quinta-feira, 12 de junho de 2014

Opinião do dia: Eduardo Campos

"O Brasil quando olha para Brasília e vê Renan Calheiros, José Sarney e Fernando Collor mandando no governo da Dilma, a gente não imagina que esse governo vá chegar na vida dos mais pobres."

Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, em entrevista na rádio Amazonas, quarta-feira, 11 de junho de 2014.

Para Aécio fala de Dilma na TV lembra ditadura

• Aécio critica pronunciamento da presidenta sobre a Copa

- Brasil Econômico

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, criticou, ontem, a presidenta Dilma Rousseff por ter utilizado cadeia de rádio e TV na última terça-feira para anunciar a proximidade da Copa do Mundo e a acusou de tentar repetir uma estratégia usada por militares na época da ditadura.

Na avaliação do tucano, a participação da presidenta infringe a legislação eleitoral e remete à campanha dos militares na Copa de 1970, quando o governo tentou vincular o título mundial ao sucesso do regime ditatorial.

Aécio afirmou que não acredita que uma eventual vitória possa ter influência no resultado das eleições presidenciais: "Isso é coisa do passado. Na década de 70 havia uma preocupação de vincular futebol à política".

Na véspera, Dilma disse que, apesar dos que torceram contra, a Copa se viabilizou e ainda convocou a população para se engajar no mundial.

Aécio, que será proclamado oficialmente candidato à Presidência na convenção do PSDB no próximo sábado, comemorou seu crescimento na pesquisa Ibope divulgada na terça, em que aparece com 22% das intenções de voto. O candidato do PSB, Eduardo Campos, apareceu com 13%, enquanto Dilma passou a 38%.

O senador mineiro afirmou que o segundo turno se mostra inevitável e avaliou que a presidenta corre o risco de ficar de fora da disputa. O pré-candidato do PSDB classificou como "patética" a participação de Dilma na convenção PDT ao atribuir à oposição problemas como inflação mais alta e crescimento baixo da economia. "Enquanto eles falarem do passado, nós vamos falar do futuro; enquanto eles falarem de medo, nós vamos falar de esperança".

Aécio comentou o resultado da convenção do PMDB, que confirmou a aliança nacional com o PT, mas com vitória apertada. "O apoio do PMDB com apenas 59% mostra que nem o sócio majoritário na aliança dá apoio integral", disse ele. Reuters

Discurso pós-torneio na ponta da língua

- Correio Braziliense

O time da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff já está com o discurso amarrado caso a Copa do Mundo no Brasil dê certo. A despeito das possíveis vaias à presidente durante a abertura do torneio hoje, o mote político-eleitoral vai passar pelo mesmo clima de ufanismo que tem dado o tom dos pronunciamentos presidenciais nas últimas semanas. A ideia é mostrar que, apesar das dificuldades, o país conseguiu se preparar para o Mundial.

"Se tivermos sucesso na organização desses jogos, o país vai viver um período de ressaca geral", disse um dos integrantes do núcleo da campanha dilmista. Para ele, o êxito do Mundial não passa pela vitória do Brasil dentro das quatro linhas, algo que é considerado como imponderável, mas pelo que acontecer fora de campo. Os estrategistas da campanha descartam situações comuns, como um assalto a turista, ou atrasos em voos.

"Estamos falando de afundamento de aeroportos, de ondas de saques, de desabamento de estádios, coisas que manchariam a imagem do Brasil", listou.

O discurso já está engatilhado e bate de frente com os pessimistas que ela tanto tem criticado nos últimos dias. Serão usadas frases como "por I que os brasileiros não acreditaram que seriam capazes de fazer uma grande Copa?" e "por que | insistiram em baixar a cabeça em um momento em que deveriam celebrar a entrada do país no primeiro mundo?" explica o interlocutor da presidente. O marqueteiro João Santana e a equipe dele pretendem encaixar o discurso de que é preciso confiar na gestão Dilma, pois ela será capaz, no próximo quadriénio, de promover as mudanças que o Brasil precisa para avançar.

Mesmo as dificuldades e os atrasos para o país entregar as obras prometidas parecem não preocupar os articuladores da campanha dilmista. "Lógico que seria melhor se as obras de mobilidade tivessem sido entregues um mês antes do Mundial para que, durante os jogos, os efeitos fossem ainda melhores. Mas a população vai ser beneficiada ao longo dos próximos anos", conclui o integrante do núcleo de campanha da petista. (PTL)

Rebeldes do PMDB estão em Estados-chave para presidente

• Contrários à aliança como PT devem causar problemas para Dilma em locais onde obteve boa votação em 2010

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os Estados que lideraram as dissidências na convenção do PMDB que decidiu anteontem manter a aliança com o PT na sucessão presidencial garantiram mais de 10,78 milhões de votos de vantagem para a candidata Dilma Rousseff no 1º turno das eleições ao Planalto em 2010.

Em alguns deles, a votação em Dilma foi quase um massacre em cima do então adversário José Serra (PSDB), a exemplo do Maranhão, onde a petista teve 2,07 milhões de votos contra 444 mil do tucano; ou a Bahia, com 4,18 milhões a 1,4 milhões.

Os outros Estados onde o principal aliado do Planalto não deve dar suporte ao projeto reeleitoral são Pernambuco, Rio, Rio Grande do Sul, Ceará e Goiás.

Nem os rebeldes do PMDB - que obtiveram quase 41% dos votos contrários à aliança com o PT e a manutenção de Michel Temer na vaga de vice - nem os que trabalharam pela coligação acreditam que haverá uma inversão de votos para a oposição. Mas acreditam que não haverá a repetição de tamanha vantagem, pois as circunstâncias de agora são outras. "Só na Bahia, em que a presidente teve mais de 70% dos votos em 2010, Geddel Vieira Lima (ex-ministro da Integração Nacional de Lula) teve mais de 1 milhão de votos na disputa para o governo e todos eles foram para a candidata do PT.

Agora Geddel está do outro lado, apoiando o tucano Aécio Neves. E o PMDB hoje é muito mais forte", afirmou o presidente do partido na Bahia, Lúcio Vieira Lima, que é irmão de Geddel.

Na avaliação dele, não há como negar que o PT perderá votos na Bahia, em Pernambuco, Estado do pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, no Maranhão, onde os petistas racharam e boa parte apoia Flávio Dino (PC do B), que trabalha pelo candidato socialista, e no Rio de Janeiro, onde o PMDB está dividido e liderou o movimento independente. A situação também é diferente no Rio Grande do Sul, em que o PMDB e o PSB de Campos formalizaram uma aliança em torno do ex-prefeito de Caxias José Ivo Sartori para enfrentar o governador Tarso Genro (PT).

Para Aécio, presidente foi patética no PMDB

Guilherme Serodio – Valor Econômico

RIO - O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência da República, afirmou ontem que é certo o segundo turno na eleição presidencial. O tucano se mostrou satisfeito com o resultado das pesquisas eleitorais que mostram o seu crescimento nas intenções de voto, e a queda da presidente Dilma Rousseff na corrida eleitoral.

"Pesquisas mostram que mais de 70%, e em alguns Estados como São Paulo mais de 80% da população, querem mudanças profundas, [esse quadro] certamente levará a eleição para o segundo turno", afirmou Aécio, para quem a presidente Dilma pode nem mesmo chegar ao segundo turno.

Aécio considerou "absolutamente patética" a presença da presidente Dilma na convenção nacional do PMDB, e afirmou que o apoio de cerca de 60% dos delegados do partido à aliança com o PT foi "uma derrota fragorosa" para Dilma.
"Depois de 11 anos, ter esse resultado é a sinalização da falência desse modelo. Nem o seu sócio majoritário consegue dar apoio integral a esse projeto. A presidente terá alguns minutos a mais de TV, mas não terá o trabalho, a militância desses partidos".

O tucano ainda criticou o pronunciamento de Dilma em cadeia nacional na noite de anteontem e o considerou campanha eleitoral antecipada. Para ele, uma vitória do Brasil na Copa não interfere na corrida eleitoral.

Aécio, que esteve ontem no velório de Marcello Alencar, governador do Rio de Janeiro entre 1995 e 1998, reiterou que pretende manter o apoio do PMDB no Estado. Ontem à tarde, era esperada uma reunião entre Aécio e o presidente do DEM, senador José Agripino Maia, para definir a possível aliança entre os dois partidos em três Estados onde as legendas ainda discutem a coligação, entre eles o Rio.

Cúpula do PMDB ameaça não repassar verbas para estados onde haja apoio integral à Aécio e Campos

• Estados da Bahia, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba e Ceará estariam na ‘lista negra’

Maria Lima e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASILIA — Passada a convenção que sacramentou o apoio do PMDB à reeleição da presidente Dilma Rousseff, a ala ligada ao vice-presidente Michel Temer está focada agora na construção do maior número de palanques governistas possíveis país afora. Mas já decidiu também que os infiéis não passarão incólumes: a direção nacional pretende não repassar recursos para os estados onde o partido estiver integralmente apoiando Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB). Na lista negra dos principais responsáveis pela apertada margem que consagrou a aliança estão Bahia, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba e Ceará.

Integrantes da ala vitoriosa na convenção do PMDB atribuem o resultado apertado (59% dos votos a favor da aliança) aos problemas do partido na formação de palanques estaduais em confronto com o PT. Avaliam que a rebelião inesperada foi um recado para o PT, que agora precisa fazer sua parte e ceder em estados cruciais para Dilma: Ceará, Rio e Goiás. No Rio, cobram a renúncia de Lindbergh Farias em favor de Pezão; em Goiás, querem a renúncia de Paulo Garcia em favor de Íris Rezende; e no Ceará, que o PT defina logo o apoio à candidatura de Eunício Oliveira ao governo, sob pena de o líder do PMDB no Senado, que lidera a disputa num patamar acima de 40% nas pesquisas, se aliar a Tasso Jereissatti, do PSDB, e apoiar Aécio Neves.

— A questão estadual contaminou o resultado, e isso tem que ser revisto pelo PT. Nós fizemos nossa parte. Agora cabe ao PT decidir se é mais importante o projeto estadual ou reeleger Dilma. Vai haver reação nos estados — disse o deputado Eliseu Padilha (RS), que está isolado no apoio a Dilma no estado, contra uma chapa formada para apoiar Eduardo Campos (PSB).

Sobre as traições, Padilha diz que Temer vai olhar para frente, pois é preciso esquecer o que passou. Mas aliados de Temer avisam também que, em estados como a Bahia, onde o PMDB de Geddel Vieira Lima vai apoiar Aécio, os candidatos terão que viabilizar suas campanhas com o caixa da oposição, e não do partido.

Para Aécio, discurso de Dilma na TV é 'ilegal' e 'campanha eleitoral'

• Senador e pré-candidato do PSDB à Presidência afirma que petista quis se apropriar do 'sucesso da seleção' em pronunciamento em rede nacional

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

RIO - O pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves, acusou nesta quarta-feira, 11, a presidente Dilma Rousseff (PT) de ter convocado ilegalmente cadeia nacional de rádio e TV para falar sobre a Copa do Mundo, na noite dessa terça, 10. "É triste a presidente da República querer fazer reviver os tempos da ditadura, se apropriar do sucesso da seleção, como fez ontem, acintosamente, em mais uma ilegal convocação de cadeia de rádio e televisão para a visar ao Brasil que vamos ter Copa a partir desta quinta-feira. Isso é usar dinheiro público para fazer campanha eleitoral", afirmou o tucano.

Aécio também criticou os discursos de Dilma nas convenções do PMDB e do PDT, realizadas na terça. "As participações da presidente da República foram absolutamente patéticas, falando de medo, culpando a oposição pela inflação e pelo baixo crescimento econômico. Ela esquece que o passado são eles, o passado dos últimos 11 anos são esses que estão no poder", afirmou o senador, que compareceu ao velório do ex-governador do Rio Marcello Alencar.

Aécio disse que pesquisas eleitorais indicam a realização de segundo turno e fez uma ironia, dizendo que é preciso levar em conta a hipótese de Dilma não chegar a disputar a segunda etapa do pleito.

Marcello Alencar. O pré-candidato destacou a atuação política do ex-governador do Rio, morto nessa terça aos 88 anos, e disse ter perdido um "amigo e conselheiro", além de companheiro de partido.

Para o senador, a chegada de Marcello ao PSDB, em 1993, aproximou os tucanos do eleitorado popular e de baixa renda do Rio de Janeiro.

"Marcello soube levar a mensagem do PSDB a regiões onde o partido tem tido as maiores dificuldades de penetração. A verdade é essa. Fica a grande sinalização. Marcelo era o PSDB próximo do povo, como precisa voltar a ser. É o que temos tentado fazer."

Renan, Sarney e Collor mandam no governo Dilma, diz Campos

• Em entrevista a rádio, pré-candidato do PSB à Presidência tenta se mostrar como alternativa a PT e PSDB e afirma que País 'começou a piorar' com atual administração

José Roberto Castro - Agência Estado

SÃO PAULO - O pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, usou boa parte da sua entrevista à Rádio Amazonas na manhã desta quarta-feira, 12, para criticar a presidente Dilma Rousseff. Além de questionar a eficiência da atual gestão, o ex-governador pernambucano afirmou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL) "mandam" no governo petista.

"O Brasil quando olha para Brasília e vê Renan Calheiros, José Sarney e Fernando Collor mandando no governo da Dilma, a gente não imagina que esse governo vá chegar na vida dos mais pobres", disse ao fazer referência a representantes de partidos da base aliada. Campos votou também a dizer que o Brasil, com Dilma, "parou de melhorar e começou a piorar" e o dinheiro dos impostos "não é cuidado com respeito" pela atual administração.

Depois de afirmar que a corrupção é o que mais o deixa indignado na política brasileira, o ex-governador defendeu que a revolta dos brasileiros seja usada para romper a polarização de PT e PSDB. "Há 20 anos o PT e PSDB comandam o País e toda vez que vão comandar estão sendo cercados pelas mesmas forças atrasadas que acabam constrangendo o Brasil com as práticas políticas mais atrasadas e menos republicanas", criticou.

Ibope. Campos comemorou o resultado da pesquisa Ibope divulgada nessa terça e destacou a melhora no seu desempenho quando candidatura é associada a Marina. "Acho que todas as pesquisas estão confirmando o nosso crescimento. Confirmando que quando a sociedade toma conhecimento que eu e Marina fizemos uma aliança e formamos uma chapa, eu como presidente e ela como vice, a gente vai para o segundo turno. Porque a sociedade brasileira deseja fazer a mudança."

PSB e Rede. Em meio a divergências com sua pré-candidata a vice, a ex-ministra Marina Silva, Campos afirmou ser "ilusão" conseguir repetir em todos os Estados a chapa presidencial. Ele repetiu que considera natural que PSB e Rede tenham posicionamentos diferentes na definição de alianças, mas que isso não interfere na manutenção da chapa com Marina.

"Nunca houve uma candidatura a presidente que conseguisse montar nos 27 Estados o mesmo palanque. Eu não teria ilusão que a gente iria conseguir isso. É natural que em um Estado ou outro a gente tenha o PSB tomando uma posição e a Rede outro", afirmou.

Na última semana, Marina manifestou publicamente seu descontentamento com a decisão do PSB de São Paulo de apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A ex-ministra defende o lançamento de candidaturas próprias.

‘Há dificuldades até dentro do nosso campo político’ diz Marina sobre aliança do PSB com Alckmin

• Ex-senadora afirma que mesmo entre aliados dela e de Campos há quem não compreenda o projeto dos dois. Ela criticou o PT por recorrer ao discurso do medo

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO — Em entrevista ao GLOBO, a ex-senadora Marina Silva fala das últimas pesquisas, das dificuldades de compreensão com aliados e como administrar as diferenças.

O GLOBO - O projeto de vocês está mais próximo ideologicamente do senador Aécio Neves ou da presidente Dilma?

MARINA - Vocês trabalham sempre prisioneiros da polarização. Estabelecem como referência para qualquer coisa o PT e o PSDB. É preciso olhar para a realidade que está surgindo no cenário político. Cada vez mais as pessoas estão se colocando numa certa descrença em relação à política. A tentativa que estamos fazendo é termos um projeto político que possa dialogar para melhorar a qualidade da política. É uma tentativa de atualização, que se expressa por aliança programática e não pragmática, e governabilidade com base na execução de um programa, e não na distribuição de cargos. O que estamos fazendo é um esforço para termos uma nova postura. Espero que isso possa ser compreendido. Nesse momento há dificuldade de ser compreendido até por algumas pessoas dentro do nosso próprio campo político.

O GLOBO - Em que episódios transparece essa dificuldade de ser compreendido por aliados?

MARINA - Acho que a dificuldade no debate das candidaturas próprias faz transparecer isso, sim, sem sombra de dúvidas. Mas a maior parte da base do PSB entende. São algumas pessoas que não entendem.

O GLOBO - A senhora, que foi do PT por muitos anos, como vê essa tentativa do partido de tentar propagar o medo?

MARINA - Eu venho de uma realidade tão difícil que o medo como recurso pode parecer a denúncia de um desespero. Fiquei quase 30 anos dentro do PT, e a nossa matéria-prima mais importante era a esperança. Se não há mais esperança e há necessidade de recorrer ao medo, alguma coisa deve estar errada.

O GLOBO - O último Datafolha mostrou que 30% do eleitorado não têm preferência por nenhum candidato. Como a candidatura de vocês pode atrair esses insatisfeitos?

MARINA - Primeiro, tratando essas pessoas com muito respeito porque não é por acaso que elas devem estar refratárias. Essas pessoas não se deixarão atrair. Elas terão que se convencer, e, para serem convencidas, imagino que seja bom que a gente possa ir com propostas e uma nova postura.

O GLOBO - Em Pernambuco, Eduardo Campos não conseguiu aposentar políticos tradicionais do estado, como tem dito que pretende fazer se for eleito presidente, e nomeou parentes, por exemplo, dos deputados Inocêncio de Oliveira e Severino Cavalcanti. A senhora acha que ele fez um governo dentro da nova ou da velha política?

MARINA - O que ele tem dito é que no governo dele a nova política se expressa na coerência do programa. Ele conseguiu fazer uma agenda que, na Educação, na Segurança Pública, no meio ambiente, na forma como escolhia os diretores das escolas, como eram feitos os processos de decisão, não tem nada a ver com Severino Cavalcanti ou com Inocêncio de Oliveira.

O GLOBO - Como a senhora viu pesquisa do Ibope que coloca a senhora como a vice que mais agrega votos?

MARINA - Prefiro ver como resultado da natureza da nossa aliança, que não é um ajuntamento de pessoas, com alguns segundos de televisão, algumas prefeituras, palanques, vereadores e não sei o que mais.

O GLOBO - Qual o significado de não ter uma candidatura própria em São Paulo?

MARINA - O problema de São Paulo é que é o estado mais importante da Federação e que o PSB de São Paulo tem uma estratégia que fortalece o PSDB, e não o próprio PSB. Esperamos que seja revista essa posição.

O GLOBO - O PSB de São Paulo faz a aliança pensando com a cabeça da velha política? Eles fizeram parte do governo Alckmin.

MARINA - Sabíamos das dificuldades que teríamos que enfrentar desde a primeira conversa, partimos do reconhecimento de que éramos dois partidos (Rede e PSB). Vamos nos esforçar para estarmos juntos na maioria dos estados. Onde isso não for possível, manteremos a nossa independência. Não vou subir nos palanques nos estados em que a Rede é independente. No caso do PSB de São Paulo, que tinha assumido o compromisso de que nós teríamos candidatura própria, eu lamento profundamente que eles tenha voltado atrás.

O GLOBO - Como vocês administram as diferenças?

MARINA - Imagino que você na sua redação deve ser diferente dos seus colegas.

O GLOBO - Por que é um equívoco apoiar o PSDB em São Paulo? O que o projeto de Alckmin representa?

MARINA - O PSDB está há 20 anos no governo, e você vê no que se transformou a questão ambiental. É só verificar a crise em relação ao abastecimento de água.

O GLOBO - Mas há uma forma de contornar essa situação em São Paulo?

MARINA - Considero que teremos uma vitória parcial se lançarmos uma candidatura independente para o Senado e não nos coligarmos nas eleições proporcionais (deputado estadual e federal).

O GLOBO - Por que há dificuldade com as alianças?

MARINA - Espero que possa haver uma compreensão de que o mais importante para que os querem fortalecer o nosso projeto é ter candidaturas alinhadas com ele em vez de alinhadas com outros projetos. Não sei por que as pessoas acham natural haver candidaturas para a Dilma e para o Aécio, e criam estranhamentos quando se trata de candidatura para o Eduardo.

O GLOBO - Quem faz isso?

MARINA - O tempo todo, alguns tratam a questão desta forma: está criando um problema porque quer que o Eduardo Campos também tenha um palanque em São Paulo.

O GLOBO - Isso é criar um problema?

MARINA - Imagino que aí a lógica vai em seu socorro.

O GLOBO - O PSB pretende lançar comitês Campos/Alckmin em SP?

MARINA - Não vi em nenhum momento o Eduardo Campos dizer que vai subir no palanque do Alckmin. Se os comitês forem Alckmin, Aécio e Márcio França, aí é outra coisa. A campanha do Eduardo Campos vai ser campanha do Eduardo Campos.

O GLOBO - O PSB de SP acha que pode atrair prefeitos do PSDB para a campanha de Campos.

MARINA - Não trabalho com essa métrica. Trabalho com a nossa determinação de quebrar a polarização.

Marina diz que os 20 milhões de votos de 2010 não são 'herança'

Entrevista. Marina Silva

• Para pré-candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, 'legado não pode ser apropriado nem por um partido, nem por uma pessoa'

Isadora Peron e Eduardo Kattah – O Estado de S. Paulo

Pré-candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva diz que os votos que teve na eleição de 2010 - quase 20 milhões (19,33% da votação do 1.º turno) - não poderão ser transferidos a um partido ou a um candidato na atual disputa. Ela diz não se tratar de capital político ou herança, e sim de um "legado".

A declaração da ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula ocorre num momento em que o pré-candidato do PSB ainda é uma incógnita eleitoral. Segundo o Ibope, Campos rompeu a barreira de um dígito e soma 13% da preferência do eleitorado. Se o nome de Marina aparece associado ao dele, o índice vai a 18%, deixando-o próximo do outro pré-candidato da oposição, o tucano Aécio Neves. Os institutos Datafolha e Vox Populi, porém, mostram o ex-governador de Pernambuco com 7% e 8%, respectivamente, ainda longe de se tornar uma terceira via competitiva.

O que a sra. achou da pesquisa Ibope divulgada na terça-feira?
Essas fotografias de momento não podem ser nem desconsideradas nem absolutizadas. A gente recebe a pesquisa com o respeito e a tranquilidade de quem sabe que estamos só no começo (da campanha). Em 2010, mais ou menos nesse período, eu estava com 5% ou 7%.

Até que ponto o seu capital político, conquistado em 2010, pode ser transferido para Campos?
Eu não trabalho com essa linguagem de capital político.

Por quê?
Eu considero o voto das pessoas como um ato de liberdade, em que ela dá aquele voto naquele momento e depois se recolhe para decidir por ela mesma em quem vai votar nas próximas eleições. Foi isso que eu fiz desde o começo. Nunca tratei os quase 20 milhões de votos nem como capital nem como herança, mas como um legado no sentido de que isso sinalizou fortemente para a sociedade que as pessoas também estão preocupados em debater propostas. Esse legado não pode ser apropriado nem por um partido nem por uma pessoa. Ele é sobretudo um ganho da qualidade política da sociedade brasileira. Hoje eu me disponho a dialogar com esse legado.

As candidaturas de PT e PSDB têm mais recursos e tempo de TV. Como o PSB vai rivalizar com esses partidos?
Primeiro, não temos a pretensão de rivalizar. A pergunta é como vamos fazer para compensar o fato de que não temos nem queremos confinar nosso projeto político à velha lógica das estruturas. Eu tenho insistido que esse novo sujeito político, que está surgindo no mundo e no Brasil, não está preocupado com as estruturas e que esta vai ser uma campanha em que a sociedade vai estar buscando enxergar as posturas. Se a Dilma ganhar, os autores dessa vitória serão, sem sombra de dúvidas, todos os meios e recursos em abundância de que dispõe para isso. Deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores, tempo de televisão, recursos... A mesma coisa acontece com o PSDB. No caso do nosso projeto, se vencermos, a autoria dessa vitória vai se chamar povo brasileiro.

Por que Campos ainda não conseguiu se tornar uma opção para quem demonstra um sentimento de mudança?
Nós ainda não tivemos os espaços para buscar esse convencimento. Isso vai acontecer quando começarmos a ter a cobertura da mídia, quando se iniciarem os debates. Neste momento estamos nos preparando para quando tivermos a oportunidade da exposição das ideias, do nosso projeto, as pessoas possam, a partir de seus critérios, entender que essa é uma alternativa para o Brasil, que será capaz de manter as conquistas, mas que se dispõe a corrigir os erros e enfrentar novos desafios dentro de uma ideia política que nem PT nem PSDB tem condição de protagonizar.

A sra. fala muito em quebrar a polarização entre PT e PSDB. Mas em São Paulo e em outros Estados o PSB estará coligado com os tucanos.
Em outubro, já estava claro que, no Paraná, o PSB iria com o PSDB, e que a Rede teria que adotar uma posição independente. Em outros Estados estamos em processo de construção de um consenso, como é o caso de Minas. O que eu sempre disse é que a Rede iria lutar para convencer que a melhor tese era a da candidatura própria, principalmente em São Paulo. O Eduardo Campos se convenceu disso desde o primeiro dia, tanto é que dialogou com o PSB, com o doutor Márcio França.

Mesmo assim o PSB paulista decidiu, na semana passada, apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Num primeiro momento, Márcio França foi a Brasília, disse que estava aceita a tese da candidatura própria, que ele seria o candidato, mas ele não se movimentou para viabilizar a sua candidatura e depois houve essa reunião que desconstruiu com o que ele havia se comprometido com o Eduardo. E o Eduardo sempre disse que não iria intervir nas instâncias dos partido.

Mas Campos interveio em 2012, para que o PSB apoiasse o PT em São Paulo.
Pois é. Eu acho que deve ter acontecido alguma aprendizagem em relação a essas situações. Neste momento ele tem uma agenda de buscar o convencimento com o partido, que tem 65 anos, que tem instâncias que se pronunciam. Eu vi ele fazendo isso no Amazonas, em vários lugares. E eu vi o quanto ele se esforçou para fazer o mesmo em São Paulo.

Em algum momento a sra. pensou em deixar a chapa presidencial depois da decisão do PSB em São Paulo?
O tempo todo as pessoas ficam buscando razões para que eu e o Eduardo nos desentendamos, mas nós estamos conversando o tempo todo. Quem estava convivendo com a situação sabia que não haveria intervenção (na decisão do diretório), então eu não posso dizer que eu estava esperando dele outra atitude.

E qual caminho a Rede pretende seguir em São Paulo?
Hoje o que está sendo discutido é a possibilidade de a Rede apresentar uma candidatura ao Senado. Eu, pessoalmente, considero isso uma conquista. É importante que o PSB mantenha um espaço independente, não coligado com o projeto político do PSDB, que governa São Paulo há 20 anos. Vamos olhar apenas para a agenda socioambiental do Estado de São Paulo. Não precisa nem ir nos detalhes. É só olhar o que está acontecendo com o abastecimento de água para mostrar o quanto essa agenda foi negligenciada. Eu não consigo entender como estar no projeto do PSDB, eleitoralmente falando, possa ser um ganho para a candidatura de Eduardo Campos.

Em quantos Estados PSB e Rede vão estar no mesmo palanque?
Estaremos juntos em 14 ou 15 Estados. Mas nós sempre dissemos que a base da nossa aliança era o programa nacional e que, onde não fosse possível estar juntos, iríamos manter as nossas independências.

A presidente Dilma Rousseff está indo mal nas pesquisas e há quem torça pelo "Volta, Lula". Se o ex-presidente fosse candidato, a sra. e Campos continuariam na disputa?
Em 2010, quando eu era candidata, eu respondi a essa pergunta com muita tranquilidade. Eu disse que aquela seria a primeira vez que eu não iria votar no Lula. Só que eu tinha uma razão bem interessante para fazer isso, porque eu ia votar em mim mesma. Sobre o "Volta, Lula", eu vou repetir aqui um coisa que eu costumo dizer. O Lula é, sem sombra de dúvidas, uma bala de prata do PT. Mas com dois problemas. O primeiro é que uma bala de prata nunca pode falhar, e o segundo é que eles teriam que fazer dois movimentos muito complexos, porque para usar a bala de prata contra os adversários, primeiro ela teria que ser usada contra a presidente Dilma.

Cesar Maia mantém candidatura e diz que não apoia Pezão

• ‘Como vou apoiar aqueles que eu faço oposição?’, diz vereador e ex-prefeito do Rio

Juliana Castro – O Globo

RIO - O vereador Cesar Maia (DEM) afirmou nesta quarta-feira que não tem a mínima chance de aceitar o pedido do presidenciável tucano Aécio Neves (PSDB) para abandonar a disputa pelo governo do Rio e apoiar a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Depois que parte do PMDB do Rio lançou a chapa Aezão - uma referência ao apoio a Pezão e Aécio -, o PSDB tem sido cortejado para compor formalmente a aliança com o PMDB. Mas, como o DEM é aliado nacional dos tucanos, Aécio tem tentado que Cesar desista da disputa para apoiar Pezão.

- Não vamos apoiar o PMDB em hipótese alguma - afirmou Cesar, ao sair do velório do ex-governador Marcello Alencar.

- Como vou apoiar aqueles que eu faço oposição? O eleitor não entende isso. É uma vergonha completa - completou.

Segundo ele, DEM, PSDB e PPS vão se coligar para as eleições proporcionais. Mas, se os tucanos resolverem apoiar Pezão, a aliança será desfeita sem traumas.

- Eu sempre digo para o Aécio: minha candidatura é irremovível. Sua decisão não vai influenciar na nossa relação - afirmou Cesar.

Aécio, Cesar e o presidente nacional do DEM, Agripino Maia, vão se reunir, embora a data e o local sejam incertos.

No velório, Aécio disse que vai respeitar a decisão do partido localmente. Os tucanos fluminenses, por sua vez, declaram que vai prevalecer a vontade de Aécio.

- Hoje, a nossa maior preocupação é com a construção das bases para um projeto nacional.

Cesar Maia descarta abrir mão de candidatura no Rio e nega apoio a PMDB

• Pré-candidato pelo DEM, sigla aliada ao PSDB na disputa nacional, o ex-prefeito afirma que não atenderá pedido da legenda para apoiar reeleição de Luiz Fernando Pezão ao governo carioca

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - Pré-candidato do DEM ao governo do Estado, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, garantiu nesta quarta-feira, 11, que não atenderá ao pedido do PSDB para abrir mão da candidatura e apoiar a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Maia terá um encontro, entre quarta ou quinta, com o pré-candidato do PSDB à presidência Aécio Neves, o presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia (RN), e o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto.

Segundo o ex-prefeito, serão discutidos alguns pontos pendentes em coligações estaduais. O DEM está aliado a Aécio no plano nacional, mas no Rio a aliança não está garantida, já que parte dos tucanos defende a chapa "Aezão", que junta Aécio e Pezão. "Nós não vamos apoiar o PMDB em hipótese alguma. Como explicar, depois de oito anos fazendo oposição, uma aliança com o PMDB? É uma vergonha completa", afirmou Maia.

O pré-candidato do DEM disse que não há ressentimento se Aécio optar pela aliança com o Pezão e que o DEM fará campanha para o tucano presidente da mesma forma. Questionado sobre a chapa Aezão, o ex-prefeito disse que ela interessa mais à dissidência do PMDB que rompeu o apoio a Dilma Rousseff para eleger Pezão. "Aécio tem experiência, tradição e juventude à vontade. Não me cabe avaliar com que elementos ele chegou à conclusão que (a chapa Aezão) é positiva. Aécio não é prioridade (para o PMDB). O objetivo deles é eleger o Pezão", afirmou o ex-prefeito.

Maia esteve na manhã desta quarta no velório do ex-governador e ex-prefeito Marcello Alencar, que morreu na madrugada dessa terça, aos 88 anos, de falência múltipla dos órgãos. O prefeito Eduardo Paes e Pezão estiveram cedo no velório, no Palácio da Cidade.

Perfis falsos de Aécio levam Justiça a apreender computadores de estatal

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Justiça determinou, nesta quarta-feira (11), a apreensão de computadores em um prédio da Eletrobras após pedido do Ministério Público do Estado do Rio, que investiga o uso dos equipamentos na criação de perfis ofensivos ao pré-candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves.

Os Ministérios Públicos do Rio e de São Paulo abriram investigações, também nesta quarta, para apurar o uso de pessoal e infraestrutura públicos nos ataques a Aécio.

O procurador-geral de SP determinou à Promotoria de Guarulhos que investigue o uso de equipamentos e servidores da prefeitura local para criar perfis falsos que associavam o tucano ao consumo de álcool. Já o Ministério Público do Rio ordenou a investigação de perfis que disseminavam comentários ligando Aécio ao desvio de verbas. Esses perfis usaram o mesmo expediente para ligar o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) a milícias.

Ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa é preso no Rio

• Suíça bloqueou US$ 23 milhões que estariam em contas do ex-dirigente da estatal. Advogado afirma que seu cliente não possui contas no exterior

Cássio bruno, Germano Oliveira, Julianna Granjeia e Antonio Werneck – O Globo

SÃO PAULO e RIO — O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi novamente preso preventivamente na tarde desta quarta-feira. A decisão foi proferida pelo Juiz Federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, com base em novas provas trazidas pelo Ministério Público Federal (MPF) de que o ex-diretor da estatal tem milhões de dólares em contas no exterior, bem como pelas razões que já haviam determinado a anterior prisão dele. As novas informações foram obtidas mediante cooperação internacional entre o MPF e o Ministério Público da Suíça.

Paulo Roberto Costa foi preso em casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, por volta das 16h. Escoltado, ele foi encaminhado para a Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá. Sem falar com a imprensa, permaneceu por 20 minutos no local, e foi encaminhado para o Instituto Médico Legal para exame de corpo de delito, praxe nestes casos, e voltou à superintendência por volta das 18h. De acordo com a PF, o ex-diretor da Petrobras passará a noite no local, numa cela improvisada para casos de emergência, e será transferido nesta quinta-feira para Curitiba, onde o caso tramita.

Em entrevista ao GLOBO, o advogado de defesa Nélio Machado afirmou que entrará nesta sexta-feira com recurso para que seu cliente responda o processo em liberdade, já que nesta quinta o judiciário não vai funcionar devido ao jogo do Brasil. Segundo Machado, o caso não deveria estar correndo pela justiça federal do Paraná, e sim pelo Supremo Tribunal Federal, por envolver parlamentares, como o deputado André Vargas (sem partido-PR), e Cândido Vacarezza (PT-SP). O advogado criticou a iniciativa do STF de transferir os processos para a justiça federal do Paraná:

— Eu até me sinto desconfortável pela forma que o Supremo atuou. Havia uma petição pendente do julgamento, uma petição da defesa protestando por ter conhecimento da data do julgamento. Até porque permite ao advogado fazer a sustentação oral, usar a tribuna. Isso foi julgado pela segunda turma (do STF), no mesmo momento em que o meu cliente dava a declaração à CPI (da Petrobras), sem que o advogado fosse informado direta ou indiretamente pelo STF. Essa decisão do Supremo é totalmente questionável — disse o advogado.

Ele também negou que Paulo Roberto Costa tenha contas no exterior e alegou também que o cliente não oferece perigo de fuga, já que seus passaportes brasileiros e portugueses foram entregues de forma voluntária:

— Essa prisão é açodada, é uma precipitação. Meu cliente vai apresentar sua defesa. A alegação de existir conta no exterior nada significa, mas meu cliente não tem conta no exterior — declarou Machado, que disse ter sido informado da prisão do ex-diretor da estatal no velório do ex-governador Marcello Alencar.

A Justiça do Paraná confirmou hoje o bloqueio, feito pela Suíça, de US$ 23 milhões em contas que seriam movimentadas no exterior por Costa. Além disso, foram bloqueados mais US$ 5 milhões, em contas que estariam em nome de familiares de Costa e também do doleiro Alberto Yousseff.

A Justiça do Paraná começou a despachar hoje os processos que foram devolvidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com exceção dos autos referentes ao deputado petista André Vargas, que tem foro privilegiado.

Segundo a Justiça paranaense, o bloqueio das contas no exterior foi feito no início dessa semana, de acordo com documentos enviados pelo Ministério Público da Confederação da Suiça. A organização da Suíça informou que identificou 12 contas bancárias em cinco bancos daquele país, sob controle de Paulo Roberto Costa, de suas duas filhas, dois genros e de um funcionário do doleiro Youssef, somando os valores de US$ 28 milhões, sendo que US$ 23 pertenceriam ao ex-diretor da Petrobras. Ainda segundo o Ministério Público Suíço, os valores bloqueados são mantidos em nomes de contas de off-shores. Segundo as investigações, tais contas seriam alimentadas com recursos desviados durante as obras de construção da refinaria Abreu Lima.

Costa, que ficou preso na superintendência da Polícia Federal por conta da Operação Lava Jato, foi solto no último dia 19, beneficiado por uma decisão do ministro do STF, Teori Zavascki. Yousseff também foi beneficiado com a decisão do ministro, que voltou atrás e manteve em liberdade apenas o ex-diretor da Petrobras.

*José Serra: Governo apaga uma má ideia e copia uma boa

• A Lei Antifumo não é nova. De todo modo, cabe-me dar boas-vindas aos neoantitabagistas

- O Estado de S. Paulo

O governo federal anunciou, com a retumbância com que habitualmente se apropria do que não lhe pertence, a regulamentação da Lei Antifumo. Nunca foi tão verdadeira a frase segundo a qual as gestões petistas têm ideias boas e novas. Só que as novas não são boas e as boas não são novas. A proibição da publicidade (enganosa) de cigarros foi feita há 14 anos, no governo FHC, ao lado da proibição do fumo em aviões e de alertas sobre os perigos para a saúde estampados nos maços do produto.

Mais ainda, no Estado de São Paulo, há muitos anos enviei à Assembleia Legislativa um projeto banindo o fumo dos locais fechados de uso coletivo, públicos ou privados, e proibindo os famigerados "fumódromos".

Na vida pública travamos certas batalhas que são apenas necessárias porque constituintes mesmo da tarefa: organizar a administração, dinamizar a burocracia, lidar com a escassez de recursos em face de demandas sempre crescentes, encurtar as atividade-meio para que a gestão possa dedicar-se a seus fins. E há as batalhas volitivas, que são escolhas, as quis têm o potencial de mudar para sempre a realidade, instituindo-se, então, uma nova cultura. Na minha trajetória política, orgulho-me, em particular, de três opções - contrariando, muitas vezes, algumas vozes até sensatas, movidas pela prudência, que me alertaram de que poderia estava mexendo em vespeiro. E estava mesmo.

A estruturação de uma política nacional de combate à aids custou-me, sim, muitas dores de cabeça. A quase unanimidade das pessoas reconhecia que era preciso dar uma resposta de Estado à epidemia, mas havia um grande mal-estar porque a campanha educativa sobre o assunto mexia com certos tabus comportamentais envolvendo a sexualidade. Passados tantos anos, não nos damos conta das barreiras que foram quebradas.

A distribuição gratuita de remédio para as pessoas contaminadas também se afigurava custosa e complicada, de logística difícil. Mas insistimos. E o País teve reconhecido pela ONU seu papel de vanguarda na luta contra esse terrível mal. Em razão dos preços exorbitantes dos medicamentos contra a aids, protegidos por patentes, que tornavam inviável nosso programa, intimamos os fornecedores: ou reduziam os preços ou imporíamos a licença compulsória para sua fabricação. Ganhamos essa batalha aqui, em nosso país, e na Organização Mundial do Comércio, que, por nossa iniciativa, aprovou o direito de o Brasil e outros países em desenvolvimento adotarem tal medida.

Outra luta difícil foi a implementação dos medicamentos genéricos. Uma leitura torta - que nem direi "fundamentalista" porque, parece-me, era mais burra que de princípio - via na sua produção uma afronta à Lei de Patentes, apesar de os genéricos serem clones mais baratos de medicamentos com patentes vencidas. Desde o começo do bom combate deixei claro que não se tratava de opor uma suposta luta humanista a dogmas de mercado. Era essa uma falsa oposição. E se era de lei de mercado que se falava, o que vi foi o florescimento da indústria farmacêutica no País.

Nos governos petistas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi loteada entre partidos e facções de partidos, voltando-se à prática de criar dificuldades para vender facilidades. Quando deixamos o Ministério da Saúde, um remédio genérico era aprovado em quatro ou cinco meses. No governo petista chega-se, em média, a 30!

A terceira escolha que nem sempre me rendeu simpatias e da qual poderia ter declinado foi o combate ao cigarro. Erra feio quem imagina que decidi transformar em política pública uma intolerância pessoal. Era preciso dar início a um trabalho de educação que implicasse a redução da aceitação social do cigarro, desestimulasse os jovens a experimentá-lo, dificultasse o acesso ao produto, rompesse a bolha de glamourização de uma prática nefasta e preservasse a saúde dos fumantes passivos.

A Lei Federal 10.167, de dezembro de 2000, baniu a propaganda de cigarro de TVs, rádios, jornais e eventos esportivos. A pressão foi gigantesca. Se a questão dos genéricos mexia com um dogma, a proibição da propaganda de cigarro tocava em outro: muitos chegaram a ver uma agressão explícita a direitos individuais, como se estivéssemos tentando fazer escolhas em lugar dos cidadãos. Em fevereiro de 2002 os maços de cigarro passaram a ostentar fotos que alertam para os males do tabaco.

Compreendo, sim, as críticas de que não há Estado autoritário o bastante que proíba o suicídio - afinal, as pessoas podem alegar que têm o direito de se matar. É verdade. Mas também desconheço Estado que seja tão liberal a ponto de permitir que se crie e institua uma verdadeira indústria da morte. Há documentos em penca demonstrando que a indústria tabagista, em passado nem tão distante, se concentrava na conquista da adesão dos jovens - os adultos são clientes cativos, pois dificilmente conseguem largar o vício. E o caminho era exatamente a propaganda enganosa, ligando o cigarro à beleza, à vida saudável e à virilidade. Chegou-se mesmo a estampar no produto advertência como "consuma com moderação", sugerindo que pudesse haver níveis seguros de consumo de tabaco.

Diga-se que o sucesso das medidas antitabagistas foi espetacular: o consumo per capita de cigarros no Brasil caiu cerca de 33% entre a década de 1990 e a passada. Só entre 2006 e 2012 o número de fumantes caiu 20%. Hoje, 87% dos fumantes dizem que se arrependeram de ter adquirido o hábito!

A lei federal que vai entrar em vigor em seis meses há muito está em curso no Brasil; uma parte dela, em São Paulo e alguns outros Estados. Não é nova, mas é boa. Aliás, quando o petismo se limita a repetir experiências bem-sucedidas, deve ser aplaudido. O problema é que essa turma prefere errar sempre de modo muito original - a total falta de iniciativa nessa área há 11 anos e a demora em regulamentar a lei, aprovada há dois anos, são parte desses erros.

De todo modo, cabe-me dar boas-vindas aos neoantitabagistas. Aplaudo o PT quando apaga uma má ideia e copia uma boa.

*Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo

Merval Pereira: Pão e circo

- O Globo

A Copa do Mundo de futebol começa hoje em São Paulo sem que dois personagens centrais de sua organização possam sequer aparecer no telão do Itaquerão, ou terem suas presenças no estádio anunciadas, justamente os que pensavam em retirar do evento dividendos políticos, cada qual à sua maneira: a presidente Dilma, candidata petista à reeleição, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, também almejando mais uma recondução ao cargo.

Outro grande ausente da cerimônia de abertura será o ex-presidente Lula, responsável pela construção do novo estádio e torcedor fanático de futebol, mas sem condições de se expor ao público sem correr o risco de uma vaia. Aliás, é de se notar que nenhum candidato à Presidência da República pretende dar as caras no estádio.

Situação distinta da que passou o então governador de Alagoas, Fernando Collor, que escolheu o desfile de escolas de samba de 1988 para testar sua popularidade, e foi amplamente vitorioso na ocasião, pavimentando o caminho para sua eleição à Presidência da República no ano seguinte.

Aconselhados pela vaia que levaram na abertura da Copa das Confederações, Blatter e Dilma preferiram o anonimato, ambos utilizando-se de cerimônias em recinto fechado para fazerem seus pronunciamentos oficiais. A presidente Dilma usou a prerrogativa do cargo para se defender das críticas em cadeia nacional de televisão, sem possibilidade de reação da plateia.

Blatter enfrentou a oposição europeia à sua permanência no cargo ao comandar a cerimônia oficial da assembleia da Fifa, e não contou com a solidariedade da presidente Dilma, que pretextou uma providencial gripe para não comparecer à reunião como prometera a ele.

O fato é que as acusações de corrupção contra a direção da Fifa vêm aumentando de tom à medida que se descobrem indícios fortes de que a escolha do Qatar para sede da Copa de 2022 teve interferências indevidas e subornos dos delegados. O que deveria ser a apoteose do projeto iniciado há sete anos, quando a Fifa escolheu o país do futebol para sediar a Copa do Mundo, transformou-se em um pesadelo para o governo e para a Fifa, e mostrou que o povo brasileiro não é exatamente o que pensavam que era: acrítico diante da possibilidade de ver os principais craques do mundo da bola ao vivo em suntuosos estádios.

A confirmação da intenção eleitoreira do governo brasileiro está na escolha de 12 sedes para a Copa, em vez das tradicionais oito. E na tentativa, revelada recentemente, de termos nada menos que 17 sedes, para que a miríade de partidos da coalizão governamental pudesse tirar proveito político do campeonato.

O povo brasileiro vai dando um exemplo de como é possível separar o joio do trigo sem perder a naturalidade. Adora futebol, está apoiando a seleção brasileira, mas não está com ânimo de esquecer seus problemas apenas por causa do futebol.

Fora os vândalos, que se perderam na ameaça de “não vai ter Copa”, e os aproveitadores sindicais, que se utilizam do momento para chamarem a atenção para suas reivindicações sem pensar no coletivo, não há quem não saiba separar os jogos das jogadas políticas como a da presidente Dilma — que utilizou um instrumento de comunicação do Estado para defender seu governo das críticas, como se a maioria que vê abusos e desarranjos na organização da Copa possa ser classificada apenas de “pessimistas”.

A tentativa de “transformar em motivo de orgulho nacional obras inacabadas, gastos superfaturados e a absoluta falta de capacidade de gestão deste governo”, como disse em nota oficial o PSDB, deve ter se transformado em um tiro no próprio pé, pois é difícil acreditar que a “bronca” da presidente nos “pessimistas” os faça mudar de opinião.

Da mesma maneira que Joseph Blatter tentou calar as vaias no estádio de Brasília na Copa das Confederações dando uma lição de educação aos torcedores, a presidente na noite de terça-feira tentou convencer a população de que não há motivos para desencantos.

Não entenderam até agora que, em vez do folclórico e dócil povo brasileiro que se encantaria com a magia da Copa do Mundo, há uma sociedade inquieta em busca de um futuro que não se resuma a pão e circo.

Dora Kramer: Aliados em fuga

• Ambiente interno no PSD é de pressão para que Kassab rompa com Dilma

- O Estado de S. Paulo

Depois de 40% dos convencionais do PMDB explicitarem sua discordância com a renovação da coalizão com o PT para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, significando que parte robusta da mão de obra do partido não fará campanha para ela, agora é a vez de o PSD se rebelar contra a aliança.

O desconforto vem crescendo na mesma proporção da queda dos índices de intenção de votos e do aumento do grau de rejeição da presidente nas pesquisas.

Os dados apurados pelo Datafolha sobre São Paulo foram considerados definitivos: no maior colégio eleitoral do País, ela aparece praticamente empatada com o tucano Aécio Neves no primeiro turno e no segundo perderia tanto para ele quanto para Eduardo Campos por larga margem.

Em uma conversa marcada para ontem com o ex-prefeito Gilberto Kassab, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, seria o porta-voz da cobrança por uma definição imediata e radical. Quer dizer o seguinte: não apenas por uma aliança com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumindo o lugar de vice na chapa pela reeleição, mas um rompimento no plano nacional.

Uma volta atrás na palavra empenhada de que o partido estaria com a presidente em quaisquer circunstâncias. Em São Paulo a união com o PSDB seria uma mera "soma de conveniências", com suspensão temporária da antipatia mútua entre Alckmin e Kassab.

Em relação à eleição para a Presidência, o argumento para a ruptura é o seguinte: o compromisso do PSD nunca foi com o PT e sim com Dilma Rousseff; na medida em que sua candidatura "derrete" (sim, essa é a expressão usada), o partido não pode nem deve se sentir obrigado a derreter junto.

O ambiente interno no PSD é de rebelião contra a aliança, sentimento que pode vir a se expressar na convenção do partido marcada para o fim do mês.

O cenário ideal na avaliação dos pessedistas seria Kassab aceitar romper com Dilma e negociar uma aliança formal com o PSDB e a indicação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para vice na chapa de Aécio Neves.

Pelo sim, pelo não, fato é que o tucano havia decidido anunciar seu vice antes da convenção do partido marcada para o próximo sábado. Mas agora faz suspense e deixa no ar a possibilidade de deixar o anúncio para depois, a fim de avaliar se insiste na chapa puro-sangue ou se consegue atrair algum aliado que acrescente capital eleitoral.

Fonte segura. Defensor do financiamento público de campanha, o PT já arrecada boa parte desse tipo de recurso por meio do dízimo que os filiados empregados na máquina pública são obrigados a pagar ao partido.

Ao fim e ao cabo, significa transferência do dinheiro do contribuinte - petista ou não - para os cofres da agremiação. No início do primeiro governo Lula, a oposição levantou essa questão, mas estavam todos tão encantados com o "governo operário", ao qual tudo era permitido, que ninguém deu atenção.

Faca no peito. A ex-senadora Marina Silva tem todo o direito de não gostar da decisão do PSB de São Paulo de apoiar o governador Geraldo Alckmin.

Só não dispõe da prerrogativa de tentar impor sua vontade à resolução de seção regional de um partido ao qual escolheu se filiar quando sua própria legenda não obteve registro na Justiça Eleitoral.
Marina ameaça não participar da campanha de Eduardo Campos em São Paulo se a convenção do PSB não mudar a resolução do diretório para seguir a orientação dela.

Se a ideia da ex-senadora era comandar, deveria ter-se filiado a um partido que lhe desse a legenda para concorrer à Presidência, e não se oferecer ao PSB, aceitando a condição de coadjuvante de luxo. Pela ordem natural das coisas, protagonista será, assim que a Rede Sustentabilidade obtiver o registro.

Aí terá legitimidade para mandar e desmandar.

Murillo de Aragão: Nostalgia e desconfiança ameaçam Dilma

- O Tempo (MG)

Em queda há meses nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de outubro, a presidente Dilma Rousseff (PT) começa o mês de junho com diversos problemas. O primeiro é a desconfiança crescente entre as bases governistas de que ela não consiga se reeleger. Ainda que os candidatos oposicionistas não cresçam, a queda de Dilma e o aumento do número de indecisos são preocupantes.

O segundo problema se refere à questão econômica. Com o PIB andando de lado e o espectro da inflação rondando o país, Dilma corre risco na única área em que o insucesso será fatal para o seu projeto de reeleição. Se o ambiente econômico continuar piorando, ela chegará ao segundo turno bastante enfraquecida e terá de fazer uma campanha pesada para assegurar o favoritismo.

O que fica patente é que, no campo econômico, Dilma perdeu a confiança dos principais agentes. Mercado e empresários não confiam no governo. E ela nada fez de concreto para recuperar a confiança que mereceu no início de sua gestão.

O terceiro problema é o que o jornalista Josias de Souza indica como deterioração estética do governo. Nesse sentido, vejo que o mais grave é a ausência de uma narrativa própria de Dilma. A ponto de existirem vários “movimentos retrôs”: o “volta, Lula” no mundo petista; o reconhecimento do eleitorado de que Lula é o mais capacitado para fazer mudanças; e a propaganda partidária que sugere a perda de ganhos conquistados pelas classes populares, caso a oposição vença as eleições.

Sem uma narrativa própria, Dilma se vê às voltas com o que ela mesma reconhece como a sua maior ameaça: os movimentos da base governista contra a sua candidatura. O que é irônico é o fato de chegarmos às portas das eleições com uma tônica constante nas eras Lula e Dilma: os maiores obstáculos são causados pelo próprio governo e sua base.

Josias de Souza aponta que o governo acredita que a participação de Lula na campanha é suficiente para remediar as dificuldades. Josias diz ainda que tal crença é ilusória. Pois bem, Lula continua sendo o agente político de maior potência eleitoral e certamente pode definir a eleição a favor de Dilma.

Mas o Planalto deveria ajudar. É verdade quando Josias afirma que Dilma depende muito mais dela própria do que de Lula para ganhar as eleições. Para isso, três pontos são fundamentais: recuperar a imagem da equipe econômica, melhorar a comunicação com os aliados e o eleitorado e trabalhar para que a Copa do Mundo não seja um fracasso.

É impressionante como o governo, mesmo em tempos de escassez de boas notícias, não consegue ter uma visão estratégica do que comunicar nem tampouco de como comunicar. Por exemplo, o governo Dilma conseguiu baixar significativamente os índices de miséria no Brasil. Em três anos, a extrema pobreza foi dramaticamente reduzida: mais de 22 milhões de brasileiros deixaram essa condição.

Apesar da relevância dos fatos, o Planalto não os comunica adequadamente e acaba ficando refém de uma lógica publicitária ultrapassada e ineficiente. Além de não ter uma estratégia de comunicação com stakeholders da sociedade, não lança mão do imenso potencial das realizações sociais da era Lula-Dilma nem abre canais diretos de comunicação com os grandes agregados de eleitores.

Dilma deveria falar especificamente para mulheres, jovens, minorias, empresários, trabalhadores. Para tanto, deveria segmentar as mensagens e os meios. Fala-se muito em democratização das comunicações no governo e nas esferas políticas do PT, mas o universo governista demonstra incapacidade de se comunicar em tempos de abundância de meios e existência, ainda que pequena, de boas notícias.

Ao se decompor a atividade do governo, encontram-se diversas medidas positivas que beneficiam parcelas importantes do eleitorado. Falta o trabalho de identificar o quê e como comunicar a quem deve receber a mensagem. No campo econômico, não é necessário falar muito. O governo flerta perigosamente com o fracasso. O resultado é o decréscimo na confiança da população quanto ao futuro, o que ficou evidente na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada: 36% dos brasileiros entrevistados estão pessimistas com o futuro; e 68% creem que a inflação vai subir.

Apesar das mensagens preocupantes das pesquisas, tanto no que se relacionam à preferência eleitoral quanto em termos de expectativas e, ainda, em relação à clara preferência por Lula pela maioria do eleitorado, nada de novo está acontecendo. Para o governo, a Copa, dependendo de seu resultado, pode fazer tudo piorar ou melhorar. Pode fazer piorar se nada for feito e se a Copa for confusa ou redundar em fracasso. Pode fazer melhorar se mudanças de rumo forem tomadas e a Copa for positiva.

É “se” demais para quem poderia estar liderando as pesquisas com folga.

Murillo de Aragão é cientista político.

Jarbas de Holanda: A candidatura à reeleição e a Copa

De um lado a persistência de queda das avaliações da presidente/candidata, registrada nas pesquisas de junho do Datafolha e do Ibope. De outro, uma sequência de projeções negativas sobre o comportamento da economia (PIB, inflação e outros indicadores), por parte de lideranças das diversas atividades produtivas, de analistas e de instituições financeiras internas e externas, inclusive o Banco Central. Tal combinação está reavivando os receios com os resultados da disputa presidencial num 2º turno, dado como certo, no PT e nos partidos da base governista. E gerando a retomada de pressões em bases e parlamentares petistas e nos aliados em favor do “volta Lula”.

De par com o aumento das resistências, nestes, à confirmação do apoio à candidata nas convenções partidárias. Resistências que se manifestaram ontem na do PMDB (por meio de 41% de votos contrários), com a redução do apoio convencional basicamente à cessão de tempo de propaganda eleitoral “gratuita”. Que se expressarão em palanques estaduais em que esses aliados terão posturas contrapostas à negociada nacionalmente. E que poderão levar legendas como o PP e o PSD à neutralidade ou troca de alianças.

Novas pesquisas que não reverterem as tendências das mais recentes (que incluem forte crescimento da rejeição a Dilma) vão potencializar uma cobrança do “volta Lula” bem mais intensa do que a que foi contida entre abril e maio por enorme esforço do ex-presidente e pela expectativa de efeitos “positivos” do desencadeamento de caríssima e agressiva ofensiva de marketing. Que se mantém, mas sem produzir tais efeitos. Neste quadro, o que poderá salvar a candidatura de Dilma será a capitalização de uma vitória final de nossa seleção na Copa da Fifa. O que, ocorrendo, melhorará suas condições para manter-se na disputa. Sem que, entretanto, represente qualquer garantia de sucesso eleitoral.

A derrota do grevismo insurrecional
Por parte do governo paulista, a combinação de sensibilidade política (chegando à oferta de um reajuste salarial de 8,7%, bem acima da inflação, num contexto de dois anos sem atualização da tarifa) com firmeza na manutenção da oferta, no enfrentamento de ações ilegais utilizadas pelo sindicato dos metroviários e, por fim, após reiterada qualificação da greve como ilegal e abusiva, demissão por justa causa de parcela dos grevistas que se recusaram a voltar ao trabalho. E, da parte do TRT/SP, sério tratamento institucional da demanda trabalhista (avaliação técnica das propostas de reajuste e respaldo à da Cia. Do Metrô), apelos recusados para cessação do movimento, declaração dele como ilegal e abusivo e determinação de multas pelo insistente e ostensivo desrespeito às restrições de paralisações de serviços essenciais.

O grupo de dirigentes e filiados ao PSTU que comanda o sindicato não contava com essas reações do governo Alckmin e do judiciário trabalhista em seu plano de, propondo e manipulando um reajuste inviável, aproveitar a conjuntura eleitoral e as vésperas da Copa da Fifa com objetivos bem identificáveis. Entre os imediatos, gerar um prolongado caos do transporte público capaz de desacreditar política e administrativamente o governo paulista e pôr em xeque a abertura da Copa, tornando o Palácio do Planalto refém da greve e induzindo-o a negociar com ele, passando por cima do governador, o fim do movimento. 

Entre os objetivos “estratégicos”, a desmoralização de leis e instituições “burguesas”, em aliança com outros “movimentos sociais organizados”, como o das invasões de terras e imóveis urbanos e o Passe Livre.

São bons os dividendos institucionais, político-administrativos e sociais da derrota do grevismo insurrecional tentado pelo PSTU. Derrota antecipada pela montagem de piquetes do sindicato para impedir a volta de metroviários ao trabalho. E pela “suspensão temporária” da greve para evitar a evidência do amplo esvaziamento dela, de segunda para terça-feira. Esta também dissimulada pela ameaça de retorno do movimento amanhã.

Jarbas de Holanda é jornalista

João Bosco Rabello: Dissidência do PMDB reflete tamanho do risco de Dilma

- O Estado de S. Paulo

Com uma variação para mais, o resultado da convenção do PMDB foi o esperado: o partido renovou o apoio à aliança com o PT para a disputa da presidência da República, reservando-se o direito de não estender o compromisso às estruturas regionais que cuidarão de seus cenários como lhes convier.

Alguns aspectos desse processo são reveladores do distanciamento do partido em relação à presidente da República, com origem na difícil convivência com o PT. A naturalidade com que os dirigentes avalizaram a renovação do crédito em contraste com a falta de garantias, é uma síntese da fragilidade do contrato político.

A começar pela cédula de votação. Nela, o nome do vice-presidente Michel Temer, como a referência do evento, do PT, como beneficiário da aliança, sem qualquer menção ao nome da presidente.

Significa que o partido apoia Temer para manter-se como vice da chapa que surgir – que poderá ter Dilma na cabeça, se a convenção do PT, daqui a 20 dias, confirmá-la.

Poucos acreditam na possibilidade de Dilma vir a ser substituída pelo ex-presidente Lula, mas também poucos se dispõem a apostar uma mariola de padaria no contrário. A queda da presidente nas pesquisas, consistente e gradual, tornou inseguro o ambiente da reeleição, sobretudo porque a ampla exposição de Dilma na mídia – espontânea e oficial – não alteram os maus índices.

Ainda ontem, depois do longo pronunciamento da presidente em rede nacional de televisão, uma peça de campanha escancarada com dinheiro do contribuinte, a reação da oposição era mais para marcar posição do que de incômodo. O espaço na televisão já não garante à presidente melhora nas pesquisas.

Ao contrário, os candidatos de oposição, especialmente o senador Aécio Neves (PSDB) dão indicações de crescimento após a primeira inserção na televisão, o que autoriza a expectativa otimista com o início da fase de propaganda gratuita. Já Eduardo Campos parece ter sua dificuldade mais localizada em erros de campanha do que nos recursos que possam lhe expor mais ao público.

A principal dificuldade para a troca de Dilma por Lula está em seu condicionamento à renúncia da presidente à candidatura. Depois de confirmada na convenção, sua saída só será possível por essa via.

E, antes, seria preciso atropelá-la, diante da manifestação já feita por ela de que “irá até o fim”.

O tema deixou de ser objeto de movimento público, com a dose de agressividade que exibiu durante meses, quando a perspectiva de vitória era maior. Mas passou a frequentar as conversas em qualquer mesa política – do governo e da oposição. O risco concreto da derrota, trazido pela última pesquisa Data Folha, acendeu o sentido de sobrevivência dos que buscam a renovação de seus mandatos.

Especialmente o dado secundário da pesquisa, que mostra a derrota de Dilma em São Paulo, numa simulação de segundo turno, para qualquer um dos candidatos de oposição, assustou o PT. Por ele, Aécio venceria Dilma por 46% a 34%. Campos, por 43% a 34%. Nesse último caso, o drama aumenta: o candidato do PSB tem apenas 6% da intenção de votos do eleitorado paulista, mas na simulação vai a 43%.

Equivale a dizer que o eleitor vota ater no candidato que não conhece, mas não na presidente. Reflexo da fragilidade do PT no Estado, onde o prefeito Fernando Haddad não somou votos para o candidato ao governo, Alexandre Padilha – que, por sua vez, estagnou nas pesquisas desde o envolvimento de seu nome na operação do ministério da Saúde com o laboratório de fachada, Labogen, do doleiro Alberto Youssef.

Para alguns, o PT paulista vive drama semelhante ao do PSDB nos anos 90, quando sofreu fragorosa derrota de todos os seus ícones e perdeu o governo para Orestes Quércia e Luis Antonio Fleury. Mesmo os que discordam da comparação concordam que o partido vive seu momento mais difícil no Estado.

O mapa da queda de Dilma guarda outro aspecto importante para a oposição: ela é maior na região sudeste que abriga os três maiores colégios eleitorais do país – São Paulo, Minas e Rio, nessa ordem, o chamado Triângulo das Bermudas.

É nele que Aécio Neves apostou suas fichas, convicto de que Dilma não repetirá as votações anteriores nas regiões Nordeste e sul, como mostram os cenários de Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, mais Bahia, Pernambuco e Ceará.

Era preciso, então, tirar-lhe votos no sudeste e transferi-los para o candidato de oposição, o que vem sendo sinalizado nas pesquisas. A dissidência de 40% na convenção do PMDB indica que o partido recorreu ao velho esquema de manter-se pronto para alterar rumos, conforme os ventos soprem após a Copa do Mundo, quando efetivamente a campanha decola.

Adelson Vidal Alves: O nome da esquerda, segundo Safatle

• SAFATLE, Vladimir. A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três Estrelas, 2012.

- Gramsci e o Brasil

O presente livro é uma espécie de apelo para o resgate daquilo que o autor considera como elementos centrais que compõem a essência histórica da esquerda. Uma essência que deve ser recuperada como forma de resposta às crises atuais, que estariam demonstrando o fracasso do capitalismo liberal e trazendo a exigência de uma esquerda renovada e pronta para assumir a tarefa da construção de outra ordem social.

Para isso, invoca dois princípios básicos: o igualitarismo e a soberania popular. O primeiro, entendido como o reconhecimento de um Estado intervencionista na redistribuição de renda, um Estado que combata as desigualdades. A segunda, como sugere o termo, seria a autoridade suprema da vontade popular, esta que poderia até mesmo suspender, em nome da justiça, o Direito que qualifica os atuais Estados modernos.
Safatle se mostra simpático às rebeliões populares quando estas miram governos e “Estados ilegais”. A rebelião não só seria um recurso, mas um direito que estaria presente na tradição política. De Locke e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, até Constituições modernas que vigoram em alguns países. Seu apoio a enfrentamentos, até mesmo com violência, como veremos, não se resume a governos ilegítimos, mas também abrange os que pertencem à forma do Estado democrático de direito. A resistência popular justa estaria, assim, acima das leis.

No primeiro capítulo, o filósofo da USP defende que o igualitarismo exige, da esquerda, um comportamento “indiferente às diferenças”. Safatle percebe que o mundo atual apresenta novas formas de conflitos, distribuídos nas categorias de gênero, raça, cultura e nacionalidade. Tais diferenças deveriam ser tratadas com desinteresse pela esquerda. Esta deveria preocupar-se com o internacionalismo, que comporia seu DNA inicial. Os debates identitários precisariam ser ignorados em nome da recuperação da universalidade como eixo da construção das políticas de esquerda.

O acerto do autor se dá na percepção de que o multiculturalismo chega para fragmentar, tirar do horizonte qualquer perspectiva de totalidade. Ao trazer a cultura, a política e a sociedade para campos cada vez mais fatiados da vida coletiva, o universal acaba por desaparecer, abrindo espaço para uma sociedade de corporativismos e segregação. Não se pode deixar de perceber que, de certo modo, Safatle parece acreditar que as disputas modernas ainda se concentrem nas classes sociais. Mostra-se, assim, certo economicismo em seu pensamento — quem sabe o dogmatismo que contamina grande parte da intelectualidade de esquerda, ainda com vícios esquemáticos do século XIX e início do XX?

O autor não parece se preocupar com as profundas mudanças no interior do mundo do trabalho, na perda de relevância da luta de classes, na metamorfose da consciência do sujeito social moderno. Parece insistir na “indiferença com as diferenças” sem atentar para a necessidade de um diálogo atual com a realidade concreta.

Não soa de bom senso desconsiderar que as identidades nacionais permaneçam fontes de conflitos que movem a história. Que ainda há a necessidade de uma esquerda nacional. Mesmo diante da globalização, que internacionaliza não só os mercados, mas também a cultura e a política, há de se ficar atento à vitalidade não só de nação e sua ideia de pertencimento, mas também à forma político-institucional em que se expressa esta identidade, isto é, o Estado nacional.

O segundo capítulo, já por seu enunciado, é um convite à polêmica. Sobretudo, porque vivemos numa época em que o Estado democrático de direito representa forma superior de organização social, que progressivamente vem substituindo conflitos abertos e violentos por resoluções consensuais — consensos, aliás, sempre renováveis.

Porém, para Safatle, o Estado de direito poderia às vezes ser anulado, desde que a soberania popular e sua justiça entrem em confronto com o ordenamento jurídico vigente. A ocupação de prédios públicos, a invasão de propriedades ditas improdutivas, a violação da liberdade de ir vir através de piquetes, etc., seriam perfeitamente toleráveis, mesmo sendo ilegais, já que a causa pelo qual falam seria justa. Há, em Safatle, a dissociação entre a justiça e o Direito.

Obviamente, podemos discutir o quanto uma lei é justa, mas a grande questão, que o filósofo ignora, é o valor subjetivo que a palavra “justiça” pode trazer. Expropriar uma determinada extensão de terra particular, para fins de reforma agrária, para uns soa como justo, para outros, seria um roubo.

A forma moderna de resolver estes impasses tornou-se concreta nas instituições democráticas que surgiram nos séculos XIX e XX. As leis já não são o fruto de decisões de um só soberano, mas o resultado de um amplo e complexo conjunto de debates e lutas políticas que em vários órgãos institucionais ganham corpo na forma de ordenamento jurídico. Mas, para Safatle, todo este processo responde apenas pelo caráter parlamentar da democracia, que excluiria formas diretas de participação, e assim, cancelaria o verdadeiro espírito democrático.

A democracia parlamentar, cuja superação Safatle vai exigir, é parte importante no combate a corporativismos e assembleísmos, que, nos casos mais graves, levam a riscos de totalitarismo plebiscitário
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A tentação de trazer o povo diretamente para os debates faz com que o autor desconsidere o parlamento como mecanismo precioso para produção de sínteses democráticas no campo das divergências, que emergem na sociedade através dos atores coletivos. Faz, também, que desconsidere que, bem longe de ser um empobrecimento da democracia, a representatividade parlamentar é vitória civilizatória, para a qual a luta dos trabalhadores contribuiu muito. Apoiar a rebeldia contra as leis, suspendendo o Estado de direito, pertence a uma esquerda a que Safatle deu este nome, bem longe de ter nela o que se exige de uma esquerda genuinamente democrática.

O terceiro capítulo inicia questionando a relação de esquerda e passado. Mostra a forma superficial como foram tratadas as revoluções do século XX e corretamente propõe uma análise crítica que supere o simplismo de rotular como fracassos totais estes processos revolucionários (tidos por muitos como cruéis e sanguinários), assim como o de tratá-los como momentos gloriosos da humanidade. Há de se acolher acertos e repensar os erros, que não foram poucos, e entender que a revolução não vem com garantia para suas consequências. O futuro de uma revolução quase sempre é incalculável

Neste aspecto, nosso autor introduz a discussão sobre a atualidade da dicotomia “revolução/reformas”. Os revolucionários, segundo a crítica de Vladimir, mantêm o hábito de desqualificar como morto todo tempo histórico em que transformações profundas encontram-se em falta. Só consideram momentos úteis aqueles nos quais as estruturas sejam sacudidas pela força das mudanças.

Da mesma forma, prossegue Safatle, deve-se criticar o medo de revoluções, como se essas viessem sempre banhadas de sangue. Ainda que não sendo claro em suas observações, o filósofo parece apontar para um novo olhar sobre a concepção estratégica do reformismo. Mesmo sempre demonstrando apreço por revoluções do tipo clássico, Safatle sinaliza para a opinião de que reformas têm força para promover mudanças importantes, ainda que não mostre com clareza a espera de transformações substanciais pela via reformista. Positivamente convencido das vantagens reformistas, Safatle não parece apostar nelas como via para a construção de novas realidades. Tem-se a impressão de que o autor ainda aguarda revoluções como assalto ao poder.

Finalizando, o capítulo aborda o que tem se chamado de “teoria de governo”. Para o autor, a esquerda trabalhou bem, e de forma sofisticada, a teoria do poder, mas não a de governo. Isto é, não foi capaz de ir além da “vontade política” como instrumento para uma política de governo.

Safatle tem razão. Não se pode negar que parcela muito limitada das esquerdas conseguiu assumir vocação de governo, uma vocação que supere discursos e seja sustentada por um claro programa de governo. No entanto, mais uma vez, Safatle se furta de posições mais claras, pois parece oscilar entre visões modernas da esquerda e retornos estranhos ao vocabulário bolchevique.

Uma teoria de governo que se proponha coerente com a esquerda e as reais possibilidades conjunturais exige discutir o tema das alianças, o que sequer foi citado por Safatle. Neste aspecto, há motivos fora da obra que nos permitem pensar que sua concepção de alianças não tem nada de renovadora. Dá-se a impressão que Safatle faz perguntas atuais, mas suas respostas estão fora do nosso tempo.

A esquerda que não teme dizer seu nome traz questões importantes para o debate entre as esquerdas.

Mostra a necessidade de reformular a atividade deste campo político, para que esteja à altura dos desafios modernos. Não constrói nenhuma grande contribuição conceitual, é verdade, e suas propostas são rasas. Porém, a provocação que faz é de se levar a sério, principalmente porque o autor se mostra insatisfeito com o atual ordenamento institucional, que tem no Estado de direito sua maior expressão.

Ao proclamar a superação do Direito em nome da justiça e da soberania popular, mantendo firme a convicção da necessidade de uma nova democracia, direta, popular e para além do Estado de direito, Safatle distancia-se da esquerda democrática e constitucional, que a duras penas vem tentando se construir com a ambição de ingressar de vez em um tempo no qual não haja caminhos civilizatórios seguros senão pela democracia e seu Estado de direito. Vladimir Safatle, pelo jeito, continua com a visão instrumental da democracia.
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Adelson Vidal Alves é professor de História, pós-graduado em História Contemporânea.