quinta-feira, 19 de junho de 2014

Opinião do dia: Eduardo Campos

Só lamento que essas coisas tão óbvias, como a questão do (aumento) da mistura do álcool no combustível (gasolina) só sejam feitas agora, a quatro meses da eleição.

Eduardo Campos, em entrevista no programa”A Tarde É Sua” na Rede TV, 18 de junho de 2014.

Popularidade de Dilma cai de 36% para 31%, diz pesquisa Ibope/CNI

• Intenções de voto: Dilma tem 39%, Aécio 21% e Eduardo Campos 10%

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - A pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quinta-feira mostra que a popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff caiu de 36% em março para 31% em junho (aqueles que consideram o governo ótimo ou bom). A confiança na presidente Dilma também foi reduzida de 48% para 41%. Dilma vem tendo quedas substanciais em sua aprovação. No levantamento de novembro de 2013, a petista tinha uma avaliação positiva do seu governo de 43%. Essa foi a segunda queda desde julho, quando das pesquisas refletiram os movimentos de rua.

O levantamento mostra ainda uma piora em todos os setores de avaliação do governo da presidente Dilma. Aumentou de 27% para 33% o percentual daqueles que consideram o governo ruim ou péssimo.

Na pergunta sobre a maneira de governar da presidente, 44% aprovam sua forma de administrar e 50% desaprovam. Na pesquisa de março, 51% aprovavam, o que significa uma queda de sete pontos percentuais.

Da mesma forma, a confiança na pessoa da presidente Dilma caiu de 48% em março para 41%. Já 52% responderam que não confiam em Dilma, sendo que em março esse percentual era de 47% .

Na avaliação do governo em nove áreas específicas, o percentual de desaprovação é maior do que o percentual de aprovação em todos os setores. Na área de Educação, 67% desaprovam as políticas do setor e 30% aprovam, além de 4% que não quiseram ou não souberam responder.

Na área da Saúde, 78% desaprovam as medidas e apenas 19% aprovam, com 3% de entrevistas que não responderam ou não quiseram responder. A segurança pública tem desaprovação de 75% e aprovação de 21%. A política de combate à fome é criticada por 53% e apoiada por 41%. A política de combate ao desemprego tem 57% de desaprovação e 37% de aprovação.

Com a alta da inflação, a política econômica do governo neste setor tem desaprovação de 71% e aprovação de apenas 21%, além de 7% que não quiseram ou não souberam responder. No caso da taxa de juros, as medidas têm desaprovação de 70% e aprovação de 21%.

Na comparação do governo Dilma com o governo Lula, a maioria dos entrevistas consideram o governo do antecessor melhor. Para 45%, o governo de Dilma é pior do que de Lula; 44% acham que são iguais e apenas 9% consideram a administração de Dilma melhor. Mas, segundo o Ibope, os percentuais se mantêm estáveis, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.

A pesquisa CNI/Ibope mostra que a presidente Dilma Riusseff tem o maior índice de rejeição, com 43% afirmando que não votariam na petista "de jeito nenhum". O candidato do PSDB, Aécio Neves, tem 32% de rejeição. Já o candidato do PSB, Eduardo Campos, fica com 33% de rejeição.

Eleições: Dilma lidera com 39%
A pesquisa Ibope/CNI também mostra a presidente Dilma Rousseff com 39% das intenções de voto para as eleições de outubro, na escolha estimulada. Segundo o levantamento, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, aparece com 21 % e o candidato do PSB, Eduardo Campos, com 10%. Neste cenário, o Ibope mostrou ao entrevistado um cenário com 11 candidatos.

O candidato Pastor Everaldo (PSC) fica com 3%, e os demais candidatos "nanicos" ficaram com 6%. Além disso, 13% votariam branco ou nulo e outros 8% não responderam ou não souberam responder à pesquisa.

Na simulação de segundo turno, Dilma aparece com 43% e Aécio Neves, com 30%. Além disso, 19% votariam em branco e outros 8% não souberam responder. Já no cenário contra Eduardo Campos, a presidente fica com 43% e o candidato do PSB, com 27%; além de 21% de votos brancos e 9% de pessoas que não responderam ao questionamento.

Na pesquisa espontânea, Dilma fica com 25%; Aécio com 11% e Eduardo Campos, com 4%. E o ex-presidente Lula ainda aparece com 3% dos votos.

A pesquisa foi realizada entre 13 e 15 deste junho, com 2.002 pessoas, em 142 municípios. E depois do episódio das vaias à presidente Dilma na abertura da Copa do Mundo, no dia 12, durante jogo entre Brasil e Croácia, em São Paulo. O levantamento foi registrada na Justiça Eleitoral com o Protocolo BR-00171/2014.

Essa é a primeira pesquisa encomendada pela CNI que inclui a questão eleitoral. No levantamento de 27 de março, a Confederação apenas divulgou pesquisa sobre a avaliação do governo Dilma.

Mas, em levantamento realizado pelo Ibope/Globo, em 22 de maio, Dilma aparecia com 40% das intenções de voto; Aécio com 20%; Eduardo Campos com 11%.

Xingamento a Dilma não partiu só da elite, diz ministro

• Gilberto Carvalho contraria PT e afirma que discurso de que o governo é corrupto ‘pegou’

• Com blogueiros, ministro contraria Lula e diz que visão de governo que não combate a corrupção chegou às classes mais baixas

Contrariando o discurso do PT e do Planalto, o ministro Gilberto Carvalho disse a blogueiros pró-governo que os xingamentos contra a presidente Dilma, no jogo de abertura da Copa, não partiram apenas ‘da elite branca’: “Tinha muito moleque no metrô (a caminho do Itaquerão) gritando palavrão que nada tinha a ver com elite branca”. Para o ministro, a avaliação de que o governo é corrupto “pegou”.

Maria Lima – O Globo

Não tinha só elite branca

BRASÍLIA - Com o Congresso Nacional e a imprensa na mira, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, passou duas horas nesta quarta-feira articulando com blogueiros, ativistas e jornalistas pró-governo estratégias para enfrentar nas redes sociais, instâncias governamentais e nas ruas a guerra pela aprovação do polêmico decreto da presidente Dilma Rousseff que cria conselhos de participação popular na formulação de políticas públicas. Durante a reunião, realizada no Palácio do Planalto e transmitida pela internet, houve muita cobrança para que o governo leve a frente projetos de regulação de mídia e redistribuição de verba publicitária, além de críticas aos partidos da base por não apoiar o decreto.

Nos discursos em que pediu apoio dos blogueiros e ativistas, Gilberto alertou que o governo enfrenta uma correlação de forças cada dia mais complicada e essa será a eleição mais dura para o PT. Ele admitiu que o governo não travou como devia o debate para responder a “pancadaria” da mídia, que segundo ele, resultaram nos ataques a Dilma no estádio do Itaquerão. Contrariando Lula, Carvalho disse que não tinha só “elite branca” entre os que xingaram a presidente . Ele reconheceu que as denúncias feitas pela imprensa sobre aparelhamento do governo e de não enfrentamento da corrupção, tiveram impacto não só na elite, mas também nas classes mais baixas.

- Não fizemos o debate na mídia para valer. Passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária deu resultado. Essa pancadaria diária é o que resultou no palavrão para a presidente Dilma lá no Itaquerão. E me permitam pessoal! Lá no Itaquerão não tinha só elite branca lá não! Eu fui para o jogo, não no estádio, fiquei ali pertinho numa escola, para acompanhar os movimentos. Eu fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô não! Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca - contou Carvalho, completando:

- A coisa desceu! Tá? Isso foi gotejando, água mole em pedra dura, esse cacete diário de que não enfrentamos a corrupção, que aparelhamos o estado, que nós somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou! Na classe média, na elite da classe média e vai gotejando, vai descendo! Porque não demos combate, não conseguimos fazer o contraponto. Essa eleição agora vai ser a mais difícil de todas.

Na avaliação feita ao final do debate, Gilberto Carvalho alertou que os aliados não estão sabendo travar o debate nas redes sociais.

- Estamos no limiar de um novo tempo. Há uma mudança brutal nas formas de organização nas redes. Nós, sinceramente, não estamos preparados, ainda estamos tentando entender - disse.

Mas o tom do ministro Gilberto Carvalho, longe de parecer um recuo, era de partir para cima para aprovar de qualquer jeito o decreto dos conselhos populares. Disse que há uma onda propalada inicialmente pelos meios de comunicação para, nitidamente, travar uma guerra ideológica contra qualquer tentativa de democratização e uma enorme pressão sobre o Congresso Nacional. E citou os projetos de decreto legislativo apresentados pelo DEM, PPS e PSDB para anular o decreto de Dilma, que conta com o apoio do principal aliado do governo, o PMDB.

- A gente foi surpreendido e ficamos um pouco assustados com essa reação que não esperávamos, mas hoje avaliamos que esse é um bom combate, um debate que nos interessa. Nossa atitude agora não é de nos insurgir contra o Congresso, rivalizar com o Congresso, mas de propor ao Congresso transformar esse limão numa limonada, abrir um debate público sobre a participação popular no país. O decreto não tem que ser revogado, mas podemos pensar em um projeto de lei que avance nas questões, na linha de novas linguagens, que respondam ao que as ruas demandaram e continuam demandando discursou Carvalho.

Em sua fala Gilberto Carvalho disse que a reação ao decreto evidenciou que há na sociedade uma mudança importante: surgiu uma posição de direita militante que não tinha antes. E seguindo o padrão dos discursos do ex-presidente Lula, atribuiu aos meios de comunicação uma influência sobre a criação desse movimento.

- Há uma vigilância permanente por um conservadorismo muito marcado, que tem vindo muito acompanhado de um certo ódio e adjetivação absurda da esquerda, muito presente e que se expressa de uma forma muito forte, por razões óbvias, nos meios de comunicação. Isso nãos nos surpreende, pelo contrário, nos estimula a provocar esse debate. O que está em jogo é o debate pela hegemonia política nesse país que vai muito além do significado desse decreto. O decreto vale hoje mais pelo que significa, do que pelo que diz o seu texto. Temos de comprar essa briga! - conclamou Gilberto.

E todos prometeram se alinhar na “trincheira” para disputar com os opositores ao decreto. Começou com Marcelo Branco, ativista do Software Livre e responsável pelas redes sociais na primeira campanha da presidente Dilma, que prometeu estar junto na briga.

- Fiquei estarrecido! Com tudo que aconteceu nesse país, como ainda pode ter forças contra a participação popular nas decisões do governo? - protestou Marcelo Branco

Representando a Revista Forum, o jornalista Renato Rovai acusou a mídia tradicional de organizar setores da política contra os avanços propostos. E criticou o governo por não usar a TV Brasil, emissora pública, para defender a proposta dos conselhos.

- Eu sei que o senhor não é o dono da TV Brasil, mas a TV Brasil não entra em nada! É preciso que o governo assuma seus riscos para animar os que estão assumindo riscos do lado de cá - cobrou Rovai.

O ativista Pablo Capilé, do coletivo Fora do Eixo, avaliou que num momento em que Cuba e o bolivarianismo estão no centro da disputa ideológica, era mesmo muito fácil que a discussão do decreto de Dilma se transformasse numa ferramenta nas mãos da oposição. Disse que o governo Dilma falhou ao deixar que a grande imprensa fizesse a disputa como queria, e que falta um sistema público de comunicação para “empatar” e revidar as “porradas” da “mídia hegemônica”.

Capilé disse ainda que Lula voltou a carga para aprovar a regulamentação da mídia, mas o governo não enfrentou esse debate e a mídia independente não tem financiamento nem uma política pública de comunicação para disputar com a grande mídia.

- Dos 413 deputados, 400 são de direita. Dos 83 senadores, 60 são de direita. Dos 27 governadores, 22 são de direita. O poder é de direita, como se governa desse jeito? Como estabelecer um equilíbrio para dar uma guinada para a esquerda? - discursou Capilé, dizendo ser fundamental a aprovação de um marco civil da organização social.

Xingamentos contra Dilma não partiram apenas da ‘elite branca’, afirma ministro

• Titular da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho diz que animosidade com presidente se espalha pelas classes sociais porque o PT é alvo de ‘pancadaria diária’; segundo ele, governo não conseguiu fazer contraponto de comunicação

Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Principal interlocutor do Palácio do Planalto com movimentos sociais, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou nesta quarta-feira, 18, que os xingamentos à presidente Dilma Rousseff na Arena Corinthians durante a abertura da Copa do Mundo, na quinta-feira passada, não vieram apenas “da elite branca”.

“Essa pancadaria diária é o que resulta no palavrão para Dilma no Itaquerão. No Itaquerão não tinha só elite branca, não. Fui (ao estádio) e voltei de metrô, não tinha só elite, não, tinha muito moleque gritando palavrão no metrô”, afirmou Carvalho, que participou ontem de duas mesas de debate com blogueiros, ativistas e lideranças de movimentos juvenis no Palácio do Planalto para discutir o polêmico decreto sobre os conselhos de participação popular. As discussões não foram abertas à imprensa, mas transmitidas pela internet.

“Essa coisa desceu, (essa coisa) de que nós somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou, na classe média, na elite, e vai descendo (a outras classes sociais), porque não conseguimos fazer contraponto. Esta eleição agora vai ser a mais difícil de todas, porque enfrenta o resultado desse longo processo”, disse.

Após os xingamentos dirigidos à Dilma no estádio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a atribuir as ofensas à “elite” do País. Chegou a reciclar seu slogan eleitoral da campanha vitoriosa de 2002: substituiu “a esperança vai vencer o medo” por “a esperança vai vencer o ódio”. A própria presidente sugeriu ser vítima de ataques de quem “não suporta” ver “mulheres, negros, jovens e crianças” passando a ter “direitos antes negados”.

Bastidores. Dentro do Palácio do Planalto, vaias eram consideradas certas - tanto que Dilma evitou discursar -, mas a agressividade verbal de parte da torcida surpreendeu. Mesmo assim, assessores acreditam que Dilma conseguiu reverter a situação, ao ser vitimizada pelas ofensas e, assim, fortalecer-se perante a opinião pública.

Enquanto aliados de Dilma apostam na vitimização, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, vem dizendo que não vai cair na “armadilha da luta de classes”.

O tucano afirmou inicialmente que o País tinha “uma presidente sitiada”. Depois afirmou, ainda se referindo aos xingamentos do estádio, que ela colhia o que tinha plantado. Declaração semelhante foi dada pelo candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos. Aécio, porém, recuou nas críticas e passou a dizer que não se pode ultrapassar limites da ofensa pessoal.

O PSDB, presidido por ele, rebateu em nota as declarações de Lula segundo as quais as elites têm ódio do PT. Acusou o partido do governo de disseminar o ódio.

Nesta quarta, Campos comentou as acusações entre petistas e tucanos. Disse que pretende ficar de fora desse debate do ódio. Assim, o candidato do PSB espera obter algum dividendo eleitoral. “Todas as vezes que o Brasil avançou, foi por que o povo se uniu”, disse.

Decreto. Na discussão com movimentos sociais, Carvalho reconheceu que foi surpreendido pela reação contrária ao decreto de consulta popular assinado pela presidente Dilma Rousseff, mas ressaltou que o governo está disposto a insistir no debate e descarta a possibilidade de voltar atrás.

“Tratávamos desse decreto como simplesmente ‘arrumação da casa’, simplesmente um texto para dar organicidade àquilo que na prática já existe”, afirmou Carvalho, ao defender o decreto, acusado de “autoritário” e “bolivariano” pela oposição. O decreto de Dilma pretende “fortalecer e articular” mecanismos de “atuação conjunta” entre a administração pública federal e a sociedade civil, definindo diretrizes gerais de atuação. O texto orienta todos os órgãos federais a adotar consultas populares, como conselhos e audiências públicas.

Reunião de Lula com petistas cria mal-estar

Andréia Sadi, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A ausência do assessor mais próximo da presidente Dilma Rousseff numa reunião dos coordenadores da sua campanha à reeleição, em São Paulo, gerou mal-estar no Palácio do Planalto, criando ruído entre aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora.

Ex-chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo não participou de um encontro de Lula com coordenadores da campanha petista há cerca de dez dias, realizado logo após reunião do Instituto Lula em cerca de 30 pessoas discutiram a conjuntura econômica.

Lula aproveitou a presença dos coordenadores da campanha de Dilma para tratar de assuntos da eleição presidencial em seguida.

A ausência de Giles Azevedo, fiel escudeiro da presidente que deixou o governo em abril para participar do comando da campanha, não agradou à presidente Dilma, informada do encontro depois que ele foi realizado.

Participaram da reunião com Lula o presidente do PT, Rui Falcão, o tesoureiro da campanha, Edinho Silva, o ex-ministro Franklin Martins e o marqueteiro João Santana.

Interlocutores de Dilma acham que Lula isolou Azevedo para discutir à vontade mudanças que julga necessárias na campanha. Nas palavras de um auxiliar da presidente, Azevedo representa "os olhos e ouvidos de Dilma" no comando da campanha.

Petistas ligados a Lula confirmaram o mal-estar, mas buscaram contemporizar argumentando que a reunião não estava agendada oficialmente. Lula teria apenas aproveitado presença dos peetistas para "pacificar" divergências que os separam.

O ex-ministro Franklin Martins, escalado para cuidar da comunicação da campanha na internet e mais alinhado a Lula, quer que Dilma assuma a linha de frente do embate político com seus adversários na disputa eleitoral. O marqueteiro João Santana discorda da tática.

Há também diferenças sobre a melhor maneira de formatar a mensagem da presidente. "O desafio é: como vamos mostrar uma Dilma diferente, que continuará mudando, sem se distanciar do Lula?", afirmou um coordenador da campanha, que pediu para não ser identificado.

Para os lulistas, a notícia da ausência de Azevedo no encontro foi transmitida de forma distorcida à presidente, levando-a a crer que o objetivo do encontro era fazer uma avaliação crítica do seu comportamento no governo.

Embora neguem publicamente a existência de qualquer divergência entre eles, a relação de Dilma com o PT não é das melhores, e ela tem sido alvo frequente de críticas de Lula nos bastidores.

Lula, que afastou em maio a possibilidade de se candidatar à Presidência agora no lugar de Dilma, tem defendido mudanças na economia em conversas com empresários e até mesmo em público.

Num seminário recente, ele cobrou do secretário do Tesouro, Arno Augustin, medidas para aumentar a oferta de crédito. As críticas causaram estranheza, porque Augustin não é responsável pela liberação de crédito, e Lula disse depois que tinha apenas feito uma brincadeira com ele.

Mas seu discurso foi interpretado no governo como um recado dirigido à presidente.

Procurado, o Instituto Lula informou que o encontro realizado em São Paulo não era uma reunião da coordenação de campanha de Dilma, tanto que entre os participantes estava o ex-ministro Walfrido Mares Guia, que não participa da campanha.

Em Recife, Aécio diz que cortará metade dos ministérios se eleito

• Candidato do PSDB evitou fazer críticas ao adversário Eduardo Campos (PSB)

Letícia Lins – O Globo

RECIFE — Em sua primeira visita a Pernambuco como candidato oficial do PSDB à sucessão presidencial, o senador Aécio Neves prometeu reduzir pela metade o número de ministérios no primeiro dia de sua gestão, caso vença as eleições, e criar uma secretaria extraordinária para simplificação do sistema tributário. Em entrevista de quase uma hora no programa Supermanhã, na Rádio Jornal do Commercio, ele evitou criticar Eduardo Campos (PSB), ex-governador do estado.

— No dia seguinte (da posse como presidente), o Brasil terá metade dos atuais ministérios. E terá criado uma única secretaria extraordinária para simplificação do sistema tributário. Vamos iniciar um processo para que em poucos meses possamos simplificar o mais complexo e emaranhado sistema tributário do planeta. Hoje as empresas, no seu conjunto, gastam mais R$ 40 bilhões anualmente só para pagar impostos.

Aécio prometeu ainda propor uma reforma política logo no início do governo, com a mudança para um mandato único e de cinco anos para Presidência. Ele disse ainda que vai estabelecer parcerias com o empresariado em todos os setores da economia – inclusive da segurança, como a construção e manutenção de presídios –, assim como “acabar com o cemitério de obras públicas” do país. O tucano disse ta,né, que dará atenção especial para o Nordeste, região de maior popularidade do seu adversário na sucessão presidencial, Eduardo Campos.

— Vamos apresentar, nos primeiros dias, um conjunto de propostas para reforma política. Logo no início, porque esse é o momento em que o governante tem o seu capital político intacto, tem credibilidade, apoio da sociedade brasileira para tomar as medidas necessárias. Vamos construir um novo modelo de gestão no país. Vamos focar a questão tributária no primeiro instante e a reforma política.

Aécio prometeu ainda cumprir o acordo do PSDB de apoiar o candidato do PSB à sucessão estadual em Pernambuco, e lembrou que, ao assumir o governo de Pernambuco, Campos se inspirou em muitos dos modelos adotados em Minas Gerais, durante suas duas gestões.

Para Aécio, há três pontos principais da reforma política, que são necessários para resgatar a capacidade de negociação no Congresso Nacional.

- Hoje são 22 partidos. As negociações não são nem mais partidárias, mas individuais com grupos de poder, que representam interesses específicos. Aí a coisa não funciona. O governo tem maioria paquidérmica, com 80 % do congresso, mas não se vota nada absolutamente relevante. Defendo redesenho da cláusula de desempenho, para que partidos para terem acesso a fundo partidário e tempo de TV tenham que ter correspondência na sociedade, com patamar mínimo de votos em nove estados, para ter caráter nacional. Se estabelecêssemos 2,5 % dos votos, já cairíamos para sete ou oito partidos. Precisamos construir novo modelo de gestão, mas vamos focar no primeiro instante na questão tributária e política.

Durante a entrevista, ele disse que se entende muito bem com o ex-governador Eduardo Campos, e que os dois têm como convergência principal o desejo de encerrar o ciclo de governo do PT.

Senador critica aparelhamento de estatais
Em Recife, Aécio se reuniu por meia hora no Palácio do Campo das Princesas com o governador João Lyra Neto (PSB). Após o encontro, o senador subiu o tom e acusou o PT de fazer governo de “compadrios políticos" e de aparelhar as empresas públicas de "forma criminosa". Ele classificou ainda a gestão petista de “alinhamento ideológico arcaico e atrasado”. Para o tucano, esse alinhamento é que levou o Brasil ao pior crescimento da região.

- Nada mais atrasado do que a forma de governar, de se apropriar do estado brasileiro, como se fosse seu patrimônio. Nós temos uma visão mais generosa de país. A eficiência do governo é premissa para você atender a todos os brasileiros. Não há nada mais rerverso do que a tentativa do PT de dividir o Brasil entre nós e eles. O nós são aqueles que bajulam o governo, que têm cargos públicos do governo, que dizem amém a todas as vontades da Presidência da República. Os eles são os que criticam o governo, que apontam descalabros, atos de corrupção, incapacidade geracional. O PSDB quer fazer governo para todos os brasileiros.

Ninguém tem lugar garantido no segundo turno, diz Aécio

• Dentro da sua estratégia de cativar o eleitorado nordestino, Aécio reiterou que não somente vai manter, mas aperfeiçoar programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida

Agência Estado

O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, disse nesta quarta-feira (18), em entrevista a Geraldo Freire, na rádio Jornal, no Recife, que "ninguém tem lugar garantido neste segundo turno".

"A eleição será decidida pela população brasileira", afirmou, ao se mostrar confiante quanto ao apoio do presidenciável do PSB, Eduardo Campos, na hipótese de vir a disputar o segundo turno com a presidente Dilma. "A partir do momento em que ele (Eduardo) vem para o campo oposicionista e passa a ter discurso de contestação ao que aí está, acredito que o eleitorado que votar nele é oposicionista, não é eleitor que vá votar no governo". Sem querer criar atrito, destacou que o socialista terá "votação muito expressiva e é candidato forte para estar no segundo turno". Neste caso, observou que também seria "natural" que o seu eleitorado optasse por Eduardo.

Dentro da sua estratégia de cativar o eleitorado nordestino - onde o PT é predominante -, Aécio reiterou que não somente vai manter, mas aperfeiçoar programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Destacou que, como governador de Minas Gerais, gastou três vezes mais per capita no nordeste mineiro, região com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. Entre suas propostas para o Nordeste brasileiro, disse que irá propor um projeto de irrigação para o semiárido. "O PT não fez um hectare novo de irrigação no semiárido", criticou. "Hoje a expectativa de vida para quem vive no semiárido é de 58 anos; na área irrigada ultrapassa 70 anos".

Em meio a ataques ao desempenho do PT no governo federal, o tucano também reafirmou seu plano de dar um choque de gestão na administração pública federal. "A corrupção, a ineficiência, a incapacidade de concluir obras vai acabar". Aécio cumpre extensa agenda em Pernambuco, onde recebe título de cidadão recifense e participa de ato político do PSDB no município metropolitano de Jaboatão dos Guararapes, governado pelo tucano Elias Gomes.

No Recife, Aécio anuncia o projeto Novo Nordeste

- Agência Estado

RECIFE (PE) – O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, recebe título de cidadão recifense, nesta quarta-feira (18/06), no Recife (PE), onde cumpre agenda durante o dia. À noite, Aécio Neves participa de encontro com lideranças em Jaboatão dos Guararapes. Ao chegar no Recife nesta quarta-feira, Aécio concedeu entrevista coletiva. O tucano avisou que o PSDB prepara o projeto Novo Nordeste que se destina ao desenvolvimento da região. “Será um choque de infraestrutura na região, um conjunto intercalado de ações, principalmente de infraestrutura, mas também de enorme impacto social”, diz ele.

Sobre a viagem a Pernambuco.
Alguém que tenha a responsabilidade de disputar a Presidência da República tem que ter uma palavra muito clara para o Nordeste, e em especial para Pernambuco. Esta é a primeira viagem que eu faço como candidato oficializado pelo meu partido. E Pernambuco, por toda sua relevância, pelo seu papel histórico no desenvolvimento do país, e hoje tem um papel extremamente relevante no desenvolvimento também do país, mas em especial do Nordeste, merece um capítulo especial nas nossas discussões.

Venho aqui reencontrar os nossos companheiros. Essa, certamente, é apenas uma de muitas visitas que farei ao estado na construção de um projeto de Brasil, um projeto que seja generoso e inclusivo. Nós, mineiros, temos uma noção clara de que você apenas diminui as diferenças entre regiões e entre pessoas tratando de forma diferente aqueles que são diferentes.

Quando concluí meu governo em Minas, depois de oito anos de mandato, havíamos investido três vezes mais per capita nas regiões de menor IDH em relação às regiões mais pobres do estado. Digo isso não apenas em relação a Pernambuco, mas é preciso que apresentemos uma proposta muito clara que está sendo elaborada para o Nordeste brasileiro.

Quero anunciar inclusive de antemão que pretendo estar aqui novamente em Pernambuco e em alguns outros estados do Nordeste ao longo do mês de julho, e no final do mês de julho vamos apresentar ao Brasil um projeto que será chamado de “O Novo Nordeste”, que passa por um choque de infraestrutura na região, um conjunto intercalado de ações, principalmente de infraestrutura, mas também de enorme impacto social.

Fizemos em Minas um programa que chamamos de “Travessia”, aquele que buscava em um só momento compatibilizar e coordenar um conjunto de ações com o objetivo de ampliação e de melhoria do IDH. E com metas. Com metas que, ao longo do tempo, não vou aqui entrar em detalhes porque eu pretendo anunciar isso no momento certo, mas vamos estabelecer no tempo um prazo para que os indicadores de desenvolvimento humano dessa região, do conjunto da região Nordeste brasileira, possam se equiparar ao de outras regiões mais ricas do país.

Sobre reintegração de posse promovida pela Polícia Militar ontem (17/06) no Recife.
Acompanhei pela imprensa, mas, obviamente, não cabe a mim entrar em detalhes e nem julgar a ação da PM. Vou fazer uma visita protocolar ao governador como faço em vários estados em que visito. Essa é uma questão que, obviamente, com entendimento, com conversas e com diálogo será resolvido pelas autoridades locais.

Aécio é recebido pelo governador de Pernambuco

- Agência Estado

RECIFE (PE) – O presidente nacional e candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves, começou nesta quarta-feira (18), por Recife, sua primeira viagem ao Nordeste após a oficialização de sua candidatura, realizada no último sábado (14). Segundo ele, é “natural” iniciar a série de visitas por Pernambuco e anunciou que há um projeto do PSDB denominado Novo Nordeste.

“É natural que eu comece essa caminhada por Pernambuco, em razão da importância desse estado, e para dizer que nós apresentaremos ao longo dessa campanha um projeto extremamente bem elaborado de investimentos em infraestrutura e obviamente também de ações sociais em toda a região Nordeste”, afirmou Aécio em entrevista à imprensa após reunião com o governador de Pernambuco, João Lyra Neto, no Palácio do Campo das Princesas.

A visita ao governador de Pernambuco, que é do PSB, mesmo partido do ex-governador Eduardo Campos, teve o objetivo de estreitar laços em favor da região Nordeste e do Brasil. Para o candidato do PSDB, adversários no campo político devem manter o diálogo respeitoso, sempre com foco no interesse da sociedade.

Encontro
“Não perderei a capacidade de interlocução. Não apenas com aqueles que estão no meu campo político, mas com outras lideranças, como o governador João Lyra, que têm as preocupações que eu tenho em relação ao Brasil. Portanto, fiquei muito feliz de poder estar aqui com ele trazendo o meu abraço. Vamos respeitar a sua posição e vamos deixar que os brasileiros definam de que forma estaremos juntos”, reiterou Aécio.

O tucano também destacou que mantém uma relação familiar com o governador pernambucano. “Eu tenho uma relação pessoal com o governador João Lyra que extrapola as nossas figuras. Uma relação familiar. Fernando Lyra, seu irmão, foi um dos grandes amigos do meu avô Tancredo, um dos grandes construtores de sua candidatura, e um amigo pessoal que eu tive durante toda a sua vida”, ressaltou Aécio.

Ainda nesta quarta-feira, o candidato do PSDB à Presidência da República será homenageado na Câmara de Vereadores com o título de Cidadão Recifense. Logo depois, Aécio Neves se reúne com lideranças regionais em Jaboatão dos Guararapes.

Rádio Jornal
O encontro com o governador foi o segundo compromisso de Aécio no Recife. A agenda começou com uma entrevista ao vivo na Rádio Jornal, a primeira dele como candidato a presidente. Durante quase uma hora, Aécio falou sobre a omissão do governo federal na segurança pública, criticou a presidente Dilma por atrasos em obras como a transposição do Rio São Francisco e se comprometeu a manter e aprimorar o programa Bolsa Família.

O tucano também anunciou que apresentará, no fim de julho, um programa, chamado de Novo Nordeste, para incentivar o desenvolvimento local, destravar a infraestrutura da região e aprimorar os avanços sociais conquistados na última década.

Após a entrevista, Aécio usou o exemplo de seu governo em Minas Gerais para explicar como pretende trabalhar para reduzir as diferenças sociais. O estado, lembrou o candidato do PSDB, tem uma região com IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – parecido com o do Nordeste, e lá houve avanços graças ao planejamento na aplicação dos recursos públicos.

“Nós vamos reintroduzir o planejamento na gestão pública brasileira. E o foco do nosso governo, não tenham dúvidas, e a cada dia vocês perceberão isso, será o Nordeste. Como fiz em Minas Gerais – que, para muito orgulho nosso, tem um Nordeste em seu território. Eu gastei três vezes mais per capita no Nordeste mineiro do que nas regiões mais ricas do estado. E pretendo fazer isso também, se vencer as eleições para presidente da República”, afirmou Aécio Neves.

Campos ouve críticas do PSB por poupar Lula e agradar Marina

• Dirigentes do partido expõem queixas, mas pré-candidato afirma que não pretende mudar estratégia de campanha

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A decisão do pré-candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, de preservar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das críticas ao governo do PT e as concessões à pré-candidata a vice em sua chapa, Marina Silva, levaram dirigentes da legenda nos Estados a pedir mudanças nos rumos da campanha.

Reunidos na casa onde Campos está vivendo em São Paulo, no dia 10, integrantes do partido atribuíram a performance do pré-candidato abaixo do esperado nas pesquisas de intenção de voto a esses dois fatores. Um dirigente do PSB disse a Campos que não dá para separar Lula da presidente Dilma Rousseff. Outro afirmou, na mesma reunião, que Marina e a Rede Sustentabilidade - grupo político da ex-ministra incorporado ao PSB - têm feito exigências demais. Isso estaria, na visão dos críticos, mais atrapalhando que ajudando Campos, à medida que as posições de Marina afastariam potenciais aliados.

O pré-candidato ouviu os dirigentes do PSB e disse não concordar com essas opiniões. Campos afirmou que separar Lula de Dilma faz parte da estratégia para buscar eleitores à esquerda descontentes com o atual governo. E que a união com Marina continua a ser um impulso para se tornar conhecido. Apesar disso, o pré-candidato - que também é presidente do partido - não convenceu os correligionários insatisfeitos.

Atração. Para um dirigente do PSB, preservar Lula não faria sentido porque o petista não vai retribuir a gentileza se Campos for ao segundo turno contra Dilma. Se a presidente enfrentar o tucano Aécio Neves no fim de outubro, Lula é quem teria de atrair o PSB para vencer a oposição, segundo esse raciocínio.

Os dirigentes partidários esperavam que Campos registrasse de 15% a 18% da preferência do eleitorado às vésperas da campanha oficial. Em pesquisa Ibope divulgada no dia 10, ele obteve 13%, ante 22% de Aécio e 38% de Dilma. O último Datafolha, publicado em 6 de junho, apontou Campos com 7%, Aécio com 19% e Dilma com 34%.

A adesão de Marina elevou as expectativas no PSB. No entanto, o partido tem gastado mais energia do que gostaria para resolver divergências com a Rede sobre alianças ou candidaturas próprias em Estados como São Paulo, Rio e Minas.

No Rio, Campos e Marina pregam união e apoiam candidatura de Miro Teixeira

• Romário também esteve presente no evento na Mangueira. Segundo Miro, não há intriga que o separe do ex-craque

Leticia Fernandes – O Globo

RIO - Com um discurso que pregou a união, na tentativa de sepultar especulações sobre a retirada da candidatura do deputado Miro Teixeira (PROS-RJ) ao Palácio Guanabara, o pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB-PE), e a ex-senadora Marina Silva estiveram aos pés do Morro da Mangueira, na Zona Norte do Rio, ciceroneados por Miro, e visitaram o Centro Cultural Cartola. O deputado Romário (PSB-RJ), postulante ao Senado na coligação socialista, também esteve no local, mas evitou flashes e ficou por menos de uma hora.

Marina criticou o atraso e a “conversa fiada” na política feita pelo governo federal e pelo governo do estado. E defendeu a união dos brasileiros, começando dentro da própria coligação no Rio:

— Temos que acabar com a conversa fiada, é preciso fazer diferente. E como a gente faz para renovar as esperanças quando o Brasil tem uma sensação de desencanto, de preocupação de que a gente pode perder até o que a duras penas conquistou, em função do atraso na política? A melhor forma é promover união entre os brasileiros, e é bom que a gente dê o exemplo e esteja unido entre nós. E aí a força desse deputado, lutador e motivo de orgulho para os cariocas, se dispôs a ser o nosso pré-candidato — disse Marina, provável candidata a vice-presidente na chapa do ex-governador de Pernambuco, se voltando para Campos e Miro.

Apesar da indefinição que ronda a candidatura de Miro Teixeira, com insatisfações dentro do PROS, Campos reiterou o apoio ao deputado, posição que, segundo ele, já está sacramentada há mais de quatro meses.

— Nós estamos aqui confirmando o que a gente já vem dizendo há mais de 120 dias, que no Rio de Janeiro vamos apoiar a candidatura do Miro, não fazemos nada diferente disso. Temos aqui um indicativo de apoio à candidatura do Miro pelo PROS, e do Romário pelo Senado, essa é a nossa posição.

Já o pré-candidato ao governo do Rio admitiu que há ruídos na coligação fluminense, mas garantiu que não há intriga que o separe de Romário:

— Uma coligação que discute ideias tem ruídos mesmo. Ficam fazendo intriga, mas não há intriga que me separe do Romário, ele fez questão de passar aqui, achou uma brecha na agenda, passou aqui e me saudou como governador.

Ao caminharem pelas redondezas do centro cultural, Romário era ovacionado por moradores da Mangueira — é o baixinho, é o baixinho! —, enquanto Campos e Marina não foram amplamente reconhecidos. A não ser por uma moradora, que chamou a ex-senadora de “nossa presidente”, e levou os pré-candidatos para verem as péssimas condições do prédio onde mora, ao lado do Centro Cultural Cartola, inundado pelo lixo. O prédio visitado pelos políticos pertence ao Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), mas está completamente abandonado. Ao sair do local, Campos criticou: “Que absurdo, e esse é um prédio do governo federal”.

Sobre o pouco reconhecimento, o socialista disse que esse é um dos grandes desafios que enfrentará quando começar oficialmente a campanha.

— O desafio não é só nessa comunidade, é no Brasil inteiro. Temos 25% de conhecimento, é uma eleição de uma candidata que é 100% conhecida, e outros menos conhecidos. Mais do que as pessoas, que as ideias possam ser conhecidas, e uma das ideias centrais do nosso programa é o apoio efetivo à cultura brasileira, não é por acaso que nos últimos trinta dias fizemos três atividades ligadas à cultura no Rio, o encontro com artistas e produtores culturais, estivemos no Afroreggae e, agora, no centro cultural — disse Campos, criticando a “exclusão absoluta” que ainda persiste no Brasil, e dizendo que é preciso fazer uma limpeza no país:

— O que a gente vê é o retrato da exclusão absoluta, o traço da exclusão social e do preconceito que nos choca, em plena Copa do Mundo. Esse é um país que ainda tem muito disso, e é preciso limpar o país disso para que a gente possa aproximar o Brasil oficial do Brasil real.

Antes de chegaram ao Centro Cultural Cartola, onde foram recebidos pelos netos de Cartola, Pedro Paulo Nogueira e Neucimar Nogueira, ambos idealizadores da casa de cultura, os pré-candidatos também visitaram a casa onde morava o ídolo Cartola e sua esposa, dona Zica, conhecida como a primeira-dama do samba, e que teria completado cem anos em 2013.

Aliança com Marina tem muita força, reafirma Campos

Ana Fernandes - Agência Estado

O presidenciável do PSB, Eduardo Campos, disse que sua aliança com sua companheira de chapa Marina Silva continua com muita força. Questionado nesta quarta-feira por Sônia Abrão no programa A Tarde é Sua, da Rede TV, se as quedas de braço em torno das definições das coligações estaduais deixam a aliança "frágil", Campos negou. "Tinha é muita gente torcendo para que essa aliança não desse certo, ela é uma aliança que tem muita força", afirmou.

Campos argumentou ainda que a parceria do PSB com a Rede Sustentabilidade de Marina, que não é formalmente um partido, é a que tem o maior número de palanques conjuntos nos Estados e disse que, no PSB, há um respeito às estruturas internas democráticas dos partidos. "Seria complicado se a sociedade brasileira visse eu e Marina concentrando a decisão nas nossas mãos, como chefes poderosos que não respeitam a decisão dos outros", afirmou. O pessebista também repetiu o mantra de sua pré-campanha contra a polarização tradicional da política entre PT e PSDB. "A polarização ''nós e eles'' não é boa para o Brasil", disse.

Campos: PE foi o Estado que mais reduziu a violência

Ana Fernandes e Isadora Peron - Agência Estado

O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, ressaltou sua experiência como gestor e falou sobre segurança pública, em aparição na televisão aberta nesta quarta-feira. No programa A Tarde é Sua, apresentado por Sônia Abrão na Rede TV, Campos afirmou que a experiência é importante para o cargo de presidente que ele "quer e vai assumir". O presidenciável ressaltou sua experiência como secretário da Fazenda de Pernambuco, como ministro da Ciência e Tecnologia e como governador de Pernambuco durante sete anos e três meses. E disse que tanto ele quanto a vice em sua chapa, a ex-senadora Marina Silva "querem oferecer uma nova oportunidade para o Brasil."

Com relação à segurança, Campos citou o programa que implementou em seu Estado, chamado Pacto pela Vida, que segundo ele foi fundamental para melhorar a coleta de dados sobre a criminalidade. "O programa aperfeiçoou o sistema de coletas de dados e informação", defendeu e citou que Pernambuco foi o único Estado brasileiro a reduzir índices de violência por sete anos consecutivos. O pré-candidato defendeu ainda ampliar políticas de educação, cultura e esporte em áreas críticas para a segurança pública. E prometeu que, se eleito, vai convocar todos os setores da sociedade em prol do Pacto pela Vida.

O ex-governador de Pernambuco repetiu a crítica de que o governo federal tem sido omisso com relação à segurança pública e que a Polícia Federal perdeu 3 mil policiais de seus efetivos, prejudicando a fiscalização das fronteiras. "O fermento da violência é a impunidade", disse.

Questionado sobre o Bolsa Família, uma das bandeiras do governo do PT, o pré-candidato voltou a defender o programa. Ele afirmou que é importante para "milhões e milhões de famílias" que têm no programa uma "renda certa" mensalmente, mas disse ser a favor de ''políticas de saída'', que é preciso ir além desse programa assistencial. "Precisamos fazer com que aquele público seja prioritário para outras politicas públicas", disse, defendendo avanços na educação e na qualificação profissional.

Campos falou também sobre economia e voltou a tecer críticas sobre as questões que considera de maior impacto para o bolso da população: inflação e endividamento. "Estamos com juros de 60% e as famílias estão devendo. A inflação está corroendo os salários", disse. Segundo ele, o crescimento do Brasil nunca foi tão baixo quanto nos quatro anos do governo da presidente Dilma Rousseff. "O dinheiro (do trabalhador) está curto e não está dando para o mês inteiro, os preços estão subindo."

O presidenciável do PSB chegou a dizer que desde a época do Marechal Deodoro da Fonseca todos os mandatários do Brasil entregam para seus sucessores um País melhor. "Lula (ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva) entregou a Dilma um País melhor, FHC (ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso) entregou a Lula um País melhor. Mas o País piorou com o governo Dilma. O País não está feliz (com Dilma), por isso vai mudar (nessas eleições)", frisou. Nas críticas à gestão da petista, além de falar da economia, Campos disse que "a mobilidade está um horror nos Estados", e abordou ainda a educação, dizendo que é preciso universalizar o ensino. "Meu sonho é não ter escolas para ricos e para pobres."

Campos critica pacote de bondades a empresários próximo das eleições

• Presidenciável do PSB acredita que qualquer medida para melhorar a economia é positiva

- O Globo

SÃO PAULO — O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, criticou nesta quarta-feira que a presidente Dilma Rousseff tenha anunciado o pacote de bondades a empresários apenas a quatro meses das eleições. O presidenciável, porém, disse que ser favorável a qualquer medida que ajude a melhorar a economia.

— Só lamento que essas coisas tão óbvias, como a a questão do (aumento) da mistura do álcool no combustível (gasolina) só sejam feitas agora, a quatro meses da eleição — afirmou Campos, depois de participar do programa “A Tarde É Sua”, da Rede TV.

O pré-candidato do PSB disse ser favorável a “tudo que vier para melhorar a vida da economia do Brasil neste momento” e possa evitar o desemprego, por exemplo.

Campos, que governou Pernambuco até abril deste ano, também condenou a violência por parte da polícia na reintegração de posse de um terreno no Cais José Estelita, em Recife, na terça-feira.

— Se houve violência e parece que houve nos vídeos que eu vi postados, deve ser punida na forma da lei — disse.

Três pessoas ficaram feridas e seis foram detidas durante a desocupação. Campos criticou ainda o governo federal por vender o terreno para a iniciativa privada sem articulação com os governos locais e “sem transparência”.

Sem criticar o seu sucessor, João Lyra Neto, também do PSB, o presidenciável destacou que em seu governo havia um protocolo para evitar abusos em reintegrações de posse, com ações articuladas com advogados dos movimentos, Ministério Público e assistentes sociais. Segundo ele, também era padrão filmar as ações.

Durante a entrevista ao programa “A Tarde É Sua”, Campos voltou a criticar o governo da presidente Dilma, afirmando que ela entregará no final do ano um país em pior condição do que a que recebeu do ex-presidente Lula. Ele criticou também a alta da inflação dos alimentos e defendeu o programa Bolsa Família. Da apresentadora Sonia Abrão, ouviu elogios ao seu governo em Pernambuco e foi chamado de “grande brasileiro”.

Merval Pereira: O sentido dos ventos

- O Globo

Não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder, mais até, dizem os políticos, que o poder presente, que tem prazo de validade. É o caso de um presidente que disputa a reeleição.

Naturalmente ele atrai mais apoios, pois, em tese, o poder incumbente tem muitos instrumentos a seu favor, e a reeleição é mais provável. Por isso, a presidente Dilma reúne em torno de si uma miríade de partidos políticos que lhe darão um tempo de propaganda eleitoral muito maior que o de seus adversários.

Mas o sentimento no país é de mudança, e a popularidade da presidente vem sofrendo uma deterioração há cerca de um ano que está refletida nas pesquisas de opinião que vêm sendo divulgadas. Esses resultados invertem a lógica da reeleição e apontam para um futuro mais difícil para a candidata do PT, o que provoca dois tipos de reação.

Dentro do PT, o movimento “volta, Lula” continua aceso, mesmo que seja uma fantasia mais que uma probabilidade. Na base aliada, a reavaliação dos apoios faz com que seja possível, embora não provável, uma mudança de rota dos principais partidos de apoio.

O PMDB já mostrou o tamanho de sua dissidência, e o PR e o PSD continuam tentando entender para onde o vento sopra. O fato de marcar a reunião do diretório nacional do PSDB para escolher o candidato a vice na sua chapa para o dia 30, último dia para definição, significa que o candidato Aécio Neves acha que tem chance de ter o apoio do PSD de Gilberto Kassab.

As conversas sobre a participação do partido nas duas chapas, de presidente e de governador de São Paulo, continuam ocorrendo nos bastidores, com os sinais das pesquisas estimulando-as, isso porque a expectativa de poder está apontando para o PSDB.

Nos últimos dias, recortes da mais recente pesquisa do Datafolha dão boas indicações de futuro para a candidatura de Aécio Neves. Quando se destacam os eleitores que dizem conhecer “muito bem” ou “um pouco” os 3 principais concorrentes, que representam 20% do todo pesquisado, o resultado é Aécio Neves do PSDB com com 29%, Dilma Rousseff, do PT, com 23% e Eduardo Campos, do PSB, com 14%.

Um detalhe focado no estado de São Paulo mostra diferença maior para Aécio: ele tem 33%, Dilma e Campos ficam com 17% cada. Com todas as ressalvas de que a amostra é pequena e pode não se repetir quando todos forem bem conhecidos, são sinais que favorecem os argumentos do tucano e lhe abrem as portas para conversas com os partidos em dúvida sobre o resultado da eleição.

O único motivador para manter a aliança em torno de Dilma é a avaliação de que ela será a vencedora, ninguém está negociando nada para os seis meses que faltam para o governo. Os políticos começam a olhar as pesquisas de olho no 2º turno, que já é dado como certo. E os números são todos a favor dos candidatos de oposição, especialmente o do PSDB.

Numa disputa do 2º turno, a presidente Dilma já perde tanto para Aécio Neves quanto Eduardo Campos em São Paulo, e a diferença nacional vai se reduzindo à medida que o tempo passa. A mais recente pesquisa do Ibope mostrou o mesmo cenário que a do Datafolha, uma redução dramática da diferença.

Contra Aécio, a vantagem de Dilma caiu de 19 para 9 pontos porcentuais — em menos de um mês, o resultado passou de 43% a 24% para 42% a 33%. No confronto com Campos, a vantagem diminuiu de 20 para 11 pontos.

Essa tendência de queda futura antecipa a disposição do eleitorado para o primeiro turno, indicando uma tendência de queda da presidente e crescimento da oposição.

Com esse quadro, é previsível que os petistas pressionarão ainda mais Lula para assumir o posto de candidato, mas é também essa tendência antigovernista que fará Lula não encarar a tarefa.

Além das dificuldades inerentes à disputa, especialmente o quadro econômico adverso, que colocariam em risco a imagem de imbatível de Lula, usá-lo a essa altura poderia aniquilar, em caso de derrota, a expectativa de poder do PT.

Diante de um quadro adverso, e de um governo de difícil condução a partir de 2015, prevalece no entorno do líder petista a ideia de que é melhor resguardá-lo para eventualmente liderar a oposição e manter a expectativa de poder para a volta em 2018.

Dora Kramer: Meia palavra basta

• Se Kassab liberar, PSD pode votar por romper acordo de aliança com PT

- O Estado de S. Paulo

O ex-prefeito Gilberto Kassab não precisa sequer assumir o ônus de romper o compromisso firmado com a presidente Dilma Rousseff de apoio à sua reeleição. Basta que na convenção do PSD (ainda sem data certa) deixe o partido decidir o que achar melhor.

Se Kassab liberar o voto, o resultado mais provável será o apoio ao tucano Aécio Neves, embora haja também a possibilidade de uma decisão pela neutralidade. A aprovação da aliança com o PT só ocorrerá se Kassab disser de modo explícito que assim o PSD deve fazer.

Não há, como ocorreu no PMDB, a hipótese de rebelião contra a decisão da cúpula, no caso um homem só que não será submetido a constrangimento pelo partido. Se ele quiser, o PSD vota a favor, embora não veja sentido algum na manutenção de uma parceria na qual enxerga absoluta ausência de vantagens.

Isso, claro, devido à queda da presidente nas pesquisas, seus altos índices de rejeição e à avaliação interna de que a recuperação é praticamente impossível. Ademais, no quadro das alianças regionais, o PSD só está junto com o PT na Bahia; e estabeleceu parcerias com o PSDB em Estados importantes como Minas, Rio, Paraná e Goiás.

Sem contar São Paulo, onde o jogo maior ainda está em andamento com a possibilidade de Kassab vir a ser vice na chapa pela reeleição do governador Geraldo Alckmin.

Caso essa união venha a se concretizar, a parceria entre os dois partidos se solidifica de maneira a abrir espaço para negociação mais ousada: a coligação no âmbito nacional com a entrega da vice de Aécio Neves ao PSD na pessoa de Henrique Meirelles.

Para isso, porém, seria necessário que o partido de Kassab desconsiderasse a palavra empenhada com Dilma Rousseff. E é aí que o ex-prefeito de São Paulo precisaria fazer o gesto de delegar a decisão à convenção do partido.

Levando em conta esse dado é que o senador Aécio Neves resolveu adiar o anúncio de seu companheiro de chapa para o último dia do prazo legal, 30 de junho. Antes estava decidido a escolher um tucano de São Paulo para apresentar na convenção do último sábado.

No PSDB o que se diz é que o adiamento se deve à necessidade da espera de alguma "adesão importante". Ora, entre as possibilidades não há nenhuma do calibre do PSD. Pelo tempo de televisão (1minuto e 56 segundos) e pelo significado da adesão de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante os dois governos de Luiz Inácio da Silva e agora crítico da política econômica do governo Dilma Rousseff.

Essa operação, porém, não é fácil. De um lado, para se unir a Kassab Alckmin precisa se dispor a engolir um sapo robusto, considerando suas relações inamistosas com o ex-prefeito. De outro, a oferta da vaga de vice na chapa de Aécio teria de ser formalizada e isso até agora não aconteceu.

Nova onda. Apesar da constatação de que os insultos na abertura da Copa acabaram beneficiando a presidente, não haverá reforço de marketing da vitimização de Dilma.

Isso porque, se a presidente resolvesse se imolar em público, aumentando a exposição para receber manifestações de solidariedade, as pessoas perceberiam que estaria querendo tirar proveito político do Mundial e, da limonada, faria um limão.

Própria voz. Por enquanto, o ex-presidente Lula tem se encarregado de responder aos ataques da oposição. Do governo, foram escalados para a função os ministros Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo e Tereza Campello. A partir de sábado, quando a convenção nacional do PT fará de Dilma Rousseff a candidata oficial do partido à reeleição, a ideia é que ela responda pessoalmente aos oponentes. Naturalmente sem dispensar Lula da condição de principal porta-voz do combate.

Jarbas de Holanda: A “vítima do ódio da elite”. Campos, o 2º turno e o cerco a ele no Nordeste

Fazer do limão uma limonada. O limão representado pelo silencio da chefe do governo no ato de abertura da Copa, no Itaquerão, com medo de vaias. A limonada, pelo uso dos xingamentos que lhe foram dirigidos (sem dúvida condenáveis), convertidos em manifestação da “elite” contra a presidente/candidata dos “pobres”. Uso que, logo, o entorno de Lula e os marqueteiros do comitê eleitoral do Palácio do Planalto adotaram como antídoto aos crescentes problemas da campanha de Dilma Rousseff.

Na expectativa de que a “vitimização” dela possa conter a queda de popularidade e o aumento da rejeição. Sem que, entretanto, isso a anime a deixar de ausentar-se dos demais jogos da nossa seleção. Cabendo assinalar que essa rejeição tem um ingrediente adicional: reflete também a do petismo, que ocorre em grau ainda maior e que é tão ou mais preocupante para Lula.

As reações dos adversários básicos da candidata à reeleição aos referidos xingamentos foram semelhantes na primeira hora e distinguiram-se em seguida. Ambos, Aécio Neves e Eduardo Campos – ainda sob efeito da ostensiva instrumentalização da Copa feita por Dilma na véspera da abertura dos jogos, em mais uma cadeia nacional de televisão convocada pelo Planalto – associaram os xingamentos ao ditado popular “se colhe o que se planta”.

No dia seguinte Aécio afirmou: “Manifestação deve se dar no campo político, sem ultrapassar os limites do respeito pessoal”. Enquanto Campos, deixando de lado o episódio do Itaquerão, aproveitou o lançamento de seu candidato ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, realizado no domingo, para dirigir forte ataque à adversária governista (com o qual também justificou sua ruptura com o governo federal em 2013): “Não fico mais em projeto co-mandado por raposas que já roubaram tudo o que tinham que roubar”.

A dureza desse ataque pode ser atribuída a dois objetivos de Campos: primeiro, ganhar espaço na mídia que evite sua marginalização na disputa presidencial (que vai apontando para a polarização PT/PSDB); e, segundo – estender a Pernambuco e estados vizinhos o desgaste que Dilma vem sofrendo no Centro/Sul, e regionalizá-lo de modo a deslocar em seu favor o eleitorado nordestino de menor renda e dos programas assistencialistas federais que segue sob grande influência do lulismo.

A contundência do ataque de Campos dificultou mas não implicou, pelo menos ainda, o abandono das duas táticas do ex-presidente Lula em relação a ele. Nesta fase das campanhas eleitorais, combinar seu prestígio pessoal com ações da máquina do Planalto para impedir o avanço do candidato do PSB no eleitorado pernambucano e nordestino mas, ao mesmo tempo, alimentar a distinção que o candidato segue fazendo entre Dilma e ele (a cujo governo continua aplaudindo, certamente para atrair o eleitorado lulista, contrapondo-o ao da sucessora), com a preservação de bom relacionamento pessoal.

Relacionamento que espera explorar numa etapa posterior: a do provável 2º turno Dilma x Aécio, então pressionando o neto de Miguel Arraes a chocar-se com o mineiro, ou a uma neutralidade como a que Marina Silva adotou em 2010 na disputa final Dilma x José Serra. E relacionamento que também poderia, ou poderá, ser útil na hipótese, que ele segue rejeitando mas que vem passando a admitir, de ter que render-se ao “volta Lula”. Cenário que ensejaria pressões bem mais fortes para um realinhamento de Eduardo Campos.

Jarbas de Holanda é jornalista

Rogério Gentile: Dilma no formigueiro

- Folha de S. Paulo

O que é pior: ser vaiado e xingado num estádio ou levar pedradas, pauladas e empurrões na porta de um prédio público?

Lula reagiu com indignação às ofensas que Dilma sofreu no Itaquerão na abertura da Copa. Disse que foi um ato de "cretinice", a "maior vergonha que o país já sofreu", e culpou a elite e a imprensa. Depois, aproveitou para lançar um novo slogan para a disputa presidencial. "Se em 2002 fizemos uma campanha da esperança contra o medo, agora é a da esperança contra o ódio."

Bem diferente foi sua reação em 2000, quando Mário Covas foi agredido fisicamente durante uma greve de professores. O então governador paulista tinha 70 anos, duas pontes de safena e estava em tratamento de câncer. Apanhou simplesmente porque resolveu passar no meio de manifestantes que bloqueavam o acesso à Secretaria da Educação.

Lula, à época, também ficou indignado. Não condenou a "cretinice" nem o "ódio" dos grevistas, mas reclamou muito do tucano. "Covas sentou em cima de um formigueiro", afirmou o petista. Para ele, "não havia explicação lógica para o comportamento" do governador.

Dias antes, o hoje presidiário José Dirceu havia dito num discurso que o governo deveria "apanhar nas ruas e nas urnas". O petista afirmou, posteriormente, que usara o termo "apanhar" como sinônimo de "sofrer derrota" e que o PSDB manipulara sua fala. Manipulada ou não, a declaração foi feita seis dias após o mesmo Covas ter levado uma bandeirada na cabeça em São Bernardo e cinco dias após um militante do PT ter estourado um ovo no rosto de José Serra, então ministro da Saúde, em Sorocaba.

O mais ridículo é que, se o PT no poder fica revoltado até com agressão verbal, o PSDB faz o inverso na oposição. Aécio, em 2000, cobrou do PT uma condenação formal do rapaz do ovo. Agora, ao tratar das ofensas à Dilma, preferiu dizer que ela "colheu o que plantou". Política, realmente, não é para qualquer um.

Eliane Cantanhêde: Ódio e bondades

- Folha de S. Paulo

Divisão de tarefas na campanha do PT à Presidência da República: enquanto Lula e o lulista Gilberto Carvalho veem "ódio" por toda parte, Dilma oferece um pacote de bondades para os grandes empresários, na esperança de que façam uma meia volta e retornem para a candidatura dela.

O discurso de Lula, tão velho quanto sua luta sindical na década de 1970, teve um grande hiato com o "Lulinha paz e amor" --que o levou a subir a rampa do Planalto em 2003 e a descer dela com imensa popularidade, oito anos depois.

Jogando fora o "paz e amor", Lulinha recupera o seu velho personagem e o discurso da vitimização: perseguido pela elite branca, o conservadorismo, a direita, os que querem que o povo brasileiro morra de fome para manter seus privilégios --e com o apoio da imprensa, para ele, o amálgama de tudo isso.

Como se Lula nunca tivesse sido eleito, sustentado politicamente e paparicado pessoalmente por banqueiros, pelo grande empresariado, pelos partidos mais conservadores do país, pelos coronéis da política brasileira e vai por aí afora.

A não ser que Lula considere que o "ódio" e essa perseguição ao pobre migrante nordestino de muitas décadas atrás partem de uma "elite" muito curiosa: os cerca de 70% que clamam por mudanças.

A ponto, aliás, de os dois candidatos lulistas ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, do PMDB, e Alexandre Padilha, do PT, disputarem a tapas o slogan da mudança. Ah, sim, é um slogan dirigido ao governador Alckmin, que tem 44% no Datafolha...

Se Lula e Carvalho destilam o "ódio", Dilma distribui "bondades". Mas tem de correr. Os empresários participam, ou até lideram, o grito de mudanças e se aproximam de Aécio Neves e de Eduardo Campos.

Os dissabores e as perdas da indústria, alegam, estão por trás de um dos maiores problemas brasileiros: o baixo crescimento, ou "pibinho", que penaliza todos, não só "a elite".

Luiz Carlos Azedo: A "fulanização" do STF

- Correio Braziliense

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, decidiu abandonar a relatoria do processo do mensalão, incluindo o cumprimento das penas e o andamento de ações correlatas. Era sua última tarefa relacionada à Ação Penal 470, que levou à cadeia os dirigentes petistas José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha e outros políticos, como Waldemar da Costa Neto, ex-presidente do PR, e Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB e autor da denúncia de compra de votos no Congresso que deu origem ao processo. De certa forma, Barbosa "desfulaniza" as decisões sobre a execução das penas dos condenados, porque estava sendo acusado de "perseguir" os réus pelos respectivos advogados.

"Julgo que a atitude juridicamente mais adequada neste momento é afastar-me da relatoria de todas as execuções penais oriundas da Ação Penal 470 e dos demais processos vinculados à mencionada ação penal", alegou o presidente do STF ao deixar o caso. O ministro Luís Roberto Barroso é o novo relator. Foi escolhido por sorteio e pretende pôr em pauta os pedidos de agravo regimental dos réus na próxima semana. "Eu gostaria de entrar no recesso com isso decidido e gostaria de fazê-lo em plenário, na medida do possível", disse. Ele quer que a Corte decida sob o comando de Barbosa, que havia anunciado a antecipação da aposentadoria. Barbosa será substituído, naturalmente, pelo ministro Ricardo Lewandowski, que assumirá a Presidência do Supremo em seu lugar. Ambos protagonizaram os debates mais acirrados e polêmicos durante o julgamento do mensalão.

O argumento de Barbosa para deixar a relatoria foi a representação criminal que apresentou contra o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o ex-presidente do PT José Genoino. Um incidente com o defensor, em plena sessão plenária do STF, foi a gota d"água. Pacheco foi à tribuna, indevidamente, para acusar Barbosa de abuso de autoridade e foi retirado do plenário por agentes de segurança, a pedido do presidente da Corte. Queixa-se, Barbosa, de que os advogados que atuam no caso passaram a agir politicamente contra ele, "através de manifestos e, até mesmo, partindo para os insultos pessoais, via imprensa, contra este relator".

O presidente do STF antecipou-se ao abaixo assinado de 300 pessoas, entre políticos, intelectuais, artistas e líderes de movimentos sociais, que o acusa de "agredir o Estado de Direito". Os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e João Capiberibe (PSB-AP), o deputado estadual Campos Machado (PT-SP), as professoras Maria da Conceição Tavares e Walnice Nogueira Galvão, o teólogo Leonardo Boff, o presidente do instituto João Goulart, João Vicente Goulart e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães estão entre as personalidades solidárias com os reús que o subscrevem.

Carismático e polêmico, Barbosa conquistou ampla simpatia da opinião pública como relator do mensalão e passou a ser visto como espécie de reserva moral da nação. Os réus foram condenados pela plenário da Corte, mas, em algumas penas, tiveram direito a novo julgamento, por haver ao menos quatro votos contrários à condenação. Nessa fase derradeira do processo, Barbosa acumulou a presidência do Supremo e o cargo de relator, o que lhe deu grande poder na condução do processo e apoio popular, mas permitiu à defesa dos réus, nos meios jurídicos e políticos, a construção da imagem de que a Corte havia sido "fulanizada".

Agravos regimentais
Entre os dois julgamentos, houve também uma mudança na composição da Corte, com a entrada de ministros, entre os quais o novo relator, Luís Roberto Barroso, cujas críticas à Ação Penal 470 foram explicitadas já na posse. A nova composição do tribunal abrandou algumas penas no julgamento dos embargos infringentes. A ação organizada dos advogados que atuam no processo, além do jus esperneandis dos réus e a campanha sistemática dos militantes petistas contra Barbosa, dificultaram a atuação monocrática do presidente do STF na execução das penas. Recrudesceram as críticas à suposta "fulanização" da Corte.

Há 10 agravos regimentais dos advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o benefício de outros condenados ao regime semiaberto, como os ex-deputados João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Seu entendimento é de que os condenados precisam cumprir um sexto da pena antes de obter direto para trabalhar fora da penitenciária, tese contrária ao parecer do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Os advogados pedem que os agravos sejam julgadas por todos os ministros, mas Barbosa não os havia pautado, nem dado previsão de quando isso aconteceria. Ao tratar do assunto, ontem, o ministro Barroso comparou a Ação Penal 470 ao cadáver de um elefante, que é fácil de matar, mas difícil de enterrar.

Demétrio Magnoli: A lista do PT

• A personificação dos ‘inimigos da pátria’ é um truque circunstancial: os nomes podem sempre variar, ao sabor das conveniências

- O Globo

Lula só pensa naquilo. Diante das vaias (normais no ambiente dos estádios) e dos xingamentos (deploráveis em qualquer ambiente) a Dilma Rousseff na abertura da Copa, o presidente de facto construiu uma narrativa política balizada pela disputa eleitoral. A “elite branca” e a “mídia”, explicou, difundem “o ódio” contra a presidente-candidata. Os conteúdos dessa narrativa têm o potencial de provocar ferimentos profundos numa convivência democrática que se esgarça desde a campanha de ataques sistemáticos ao STF deflagrada pelo PT.

O partido que ocupa o governo decidiu, oficialmente, produzir uma lista de “inimigos da pátria”. É um passo típico de tiranos — e uma confissão de aversão pelo debate público inerente às democracias. Está lá, no site do PT, com a data de 16 de junho (http://www.pt.org.br/alberto-cantalice-a-desmoralizacao-dos-pitbulls-da-grande-midia/). O artigo assinado por Alberto Cantalice, vice-presidente do partido, acusa “os setores elitistas albergados na grande mídia” de “desgastar o governo federal e a imagem do Brasil no exterior” e enumera nove “inimigos da pátria” — entre os quais, este colunista. Nas escassas 335 palavras da acusação, o representante do PT não cita frase alguma dos acusados: a intenção não é provar um argumento, mas difundir uma palavra-de-ordem. Cortem-lhes as cabeças!, conclama o texto hidrófobo. O que fariam os Cantalices sem as limitações impostas pelas instituições da democracia?

O artigo do PT é uma peça digna de caluniadores que se querem inimputáveis. Ali, entre outras mentiras, está escrito que os nove malditos “estimulam setores reacionários e exclusivistas a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes”. Não há, claro, uma única prova textual do crime de incitação ao ódio social. Sem qualquer sutileza, Cantalice convida seus seguidores a caçar os “inimigos da pátria” nas ruas. Comporta-se como um miliciano (ainda) sem milícia.

Os nove malditos quase nada têm em comum. Politicamente, mais discordam que concordam entre si. A lista do PT orienta-se apenas por um critério: a identificação de vozes públicas (mais ou menos) notórias de críticos do governo federal. O alvo óbvio é a imprensa independente, na moldura de uma campanha de reeleição comandada pelo ex-ministro Franklin Martins, o arauto-mor do “controle social da mídia”. A personificação dos “inimigos da pátria” é um truque circunstancial: os nomes podem sempre variar, ao sabor das conveniências. O truque já foi testado uma vez, na campanha contra o STF, que personificou na figura de Joaquim Barbosa o ataque à independência do Poder Judiciário. Eles gostariam de governar um outro país — sem leis, sem juízes e sem o direito à divergência.

Cortem-lhes a cabeça! A palavra-de-ordem emana do partido que forma o núcleo do governo. Ela está dirigida, imediatamente, aos veículos de comunicação que publicam artigos ou difundem comentários dos “inimigos da pátria”. A mensagem direta é esta: “Nós temos as chaves da publicidade da administração direta e das empresas estatais; cassem a palavra dos nove malditos”. A mensagem indireta tem maior amplitude: no cenário de uma campanha eleitoral tingida de perigos, trata-se de intimidar os jornais, os jornalistas e os analistas políticos: “Vocês podem ser os próximos”, sussurra o persuasivo porta-voz do presidente de facto.

No auge de sua popularidade, Lula foi apupado nos Jogos Panamericanos de 2007. Dilma foi vaiada na Copa das Confederações. As vaias na abertura da Copa do Mundo estavam escritas nas estrelas, mesmo se o governo não experimentasse elevados índices de rejeição. O governo sabia que viriam, tanto que operou (desastrosamente) para esconder a presidente-candidata dos olhos do público. Mas, na acusação desvairada de Cantalice, os nove malditos figuram como causa original da hostilidade da plateia do Itaquerão contra Dilma! O ditador egípcio Hosni Mubarack atribuiu a revolução popular que o destronou a “potências estrangeiras”. Vladimir Putin disse que o dedo de Washington mobilizou um milhão de ucranianos para derrubar o governo cleptocrático de Viktor Yanukovich. O PT bate o recorde universal do ridículo quando culpa nove comentaristas pela recepção hostil a Dilma.

Quanto aos xingamentos, o exemplo nasce em casa. Lula qualificou o então presidente José Sarney como “ladrão” e, dias atrás, disse que FHC “comprou” a reeleição (uma acusação que, nos oito anos do Planalto, jamais levou à Justiça). O que gritaria o presidente de facto no anonimato da multidão de um estádio?

Na TV Estadão, critiquei o candidato presidencial José Serra por pregar, na hora da proclamação do triunfo eleitoral de Dilma Rousseff, a “resistência” na “trincheira democrática”. A presidente eleita, disse na ocasião, é a presidente de todos os brasileiros — inclusive dos que nela não votaram. Dois anos mais tarde, escrevi uma coluna intitulada “O PT não é uma quadrilha”, publicada nos jornais O GLOBO e “O Estado de S. Paulo” (25/10/2012), para enfatizar que “o PT é a representação partidária de uma parcela significativa dos cidadãos brasileiros” e fazer o seguinte alerta às oposições: “Na democracia, não se acusa um dos principais partidos políticos do país de ser uma quadrilha”. A diferença crucial que me separa dos Cantalices do PT não se encontra em nossas opiniões sobre cotas raciais, “conselhos participativos” ou Copa do Mundo. Nós divergimos, essencialmente, sobre o valor da liberdade política e da convivência democracia.

Se, de fato, como sugere o texto acusatório do PT, o que mais importa é a “imagem do país no exterior”, o “inimigo da pátria” chama-se Cantalice. Nem mesmo os black blocs, as violências policiais ou a corrupção sistemática são piores para a imagem de uma democracia que uma “lista negra” semi-oficial de críticos do governo.

Demétrio Magnoli é sociólogo

Celso Ming: Um agrado e uma paulada

- O Estado de S. Paulo

Enquanto recebia um agrado da presidente Dilma, o setor produtivo enfrentava ontem outra paulada para a qual o governo ainda não tem curativo.

O agrado foi o pacote de bondades destinado às empresas. Mais prazo e melhores condições para o pagamento de dívidas com a Receita Federal (o Refis) e ampliação do prazo do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que dá mais acesso à compra de máquinas, caminhões, tratores, etc. Sua natureza é eleitoral, mas sua principal característica foi a improvisação. Nem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava ontem em condições de fornecer pormenores sobre essas decisões.
Poderá reduzir certos custos, mas, por ser limitado e temporário, não parece capaz de levar as empresas a investir com força no aumento da produção e da produtividade.

A paulada é o agravamento da crise cambial da Argentina. Como comentado ontem nesta Coluna, a Suprema Corte dos Estados Unidos exigiu que a Argentina pague integralmente os títulos de dívida cujos portadores não aceitaram os termos da reestruturação imposta a partir de 2001.

É grande a probabilidade de que esse benefício, no todo ou em parte, se torne extensivo até mesmo àqueles que aceitaram o desconto (calote) de aproximadamente 70%. Nessas condições, a Argentina poderá ficar impossibilitada de honrar compromissos, não só com seu passivo de longo prazo, mas até mesmo com o pagamento de suas importações.

Do ponto de vista da indústria brasileira, a questão é que a Argentina absorve nada menos que 8% das exportações do Brasil (US$ 19,6 bilhões em 2013) e 12% da produção brasileira de veículos.

Nenhuma das soluções aventadas para o problema comercial com a Argentina, que já se vinha arrastando antes mesmo do revés imposto segunda-feira pela Suprema Corte dos Estados Unidos, se mostrou viável. Uma delas pretendeu levar os bancos brasileiros a financiar as exportações do Brasil para lá. Ou seja, passariam o pagamento para os exportadores brasileiros e ficariam credores da Argentina. Para isso, seria necessário que o Banco Central assumisse o risco cambial, ou seja, aceitasse ser fiador desses recebíveis. Essa opção foi rejeitada porque, na condição de corresponsável, o Banco Central do Brasil estaria sujeito a sequestros de ativos argentinos em seu poder pelos credores que agora têm mandado judicial para isso.

Outra ideia é usar o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para dar cobertura a eventuais faltas de pagamentos de importações pela Argentina. É uma saída que exigiria cobertura do Banco da República Argentina e, por isso, aumento da dívida entre Estados soberanos (Clube de Paris), portanto considerada de pagamento prioritário, cláusula que o governo argentino se recusou a aceitar.

Uma terceira hipótese seria o aumento das importações de produtos argentinos pelo Brasil, de modo a zerar o superávit que no ano passado foi de US$ 3 bilhões. O problema aí está em que os produtos que o Brasil poderia importar mais da Argentina seriam veículos e autopeças. Nesse caso, a crise do setor no Brasil se agravaria.

É verdade que a Argentina ainda pode ganhar algum tempo e alguma margem de negociação. Mas o nível de incerteza aumentou dramaticamente para ela e para seus parceiros comerciais.