde 1994.

Desde a redemocratização, são recorrentes as dissidências nos Estados em relação à orientação das cúpulas partidárias. Neste ano, porém, os próprios políticos trataram de dar a pecha de "bacanal eleitoral" à predominância de alianças de ocasião.

Dependência. Vice-líder do governo no Senado, Jorge Viana (PT-AC) explica a tática petista de privilegiar o palanque eletrônico em detrimento dos acordos regionais. "Em uma eleição majoritária, os que estão embaixo (candidatos regionais) é que dependem dos que estão em cima (nacionais). Não o contrário."

O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), minimiza as dissidências locais e aposta que a campanha não só vai fazer a presidente recuperar índices de popularidade como os próprios aliados rebelados.

"A reconquista de espaço político de Dilma fragiliza os dissidentes e pode causar, no decorrer da campanha, uma reaproximação", disse o senador. Para Costa, o início da propaganda eleitoral, em 19 de agosto, fará Dilma "deslanchar".

Em comparação com 2010, agora o PT ampliou o número de candidatos próprios nos Estados - e isso explica muito do descontentamento nos partidos aliados. Há quatro anos, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisava de palanques regionais fortes para apresentar Dilma, então novata nas urnas, e fez com que o PT abrisse mão de nomes próprios quando aliados como o PMDB tinham concorrentes mais bem colocados. Por isso, petistas disputaram o governo em apenas 10 das 27 unidades federativas do País. Agora, o partido terá 16 nomes nas eleições estaduais.

Divisão. O maior apetite do PT nos Estados ampliou o cardápio de acordos locais para Aécio e Campos. O PMDB do vice-presidente Michel Temer é o partido com maior número de candidatos a governador que não darão palanque à petista ou pelo menos vão dividi-lo com oposicionistas.

Eunício Oliveira, no Ceará, e Paulo Hartung, no Espírito Santo, estão coligados com o PSDB de Aécio - será a pedido do tucano que o ex-senador cearense Tasso Jereissati voltará a disputar o cargo.

Outros dois peemedebistas - o gaúcho José Ivo Sartori e Nelson Trad Filho, de Mato Grosso do Sul - estão com Campos. O governador do Piauí, José Filho, dará palanque aos dois oposicionistas.

Outro partido cujos candidatos locais darão espaço para Aécio e Campos é o PP. No Rio Grande do Sul, Ana Amélia vai apoiar o tucano. Em Alagoas, Benedito de Lira está fechado com o candidato do PSB.

Até o PC do B, tradicional aliado do PT, dividirá seu principal palanque estadual. No Maranhão, o ex-presidente da Embratur Flávio Dino chegou a aparecer em foto com Aécio e tem apoio de Campos. Ele diz que Dilma também é bem-vinda.

Aécio Neves, 54 anos - Chegou a vez na fila


  • Dos conselhos sobre 'mais cabelos brancos e uma primeira-dama para assentar' à incorporação do discurso que assume as políticas de Fernando Henrique


  • Foi Fernando Henrique quem sugeriu que Aécio recrutasse um exército para a missão de conquistar o intransponível interior paulista.


Pedro Venceslau, Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

Poucos dias depois do 2.º turno das eleições municipais de 2012, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou o senador Aécio Neves para uma conversa reservada em seu apartamento em Higienópolis, bairro nobre na capital paulista.

Ainda abatido pela derrota do ex-governador José Serra na disputa com Fernando Haddad (PT) pela Prefeitura, ele avaliava, como boa parte do partido, que a candidatura presidencial tucana de 2014 tinha de ser colocada na rua imediatamente. FHC defendia a tese de que os tucanos não podiam abrir brechas para uma disputa interna fratricida como a que ocorrera em 2009, quando Serra e Aécio travaram uma guerra fria que atrasou as articulações com outras legendas, a formação de palanques e a captação de recursos.

Naquela altura, Aécio já estava se movimentando intensamente pelo País e era apontado pelas bancadas do PSDB no Congresso como um candidato natural, mas ainda não contava com a bênção do poderoso braço paulista do PSDB. Os paulistas, que prevaleceram na escolha de todos os candidatos presidenciais tucanos desde 1989, questionavam se o mineiro estaria disposto a encarnar o figurino de opositor frontal ao PT, postura que Aécio evitava adotar quando governava Minas Gerais.

Questionava-se também se o senador mineiro iria calibrar sua "paixão pela vida" para se dedicar ao projeto de ser presidente do Brasil. Mesmo no posto de governador de Minas, Aécio era sempre visto nos fins de semana em festas no Rio, onde tem casa e mora sua filha, Gabriela. Divorciado havia 16 anos, costumava desfilar com namoradas-celebridade, como atrizes e modelos. A dúvida dos tucanos era se Aécio seria capaz de abdicar da vida festiva e incorporar o papel de "homem sério de família".

Aceita. Credita-se ao publicitário Nizan Guanaes a frase proferida anos atrás de que, para ser presidente, Aécio precisaria de "mais cabelos brancos e uma primeira-dama para assentar". Em abril do ano passado, durante conversa com o Estado, Aécio foi indagado se pretendia se casar antes das eleições. Ele riu e negou, explicando que nunca precisou posar ao lado de uma esposa para ser eleito duas vezes governador nem para conquistar uma cadeira no Senado. Seis meses depois e após cinco anos de namoro, o mineiro casou-se com a modelo gaúcha Letícia Weber, em cerimônia discreta no seu apartamento na zona sul da capital fluminense. No início de junho nasceram os filhos gêmeos do casal.

"Aécio, é sua vez. Mas existe a dúvida no partido se você estará disposto a se adaptar e se doar por completo para ser o nosso candidato. E essa incerteza não pode existir", ponderou o ex-presidente na conversa em São Paulo, há quase dois anos. O pré-candidato respondeu que sim e afirmou que faria de tudo para dirimir as dúvidas sobre seu empenho na missão. "Então se prepare, porque você será o nosso candidato e eu estarei com você", disse o ex-presidente.

Alguns dias depois, FHC convocou outra reunião em seu apartamento. Dessa vez, foram convidados também o então presidente do partido, Sérgio Guerra - que morreu em março deste ano -, o ex-governador cearense Tasso Jereissati e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que era apontado então como o único potencial nome com poder de fogo para lutar pela vaga presidencial.

"Geraldo, você quer ser o candidato a presidente? Porque se você me disser que quer, eu abandono agora as minhas pretensões e apoio o seu nome", afirmou o mineiro, que já sabia qual seria a resposta. O governador disse que tentaria a reeleição ao governo de São Paulo.

Uma terceira reunião no mesmo local, essa apenas com a presença de Guerra, FHC e Aécio, definiu que o mineiro assumiria a presidência nacional do partido para ter mobilidade e poder fogo na construção dos palanques estaduais.

Foram esses três encontros que selaram a candidatura tucana. Apesar de ser apontado como um nome natural depois de ser eleito senador e fazer seu sucessor em Minas, Aécio costumava dizer aos aliados que não pretendia repetir a desgastante e fracassada disputa que havia travado com Serra em 2009.

Na época, quando exercia seu segundo mandato de governador, o mineiro procurou rivalizar internamente com Serra, adotou o discurso em defesa das prévias no partido e conseguiu dividir espaço com o paulista no noticiário, embora este contasse com apoio majoritário na legenda. Levou a disputa no PSDB até onde deu, mas alcançou seu principal objetivo: passou a ser visto como o próximo da fila. Mas aprendeu que, sem o apoio dos paulistas, jamais seria candidato à Presidência.

Em 2010, Aécio se lançou ao Senado. Eleito, demorou mais de um ano para protagonizar sua primeira ofensiva contra a presidente Dilma Rousseff na tribuna da Casa. Mas já em abril de 2012 mirou seus ataques na capacidade de gestão da petista, criticando o baixo crescimento da economia e o aparelhamento da máquina pública.

Assume. Com a bênção de FHC, Alckmin e Sérgio Guerra, Aécio passou então a formatar a nova direção executiva do PSDB, que seria eleita em maio de 2013. O primeiro a ser procurado foi Serra, seu antigo desafeto. As rusgas entre eles precedem a disputa interna de 2009. Serristas contam que o ex-governador paulista acusa Aécio de ter abandonado as candidaturas dele ao Palácio do Planalto em 2002 e 2010. E pior: de ter ajudado informalmente os petistas nas duas ocasiões.

Em um jantar em São Paulo, Aécio perguntou a Serra, segundo aliados do ex-governador paulista, quem seriam seus indicados para a executiva e se ele tinha interesse em assumir a presidência do Instituto Teotônio Vilela, entidade ligada ao partido. Ouviu que o cargo não interessava, mas recebeu duas "sugestões" de nomes: o ex-governador Alberto Goldman e o deputado Antonio Carlos Mendes Thame, seus aliados históricos. A dupla foi acolhida na direção do partido e Aécio aclamado presidente da legenda sem nenhuma resistência.

Cativa. Depois de assumir o comando partidário, o senador se empenhou em cativar a ala "serrista" do PSDB. Até uma reforma foi feita na sede nacional do PSDB para abrigar a nova direção - Mendes Thame ganhou uma sala para despachar. Daquele momento em diante, Aécio passou a dedicar boa parte de sua agenda à montagem de uma estrutura em São Paulo independente do governador Alckmin, que nunca manifestou a menor empolgação com a candidatura presidencial do correligionário.

Aliados de Alckmin ouvidos pelo Estado classificam a relação dele com Aécio como cordial, porém absolutamente fria. A ala "alckmista" do PSDB reclama que o senador abandonou a candidatura presidencial do atual governador em 2006 e, pior, incentivou o movimento que ficou conhecido como "Lulécio" (o voto casado em Luiz Inácio Lula da Silva para presidente e em Aécio para governador).

"Ele (Aécio) se aproximou da base do partido em São Paulo, mapeou as lideranças do interior e criou uma grande rede de aliados no Estado", reconhece Felipe Sigollo, membro da executiva do PSDB paulista e alckmista de primeira hora. "Com habilidade, ele conquistou as principais lideranças do interior do Estado", completa.

Foi Fernando Henrique quem sugeriu que Aécio recrutasse um exército para a missão de conquistar o intransponível interior paulista. 

O escolhido para arregimentar a tropa foi João Cury. Com 40 anos, o jovem prefeito de Botucatu é também presidente do secretariado de prefeitos do interior do PSDB paulista. Numa manhã de maio de 2013, ele foi surpreendido com um convite de Aécio para um almoço no tradicional Ici Bistrô, em Higienópolis. Ao chegar ao local, encontrou um terceiro convidado à mesa: o ex-presidente FHC. "Aécio queria conhecer o partido e a organicidade do PSDB no interior. Mostrei a um mapa com uma mancha onde estavam as 180 prefeituras tucanas. Traçamos então um roteiro de 16 viagens", conta Cury.

O périplo começou em agosto de 2013, com uma visita a Barretos. O senador foi recebido com fogos, carregado por militantes e discursou para correligionários depois de posar para fotos montado em um cavalo. Esse foi o início oficial da pré-campanha. Em outra frente, Aécio dedicou-se a conquistar o apoio dos tucanos em todos os Estados, "step by step (passo a passo)", como explicou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). "O Aécio já havia percorrido o Brasil para apoiar a candidatura de prefeitos do PSDB. O cara nunca esquece um apoio desses, quando está na 'baixa'. Em toda viagem, ele se coloca à disposição do líder local. Chega e pergunta: 'O que você quer que eu faça?' Sai colecionando apoiadores, é óbvio."

O senador José Agripino, presidente do DEM e coordenador político da campanha de Aécio, conta que nenhum outro presidenciável tucano atuou tão intensamente no varejo político. "Ao longo de mais de um ano, o Aécio se aproximou das lideranças e facções de todos os Estados. Aliança é algo que se matura antes. Serra não teve a mesma oportunidade porque não era presidente do partido", diz.

Inicia. Aécio começa hoje a campanha depois de ter conseguido, na avaliação de seu entorno, alcançar as metas traçadas na da pré-campanha. Inicia no patamar dos 20% das intenções de voto e com viés de alta. Gerou, portanto, expectativa de poder. Politicamente, fincou o pé em São Paulo e engajou os 27 diretórios no seu projeto. Além disso, atraiu para seu palanque parte considerável do PMDB, além de caciques regionais do PP, PSD e até mesmo do PC do B (no Maranhão). Por outro lado, não conseguiu converter esse poder de fogo em tempo de TV. O senador terá menos da metade do tempo de Dilma: 4min33s, contra 11min21s da presidente. Mesmo cercado de aliados paulistas - seu vice será o senador Aloysio Nunes Ferreira - e nordestinos, caberá a um mineiro, o marqueteiro Paulo Vasconcellos, responsável por todas as campanhas de Aécio até hoje, comandar no território do palanque eletrônico a batalha mais importante dos próximos três meses.

Eduardo Campos, 48 anos - Quero ser grande

• Como o antigo aliado do governo ignorou uma sutil sugestão para ser vice de Dilma e costurou uma candidatura com o difícil discurso da 'nova política'

João Domingos, Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

Numa dessas coincidências que mudam o curso da história, quem deu o empurrão que faltava para Eduardo Campos decidir lançar a sua candidatura à Presidência da República foi Dilma Rousseff. Em janeiro de 2013, o então governador de Pernambuco pelo PSB foi chamado pela presidente para uma conversa na Base Naval de Aratu, em Salvador, onde ela passava férias. No bate-papo, o aliado ouviu da petista: "Quero mais quatro anos de mandato para concluir o trabalho que Lula iniciou". Em seguida, sugeriu, sutilmente, que ele poderia ser vice na chapa reeleitoral do ano seguinte.

Campos nada disse, mas a sinalização de que Dilma estava disposta a abrir mão de Michel Temer e do PMDB para entregar a vaga de número 2 da República ao PSB ficou em sua cabeça. Aquela havia sido uma longa tarde. A presidente falou muito de amenidades e pouco de política. Depois de a conversa rumar para a beleza do artesanato pernambucano, Campos começou a ficar impaciente e resolveu perguntar se ela realmente pretendia disputar a reeleição. Foi ali que Dilma fez a sugestão.

"Eu lá sou homem de ser vice? Sou um fura-gol", disse a amigos e parentes depois de deixar a Bahia. Diferentemente da maioria dos brasileiros, que quando se refere à palavra gol estão falando de futebol, a frase de Campos fazia menção ao handebol, esporte do qual foi atacante - ele chegou a disputar o campeonato brasileiro pelo time juvenil de Pernambuco. Quem o conheceu jogando a modalidade diz que Campos foi, de fato, um fura-gol.

Ele agregava ao significado da expressão conquistas recentes: em 2010, foi reeleito governador no 1.º turno, com 82,8% dos votos. Dois anos depois, o PSB se consagrava como a legenda que mais crescera nas eleições municipais.

Carregava também na lembrança uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem sempre foi muito próximo: "O senhor será candidato?", perguntou Campos a Lula ainda em 2012. "Não", respondeu o ex-presidente da República. "Então eu sou." O petista pediu que ele aguardasse até 2018. Poderia ser o candidato de uma ampla frente de esquerda. Como faz costumeiramente, Campos não deu uma resposta a Lula.

Outra frase - essa dita pelo secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira - também não saía de sua cabeça:
"O PT tem a estrutura dos velhos partidos comunistas. Não quer aliança, quer adesão".

Depois do encontro na Bahia, Campos confidenciou a poucas pessoas a conversa que teve com Dilma. Nada falou sobre a possibilidade de se candidatar à Presidência, por mais que já houvesse, intimamente, tomado a decisão de concorrer. Siqueira conta que tentou arrancar alguma posição do então governador, sem sucesso.

Embora não se pareça fisicamente com Miguel Arraes, Campos herdou do avô - além do gosto pela política - a mania de não responder quando algo não lhe agrada. "Arraes rosnava alguma coisa quando não queria responder. O Eduardo olha para a gente e não rosna nada. Fica calado. Não dá para saber o que ele pensa", diz Siqueira.

O avô. Preso após o golpe militar de 1964 quando era governador de Pernambuco, Arraes exilou-se na Argélia depois de passar mais de um ano na cadeia. Chegou ao país africano em 14 de junho de 1965. Campos nasceria dois meses depois e só conheceria Arraes aos nove anos, quando os pais o levaram para visitar o avô no exílio.

Arraes teve dez filhos. Afirmava que tinha pedido a Deus para que nenhum deles optasse pela carreira política. Mesmo assim, chamou Campos para ser seu secretário quando ele mal tinha chegado à maioridade. E viu nascer no neto a vocação política.

O ar desconfiado também é uma característica que Campos puxou do avô. Se por um lado ele não conseguia esquecer da insinuação-convite de Dilma para ser candidato a vice, por outro sucessivos fatos políticos aumentavam a sua desconfiança e tornavam o rompimento com o PT cada vez mais iminente.

Primeiro, o então governador de Pernambuco começou a se incomodar com o fato de Dilma dar mais prioridade aos pleitos dos irmãos Cid e Ciro Gomes do que aos dele, que era presidente nacional do PSB. Depois, acompanhou de perto a movimentação do PT para tentar cooptar a ala do partido ligada a ele. Viu ali a intenção de enfraquecê-lo politicamente.

Fidelidade. Aliado da sigla desde a primeira candidatura de Lula, em 1989 - a exceção foi 2002, quando o PSB lançou Anthony Garotinho a presidente -, o pernambucano passou a ser visto pelos petistas como uma ameaça ao projeto de poder do partido. Nos primeiros meses do ano passado, Dilma o chamou várias vezes ao Palácio do Planalto para saber quais seriam os seus planos para 2014. Campos sempre desconversava. A única promessa que a presidente conseguiu arrancar dele foi a de que o PSB seria fiel ao governo em 2013. Nem isso aconteceu.

À medida que o tempo passou, Campos foi aumentando o tom das críticas ao governo. Escolheu como foco a política econômica adotada pelo governo Dilma. Incomodada com aliado nada fiel, a presidente cogitou expulsar o PSB da Esplanada. Foi então que a sigla decidiu se antecipar e entregar os dois ministérios e os demais cargos que o partido ocupava no governo. Era setembro de 2013 e Campos dava o primeiro passo concreto rumo a sua candidatura.

Ao mesmo tempo, ele passou a fazer intervenções em alguns diretórios locais para afastar dirigentes que eram claramente favoráveis a Dilma ou ao PT e, assim, garantir um PSB fiel em importantes Estados, como no Rio e em Minas. Isolados na defesa pelo apoio à presidente, os irmãos Gomes decidiram trocar o partido pelo PROS.

Sem volta. Poucas semanas depois de o PSB ter deixado a base aliada, Campos daria o passo definitivo rumo à corrida presidencial. No início de outubro de 2013, a Justiça Eleitoral rejeitou o registro à Rede Sustentabilidade, partido que a ex-ministra Marina Silva tentava criar para participar das eleições deste ano. Um dia depois, Marina ligou para o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e pediu para ele contactar Campos. Ela tinha um recado: queria se filiar ao PSB e apoiar a candidatura dele à Presidência. "O governador não acreditou. Perguntou se eu tinha bebido", conta Rollemberg.

Um desconfiado Campos desembarcou em Brasília no mesmo dia para uma conversa com Marina. Ele parecia não acreditar na proposta da ex-colega de Esplanada, com quem teve duros embates durante os primeiros anos do governo Lula quando ele estava à frente do Ministério da Ciência e Tecnologia e ela ocupava o cargo de ministra do Meio Ambiente.

A aliança entre os dois foi selada com festa em Brasília no dia 5 de outubro e recebida com surpresa no meio político. Lula classificou a união de dois de seus ex-ministros como um "soco no fígado". A aliados próximos, disse que a reviravolta no quadro eleitoral havia transformado Campos em um candidato com real potencial na disputa ao Palácio do Planalto. Até então, o ex-presidente alimentava a esperança de conseguir fazer o antigo aliado voltar atrás e apoiar a reeleição de Dilma.

Nove meses depois da união, a dupla começa hoje a campanha presidencial sem uma real dimensão de como essa jornada irá terminar. A sonhada transferência de votos de Marina, que nas eleições de 2010 obteve mais de 19 milhões deles, não aconteceu no ritmo esperado e as pesquisas têm apontado Campos em terceiro lugar, patinando na casa dos 10%, atrás de Dilma e do tucano Aécio Neves.

Apesar de repetirem que a candidatura de Campos só irá deslanchar depois de meados de agosto, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, dirigentes do PSB admitem que o período da pré-campanha foi mais difícil do que o esperado. Além de contar com uma estrutura menor do que os dois principais adversários, Campos teve de administrar as querelas com o grupo de Marina, principalmente em relação à montagem dos palanques estaduais.

Defensora da chamada "nova política", a ex-ministra afastou possíveis aliados com suas exigências e censurou publicamente decisões de diretórios estaduais do PSB, como o de São Paulo, que optou por apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB), e o do Rio, que fez uma aliança com o PT do senador Lindbergh Farias.

'Raposas'. Influenciado por Marina, Campos começou a criticar a distribuição de cargos em troca de apoio e repetiu inúmeras vezes que, se eleito, governaria sem as "velhas raposas" da política. Não foi exatamente esse modelo que adotou quando foi governador de Pernambuco. Em quase oito anos à frente do Palácio do Campo das Princesas, procurou acomodar na administração pública cada um dos mais de 15 partidos que fizeram parte da sua base aliada.

Ao deixar o governo do Estado no início de abril para disputar a Presidência, fez da cerimônia de transferência de cargo para o sucessor João Lyra (PSB) um grande comício e dividiu o palanque com autênticos representantes da política tradicional, como o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) e o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE).

Diante dessas contradições, o desafio da dupla agora será o de levar ao eleitor a mensagem de que eles são, de fato, os candidatos da renovação política e que representam a mudança. Em contraposição à rivalidade histórica entre PT e PSDB, irão apostar no discurso de que são a única alternativa capaz de unir o País e fazê-lo avançar.

Para tentar garantir o seu nome no 2.º turno, Campos parou de criticar apenas a gestão da presidente Dilma Rousseff e voltou sua carga também contra o tucano Aécio Neves, de quem tinha se aproximado num primeiro momento da pré-campanha e selado um pacto de não agressão. Pelos anos de amizade, o único que foi poupado até agora foi Lula. Até agora.

Merval Pereira: Gastança eleitoral

- O Globo

A divulgação do montante que os candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais estimam gastar traz de volta a discussão do financiamento das campanhas eleitorais, que começaram oficialmente. Aumentando a sensação desagradável, os gastos somam-se à verdadeira balburdia das siglas partidárias, a revelar que já não existem mais partidos nem programas a serem seguidos, mas apenas interesses de grupos ou individuais que transformaram as eleições em disputas mais econômicas do que programáticas.

São gastos estratosféricos, que na corrida presidencial tiveram um aumento de nada menos do que 50% em relação à campanha anterior, quatro anos atrás. Os 11 candidatos estimam gastos com a campanha eleitoral de cerca de R$ 1 bilhão. Só no Rio, a previsão de gastos com a campanha para governador é o triplo de 2010, podendo consumir R$ 180 milhões, e o mesmo deve acontecer nos demais estados da Federação.

Esta deve ser a última campanha eleitoral nos termos previstos na legislação atual para o financiamento eleitoral, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) já tem maioria para aprovar a proibição de financiamento por empresas privadas, o que deve levar o próximo Congresso a aprovar uma nova lei.

O Supremo tende a proibir qualquer decisão que importe em quebra da isonomia entre os concorrentes, e também em relação aos direitos dos cidadãos. O ministro Luiz Fux, relator da ação de inconstitucionalidade que está em julgamento, também declarou inconstitucionais os trechos da lei que limitam as doações em 10% do rendimento bruto de pessoas físicas e que permitem que os candidatos usem recursos próprios.

A ênfase no financiamento por meio de pessoas físicas, se prevalecer na legislação que o próximo Congresso aprovará, terá de ser acompanhada da permissão de contribuições pela internet para as campanhas eleitorais, coisa que ainda não existe, por incrível que pareça. E de um barateamento da campanha, com limitações ou a adoção do sistema distrital.

Já é histórico o exemplo dos eleitores americanos. Milhões de pessoas físicas fizeram doações pela internet para a campanha do candidato democrata Barack Obama em 2008; desses, cerca de 30% contribuíram com pequenas quantias de até US$ 20.

O financiamento público de campanha, que é o objetivo do PT, mas tem a objeção da maioria dos partidos por só se adequar ao sistema de lista fechada, já existe no Brasil, embora pouca gente se aperceba disso. 

Alguns números sobre o financiamento público que já existe: em 2012, os gastos eleitorais apurados pelo TSE ultrapassaram R$ 3,5 bilhões. Somente o horário eleitoral gratuito custou R$ 606 milhões aos contribuintes brasileiros.

Segundo o site Contas Abertas, já citado na coluna anteriormente, nos últimos 10 anos o Estado desembolsou mais de R$ 4 bilhões em compensações pelo uso do horário eleitoral.

Já o fundo partidário distribuiu aos partidos com representação no Congresso cerca de R$ 286 milhões. Estudos indicam que os gastos das campanhas eleitorais saíram de cerca de R$ 800 milhões em 2002 para quase R$ 5 bilhões em 2012, e pelo visto caminham para bater recorde este ano.

O problema é que os setores que concentram as doações são exatamente aqueles que precisam manter estreitas relações com o poder público, como as empreiteiras. Pesquisa realizada pelo Kellogg Institute for International Studies demonstra que as empresas doadoras em campanhas eleitorais recebem, nos 33 primeiros meses após a eleição, o equivalente a 850% do valor doado em contratos com o poder público.

Especialistas também compararam as doações a um sistema de crédito para as empresas, que vão buscar a compensação mais tarde nos cofres públicos. Lucieni Pereira, auditora do TCU e presidente da Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de Contas do Brasil (ANTC) chamou a atenção para o que ocorre com a concessão de benefícios fiscais para atração de empresas, que seriam ao mesmo tempo, segundo especialistas denunciaram na audiência pública sobre o assunto no STF, mecanismo para atrair doações de campanha para os candidatos a governos estaduais.

O financiamento das campanhas eleitorais, como se vê, é um ponto fundamental de uma necessária reforma político-eleitoral, que será um dos temas principais do Congresso a ser eleito este ano pelas regras atuais.

Dora Kramer: Doação compulsória

• Uso indevido da máquina leva contribuinte a pagar por propaganda eleitoral

- O Estado de S. Paulo

Com o fim do prazo legal para que governantes aproveitem os últimos momentos para posar ao lado de suas benfeitorias, na semana passada o País assistiu a um festival de inaugurações, lançamentos de pedras (nem sempre) fundamentais e solenidades do gênero patrocinadas por candidatos à reeleição.

Ou melhor, sob o patrocínio compulsório do público pagante de impostos, uma vez que esses "eventos" governamentais são feitos na medida exata da necessidade do horário eleitoral de cada um deles. Fazem parte da chamada produção de conteúdo dos programas que irão ao ar a partir de agosto.

Produção esta a ser paga pelos partidos com o dinheiro de doações de empresas, de pessoas físicas, do fundo partidário e da maneira como as agremiações acharem melhor, mas é responsabilidade delas.

O horário dito gratuito, como se sabe, já é devidamente financiado pelo público mediante a renúncia fiscal a que têm direito as empresas de comunicação pela cessão do espaço.

Ocorre que, se parte do conteúdo é decorrente de atos de governo custeados pela máquina pública, os programas dos candidatos à reeleição também acabam sendo em parte pagos pelo contribuinte. Isso sem que ele seja informado nem que perceba sua condição de doador compulsório.

Tal deformação do conceito de igualdade de condições entre os candidatos a uma eleição, o abuso de poder e o uso indevido dos instrumentos de Estado ficaram muito nítidos na maratona de inaugurações da semana passada.

O mutirão da semana passada incluiu governadores, com destaque para Geraldo Alckmin, de São Paulo, que inaugurou obra incompleta do Rodoanel, e Luiz Fernando Pezão, do Rio, cuja agenda incluiu a entrega de um hospital com apenas 20% da capacidade de funcionamento.

Nenhum deles, contudo, superou em mobilização de recursos e esmero de espetáculo a presidente Dilma Rousseff. Ela teve uma semana intensa no quesito benfeitorias de última hora, mas o clímax deu-se na quinta-feira.

Uma superprodução sob a batuta do marqueteiro João Santana, com o anúncio da entrega de 5.460 unidades do programa Minha Casa Minha Vida e a promessa de contratação de outras 2,75 milhões até o final deste ano para serem construídas a partir do início de 2015.

Promessa esta vã, a julgar pelo que apurou o jornal O Globo junto ao Ministério das Cidades. Não há previsão para publicação da portaria para o detalhamento do programa para que as construtoras possam comprar terrenos, desenvolver e aprovar projetos. Segundo representantes do setor da construção civil, um projeto leva no mínimo seis meses para ficar pronto, o que já torna inviável o prazo dado por Dilma.

Alheia a esses detalhes da realidade, na quinta-feira, de Brasília, a presidente comandava no papel de âncora a entrega de casas em 11 cidades de sete Estados e mais o Distrito Federal, onde estavam dez ministros estrategicamente colocados em bases eleitorais de seus respectivos interesses.

O anúncio poderia ter sido feito no Palácio do Planalto. Não teria sido necessário que a Caixa Econômica Federal gastasse R$ 1 milhão com a montagem de palanques em 11 cidades, nem que a Empresa Brasil de Comunicação gastasse outro R$ 1 milhão com a transmissão da teleconferência.

Essa exorbitância em período tão especial autoriza a suposição de que por trás dele exista o propósito do uso e abuso de prerrogativas governamentais para outros fins. A menos que João Santana pretenda desperdiçar as imagens, o megaespetáculo não foi produzido só para gerar manchete do dia seguinte, o que teria um efeito passageiro.

O aproveitamento do material no programa da candidata à reeleição atende ao objetivo de exaltar os feitos do governo.

O PT estima seus gastos com a campanha eleitoral em até R$ 290 milhões. Falta computar os recursos públicos com os quais o partido poderá contar, e já está contando, por meio de expedientes como esse.

Renato Andrade: Diagnóstico errado

- Folha de S. Paulo

Ninguém no Palácio do Planalto ou na equipe de campanha da presidente Dilma Rousseff está disposto a assumir publicamente que a situação da economia brasileira está em franca deterioração.

Nos bastidores, porém, alguns assessores presidenciais reconhecem, há tempos, que a situação preocupa.

Um olhada rápida em números divulgados nas últimas semanas ajuda a entender um pouco o quadro.

A produção da indústria acumula três meses de queda seguida e o emprego começa a perder fôlego. Tivemos o pior maio dos últimos 22 anos.

A parada das fábricas reflete diretamente no ritmo de crescimento de toda a economia, que se arrasta.

Especialistas estimam que, na melhor das hipóteses, o país crescerá neste ano pouco mais de 1%.

E se a economia não cresce, o volume de dinheiro que entra nos cofres públicos diminui. A arrecadação federal de impostos caiu em maio --o primeiro tombo do ano.

Como o governo não consegue --ou não está disposto-- a reduzir seus gastos, o resultado final é desastroso para as contas públicas.

Nos primeiros cinco meses deste ano, o governo federal, os Estados e os municípios conseguiram economizar pouco mais de R$ 30 bilhões para reduzir a dívida pública.
O compromisso do ano é salvar R$ 99 bilhões. Difícil imaginar que a meta será alcançada sem os truques aplicados nos dois últimos anos.

Há tempos, empresários, economistas e especialistas reclamam da falta de rumo da política econômica.

A equipe do ministro Guido Mantega, entretanto, insiste que não há nada de errado com o caminho escolhido. Seguindo a cartilha em uso, tudo será resolvido no futuro.

Recomendo aos que pensam a economia dentro do governo a leitura da entrevista que o ministro Gilberto Carvalho deu a esta Folha.

Sem um bom diagnóstico da situação, não há como receitar um bom remédio para resolver os problemas.