terça-feira, 6 de maio de 2014

Opinião do dia Roberto Freire

Nesta semana haverá a instalação da CPI da Petrobras, muito provavelmente a CPI mista [com deputados e senadores] que o governo não quer de jeito nenhum. Eles querem a CPI só no Senado porque lá têm maior controle, inclusive sobre a bancada do PMDB.Vai ser uma boa oportunidade para conhecer o que foi essa gestão temerária da Petrobras, principalmente durante o governo Lula. Foi um desastre.

Roberto Freire é deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS. Em entrevista de rádio, S. Paulo, 5 de maio de 2014.

CPI da Petrobras enfrenta novo impasse no Congresso

• Tucanos retiram indicações à investigação da Petrobras no Senado; Renan recorre ao STF

Isabel Braga e Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - Embora o Congresso Nacional tenha conseguido número suficiente de apoios para a criação de duas CPIs para investigar a Petrobras — uma só no Senado e outra mista, com deputados e senadores —, um jogo de pressões entre governo e oposição levou a um impasse na criação das comissões. Apesar de ter sido marcada para hoje a instalação da CPI do Senado, os tucanos decidiram retirar a lista com os nomes dos senadores que participariam das investigações como forma de pressionar o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), a acelerar a criação da CPI Mista. Por seu lado, o governo insiste na criação apenas da CPI do Senado, onde a fidelidade de sua base aliada é muito maior, e fará todo esforço possível para impedir a participação de deputados. Enquanto isso, Renan cumpriu ontem a promessa da semana passada e ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um recurso contra a decisão da ministra Rosa Weber que obrigou a comissão de inquérito a restringir as investigações à Petrobras.

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), argumenta que não há razão de um mesmo órgão, o Congresso Nacional, investigar o mesmo fato, a Petrobras, em duas CPIs. Senadores governistas, no entanto, afirmam que caso não seja possível evitar a instalação da comissão mista, o Planalto trabalhará até para que as duas funcionem ao mesmo tempo — mas nunca apenas a que inclui os deputados, já que a infidelidade da base aliada na Câmara está elevadíssima. Principal credenciado para resolver o impasse, Renan, que acumula a presidência do Senado e do Congresso, reúne hoje líderes da Câmara e do Senado para discutir a questão.

— O objeto é o mesmo. Além de desperdício de recursos, de energia, o Congresso ficaria desmoralizado. É cobrir de ridículo um assunto sério. O governo está parecendo cego em tiroteio: antes não queria nenhuma CPI e agora quer duas? Evidentemente que age assim para tentar desmoralizar as investigações que não conseguiu impedir — ataca Aloysio Nunes, que diz ter indicado os nomes para a CPI exclusiva antes de a CPI mista se viabilizar:

— Era uma brecha que encontramos, mas logo depois veio uma avenida enorme: 230 assinaturas de deputados dispostos também a investigar, inclusive deputados da base aliada.
O líder do PT no Senado promete reunir sua bancada hoje, antes da reunião com Renan, para fechar uma posição, mas a tendência é insistir na CPI exclusiva. Humberto Costa diz que regimentalmente não há impedimento para que haja uma CPI mista e outra exclusiva do Senado, mas que o ideal é que prevaleça a segunda:

— A oposição, claramente, não está interessada em investigar nada. Se quisessem, já instalaríamos hoje a CPI exclusiva do Senado. Eles foram ao Supremo, conseguiram a CPI e agora retiram os nomes? O único objetivo da oposição é fazer a disputa política, com uma CPI com o dobro de integrantes, para desgastar a presidente Dilma. Eles querem uma guerra de gritos, dezenas de parlamentares inscritos para debater um requerimento em ano eleitoral. Se for só do Senado, poderemos fazer um debate mais sereno e trabalhar na investigação — justifica Costa.

O bloco de apoio ao governo já indicou cinco titulares para a CPI do Senado: os petistas Humberto Costa, José Pimentel (CE) e Anibal Diniz (AC) e ainda Acir Gurgacz (PDT-RO) e Vanessa Grazziottin (PC do B-AM). O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que seu bloco já tem dois nomes de titulares escolhidos para a CPI exclusiva do Senado — Ciro Nogueira (PP-PI) e Clésio Andrade (PMDB-MG) — e que definirá, ainda hoje, os outros três para apresentar a Renan. Ele ainda pretende conversar com os senadores Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Vital do Rego (PMDB-PB), Luiz Henrique (PMDB-SC) e João Alberto (PMDB-MA) para saber quem aceita presidir a CPI exclusiva. Eunício criticou a decisão da oposição de não indicar os integrantes da CPI do Senado:

— É meio esquisito. Eles foram à Justiça, conseguiram garantir a instalação e agora não indicam?! O Senado não tem como não cumprir uma decisão judicial, tem que instalar a CPI exclusiva. Não há decisão sobre a CPI mista e, eles não indicando para a do Senado, será que o Supremo vai dar (decisão) para esta também? Amanhã (hoje) vou indicar os nomes que o presidente Renan pediu para a CPI do Senado. Se pedir também para a mista, vamos indicar.

Governo quer outras investigações
O presidente nacional do DEM e líder da legenda no Senado, José Agripino Maia (RN), rebate e defende a estratégia da oposição de focar as investigações na CPI mista:

— É um direito dos deputados investigarem também. Seria um ato de egoísmo do Senado querer que só os senadores investiguem. E você ter duas CPIs funcionando sobre as mesmas denúncias, vai passar para a opinião pública a impressão de que não se quer conclusão nenhuma sobre os fatos.

Os líderes da oposição afirmam que, desde quarta-feira passada, o presidente Renan deu sinais de que não pretende procrastinar e evitar a instalação da CPI mista. Aos líderes da oposição, ele garantiu que irá pedir os nomes aos partidos aliados e, por isso, a oposição pressiona para que a comissão mista já seja instalada amanhã. O governo, no entanto, trabalhará para adiar, ao máximo, a instalação da CPI mista e, em outra frente, pretende forçar a criação da CPI da Alstom, para investigar denúncias de formação de cartel e fraude em licitações em contratos firmados com o metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em governos tucanos de São Paulo.

Na Câmara, a oposição conta com a pressão de partidos da base aliada para a investigação conjunta de deputados e senadores. O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), diz que defenderá a instalação da CPI mista na reunião de hoje com Renan. Para ele, o presidente do Senado deveria indicar logo os nomes, já que a CPI já foi lida em plenário.

— Eu vou indicar membros do PMDB, quero levar os nomes já na reunião de amanhã (hoje). Vou indicar não para serem governistas, nem para serem oposicionistas. Simplesmente para apurar os malfeitos — disse Eduardo Cunha.

O recurso ao STF apresentado ontem por Renan Calheiros contra a decisão de Rosa Weber é escrito por três advogados do Senado e pede que a liminar seja revogada e o processo arquivado. A defesa argumenta que assunto é de competência exclusiva dos parlamentares, não podendo ser tratado pela Corte. O recurso será julgado no plenário do Supremo, em data ainda indefinida.

“Cuida-se de inadmissível e grave ingerência de um poder sobre o outro, sem o mínimo respaldo na Carta da República, tampouco na doutrina dos ‘checks and balances’ (freios e contrapesos). O Congresso Nacional possui autonomia para dispor sobre o exercício de suas competências no âmbito interno, autonomia essa que não é passível de controle por outro poder ou órgão público”, diz a ação.

Enquanto a oposição lutava por uma CPI exclusiva da Petrobras, governistas queriam instalar uma comissão ampla, em que fossem apuradas denúncias de irregularidades na Petrobras junto com assuntos relacionados ao cartel do Metrô de São Paulo e a irregularidades na refinaria Abreu e Lima e no Porto de Suape, em Pernambuco. Na liminar concedida à oposição, Rosa afirma que a minoria tem direitos constitucionais. O recurso ajuizado ontem no STF refuta a tese.

“Não se extrai de qualquer dispositivo da Constituição que poderia haver direito subjetivo líquido e certo de parlamentares da minoria em ver instaurada imediatamente a CPI, à revelia do procedimento previsto no Regimento Interno da Casa, e para apuração exclusivamente de fatos que lhes conviessem — ‘investigação seletiva’, na exata dicção do presidente do Senado Federal”, afirmam os advogados. (Colaborou Júnia Gama)

Impasse nos Estados contamina CPI da Petrobrás

• Renan recorre de decisão do Supremo, mas deve instalar hoje investigação exclusiva no Senado; PMDB ameaça atuar contra o governo para pressionar o PT

Débora Álvares - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Congresso Nacional deverá dar início hoje a uma investigação parlamentar sobre denúncias de irregularidades na Petrobrás sob forte influência da pré-campanha nos Estados. A expectativa é de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), instale uma CPI exclusiva na Casa e peça que os líderes no Senado e na Câmara indiquem os integrantes para uma segunda comissão, mista, também voltada para apurar denúncias que envolvem a estatal.

O futuro das investigações, porém, terá relação direta com a solução de nós nas alianças eleitorais entre PT e PMDB nos Estados. Maior bancada no Senado e segunda maior da Câmara, a legenda deve indicar a presidência das duas comissões e, assim, ter papel decisivo nas votações para aprovar ou rejeitar requerimentos. Entretanto, com acordos eleitorais com petistas travados em Estados-chave, o partido já avalia atuar contra os interesses do Planalto.

O problema começa pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, candidato ao governo do Ceará que desde o início do ano reivindica o apoio dos petistas. Sem qualquer sinalização, Eunício escolheu o dia em que o Congresso deve definir os rumos da CPI para se encontrar com o senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à Presidência. O tucano propõe apoio ao peemedebista no Ceará. Apesar de contar com apoio verbal da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, formalmente o PT tende a apoiar um nome indicado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, do PROS. A própria presidente se reuniu com Cid, mas não conseguiu ajudar Eunício.

O caso é semelhante ao de outros peemedebistas na Casa, como o líder do governo, Eduardo Braga (AM), e os senadores Romero Jucá (RR) e Vital do Rêgo Filho (PB), que enfrentam problemas regionais com o PT.

'Ingerência'. Quem vive situação semelhante é o próprio Renan, que tem a promessa de apoio do PT nacional a seu filho, o deputado Renan Filho, na corrida ao governo de Alagoas. No entanto, o diretório petista no Estado resiste. Com isso, Renan joga tanto em prol da oposição, ao ceder às pressões pela CPI mista, quanto a favor do governo. O presidente do Senado recorreu ontem ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão da ministra Rosa Weber, que determinou a instalação de uma CPI exclusiva da Petrobrás. Para Renan, a liminar é uma "ingerência" do Judiciário sobre o Legislativo.

"Em caráter preventivo e precoce, porque não havia lesão ou ameaça a direito de quem quer que seja, subtraiu-se do Legislativo que deliberasse e decidisse sobre a questão", diz o recurso assinado pelo presidente do Congresso ao Supremo.

Os impasses entre PT e PMDB também afetariam uma eventual CPI mista. No Rio, do líder peemedebista na Câmara, Eduardo Cunha, a campanha à reeleição de Luiz Fernando Pezão caminha para um palanque com espaço para Dilma, Aécio e o pastor Everaldo Dias (PSC). O PT deve lançar o senador Lindbergh Farias como candidato ao governo. Cunha deve indicar para a CPI mista o deputado Lúcio Vieira Lima, presidente do diretório da Bahia, Estado no qual o PMDB local já declarou apoio a Aécio.

Para efetivar a instalação da CPI, é necessário que todos os partidos que têm direito a cadeiras indiquem os membros. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), já anunciou que não escalará seus representantes para a CPI mista. O líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), retirou as indicações de Álvaro Dias (PR) e Mário Couto (PA) da CPI do Senado, como forma de pressionar pela comissão mista. O DEM sequer indicou o membro a que tem direito, mesma situação do PMDB. Na semana passada, Renan disse que usaria da sua prerrogativa, como presidente do Congresso, para indicar os nomes que faltarem./Colaborou Eduardo Bresciani

Diretor da Petrobras omitiu riscos sobre aquisição no Japão

• Compra repetiu omissões ocorridas na controversa aquisição de Pasadena

• Resumo executivo não informava que refinaria em Okinawa só tinha chance de dar lucro se dobrasse a produção

Samantha Lima - Folha de S. Paulo

RIO - A compra de uma refinaria no Japão pela Petrobras, em 2008, foi aprovada pelo conselho de administração da empresa sem que ele fosse informado dos riscos do investimento, como ocorrera antes com outra aquisição controversa, a da refinaria de Pasadena, nos EUA, em 2006.

Documentos internos da Petrobras, aos quais a Folha teve acesso, mostram que o resumo enviado pela diretoria da estatal ao conselho, pedindo aprovação da compra da refinaria Nansei, em Okinawa, omitiu vários riscos identificados por áreas técnicas.

Na avaliação dos funcionários, a refinaria, que dava prejuízo aos japoneses, só se tornaria rentável se fosse adaptada para refinar o petróleo brasileiro, mais pesado, e dobrasse sua capacidade de produção para 100 mil barris por dia, mas essa informação não foi transmitida ao conselho.

Como informou na semana passada o jornal "Valor Econômico", restrições ambientais impediram a ampliação. O investimento previsto no momento da aquisição foi cancelado em 2011, e a refinaria continuou produzindo apenas 45 mil barris por dia.

Quando o negócio foi submetido ao conselho, em novembro de 2007, a Petrobras era presidida por José Sérgio Gabrielli e tinha a atual presidente, Graça Foster, como diretora da área de gás.

Nestor Cerveró, que dirigia a área internacional, preparou o resumo avaliado pelo conselho, então presidido por Dilma Rousseff. Em março, a presidente atribuiu a Cerveró a culpa por ter aprovado a compra de Pasadena, ao receber dele um relatório considerado "falho" por ela.

A aquisição de 87,5% de Nansei foi fechada em 2008, por US$ 331 milhões, incluindo estoques, pagos à antiga dona da participação, a Tonen General, subsidiária da Exxon. A japonesa Sumitomo detinha outros 12,5%.

A justificativa para comprar Nansei era "expandir os negócios em mercados rentáveis no exterior", dado o "expressivo crescimento do mercado asiático".

Segundo os documentos internos, as áreas financeira e de estratégia consideravam que a refinaria Nansei não era rentável porque o indicador usado para medir a expectativa de retorno na compra de uma empresa era negativo em US$ 215 milhões.

Esse indicador, sustentavam os técnicos, só tinha chance de ficar positivo, em US$ 252 milhões, se houvesse o investimento bilionário em ampliação e adaptação.

O documento enviado ao conselho, porém, trazia outra avaliação, feita pela área internacional, de Cerveró, para quem o negócio era rentável mesmo sem a ampliação.

O documento também não dizia que a legislação ambiental impedia a Nansei de produzir 100 mil barris. Consultada, a Petrobras não disse se a informação sobre a restrição, revelada ao jornal "Valor Econômico", era conhecida na época.

A área de estratégia também via dificuldade para integrar a operação da refinaria com o restante dos negócios da Petrobras, concentrados no oceano Atlântico, e alertou sobre o risco de "ter que carregar por algum tempo um ativo com baixa rentabilidade". Isso não consta do resumo enviado ao conselho.

A Petrobras investiu na unidade, até hoje, US$ 111 milhões, e tentou vendê-la no início de 2013, mas não conseguiu. Hoje, a refinaria é tida como "ativo não estratégico", e a empresa diz procurar alternativas ao negócio.

Outro lado
A Petrobras reafirmou que a aquisição da refinaria "estava alinhada ao planejamento estratégico da época". A empresa não comentou as omissões no resumo enviado ao conselho. Gabrielli não quis comentar o caso. Cerveró não retornou à Folha.

CPI mista da Petrobras a caminho

• Presidente da Casa classifica de "ingerência" a decisão da ministra Rosa Weber, do STF, de restringir investigações apenas à Petrobras e recorre ao pleno da Corte. Colegiado misto deve ser instalado hoje

Diego Abreu, Paulo de Tarso Lyra e Étore Medeiros – Correio Braziliense

Duas semanas depois de a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), conceder liminar à oposição determinando que a CPI da Petrobras investigue somente denúncias relativas à estatal, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou recurso à Corte. Ele pede que o plenário do STF suspenda a decisão para que a própria Casa possa deliberar sobre a abrangência da CPI. Renan classificou de "grave ingerência" a liminar de Rosa Weber. Como o recurso não tem caráter suspensivo, o peemedebista deve anunciar hoje à tarde, durante reunião com líderes do Senado, a decisão de instalar um colegiado misto, e não exclusivamente composto por senadores.

Por ter a maior bancada no Congresso, a presidência da comissão ficará com o PMDB. O nome mais provável é o do senador Vital do Rêgo (PB). Ele já presidiu a CPI do Cachoeira e tem bom trânsito na Câmara, o que poderá ajudar o governo em momentos de acirramento de ânimos dos deputados. Entretanto, o Planalto teme que o parlamentar paraibano aproveite a comissão para manifestar descontentamento por ter sido cogitado para o Ministério da Integração Nacional e acabar preterido.

Enquanto busca a saída política para a instalação da CPI mista, Renan espera que o STF se pronuncie sobre o recurso. No ofício de 25 páginas, o Senado acusa a ministra Rosa Weber de ter invadido assunto de competência exclusiva do parlamento. "Cuida-se de inadmissível e grave ingerência de um poder sobre o outro, sem o mínimo respaldo na Carta da República. (...) O Congresso Nacional possui autonomia para dispor sobre o exercício de suas competências no âmbito interno, autonomia essa que não é passível de controle por outro Poder ou órgão público", destaca o recurso de Renan Calheiros, assinado por três advogados do Senado.

O presidente da Casa acrescenta que todos os assuntos que estejam na competência legislativa ou fiscalizatória do Congresso podem ser objeto de investigação e argumenta que a exigência de conexão entre fatos determinados se dá apenas para CPI já instalada. "Não há que se falar em conexão entre fatos no momento da criação de uma CPI. Em resumo, a delimitação do objeto de investigação encontra limites nas atribuições do Poder Legislativo e na exigência constitucional de determinação dos fatos." Caberá a Rosa Weber levar o recurso para apreciação dos demais ministros do Supremo no plenário. Não há prazo para que o caso vá a julgamento.

A oposição aguarda a decisão de Renan hoje à tarde para que o colegiado seja formado. "Espero que o presidente do Congresso peça a indicação dos membros da CPI mista, que terá prioridade, e da CPI do Senado, como já autorizado. E que, feita a comunicação dos nomes, a primeira reunião possa ocorrer já na quarta-feira (amanhã), para eleger o presidente e designar o relator", declarou o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

A desvantagem numérica em relação aos governistas não intimida a oposição. "Não podemos dar nenhuma demonstração de fraqueza em relação à instalação da CPI. Mesmo com a desvantagem numérica que nós temos, ela vai criar problemas (para o governo)", disse o vice-líder do PSDB na Casa, Alvaro Dias (PR).

As cadeiras de cada partido
Confira como será a divisão caso a CPI mista da Petrobras seja aprovada na reunião de líderes. Dos 32 integrantes, metade será indicada pela Câmara, e o restante, pelo Senado
Presidência PMDB do Senado
Relatoria PT da Câmara
Vagas de deputados
PT 2
PMDB 2
PSD 2
PSDB 1
PP 1
PR 1
PSB 1
DEM 1
SDD 1
PTB 1
Pros 1
PDT 1
Bloco PV/PPS 1
Vagas de senadores*
Bloco de apoio ao governo (PT-PDT-PCdoB-PSB-PRB)
5 vagas: provavelmente 4 do PT e 1 do PDT
Bloco da Maioria (PMDB-PSD-PP-PV)
5 vagas: provavelmente 4 do PMDB e 1 do PP
Bloco da Minoria (PSDB-DEM-SDD)
3 vagas: 2 do PSDB e 1 do DEM
Bloco União e Força (PTB-PR-PSC)
2 vagas: 1 do PTB e 1 do PR
Rodízio da minoria
Pros 1 vaga
*Não existe proporcionalidade dentro do bloco. A distribuição das vagas fica a critério do líder

Preocupação no Planalto

- Correio Braziliense

Mesmo com os sinais emitidos pelo PMDB do Senado — principalmente pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (AL) — de que o partido não pretende causar transtornos durante a CPI da Petrobras, o Planalto está preocupado com as investigações. Aliados da presidente Dilma Rousseff sabem que Renan tem interesse direto em ditar o ritmo dos trabalhos, já que tem sob seu controle a Transpetro, subsidária da estatal que comanda um orçamento de R$ 2,25 bilhões. Mas os mesmos interlocutores temem que a fatura cobrada para isso seja alta demais.

Dilma se reuniu ontem com os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa Civil), além do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), no Palácio da Alvorada. À noite, estava marcada uma reunião de Berzoini com os líderes aliados do Senado, mas por uma questão de agenda, o encontro foi desmarcado. Hoje, o ministro conversará com os deputados pela manhã e deve almoçar com os senadores do bloco liderado pelo PTB.

Fornecedores
Os aliados temem que a CPI se aprofunde na investigação dos R$ 90 bilhões de contratos firmados pela Petrobras sem licitação para a contratação de equipamentos e serviços de manutenção. Nesse montante, estariam compras feitas de grandes fornecedores da estatal, que já teriam deixado claro o incômodo de ver os nomes expostos diariamente nas páginas dos jornais.

Outra preocupação é com a lei anticorrupção, sancionada em janeiro. A legislação permite a punição de empresas envolvidas em atos de corrupção contra a administração pública nacional ou estrangeira. Antes da sanção da norma, as companhias flagradas em práticas ilícitas poderiam alegar que era uma atitude isolada do funcionário ou do servidor público. A partir de agora, porém, elas passam a ser alvos de processos civis e administrativos e podem pagar multa de 0,1% a 20% do faturamento anual bruto. Quando não for possível calcular essa receita, o valor pode ser estipulado por um juiz e variar entre R$ 6 mil e R$ 60 milhões. (PTL)

Oposição vai insistir em criação de CPI mista da Petrobras

• Líder do PSDB defende que CPI reúna senadores e deputados para ganhar força

O Globo, com Agência Senado

BRASÍLIA - A oposição ao governo Dilma Rousseff no Senado vai insistir que seja instaurada uma CPI mista da Petrobras. O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), afirmou nesta segunda-feira que o ideal é que apenas uma comissão seja criada, unindo deputados e senadores. Para ele, não tem sentido a existência de duas comissões parlamentares de inquéritos com o mesmo objeto.

— A oposição quer que funcione uma CPI mista, com deputados e senadores, porque terá muito mais força política e institucional, além de mais autoridade para averiguar os fatos e identificar culpados — argumentou.

Na opinião dele, os rumos da investigação, mesmo numa comissão mista com maioria governista, vai depender da atitude do PT e dos aliados do partido da presidente Dilma Rousseff.

— Se houver entre os aliados do PT, e eu sei que há, pessoas interessadas em esclarecer a verdade, a CPI vai ter um resultado muito bom, que é tirar a Petrobras das garras daqueles que estão destruindo a empresa — afirmou.

O comando do colegiado já foi definido: a presidência ficará a cargo do PMDB, e a relatoria com José Pimentel (PT-CE). Se instalada somente no Senado, a CPI terá 13 integrantes. Se for mista, serão 13 deputados e 13 senadores. Nas duas hipóteses, a presidência e a relatoria ficarão com PT e PMDB por contarem com as maiores bancadas.

Os petistas resistem em aceitar a criação de uma CPI mista, com senadores e deputados, porque acreditam que ficará mais difícil blindar o Palácio do Planalto em uma comissão mais ampla.

Quando a instalação de uma CPI para investigar irregularidades na Petrobras se tornou um fato inexorável, o governo passou a trabalhar para que a comissão acontecesse apenas no Senado, onde tem uma maioria mais confiável. Mas, com a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de instalar também a CPI mista, o PT acabou ficando isolado na defesa de uma comissão só com senadores.

IBGE revê decisão e mantém divulgação da Pnad Contínua

• Divulgação do dados do mercado de trabalho do 1º trimestre vai acontecer no próximo dia 3 de junho, conforme o cronograma original

Idiana Tomazelli- Agência Estado

BRASÍLIA/RIO - O Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) recuou e decidiu nesta segunda-feira, 5, por unanimidade, retomar a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), menos de um mês após suspendê-la. Pesaram para a nova resolução, segundo a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, as garantias apresentadas pela Diretoria de Pesquisas de que os dados ficarão prontos até as datas previstas no calendário inicial, ao mesmo tempo em que a equipe realiza estudos sobre a estimativa da renda domiciliar per capita, item alvo de questionamentos de parlamentares.

Com a mudança no posicionamento do IBGE, os dados referentes ao primeiro trimestre de 2014, coletados pela nova pesquisa sobre mercado de trabalho, de abrangência nacional, serão conhecidos em 3 de junho, conforme previsto anteriormente. A Pnad Contínua substituirá, no ano que vem, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) como termômetro do mercado de trabalho no Brasil.

O adiamento da Pnad Contínua, anunciado no mês passado, foi usado para a disputa eleitoral e chegou a provocar uma crise no instituto, respingando no governo. Na época, a oposição acusou a presidente Dilma Rousseff de ingerência política no IBGE, para esconder o aumento do desemprego. Tudo porque Wasmália comunicara, no dia 10 de abril, que o calendário de divulgação da Pnad Contínua estava suspenso.

A medida atendia a questionamentos dos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, e Armando Monteiro (PTB-PE) sobre a precisão das informações a respeito da renda domiciliar per capita para as unidades da Federação. O argumento era o de que as estimativas serviriam como base para o rateio do Fundo de Participação dos Estados (FPE), conforme definido na Lei Complementar nº 143/2013.

Protestos. O anúncio da decisão de suspender a divulgação da Pnad Contínua levou duas diretoras a pedirem exoneração de seus cargos. Além disso, coordenadores e gerentes de áreas estratégicas do IBGE ameaçaram colocar seus cargos à disposição, enquanto funcionários realizaram protestos e sinalizaram com a possibilidade de greve, também motivada por reivindicações salariais.

A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou, na ocasião, que um erro nos dados da Pnad Contínua poderia ser levado à Justiça pelos Estados. Adversários de Dilma, no entanto, não pouparam críticas ao adiamento. Nos bastidores, o governo avalia que foi vítima de "sincericídio" nesse episódio. Agora, auxiliares de Dilma repetem o mantra de que o IBGE tem "total autonomia" para decidir sobre suas pesquisas.

Wasmália procurou amenizar o mal estar com as idas e vindas do IBGE. "Tivemos, sim, uma crise de comunicação entre a diretoria e o corpo técnico, mas acho que não é nada inconciliável num prazo mais longo. A formação do grupo de trabalho é um demonstrativo de maturidade de ambas as partes, que trará bons resultados", afirmou. "Eu já vinha sendo informada pela diretora (de Pesquisas) em exercício, Zélia Bianchini, que os dados estavam sendo trabalhados pela equipe e que, muito provavelmente, estariam prontos no prazo previsto. Nesta segunda, ela trouxe essa certeza para o Conselho Diretor. Com o dado pronto para divulgação, não resta nada à direção do IBGE senão divulgar."

Adequação. A diretora Zélia Bianchini afirmou, em nota, que, além da tabulação dos dados para publicação, os estudos para adequar a estimativa da renda domiciliar per capita já estão sendo realizados. Detalhes do cronograma de trabalho até o fim do ano, para conciliar as duas tarefas, serão apresentados hoje à presidência do IBGE.

A decisão do Conselho vale também para as divulgações programadas para 28 de agosto e 06 de novembro, agora mantidas. Wasmália ponderou que o instituto enfrenta dificuldades em razão da grande parcela de funcionários em idade de se aposentar (cerca de um terço do quadro), mas disse acreditar que o Conselho não precisará rever novamente a decisão de divulgar a Pnad Contínua este ano.

A Lei Complementar 143/2013 previa que o anúncio do indicador de renda domiciliar ocorresse em janeiro de 2015, enquanto o IBGE se programava para publicar os resultados apenas em dezembro do mesmo ano. Com a necessidade de adaptação, porém, a divulgação da pesquisa seria retomada apenas no início do ano que vem.

Por reeleição, Dilma dá a tesoureiro do PTB cargo de vice da Caixa

• Cargo que foi ocupado por Geddel Vieira Lima, do PMDB, fica com sigla que promete aliança pela reeleição da presidente

Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo

Brasília - Para conseguir apoio do PTB à candidatura à reeleição, a presidente Dilma Rousseff loteou uma das vice-presidências da Caixa ao partido, que já ocupava uma vaga na cúpula do Banco do Brasil desde junho passado. A nomeação como vice-presidente corporativo de Luiz Rondon Teixeira de Magalhães Filho, primeiro tesoureiro do PTB, foi publicada na edição desta segunda-feira, 5, do Diário Oficial da União.

O partido que já foi presidido pelo delator do mensalão, o deputado cassado Roberto Jefferson, não ocupa ministérios na Esplanada, mas já havia sido contemplado em junho com o cargo de vice-presidente de Governo do Banco do Brasil. A vaga era ocupada pelo atual presidente do PTB, Benito Gama, que deixou o posto para se candidatar a deputado pela Bahia.

Gama assumiu o comando do PTB após Jefferson pedir licença do cargo, depois de ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Ele esteve presente no encontro nacional do PT, na sexta-feira, em São Paulo.

Efeitos. O partido aliado deve formalizar neste mês o apoio à reeleição de Dilma. O Palácio do Planalto pretende com isso neutralizar as ameaças de rebelião da base aliada por outros partidos, como PR e PROS.

Fora da Esplanada, o PTB conseguiu um cargo na Caixa que tradicionalmente era ocupado pelo PMDB. O último que despachou como vice-presidente corporativo ou de pessoa jurídica, como era chamado o cargo, foi Geddel Vieira Lima, que chegou a pedir pelo microblog Twitter que Dilma o exonerasse do cargo para poder disputar a eleição ao governo do Estado.

Com a nomeação, o PTB conseguiu ocupar cargos nos dois principais bancos públicos comerciais. No BB, Benito Gama indicou para substituí-lo Valmir Campelo, ministro que se aposentou do Tribunal de Contas da União (TCU) antes mesmo de contemplar 70 anos para assumir o posto no banco estatal. Rondon, o indicado pelo PTB para a vice-presidência da Caixa, foi o homem do partido na Eletronuclear e secretário adjunto de Previdência Complementar no Ministério da Previdência.

Cidades. Já a nomeação de José Carlos Medaglia Filho à vice-presidência de Governo da Caixa é indicação do PT. Ele substitui Gilberto Magalhães Occhi, que saiu do banco estatal para assumir o Ministério das Cidades. Occhi é ligado ao PP. O ministro conseguiu levar para a pasta Raphael Rezende Neto. Ele pediu exoneração do cargo de vice-presidente de Controle e Risco na Caixa para ser diretor de Mobilidade Urbana. No lugar dele, ficará interinamente a funcionária de carreira Alexsandra Braga.

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel, disse que a presidência nacional do partido deve se pronunciar sobre a troca, que deve levar insatisfação às bancadas. "Para o PMDB nacional é uma demonstração de perda de espaço. Não conseguiu ampliar a participação nos ministérios e ainda abre mão de espaços como esse que já estavam certos", afirmou. Ele disse, porém, que não há no Estado "nenhum tipo de preocupação" porque na Bahia o PMDB apoia a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB).

Para a vaga de Geddel, o PMDB tinha indicado Roberto Derziê, funcionário de carreira há mais de 20 anos no banco. A escolha tinha o aval de Jorge Hereda, presidente da instituição, que queria ver um nome técnico na vaga depois que Geddel pediu demissão por uma rede social, mas a presidente deu o cargo ao PTB.

PSB e PSDB se aproximam em Minas

Marcelo da Fonseca – Correio Braziliense

BELO HORIZONTE — O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, afirmou ontem, durante agenda na capital mineira, que a maioria do partido defende o apoio ao candidato tucano Pimenta da Veiga ao governo de Minas Gerais, mas que a decisão sairá da convenção estadual, marcada para o início de junho. Campos se encontrou com o ambientalista Apolo Heringer (PSB), que se lançou como candidato do partido ao governo estadual, mas enfrenta a resistência daqueles que querem a aliança com Pimenta da Veiga.

"Um conjunto defende a aliança com o PSDB, uma aliança que vem de muitos anos e que foi importante para a vitória na prefeitura de Belo Horizonte. Outro, sobretudo de integrantes da Rede — partido que Marina Silva tentou criar —, defende a candidatura própria. O natural é que possamos fazer esse debate com equilíbrio na convenção", explicou o socialista.

Campos descartou, porém, qualquer pacto com os tucanos para apoiar a candidatura de Pimenta em troca do apoio ao candidato socialista ao governo de Pernambuco. Mas avaliou que caberá à convenção do PSB de Minas definir se lançará ou não candidatura própria. "Nós não temos pacto firmado em canto nenhum. Temos partidos que têm relações em vários estados, de disputas e alianças. E respeitamos essa situação. No Recife, disputamos uma eleição com PT de um lado e PSDB de outro. Temos um país com 27 estados e cada um com realidade própria. Vamos respeitar a dinâmica de cada um", afirmou.

Ontem, o ex-governador de Pernambuco voltou a ressaltar que as diferenças entre suas posições políticas e as do pré-candidato do PSDB Aécio Neves ficarão cada vez mais claras com a aproximação das eleições. Campos afirmou que, durante sua trajetória e a do tucano, eles estiveram por várias vezes em campos opostos, mas que isso não impediu que mantivessem um bom diálogo até mesmo sobre pontos divergentes. "Nós temos uma caminhada de vida diferenciada. Somos de partidos diferentes e, nos últimos 20 anos, estivemos em campos diferentes. Isso nunca nos impediu que dialogássemos sobre os reais interesses do país", comentou.

PSDB discute indicação de Serra como candidato a vice de Aécio

• Defesa da chapa Aécio-Serra começou com políticos ligados ao ex-governador de São Paulo

• Os dois sempre tiveram uma relação conturbada; em 2010, quase se enfrentaram em prévia do PSDB

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A indicação do ex-governador de São Paulo José Serra para a vaga de vice na chapa presidencial do senador Aécio Neves (MG) passou a ser discutida dentro do PSDB.

Serra e Aécio já foram abordados por interlocutores dentro e fora do tucanato sobre o tema, mas dizem não ter conversado pessoalmente.

A decisão é complexa. Envolve não só um cálculo político, mas pessoal. Aliados de Aécio dizem que ele enxerga a tese da composição com Serra "mais com incredulidade do que com restrição".

Os que trataram com Serra sobre o assunto afirmam que o ex-governador não dá sinais de que toparia a empreitada, mas também não a rechaça.

Aécio e Serra tiveram por anos uma relação conturbada. Em 2010, ensaiaram disputar uma prévia para definir quem seria o candidato do partido à Presidência. Já na época houve uma tentativa (fracassada) de fazer com que fizessem uma dobradinha.

Hoje a defesa da chapa Aécio-Serra partiu de políticos ligados ao ex-governador de São Paulo. Ressaltando não falar em nome dele, aliados encomendaram pesquisas em seus Estados testando o nome de Serra na vice de Aécio.

No levantamento, num primeiro momento, Serra adicionaria votos a Aécio. O ex-governador foi candidato à Presidência em 2002 e 2010. Os defensores da composição dizem que Serra daria a Aécio mais votos em São Paulo.

O problema, segundo aliados do senador, é que Serra tem uma rejeição muito alta, na casa dos 40%. Esse grupo receia que o paulista possa transferir tal rejeição a Aécio.

Ontem, questionado a composição, Aécio elogiou o ex-governador, mas ressaltou não ter falado com ele: "A essa altura essas especulações são naturais. Não sei nem qual é a disposição do ex-governador sobre isso. Minha confiança é, sempre, de que estaremos juntos", disse.

Aécio falou ainda que o nome para a vice será debatido com os partidos aliados.

Serra, que vinha se mantendo distante da pré-campanha de Aécio, cruzou a agenda do mineiro por duas vezes nos últimos dez dias. Foi a um jantar oferecido pelo ex-prefeito Gilberto Kassab a Aécio em São Paulo e esteve, no último sábado, em uma exposição agropecuária onde o mineiro cumpria agenda.

Aécio disse não ter pressa para decidir sobre o tema. Os aliados de Serra acreditam que ele só definirá seu futuro na última hora. Hoje ele estuda a possibilidade de tentar a Câmara ou o Senado.

Enquanto isso, Aécio tenta se firmar como principal nome da oposição a Dilma. Nos últimos dias, o ex-governador Eduardo Campos (PSB)tem feito questão de se distanciar de Aécio, com quem vinha fazendo uma espécie de dobradinha contra a petista. Ele ressaltou divergências com o mineiro nas áreas de segurança e saúde, e também nas propostas para a reforma tributária e controle inflacionário.

Para Aécio, Serra como vice é apenas especulação

• Objetivo de discutir nome é reaproximá-lo do núcleo político do PSDB

O Globo

BRASÍLIA - Aliados do ex-governador José Serra estão trabalhando para emplacar o nome do paulista entre as possibilidades de escolha para vice-presidente na chapa encabeçada pelo senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG). Mas a hipótese é recebida com resistência por aecistas, que consideram a personalidade forte de Serra pouco apropriada para o papel de um vice. Nos bastidores, tucanos ligados a Aécio temem que o paulista provoque constrangimentos e tente se sobrepôr ao mineiro.

Na segunda-feira, Aécio disse que o assunto ainda não foi tratado e que ele nem sabe qual seria a disposição de Serra.

— São especulações absolutamente naturais nessa hora. Mas esse assunto não foi tratado ainda por nós. Não sei nem qual é a disposição do ex-governador — afirmou Aécio.

As especulações cresceram nas últimas semanas, no âmbito de uma estratégia de serristas de trazer o ex-governador de volta aos holofotes. Desde outubro de 2013, quando Serra anunciou que não trocaria o PSDB pelo PPS, e virtualmente abriu mão de disputar a Presidência da República, o paulista tem estado afastado do jogo eleitoral. A intenção, ao incluir o nome de Serra nos debates sobre a escolha do vice de Aécio, é justamente trazê-lo de volta ao núcleo de discussões tucanas para essa eleição.

Um interlocutor de Serra relata que o paulista “não fechou as portas” para a hipótese de ser vice porque nunca joga apenas com uma possibilidade. Até agora, a informação mais frequentemente divulgada é que Serra será candidato a deputado federal. O discurso usado pelos defensores da presença do ex-governador na chapa presidencial consiste em comparar a situação do PSDB com a de Eduardo Campos (PSB), que tem Marina Silva como vice para potencialmente agregar votos.

Embora seja visto como um político associado ao “velho” — antagônico à imagem que Aécio tenta construir —, Serra ainda tem força junto aos tucanos paulistas. Portanto, não seria simples para Aécio vetar sua participação na chapa, o que poderia afastá-lo dos tucanos paulistas.

Oficialmente, o discurso no PSDB é de que o vice de Aécio só será decidido na primeira semana de junho, pouco antes da convenção do partido, marcada para 14 de junho. Segundo tucanos próximos a Serra, o relacionamento entre Aécio e Serra, que nunca foi amistoso, estaria “melhor”. Por enquanto, ninguém diz, oficialmente, ter ouvido de Serra ou de Aécio manifestações sobre o vice.

Aécio diz que presidente Dilma criou um ‘inimigo imaginário’

• Em encontro com aposentados, tucano se referiu sobre uma suposta proposta de privatização da Petrobras

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - O presidente nacional do PSDB e pré-candidato à presidência, senador Aécio Neves, disse nesta segunda-feira que a presidente Dilma Rousseff tem criado “inimigo imaginário” nos últimos dias ao se referir a uma suposta proposta da oposição de privatização da Petrobras.

- Estou vendo a presidente da República quase que como aquelas crianças que criam um amigo imaginário e saem conversando com ele. Ela está criando um inimigo imaginário e começa a brigar com ele. Nos jornais, ela está dizendo que não vai deixar que privatizem a Petrobras. Meu Deus, quem está falando em privatizar a Petrobras? - afirmou Aécio após participar de um encontro com o Sindicato Nacional dos Aposentados, em São Paulo.

Aécio reafirmou que a sua proposta é “reestatizar” a maior empresa brasileira.

- Porque ela foi privatizada pelos interesses escusos de um grupo politico- declarou.
Em discurso aos sindicalistas, o senador também respondeu a uma crítica feita por Dilma na sexta-feira durante o 14º Encontro Nacional do PT, na capital paulista. Na ocasião, ela disse que a verdadeira herança maldita havia sido deixada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Nesta manhã, Aécio afirmou que a desindustrialização em curso no país será a maior “herança maldita” da gestão da presidente.

- Eu não me lembro de, no mês de abril, termos tantas indústrias parando e tantos trabalhadores em casa. Isso sim, é uma herança maldita - afirmou o senador tucano.

No evento com os aposentados, Aécio ouviu críticas à gestão de Fernando Henrique, que criou em 1999 o fator previdenciário para aposentadoria, e evitou se comprometer com o fim do fator previdenciário, uma das principais reivindicações da categoria. Por outro lado, Aécio fez um afago aos aposentados, formalizando a indicação do presidente licenciado do Sindicato Nacional dos Aposentados, José Batista Inocentini, para compor a sua equipe de elaboração do programa de governo.

Ao deixar o encontro, o mineiro disse que não há contradição entre a defesa que fez de flexibilização das leis trabalhistas com as reivindicações dos aposentados: - Todos os direitos dos trabalhadores serão garantidos. Eu tenho na minha história o DNA de quem assinou a Constituição de 1988.

Aécio ironiza a "imaginação" de Dilma

Juliana Cipriani – Correio Braziliense

O senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, ironizou ontem a postura da presidente Dilma Rousseff (PT) em relação às sucessivas denúncias contra a Petrobras e negou que os tucanos tenham intenção de privatizar a estatal. Ao falar para integrantes do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical (Sindnapi) em São Paulo, Aécio comparou Dilma a uma criança. "Vocês se lembram daquelas crianças que criavam um amigo imaginário e saíam conversando com ele? A presidente agora está criando o inimigo imaginário, e começa a brigar com ele", afirmou.

O presidenciável criticou a fala da petista, que no, fim de semana, disse que não permitirá a privatização da Petrobras. "Quem está falando em privatizar a Petrobras? O que eu quero é reestatizar a Petrobras porque ela foi privatizada pelos interesses escusos de um grupo político que dela se apoderou para fazer negócios", afirmou Aécio. Com a intensificação da crise da estatal, integrantes do governo têm pregado que os ataques seriam uma estratégia da oposição para enfraquecer e desvalorizar a empresa, preparando o terreno para uma futura privatização.

O tucano voltou a reclamar dos anúncios feitos pela presidente Dilma durante o pronunciamento à nação pelo Dia do Trabalho e anunciou que apresentará um projeto de lei para corrigir a tabela do Imposto de Renda nos próximos cinco anos pelo índice que mede a inflação (IPCA). Aécio disse que a correção do tributo, anunciada por Dilma, não pode ser moeda eleitoral. "Vamos parar com essa mania de querer fazer bondade pela metade."

O mesmo se aplica, segundo o tucano, ao salário mínimo. Para o pré-candidato, o aumento real não pode ser uma arma usada em toda véspera eleitoral. "Por isso, o projeto assinado pelo Paulinho (Paulinho da Força) e pelo líder do meu partido, deputado Antonio Imbassahy, que garante até 2019 a correção real do salário mínimo, terá o nosso apoio e espero que seja aprovado na Câmara e no Senado o mais rapidamente possível", garantiu.

Em evento com aposentados, Aécio ouve críticas à gestão de FHC

• 'O fator previdenciário, criado no governo FHC, foi um câncer', afirmou um sindicalista

Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Dois dias depois de participar do encontro de empresários onde voltou a defender a receita da ortodoxia fiscal em eventual governo do PSDB, o senador Aécio Neves, pré-candidato da legenda à Presidência, participou nesta segunda-feira, 5, de um ato político organizado pelo sindicato nacional dos aposentados. Durante o evento, ele ouviu críticas duras à gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas evitou sair em defesa do aliado.

"O fator previdenciário, criado no governo FHC, foi um câncer", disse o presidente da Força Sindical, Miguel Torres. Criado em 1999 pelo então presidente FHC, o fator previdenciário aplica ao valor dos benefícios previdenciários a idade do segurado e a expectativa de vida. Este mecanismo foi criado para desestimular aposentadorias precoces.

O senador recebeu um documento com demandas da categoria, que inclui, entre outras, o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho para 40 horas.

Em seu discurso, o tucano, que foi saudado aos gritos de "Brasil urgente, Aécio presidente", disse ter "grande preocupação com os aposentados", mas evitou falar sobre o fator previdenciário.

"O salário mínimo não pode ser peça de campanha eleitoral, como fez a Dilma", afirmou Aécio em palestra no Sindical Nacional dos Aposentados, em São Paulo. O tucano disse que encaminhará ainda nesta segunda-feira ao Senado um projeto para correção da tabela do Imposto de Renda. Ele criticou a presidente da República, Dilma Rousseff, que, em pronunciamento na véspera do Dia do Trabalho, anunciou uma correção de 4,5% na tabela do IR.

"As promessas não podem ser feitas apenas com sentido eleitoreiro, como fez Dilma em pronunciamento em cadeia de rádio e TV", disse Aécio. "Para mostrar que não faço propostas em troca de moeda eleitoral, estou apresentando hoje ao Senado um projeto que vai garantir a correção da tabela do Imposto de renda pelo IPCA pelos próximos cinco anos". Para Aécio, a tabela atual está defasada.

O pré candidato tucano também anunciou que o presidente nacional licenciado do sindicato dos aposentados, João Batista Inocentini, participará do grupo que vai elaborar o programa de governo do PSDB.

Na saída do evento na Sede Nacional dos Aposentados, que fica a poucas quadras da sede nacional do PT, o senador foi hostilizado por um popular que atirou nele uma bolinha de papel. E gritou: "Ele vai privatizar tudo de novo".

PSDB e DEM protocolam no TSE representação contra Dilma por campanha antecipada

• Oposição vai pedir investigação no MPF por prática de improbidade administrativa, que teria ocorrido no pronunciamento sobre o 1° de maio

O Globo

BRASÍLIA - O PSDB, partido do pré-candidato à Presidência Aécio Neves, protocolou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) representação contra a presidente Dilma Rousseff por campanha antecipada. O partido também vai apresentar nesta segunda-feira, no Ministério Público Federal (MPF), pedido de investigação por suposta prática de improbidade administrativa em pronunciamento de rádio e TV para o 1º de maio. Também serão apontados o secretário de Comunicação da Presidência, Thomas Traumann, e os demais responsáveis pela veiculação da propaganda, que o partido considera “ilegal”.

O DEM também avalia que o pronunciamento foi campanha antecipada. O partido anunciou que entrará hoje com representação no TSE contra a presidente por propaganda eleitoral antecipada. Eles também prometem ingressar amanhã com representação no MPF contra Dilma por improbidade administrativa.

— Cadeia de rádio e televisão não é gratuita. A cada final de ano, o espaço usado pelas autoridades em rádio e TV em veículos de comunicação é quantificado em valor e abatido no imposto de renda que essas empresas deveriam pagar. Portanto, o contribuinte paga por aquilo — afirmou o líder do DEM na Câmara, José Agripino.

Na quarta-feira passada, Dilma anunciou em cadeia de rádio e televisão aumento de 10% os valores do Bolsa Família, corrigiu a tabela do Imposto de Renda e prometeu manter o reajuste do salário mínimo acima da inflação. Em comemoração ao Dia do Trabalho, a presidente fez um discurso forte e de cunho eleitoral: disse que está ao lado dos pobres e defendeu a Petrobras.

Para os tucanos, o pronunciamento fere as regras pois Dilma deixou claro que é candidata à reeleição, falou sobre projetos que quer colocar em prática caso seja reeleita e ainda criticou oponentes.

“Houve propaganda eleitoral no pronunciamento da Senhora Presidente da República, na medida em que ocorreu veiculação de manifestação em período vedado por lei. Tal pronunciamento levou ao conhecimento geral a candidatura pública e notória da Representada, além de identificar as ações políticas que pretende desenvolver. Acresce que a Representada se posicionou como mais apta a exercer o mandato de presidente da República, inclusive ao atacar, incisivamente, seus adversários”, afirma o partido na representação assinada pelo coordenador jurídico nacional do PSDB, deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Sampaio afirma que o pronunciamento caracteriza propaganda antecipada.Ao TSE, os representantes do PSDB pedem que a presidente Dilma seja multada e que sejam adotadas medidas que a proíbam de fazer, o que na visão da oposição, foi campanha antes do período permitido.

Ao pessoalizar os atos de governo, a presidente Dilma esquece que o patrimônio público pertence ao povo brasileiro e não a ela própria e a seu grupo político. Isso é inconstitucional, ilegal e imoral - afirmou Sampaio.

A mesma visão é defendida pelo DEM:

— Foi um discurso de candidato à reeleição. No próximo ano ninguém sabe quem será o presidente da República. Quando ela diz ‘não podemos aceitar o uso político da inflação por aqueles que defendem o quanto pior melhor’, a quem ela se refere? Quem está indignado com a volta da inflação é o povo brasileiro, a quem ela agrediu com essa afirmação — afirmou José Agripino.

'Larga maioria' do partido apoia aliança com PSDB em Minas, diz Campos

• Parceira com tucanos sofre resistência de grupo ligado ex-ministra Marina Silva

Ana Fernandes e Marcelo Portela - O Estado de S. Paulo

BELO HORIZONTE - Pré-candidato do PSB à Presidência da República, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, disse nesta segunda-feira, 5, que "larga maioria" de seu partido apoia a coligação com o PSDB na disputa estadual em Minas Gerais, onde os tucanos pretendem lançar a candidatura do ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga. Campos recebeu título de cidadão honorário em Belo Horizonte, reduto eleitoral de seu concorrente Aécio Neves (PSDB) e terra natal da presidente Dilma Rousseff.

O ex-governador participou na manhã desta segunda-feira de cerimônia na Câmara Municipal de Belo Horizonte para receber título de cidadão honorário da capital de Minas, governada por seu aliado Marcio Lacerda (PSB).

Pimenta da Veiga foi indiciado pela Polícia Federal no mês passado. Ele é alvo de uma investigação aberta em 2013, considerada desdobramento da denúncia oferecida em 2007 pela Procuradoria-Geral da República com base no inquérito do mensalão mineiro.

A aliança com o PSDB em Minas é defendida por parte do PSB porque o prefeito de Belo Horizonte disse que não será candidato ao governo pela sigla. A parceria com os tucanos, porém, sofre resistência dos militantes da Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, pré-candidata à vice na chapa de Campos.

Campos disse ter se reunido na noite do domingo com militantes da Rede no Estado e conversado sobre o tema. O ex-governador não descartou a realização de prévias se a divergência persistir.

"Eu disse: vocês sabem da decisão do núcleo partidário aqui. Vamos dar direito a quem quer disputar", afirmou.

O ex-governador voltou a afirmar, nesta segunda-feira, que suas diferenças com Aécio ficarão "muito claras" ao longo da campanha.

"Somos de partidos diferentes, temos posições diferentes sobre uma série de temas e acho que democraticamente vamos explicitar isso ao longo do debate. As questões que nos diferenciam vão ficar muito claras", afirmou Campos, um dia depois de já ter feito a mesma declaração sobre o tucano.

Provocação. Mais cedo, em entrevista uma rádio local, Campos fez uma crítica indireta a Aécio ao afirmar que Pernambuco investiu mais do que Minas Gerais no ensino integral. A educação foi uma das bandeiras mais fortes da gestão de Aécio no governo do Estado, entre 2003 e 2010.

"Nós temos mais alunos em tempo integral em Pernambuco do que os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro juntos. Nós temos que levar isso para o Brasil inteiro", disse o ex-governador.

PSDB e PSB fazem de SP o eixo de suas campanhas presidenciais

César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - Detentor de 23% do eleitorado nacional e sem candidato próprio a presidente pela primeira vez desde 1950, o Estado de São Paulo será o eixo central das campanhas presidenciais de Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), os dois principais adversários da presidente Dilma Rousseff na eleição.

O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que está morando em São Paulo desde o mês passado, estuda com a sua pré-candidata a vice, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, entregar a uma liderança de São Paulo a coordenação-geral da campanha. O favorito para desempenhar o papel é o deputado Márcio França, que havia sido lançado pré-candidato a governador em março. Uma reunião prevista para a noite de ontem entre Campos e Marina, em Brasília, deveria decidir a questão, que pode deixar o PSB paulista livre para apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Caso não tenha candidato próprio em São Paulo, Campos perderia espaço no horário eleitoral gratuito, já que não estaria representado no tempo destinado aos postulantes do Estado. Mas o comando da campanha de Campos faz duas apostas para dividir os votos do maior colégio eleitoral do país: a presença física do candidato no Estado e o baixo potencial de transferência de votos de Alckmin para o candidato de seu partido. Por esta tese, retraído pelo desgaste dos tucanos após 20 anos de poder regional em São Paulo, Alckmin teria necessidade de montar uma coligação ampla, com aliados sem compromisso eleitoral com Aécio. Segundo aliados de Campos, as três candidaturas presidenciais devem ficar na faixa de 30% dos votos válidos no Estado.

O senador tucano Aécio Neves esteve ontem em dois compromissos na capital paulista, onde já havia participado das comemorações de 1º de maio. Na próxima semana, voltará duas vezes a São Paulo, para agendas em Ribeirão Preto e na região metropolitana oeste da capital. Aécio não descarta concentrar no Rio de Janeiro, onde tem residência, a produção de seus programas para o horário eleitoral. A mulher do candidato, Leticia Weber, está grávida e deve dar à luz na primeira semana de agosto. Mas sua presença em São Paulo poderá estar ancorada com um vice paulista em sua chapa, segundo comentou o presidente estadual do PSDB, deputado Duarte Nogueira.

"Isso poderá aumentar sua identificação com o Estado, que já estará garantida pela amarração que estamos fazendo entre a campanha pela reeleição de Alckmin e a candidatura presidencial do Aécio", afirmou Nogueira. O parlamentar disse que a coordenação de Aécio em São Paulo tem como meta obter 10 milhões de votos em outubro, um objetivo que representaria quase a repetição do resultado de 2010, quando o então candidato José Serra obteve 40,6% do total, ou 9,5 milhões de votos.

O deputado admitiu, entretanto, que Alckmin poderá ter companheiros de chapa sem compromisso com a candidatura presidencial. "As alianças não necessariamente se repetem", disse. A convenção que deve oficializar Aécio como candidato presidencial acontece em São Paulo, no dia 14 de junho. O encontro estadual do partido, que define a candidatura de Alckmin à reeleição e escolhe o nome para o Senado e para vice-governador, entretanto, só acontecerá no dia 28. "Nenhum candidato para senador ou vice deve ser lançado até lá", disse Nogueira.

A presidente Dilma Rousseff ficou em segundo lugar no Estado nas eleições presidenciais de 2010, com 37,3% dos votos no primeiro turno. Foi uma votação praticamente idêntica à obtida por Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, quando conseguiu 36,8% e também ficou em segundo. No comando da campanha da petista, não se espera um resultado melhor nas eleições deste ano, mas se conta com um desempenho pior dos tucanos: é feita a aposta que a crise de abastecimento de água no Estado já está contaminando a popularidade de Alckmin e pode debilitar Aécio por tabela. Nos cálculos petistas, Aécio conseguiria em São Paulo cerca de 30% do total, percentual semelhante ao obtido por Serra nas eleições de 2002.

Dora Kramer: Dilma paga o pato

• As insatisfações com a presidente dizem respeito à pessoa jurídica do PT S/A

- O Estado de S. Paulo

O PT procura espetar na conta exclusiva da presidente Dilma Rousseff um débito que é coletivo. O que há de errado agora foi celebrado pelo partido (e por que não dizer, por boa parte dos aliados e dos setores beneficiados) como acerto, seja na política econômica à época em que ela qualificou como "rudimentar" uma proposta de ajuste de rumos do então ministro Antonio Palocci, seja no enfrentamento da base parlamentar baseada na fantasia da "faxina" ou na lenda da gestora mais espetacular da face da terra.

Enquanto tudo ia bem todos achavam que estava tudo certo. As deficiências de Dilma eram evidentes desde a época em que chefiava a Casa Civil. Basta lembrar suas maneiras desajeitadas na tentativa de enfrentar os episódios do dossiê com as despesas de Ruth Cardoso quando Fernando Henrique ocupava a Presidência e as denúncias envolvendo Erenice Guerra, seu braço direito no ministério.

Deficiências estas que ficaram inscritas em letras maiúsculas nos registros da história dos primeiros momentos da campanha eleitoral de 2010, antes de o patrono e presidente Luiz Inácio da Silva entrar em campo e falar pela candidata praticamente o tempo todo. Ela era um desacerto só, inclusive nos debates. A despeito disso, foi vista e recebida com extrema boa vontade.

A Dilma Rousseff presidente não enganou ninguém. Não mudou. Diferentemente das circunstâncias. Quando as coisas começaram a dar errado - e para infortúnio do governo e do PT, começaram todas de uma vez - aí é que os companheiros de partido, os empresários, os aliados, boa parte do eleitorado e até seu criador acharam por bem notar seus defeitos, reclamar e atribuir a eles todos os males.

Mas, nos concentremos no PT que é quem mais se queixa e quem menos moral tem para se queixar. O partido é Lula, ninguém tem dúvida, pois não? Dilma é uma invenção de Lula e, portanto, do partido, que a aprovou, festejou e apoiou enquanto ela representava a certeza de que os empregos e o domínio da máquina pública estariam garantidos.

No momento em que sua figura passou a representar a incerteza, Dilma foi posta na condição de devedora do trem pagador. Como se seus índices de insatisfações fossem resultado do desempenho da pessoa física. Não são: dizem respeito à pessoa jurídica PT S/A, que assumiu o poder com o propósito explícito (dito à época com orgulho por seus dirigentes) de construir uma hegemonia política, social e cultural no Brasil.

Ocupar todos os espaços, o que significa reduzir (para não dizer dizimar) as outras forças a papéis meramente minoritários. Em português claro, quer dizer a intenção de desconsiderar o fator alternância de poder. Para isso, o partido não poderia criar atritos nem enfrentar conflitos, ainda que resultassem em avanços para o País.

Desde o início, o governo do PT escolheu o caminho que lhe pareceu o mais fácil. Não conseguiu maioria no Parlamento? Atraia-se com dinheiro a maioria. Seria difícil prosseguir com as reformas tributária, trabalhista, sindical, política, previdenciária? Abandonem-se as reformas. É complicado imprimir um padrão mais decente de relações entre Executivo e Legislativo? Revoguem-se as disposições em contrário e locupletem-se todos. As forças do atraso criarão dificuldades? Abram-se alas e recuperem-se seus espaços dando a elas lugares de honra, merecedores de todo apreço e proteção.

Isso não começou no governo Dilma. O esgotamento que se vê hoje é consequência de todos os abusos cometidos em nome da acomodação de interesses com vista à execução de um projeto partidário.

Quando Lula defendeu que o deputado André Vargas se jogasse ao mar para que o PT não pagasse "o pato", tentou transferir a responsabilidade de uma conta que foi por ele avalizada, pelo partido foi chancelada e cuja fatura mais dia, menos dia ao País seria apresentada.

Marco Antonio Villa: Adeus, PT

• Tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo

- O Globo

A cinco meses da eleição presidencial é evidente o sentimento de enfado, cansaço, de esgotamento com a forma de governar do Partido dos Trabalhadores. É como se um ciclo estivesse se completando. E terminando melancolicamente.

A construção do amplo arco de alianças que sustenta politicamente o governo Dilma foi, quase todo ele, organizado por Lula no início de 2006, quando conseguiu sobreviver à crise do mensalão e à CPMI dos Correios. Naquele momento buscou apoio do PMDB — tendo em José Sarney o principal aliado — e de partidos mais à direita. Estabeleceu um condomínio no poder tendo a chave do cofre.

E foi pródigo na distribuição de prebendas. Fez do Tesouro uma espécie de caixa 1 do PT. Tudo foi feito — e tudo mesmo — para garantir a sua reeleição. Parodiando um antigo ministro da ditadura, jogou às favas todo e qualquer escrúpulo. No jogo do vale-tudo não teve nenhuma condescendência com o interesse público.

A petização do Estado teve início no primeiro mandato, mas foi a partir de 2007 que se transformou no objetivo central do partido. Ter uma estrutura permanente de milhares de funcionários petistas foi uma jogada de mestre. Para isso foram necessários os concursos — que garantem a estabilidade no emprego — e a ampliação do aparelho estatal. Em todos os ministérios, sem exceção, aumentou o número de funcionários. E os admitidos — quase todos eles — eram identificados com o petismo.

Desta forma — e é uma originalidade do petismo —, a tomada do poder (o assalto ao céu, como diria Karl Marx) prescindiu de um processo revolucionário, que seria fadado ao fracasso, como aquele do final da década de 60, início da década de 70 do século XX. E, mais importante, descolou do processo eleitoral, da vontade popular. Ou seja, independentemente de quem vença a eleição, são eles, os petistas, que moverão as engrenagens do governo. E o farão, óbvio, de acordo com os interesses partidários.

Se no interior do Estado está tudo dominado, a tarefa concomitante foi a de estabelecer um amplo e fiel arco de dependência dos chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos aos interesses petistas. Abrindo os cofres públicos com generosidade — e que generosidade! — foi estabelecido um segundo escudo, fora do Estado, mas dependente dele. E que, no limite, não sobrevive, especialmente suas lideranças, longe dos recursos transferidos do Erário, sem qualquer controle externo.

O terceiro escudo foi formado na imprensa, na internet, entre artistas e vozes de aluguel, sempre prontas a servir a quem paga mais. Fazem muito barulho, mas não vivem sem as benesses estatais.

Mas ao longo do consulado petista ganharam muito dinheiro — e sem fazer esforço. Basta recordar os generosos patrocínios dos bancos e empresas estatais ou até diretamente dos ministérios. Nunca foi tão lucrativo apoiar um governo. Tem até atriz mais conhecida como garota-propaganda de banco público do que pelo seu trabalho artístico.

Mas tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo.

O cenário não tem nenhum paralelo com 2006 ou 2010. O desenho da eleição tende à polarização.

E isto, infelizmente, poderá levar à ocorrência de choques e até de atos de violência. O Tribunal Superior Eleitoral deverá ser muito acionado pelos partidos. E aí mora mais um problema: quem vai presidir as eleições é o ministro Dias Toffoli – como é sabido, de origem petista, foi advogado do partido e assessor do sentenciado José Dirceu.

Se a oposição conseguir enfrentar e vencer todas estas barreiras, não vai ter tarefa fácil quando assumir o governo e encontrar uma máquina estatal sob controle do partido derrotado nas urnas. As dezenas de milhares de militantes vão — se necessário — criar todo tipo de dificuldades para a implementação do programa escolhido por milhões de brasileiros. Aí — e como o Brasil é um país dos paradoxos — será indispensável ao novo governo a utilização dos DAS (cargos em comissão). Sem eles, não conseguirá governar e frustrará os eleitores.

Teremos então uma transição diferente daquela que levou ao fim da Primeira República, em 1930; à queda de Vargas, em 1945; ou, ainda, da que conduziu ao regime militar, em 1964. Desta vez a mudança se dará pelo voto, o que não é pouco em um país com tradição autoritária. O passado petista — que imagina ser eterno presente — terá de ser enfrentado democraticamente, mas com firmeza, para que seja respeitada a vontade das urnas.

É bom não duvidar do centralismo democrático petista. Não deve ser esquecido que o petismo é o leninismo tropical. Pode aceitar sair do governo, mas dificilmente sairá do aparelho de Estado. Se a ordem de sabotar o eleito em outubro for emitida, os militantes-funcionários vão segui-la cegamente.

Claro que devidamente mascarados com slogans ao estilo de “nenhum passo atrás”, de “manter as conquistas”, de impedir o “retorno ao neoliberalismo”. E com uma onda de greves.

A derrota na eleição presidencial não só vai implodir o bloco político criado no início de 2006, como poderá também levar a um racha no PT. Afinal, o papel de Lula como guia genial sempre esteve ligado às vitórias eleitorais e ao controle do aparelho de Estado. Não tendo nem um, nem outro, sua liderança vai ser questionada. As imposições de “postes”, sempre aceitas obedientemente, serão criticadas. Muitos dos preteridos irão se manifestar, assim como serão recordadas as desastrosas alianças regionais impostas contra a vontade das lideranças locais. E o adeus ao PT também poderá ser o adeus a Lula.

Eliane Cantanhêde: Revisitando Robin Hood

- Folha de S. Paulo

Em campanhas e em construção de imagem, não se trabalha com o concreto e sim com o abstrato, o imaginário coletivo.

Vem daí, para não ficar tão perto nem ir tão longe, a ficção do "caçador de marajás" que elegeu Collor herói nacional e presidente.

Aécio Neves e Eduardo Campos fazem campanha em cima de dados reais, surfando nos erros e nas quedas em pesquisas da própria Dilma e do próprio PT. Mas não têm marca.

Enquanto isso, o pronunciamento de Dilma (ou de João Santana?) deixa cristalinamente claro como eles armam o seu jogo: uma disputa entre o "bem" e o "mal".

O "bem", encarnado por Dilma, faz promessas, distribui bondades, cuida da classe C, privilegia os desfavorecidos. Sua pauta é "o povo já", danem-se o baixo crescimento, a inflação alta, esse tal de ajuste fiscal. Quem dá bola para essas chatices? Só a "elite" e a mídia.

O "mal", que a propaganda define e os companheiros disseminam, está em Aécio e em Campos, desdobrando-se para agradar o capital estrangeiro, os grandes bancos, as corporações, o agronegócio --que "só pensam em sugar as riquezas nacionais, com o povo na miséria".

Esses capitalistas "ingratos", como diria Lula, viraram do "bem" na sua era --e nunca lucraram tanto. Mas voltam a ser do "mal" se ousarem ficar contra Dilma.

Toda a torcida canarinho sabe que 2015 será de "ajustes impopulares" e de um choque de industrialização, nos dois casos para corrigir os erros de Dilma e levar o país a crescer --não para agradar o capital e sim para beneficiar os brasileiros.

A presidente, porém, "faz o diabo" para empurrar Aécio e Campos para uma encruzilhada: ou entram na onda populista para serem do "bem", ou assumem compromissos responsáveis e viram do "mal", demonizados pelo "sincericídio".

No fim, ganha quem vestir melhor a fantasia robinhoodiana de dar aos pobres. Mas sem tirar dos ricos...

Raymundo Costa: Sem carta aos brasileiros

• Candidatura Dilma deixa implícita volta de Lula em 2018

- Valor Econômico

No momento em que o mercado especulava sobre a edição de uma nova carta aos brasileiros, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o 1º de Maio para dobrar a aposta em seu governo e anunciar um pacote de bondades para os pobres e a classe média. Dilma vestiu azul e falou durante 12 minutos, em rede nacional, na contramão de quem diz que 2015 será um ano de ajuste.

A presidente deu o recado a seu eleitor que, segundo as últimas pesquisas de opinião, começa a lhe escapar por entre os dedos. Foi um recado forte, simbólico. Mas também passou uma mensagem ruim para aqueles que já estavam desconfiados dela e ajudavam a engrossar o coro pela volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Até entre colaboradores mais próximos da presidente que participam da discussão sobre o futuro governo, no caso da reeleição de Dilma, há um certo consenso de que está com os dias contados a atual fórmula de correção do salário mínimo - uma combinação da variação da inflação com a com o crescimento do PIB.

Por mais vago que seja o termo "valorização" do mínimo, os intérpretes oficiais da presidente asseguram que Dilma estava mesmo avalizando a manutenção da fórmula atual, consagrada numa lei que vence em 2015.

As palavras de Dilma não deixam muita margem para dúvida: "Algumas pessoas reclamam que o nosso salário-mínimo tem crescido mais do que devia (...) dizem que a valorização do salário mínimo é um erro do governo e, por isso, defendem a adoção de medidas duras, sempre contra os trabalhadores", disse a presidente. "Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial, nem o governo da mão dura contra o trabalhador".

O ajuste de 10% no valor do Bolsa Família, o que aumenta as despesas, e a correção em 4,5% da tabela do IRPF, o que diminui a receita, também não são propriamente iniciativas de quem pretende fazer um rigoroso ajuste fiscal no próximo ano. É um discurso que assusta os mercados, mas Dilma sabia disso e escolheu. Ela fez a opção de falar com o seu eleitor.

Correta ou não, do ponto de vista eleitoral da presidente e seus assessores, o fato é que Dilma apontou para outra direção, dobrou a aposta no seu governo e não deixou dúvida de que não se deve esperar dela uma carta nos termos que Lula foi constrangido a assinar em 2002 para acalmar uma banca inquieta com a iminente vitória do PT nas eleições.

As explicações no governo são de que não se deve comprar o discurso de Dilma pelo seu valor de face, o que está escrito e a presidente avalizou em rede nacional de rádio e televisão. Seria apenas uma manifestação sob medida para as eleições.

Pode ser. Pronunciamentos em rede dos presidentes não costumam render grande audiência, mas fornecem excelentes imagens para os programas do horário eleitoral gratuito. Na cúpula da campanha da presidente, no entanto, a fala de Dilma não surpreende: um novo governo do PT - é o que se diz - deve servir à "consolidação do modelo" posto em prática nos últimos 11 anos de governos do Partido dos Trabalhadores.

Os mercados podem não ter gostado do discurso de Dilma, até o PT tem razões para queixas, pois ao falar dos "malfeitos" a presidente não fez distinções, ao contrário, disse que não os iria tolerar "sejam eles cometidos por quem quer que seja". Mas o "Volta, Lula" foi enterrado no encontro do PT, no último fim de semana. Pelo menos para 2014, pois o que está implícito na confirmação da recandidatura da presidente da República é a candidatura do ex-presidente na eleição que escolherá o sucessor de Dilma, em 2018.

O PT não tinha como trocar de candidato, à esta altura, sem deixar subentendido que o governo Dilma era um fracasso. Isso deveria ter sido feito bem tempo antes. A mudança, agora, colocaria em risco o próprio Lula, um ativo que o partido não pode se dar ao luxo de desperdiçar. Havia também a vontade de Dilma. E Lula já tinha afirmado, com bastante antecedência, que se algum dia houvesse uma diferença entre ele e a presidente, a razão estaria com ela.

A nova arrumação do Palácio do Planalto, depois da reforma ministerial, tem sido elogiada até pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os principais auxiliares de Dilma manifesta-se "alívio" pelo fim do fogo amigo. Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) têm se entendido, ao contrário do que se previa inclusive no PT.

Em reunião recente, Lula ficou admirado quando viu Mercadante manter a defesa do PMDB, mesmo quando todos os demais integrantes da coordenação da campanha da presidente criticavam as chantagens e o inesgotável apetite fisiológico do aliado. Dilma chegou a reclamar da insistência do chefe da Casa Civil, mas o ministro rebateu dizendo que estava no cargo para dizer o que pensava. Com muita clareza: quando não é atendido, o PMDB espera um momento de vulnerabilidade do governo para apresentar uma conta dobrada.

A propósito do "Volta, Lula": em 2008, a discussão era sobre o terceiro mandato do então presidente da República. Por mais que Lula negasse a intenção de disputar um novo mandato, até parlamentares próximos a ele, como Devanir Ribeiro (PT-SP), hastearam a bandeira do continuísmo no Congresso. Em 2008, como agora, prevaleceu o que dizia o ex-presidente.

A reforma tributária ficou de fora do texto com as diretrizes para o programa de governo da presidente Dilma, apresentado no encontro nacional do PT realizado no fim de semana, mas deve aparecer com destaque na redação final, depois da consulta às instâncias partidárias. A reforma é considerada essencial na campanha de Dilma. A proposta deve abrir o debate sobre a redistribuição da carga tributária e apontar uma saída para as dívidas das prefeituras, esgotadas financeiramente e sem caixa para investimento.

José Casado: PT conspira contra Dilma

• Inédito: a cinco meses da eleição, um partido vacila em carregar a sua candidata, que lidera as pesquisas. Se ela perder, Lula deve voltar no seu melhor papel, o de líder da oposição

- O Globo

Atônito, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, viu alguém sair da plateia e depositar um rolo de papel higiênico à sua frente. Foi xingado das mais variadas formas, na noite de segunda-feira (28/4) da semana passada, apenas porque representava o governo em um debate com jovens ativistas cariocas.

Ele deixou a sede do Sindicato dos Bancários, antigo bunker do Partido dos Trabalhadores no Rio, sob vaias e depois de uma frustrada tentativa de diálogo. Sentiu na pele o “problema de imagem” que tem atormentado a cúpula petista, incluído o ex-presidente Lula.

Carvalho não sabia, mas àquela altura vivia-se um desconforto no Palácio do Planalto, a 1.500 quilômetros de distância. Tudo porque o líder de um partido aliado, o PR, posou para fotografias trocando o retrato da presidente Dilma Rousseff pelo de Lula, com faixa presidencial, na parede do seu gabinete no Congresso.

Quatro dias depois, na sexta-feira (2/5), Dilma foi a São Paulo para o cerimonial de sagração de sua candidatura à reeleição. Em reunião com 800 delegados do PT foi recebida com manifestações de “Volta Lula”.

No dia seguinte, sábado (3/5), viajou a Uberaba (MG) e enfrentou coro similar entoado por uma plateia diferente, a dos empresários da agroindústria.

A novidade na praça é o visível isolamento da presidente em plena campanha de reeleição. E o mais insólito é o fato de que a desconstrução da candidata do PT começou no próprio partido — dentro da ala majoritária petista que emerge dessa empreitada unida ao conservadorismo religioso e ao empresariado devoto do capitalismo de laços com os cofres públicos.

O Partido dos Trabalhadores organizou a máquina eleitoral mais eficiente do país. Já ganhou três das seis eleições presidenciais diretas realizadas desde a ditadura e está no poder há 12 anos. No entanto, se mostra vacilante em carregar a sua candidata, a gerente da herança da era Lula, que transita pelas pesquisas com média de preferência eleitoral muito superior à que possuía a cinco meses da eleição de 2010. Isso é absolutamente incomum.

“Não vai ser moleza”, disse Lula na sexta-feira ao anunciar Dilma como alternativa eleitoral do PT neste ano. Ele sabe, como poucos, que não há dia fácil numa disputa presidencial — foi candidato durante 17 anos seguidos, de 1989 a 2006. Por isso mesmo, é notável a complacência com que, nos últimos dez meses, assistiu à passagem da procissão de petistas e aliados em conspirações para golpear a candidatura presidencial à reeleição.

Se vencer, Dilma estará na inédita posição de ter sido reeleita apesar de boa parte do PT e dos aliados. Como toda vitória ajuda a curar feridas de campanha, talvez atravesse o segundo mandato empenhada em reconstruir a própria base no PT e adjacências — a alternativa será arrastar correntes no palácio até o último dia de 2018.

Se perder, Dilma vai para uma posição singular na história recente: a de presidente-candidata abatida pelo próprio partido e aliados em pleno voo, mesmo tendo liderado as pesquisas durante a maior parte da campanha.

Então, Lula deverá voltar no seu melhor papel de sempre, o de líder da oposição.