terça-feira, 29 de abril de 2014

Opinião do dia: Joaquim Barbosa

O juízo de valor emitido pelo ex-Chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome.

Lamento profundamente que um ex-presidente da República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira para questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte da Justiça do País. A desqualificação do Supremo Tribunal Federal, pilar essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o mais veemente repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros clamam por justiça.

Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal, repudiando as declarações do ex-presidente Lula, O Globo, 29 de abril de 2014.

Petrobras - Empreiteiras repassaram R$ 90 milhões a doleiro

MP vai investigar se pagamento são propinas por contratos com estatal

Jailton de Carvalho- O Globo

BRASÍLIA - Na segunda etapa da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal (PF) vai apertar o cerco sobre dirigentes de empresas, especialmente de empreiteiras contratadas pela Petrobras que fizeram pagamentos à MO Consultoria, do doleiro Alberto Youssef, preso desde 17 de março. Em denúncia apresentada à Justiça Federal semana passada, o Ministério Público Federal informa que as construtoras repassaram R$ 89,7 milhões para a MO, de janeiro de 2009 a junho do ano passado. De acordo com a investigação da PF, a MO é uma empresa fictícia e seria usada por Youssef para pagamentos de propina.

No centro dessa nova linha de investigação estão empresas ligadas à construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Entre as empreiteiras que fizeram pagamentos à MO estão OAS, Galvão Engenharia e Coesa Engenharia, entre outras grandes empresas. Pelas informações da força-tarefa de procuradores encarregada de atuar no caso, a OAS fez dois pagamentos no total de R$ 1,6 milhão, entre 8 de setembro de 2010 e janeiro de 2011; a Galvão Engenharia desembolsou R$ 1,5 milhão, entre abril e março de 2011; e a Coesa, R$ 435 mil, em 3 de janeiro de 2011.

Na lista de empresas a serem investigadas estão Jaraguá Equipamentos, Empreiteira Rigidez, Consórcio Sehab, Consório RNEST, JSM Engenharia e Unipar Participações, entre outras. A PF e o Ministério Público Federal suspeitam que empresas pagavam propina à MO, de Youssef, em troca de contratos com a Petrobras ou com empresas contratadas pela estatal a partir de negociações intermediadas por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Costa também está preso em Curitiba.

Para MP, recursos vieram de propina
No topo da lista de empresas que fizeram os pagamentos mais volumosos à empresa supostamente fictícia de Youssef está a Camargo Corrêa, uma das sete maiores construtoras do país. Na denúncia, o Ministério Público informa à Justiça Federal que a empreiteira repassou R$ 26 milhões para a MO, por intermédio da Sanko Sider Comércio Importação e Exportação de Produtos Siderúrgicos e da Sanko Serviços. O nome da Camargo Corrêa, que lidera o consórcio de construção da Abreu e Lima, é um dos alvos da investigação desde o início da Lava-Jato.

“Vale reforçar que a MO Consultoria, com a finalidade única e exclusiva de dissimular a origem de recursos públicos desviados da obra da refinaria Abreu e Lima, recebeu recursos de diversas outras empresas que prestaram serviços para o Consórcio Nacional Camargo Corrêa”, sustentam os procuradores Januário Paludo, Andrey Borges de Mendonça e Adriana Aparecida Storoz Mathias dos Santos, integrantes da força-tarefa responsável por uma das seis denúncias apresentadas à Justiça Federal semana passada.

Segundo os procuradores, “todos os recursos repassados para a MO Consultoria são provenientes de propina (vantagem indevida), pelo fato de essa empresa existir apenas formalmente, sequer tendo empregados registrados e não apresentando declaração de Imposto de Renda”. Em depoimento à PF, o suposto dono da MO Consultoria, Waldomiro Oliveira, confessou que a empresa “não tinha qualquer atividade comercial, funcionando apenas para emitir notas fiscais por ordem do denunciado Alberto Youssef”.

Para a PF, os negócios de Youssef com prestadores de serviços de empresas envolvidas na construção da Abreu e Lima eram facilitados por Paulo Roberto Costa. Na denúncia, os procuradores citam relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as supostas fraudes nas obras da refinaria. Só em dois contratos, os auditores do TCU identificaram superfaturamento de mais de R$ 600 milhões. A denúncia contra Costa, Youssef e mais oito supostos cúmplices foi aceita pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, sexta-feira passada.

Na denúncia, os procuradores reafirmam que Costa e Youssef mantinham relações sólidas voltadas para a prática de crimes. Como indícios concretos dos vínculos entre o ex-diretor da Petrobras e o doleiro, os procuradores citam o carro de R$ 250 mil que Youssef comprou para Costa e trechos de papéis apreendidos, nos quais constam relatos sobre a abertura de offshores e compra de empresas pelos dois. Recortam partes de uma planilha em que Costa teria anotado valores recebidos de Youssef. As cifras, relativas a 2012 e 2013, somariam mais de R$ 1 milhão.

Os procuradores destacam ainda uma anotação encontrada na agenda de Costa, em que o ex-diretor da Petrobras debocharia de políticos que fazem discurso contra a corrupção. “Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder (Millôr Fernandes)”, diz a mensagem. Para os procuradores, essa é uma amostra da “tônica utilizada por Paulo Roberto Costa para tratar as relações de poder”. Procuradas pelo GLOBO ontem à tarde, a OAS e a Galvão Engenharia não se manifestaram. Segundo a assessoria de imprensa da OAS, a empresa não iria responder às perguntas do jornal. O GLOBO perguntou se a OAS tinha contrato com a MO e quais os serviços prestados pela empresa de Youssef justificaram os pagamentos.

O jornal telefonou para um número que consta na página da Coesa na internet. Mas uma pessoa desligou o telefone quando indagada sobre o pagamento à MO. No início do caso, quando surgiu pela primeira vez o nome da Camargo Corrêa, sua assessoria de imprensa informou que a empresa não se manifestaria sobre o assunto. A Polícia Federal também fará um levantamento de empresas ou pessoas que receberam dinheiro da MO e da GFD, outra empresa de Youssef. As investigações da Operação Lava-Jato foram tornadas públicas no dia 17 do mês passado, quando Youssef e outros supostos cúmplices foram presos.

Líderes da oposição vão se reunir com Renan para cobrar CPI da Petrobras

Revelação de gasto com Pasadena reforça necessidade de CPI, diz oposição

Valor de quase US$ 2 bilhões foi divulgado pelo GLOBO

Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - A informação, divulgada pelo GLOBO, de que a Petrobras gastou quase US$ 2 bilhões com a refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), serviu como lenha na fogueira para que a oposição na Câmara voltasse a insistir na instalação de uma CPI mista com o objetivo de apurar supostas irregularidades na transação. Nesta terça-feira, líderes dos cinco partidos de oposição — PSDB, DEM, PPS, PSB e SDD — vão se reunir com o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para cobrar a criação imediata da CPI mista.

Além de US$ 1,249 bilhão pagos pela Petrobras na aquisição de Pasadena, a petroleira teve de desembolsar outros US$ 685 milhões em melhorias operacionais, manutenção, paradas programadas e SMS (segurança, saúde e meio ambiente), como admitiu a Petrobras em nota ao GLOBO.

Apesar de ter consumido quase US$ 2 bilhões, a refinaria tem um valor contábil bem abaixo disso. Em abril de 2013 os registros contábeis da Petrobras atestavam que, em novembro de 2012 — ano do fim do litígio com a Astra Oil —, essa cifra era de US$ 572 milhões, enquanto o “valor presente líquido” estava estimado em US$ 352 milhões. Essa expressão contábil refere-se às projeções de fluxo de caixa para os próximos 25 anos.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), lembrou que a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, ao prestar esclarecimentos no Senado, negou que a Astra Oil tivesse pago US$ 42,5 milhões por Pasadena. Na ocasião, ela afirmou que a empresa belga havia desembolsado US$ 360 milhões quando adquiriu a empresa da Crown, a antiga proprietária. O valor levava em consideração outras aplicações realizadas pela Astra.

— Como ela faz uma soma no valor que a belga pagou e não faz o mesmo com o que a Petrobras desembolsou? Essa informação do GLOBO sobre o valor real é muito importante — disse ele.
Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), a revelação de que Pasadena já consumiu US$ 1,934 bilhão é um agravante na negociação, que ele considera nebulosa. Para o tucano, a informação contribui para a instalação da CPI mista.

— Isso robustece ainda mais a instalação da CPI, que já é uma realidade, depois que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que ela terá de ser exclusiva para a Petrobras.

Para o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), a Petrobras está sendo dilapidada:

— O caso de Pasadena agride a inteligência de qualquer pessoa. Estamos pagando uma fortuna sem tamanho por isso — criticou. — Cada hora é um valor que aparece. Isso só significa uma coisa: má gestão.

Bueno afirmou que a prioridade da oposição é instalar uma CPI mista, na Câmara e no Senado. Na avaliação dos parlamentares contrários ao governo, se a CPI for só no Senado, o controle do governo será maior, uma vez que a base aliada detém ampla maioria.

— Queremos saber quem se apossou desse dinheiro — disse Bueno.

Na avaliação do líder do PSB, deputado Beto Albuquerque (RS), a notícia de que Pasadena custou mais do que se sabia é mais uma justificativa para a instalação da CPI mista:

— Não há uma semana que não tenha um fato novo sobre Pasadena. Os valores se alteram com frequência. É um negócio nebuloso, cheio de contradições — afirmou. — Esse tipo de informação, dos gastos com essa refinaria, é combustível puro para a CPI.

Os governistas atuam para protelar a criação da CPI mista. O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), disse que não há previsão para que a CPI seja instalada. Segundo ele, o comunicado da decisão da ministra do STF não chegou ao Senado, e só quando isso ocorrer os líderes serão informados para que coloquem em prática a decisão judicial.

Disputa ferrenha por mercado de US$ 8 bi

Fiscalização precária, irregularidades trabalhistas e firmas aventureiras marcam a terceirização de serviços no governo federal

Guilherme Araújo, Simone Kafruni – Correio Braziliense

A terceirização de mão de obra para o governo federal se tornou um negócio e tanto. Pelo menos R$ 8 bilhões são despejados todos os anos por meio de contratos fechados por ministérios, secretarias e agências reguladoras, sendo que parte desse dinheiro escorre pelo ralo por falta de regras rígidas e de fiscalização. Essa montanha de recursos é, no entanto, a parte visível dos negócios, pois vários órgãos se recusam a dar transparência às informações. Não à toa, o setor se tornou um chamariz para firmas aventureiras, que promovem a concorrência desleal, ao oferecerem preços baixos para vencer as disputas. Sem estrutura, quebram poucos meses depois e somem com os recursos de milhares trabalhadores. Tudo facilitado por falhas nos métodos para a escolha das vencedoras das licitações.

"É visível que há muita coisa errada, mas ninguém faz nada", diz um funcionário do Ministério da Fazenda. "Pode prestar atenção: são recorrentes os casos de empresas que recebem do governo, dão calote em funcionários, têm os contratos cancelados, mas, logo depois, voltam a atuar na Esplanada dos Ministérios", frisa. (Veja as empresas na página ao lado)

Pior: não se abre nenhuma investigação para os golpes. E o governo paga duas vezes. Primeiro, para a empresa que sumiu. Depois, para os funcionários que ficaram sem salário e sem os direitos trabalhistas. "Tornou-se rotina ver empregados de empresas terceirizadas dizendo que não tiveram o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) depositado nem as contribuições à Previdência Social efetivadas. Para evitar isso, bastaria que os responsáveis pela gestão dos contratos exigissem, mensalmente, os comprovantes dos depósitos no FGTS e de contribuições à Previdência. Essa rotina livraria muita gente de cair nas garras de empresas golpistas", afirma o servidor da Fazenda.

Descaso
Ele sabe do que fala. No ano passado, a Adminas Administração e Terceirização de Mão de Obra, com sede em Belo Horizonte, e a Delta Locação de Serviços e Empreendimentos, de Lauro de Freitas (BA), receberam do Ministério da Fazenda, mas não pagaram os trabalhadores. As empresas, que sumiram do mapa, também deixaram um rastro de prejuízos nos ministérios da Integração Nacional e da Justiça e no Banco do Brasil. A Delta, por sinal, havia sucedido a Visual Locação e Serviços como prestadora de serviços à Fazenda. A empresa teve seu contrato rescindido exatamente pelo mesmo motivo, ou seja, não pagou os trabalhadores da pasta e desapareceu com o dinheiro. Nenhuma das três firmas foi encontrada pelo Correio para se manifestar. A Fazenda não comentou sobre esses casos.

A PH Serviços é a campeã de contratos de terceirização com o governo federal. Apenas no ano passado, foi agraciada com R$ 254 milhões ao oferecer copeiras, recepcionistas e telefonistas para a Esplanada. Apesar desse alto valor, são recorrentes as reclamações de funcionários por atrasos no pagamento de salários. Duas trabalhadoras, que preferiram não se identificar, por medo de retaliação, alegam ter recebido o último contracheque e o vale-transporte 20 dias depois da data prevista em lei. "Tenho três filhos para cuidar, e a empresa não paga em dia. No mês passado, sobrevivi graças a doações de minhas amigas", diz uma delas, que trabalha no Ministério da Saúde. "Preferimos não reclamar porque os supervisores ameaçam nos demitir", observa outra empregada.

Em nota, o presidente da empresa, Hélio Chaves Júnior, afirma que a PH "nunca foi indiciada por qualquer órgão de controle por fraude em licitação pública". Ele ressalta que não há registro de atraso nos salários. "Nunca fomos condenados por qualquer conduta contrária à legislação trabalhista." Os empregados da GVP Serviços, que está entre as 10 maiores prestadoras de serviços ao governo federal, também reclamam dos salários atrasados. Procurada, a empresa não respondeu ao Correio até o fechamento da edição.

Outra terceirizada com presença marcante na Esplanada é a Confederal, que presta serviços de segurança para vários órgãos. Em 2013, embolsou R$ 44,9 milhões com os contratos. O diretor da empresa, Ricardo Augusto, afirma que o valor é pequeno para executar o trabalho com qualidade. "Se for dividir por 12 meses, não é nada", alegou. Ele garante que, diante da concorrência maior, está perdendo espaço. "Os nossos números estão caindo", assinala.

Com contratos de R$ 23,5 milhões no ano passado, a Interativa também lamenta que não tenha conseguido vencer mais licitações. "No governo federal, tem muita empresa que entra, ganha o pregão e quebra. Os meus contratos são de pequeno valor. Representam apenas R$ 2 milhões por mês, e são todos antigos. Neste ano, só venci um, de R$ 40 mil por mês. Empresas da Bahia e de Belo Horizonte, sem nenhuma estrutura em Brasília, estão ganhando tudo. Por isso, estou procurando trabalhar em outros estados", reclama o dono da terceirizada, Izaías Junio Vieira.

A proprietária da Planalto, Rita de Cássia de Souza, também se diz desestimulada a continuar operando com o governo. "Está cada vez mais difícil concorrer." José Gomes, diretor da Real JG, antes chamada de Real DP, vai além. "A concorrência nesse mercado está prostituída. Empresas participam dos pregões sem ter infraestrutura e know-how adequados. As companhias sérias e os órgãos contratantes são prejudicados. Além disso, os funcionários das aventureiras que quebram perdem os dias trabalhados", diz. Para ele, seria melhor se as firmas tivessem, antecipadamente, que provar habilitação técnica, financeira e jurídica.

Sem informação
O Banco do Brasil não informou quais as empresas terceirizadas que prestam serviços à instituição, limitando-se a observar, em nota, que o gasto anual é de R$ 7,3 milhões. A Caixa não respondeu a nenhuma das perguntas encaminhadas pelo Correio. Os ministérios da Saúde e do Desenvolvimento também não deram retorno até a conclusão da reportagem. Casa Civil, Secretaria de Comunicação Social, Secretaria de Relações Institucionais e Gabinete de Segurança Institucional não têm contratos dessa natureza.

Desqualificação da Corte é fato grave e merece repúdio', diz Barbosa

Presidente do Supremo repudia críticas de Lula ao mensalão; em entrevista a uma rede de TV portuguesa, ex-presidente da República disse que julgamento foi 80% político e 20% jurídico

Mariângela Galucci - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, repudiou as críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao julgamento do mensalão. "Lamento profundamente que um ex-presidente da República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira para questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte de Justiça do País", disse.

Para o ministro, "a desqualificação do Supremo Tribunal Federal, pilar essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o mais veemente repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros clamam por justiça".

Relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa disse que a tramitação do processo foi "absolutamente transparente". "Pela primeira vez na história do tribunal, todas as partes de um processo criminal puderam ter acesso simultaneamente aos autos, a partir de qualquer ponto do território nacional uma vez que toda a documentação fora digitalizada e estava disponível na rede."

O ministro acrescentou que as cerca de 60 sessões consumidas com o julgamento foram públicas, com transmissão ao vivo pela TV Justiça. "Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa."

Joaquim Barbosa disse ainda que todos os réus e o Ministério Público puderam indicar testemunhas. "Foram indicadas, no total, cerca de 600." O presidente do STF afirmou que a acusação e a defesa tiveram mais de quatro anos para trazer ao STF as provas de seus interesses. "Além da prova testemunhal, foram feitas inúmeras perícias, muitas delas realizadas por órgãos e entidades situadas na esfera de mando e influência do presidente da República, tais como Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Polícia Federal, Coaf."

"Portanto, o juízo de valor emitido pelo ex-chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade de compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome."

Barbosa defende STF e diz que Lula tem dificuldade para entender o Judiciário

Para o presidente do Tribunal as declarações levam desesperança para o cidadão comum, que clama por justiça contra casos de corrupção

Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, ficou indignado com as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o julgamento do processo. Barbosa divulgou nota nesta segunda-feira dizendo que os comentários de Lula revelam a dificuldade dele em compreender o papel do Judiciário em uma democracia. O ministro defendeu a atuação do tribunal ao longo do julgamento, pois, segundo ele, houve larga oportunidade de atuação da defesa e da acusação.

“O juízo de valor emitido pelo ex-Chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome”, diz o texto.
Barbosa também afirmou que as declarações de Lula levam desesperança para o cidadão comum, que clama por justiça contra casos de corrupção. O ministro lamentou que as críticas tenham sido feitas no exterior, e não no Brasil.

“Lamento profundamente que um ex-presidente da República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira para questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte da Justiça do País. A desqualificação do Supremo Tribunal Federal, pilar essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o mais veemente repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros clamam por justiça”, escreveu o ministro.

Na nota, Barbosa ressalta que o processo foi conduzido de forma transparente, e que réus e o Ministério Público puderam ter acesso simultaneamente aos autos de qualquer parte do país, porque os documentos foram digitalizados e estavam disponíveis em rede. “Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa”, anotou o presidente do STF.

O ministro acrescentou ainda que a defesa e a acusação tiveram mais de quatro anos para levar ao STF as provas de seu respectivo interesse. Barbosa informou que mais de 600 testemunhas foram ouvidas e foram produzidas perícias por órgãos e entidades “situadas na esfera de mando e influência do presidente da República”, como Banco Central, Banco do Brasil e Polícia Federal. Ainda segundo a nota, outros órgãos produziram provas técnicas, como a Câmara dos Deputados e o Tribunal de Contas da União (TCU).

Lula afirmou, em entrevista divulgada neste domingo pela TV portuguesa RTP, que os ministros do Supremo tomaram mais uma decisão política do que jurídica ao condenar 25 réus do processo do mensalão.

— Tem uma coisa que as pessoas precisam compreender: o povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam. O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica — disse o ex-presidente em um trecho da entrevista de quase 40 minutos.

Procurador rebate crítica de Lula a ação do mensalão

Roberta Pennafort - Agência Estado

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta segunda-feira, 28, em referência à crítica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao resultado do julgamento do mensalão, que se tratou de "um processo jurídico com um julgamento jurídico". Lula, em entrevista à Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) exibida no fim de semana, afirmou que a condenação de ex-dirigentes do PT foi resultado de "80% de decisão política e 20%, jurídica".

"Ele tem todo o direito de falar, todo brasileiro tem. Graças a Deus, a gente vive num país democrático, de liberdade de expressão absoluta, que tem que ser garantida pelo próprio MP", disse Janot. "Foi uma ação penal que se desenvolveu perante o mais alto tribunal do País, que chegou ao seu final garantida a ampla defesa e o contraditório."

O procurador não quis comentar a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff ser investigada por causa da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras, em 2006. À época, Dilma era presidente do conselho da estatal que avalizou a compra. "Isso está sob exame. O MP não fala o que vai fazer, e sim faz, e explica depois, se tiver dúvida."

Janot veio ao Rio trazido pelo projeto Ministério Público pela Educação (MPEduc), que visa a melhorar a qualidade da educação pública básica no Brasil por meio de uma análise aprofundada das condições das escolas e do ensino que aponte suas deficiências.

Ele visitou um colégio municipal na zona oeste com uma equipe do MP e conversou com a diretora para saber das dificuldades estruturais e de lacunas na equipe. Foi verificada a falta de espaço grande o bastante para os 1.100 alunos brincarem e se alimentarem. O MPEduc está começando um diagnóstico em escolas de 14 Estados. O pressuposto é que não falta verba para a educação, e sim gestão eficiente.

Avaliação de Lula do mensalão é 'troço de doido', diz ministro do STF

- Valor Econômico

BRASÍLIA - A avaliação feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política" é um "troço de doido", segundo o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello.

"Não sei como ele tarifou, como fez essa medição. Qual aparelho permite isso? É um troço de doido", disse.

As críticas de Lula ao julgamento do mensalão foram feitas pelo petista a uma rede de TV portuguesa. Além de dizer que somente 20% do processo foi baseado em decisões jurídicas, o ex-presidente alegou que o mensalão não existiu e disse achar que um dia "essa história vai ser recontada".

Para Marco Aurélio, o ex-presidente está exercendo o seu "sagrado direito de espernear". Ele espera, porém, que a tese defendida por Lula não ganhe ressonância na sociedade.

"Só espero que esse distanciamento da realidade não se torne admissível pela sociedade. Na dosimetria [tamanho das penas] pode até se discutir alguma coisa, agora a culpabilidade não. A culpa foi demonstrada pelo Estado acusador", disse.

O ministro ainda rechaçou outro ponto criticado por Lula. Segundo o ex-presidente, o julgamento do mensalão foi "um massacre que visava destruir o PT". "Somos apartidários, não somos a favor ou contra qualquer partido", destacou Mello.

Além disso, o ministro ainda lembrou que, no final da primeira fase do mensalão a composição do STF era majoritariamente formada por ministros indicados por Lula. Por isso, em sua avaliação, as críticas do ex-presidente não fecham.

"Ele repete algo que não fecha. No final do julgamento eram só três ministros não indicados por ele.
A nomeação [de ministros] é técnico-política e se demonstrou institucional. Como eu sempre digo, não se agradece com a toga".

Para ministro do STF, visão de Lula é ‘leiga partidária’

Marco Aurélio Mello rebateu crítica do ex-presidente sobre condenações no julgamento do mensalão

Procurador-Geral disse que o mensalão foi um “processo jurídico, com julgamento jurídico”

Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA e RIO - O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou “uma visão leiga partidária” a análise do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o julgamento do mensalão. À TV portuguesa RTP, o ex-governante disse que o STF tomou mais uma decisão política que jurídica ao condenar acusados de participar do esquema de desvio de dinheiro público e pagamento de propina instituído no governo Lula.

— Ele está atuando no campo partidário, é uma visão leiga partidária — disse o ministro.

Mais cedo, no Rio, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que o mensalão foi um “processo jurídico, com julgamento jurídico”.

— A Ação Penal 470 está encerrada, com um julgamento claro, objetivo, transparente, tendo sido respeitados o contraditório e o amplo direito de defesa, é assim que eu vejo. Nós vivemos num país democrático, o direito de manifestação deve ser assegurado. E cabe ao ministério Público garantir o direito de manifestação, o direito de crítica. Todo mundo tem direito, sendo político, ex-político ou não político — disse.

E acrescentou sobre Lula:

— Não quero dizer que concordo com ele, mas ele tem todo direito de se manifestar e de crítica. Ele é um cidadão com direito ao uso da palavra. No meu entendimento foi um processo jurídico, com julgamento jurídico — afirmou durante visita à escola Municipal Helena Lopes, na Gardênia Azul, no Rio.

Ayres Britto: julgamento foi legítimo e fundamentado
O ministro aposentado Carlos Ayres Britto, que presidiu o STF durante boa parte do julgamento mensalão, discorda da avaliação de Lula. Para Ayres Britto, os ministros apresentaram votos elaborados e a defesa teve chances de atuação plena.

— Faz parte da liberdade de expressão, que vigora em plenitude em nosso país, mas não é o meu ponto de vista. Eu entendo que se pode concordar ou não com justiça material do julgamento; não, porém com a legitimidade dele. Reconhecidamente, foi um julgamento público, juridicamente fundamentado nos votos de cada ministro e com total observância do contraditório probatório-argumentativo. É só rever a cobertura internetizada, radiofônica e televisionada das sessões de julgamento, assim como reler os fundamentados votos de cada ministro — afirmou.

O ex-ministro acrescentou que, formalmente, não houve recurso quanto a eventual politização do julgamento.

— Não se tem notícia dessa arguida ilegitimidade por parte de nenhuma associação de magistrados, membros do ministério público ou, ainda. de advogados públicos e privados — argumentou.

Em dezembro de 2012, o tribunal concluiu o julgamento com 25 condenados. Em novembro de 2013, os réus começaram a cumprir pena. Um dos primeiros a serem presos foi o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, braço forte de Lula no início do governo.
O ex-presidente Lula afirmou, na entrevista veiculada pelo canal português que os ministros do STF tomaram mais uma decisão política:

— Tem uma coisa que as pessoas precisam compreender: o povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam. O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica — disse o ex-presidente em um trecho da entrevista de quase 40 minutos.

Lula lembrou que indicou para o Supremo seis dos 11 ministros que julgaram o caso e, em seguida, disse que o mensalão será recontado para se saber o que aconteceu de verdade:

— O que eu acho é que não houve mensalão. Agora, eu também não vou ficar discutindo as decisões da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada, é apenas uma questão de tempo.

Aécio considera fala de Lula sobre mensalão ‘lamentável’

Para pré-candidato do PSDB à presidência, frase de petista não honra o currículo de um ex-chefe do Executivo.

Senador disse, ainda, que ninguém tem lugar cativo no segundo turno das eleições deste ano

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - Iniciando a semana com mais um compromisso na capital paulista, o pré-candidato do PSDB à presidência da República, senador Aécio Neves, lamentou nesta segunda-feira a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva feita no fim de semana à uma TV portuguesa de que o julgamento do mensalão foi 80% político e somente 20% técnico. Para Aécio, a afirmação não honra o currículo de um ex-presidente.

— É lamentável vermos um ex-presidente da República com afirmações que depõem contra o poder Judiciário, esteio da democracia brasileira. Não podemos respeitar o poder Judiciário quando ele toma decisões que nos são favoráveis e desrespeitá-lo quando toma decisões que não nos são favoráveis. Uma afirmação como essa não engrandece o currículo do ex-presidente.

Segundo o tucano, Lula deveria ser o primeiro a "zelar pelas instituições". O pré-candidato do PSDB não acredita que esse discurso de Lula surtirá efeito nas próximas eleições.

— Pelo o que percebo, a sociedade, por sua ampla maioria, apoia o poder Judiciário. Pela origem da maioria dos ministros (do Supremo Tribunal Federal) talvez a constatação maior que podemos ter é de que foi uma decisão técnica — afirmou o senador, ao referir-se ao fato de que Lula foi o presidente que mais indicou ministros para a corte.

Durante palestra na Associação Comercial de São Paulo, Aécio também afirmou que nenhum dos prováveis candidatos à disputa presidencial deste ano tem lugar cativo no segundo turno. Para ele, existe chance de a presidente Dilma Rousseff, que ocupa hoje a liderança nas pesquisas de intenção de voto, sequer chegar à fase final da eleição.

— Eu ouço falar muito como é que será o segundo turno. Quem vai apoiar quem. Eu não acho, hoje, fora de propósito que podemos chegar nós dois (Aécio e o ex-governador Eduardo Campos, do PSB). Ninguém tem lugar cativo no segundo turno. Que bom para o Brasil que isso ocorra.

Em entrevista após um discurso de quase uma hora para conselheiros da entidade, Aécio defendeu que o PT tem motivos para estar preocupado. Segundo ele, esse eventual cenário com a ausência do PT no segundo turno já foi discutido entre ele e Campos, semanas atrás, quando os dois se reuniram em Recife.

— Já havia conversado sobre isso com o governador Eduardo Campos. Dizia que esse quadro vai mudar. E olha que as pesquisas estavam dando muito maior tranquilidade à atual presidente. Hoje, por estar à frente das pesquisas, ela tem que acalentar a perspectiva de ir ao segundo turno. Mas vou repetir: ninguém tem lugar assegurado. Nem o PT. Da mesma forma que nós, ela vai ter que trabalhar muito para chegar lá.

Aécio desembarcou em São Paulo ontem à noite para um jantar organizado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) na residência dele. Entre os convidados estavam tucanos, como o ex-governador José Serra, o governador Geraldo Alckmin e o pré-candidato do PSDB ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, além de lideranças do partido de Kassab.

Nesta manhã, no evento na Associação Comercial paulista, o senador teve a companhia de lideranças do PSD do Rio, como o secretário de meio-ambiente Índio da Costa, e de Goiás, como o deputado Valmir Rocha. Algumas figuras ausentes da política há quatro anos, como o ex-senador Heráclito Fortes (PSB-PI), e o ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB).

Campos evita confrontar Lula sobre mensalão

Pré-candidato do PSB diz que assunto faz parte de uma agenda do passado

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, evitou entrar em confronto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o mensalão. Ao ser questionado pela plateia em almoço com empresários em São Paulo sobre a declaração do petista de que o mensalão foi 80% político, o ex-governador de Pernambuco respondeu:

- Acho que esse assunto já foi 100% discutido pela sociedade e 100% discutido pela Suprema Corte do Brasil. Por isso, ele faz parte de uma agenda do passado que nós não queremos ver se repetindo na vida brasileira e agora é hora de olhar futuro para que não se repitam cenas e episódios como esse
- disse Campos, que era ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula na época que o escândalo veio à tona.

Depois do encontro promovido pelo Lide, em entrevista, o pré-candidato do PSB voltou a ser indagado pelo assunto e disse que “em nenhum país do mundo uma decisão da Suprema Corte pode ser discutida”.

Na palestra, Campos se comprometeu, caso eleito, a promover uma reforma tributária fatiada que seria concluída num prazo de 10 anos. A pré-candidata a vice na chapa, a ex-senadora Marina Silva, também participou da encontro.

Não faremos 'jogo clássico' de 2º turno, diz Campos

A empresários paulistas, pré-candidato do PSB à Presidência afirma que não vai discutir apoio em troca de favores políticos

Ana Fernandes =- O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Pré-candidato do PSB à Presidência, o ex-governador pernambucano Eduardo Campos disse estar confiante de que ele e sua pré-candidata à vice, a ex-ministra Marina Silva, vão disputar o segundo turno. A empresários, em evento na capital paulista, nesta segunda-feira, 28, Campos afirmou que, numa eventual disputa na segunda etapa das eleições, não fará toca de favores para conseguir apoio.

"Nós vamos estar no segundo turno, não tenho dúvidas disso", disse. "À medida que o conhecimento vai aumentando, vai se consolidando nossa passagem para o segundo turno", complementou. Campos disse que ele e Marina têm "pensamento aberto" e não têm postura de "donos da verdade", mas que não vão fazer o "jogo clássico do segundo turno", de troca de favores na política.

Questionado sobre uma possível aliança com o pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves (MG), no segundo turno, Campos afirmou que pretende conversar com aqueles que "não passarem". Disse, no entanto, que o objetivo será discutir ideias, não divisão de cargos. "Esse modelo (de fisiologismo) está esgotado."

Mais cedo, em evento com representantes do comércio na capital, Aécio também fez projeções sobre o segundo turno e disse apostar que ele e Campos têm condições de tirar a presidente Dilma Rousseff (PT) da disputa.

Velha política. Aos empresários, Campos afirmou ainda que está comprometido a rever o "modelo político" também em um possível governo. Segundo o ex-governador, a base política "atrasada" do Brasil "precisa ir para a oposição". "É possível governar sem eles". "Não vamos fazer governo com os mesmos que estão aí", prometeu. Sem citar nomes ou partidos, Campos disse que é hora de discutir a governança no País, em uma gestão que "reúna os bons, os sérios e os comprometidos".

Economia. Alvo frequente das críticas ao governo Dilma, a política econômica voltou a ser abordada por Campos. O pré-candidato afirmou que, caso vença as eleições, vai manter o tripé econômico e que pretende trabalhar para mudar a visão de investidores de que o Brasil "é um ambiente hostil".

Em sua apresentação, Campos afirmou ser possível que, até 2018, o País alcance o centro da meta de inflação anual de 4,5% e um crescimento do PIB da ordem de 4%. "Precisamos ter um compromisso claro com metas de inflação que não são as atuais", disse.

Em palestra em SP, Aécio fala em disputar o segundo turno contra Campos

Pré-candidato do PSDB à Presidência, senador afirma que ele e o ex-governador pernambucano podem tirar Dilma da disputa ao Planalto

Lopes e Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O senador e pré-candidato do PSDB, Aécio Neves (MG), afirmou que não descarta um segundo turno nestas eleições entre sua candidatura e a do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). O tucano participa nesta segunda-feira, 28, de palestra na Associação Comercial de São Paulo.

Para Aécio, ele e Campos são concorrentes de "alto nível" e a presidente Dilma Rousseff pode ficar de fora da disputa. Desde o início do ano, o senador vem intensificando suas agendas em São Paulo com objetivo de se tornar mais conhecido do eleitorado paulista e do empresariado local.

Durante a palestra, o senador repetiu quais mudanças que pretende implementar se for eleito, entre reduzir à metade o número de ministérios. "Se for eleito, e creio que o PSDB tem condições para isso, vou acabar com metade dos atuais 39 ministérios e simplificar o sistema tributário", afirmou. "Hoje há uma concentração absurda nas mãos da União."

Aécio repetiu ainda que vai defender mandatos eletivos de cinco anos, sem reeleição.

Críticas a Dilma. Ao defender a redução de ministérios, Aécio aproveitou para atacar a gestão do atual governo e lembrou as atuais denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás. "Não é possível que o Brasil seja governado de forma perdulária", afirmou.

Aécio tirou risos da plateia ao dizer que o ministro das Micro e Pequenas Empresas, Guilherme Afif Domingos (PSD-SP), é o "homem certo no governo errado". Afif é do mesmo partido do ex-prefeito Gilberto Kassab, atual vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo. Na noite de domingo, Aécio participou de um jantar na casa de Kassab.

Aliados constrangem Dilma e pedem candidatura de Lula

PR defende volta do ex-presidente, e PSD flerta com tucanos em São Paulo

- Folha de S. Paulo / EBC

BRASÍLIA, SAO PAULO - Dois partidos que controlam ministérios e apoiam o governo no Congresso criaram constrangimento para a presidente Dilma Rousseff nos últimos dias, lançando dúvidas sobre sua capacidade manter a coalizão partidária montada para sustentar sua campanha à reeleição.

Ontem, a bancada do PR na Câmara dos Deputados lançou um manifesto com um apeio para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva i entre na corrida presidencial como candidato no lugar de Dilma, argumentando que ela não é preparada como ele para fazer a economia do país voltar a crescer com vigor.

Durante entrevista coletiva, após ler uma carta aberta assinada por 20 dos 32 deputados do PR, o líder da bancada, deputado Bernardo i Santana (MG), levantou-se e 1 pendurou na parede um quadro com a fotografia oficial de Lula quando presidente.

Em São Paulo, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que em novembro declarou apoio à reeleição de Dilma, reuniu domingo num jantar em seu apartamento o pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Áécio Neves (MG), o ex-governador paulista José Serra, derrotado pelo PT em duas eleições presidenciais, e outras lideranças tucanas.

0 governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer atrair Kassab para sua campanha à reeleição e também participou do encontro. Ontem, Aécio disse que o jantar foi um “encontro de amigos” e que o partido de Kassab estará junto com os tuca-1 nos em Goiás e Minas Gerais.

Dilma espera ter 11 partidos a seu lado na campanha à reeleição e, com isso, dispor de cerca de 12 minutos em cada bloco do horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Juntos, o PR e o PSD asseguram à coalizão governista 21% desse tempo.

Na cúpula do PT, a movimentação dos dois partidos preocupa porque expõe a fragilidade da presidente e estimula os defensores da volta de Lula à disputa eleitoral, num momento em que a popularidade da presidente está em queda e a insegurança da população com os rumos da economia está crescendo.

Em entrevista à uma rede de televisão portuguesa, Lula reafirmou no fim de semana que apoia a reeleição de Dilma e não pretende se candidatar nas eleições deste ano.

Em dezembro, o PT pediu aos partidos aliados que formalizassem o quanto antes o apoio à reeleição, mas até agora só o PDT fez isso. A presidente foi pessoalmente ao escritório do PSD em Brasília em novembro, quando Kassab declarou apoio à sua reeleição.

0 PR só deverá definir suai posição sobre a presidente na convenção do partido, provavelmente em junho. Os 20 deputados que apoiaram o manifesto divulgado ontem controlam cerca de 75% dos delegados com poder de voto na convenção, segundo Santana.

0 manifesto afirma que somente o ex-presidente Lula pode “inaugurar um novo ciclo virtuoso de crescimento pela via da conciliação nacional”. Santana disse que o partido apoiará Dilma se Lula não atender ao apelo dos deputados. “Não estamos contra a Dilma, nem vamos sair do governo”, afirmou.

Santana é ligado ao grupo do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que foi condenado à prisão no julgamento do mensalão e hoje cumpre pena em regime semiaberto em Brasília, trabalhando de dia num restaurante em que continua mantendo contatos políticos, como a Folha revelou em março

Merval Pereira: Lula em seu labirinto

- O Globo

Talvez não seja coincidência que Lula, neste momento de extrema pressão sobre si, tenha sido diagnosticado com labirintite no hospital Sírio-Libanês, em SP. Em psicanálise, o labirinto é um modo de circular, andar, expressar-se sem finalidade marcada. Mas de não perder a cinética, o movimento, sair da apatia.

Lula em seu labirinto talvez seja uma imagem perfeita para explicar a situação atual do ex-presidente, pressionado para assumir o lugar de Dilma na campanha presidencial, mas resistindo com receio de colocar em risco sua lenda.

Na estranha entrevista que deu em Portugal, disse que o julgamento do mensalão foi 80% político, numa peculiar dosimetria que já foi classificada pelo ministro Marco Aurélio Mello de “coisa de doido”.

Não haveria grandes novidades nessa fala, a não ser a medição do que foi política e do que foi jurídico na opinião de Lula. Mas o ex-presidente mostrou mesmo o desencontro de seus pensamentos quando, confrontado com o fato de que as pessoas condenadas eram líderes do PT, disse ao entrevistador que eram pessoas que não mereciam a sua confiança.

Não é possível deixar de ser solidário a José Dirceu, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e José Genoino neste momento em que, mais uma vez, Lula tenta tirar o corpo fora dos malfeitos em que seu partido vem se metendo.

Dias antes dessa entrevista, ele se escusou de comentar o escândalo da Petrobras, alegando para os jornalistas estar “por fora”. Como ficou muito feio dizer que estava “por fora” da compra polêmica da refinaria de Pasadena realizada no seu governo, Lula consertou a declaração dizendo, como sempre, que a culpa era da imprensa, os jornalistas entenderam errado. Ele dissera, na verdade, que estava fora (do país) e por isso não falaria sobre o assunto.

Mas dias depois aceitou falar mal do STF para uma televisão portuguesa? Qual a coerência? Na mesma entrevista, Lula exercitou sua incoerência, uma hora dizendo que não estava ali para criticar o Supremo, e em seguida dizer que o julgamento fora político. Exigir coerência de Lula parece ser demais.

A História mostra, no entanto, que os encarcerados do PT são todos de alta confiança de Lula em sua caminhada do sindicalismo à política partidária, e, daí, para a Presidência. Vejamos o caso de Dirceu. Fundador do partido ao lado de Lula, os dois sempre estiveram juntos dominando a direção do partido.

Quando se distanciaram, perderam o controle do PT e permaneceram no ostracismo um bom período. Só retornaram ao controle partidário quando se uniram novamente, para ficarem juntos até a chegada ao Planalto. O julgamento do mensalão os separou, Lula brilhando pelo mundo, Dirceu na cadeia. Pode ser que, em relação a Dirceu, Lula tenha tido um “ato falho”, revelando sua desconfiança da lealdade de Dirceu.

Já Delúbio era o homem de confiança de Lula na estrutura partidária e companheiro de bar, o que estreitou muito a relação. Nos bons tempos do poder, Delúbio trocou a cachaça pelos bons vinhos e os botequins pelos restaurantes caros, mas a lealdade a Lula se manteve, tanto que aceitou calado a expulsão do PT depois do mensalão.

Genoino foi a pessoa de confiança posta na presidência do PT quando Dirceu foi para a Casa Civil coordenar o 1º governo Lula, ser o “capitão” do time, como Lula certa vez definiu. Por tudo isso, as declarações de Lula, sempre afirmando que um dia provará a verdade, provocam reações como a de Marco Aurélio, que ontem diagnosticou um “distanciamento da realidade” nas atitudes do ex-presidente. Interessante é que o autismo é comumente ligado ao labirinto.

O ministro do STF admite que, “na dosimetria, pode até se discutir alguma coisa; agora a culpabilidade, não. A culpa foi demonstrada pelo estado acusador”. Também o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, classificou o julgamento do mensalão como “um processo jurídico com um julgamento jurídico”.

O fato de que apenas três dos ministros que terminaram o julgamento não foram nomeados nem por Lula nem por Dilma é um argumento definitivo para falar da lisura do julgamento, e Marco Aurélio Mello fez um bom resumo da situação: “A nomeação é técnico-política e se demonstrou institucional. Como eu sempre digo: não se agradece com a toga”.

Mas, como diz um psiquiatra amigo meu, a vida e a política são labirintos.

Eliane Cantanhêde: Troço de doido

- Folha de S. Paulo /EBC

É assim que começa. Quando 20 dos 32 deputados do PR lançam o “volta Lula”, não pense que é uma bobagem, coisa dos 20 ou só do PR. Não é. Reflete o temor crescente sobre as chances de Dilma e pode ser o fio da meada.

Para amenizar o impacto, os deputados dizem que, se não tem tu, vão de tu mesmo. Ou seja, se Lula não ceder —apesar de cada vez mais assanhado—, eles engolem Dilma Não é exatamente estimulante...

A isso se somam vários outros sinais de rejeição à reeleição. O próprio PMDB, principal partido da base aliada, inclusive com a Vice-Presidência da República, tem se rebelado —ou tem rebelados— no Rio Grande do Sul, no Paraná, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Ceará...

Em Minas, a desistência do senador Clésio Andrade de concorrer ao governo foi comemorada como apoio certo às candidaturas do PT, mas, ontem, ele disse em nota que só vai decidir “mais à frente” quem apoiará ao governo do Estado e ao Senado.

Assim como o retrato de Lula subiu à parede da liderança do PR na Câmara, o de Dilma sumiu do gabinete de Clésio Andrade no Senado. E ele é presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

E o que dizer do ex-prefeito Gilberto Kassab, que está com Dilma, mas janta daqui com Aécio Neves, reúne-se dali com Eduardo Campos?

Há, portanto, um recuo em relação a Dilma, um compasso de espera, como se a turma estivesse esperando para ver no que vai dar — ou para onde as pesquisas sopram.

A única sorte de Dilma é que todas essas crises, éticas, políticas, econômicas, ocorrem com muita antecedência. Em 2006, por exemplo, Lula foi ao fundo do poço com mensalão e aloprados, mas se reelegeu no final.

Há, porém, uma diferença fundamental: em 2006, a economia estava bem. Em 2014, há a soma de escândalos, descontrole político e economia devagar, quase parando. O cenário eleitoral é de dúvidas. E só piora a cada fala estapafúrdia de Lula.

Luiz Werneck Vianna: À guisa de prefácio

Assim como Gramsci, em um artigo juvenil, designou Marx como o “nosso Marx”, a publicística e a academia brasileira têm razões de sobra para se referir a ele como “nosso” em razão da larga difusão que promove, em ondas sempre renovadas, do seu pensamento.

Assim tem sido desde o lançamento de suas obras, em meados dos anos 1960, pelo notável homem público Enio Silveira, então editor da Civilização Brasileira, sob a curadoria dos não menos notáveis Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder e Luiz Mario Gazzaneo, com a tradução, três décadas depois, de Carlos Nelson Coutinho, em alguns volumes em parceria com Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira, da íntegra do monumental Cadernos do cárcere, magnun opus do autor. A edição de textos de renomados especialistas italianos sob a responsabilidade editorial da Fundação Astrojildo Pereira e da Contraponto Editora, como este importante trabalho de Leonardo Rapone que o leitor tem em mãos, faz parte desse movimento.

Com efeito, as primeiras traduções da obra de Gramsci foram recebidas como uma lufada de ar fresco em um ambiente saturado pela perplexidade dos seus intelectuais em encontrar, a partir das velhas categorias e modelos de análise a que estavam afeiçoados, interpretações plausíveis para a irrupção do golpe militar de 1964, que interrompera a experiência democrática brasileira. A derrota política do campo democrático, surpreendente pela rapidez do seu desenlace e pelo desamparo a que foi relegado o governo que então o representava por parte da opinião pública e da sociedade civil da época, tinha deixado patente que a busca das causas de um desastre daquelas proporções deveria se orientar para a crítica das concepções reinantes sobre a natureza da nossa formação econômico--social e sobre as que informavam nossa teoria da ação em favor da mudança social – no léxico da época, da revolução brasileira.

Tal crítica não deveria valer por si mesma, pois se empenhava na sondagem de novos caminhos, sob a suspeição generalizada de que os antigos tinham perdido serventia, a essa altura já diante do imperativo de formular uma política capaz de se contrapor ao curso de uma vigorosa modernização burguesa pelo alto, quando se revelou a verdadeira natureza do regime militar. Os propósitos do regime autocrático, imposto pelos militares pela via dos atos institucionais, à margem de qualquer procedimento de controle social, longe de visar, como tantos imaginaram, impor freios ao desenvolvimento das forças produtivas nacionais, guardava outro sentido. Tratava-se de um projeto aplicado à sua expansão, sob uma modalidade especificamente burguesa, e que dependia da coerção a fim de remover obstáculos políticos e sociais que vinham interditando a sua plena imposição, projeto que as forças da oposição democrática, por seu atraso teórico, tardaram em reconhecer.

Foi nesse terreno difícil, uma vez que prevalecia no campo democrático a concepção de que o golpe militar tinha como endereço obstar o desenvolvimento do país a fim de aprofundar sua subordinação ao imperialismo americano, que a recepção da obra de Gramsci pouco a pouco demonstrou sua fecundidade para a interpretação do novo cenário em que se instalava a ordem capitalista no país. Categorias como guerra de posição, agências privadas de hegemonia, transformismo, revolução passiva passaram a ser incorporadas ao nosso léxico político. Sobretudo, o caso particular de modernização da Itália, do Risorgimento ao fascismo, veio a enriquecer o elenco que participava do nosso repertório de estudos de processos de modernização, em geral limitados à comparação com as revoluções francesa – especialmente esta –, inglesa e americana. O caso italiano nos trazia, quase que por gravidade, o alemão e o japonês.

O tema da revolução burguesa brasileira, antes um enigma criptografado na nossa bibliografia, sob a inspiração da renovação trazida pela obra gramsciana e do clássico de Barrington Moore sobre as origens das ditaduras e da democracia, passa a ser tratado como um processo de longa duração cujo desfecho não se encontraria em um horizonte distante, mas era algo que se realizava diante de nós, infelizmente por vias autocráticas, e não pela “clássica”, do tipo francês com ruptura revolucionária, como nas elucubrações de tantos nos idos dos anos 1950-1960.

Sob a inspiração de Gramsci, passou-se a reconhecer que a ordem burguesa no país era do tipo ocidental, na medida em que se dispunha entre o Estado e sua sociedade civil um complexo sistema de trincheiras que a defendia, tal como ficara demonstrado com o apoio das camadas médias ao movimento que culminou com o golpe militar, inclusive de setores majoritários da Igreja católica e da influente corporação dos advogados.

A bibliografia das ciências sociais e a ensaística da esquerda logo se vão tornar polos de irradiação dessas novas influências. A revolução burguesa no Brasil, clássico de Florestan Fernandes (em particular nos capítulos dedicados ao processo da Independência), de 1975, Liberalismo e sindicato no Brasil, de 1976, e A revolução passiva. Iberismo e americanismo no Brasil, de 1997, ambos do autor deste prefácio, que pede vênia para se citar, são obras de interpretação do Brasil largamente influenciadas pela análise e categorias gramscianas.

Além desse foco macroestrutural, tal como nos trabalhos acima citados, a fortuna de Gramsci entre nós prosperaria, até com mais desenvoltura, nos estudos dedicados às chamadas agências privadas de hegemonia. A imensa produção universitária nos cursos de formação em Ciências Sociais, Pedagogia, Serviços Sociais, Letras e Comunicação, tendo como referência teórica problemas e hipóteses suscitados por Gramsci, como que o naturalizou em nossa academia, e ainda está para ser inventariada.

Contudo, a sua trajetória de formação, fora a publicação dos seus escritos políticos anteriores a seu encarceramento, publicados pela editora Civilização Brasileira em dois volumes, ambos sob a curadoria de Carlos Nelson Coutinho, abrangendo o primeiro volume os textos produzidos entre os anos 1910-1920, e o segundo, os textos dos anos 1921 a 1926, ano de sua prisão, continuava ausente das estantes de nossas editoras. Este trabalho de Leonardo Rapone, em boa hora, vem a suprir essa lacuna, em particular porque seu foco exclusivo é o da fase juvenil do autor e pela ampla contextualização dos seus artigos, percorrendo os cinco anos decisivos entre 1914 e 1919, que vão da Primeira Guerra Mundial à emergência, em 1917, da revolução do proletariado russo.

O retrato do jovem Gramsci – ele nasceu em 1891 – que daí emerge é o de um intelectual envolvido em um esforço sem tréguas em compreender a natureza do seu tempo – a seu juízo, certamente trágico – a fim de forjar uma identidade própria para si e um programa de ação para a intelligenzia de que fazia parte como membro da corrente socialista italiana. Rapone apresenta o resultado da sua pesquisa em cinco capítulos, cada qual dedicado a um período e aos temas que predominaram nos anos de sua formação política e intelectual. De suas leituras, que Rapone rastreia com cuidado, se identificam os alicerces do autor: Benedetto Croce, principalmente este, Henri Bergson, Georges Sorel, Robert Michels, Antonio Labriola, Max Weber, com o qual terá uma forte afinidade quanto ao papel da ética na política e na valorização da reforma protestante para o advento da modernidade capitalista.

Do seu diálogo crítico com eles, ora os incorpora em parte, ora rejeita-os quase totalmente, como no caso de Michels, mas, nessa fase juvenil, ele pode ser incluído como um herdeiro heterodoxo da filosofia do idealismo alemão, que valorizará mesmo em seus escritos de maturidade.

Tal como observa Rapone, “Sorel é até o encontro com Lenin aquele [autor] em quem o jovem Gramsci mais encontrou indicações e respostas às exigências das quais partia sua investigação teórica, aquele que, por conseguinte, mais influiu para formar seu pensamento”. Dessa influência, reforçada por suas leituras de Bergson, ficarão as marcas do seu antipositivismo, do seu culto à vontade e às energias criadoras que os homens podem mobilizar para mudar suas circunstâncias, bem presentes no texto “A revolução contra O capital ”, de 1917, com que saúda a revolução dos sovietes.

De Sorel, Gramsci também é herdeiro das concepções sobre o sindicalismo revolucionário, da postura de intransigência na luta de classes, cujos limites deveriam ser duramente recortados, e de oposição às alianças políticas, sempre conservando uma perspectiva de distância quanto ao Estado. Para ele, nessa fase da sua trajetória, o cenário mais oportuno para a afirmação da identidade operária é o do embate direto na luta de classes diante de um Estado mínimo, razão por que a Inglaterra – no que, curiosamente e por outros motivos, se aproxima de Weber – se constitui no seu paradigma de análise. É de Rapone a afirmação, justa, por sinal, de que Gramsci era fascinado pela Inglaterra.

A Revolução Russa, com suas repercussões na vida italiana, em particular sobre seu movimento operário, extrai nosso autor das fábricas e do mundo dos conselhos operários para instalá-lo, em fins da segunda década do Novecentos, no coração da política.

Lenin sucede a Sorel no seu panteão intelectual, mas, em qualquer leitura da sua obra de maturidade como pensador marxista, tal como ela se apresenta nos Cadernos do cárcere, lá está a presença forte dos temas analisados nos seus trabalhos de juventude, como nos textos magistrais dedicados ao estudo do americanismo e do fordismo (Caderno 22, volume 4 da edição brasileira).

Não há como interpretar um sem conhecer o outro, como Leonardo Rapone nos motiva e ensina a pensar.

Padilha diz que advogados interpelarão judicialmente André Vargas nesta terça-feira

Ex-ministro disse que se o PSDB insistir em falar de uma suposta ligação dele com Youssef ‘vai perder também a eleição em São Paulo’

Leonardo Guandeline - O Globo

SÃO PAULO - O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), pré-candidato ao governo paulista, disse que seus advogados interpelarão judicialmente nesta terça-feira, em Brasília, o deputado André Vargas, (sem partido-PR), para dar explicações sobre as declarações que constam em relatório da Polícia Federal (PF) na Operação Lava-Jato. Em uma conversa gravada com autorização judicial entre Vargas e o doleiro Alberto Youssef, em novembro passado, o deputado menciona que o ex-ministro teria indicado para a diretoria do laboratório Labogen, empresa de fachada que tem o doleiro entre seus sócios, o executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura, ex-assessor do Ministério da Saúde.

– A única citação que é feita a mim (no relatório da PF) é por conversa de terceiros, alheios ao Ministério da Saúde. Fiz questão, inclusive, de interpelar formalmente a própria Polícia Federal para ter acesso ao relatório completo. E também meu advogado já foi para o Paraná hoje e amanhã chega a Brasília fazendo uma interpelação direta ao deputado André Vargas, porque naqueles trechos divulgados pela imprensa ele faz uma citação que não é verdadeira. Mente quem disse que indiquei o Marcus Cezar – disse, em entrevista nesta segunda-feira ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Segundo ele, Vargas o procurou no fim do ano passado – quando vice-presidente da Câmara – propondo uma parceria entre o laboratório Labogen e o Ministério da Saúde. Padilha, no entanto, negou que houvesse lobby do parlamentar e disse que o caso foi encaminhado ao departamento técnico da pasta.

– Sou ministro da Saúde e recebo o vice-presidente da Câmara, inclusive eleito para esse cargo por outros partidos, entre eles os da oposição. E esse é o papel do ministro. Se existisse alguma irregularidade (na parceria), filtros que eu criei impediriam que isso pudesse acontecer – ressaltou Padilha, acrescentando.

– Quem quisesse ter um laboratório de fachada, não teria sucesso nenhum numa parceria.
Segundo Padilha, se o PSDB, na campanha, insistir no assunto, se dará mal.

– O deputado vice-presidente da Câmara procurou, sim, o Ministério (da Saúde) para apresentar a proposta. Cumpri minha obrigação e o recebi. Encaminhamos para a área técnica, um fluxo regular e normal. Se (o PSDB) quiser bater nessa tecla, vai perder a eleição federal e vai perder também aqui em São Paulo.

Padilha falou ainda que, quando da campanha eleitoral de 2010, ao aparecer num vídeo pedindo voto para André Vargas, não havia nada que “desabonasse o deputado, até então”.

– Eu era ministro de Relações Institucionais do presidente Lula, em 2010, e indiquei uma série de deputados do PT e de outros partidos. Até aquele momento, não havia algo que desabonasse o deputado.

No Roda Viva, ao comentar o programa Mais Médicos, Padilha disse que não tem convênio médico e, quando questionado sobre se acha ou não justo um médico cubano ganhar R$ 1 mil mensais, foi enfático:

– O que era mais injusto era brasileiro não ter médico.

Padilha ainda criticou o governo do PSDB, principalmente nas áreas de abastecimento de água e segurança pública, disse que a crise envolvendo os governos do Acre, administrado pelo PT, e o de São Paulo em relação à chegada de haitianos deve ser mediada com diálogo e oportunidades aos estrangeiros.

Sócio de laboratório diz que ex-assessor de Padilha era ponte com pasta da Saúde

Leonardo Meirelles afirma que Marcus Moura foi contratado pelo Labogen, negócio apontado como carro-chefe do esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Youssef, justamente para lidar com o governo; relatório da PF sugere que foi o ex-ministro quem o indicou

Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Sócio do Labogen, Leonardo Meirelles afirmou nesta segunda-feira, 29, que o ex-assessor do Ministério da Saúde Marcus César Ferreira de Moura foi contratado pelo laboratório justamente para atuar como lobista em órgãos do governo federal, em especial na pasta em que trabalhou. “O Marcus Moura mantinha os contatos institucionais com o Ministério da Saúde”, disse Meirelles ao Estado.

O Labogen é apontado pela Polícia Federal como o carro-chefe do esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.

O laboratório, controlado pelo doleiro, tentou fechar contrato com o Ministério da Saúde durante a gestão do ex-ministro Alexandre Padilha para o fornecimento de remédios de hipertensão pulmonar no valor de R$ 6,2 milhões por ano – pelo prazo de cinco anos.

A parceria foi desfeita após a Polícia Federal deflagrar a Operação Lava Jato, que desmontou em 17 de março deste ano o esquema de Youssef e apontou suspeitas sobre os negócios do Labogen, entre outras transações do doleiro.

Escutas da Polícia Federal flagraram o deputado licenciado André Vargas, que pediu desfiliação do PT em meio ao escândalo da Lava Jato, dizendo a Youssef, por meio de mensagem de texto, que Padilha havia indicado o nome de Moura para um cargo de comando no laboratório. A mensagem interceptada foi enviada ao doleiro em novembro de 2013.

Moura havia trabalhado com Padilha no Ministério da Saúde entre maio e agosto de 2011, como assessor de eventos da pasta do governo federal. Também trabalhou na campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010. Padilha, que é pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, nega que tenha feito a indicação. O Ministério da Saúde afirma que nenhum pagamento foi liberado para o Labogen.

Atuação. Moura passou a atuar no Labogen em dezembro de 2013, segundo Meirelles. Ele ficava sediado em Brasília, mas com poderes para deslocamentos pelo País, em nome do laboratório. O sócio do negócio controlado por Youssef diz que o ex-assessor de Padilha não chegou por indicação do ex-ministro, mas sim de outro personagem do escândalo da Lava Jato.

Segundo o sócio do Labogen, a indicação de Moura foi feita pelo fundo GPI Participações e Investimentos, controlado por Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Fernando Collor (1990-1992). Pedro Paulo, conhecido como PP, é suspeito de integrar o esquema de Youssef.

“Ele (Moura) veio através desse fundo de investimentos. Não tive nenhuma influência (na contratação) e nenhum contato com o ex-ministro (Padilha). Tive reuniões com o Marcus Moura, ele esteve algumas vezes na empresa tomando conhecimento e ciência das nossas atividades. Eu não o conhecia, nunca o tinha visto”, afirmou Meirelles.

O registro em carteira indica que Moura recebia R$ 4,2 mil ao mês. “Ele ganhava também uma verba para custear viagens e hospedagens. Após o episódio (deflagração da Lava Jato, em 17 de março), não tive mais contato com o Marcus, outro motivo para que o desligue”, disse Meirelles. Segundo informou o jornal Folha de S.Paulo no domingo, o vencimento real de Moura chegava a R$ 25 mil ao mês.

O advogado do sócio do Labogen afirma que o trabalho de atuação do laboratório com o governo realizado pelo ex-assessor de Padilha era legítimo. “Todas as empresas têm alguém responsável pelas relações com o poder público”, disse Haroldo César Nater, defensor de Meirelles – o sócio do Labogen também é acusado de integrar o esquema de lavagem do doleiro.

“Não há nada de irregular nesse trabalho. Um grupo de investidores que tem interesse no Labogen disse que ele (Meirelles) precisava contratar uma pessoa que pudesse fazer o papel de relações institucionais”, disse o advogado.

Diante do escândalo e da ligação de seu nome ao do ex-ministro Padilha, Moura deve perder o emprego no laboratório. “Estou providenciando o desligamento dele, vou comunicá-lo formalmente até porque não temos mais condições de bancar essa despesa”, disse Meirelles.

Remessas. O Estado revelou no domingo que o Labogen enviou pelo menos US$ 113 milhões para o exterior, segundo a Polícia Federal, por meio de operações de fachada. Na prática, o laboratório dizia que estava importando insumos para medicamentos, mas na verdade a intenção era apenas retirar o dinheiro do País, segundo os investigadores.

O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que assim como Youssef está preso desde março, também é apontado como integrante do esquema que, ao todo, teria lavado R$ 10 bilhões.

Tereza Cruvinel: O som das abelhas

Lula finalmente comentou o julgamento do mensalão, criticou-o e sofreu uma saraivada de críticas, afora uma distorção grosseira do que falou sobre sua relação com os petistas condenados. O PR deixou os outros partidos na toca e oficializou sua defesa do "Volta, Lula". A colunista Joyce Pascovitch noticiou que Lula rendeu-se aos apelos para concorrer neste fim de semana. Seja "furo" ou "barriga", que no jargão jornalístico vem a ser o oposto, a notícia alvoroçou a colmeia financeira e fez subir as ações das estatais, o que significa derrubar a cotação das ações de Dilma, cujo valor atual de face poderá ser conferido hoje na pesquisa CNT/MDA. Os três fatos parecem ser autônomos, mas juntos produzem um certo zumbido, a sensação de algo no ar, afora os aviões e as aves de arribação.

Começando pela fala de Lula à TV Pública portuguesa, a RTP. Para quem promete há tanto tempo uma fala sobre o julgamento da ação penal 470, Lula foi até lacônico, ao dizer que as decisões do julgamento foram mais políticas do que jurídicas. A medição (as primeiras corresponderiam a 80% e as últimas a 20%), que o ministro Marco Aurélio estranhou, pode carecer de base, mas que o resultado é fruto da combinação de decisões das duas naturezas. Basta o fato de que, até hoje, ninguém sabe que fim levou o inquérito 2474, que contém muitas contraprovas relacionadas ao caso Visanet, e foi excluído por Joaquim Barbosa da AP 470. Ou a diferença de tratamento dada ao processo do chamado mensalão mineiro e ao ex-presidente Fernando Collor, de alma lavada com a absolvição. Mas por que Lula resolveu falar agora de mensalão? Para ser pragmático (como o PT o foi com André Vargas), o melhor seria ficar longe do assunto e fazer tudo para que seja esquecido. Lula, é verdade, devia uma declaração aos condenados, especialmente a Dirceu e Genoino, mas, agora, ela não tem qualquer serventia a eles. Aqui entra a distorção que alguns veículos fizeram de um aspecto de sua fala à RTP, fazendo muito esforço para entender que ele negou ter tido uma relação de confiança com os condenados. Quem ouvir a entrevista sem apriorismo entenderá que ele interrompeu a pergunta para dizer: não importa se as pessoas eram ou não de sua confiança. Importante é que o julgamento teve um componente político destinado a prejudicar o PT. Ele pode ter se expressado mal, mas houve um esforço para "entender mal" o que ele disse ou quis dizer. Até porque, para renegar os petistas presos, melhor seria continuar calado.

Outro zumbido foi lançado ao ar pelo PR, ao oficializar ontem sua defesa da candidatura de Lula a presidente, embora avisando que continuará na base governista e dizendo nada ter contra a presidente Dilma. É verdade que setores do PR têm birra com ela por causa da demissão do ex-ministro Alfredo Nascimento naquela faxina do início do governo. Mas o PR tem figuras que estão longe de serem consideradas lulistas, como é o caso do deputado Garotinho, que não gostou do manifesto e correu a dizer que só Dilma pode decidir se será ou não candidata. Terá o PR se lançado sozinho neste movimento, sem articular com mais ninguém, correndo o risco de se dar mal? Pois se Dilma se reelege, jamais esquecerá a desfeita. Agora é ver se o PR deu a senha para outros partidos e grupos governistas lhe fazerem coro.

Por fim, importante na nota de Pascovicht no blog Glamurama foi seu efeito, não o conteúdo. Pois ainda que Lula tivesse tomado decisão semelhante, ela não vazaria assim. Uma reviravolta de tal magnitude teria (ou terá) que ser construída com extrema habilidade, muita costura e um cuidadoso ritual. Mas pode ele ter dito a alguém que, se o quadro eleitoral apresentar algum risco real para Dilma, ele acabará tendo de se render. O efeito, entretanto, foi mais uma vez revelador da indisposição dos agentes econômicos e financeiros para com Dilma. Na Bovespa, o sinal de queda nas ações inverteu-se para o de alta após a publicação da nota. Quem mais subiu, entretanto, foi a taxa de excitação nestas esferas do dinheiro.

Os três eventos podem não ter qualquer relação entre si, mas eles deixaram ontem a sensação de algum zumbido no ar.

Marimbondos de fogo
A declaração do candidato Eduardo Campos, de que em seu governo o ex-presidente e senador José Sarney passará quatro anos na oposição, agitou o clã maranhense e boa parte do PMDB. Os Sarneys ficaram bravos como os marimbondos de um antigo livro de poesias do senador.

Como retórica, a cutucada de Campos pode até lhe render votos, mas, se ele for o eleito, é certo como dois e dois são quatro que precisará do PMDB para governar. E como já dito aqui, em seu governo, o PMDB pode mandar até mais do que mandou no de Fernando Henrique, no de Lula e no de Dilma. Pois juntos, PSB/Rede, PPS, PPL, ainda que apoiados pelo PSDB, não terão mais que cem deputados na base de apoio. E não é porque sejam ruins de voto. Com o sistema de 34 partidos que temos, dificilmente um partido alcançará os 20% das cadeiras da Câmara.

Então, para evitar constrangimentos futuros, candidatos devem evitar frases como essa.

Agendas
Boa parte do PIB empresarial estará reunido no fim da semana na ilha de Comandatuba, no litoral baiano. Na sexta-feira, eles ouvirão o candidato tucano Aécio Neves e a vice na chapa de Eduardo Campos, Marina Silva. Dilma não está na programação. Na quinta, ela fará um pronunciamento pela passagem do Primeiro de Maio. Na sexta-feira, encontrará Lula em São Paulo numa reunião do PT. Devem aproveitar para jogar água fria na fervura do "Volta, Lula".

Raymundo Costa: Por que Dilma é favorita em outubro

Cargo, tempo de TV e partido são armas da presidente

- Valor Econômico

Há 12 meses, a presidente Dilma Rousseff tinha algo em torno de 63% de aprovação, segundo pesquisas do Datafolha e Ibope sob o escrutínio permanente do Palácio do Planalto. Hoje, a aprovação do governo está próxima dos 34% e a intenção de voto da presidente, em 37%. Entre um número e outro houve a derrocada de junho, quando Dilma perdeu 30 pontos nas pesquisas, da noite para o dia. É provável que Dilma e seu governo não estivessem assim tão espetaculares, há um ano, e nem tão ruins agora, como sugerem as últimas sondagens. A régua para avaliar a presidente e seu governo não deve ser a mesma régua de antes das manifestações de junho do ano passado.

O PT é pessimista. É da natureza do partido oscilar entre a euforia e a depressão. Mas Lula parece não ter dúvida de que Dilma vira o jogo na campanha eleitoral e ganha um novo mandato para mais quatro anos no Palácio do Planalto. Dados objetivos é que não faltam para justificar a expectativa do ex-presidente. A primeira delas é que, apesar da enxurrada de notícias negativas que desce do Planalto Central, de acordo com as mais recentes pesquisas Datafolha e Ibope Dilma ainda venceria a eleição no primeiro turno, numa disputa contra Aécio Neves (PSDB) e a dupla Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade). É uma candidata forte.

Não está claro ainda se os 37% de intenção de votos da presidente são piso ou teto. Nem se a queda já pode ser considerada uma tendência. O mais provável é que sejam piso, apesar da expectativa de nova queda da popularidade da presidente e do governo nas próximas sondagens, mas nada parecido com junho. Uma coisa é certa: 37% é um índice que qualquer um dos outros candidatos, Eduardo ou Aécio, gostaria de poder ostentar neste momento, quando o noticiário das eleições passa a sofrer a concorrência direta da Copa do Mundo.

A Copa não começa só em 12 de junho, com o jogo de abertura, mas já depois do feriado do 1º de Maio com o desembarque das primeiras seleções nacionais. Ao contrário dos candidatos do PSDB e PSB, Dilma tem o palanque do governo para atravessar um período praticamente perdido para Aécio e Eduardo se tornarem mais conhecidos. Mas os riscos para a presidente da República são proporcionais ao seu grau de exposição.

Num evento da magnitude da Copa do Mundo, há muito o que pode sair errado, sobretudo quando muito foi deixado para a última hora. O clima "de ansiedade, de contagem regressiva" em relação ao início do mundial é monitorado permanentemente por Dilma e seus auxiliares.

A imagem usada no Planalto para traduzir este momento de ansiedade, é a de uma família que resolve convidar os amigos para um almoço em casa. Momentos antes de chegar o primeiro convidado ainda há muito o que fazer, a família se mobiliza na arrumação da casa, afasta um móvel aqui, põe uma cadeira ali, mas chegada a hora a casa parece em ordem para receber as pessoas. E o país, como a família do exemplo, quer fazer bonito, não quer passar vergonha. Dilma será anfitriã por longos quase dois meses. Pode ser uma vantagem, se tudo correr bem até o último convidado se despedir.

Dilma, Lula e o PT esperam que a presidente passe incólume por esse período, o que facilitaria as coisas para a campanha propriamente dita, que começa no início de julho mas deve esquentar mesmo na entrada do horário eleitoral no rádio e na televisão, no dia 15 de agosto. É quando o peso da candidatura à reeleição da presidente da República deve se manifestar. Dilma tem mais que o dobro do tempo de propaganda dos seus adversários.

Outro aspecto é o partido: o PT sempre teve um candidato competitivo nas eleições presidenciais - quando não venceu, ficou em segundo lugar. Dos dois principais adversários, um não tem estrutura partidária, Eduardo Campos, e o outro, Aécio Neves, é uma espécie de recomeço. A candidatura Dilma tem uma narrativa que começa em 2003, quando o PT tomou dos tucanos a cadeira número um do Palácio do Planalto, e é a campanha de uma estrutura que vem sendo construída há muitos anos. Se Eduardo Campos for para o segundo turno com Dilma, entra para a história: será a primeira vez, desde 1994, que o terceiro nas pesquisas - ou uma alternativa a PT e PSDB - disputa a final.

O governo Dilma está no limite (os 34%) de aprovação necessário para levar a presidente a pensar na reeleição, segundo quem entende e estuda pesquisa de opinião. Em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito disputando contra um candidato forte (Lula), num cenário econômico bem mais turbulento que o atual, o país não tinha reservas e sentia os efeitos das ondas das crises russa e asiática. Em junho, a três meses da eleição, FHC tinha apenas 33% de ótimo e bom nas pesquisas de opinião.

A cinco meses da eleição, uma Copa do Mundo e uma campanha inteira pela frente, Dilma não está tão ruim quanto transparece do noticiário e temem muitos de seus aliados, mas sua posição não é inatacável. De 22 meses de março pesquisados pelos institutos Datafolha e Ibope, em apenas dez marços a avaliação do presidente da República esteve pior em relação ao mês de dezembro do ano anterior. Este março de Dilma é um deles.

À medida que se aproxima a data de definição do candidato do PT a presidente, na convenção prevista inicialmente para 20 de junho, hoje agendada para 29, é maior o número de petistas que arrisca dizer para Lula que Dilma vai perder a eleição e que a manutenção "do projeto" passa por sua volta já. O credo de Lula não muda: a candidata é Dilma e ela vai ganhar a eleição de outubro. Nunca, no entanto, Lula recorreu a uma imagem tão forte quanto a que desenhou para um amigo de longa data, em conversa recente. Segundo Lula, não há motivo que possa justificar a troca do candidato do PT. Tirar Dilma à essa altura, disse o ex-presidente ao amigo, seria "um estupro".