segunda-feira, 9 de junho de 2014

Opinião do dia: Geraldo Alckmin

"Fiquei muito feliz com a decisão do PSB de compor a nossa aliança aqui em São Paulo. É uma estima desde a época do ex-governador Mário Covas, da ex-prefeita Luiza Erundina. Ao Eduardo Campos, que foi meu colega quando foi governador... tenho grande apreço por todos"

Geraldo Alckmin, governador de S. Paulo. Alckmin elogia Campos após anúncio de apoio. O Estado de S. Paulo, 9 de junho de 2014

Financial Times avalia peso eleitoral da Copa no Brasil

Fernando Nakagawa - Agência Estado

Editorial do jornal britânico Financial Times (FT) defende que o triunfo da seleção brasileira na Copa do Mundo poderá colocar "controvérsias para descansar" no Brasil. Se a equipe perder, ao contrário, o drama poderá ir para fora dos campos e chegar até as eleições presidenciais. Em tom menos crítico que o visto em editoriais recentes, o jornal reconhece que os 12 estádios "provavelmente" estarão prontos "ainda que no último minuto" e reconhece que "seja quais forem as deficiências" do País, a democracia do Brasil é algo a ser comemorado.

"Embora não exista uma correlação entre o desempenho do Brasil em Copas e os últimos resultados das eleições subsequentes, desta vez pode ser diferente", diz o principal editorial do FT desta segunda-feira. Após citar problemas na organização do torneio e acusações contra a direção da Fifa, o jornal econômico diz que o "maior drama fora do campo será do próprio Brasil, especialmente tendo em conta as eleições presidenciais em outubro".

"No ano passado, mais de um milhão de pessoas foram às ruas em protestos contra os serviços públicos de má qualidade. A economia está desacelerando. O índice de aprovação de Dilma Rousseff, embora ainda bem à frente dos adversários, está cedendo. O Brasil pode se sentir atolado em mal-estar", diz o editorial.

Já se o Brasil for hexacampeão mundial, o FT diz que o torneio poderia "levantar o sentimento nacional - porém momentaneamente". "Um derrota poderia cristalizar e aprofundar a desconfiança popular", completa o texto. "Por muitas razões, o País, portanto, precisa emergir de um torneio considerado um sucesso ou, pelo menos, bom o suficiente, especialmente porque quase metade do planeta vai acompanhar os jogos. Dada a hospitalidade e o otimismo naturais dos brasileiros, o mais provável é que sim", aposta o editorial.

Em meio aos protestos populares e críticas à organização, o FT reconhece que os estádios "provavelmente estarão prontos a tempo, ainda que no último minuto". Ao comentar atrasos nas obras, o editorial lembrou da frase de Dilma Rousseff em recente conversa com jornalistas estrangeiros.

"Como a presidente comentou, os atrasos, que não são como na China, são parte do custo de o Brasil ser uma democracia, com uma imprensa livre e o direito de dissidência. Sejam quais forem as deficiências do Brasil, essas qualidades são dignas de comemoração em um torneio que acontecerá uma semana depois do 25º aniversário da repressão contra os protestos na Praça da Paz Celestial". "Que deixem a disputa começar."

PMDB deve ratificar apoio ao PT, apesar de dissidência

Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O PMDB deverá confirmar nesta terça (10) sua aliança com o PT na disputa à Presidência, mas ao menos 20% dos peemedebistas com direito a voto na convenção nacional prometem se rebelar contra o apoio a Dilma Rousseff.

Segundo a cúpula do partido, a aliança com Dilma deve vencer com mais de 500 dos 738 votos da convenção.

A presidente confirmou presença no final do evento, em que será aclamada pelos integrantes da sigla apenas após ter garantido o apoio.

Para derrubar a aliança, a ala dissidente teria que mobilizar metade do total de votos -número descartado pelo comando peemedebista.

Ao todo, 510 membros têm direito a voto, mas vários sufragam duas ou três vezes por acumularem funções, como lideranças no Congresso e presidências regionais.

As dissidências só não serão maiores porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Michel Temer, que também é presidente de honra do PMDB, entraram em campo para controlar a rebelião.

Há duas semanas, os dois dedicam grande parte de suas agendas para atender insatisfeitos e prometer mudanças no comportamento do governo em caso de reeleição.

Lula comprometeu-se a subir em palanques de peemedebistas em Estados nos quais Dilma não poderá apoiar oficialmente o aliado.

Temer, por sua vez, conta com apoio de praticamente todas as alas do partido e é considerado figura-chave em um eventual segundo mandato para atuar como principal interlocutor da sigla junto ao Palácio do Planalto.

Mesmo com a repetição da aliança, caciques do PMDB admitem que Dilma não terá facilidade em negociações caso seja reeleita. A principal irritação é a prioridade concedida pela presidente a candidaturas do PT nos Estados.

Os aliados também reclamam da pouca disposição em recebê-los, assim como do estilo da petista, que não flexibiliza apoios nem sinaliza compensações ao PMDB.

PSDB acusa Dilma de 'tentar fazer mineiros de bobos'

Beatriz Bulla - Agência Estado

Algumas horas após Dilma Rousseff deixar Belo Horizonte, onde esteve na manhã de hoje (8), o diretório mineiro do PSDB divulgou nota oficial em que acusa a presidente de anunciar ou inaugurar obras que não contam com recursos federais. "Hoje, domingo, ela esteve em Belo Horizonte para, mais uma vez, tentar fazer os mineiros de bobos", diz a nota do PSDB-MG.

Por volta das 12h deste domingo (8), a presidente visitou os corredores do BRT (Bus Rapid Transit, na sigla em inglês) da cidade e participou da inauguração do Centro de Controle Operacional de Tráfego. Ao discursar no evento, Dilma criticou a ausência de investimentos em mobilidade urbana pelo governo federal em épocas passadas. "O governo federal tomou a decisão, e considero uma decisão histórica, de passar a investir em parceria com as prefeituras, que são responsáveis pelo transporte de massas", disse a presidente, afirmando que as obras "constituem algo que faltava no Brasil, que era a presença do governo federal".

O diretório estadual tucano em Minas, Estado do presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG), disparou: "na verdade, essas obras estão sendo feitas com recursos próprios da prefeitura de Belo Horizonte e do governo do Estado". De acordo com os tucanos, os valores que "a presidente diz que direciona para as obras vêm da Caixa Econômica Federal, na forma de empréstimos, que deverão ser quitados pela prefeitura municipal, com juros".

Durante seu discurso, Dilma destacou a carteira de investimentos em mobilidade disponibilizada para as prefeituras e lembrou das condições de financiamento propostas nestes casos. De acordo com a presidente, as prefeituras que decidem investir em transporte de massas contam com condições especiais de financiamento: 30 anos de prazo, com cinco de carência e 5% de juros.

Além da crítica direcionada à gestão dos tucanos no governo federal, Dilma também cobrou em seu discurso resultados na esfera estadual, em Minas: "Espero que nós tenhamos, nessa parceria, uma conclusão rápida dos projetos que estão sob a responsabilidade do governo do Estado para que as obras do metrô possam ser concluídas com rapidez", disse. O governo de Minas Gerais ficou nas mãos dos tucanos de 2003 até abril deste ano, quando o governador Antonio Anastasia deixou o cargo para concorrer nas eleições de outubro.

A resposta do PSDB-MG veio nesta tarde. O diretório do partido reforçou na nota que "é completamente diferente da contribuição do governo de Minas e da prefeitura de Belo Horizonte, cujos recursos são a fundo perdido, caracterizando investimento". "Em outros Estados, Dilma destinou recursos a fundo perdido. Para Minas, apenas empréstimos", criticam os tucanos, que afirmam não existir investimento federal nas obras de mobilidade urbana em Belo Horizonte.

"A tentativa de enganar os mineiros está presente também na propaganda do governo federal", continua o PSDB. De acordo com o partido, o vídeo mostra BRTs na área central da capital mineira, por exemplo, "mesmo que não haja investimento do governo federal neles" e cita obras como a expansão do metrô e a duplicação da BR 381. "Estamos diante de uma prestação de contas do futuro, o que apenas os videntes são capazes de oferecer", ironizam. O partido acusa o vídeo do governo de fazer promessas de realização de obras, "pertinente apenas no horário eleitoral gratuito".

Alckmin comemora decisão do PSB-SP de apoiar sua reeleição

• Governador tucano elogiou o presidenciável do partido, Eduardo Campos, mas não comentou as críticas de Marina Silva

Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Dois dias depois de o PSB anunciar apoio à sua reeleição, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou neste domingo, 8, ter "grande apreço" pelo pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos. O tucano elogiou o ex-governador de Pernambuco ao comentar a decisão do diretório estadual do PSB, que na sexta-feira aprovou por unanimidade um indicativo de apoio ao seu projeto reeleitoral.

A decisão, que sofre resistência da pré-candidata a vice na chapa de Campos, Marina Silva e de seu grupo, a Rede Sustentabilidade, ainda precisa ser confirmada na convenção estadual do PSB, no dia 21 deste mês.

"Fiquei muito feliz com a decisão do PSB de compor a nossa aliança aqui em São Paulo. É uma estima desde a época do ex-governador Mário Covas, da ex-prefeita Luiza Erundina. Ao Eduardo Campos, que foi meu colega quando foi governador... tenho grande apreço por todos", disse Alckmin depois de inaugurar um trecho da marginal da pista Rodovia Ayrton Senna em Guarulhos, na região metropolitana.

Se confirmada, a aliança entre PSB e PSDB em São Paulo fará com que Campos e Aécio Neves, presidenciável do PSDB, tenham um mesmo palanque no Estado.

No sábado, por meio de nota, Marina classificou a decisão do diretório estadual como um "equívoco" e disse que se a decisão não for revertida a Rede seguirá "caminho próprio e independente no Estado". Presidente nacional do PSB, Campos, porém, tem dito que não vai intervir para impedir a aliança com o governador tucano. Neste domingo, Alckmin não comentou as declarações de Marina.

O PSB quer a vaga de vice na chapa tucana. O cargo também é cobiçado pelo PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, único partido que ainda está disponível no mercado de aliados. A legenda, que até então lançaria candidatura própria ao governo paulista, abriu tratativas com Alckmin impondo como condição ficar com o cargo de vice na chapa.

Neste domingo, Alckmin desconversou sobre ter Kassab na vaga. "Ainda não há uma decisão. Claro que queremos estar juntos. Mas essa decisão só saíra no final de junho", disse o governador.

Apoio do PSB a Alckmin gera primeira crise com Marina

Daiene Cardoso - Agência Estado

A decisão do PSB paulista de aprovar um indicativo de apoio à candidatura de Geraldo Alckmin em São Paulo provocou a primeira crise na aliança entre o partido e a Rede Sustentabilidade de Marina Silva. No momento em que a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República cai nas pesquisas de intenção de voto, a Rede espera que a Executiva Estadual do PSB volte atrás da decisão da última sexta-feira (6), sob a ameaça de apoiar outro candidato no Estado. A cúpula do PSB acha difícil mudar sua posição.

"Passamos os últimos seis meses discutindo (o palanque estadual) e nenhuma proposta conseguiu conciliar (os interesses). Se a Rede tivesse aprovado meu nome, talvez não tivéssemos chegado a esse impasse", criticou deputado Márcio França, presidente do diretório estadual do PSB de São Paulo.
A 20 dias da convenção que vai chancelar a candidatura de Campos, o ex-governador de Pernambuco ligou para Marina para dizer que havia se esforçado para vencer a resistência do diretório paulista e emplacar uma candidatura própria (como quer a Rede). Ele lamentou não ter conseguido convencer a militância de São Paulo.

Marina não cogita a hipótese de deixar a chapa de Campos, mas deixou claro sua insatisfação ao publicar nas redes sociais uma nota chamando a aliança em São Paulo de "equívoco". O diretório paulista da Rede se reunirá na próxima quarta-feira (11) para discutir quem poderia ganhar o apoio dos "marineiros" na sucessão estadual. "Acreditamos que até a convenção (do PSB) essa posição pode ser revertida", afirmou o porta-voz nacional da Rede, o deputado Walter Feldman (SP).

Embora dirigentes da Rede sejam oficialmente filiados ao PSB, França ressalta que a Rede Sustentabilidade é um outro partido, que assumiu o compromisso de não interferir em questões internas do PSB. Uma eventual mudança de posição só seria possível na convenção estadual, marcada para o dia 20 deste mês. A convenção nacional será no dia 28 em Brasília.

Logo que Marina divulgou a nota rechaçando a aliança com os tucanos em São Paulo, França também usou as redes sociais para dizer que respeitava a ex-senadora, mas que a decisão era fruto de uma votação no diretório. Desta forma, o dirigente considera remota a possibilidade de qualquer intervenção no diretório. "Só admito veto se a pessoa for ligada à desonestidade. E o Alckmin é um símbolo de retidão", defendeu França. Na terça-feira (10), a direção do PSB também deve se reunir em São Paulo para discutir os rumos da campanha e o palanque paulista.

Os aliados de Marina pregam uma candidatura própria nos Estados, principalmente em São Paulo, como forma de desconstruir a polarização entre PSDB e PT. "Ali (em São Paulo) é uma coligação eleitoral e a nossa aliança com o Eduardo é programática. Queremos uma expressão da nova política em São Paulo e não há a possibilidade de apoio a uma chapa sob o comando do PSDB", resumiu Feldman. "Se tivesse uma solução melhor (que o apoio a Alckmin), já teríamos chegado a ele", afirmou França.

Ignorado há 4 anos, plano de governo tucano é turbinado

• Aécio quer usar documento como 'vitrine' de propostas e cogita chamar até José Serra, rival histórico no PSDB, para área da saúde

Pedro Venceslau - O Estado de S Paulo

Ignorado pelo PSDB na última eleição presidencial, o plano de governo do partido será utilizado como ferramenta de marketing pelo senador Aécio Neves (MG), pré-candidato da legenda, na campanha deste ano. A intenção é que o documento contenha inclusive propostas do ex-governador José Serra para a saúde, área da qual foi ministro no governo Fernando Henrique Cardoso.

A estratégia do tucano é transformar a equipe de coordenação do projeto em uma "vitrine programática" de seus aliados. Coordenado pelo ex-governador mineiro Antonio Anastasia e tendo como principal estrela o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o seleto grupo é tratado pelo partido como esboço da Esplanada dos Ministérios em eventual vitória de Aécio.

Segundo um membro do núcleo duro da pré-campanha, Serra - um rival histórico do senador dentro do PSDB - foi recentemente sondado para integrar o grupo em um almoço em São Paulo com Anastasia. Questionado sobre a resposta de Serra ao convite, Anastasia despista e diz que os dois conversaram apenas sobre "o quadro político nacional".

Na campanha presidencial de 2010, Serra foi criticado por seus adversários por ter registrado um documento de 13 páginas com a íntegra de discursos feitos por ele como se fosse o programa de governo. A lei exige que o projeto seja apresentado no ato da inscrição das candidaturas. O time dos escolhidos por Aécio ainda não se reuniu, mas todos foram orientados a enviar para Anastasia as linhas gerais até a primeira semana depois da convenção, marcada para sábado, em São Paulo.

Caberá a Anastasia a tarefa de sistematizar o material e apresentá-lo em formas de tópicos na inscrição das chapas, no fim de junho. Depois disso, Anastasia sairá de cena e a economista Carla Grasso assumirá o execução do programa final, que ficará pronto em setembro. "A elaboração do documento final será fruto de um processo dialético", disse Anastasia ao Estado.

O ex-governador se refere à diferença de perfis dos integrantes do grupo de programa de governo.

Além de Armínio Fraga, que comanda as propostas da área econômica e defende medidas ortodoxas na economia, fazem parte do time o sindicalista João Batista Inocentini, indicado pela Força Sindical; o ambientalista Fábio Feldmann, que esteve na linha de frente da campanha de Marina Silva em 2010; Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington no governo FHC; e Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária de Educação de São Paulo na gestão Serra.

Pronatec. O programa mais avançado até agora é o da educação, que será um dos carros-chefe da propaganda de Aécio na TV. Ele prevê a "expansão" e o "aprimoramento" de programas implementados pelo PT, como o Pronatec, criado no governo Dilma em 2011, e o ProUni, no governo Lula em 2004. 

"Ninguém tem o monopólio dos programas", diz Anastasia. "Vamos tornar o Pronatec mais aberto, para pessoas de idades mais avançadas e sem ensino e médio", conclui.

"Vamos usar o plano de governo com força na campanha", completa Paulo Vasconcellos, marqueteiro de Aécio.

Um terço do eleitorado não quer PT nem PSDB, diz cientista político

• Eduardo Campos, do PSB, não conseguiu se colocar como terceira via, o que explica taxa recorde de eleitores sem candidato a quatro meses da eleição, diz cientista político


Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo


SÃO PAULO - Para o cientista político Fernando Abrucio, o recorde de eleitores sem candidato a essa altura da disputa –30% que declaram branco, nulo ou indecisão, segundo o Datafolha– é sinal de um problema da campanha de Eduardo Campos, o pré-candidato à Presidência do PSB.
Abrucio entende que esse eleitorado está sedento por um nome que não seja nem do PT nem do PSDB. Mas Campos, segundo sua visão, está sendo incapaz de se colocar como essa terceira via.

Folha - Quase um terço do eleitorado não tem candidato, um recorde. Tem alguma hipótese para explicar isso?
Abrucio - Há um conjunto grande de eleitores que não quer nem PT nem PSDB. As manifestações de junho de 2013 mostraram algo que algumas pesquisas qualitativas já vinham mostrando. Isso voltou. Explica esses 30% de indecisos, brancos e nulos.

Ficam assim até a eleição?
Difícil dizer. A dúvida é saber se Eduardo Campos vai conseguir pegar esse eleitor, que eu acho que é próximo de um terço do eleitorado. Teria que aparecer uma candidatura capaz de liderar esses, digamos, eleitores de terceira via. Mas por enquanto o Eduardo não conseguiu. E não está construindo um caminho para conseguir. O candidato do PSOL (Ranfolfe Rodrigues) também não. Não é um nome muito carismático.

Em eleições passadas havia candidato de terceira via, mas não tinha eleitor. Agora tem eleitor de terceira via, mas não tem candidato. É isso?
Houve mesmo várias tentativas. Cristovam Buarque, Heloísa Helena, Ciro Gomes. Há um bipartidarismo presidencial desde 1994. Algo próximo de 60% do eleitorado acompanha esse bipartidarismo. PT e PSDB, portanto, ainda têm uma legitimidade que não é pequena. Mas o que vem crescendo são os que não querem nem PT nem PSDB.

Quais são os desafios para se tornar o nome de terceira via?
Primeiro, discurso. Eduardo e Marina não conseguiram achar. Segundo, vitrines regionais. Há um grande conflito no PSB entre formar bancada no Congresso ou marcar posição na eleição presidencial mesmo perdendo cadeiras no Congresso. Não tem jeito. Se o PSB não lançar candidatos no Rio, em São Paulo e em Minas –nomes que representem algo diferente de PT e PSDB, mesmo se for para perder–, Eduardo não terá como fazer discurso de terceira via. Não adianta ir com Geraldo Alckmin [PSDB, em SP], Pimenta da Veiga [PSDB, MG] e Lindbergh Farias [PT, RJ]. O eleitor não vai reconhecer a terceira via.

O que mais dá para dizer do eleitorado sem candidato?
É um eleitor esperando candidato. Os 30% podem ser altos, mas a gente não sabe bem quão alto é. No fim, se não tiver esse nome de terceira via, podem anular, votar em branco ou nem comparecer. Mas, no limite, uma parte vai para Aécio e Dilma. Hoje, do jeito que a campanha do Eduardo está, fica difícil votar nele. Se não tem discurso diferente e anda com os mesmos, por que votar nele?

PT e o PSB estão mantendo fora da eleição seus nomes mais competitivos, Lula e Marina. Isso também explica?
Com Marina e Lula, claro que teria menos brancos e nulos. Acho mais difícil para o Lula substituir a Dilma do que para a Marina substituir o Eduardo. Porque a Dilma é a incumbente, é sua reeleição. Mas não dá para descartar. Se cair abaixo dos 30% ou se resolver desistir, Lula volta. E ganha, com todo o recall. Já Marina estaria colada em Aécio na pesquisa. Aí a vida do Aécio estaria bem mais difícil, com campanha mais agressiva. Ele tem tomado decisões tranquilas nas últimas semanas por causa disso. Eduardo tem sido o candidato que o Aécio sonhou.

O Datafolha mostrou que Dilma, Aécio e Campos variaram para baixo. Como avaliar?
Foram duas notícias boas para a oposição e duas ruins. As boas são que a Dilma já caiu faz tempo daquele piso que ela imaginava ter. O temor agora é que caia para 30%. A segunda é que embora os eleitores que saem da Dilma não optem imediatamente pela a oposição, isso pode ocorrer com a propaganda política na TV. Tem um espaço que pode ser aberto.

E as más para a oposição?
A primeira é que o Lula ainda é um grande eleitor. Os que declaram votar "com certeza" em alguém apoiado por ele (36%) e os que "talvez" votariam (24%) são muitos. Então pode recuperar um pouco a Dilma. A segunda, na verdade é pior para o Eduardo do que para o Aécio, é essa enorme dificuldade para pegar o eleitor de terceira via.

Por que pior para o Campos?
No plano regional, os três estão fazendo a mesma política: buscando TV e palanques. Isso é razoável para Dilma e Aécio, eles são os nomes do sistema. Já quem quer sair como candidato de fora do bipartidarismo não pode fazer o mesmo jogo. É facilitar a via para uma bipolarização.

Qual deveria ser a estratégia de Campos?
A chance dele é chegar próximo do Aécio no fim do primeiro turno e então pegar um voto útil. Já vi pesquisas que, de fato, mostram isso. E a oposição comemora. Mas só tem um detalhe: ele precisa chegar próximo do Aécio. Se não chegar, não tem voto útil. A Marina pode parecer sonhática, distante da "realpolitik", mas nisso ela fez um diagnóstico correto. Diz que no Rio, em São Paulo e em Minas é preciso ter candidatos que demarquem diferença com PT e PSDB.

E as dificuldades do Aécio?
Seus problemas têm a ver com o PSDB. Nordeste é uma situação desgraçada, um eleitorado muito grande, mas em alguns lugares eles não têm nada. Nem como ir. Tem também uma novidade, o pastor do PSC (Everaldo Pereira), que vai pegar um voto mais de direita que poderia ir para o PSDB. Antes, esse eleitor não tinha candidato e ia de PSDB. Agora pode ir para o pastor e ele ser um fenômeno como o Enéas em 1994 [que acabou em terceiro lugar].

A vida do próximo presidente será mais difícil?
Assumirá com boa parte da população descontente com o sistema político. Isso não aconteceu com FHC, Lula e Dilma. O próximo presidente, para construir legitimidade, vai ter de trabalhar mais que os anteriores. Num contexto em que precisará fazer um ajuste nas contas do Estado.

O que explica esse mau humor geral? É justificado?
Acho que há uma dissonância entre a melhoria da sociedade brasileira e a melhoria do sistema político. Um paradoxo. Sem dúvida, foram PT e PSDB que melhoraram o país. Mas eles não foram capazes de melhorar o sistema político na mesma medida. Então o sucesso agora gera essa pressão. Outra coisa: Lula é uma liderança muito importante, mas o PT precisa ter outras lideranças. O PSDB também. Não pode ter só dois candidatos eternamente em todas as eleições de São Paulo. Não pode ficar sem nome no Rio. Renovar.

Outra pesquisa recente mostrou que cresce o apoio à não obrigatoriedade do voto.
Sou contra o voto facultativo. Acho que a gente ainda tem de conquistar uma série de avanços antes. Há dois exemplos muito citados na ciência política mundial. Nos EUA, quem não vota é pobre, negro e latino. E regras vão sendo criadas para que votem cada vez menos. O Brasil ainda tem uma desigualdade muito grande, e isso pode ser um perigo. O outro caso é na União Europeia, a maioria com voto facultativo. Estão produzindo excrescências políticas muito grandes. Assusta olhar o caso francês. Quero ver se na próxima eleição os franceses irão optar por passar seu dia de voto na praia, e aí a família Le Pen vai para o segundo turno.

E o princípio do facultativo?
Temos que discutir qual é a ideia de cidadania e voto. Senão pode cair num princípio completamente individualista. A defesa absoluta do voto facultativo é acreditar que o cidadão é um mero consumidor, e a política é um conjunto de prateleiras no mercado. Eu não acredito nisso.

Como tem visto a onda de protestos que vem desde 2013?
Greves dos sindicatos são naturais. Aproveitar a véspera de Copa e ganhar um dinheirinho, né? (Risos.) Deve ter mais em setembro, véspera da eleição. Novidade é o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Esses impressionam. Estão conseguindo rediscutir a política do Minha Casa, Minha Vida, chamando a atenção. Podem conquistar espaço real na política de habitação do PT, que atua numa área que nunca teve organização social.

E o Movimento Passe Livre?
O MPL conseguiu baixar as tarifas do transporte, grande vitória, sem dúvida. Mas é mais difuso. Em transporte não tem como controlar o grupo de beneficiários. Então para eles é bem mais difícil fazer um debate sobre transporte para além da redução da tarifa. Não têm como mobilizar. Tanto que a ideia de tarifa zero não andou. Pressionaram o sistema político, mas não vão muito mais longe. E ideologia sem partido tem validade curta. O MTST é bem mais pragmático: organiza quem não tem casa.

Marina reforça disputa do PSB em MG

Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico

BELO HORIZONTE - A ex-senadora Marina Silva, pré-candidata a vice-presidente da República na chapa de Eduardo Campos (PSB), se reúne com aliados hoje em Belo Horizonte para apoiar uma tese que, de um jeito ou de outro, deverá ser vencedora. A de que o partido lance candidato ao governo de Minas Gerais.

Na sexta-feira, Marina foi derrotada ao defender candidatura própria ao governo de São Paulo. O diretório do PSB no Estado aprovou por unanimidade uma aliança com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), contrariando o desejo da ex-senadora e de seus aliados.

Em Minas, o PSB chegou a anunciar apoio ao candidato tucano, Pimenta da Veiga. Mas a situação mudou. Ontem, um integrante importante do PSB disse ao Valor que se a convenção estadual votar por não ter candidato próprio, a direção nacional do partido fará uma intervenção para garantir que o PSB lance, sim, um nome para a disputa pelo governo de Minas. O favorito é o presidente do PSB mineiro, o deputado federal Júlio Delgado.

Pré-candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) gostaria de ter o PSB na aliança de Pimenta da Veiga, o que daria mais tempo de TV ao candidato.

O quadro em Minas passou a ter influência no cenário do Espírito Santo. Lá o governador Renato Casagrande (PSB) quer o PSDB em sua coligação, o que também daria a ele mais tempo na propaganda gratuita da TV. Mas, segundo a mesma fonte do PSB - que pediu para não ser citada pelo nome -, Aécio pôs em banho maria a indicação de um tucano para ser candidato ao Senado na chapa de Casagrande para pressionar o PSB em Minas a não ter candidato.

Marina Silva, que se filiou ao PSB em 2013 depois de não conseguir registrar o Rede Sustentabilidade como partido, quer que o candidato ao governo de Minas seja Apolo Heringer, um veterano militante da esquerda que há anos se integrou a defesa do meio ambiente.

Marina se reúne hoje com aliados do Rede Sustentabilidade para reforçar a defesa de que o PSB deve ter um candidato próprio e que este deve ser Heringer. À noite, faz uma palestra na Universidade Federal de Minas Gerais.

São Paulo e Minas são os dois maiores colégios eleitorais do país. E se não tiver candidato nos dois, o PSB estará escolhendo não dar espaço e palanque que Eduardo e ela precisam para conseguir chegar ao segundo turno, dizem aliados de Marina.

Um deles, Bazileu Margarido, coordenador-executivo adjunto da campanha de Campos e Marina, diz que não ter candidato nos dois Estados "seria algo gravíssimo" e que a indicação do PSB paulista já foi "um fato muito grave". Ficar fora em São Paulo e em Minas, diz, pioraria muito a situação. "Emitiria uma sinalização muito ruim de atrelamento ao PSDB".

Em São Paulo, a decisão de sexta ainda precisa ser referendada pela convenção estadual, prevista para o dia 21, mesma data da mineira.

O mineiro Júlio Delgado, próximo a Aécio e também a Eduardo Campos, foi quem anunciou o apoio do PSB ao tucano Pimenta da Veiga ao governo de Minas. Isso dias depois de este ter sido lançado como pré-candidato pelo PSDB.

Eduardo Campos, ex-governador do Pernambuco, e Aécio Neves tinham na época, segundo aliados dos dois, uma fórmula: o PSDB de Aécio apoiaria o candidato de Campos em Pernambuco; e o PSB de Campos apoiaria o candidato de Aécio em Minas.

Essa fórmula cortês desandou nas últimas semanas com Campos e Marina dando declarações para marcar diferenças deles com Aécio Neves. O reflexo se viu em Minas.

"Estamos conversando, amadurecendo o projeto de candidatura própria", disse o pessebista Júlio Delgado. "Eu não tenho dúvida de que se a ideia da candidatura própria se consolidar, na convenção estadual o meu nome será escolhido."

O grupo mais ligado a Marina não fecha a porta a ele. Bazileu Margarido defende Apolo Heringer como quem melhor representa os valores e o programa de Eduardo Campos e Marina Silva. "Agora, há um espaço para debate".

Apolo exilou-se na Argélia durante o regime militar e lá conviveu com o Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos. Tornaram-se amigos e amizade também envolveu mais tarde Heringer e filhos de Arraes.

"O que espero dela [Marina] hoje é um grande apoio ao meu nome e, indignada com esse negócio que aconteceu em São Paulo [em relação ao apoio ao Alckmin], acho mesmo que ela vai ser mais firme aqui", disse Heringer.

O PSB tinha um candidato que era visto como óbvio para disputar o governo de Minas: o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que aparecia nas pesquisas com chances reais de ser eleito. Mas no início de abril Lacerda anunciou que ficaria na prefeitura. Apoiado por Aécio nas eleições de 2008 e de 2012, Lacerda está no grupo do PSB que defende apoio ao candidato do PSDB em Minas.

Ex-senadora tem prazo para sair, diz presidente do partido em SP

Cristiane Agostine - Valor Econômico

SÃO PAULO - Articulador da campanha presidencial do PSB em São Paulo, o presidente do diretório paulista do partido, deputado Márcio França, afirma que o grupo da ex-senadora Marina Silva, Rede Sustentabilidade, já tem prazo para deixar a legenda. Ao impor uma derrota aos "marineiros" com a aliança com o governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin (PSDB), o dirigente deixou clara a divisão da legenda e culpou o grupo da ex-senadora pela falta de acordo.

A decisão do PSB-SP colocou em xeque também o controle de Marina sobre as definições do partido. A pré-candidata a vice na chapa presidencial de Eduardo Campos (PSB) tem dito que não há como pregar a renovação no governo federal e apoiar o PSDB em São Paulo, que comanda há vinte anos o Estado. Marina, ao filiar-se ao PSB em 2013, pediu a Campos alternativa à aliança com o PSDB. Os "marineiros", contudo, foram vencidos por unanimidade na sexta-feira, em reunião do diretório estadual.

No encontro, França minimizou o tamanho do grupo de Marina em São Paulo: o PSB-SP tem 200 mil filiados, enquanto o Rede tem cerca de 100 pessoas, filiadas "na última hora", depois que a ex-senadora não conseguiu criar seu partido. A seguir, trechos da entrevista de França ao Valor PRO, serviço de notícia em tempo real do Valor:

Valor: A decisão do PSB-SP expôs a divisão do partido. Rede e PSB continuam como grupos distintos?
Márcio França: Quando eles [Rede] entraram no partido, fizemos todos os movimentos para fundir em uma coisa só. Eles preferiram trabalhar como se fossem um outro partido. Já que é nessa lógica, não há nada demais eles terem uma posição e a gente outra. São dois partidos.

Valor: A aliança com Alckmin reforçou a fragmentação?
França: Isso sempre houve. Eles não vão ficar com a gente para sempre. Eles têm um prazo, já deram um prazo. Assim que registrarem o partido deles, vão embora. E a gente vai continuar no PSB. A gente sofre a influência deles e é bom, mas não vamos mudar 100%. Senão, vamos nos filiar à Rede. Onde tiver intersecção, vamos juntos.

Valor: Marina pediu uma alternativa em São Paulo. A decisão indica que ela terá pouca influência?
França: Essa é uma questão semântica. Marina disse que o partido precisava de alternativa e oferecemos uma, que era meu nome. A Rede não aceitou. No Amazonas, a Rede queria uma candidatura e nós retiramos a nossa ideia lá e lançamos candidato. A Rede disse que era importante não ir com a senadora [Ana Amélia, do PP] no Rio Grande do Sul. Ficamos com o PMDB, como queriam. Em Brasília, queriam candidato e lançamos Rodrigo Rollemberg. A Rede queria candidato em Minas e fomos com eles. Cedemos em vários Estados e eles vão ceder em outros.

Valor: Qual foi a orientação de Campos nesse processo?
França: Durante muito tempo me orientou a tentar uma conciliação. Foi quando me convenci a ser candidato. Eles [marineiros] não me aceitaram e ficaram brigando comigo como se eu fosse um bicho papão. Se a Rede queria uma candidatura, poderia ter abraçado a que lançamos. Ao não abraçar, claramente deu um sinal de que era melhor procurarmos alternativa.

Valor: Como vai conciliar o palanque quando a disputa ficar mais acirrada entre Aécio e Campos?
França: Quem tem que se preocupar com isso é o Aécio. São Paulo é o principal Estado do PSDB e ele que deveria ficar preocupado com a possibilidade de Alckmin abrir palanque para os dois candidatos. Não podíamos deixar o PSDB sozinho em São Paulo, com 32 milhões de eleitores. Eles controlam 515 prefeituras das 645, entre prefeitos tucanos e aliados. Marina ajudará nas áreas densas, urbanas, mas no interior não tem chegada. Quem fará a interlocução no interior é o governador. É provável que Alckmin esteja no segundo turno, contra PT ou PMDB, que são de Dilma. Se Campos for para o segundo turno, quem faria o palanque dele no Estado sem essa aliança?

Valor: Marina diz que essa aliança é contraditória. Como explicará isso ao Rede?
França: É um equívoco. Em São Paulo, nossa relação com Alckmin se deu nos últimos três anos. Vínhamos no governo, ele nos ajudou em várias campanhas. A ingratidão é um ato forte e só teria condições de fazer um movimento contrário se tivesse grande oportunidade. Se Marina fosse candidata em São Paulo, estava resolvido. Fui prefeito de São Vicente e em 2010 declarei voto nela. Foi a cidade em que ela foi mais votada, entre as grandes, porque declarei meu voto. Tenho legitimidade para dizer que nem sempre ela está certa. Assim como digo a Eduardo que muitas vezes ele não está certo.

Equipe de Dilma é pessimista sobre chances da candidatura de Padilha

Marina Dias, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Considerado a fórmula ideal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ganhar o governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT) enfrenta resistência do comando da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, que já faz análises pessimistas quanto ao resultado das eleições para a sucessão do Palácio dos Bandeirantes.

Segundo a Folha apurou, o Estado -considerado prioridade do PT em 2014- passou a ser um problema para a disputa nacional, e alguns interlocutores de Dilma admitem que o pré-candidato do PMDB à sucessão de Geraldo Alckmin (PSDB), Paulo Skaf, pode ser a aposta para um segundo turno.

Integrantes da cúpula da campanha presidencial avaliam que no início do ano o cenário ainda era favorável para o PT paulista.

Mas as coisas mudaram após a citação do nome de Padilha na Operação Lava Jato, que investiga um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas comandado pelo doleiro Alberto Youssef, e a suspeita de envolvimento do deputado estadual Luiz Moura (PT-SP) com o PCC, episódios que ajudaram a enfraquecer a imagem do partido.

Petistas ouvidos pela Folha afirmam que os casos não atingem diretamente a figura de Padilha, mas o eleitor paulista, de perfil "moralmente conservador", faz ligações diretas entre a sigla e as denúncias de irregularidades, o que prejudica o desempenho do candidato.

Novidade política
O PT tem dificuldade para eleger um nome ao Bandeirantes, governado há quase 20 anos pelo PSDB. Para vencer a resistência no Estado, Lula escolheu Padilha baseado na mesma tese que o fez indicar Fernando Haddad para disputar a Prefeitura de São Paulo: a novidade política.

No entanto, após enfrentar desgastes, a popularidade do prefeito demora a se recuperar e, assim, é difícil contar com ele como propulsor do ex-ministro da Saúde.

Enquanto isso, o candidato do vice-presidente Michel Temer para a sucessão de Alckmin mantém há um ano o patamar de 20% das intenções de votos. Nas últimas semanas, Skaf amarrou alianças importantes, como o Pros e o PDT. Ambos os partidos estavam na conta do PT paulista para a chapa de Padilha.

Apesar de ter sido citado por Dilma Rousseff como "fórmula" da base governista para derrotar o PSDB em São Paulo, Skaf afirma que é "adversário do PT no Estado" e que não espera a presidente em seu palanque.

No início do ano, o PT chegou a estimular a candidatura de Skaf para ajudar a forçar um segundo turno contra Alckmin. Nos últimos meses, porém, a musculatura do peemedebista incomodou o PT.

O partido nutre a esperança de que Padilha deslanche em agosto, com o empenho de Lula e o começo da propaganda eleitoral no rádio e TV.

PSDB critica presidente

Ana Clara Brant – Correio Braziliense

O PSDB de Minas criticou ontem a visita da presidente Dilma Rousseff a Belo Horizonte, a oitava a Minas este ano. De acordo com o partido, as obras inauguradas ou anunciadas pela presidente na mobilidade urbana não têm investimentos do governo federal, ao contrário do que ela (Dilma) tem dado a entender em suas viagens ao estado. Segundo nota divulgada pela legenda em seu site, a governante esteve na cidade para "mais uma vez tentar fazer os mineiros de bobos, ao propagar que é a responsável pelas obras de mobilidade urbana na capital. Na verdade, essas obras estão sendo feitas com recursos próprios da Prefeitura de Belo Horizonte e do governo do estado. Os valores que a presidente diz que direciona para as obras vêm da Caixa Econômica Federal, na forma de empréstimos, que deverão ser quitados pela prefeitura municipal, com juros," afirma o PSDB.

A nota tucana assegura que as provas dessa denúncia podem ser encontradas como Aditivo à Matriz de Responsabilidade assinado entre o governo federal, o governo de Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte. O PSDB acrescenta que esse documento desmascara de vez a tentativa do governo federal de apropriar-se de iniciativas alheias. "Ali está claro que, nas obras de mobilidade urbana, como os BRTs, trata-se apenas de dinheiro emprestado pela Caixa, que obviamente receberá de volta cada centavo investido."

O governo de Minas também teve uma reação forte ao discurso da presidente em Belo Horizonte. Em nota distribuída na noite de ontem, rechaçou com veemência o que chamou de "tentativa do governo federal de transferir para o estado a responsabilidade pela não realização de obras de exclusiva responsabilidade da União no estado, como o metrô e o anel rodoviário."

Compromisso oficial
A Matriz de Responsabilidade foi um documento assinado pelo governo federal com os estados e as cidades sedes da Copa do Mundo de 2014.

Nele, estão listadas as obras, especialmente as de mobilidade urbana, que os gestores públicos se comprometeram a fazer para garantir a realização do Mundial. A Matriz foi apresentada àFifa como uma garantia da contrapartida do poder público.

Tática do medo pode ajudar candidatura de Aécio, diz marqueteiro

Entrevista. Paulo Vasconcellos

• Responsável pela campanha tucana, Paulo Vasconcellos afirma que programa teve objetivo de 'segurar o eleitor petista'

Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

Marqueteiro do senador e pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG), em todas as eleições majoritárias disputadas por ele desde 2002, o publicitário mineiro Paulo Vasconcellos minimiza a desvantagem de Aécio no horário eleitoral gratuito na comparação com a presidente Dilma Rousseff - o tucano deverá ter menos da metade do tempo da petista. "Ter muito tempo também é um problema porque precisa encher uma linguiça danada."

Segundo ele, Aécio é o pré-candidato que mais está se expondo, pois precisa ser ficar conhecido. Vasconcellos admite a possibilidade de o tucano lançar uma espécie de carta ao trabalhador para evitar o carimbo de candidato que vai tirar direitos trabalhistas. Para ele, a chamada campanha do medo, inserções do PT que falavam em "fantasmas do passado", tinha por objetivo "segurar o eleitor petista" e, nesse aspecto, foi "corretíssima". Mas diz que se trata de "caminho perigoso", que pode facilitar "a candidatura que está sendo criticada."

Como planeja estruturar a construção da imagem do Aécio na TV?
O problema do Aécio não é a construção da imagem, mas o desconhecimento. Nas (pesquisas) qualitativas que fizemos em março no Nordeste ele não era reconhecido nem por foto. Uma coisa é o sujeito que sai do governo (de Minas) com 92% de aprovação, que é reeleito com 77% e depois vai para o Senado, outra é a campanha nacional. Essa eleição será menos publicitária e festiva. O tom será reflexivo. Nenhum candidato será carregado nos braços do povo como o salvador a pátria. Vai ganhar quem tiver uma história de verdade para contar.

O senador vem combatendo na Justiça o que chama de quadrilhas virtuais contra ele. É possível mensurar se isso já causa algum tipo de dano à sua imagem?
Existe uma luta contra o tempo. Quanto mais rápido o Aécio for apresentado, menos teremos que dar atenção para este assunto. Se teve alguém que apanhou nos últimos meses foi o Aécio. Ele é o pré-candidato que mais está se expondo. A Dilma não participou de nenhuma sabatina, nem participará. O Eduardo (Campos, pré-candidato do PSB) chega com uma imagem um pouco conhecida de todo mundo.

As redes sociais terão um peso muito grande na campanha? Como vê isso?
Me sinto meio caipira nesse assunto. O que sinto é que uma coisa é você ter uma presença cada vez maior de pessoas nas redes sociais, outra é achar que as pessoas estão lá para falar de política. Não consigo imaginar esse tanto de gente na internet fazendo política. É exagero dizer que a internet vai decidir a eleição.

Seria o caso de lançar uma carta ao trabalhador brasileiro para evitar que Aécio seja carimbado pelo PT como candidato que vai tirar direitos trabalhistas?
Isso pode ser necessário e tomara que seja. Acho até que em algum momento será, mas hoje ainda não é. Isso significa que você está incomodando ainda mais. Essa crítica é incipiente.

Como será a estrutura hierárquica da comunicação na campanha do Aécio?
Existem subordinações naturais de conteúdo, mas não de lideranças. A palavra final é sempre do Aécio.

Ele é centralizador?
Ele participa e isso é bom. Às vezes opina mais, às vezes menos, deixando a gente meio abandonado.

Pelo atual quadro das alianças partidárias, tudo indica que Aécio terá um tempo de TV muito menor que o da presidente Dilma. O quanto isso pode ser fatal?
Sempre perguntam qual é o tempo ideal. Eu gosto de 8 (minutos em cada bloco de 25). É o meu número da sorte. Mas perto de 5 (minutos) não será um tempo ruim. Ter muito tempo também é um problema porque precisa encher uma linguiça danada.

Por quê?
Quando o Aécio foi candidato à reeleição (ao governo de Minas) eu tinha 11min30s para trabalhar com ele, que já começou com 48%. Foi até 77%. Isso é uma delícia, né? Já a situação da Dilma e do João (Santana, marqueteiro do PT) é mais delicada. Nenhuma das críticas feita a ela neste semestre foi tratada de forma organizada. Ter muito tempo é uma vantagem, mas existem armadilhas. (Por exemplo), uma superexposição daquilo que não está dando certo pode gerar rejeição. A propaganda potencializa defeitos e virtudes. A mais recente deles, que eu achei corretíssima, teve a preocupação de segurar o eleitor petista.

Você achou "corretíssima" a propaganda do "medo"? Ela foi criticada pelo PSDB.
Achei. A preocupação ali foi segurar uma hemorragia. Em janeiro, ela tinha mais de 40% de intenção de votos. Perto do programa ela estava batendo em 35%. Ela caiu sem ter acontecido nada de relevante.

Existe antídoto para o discurso do medo?
Se você começa a construir ou empilhar medo, isso facilita a candidatura que está sendo criticada. Que me perdoe o PSDB, mas eles fizeram isso lá atrás com a Regina Duarte. Não é um caminho exitoso. Isso começou a acontecer muito cedo. Esse é um caminho perigoso, porque você polariza com um sujeito que está atrás e demonstra medo. Quando você está atrás nas pesquisas o maior sonho é a polarização. Nesse sentido, a mudança de comportamento do Eduardo (Campos) não é necessariamente um erro.

Qual será o papel da Andrea Neves na campanha?
Ela é irmã dele e jornalista, o que é uma coincidência. Essa é a grande verdade. Andrea tem um olhar muito agudo sobre as coisas. Às vezes tem um cuidado exagerado com algumas coisas, mas isso é humano. Ela não consegue ser só jornalista, também é irmã.

Por que colocar FHC na propaganda?
A decisão não foi minha, mas do Aécio. Para o eleitor tucano isso foi um gesto relevante. Hoje há sobre ele uma outra leitura daquela que foi feita no passado. É uma referência nacional do que pode dar certo. A sacada do Aécio foi bem tratada por nós. E a sacada do Fernando Henrique naquela peça de fazer um discurso de "estou indo embora" foi melhor ainda. Ele não era aquele cara que estava entrando na campanha. Ele estava saindo.

Pretende convidar o ex-governador José Serra para a campanha da TV?
Isso vai depender do andar da carruagem. Mas a saúde, por exemplo, é uma área onde ele pode ter um papel importante.

Vocês pretendem tentar atrair parte do eleitorado lulista ou essa será uma campanha 100% de oposição?
O discurso do PSDB foi "PT-dependente" muito tempo. O Aécio não faz política assim, tem uma trajetória para frente. Quando fizemos as primeiras pesquisas, mostramos uma entrevista dele nos lugares onde menos se conhecia. Passaram a sensação de que ele tinha o carisma do Lula e o jeitão do FHC de resolver problemas. Isso veio para a capa do nosso planejamento. O segredo dessa eleição é que não basta ser o novo, é preciso ter feito algo novo. Essa será um pouco a pegada.

A vitória do Brasil na Copa seria ruim para o Aécio?
Isso é uma bobagem. Ele está torcendo para o Brasil ganhar. São dois mundos diferentes.

Quais temas devem ser explorados na campanha?
Aqueles que falam diretamente às pessoas. Hoje, a inflação é um tema que está aí. Má gestão também.

Pretende explorar as manifestações de junho?
Não. Tentar politizar aquilo seria um erro estratégico.

Existe um antídoto para o caso do mensalão mineiro?
Isso nunca esteve no nosso radar. Não é uma agenda nossa.

E o mensalão federal?
O que tinha que acontecer já aconteceu. Acho mais interessante olhar para a má gestão (da Dilma).

O Nordeste é o principal foco?
O problema dele lá é o desconhecimento. Só se resolve isso com mídia de massa, mas a capilaridade das alianças do Aécio, como Flávio Dino no Maranhão e Tasso Jereissati no Ceará, ajuda muito.

Lula receberá qual tratamento?
O Aécio gosta de jogar para valer. O Lula é uma grande liderança, mas não está no radar.

O Campos se descolou do Aécio se dizendo à esquerda dele...
A situação dele é delicada. Ele perdeu o 1.º semestre. A aposta de colocar Marina (Silva) como protagonista não trouxe o resultado imaginado. O Eduardo tinha 6%, 7%, passou para 11% e agora cai. A comunicação dele não deixou nada no colo das pessoas, a não ser a oferta da Marina como vice.

Acha que o eleitor ficou confuso?
Uma das dificuldades da presidenta é a liderança. Lula teve e FHC também, mas ela não está tendo. Isso o Eduardo perdeu quando se apresentou ao País. Ele trouxe uma fórmula mágica, não a imagem de um líder.

A transferência de votos de Marina para Campos o torna mais competitivo?
Não vai acontecer. As duas coisas não se misturam. Grande parte dos votos da Marina em 2010 foi de protesto. Esse voto não necessariamente será repetido agora.

Coordenador de Campos deixa o cargo após mensagem sobre Aécio

• Responsável pelas redes sociais do pré-candidato do PSB se afasta após publicar no Facebook: 'Vai ter coca, Aécio Neves'

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

O jornalista Marco Bahé se afastou ontem do posto de coordenador de redes sociais da pré-campanha do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à Presidência depois de publicar um comentário em seu perfil pessoal no Facebook, no qual vinculou o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, ao uso de drogas.

"Vai ter coca, Aécio Neves", diz o texto que foi apagado do perfil de Bahé pouco depois da publicação. Ainda ontem, o jornalista se justificou no Facebook dizendo que a mensagem de caráter pessoal "deveria ser publicada em um grupo fechado, de amigos, mas aparentemente acabou vazando" e assumiu a culpa com os marcadores #vacilo e #destavezfuieu.

Mais tarde, diante da repercussão negativa da publicação, Bahé disse que se afastou da pré-campanha de Campos "há vários dias" para se dedicar a um curso de mestrado.

"Está havendo uma repercussão equivocada sobre um post privado meu no Facebook que, erroneamente, está sendo atribuído ao 'coordenador de mídias sociais da campanha de Eduardo Campos'. Para quem não sabe ainda, informo que pedi afastamento da equipe da campanha de Eduardo há vários dias. Afastei-me por estar em fase final da conclusão de minha dissertação de mestrado. Toda e qualquer publicação em minhas redes sociais são (isso me parece óbvio) minhas", diz o texto.

No entanto, segundo a assessoria de imprensa de Campos, Bahé só pediu afastamento ontem, depois que o caso veio à tona.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na semana passada, Aécio disse nunca ter usado cocaína.

No início do ano, o texto "A Balada do Eduardo", publicado no perfil do PT no Facebook, chamava Campos de "playboy mimado". A publicação provocou uma crise na direção petista. Na época, Campos reagiu nas redes sociais, ainda sob a coordenação de Bahé, dizendo que "os cães ladram e a caravana passa", e classificando a publicação do PT como "ataque covarde".

Petistas projetam chapa conjunta com o PMDB em até 13 Estados

• Na véspera da convenção peemedebista que vai decidir sobre apoio a Dilma, partidos já fecharam 10 alianças estaduais

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Caso confirme o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff na convenção de amanhã, em Brasília, o PMDB vai chegar à disputa eleitoral na condição de principal aliado do PT tanto em nível nacional quanto estadual. PT e PMDB fecharam acordos para disputar juntos as eleições para governador em pelo menos 10 Estados, um a mais do que as nove alianças de 2010. O número pode chegar a 13 nas próximas semanas, a depender de negociações em andamento.

Mas, apesar do aparente estreitamento das relações, o convívio entre petistas e peemedebistas é mais turbulento hoje do que era quatro anos atrás, quando o PMDB passou a integrar a chapa majoritária encabeçada pelo PT e indicou Michel Temer para vice de Dilma.

Adversários. Os dois partidos serão adversários em 14 Estados que concentram a maior parte do eleitorado nacional, cerca de 62%. Em pelo menos sete deles, o PT considera certo que o PMDB não fará campanha por Dilma, abrindo seus palanques para os adversários Aécio Neves (PSDB) no Acre, Bahia e Piauí, e Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Roraima e Rio Grande do Sul.

Além disso, os petistas consideram grandes as chances de o PMDB não se engajar na campanha pela reeleição de Dilma em colégios eleitorais importantes como Rio de Janeiro, Paraná e Ceará.
Sem contar o histórico de desavenças entre o governo e setores importantes do PMDB na Câmara durante quase todos os quatro anos de mandato de Dilma e a busca incessante do PMDB por mais espaço na Esplanada dos Ministérios.

Comitês. Para evitar traições e corpo mole dos aliados, o PT decidiu montar comitês de Dilma e indicar nomes fortes para a coordenação regional da campanha à reeleição em todos os Estados da federação. Segundo um alto dirigente do PT, setores majoritários da legenda veem o PMDB apenas como um aliado de ocasião, com o qual não têm identidade programática.

A expectativa é que participem da convenção peemedebista 512 convencionais.

Base dividida em 10 estados e no DF

• Candidatos a governador por partidos aliados a Dilma Rousseff já definiram ou estão inclinados a dar palanque para Aécio Neves ou Eduardo Campos. Planalto ainda tenta mudar o quadro em ao menos três locais

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

A quatro meses das eleições, a extensa base aliada da presidente Dilma Rousseff deve entrar rachada em pelo menos 10 estados e no Distrito Federal. Embora nas convenções nacionais as direções das legendas acreditem que os candidatos estaduais apoiarão a aliança como PT para o Planalto, Dilma terá dificuldade em escolher quais palanques frequentará. Em outros, como no caso de Ana Amélia (PP-RS) e, possivelmente, Rebeca Garcia (PP-AM), quem terá vaga é o tucano Aécio Neves. Em Mato Grosso do Sul, o apoio do peemedebista Nelson Trad Filho foi dado a Eduardo Campos (PSB).

Como não há verticalização nestas eleições, os candidatos aos governos estaduais poderão dar o apoio aos presidenciáveis que desejarem, desde que os partidos estejam coligados no plano local. Ana Amélia, por exemplo, poderá colocar a imagem de Aécio nas propagandas eleitorais, já que o PSDB gaúcho apoia a petista para o governo do estado. No Amazonas, a situação é semelhante. Líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) costurou o apoio do Planalto à sua candidatura. "A Rebeca está em busca do apoio do prefeito de Manaus, Arthur Wgüio. Se conseguir, não tem como impedi-la de apoiar Aécio", admitiu o presidente do PR senador Oro Nogueira (PR).

Dos partidos da base, o que apresenta situação mais adversa ao Planalto é justamente aquele que deve anunciar o primeiro apoio oficial amanhã: o PMDB. A legenda tem 18 candidatos a governador. Desses, 12 garantiram ao comando partidário que apoiarão Dilma. O problema é que, em estados estratégicos, como o Rio de Janeiro e o Ceará, o cenário não é auspicioso. Eunício Oliveira lidera as pesquisas de intenção de voto para o governo cearense, mas pode fazer uma aliança com o PSDB e encaixar na chapa o tucano Tasso Jereissatti ao Senado. "Estou tranquilo, não tenho cargos nesse governo", desconversou o peemedebista, que ainda sonha com uma aliança envolvendo o PROS e o PT locais.

No Rio, Aécio conseguiu o apoio informal do presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, que defendeu a formação de uma chapa Aezão (fusão de Aécio Neves e Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do PMDB ao governo fluminense). "São muitos partidos aliados com candidatos próprios no Rio. Além do Pezão, temos o Lindbergh Farias (PT), o Garotinho (Anthony Garotinho, do PR), o Marcelo Crivella (PRB). Eu penso que o melhor seria ela montar um palanque próprio e os candidatos passarem porlá", sugeriu o vice-presidente Michel Temer.

Segundo turno
As realidades locais também podem complicar uma composição futura. Temer costurou a candidatura de Paulo Skaff ao governo de São Paulo. Mas o empresário segue em segundo nas pesquisas de intenção de voto, e os petistas, que votarão em Alexandre Padilha, começam a questionar o uso da máquina da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) por Skaff—ele preside a entidade. Em Goiás, nas eleições recentes, PT e PMDB marcharam juntos. Mas a tentativa do Planalto e do ex-presidente Tnla de emplacar, sem sucesso, a candidatura de José Batista Júnior (O Júnior da Friboi) azedou as relações. O PMDB goiano sequer confirmou presença na convenção nacional de amanhã

Os partidos ficam em uma situação delicada porque uma chapa forte para o governo forte puxa votações expressivas para deputado federal e estadual. "Não sei qual foi a mágica que o PMDB fez no Sul, mas a candidatura de Germano Riggoto era mais forte do que a de Ivo Sartori para o governo estadual. Acho que perdemos uma oportunidade de derrotar o PT", lamentou um integrante da cúpula peemedebista. Ivo prometeu que na convenção deverá votar pela aliança com Dilma, mas dará palanque no estado ao socialista Eduardo Campos.

O PTB só terá um candidato a governador. O senador Armando Monteiro concorrerá ao govemo de Pernambuco com as bênçãos do Palácio do Planalto e do PT pernambucano. É uma tentativa do comando de campanha petista para dar um palanque forte para Dilma Rousseff no estado que foi governado por Eduardo Campos durante oito anos e é um feudo do PSB. Dilma tem como trunfo o carisma e o prestígio de Lula em Pernambuco. Mas a construção de um palanque sólido sempre ajuda "Não é o Armando que é Dilma. A Dilma é que é Armando", brincou o presidente nacional do PTB, Benito Gama.

Aécio Neves: Os milagres de todos os dias

- Folha de S. Paulo

Na noite de sábado, fomos surpreendidos, Letícia e eu, com a chegada antecipada de Julia e Bernardo, meus filhos caçulas. Apreensões à parte, sempre irremediáveis no coração dos pais e das mães, é como se o tempo tivesse parado de repente à nossa volta, como que reverenciando aquele que é o mais importante milagre humano –a vida que floresce e se renova todos os dias.

Tomado pela emoção de ser pai novamente, faço uma pausa nos temas, preocupações e reflexões que venho tratando nesse espaço, para dividir com cada um de vocês um sentimento muito especial. Dizem que quanto mais íntima a alegria ou a dor, mais universal ela é. É o nosso sentimento mais pessoal que nos conecta com toda a humanidade.

Como já havia acontecido comigo antes, com a minha filha Gabriela, os gêmeos trouxeram consigo o poder mágico e indescritível de fazer emergir o que há de mais essencial em cada um de nós, lembrando-nos de quem somos, de onde viemos e o significado maior de nossa jornada aqui.

Mesmo sem saber, Julia e Bernardo tocam, de uma forma extraordinária, o coração de um pai mergulhado em diferentes universos e grandes desafios coletivos, que neste momento, se misturam à pessoal e intensa felicidade da suas chegadas.

Observando os nossos dois bebês, impossível não me emocionar com o precioso sentido do valor da família, resumido na imagem de minha mãe pedindo à Nossa Senhora –como um dia pediu pelos seus filhos– que receba e envolva os netos em seu manto protetor. Ou lembrar, com saudade, da voz do meu pai, contando casos e histórias, que pretendo um dia contar a eles ao redor da nossa mesa. Porque família é quem veio antes, quem está conosco e quem vem depois. Me tornei o homem que sou pelo exemplo que tive dos meus avós e de meus pais. Deles recebi valores que me esforcei para passar à Gabriela e que pretendo transmitir ao Bernardo e à Julia.

A presença dos meus filhos me rejuvenesce em esperança ao mesmo tempo em que fortalece o meu sentido de responsabilidade com o mundo em que vivemos. E com o legado que cada um de nós está deixando para as novas gerações. Aumenta minha responsabilidade com a luta para que eles possam crescer em um Brasil melhor, mais honesto e que encha a todos nós de orgulho e de esperança. Quem vê o mundo com olhos de pai, o vê com mais cuidado. Mas também com mais vontade de lutar.

Em meio a tantos desafios e preocupações, o relógio da minha vida parou por alguns instantes. São esses pequenos milagres do cotidiano que nos revelam o que é essencial, verdadeiro e transformador. Tempo é dádiva. Vida é dádiva. É preciso fazer a nossa parte para merecê-los.

Gilvan Cavalcanti: As eleições e a “terceira via”

Um espectro visita o cenário político, nos debates partidários e nos meios de comunicações: o espectro da “terceira via”. Muitos espaços são ocupados para a sua discussão. Recordei-me, então, dos meus tempos de adolescente no movimento estudantil secundarista. Nas discussões, gostava de repetir, sempre, uma expressão cuja origem atribuía a uma personagem de romance de Balzac ou Machado de Assis. Não importa. Era o resultado de minhas leituras. A expressão era: ‘a ignorância não é argumento’. Agora, repito para mim mesmo.

E para esclarecer o meu dilema fui obrigado a puxar pela memória. Aproximei-me, então, de uma velha discussão dos idos de 1970 entre os comunistas italianos. Uma polêmica que envolvia não comunistas como Norberto Bobbio.

A “terceira via’ era usada como uma imagem, uma metáfora que indicava com força uma exigência política, explorando a possibilidade de uma transição para uma nova sociedade, proposta pelos grandes clássicos da democracia e do socialismo. A narrativa da “terceira via” seria entre capitalismo e socialismo, entre experiências social-democráticas e as experiências dos países do chamado bloco soviético. Na polêmica Bobbio negava a possibilidade de uma “terceira via” entre dois métodos: ditatorial ou democrático, mas admitia a possibilidade no que se refere aos fins.

Em seguida, nos idos de 1990, reaparece o conceito através do sociólogo inglês Anthony Giddens, mas com outro viés: tentativa de reconciliar uma política econômica ortodoxa e uma política social progressista. À primeira vista, parecia ser uma corrente que apresentava uma conciliação entre capitalismo de livre mercado e socialismo democrático. Muitos dos seus defensores a tinham como algo além do capitalismo de livre mercado e do socialismo democrático. Tinham a concepção alternativa da “terceira via” como "centrismo radical".

Aqui, por nossas bandas, da “contabilidade criativa”, do “Brasil maravilha” o conceito teve uma grande modificação. Paasou a ser utilizado como a altenativa a “velha polarização entre PT e PSDB”. Recordo-me que tive a oportunidade de recusar essa tese há mais de dois anos atrás - quando se iniciava a discussão sobre as eleições de 2014.

Voltei a puxar pela memória. Recordei-me de que nossa formação como nação nasceu sob o signo da polarização política. Lembro isso porque não posso perder de vista um fato histórico: a República se estabeleceu pelo “alto”. Seus primeiros atos foram a dissolução do Parlamento, dissolução dos partidos políticos, destituição dos governadores, proibição de manifestações públicas e censura à imprensa.

A vida política intitucional do País foi organizada pelo “alto”. Em outras plavravras, a polarização, também, foi organizada pelo “alto”.

Os protagonistas eram diferentes, coalizões diferentes, mas tendenciamente, polarizadas. Na nossa história recente a única execeção, fora do padrão, foi a primeira eleição presidencial direta, pós-golpe militar de 1964. Vejamos os fatos.

Para não deixar dúvida fui buscar os elementos a partir da primeira eleição pós-ditadura Estado Novo (período da Constituição 1945/1964).

Em 1945 concorreram pela coalizão (PSD/PTB) Eurico Dutra; Eduardo Gomes, (UDN/PRP/PL); Yedo Fiuza (PCB) e Álvaro Rolim Teles (PAN). Os dois primeiros obtiveram 90,13% dos votos.

Nas eleições de 1950 concorreram: Getúlio Vargas (PTB/PSP); Eduardo Gomes (UDN/PRP/PDC/PL); Cristiano Machado (PSD/PR/POT/PST); João Mangabeira (PSB). Os dois primeiros ficaram com 78,40% dos votos.

As eleições de 1955 os concorrentes foram: Jscelino Kubitschek (PSD/PTB/PR/PTN/ PST/PRT); Juarez Távora (UDN/ PDC/PL/PSB); Ademar de Barros (PSP); Plinio Salgado (PRP). 65,76% dos votos ficaram com os dois primeiros.

Já em 1960, nas últimas eleições antes do golpe militar os cocorrentes foram: Janio Quadros (PTN/PDC/UDN/PR/PL); Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB/PST/PRT/PSB; Ademar de Barros (PSP). Os dois primeiros tiveram 81,20% dos votos.

Seria bom chamar a atenção que nesse período não havia segundo turno. Esse instrumento só foi estabelecido com a Constituição de 1988.

Vamos adiante. Na primeira eleição presidencial pós-golpe (período da Constituição de 1988) concorreram muitos candidatos: Fernando Collor (PRN/PSC/PRT/PST/); Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PSB/PCdoB); Leonel Brizola (PDT); Mario Covas (PSDB); Paulo Maluf (PDS);Guilherme Afif Domingos (PL/PDC); Ulisses Guimarães (PMDB) Roberto Freire (PCB); Aurélio Chaves (PFL); Ronaldo Caiado (PSD/PDN); Affonso Camargo Neto (PTB); Enéas Carneiro (PRONA); Manuel Horta (PDC do B); Armando Correia (PMB). Foi a única vez vez que os dois primeiros candidatos só conseguiram 47,75%., isto é, menos da metade dos votos.

Já nas eleições de 1994 voltou à polarização. Concorreu Fernando Henrique Cardoso (PSDB/PFL/PTB); Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PSB/PCdoB/PSTU/PCB/PPS/ PMN/PV; Enéas Carneiro (PRONA); Orestes Quércia (PMDB/PSD); Leonel Brizola (PDT); Esperidião Amin (PPR); Carlos Antônio Gomes (PRN); Hernani Fortuna (PSC). Os dois primeiros candidatos conseguiram 81,31% dos votos.

Em 1998 essa polarização continuou. Fernando Henrique (PSDB/PFL/PPB/PTB/PSD/ PSL); Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PDT/PSB/ PCB/PCdoB); Ciro Gomes (PPS/PL/PAN); Enéas Carneiro (PRONA)/ Ivan Moacyr da Frota (PMN); Alfredo Sirkis (PV); José Maria de Almeida (PSTU); João de Deus Barbosa de Jesus (PT do B); José Maria Eymael (PSDC); Thereza Ruiz (PTN); Sérgio Bueno (PSC); Vasco de Azevedo Neto ( PSN); Osvaldo Souza Oliveira (PRP). Os dois primeiros conseguiram 84,66% dos votos.

Nas eleições de 2002 cocorreram Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PCdoB/PL/PMN/ PCB); José Serra (PSDB/PMDB); Anthony Garotinho (PSB/PTC/ PGT); Ciro Gomes (PPS/PT/PDT); José Maria de Akmeida (PSTU); Rui Costa Pimenta (PCO). Os dois primeiros obtiveram 69,66% dos votos.

Em 2006 os concorrentes foram: Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PRB//PCdoB/PL); Geraldo Alckim ( PSDFB/PFL); Heloisa Helena (PSOL/ PCB/PSTU); Cristovam Buarque (PDT) ; Ana Maria Rangel (PRP); Eymael (PSDC). Os dois primeiros alcançaram 90,25% dos votos .

Na última eleição de 2010 os candidatos foram: Dilma Rousserff (PT/PMDB/PDT/ PSB/PRB/PTN/PSC/PTC/PCdoB); José Serra(PSDB/DEM/PTB/PPS/PMN/PtdoB); Plinio de Arruda Sampaio (PSOL); Eymael PSDC); Zé Maria (PSTU); Levy Fidelix (PRTB); Ivan Pinheiro (PCB), Rui Costa (PCO). Os dois primeiros mantiveram um índice de 79,52% dos votos.

Observando o resultado da última eleição presidencial o polo da oposição obteve cerca de 44% dos votos, no segundo turno. Se levar em conta essa tendência histórica tudo indica que em outubro de 2014 haverá a repetição à nova polarização, já no primeiro turno. Isto é, os dois primeiros candidatos das coalizões encabeçadas, respctivamente pelo PT e PSDB terão mais de 70% dos votos válidos. A conferir.

Valdo Cruz: Rainha de Copas

- Folha de S. Paulo

Seremos palco, neste ano, de dois megatorneios. A Copa começa nesta semana --em jogo, nossa grande paixão, o futebol. A eleição presidencial tem início oficial em julho --definirá o destino do país nos próximos quatro anos.

Técnico da seleção, Felipão tem um craque espetacular em seu time. Inspirado, Neymar pode nos levar ao hexacampeonato. Já Dilma Rousseff tem uma equipe que não empolga nem um pouquinho e joga um feijão com arroz básico.

Seu principal jogador é bastante questionado pela torcida. Titular da Fazenda, Guido Mantega é alvo de campanha para ser colocado na reserva. Foi destaque na equipe de Lula, mas perdeu rendimento.

Seu beque Alexandre Tombini, contam as más línguas, jogou a toalha e arma seu esquema apenas para evitar que a inflação estoure as redes da meta, de 6,5% ao ano.

Resultado, o placar da economia vai mal. Crescimento fraco, com risco até de recessão. E inflação pressionada, minando o poder de compra dos eleitores, que já ameaçam abandonar a torcida da petista.

Nos vestiários do poder, a culpa pelo jogo feio é colocada nas costas de Dilma. Centralizadora e adepta da terapia da bronca, ela não deixa sua equipe dar um drible a mais, armar jogadas novas. Seus jogadores acabam na retranca, com medo de perder a cabeça, ops, o cargo.

Sem falar que o esquema tático não é de Mantega nem de Tombini, mas dela, a dona da bola. Daí o desejo do empresariado e de petistas de substituí-la pelo reserva de luxo Luiz Inácio Lula da Silva.

Só que, ao melhor estilo Zagallo, Dilma parece dizer a seus companheiros: "Vocês vão ter de me engolir". Só que, se seu time continuar a decepcionar, o coro do "volta, Lula" pode ficar ensurdecedor.

Bem, a bola vai rolar. Vamos torcer pelo Brasil. Principalmente os petistas. A Copa --dentro e fora dos gramados-- pode ser mais decisiva do que se imaginava para a eleição.

Renato Janine Ribeiro: Presidente por quatro ou cinco anos?

• Coincidência dos mandatos federais foi uma conquista

- Valor Econômico

Em diferentes ocasiões, dois aspirantes pela oposição à Presidência defenderam o fim da reeleição, somado à ampliação do mandato presidencial para cinco anos. Mas me permito dizer que esse mandato maior é uma ideia ruim, que certamente foi proposta sem que os dois candidatos medissem bem suas consequências. (Da reeleição, já falei em outra coluna, mas resumirei o que penso no final desta).

Se o mandato do mais alto cargo executivo da República subir para cinco anos, a primeira pergunta é: acabará a coincidência da eleição do presidente e das legislativas? Essa coincidência surgiu há apenas vinte anos e foi uma das melhores mudanças institucionais das últimas décadas, junto com a criação do segundo turno. Mas, se aumentar o mandato presidencial, ou acaba a coincidência, ou os mandatos legislativos sobem, para cinco anos o de deputado federal, para dez anos o de senador. Ora, deputados eleitos por cinco anos nunca houve no Brasil e não são frequentes, mundialmente falando; senadores por dez seria um excesso, um absurdo.

Então, que tal acabar com a coincidência de mandatos executivo e legislativo? Ela foi introduzida somente em junho de 1994, por uma emenda à Constituição de 1988, e dizem as más línguas que teria sido com a intenção de encurtar um eventual mandato de Lula, favorito, antes de iniciar o Plano Real, para as eleições que seriam daí a quatro meses. Não importa. O fato é que nossa última eleição solteira (ou "escoteira", como preferem alguns - o significado é o mesmo) para a chefia do Executivo federal se deu em 1989. Fernando Collor, talvez o mais demagógico dos nossos presidentes, venceu, em boa medida porque não havia nenhuma outra eleição junto com a sua. Todo o messianismo, o sebastianismo que se concentrou no primeiro presidente eleito da Nova República foi, não digo criado, mas facilitado porque o pleito estava separado de qualquer outro - sem a necessidade de construir uma estrutura partidária inteira. Some-se a isso o momento: quase três décadas sem eleições livres; a enorme expectativa colocada no regime democrático; a frustração com o primeiro governo civil, sobretudo devido à inflação; o receio dos meios conservadores e da mídia ante a possível vitória de Lula ou Brizola, tidos por dois incendiários.

Collor deu no que deu - o único presidente nosso afastado do poder mediante um processo regular de impeachment, o que abriu um período difícil, mas ao fim das contas áureo, de nossa História: a tranquilidade da transição para seu sucessor, o Plano Real, o primeiro e único plano de estabilização monetária introduzido sem susto, sem surpresa, sem mistérios. E nessa ocasião, aproveitando-se o fato de que quando se elege o presidente por cinco anos e o legislativo por quatro seus mandatos só coincidem a cada vinte anos, mas isso aconteceria já naquele ano de 1994, mudou-se a Constituição para tornar permanente a coincidência. Desde então, um candidato faz campanha pelos outros. Aumenta a fidelidade partidária, pelo menos nos partidos finalistas para a eleição presidencial. Cresce a responsabilidade recíproca, entre os que disputam o Executivo e o Legislativo pelo mesmo polo político.

Vale a pena pôr em risco essa corresponsabilidade de Legislativo e Executivo? No único período democrático que tivemos anterior ao atual, entre 1946, o presidente era eleito por cinco anos, os deputados por quatro e os senadores, por oito. A não-coincidência significa que os dois poderes eleitos se defrontam representando vontades expressas em tempos distintos. Esse fato acirra, em vez de acalmar, os conflitos. Põe em confronto duas legitimidades diferentes, sendo que a mais recente sempre poderá dizer-se mais forte.

É claro que há uma possibilidade, que não mencionei ainda, de funcionar o mandato de cinco anos: é generalizá-lo para todos os eleitos federais. O presidente e os deputados subiriam de quatro para cinco, os senadores baixariam de oito para cinco. Resta ver se o Senado aprovaria uma proposta que corta substancialmente a duração do mandato de seus membros. Eu reduziria minha oposição a essa proposta, neste caso, mas considero difícil sua aprovação na Casa Alta.

E por que sou favorável a manter a reeleição? Porque concordo com uma ideia de Thomas Jefferson, para quem, na prática, o presidente dos Estados Unidos era eleito por oito anos, com uma possibilidade de "recall" (ou reexame) na metade deste prazo. Porque quatro anos são pouco para governar o Brasil: no primeiro ano se segue um orçamento votado pelo governo anterior e se forma a equipe, que é truncada no segundo ano de governo, porque muitos saem para as eleições municipais, e no último ano o mandato já está acabando e há novas eleições para ele. Ou seja, o ano tranquilo é o terceiro ano de mandato, aquele em que se pode trabalhar mais. O país é muito complexo. Somente a formação da equipe presidencial demora pelo menos um ano. Mas, no caso da reeleição, tudo está já montado, em andamento, e praticamente todos os anos do segundo mandato podem ser de gestão. Ou seja, minha preocupação é: como maximizar a administração, a gestão, que precisa estar legitimada pelo voto popular, sim, mas não a ponto de perturbar a continuidade das ações de governo. Se o governo estiver bem avaliado, seu titular é reeleito, se não, não. E, nisso, um quinto ano de mandato acrescenta pouco: apenas faria, pelo cálculo acima que o terceiro e quarto ano fossem mais produtivos, enquanto um governante reeleito pode, em tese, ter todo o segundo mandato em razoável tranquilidade - sempre falando da gestão.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.