sexta-feira, 25 de abril de 2014

Opinião do dia: José Serra

A lei do máximo de palavras para um mínimo de conteúdo está acoplada a três "antileis" afins, a começar pela que estabeleceu que a menor distância entre dois pontos não é uma linha reta, mas alguma curva tridimensional e espiralada, teorema antieuclidiano que o governo Dilma segue à risca. Outra "antilei" sagrada tem origem na volta ao geocentrismo, ou seja, à ideia de que o sol e os planetas giram em torno da Terra, que é o centro do universo. A presidente Rousseff e o PT se comportam como se fossem o centro do universo brasileiro, em torno do qual tudo e todos têm de girar: o conhecimento, a moral, a ética, a Justiça, a imprensa e todos os políticos e seus respectivos partidos.

José Serra, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo. “As quatro leis da entropia petista”. O Estado de S. Paulo, 24 de abril de 2014.

Relatório da PF sugere que Alexandre Padilha indicou executivo para laboratório de doleiro

Suspeita é levantada a partir de conversas de doleiro Alberto Youssef com deputado André Vargas

Fausto Macedo e Andreza Matais – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO e BRASÍLIA – Relatório da Operação Lava Jato da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, indicou um executivo para o Labogen – controlado pelo doleiro AlbertoYoussef, o Primo – quando o laboratório tentava obter contrato milionário da pasta em 2013.

O documento mostra ainda que Youssef, preso desde 17 de março de 2014, mantinha contatos com outros deputados do PT, além de André Vargas (PT-PR).

A PF suspeita que o doleiro se encontrou com Vargas no apartamento funcional do ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP), em Brasília. Também teria enviado um emissário para participar de reunião com Vicente Cândido (PT-SP), em São Bernardo do Campo, no Grande ABC.

O relatório de 80 páginas, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin) da PF, indica que no período de 19 de setembro de 2013 a 12 de março de 2014, Youssef e Vargas trocaram 270 mensagens pelo aplicativo Black Berry Messenger.

Eles se tratam por “irmão” e se despedem com “beijo”. Para a PF, esse tratamento “indica que a relação não era superficial”.

Ex-ministro. No trecho relativo ao ex-ministro da Saúde, a PF captou diálogos entre Youssef e Vargas – este chama Padilha de “Pad”. No dia 26 de novembro de 2013, Vargas pede ao doleiro que reserve a melhor suíte de um hotel – Blue Tree – que pertence a Youssef, segundo a PF. O deputado diz que falou com o “PAD”. “Ele vai marcar uma agenda comigo”, diz Vargas. O doleiro responde: “ótimo”. E elogia a atitude do deputado. “Precisamos estar presentes.”

A PF diz que o Labogen – com folha de pessoal de apenas R$ 28 mil – planejava arrecadar R$ 150 milhões com o negócio na Saúde, fornecimento de remédio para hipertenso. O contrato não chegou a ser assinado e, segundo o ministério, nenhum pagamento foi feito.

Indicado. O executivo que teria sido indicado por Padilha para os quadros do Labogen é Marcus Cezar Ferreira de Moura. Ele havia trabalhado no Ministério da Saúde entre 26 de maio e 1.º de agosto de 2011. Foi assessor da coordenação de eventos na gestão de Padilha.

O ex-ministro não caiu na malha de grampos da PF e nem é investigado, mas a investigação chegou a juntar aos autos da Lava Jato até uma fotografia de Padilha em um evento. “As evidências indicam que Vargas tinha interesse no processo de contratação do Labogen junto ao Ministério da Saúde”, sustenta a PF.

PF suspeita que Padilha indicou diretor de laboratório de doleiro

Labogen foi escolhido pelo Ministério da Saúde ainda na gestão do ex-ministro para firmar negócio de R$ 31 milhões

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - Relatório da Polícia Federal sobre uma parte da Operação Lava-Jato pode complicar a situação do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, e do deputado Cândido Vacarezza (PT-SP). Segundo relatório, existem indícios de que o ex-ministro indicou o executivo, Marcos Cezar Ferreira de Moura, para a diretoria do Labogen, laboratório que tem entre seus sócios o doleiro Alberto Youssef, o principal alvo da investigação da PF.

O documento mostra ainda que Vacarezza participou de uma reunião em Brasília com Youssef e André Vargas para tratar de negócios com o doleiro. As informações têm como base conversas entre Vargas e Youssef, gravadas com autorização judicial. Teria também participado do encontro Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Numa das conversas com Youssef, em novembro passado, Vargas menciona o nome de Marcos Ferreira, que trabalharia na diretoria do Labogen e diz que a indicação seria de Padilha. Pouco tempo depois da conversa, o Labogen foi escolhido para firmar um contrato de R$ 31 milhões com o Ministério da Saúde, pasta chefiada à época por Padilha. As negociações com Labogen só foram suspensas depois que as relações suspeitas entre Vargas e Youssef foram tornadas públicas.

Numa outra conversa, em setembro passado, Youssef fala sobre uma reunião com entre eles e Pedro Paulo Leoni no apartamento de Vacarezza.

Em nota, Padilha negou que tenha indicado funcionários para o Labogen. "O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha repudia o envolvimento do seu nome e esclarece que não indicou nenhuma pessoa para a Labogen. Se como diz a Policia Federal, os envolvidos tinham preocupação com as autoridades fiscalizadoras, eles só poderiam se referir aos filtros e mecanismos de controle criados por Padilha dentro do Ministério da Saúde justamente para evitar ações deste tipo. A prova maior disso é que nunca existiu contrato com a Labogen e nunca houve desembolso por parte do Ministério da Saúde.”

O deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) disse, por telefone, conhecer Alberto Youssef por causa de sua relação com o deputado André Vargas (PT-PR), de quem é amigo, mas afirma que "nunca fez qualquer reunião com o doleiro'.

- Nunca fiz nenhuma reunião com o senhor Youssef, nem na minha casa e nem em lugar nenhum. Sou amigo do deputado André Vargas, que ia à minha casa duas ou três vezes por semana. Se ele foi à minha casa com esse cidadão, não me recordo - disse Vacarezza.

PF liga ex-ministro Padilha a empresa de doleiro preso

Relatório sugere que petista indicou ex-assessor para empresa sob investigação

Suspeita da polícia é baseada em mensagem do deputado André Vargas; ex-ministro nega ter feito indicação

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo / EBC

CURITIBA - Novo relatório da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha indicou no ano passado um ex-assessor para dirigir o laboratório farmacêutico Labogen, controlado pelo doleiro Alberto Youssef.

A suspeita da PF é baseada numa mensagem enviada pelo deputado André Vargas (PT-PR) ao doleiro por telefone celular no dia 28 de novembro e interceptada pela PF. Segundo o relatório, Vargas deu o nome e o número do ex-assessor e escreveu: "Foi Padilha que indicou".

A PF diz que o Padilha citado é "possivelmente" o então ministro da Saúde, que deixou o cargo neste ano para se candidatar ao governo de São Paulo pelo PT. Padilha negou ontem ter indicado o ex-assessor para o Labogen.

Segundo a polícia, o dono do telefone indicado na mensagem interceptada é Marcus Cezar Ferreira de Moura, que em 2011 foi nomeado por Padilha para a função de coordenador de promoção e eventos do Ministério da Saúde.

Na época em que essa mensagem foi interceptada, o Labogen negociava sua entrada numa parceria com o ministério para produzir um medicamento considerado estratégico pelo governo, um projeto que poderia render até R$ 31 milhões em cinco anos.

Vargas e Youssef estavam à procura de um executivo para o laboratório e, de acordo com o relatório da PF, queriam achar alguém que "não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras".

No projeto analisado pelo Ministério da Saúde, o Labogen associou-se ao laboratório da Marinha e a outro laboratório privado, o EMS, por sugestão do próprio ministério, de acordo com outras mensagens interceptadas pela PF.

A parceria foi aprovada pelo ministério em dezembro e cancelada em março, antes que fosse assinado um contrato, depois que a Folha revelou a ligação do doleiro com o Labogen e os indícios de que André Vargas tinha usado sua influência política para patrocinar a parceria.

Alberto Youssef está preso desde março, acusado de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado ilegalmente R$ 10 bilhões nos últimos anos.

Nesta semana, ele se tornou réu numa ação em que é acusado de ter usado o Labogen e outras empresas de fachada para enviar US$ 444,7 milhões para o exterior ilegalmente.

Em outra mensagem interceptada pela polícia, de 26 de novembro, André Vargas disse ao doleiro: "Falei com pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo". Segundo a PF, "Pad" pode ser Padilha.

O relatório da PF cita também contatos que o doleiro teve com os deputados Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido, do PT de São Paulo. Segundo a polícia, Youssef era esperado por Vaccarezza numa reunião que ele teve em sua casa em Brasília com Vargas e o ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, que fez parte do governo Fernando Collor e tinha interesse em comprar o Labogen.

Vaccarezza disse ontem que Vargas pode ter ido a sua casa com Alberto Youssef porque ele é vizinho do deputado em Brasília, mas negou ter se reunido com o doleiro.

Em outra mensagem analisada pelo relatório da polícia, de setembro de 2013, Vargas diz ao doleiro que precisa "captar". Youssef conta que um executivo que trabalhava com ele esteve com Vicente Cândido em São Bernardo, mas diz que a prospecção "não andou". Vargas responde então que "vai atuar".

Cândido afirmou ter conhecido o doleiro numa viagem a Cuba, mas afirma não se lembrar de ter encontrado seu emissário em São Bernardo.

Segundo a PF, seis dias antes de ser preso, Youssef representou Vargas numa reunião no Funcef, o fundo de pensão da Caixa Econômica, que tem patrimônio de R$ 52 bilhões. Quem recebeu o doleiro foi Carlos Borges, diretor de participações. Não se sabe do que conversaram.

Colaboraram Flávio Ferreira e Lucas Ferraz, de São Paulo

Documentos revelam que Petrobras sabia de graves problemas em Pasadena antes da compra

Equipe técnica identificou uma série de deficiências nas instalações, como “vários equipamentos com corrosão externa

Chico de Gois, Vinícius Sassine e Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - A refinaria de Pasadena, pela qual a Petrobras pagou mais de US$ 1,2 bilhão, apresentava em 2008 — quando teve início a disputa judicial entre a estatal e a companhia belga Astra Oil — sérios problemas de segurança, que causaram acidentes e prejuízos de quase US$ 100 milhões, como consta em documento interno obtido pelo GLOBO. Parte dos problemas já eram conhecidos pela empresa brasileira em 2005, quando as negociações para a aquisição da refinaria tiveram início.

Antes da compra da refinaria, entre os dias 29 e 31 de março de 2005, uma equipe de oito técnicos da Petrobras visitou as instalações de Pasadena para conhecer o ativo que fora oferecido pela Astra como sociedade. Durante a visita, eles estiveram em contato com o CEO da refinaria, Alberto Feilhaber, que tinha sido funcionário da Petrobras entre 1976 e 1995. A equipe técnica identificou uma série de deficiências nas instalações, como “vários equipamentos com corrosão externa, pintura deficiente, presença de detritos e material de sucata deixado sobre o piso, pouca sinalização de segurança e identificação de equipamentos”. Por outro lado, foram vistos poucos vazamentos de vapor e hidrocarbonetos na área industrial.

Feilhaber, no entanto, que chegou a exercer cargos de supervisor e chefe de setor na Petrobras, deu boas informações à empresa brasileira sobre Pasadena. Antes de a Petrobras decidir pela compra, os técnicos escreveram, em auditoria, que “segundo o CEO (Feilhaber), em termos de mecânica a refinaria está ‘pretty good’ (muito boa), faltando, entretanto, mais instrumentação e controle.”

De acordo com os técnicos, um dos focos da gestão naquele momento era exatamente “aumentar a confiabilidade da planta”. O relatório aponta que, segundo informação dada por um funcionário que estava há 25 anos na empresa, “nesse período só tiveram uma fatalidade”. Se a informação era verdadeira, a Petrobras acabou atraindo toda sorte de problemas depois.

Quando os sócios entraram em conflito, em 2007, a Astra Oil praticamente abandonou a administração de Pasadena — o que, de acordo com relatos feitos à diretoria executiva da Petrobras, contribuiu para o estado de deterioração dos equipamentos da refinaria.

Uma apresentação feita em setembro de 2008 aos diretores da Petrobras, à qual O GLOBO teve acesso, dizia: “Vários incidentes aconteceram nos últimos meses, provocando paradas de emergência, acidentes pessoais e prejuízos”. Os diretores da Petrobras mostravam-se preocupados com a situação porque, para eles, se os problemas viessem à tona poderiam provocar a “exposição da imagem da Petrobras em caso de inspeção da Osha (Occupational Safety and Health Administration) ou de acidente com repercussão externa”.

A Osha é uma espécie de secretaria de administração de Saúde e Segurança do Trabalho, vinculada ao Departamento (Ministério) do Trabalho dos Estados Unidos.

O documento aponta que mais de 50 acidentes com pessoal já tinham ocorrido até setembro de 2008 (apesar de não ser explícito, o texto dá a ideia de que todos os fatos ocorreram naquele mesmo ano), com oito queimaduras com ácido e três acidentes com tempo perdido. A situação era tão grave, diz o texto, que até mesmo “exposição radioativa” já tinha sido reportada durante a manutenção da unidade de coque.

Tudo isso provocou algumas paralisações da refinaria: houve, segundo o informe, uma parada completa em fevereiro de 2008, após a explosão de uma subestação; outra parada parcial em agosto de 2008, por conta de um curto-circuito em painel eletrônico; e duas paradas não programadas, com mais de 60 dias perdidos — tudo escrito no informe.

Todas essas paralisações na produção causaram prejuízos. O documento aponta que, por conta de todos esses problemas, “oportunidades de negócios foram perdidas da ordem de US$ 68 milhões”, e houve “gasto de US$ 30 milhões com paradas não programadas”.

O informe também destaca que, com a disputa mais acirrada entre os dois sócios, a Astra praticamente teria abandonado sua atuação na administração de Pasadena. De acordo com o texto, foi identificado um “aumento no risco humano: ambiente de trabalho ruim e se deteriorando rapidamente. Astra cada vez mais ausente na gestão da refinaria”.

Além disso, a diretoria da Petrobras foi informada de que estava havendo perda de pessoas-chave para o dia a dia da refinaria, além da saída de técnicos qualificados.

Sobre a preocupação da Petrobras com uma possível inspeção da Osha e sua repercussão negativa para a imagem da empresa, o informe dá a entender que a entidade americana já havia apresentado anteriormente um relatório no qual apontava a “não conformidade” com algumas irregularidades.

Para os diretores da Petrobras, a Astra não estava se importando muito com o assunto, porque, segundo o documento, a belga apresentava apenas sugestões de ações de baixa eficácia.

Outros documentos internos da Petrobras mostram que, para a refinaria de Pasadena continuar a funcionar, em qualquer cenário, seriam necessários investimentos de US$ 275 milhões em meio ambiente, segurança e paradas programadas, dinheiro que seria gasto de 2009 a 2013. Somente modificações no sistema de esgoto, por exemplo, demandavam US$ 5 milhões. Os documentos apontam, inclusive, a necessidade de remoção de pessoal de áreas de risco, a um custo de US$ 12 milhões.

Outras auditorias no controle de estoques da refinaria, obtidas pelo GLOBO, revelam mais falhas graves. O sistema prevê que o cadastramento de todos os negócios realizados pelas empresas da Petrobras deve ocorrer em até 48 horas. Mas, em Pasadena, foi encontrado um atraso de 281 dias nesse cadastramento.

O consultor legislativo da Câmara dos Deputados para Petróleo e Gás Paulo César Ribeiro Lima afirmou que o prejuízo e a quantidade de acidentes registrados em Pasadena são altos. Ele destacou que é normal enfrentar problemas ao comprar uma refinaria antiga como Pasadena — que, na definição do consultor, era uma sucata.

— Esse prejuízo é alto, mas, quando você compra uma sucata, tem que estar disposto a investir. A Petrobras deve ter feito os investimentos. E um dos motivos para fazer os investimentos deve ter sido esses acidentes, essas paradas programadas. Uma coisa é você ter uma refinaria nova, ter um problema na unidade e ter que parar. Isso não é uma coisa que você espera. Mas, numa sucata daquela, é mais do que provável que, se você quiser operá-la, vai ter problemas — afirmou Lima.

Segundo ele, a exposição radioativa às vezes ocorre em refinarias no Brasil.

— Essa questão de exposição radioativa às vezes ocorre aqui também, porque você faz uma solda no equipamento, e você vai ter que fazer uma inspeção. Aí você usa raio gama, por exemplo. Você tem que cercar uma área, e ninguém pode entrar. E, às vezes, alguém passa na área. Aquilo realmente é um negócio complicado — disse o consultor.

A Petrobras afirma que a refinaria de Pasadena opera normalmente e, assim, está obedecendo às “condições estabelecidas pelas autoridades locais quanto aos aspectos de saúde, meio ambiente e segurança”. Segundo a estatal, desde janeiro de 2013 não há acidentes com afastamento de trabalhadores.

“A Petrobras aguarda as conclusões dos trabalhos de sua comissão interna para melhor esclarecer outras questões levantadas”, informou a empresa, por meio da assessoria de imprensa. (Colaborou André de Souza)

Em visita ao Pará, Eduardo Campos comenta CPI da Petrobras e critica o governo

Pré-candidato pelo PSB à Presidência afirmou que país retrocedeu com Dilma

Laís Menezes - O Globo

BELÉM - O pré-candidato pelo PSB à Presidência, Eduardo Campos, em visita a capital paraense nesta quinta-feira teceu comentários sobre a decisão liminar proferida pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, quanto a CPI da Petrobras.

— Eu acho que ela tomou uma decisão coerente com o que já se falava que era a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal — afirmou.

Ao longo de sua estada em Belém, Campos também fez duras críticas ao governo Dilma e promessas de reforma política, caso seja eleito.

Em sua estratégia para se tornar mais conhecido pelo eleitorado brasileiro, o ex-governador de Pernambuco chegou ao Pará, quarto estado a ser visitado somente esta semana, para cumprir uma enorme agenda de coletivas e reuniões, visando às próximas eleições.

Durante um almoço com empresários dos setores do comércio, indústria e agricultura, realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Campos afirmou que o governo retrocedeu com Dilma.

— Nós não assistimos uma gestão como parecia que iria ser feita. Ao invés do desafio de animar os investimentos no país, eles foram desestimulados — e acrescentou — Aqueles mesmos que cercaram o Fernando Henrique e o Lula, que parecia que a Dilma iria afastar, ela efetivamente trouxe para muito próximo e chocou todos do Brasil que apostavam tanto nos primeiros momentos do seu governo.

No evento, onde também estavam os dirigentes estaduais do PSB, PPS, PPL e de movimentos da Rede Sustentabilidade, Eduardo Campos disse que veio ao Pará a fim de conhecer a real situação do estado e não para fazer alianças. Segundo o ex-governador, seu projeto é caminhar por 150 cidades e ouvir a população para construir um “novo pacto social e político”.

O pré-candidato à Presidência também criticou o governo federal pela falta de comprometimento e lentidão nas votações do congresso.

— Nada de importante ou relevante foi votado no 2º semestre de 2012 e no 1º de 2013. Quando o povo foi para a rua o congresso produziu em quinze dias o que não produziu em um ano.

Campos declarou que, se for eleito, não distribuirá os ministérios por troca de apoio político, mas sim por competência. Prometeu também “reduzir o número de ministérios à metade”, sendo sua primeira medida, caso ocupe a presidência, uma reforma política.

Após o almoço, Eduardo Campos se reuniu a portas fechadas com o governador do Estado, Simão Jatene e o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho para uma “visita de cortesia”, já que conheceu Janete quando também era governador.

Depois de conceder entrevistas a emissoras locais e coletivas de imprensa, Eduardo Campos teve um encontro com militantes do PSB, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, fechando sua agenda em solo paraense.

Governo busca neutralizar CPI, e oposição pede instalação imediata

Renan vai recorrer ao pleno do STF, e PT articula investigação da Alstom

Paulo celso Pereira, Junia Gama, Cristiane Jungblut e Washington Luiz – O Globo

BRASÍLIA- Com a decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), de garantir a instalação da CPI exclusiva para investigar a Petrobras, o governo começou a preparar sua estratégia, e a linha definida pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, se distribui por três frentes: recurso ao plenário do STF para tentar mudar a decisão de Rosa, criação de uma CPI para investigar o cartel no metrô de São Paulo, e a inclusão de denúncias envolvendo o Porto de Suape no rol de assuntos que serão investigados na CPI da Petrobras. A oposição, por sua vez, anunciou que irá pressionar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pela instalação imediata da CPI exclusiva. Os líderes da oposição na Câmara e no Senado querem se reunir com Renan na manhã de terça-feira, quando ele voltar de Roma, para pedir que, entre as duas CPIs exclusivas aprovadas, seja dada preferência à instalação da mista, composta por deputados e senadores.

A primeira medida traçada pelo governo, o recurso ao pleno do STF, ficou a cargo do presidente do Senado, que, de Roma, publicou nota, anunciando que irá recorrer da decisão de Rosa, e que não cabe ao Supremo “controlar preventivamente o processo legislativo”.

Renan defende que prevaleça a CPI com “espectro mais abrangente” e que, por se tratar de matéria inédita, irá recorrer ao plenário do Supremo:

“Se fatos podem ser acrescidos durante a apuração, entende- se que muito mais eles são possíveis na criação da CPI”.

Controle da investigação
A segunda medida, que é a criação de uma CPI para investigar a Alstom, já está sendo executada pelos senadores Humberto Costa e Gleisi Hoffmann (PTPR), que estão recolhendo assinaturas para a nova comissão. A intenção é atingir governos tucanos e o presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG).

— Seguiremos determinados a investigar a fundo outros fatos assombrosos de má aplicação de dinheiro público, como é o caso do escândalo do metrô de São Paulo, sobre o qual começamos hoje a recolher assinaturas na Câmara e no Senado para uma CPMI sobre a Alstom — disse Costa.

O terceiro front ainda não foi aberto, mas o governo já articula para garantir o controle da CPI. A ideia é indicar nomes de extrema confiança para o comando — presidência e relatoria — da CPI, como forma de monopolizar o debate político e evitar que as investigações sobre a estatal se aprofundem.

No entanto, já são dados como certos depoimentos de dirigentes e ex-dirigentes da empresa, como a atual presidente Graça Foster e seu antecessor José Sergio Gabrielli, além do ex-diretor Nestor Cerveró, que articulou a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.

— Como não há clima para se pensar em pizza total, vamos ter chumbo trocado — explicou um integrante do governo.

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo e o PT não podem ter medo das investigações:

— Tivemos muita CPI ao longo dos últimos 11 anos, ao contrário de outros governos que
não tiveram nenhuma CPI. A gente não pode ter medo. Só esperamos que a CPI seja palco de investigação e não palco de pura política.

O recuo do PT de recorrer contra a decisão de Rosa não foi bem recebido pelos peemedebistas, que acusaram o partido de transferir para as costas do presidente do Senado o desgaste com a opinião pública. Caciques do PMDB irão tentar demover Renan do recurso ao STF.

— Renan Calheiros não está falando pelo PMDB. Em nome da bancada do partido, eu digo que o PMDB não irá recorrer ao Supremo e que na hora que houver solicitação de indicação dos nomes para compor a CPI, estaremos prontos para indicar — afirmou o líder do PMDB, Eunício Oliveira.

Na oposição, o entendimento é que a decisão da ministra Rosa Weber não tem efeito suspensivo para indicação dos membros da CPI e para a instalação e o início imediato dos trabalhos. Aécio Neves afirmou que, com a decisão da Corte, não há como adiar mais a CPI, e que Renan não tem outra alternativa a não ser cumprir a liminar.

— Não há mais como procrastinar.

A decisão está tomada, o respeito ao direito das minorias foi garantido pelo Supremo Tribunal Federal, e agora é hora de fazermos as investigações — afirmou Aécio.

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), disse que seu partido não resistirá à criação de CPI para investigar o metrô de São Paulo. Ele afirmou que as investigações, nesse caso, podem atingir também o governo federal.

— Eu queria dizer aqui, em alto e bom som: nós não nos intimidamos com isso. Promovam as investigações que quiserem.

Aliás, por que não as promoveram antes? Será que por que têm receio dos negócios que a Alstom fez no setor elétrico do governo federal?

Têm receio de investigarmos os cartéis que ocorreram nos empreendimentos da CBTU?

— provocou Aloysio.

Decisão do STF não permite mais temas

- O Globo

BRASÍLIA- Ao contrário do que especularam parlamentares governistas, a decisão da ministra Rosa Weber, do STF, que determinou a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar exclusivamente irregularidades na Petrobras não abre brecha para a inclusão de outros temas.

Segundo a ministra, a minoria tem o direito de ver a CPI instalada de forma restrita. No texto, entretanto, mostra que a situação pode ser revertida se o tribunal derrubar a liminar no julgamento de mérito, que ocorrerá no plenário em data ainda a ser definida.

Na decisão, a ministra deixou claro que o direito das minorias deve ser respeitado, daí a necessidade de instalação da CPI mais restrita. “Mostra-se incompatível com o estatuto conferido pela Constituição aos grupos políticos minoritários, ao consagrar o pluralismo político como fundamento do Estado Democrático de Direito, a conduta que tem como resultado efetivo a negação de direitos por eles titularizados”, escreveu a ministra.

Rosa lembrou que o STF já se intrometeu em assuntos internos do Congresso quando o direito das minorias esteve ameaçado. O caso mais emblemático foi em 2005, quando o tribunal determinou a instalação da CPI dos Bingos, que investigou o envolvimento do ex-assessor parlamentar da Casa Civil Waldomiro Diniz com empresários de jogos de azar. O relator, ministro Celso de Mello, afirmou que, se a comissão não fosse instalada, o direito das minorias seria suprimido.

— Uma injusta e indevida obstrução frustrou a investigação parlamentar, prevista na Constituição — disse o ministro.

Senado vai recorrer ao plenário do Supremo contra CPI exclusiva da Petrobrás

Marcelo de Moraes – Agência Estado

Em nota oficial, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acaba de anunciar que vai recorrer ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a liminar concedida pela ministra Rosa Weber que garantiu à oposição o direito de abrir uma CPI exclusiva para investigar irregularidades na Petrobrás. O governo e sua base aliada, que tem Renan como um dos principais integrantes, são contra essa decisão. 

Preferem que a CPI seja ampla, incluindo investigações contra o cartel dos trens de São Paulo, que poderia afetar o PSDB do senador mineiro Aécio Neves, e problemas de Suape, que poderiam atingir o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Os dois são candidatos à Presidência contra a petista Dilma Rousseff.

Na sua nota, Renan alega que procurou um entendimento em torno do assunto, e argumenta que procurou respeitar “o sagrado direito da minoria”. Diante da decisão da ministra, ele entende que o recurso contra a liminar é a única maneira de “pacificar o entendimento em torno da matéria”.

Eis a íntegra da nota de Renan Calheiros:
“A independência dos poderes é um pilares das democracias modernas. Tal preceito tem sido observado ao longo dos anos e, em 2013, o pleno do Supremo Tribunal Federal, após a paralisia processual derivada de uma liminar, decidiu, em última instância, que não lhe cabia controlar preventivamente o processo legislativo.

A compreensível divergência acerca da amplitude das Comissões Parlamentares de Inquérito caracteriza uma situação inédita. Ela obriga a reflexão de todos os poderes a fim de evitarmos um precedente que implique em futuras investigações seletivas, restritivas ou mesmo persecutórias a serviço de maiorias circunstanciais.

Os regimentos internos do Congresso Nacional, leis internas do Parlamento, são importantes instrumentos para elucidar a matéria. O regimento interno da Câmara dos Deputados, por exemplo, explicita que na ocorrência de requerimentos com objetos coincidentes, prevalecerá aquele de espectro mais abrangente. É uma premissa bastante sensata e que se aplica ao caso.

Desde o primeiro momento, busco o entendimento sobre o alcance das CPIs respeitando o sagrado direito da minoria. Se fatos podem ser acrescidos durante a apuração, entende-se que muito mais eles são possíveis na criação da CPI. O poder investigatório do Congresso se estende a toda gama dos interesses nacionais a respeito dos quais ele pode legislar.

Diante da imperiosidade de pacificar o entendimento em torno da matéria, o Senado Federal recorrerá da liminar ao plenário do Supremo Tribunal Federal”.

PT desiste de recorrer ao Supremo e diz que irá apoiar CPI da Petrobras

No entanto, mais cedo em Roma, Renan Calheiros afirmou que vai recorrer da liminar concedida por Rosa Weber

Washington Luiz e Cristiane Jungblut - O Globo

BRASÍLIA - O líder do PT no Senado, Humberto Costa, afirmou na tarde desta quinta-feira que o partido não irá recorrer contra a decisão liminar da ministra Rosa Weber para impedir a criação da CPI exclusiva sobre a Petrobras. O posicionamento do PT contraria a do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN), que está em Roma e mais cedo afirmou em nota que irá recorrer da liminar concedida à oposição no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF).

No plenário do Senado, Costa afirmou que o PT irá contribuir para que a CPI da Petrobras seja instalada o mais rápido possível:

- Dada a perda do objeto pela expedição da liminar, nós do PT, resolvemos acatá-la integralmente e abrimos mão de recorrer para fazer andar mais rápido o processo de instalação da CPI aqui no Senado Federal. De nossa parte, estamos aptos a começar a discutir os membros que comporão a CPI da Petrobras, como todos os partidos que compõem a base de nosso governo, tão logo a Comissão seja instalada pelo presidente Renan Calheiros.

O líder ainda ressaltou que irá trabalhar para instaurar investigações contra o metrô de São Paulo:

- Seguiremos determinados a investigar a fundo outros fatos assombrosos de má aplicação de dinheiro público, como é o caso do escândalo do metrô de São Paulo, sobre o qual começamos hoje a recolher assinaturas na Câmara e no Senado para uma CPMI sobre a Alstom.

Na Câmara, o líder do PT, Vicentinho (SP), disse que o governo está "tranquilo" em relação à gestão da Petrobras. Ele voltou a insistir na tese de que deve haver uma investigação ampliada, sobre as obras do Metrô de São Paulo, por exemplo.

— O importante é que estamos tranquilos. Sabemos da segurança e do zelo com que a Petrobras é administrada. Vai ficar muito feio tentar ligar a questão de Pasadena, que foi em 2006, com a presidente Dilma Rousseff — disse Vicentinho.

O petista disse que já estão sendo acolhidas assinaturas para uma CPI da Alstom, que prejudicaria o PSDB. Mas o líder não quis dizer quando esse pedido seria apresentado.

— Quando você quer fazer uma galinhada, você não faz ‘xô galinha’, ou seja, a gente vai falar na hora certa — disse Vicentinho.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Antônio Imbassahy (BA), disse que o PT terá que aceitar a decisão da ministra Rosa Weber. O PSDB deve indicar o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) para integrar uma CPMI.

— Vai ter CPI, e os petistas terão que ficar resignados — disse o líder do PSDB, em Plenário.
A senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) seguiu o pronunciamento do colega de partido e cobrou que a oposição assine os requerimentos de CPIs que serão criados por parlamentares que apoiam o governo:

- Há uma decisão judicial. Agora, a ela nos submetemos e vamos, sim, indicar os membros, para fazer a apuração. E acho oportuno também instalar a outra CPI, até porque era uma proposição da própria oposição, que dizia que não poderia ser uma CPI única, que nós teríamos de fazer uma CPI para cada assunto. Então, espero, de fato, que a oposição possa assinar a CPI - argumentou.

Um dos responsáveis pelo pedido de liminar para instaurar a CPI da Petrobras, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) rebateu a promessa dos parlamentares da oposição e garantiu que o PSDB não vê problemas em investigar a suspeita de cartel no metrô de São Paulo:

- Podem investigar o que quiserem. Nós em São Paulo não temos medo de nada. Quem tem medo de investigar as coisas são eles (PT), que não querem a instalação da CPI da Petrobras - disse.

O posicionamento de Renan Calheiros também foi criticado pelos senadores. Para Álvaro Dias (PSDB-PR), os acontecimentos mostram que o Senado perdeu a competência:

- Infelizmente não temos tido competência para resolver nossos impasses internos e temos que recorrer à Suprema Corte. A decisão da ministra Rosa Weber já era esperada. As circunstâncias recomendam o aplauso, valorizando sua postura de independência como ministra indicada recentemente pela presidente da República - ressaltou.

Oposição pressiona Renan e cobra instalação imediata de CPI da Petrobras

Pré-candidato pelo PSDB, Aécio Neves diz que presidente do Senado não tem outra opção

Cristiane Jungblut e Junia Gama - O Globo

BRASÍLIA – O presidenciável Aécio Neves (PSDB) elogiou na manhã desta quinta-feira a decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), que acatou mandado de segurança impetrado pela oposição contra a ampliação da CPI da Petrobras para inclusão de Suape e Alstom. Segundo o tucano, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), terá que instalar a comissão.

- Renan Calheiros não tem outra opção a não ser instalar a CPI da Petrobras - afirmou Aécio.

O tucano afirmou que, com a decisão da ministra Rosa, não há como “procrastinar” mais o início das investigações. Aécio cobrou de Renan,que está na Itália, as providências para a CPI.

- A decisão da ministra Rosa Weber faz cumprir a Constituição e garante algo que é sagrado, o direito de as minorias atuarem no Parlamento fiscalizando as ações do governo federal. Nesse instante, a partir da notificação a essa Casa, cabe ao presidente Renan Calheiros, ou a quem estiver respondendo pela Presidência do Senado, solicitar aos líderes a indicação dos membros que irão compor a CPI para que ela inicie seus trabalhos imediatamente – disse o senador acrescentando:

– Não há mais como procrastinar, não há mais como adiar. A decisão está tomada, o respeito ao direito das minorias foi garantido pelo Supremo Tribunal Federal e agora é hora de fazermos as investigações - completou,

O senador afirmou ainda que o governo irá tentar atrapalhar as investigações com a indicação da presidência e da relatoria da CPI, mas defende que, ainda assim, é melhor ter a CPI do que não investigar nada.

– O governo até agora fez de tudo, de forma equivocada, para impedir essa investigação. É claro que a maioria do governo vai tentar adiar depoimentos, não aprovar requerimentos de oitivas, mas essa é uma disputa democrática, é uma disputa que é natural que ocorra dentro de uma CPI. O que foi grave, e eu sempre alertava para isso, é, para impedir a investigação, extirpar, retirar do Parlamento uma prerrogativa fundamental e que iria valer para casos futuros, não apenas para esse.

Aécio avalia que a decisão de Rosa Weber vale também para a CPI mista, que já foi lida em sessão do Congresso e teve sua instalação adiada até que o Supremo se manifestasse sobre o tema. O senador afirmou que a oposição está pronta para fazer as indicações dos parlamentares que comporão a CPI e que, se Renan Calheiros compreender que esta decisão se estende à CPI mista, esta será a que consensualmente terá preferência. Os nomes, segundo o tucano, já estão definidos e serão anunciados pelo líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP).

Sobre possibilidade de a decisão da ministra Rosa Weber ser alterada pelo plenário do Supremo, o senador defendeu que, pelo fato de não haver efeito suspensivo na liminar proferida pela ministra, a CPI deve ser instalada de imediato, enquanto não houver a decisão do plenário do Supremo.

A respeito da abertura de outras CPIs para investigar governos comandados pelo PSDB e pelo PSB de Eduardo Campos, Aécio disse considerar legítimo e afirmou que, se preciso, dará sua assinatura para apoiar as investigações:

– Não tememos investigação sobre absolutamente nada – disse.

DEM já indicou nomes para comissão mista
Líderes da oposição vão pressionar Renan para que ele cumpra imediatamente a decisão de Rosa Weber e determine a instalação da CPI. Para o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), mesmo que o PT entre com recurso para submeter a decisão ao plenário do STF, não há motivo para o presidente do Senado retardar a instalação da comissão.

- O recurso não tem efeito suspensivo. É apenas uma tentativa de modificar a decisão da ministra, o que acho muito difícil, já que ela garantiu o direito das Minorias de pedir instalação de CPIs, o que está claramente previsto na Constituição - afirmou o deputado.

Na decisão, a ministra também suspendeu qualquer decisão do Congresso, sobre as CPIs, até o julgamento do mérito do mandato da oposição.

O líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), também cobrou de Renan a instalação imediata da CPI Mista da Petrobras. O pedido de criação já foi lido na última sessão do Congresso. O DEM indicou hoje seus dois membros e pediu que o PSDB faça o mesmo.

São os deputados Rodrigo Maia (RJ) e Onyx Lorenzoni (RS). Para Mendonça Filho, Renan corre o risco de cometer crime de responsabilidade, caso não instale imediatamente a CPMI.

- A ministra do Supremo mostrou independência. Já indicamos os nomes e a oposição como um todo deve fazer o mesmo. Renan tem que cumprir a decisão, ele pode recorrer ao Pleno do STF. Mas tem instalar, porque não vai desmoralizar o Congresso. Ter que esperar cada decisão judicial para criar uma CPI na Casa é o pior dos mundos. Prefiro entender que ele vai respeitar a decisão, ou pode ocorrer crime de responsabilidade - disse Mendonça Filho.

No Pará, Eduardo decidirá se PSB mantém aliança com PSDB

Maioria do partido defende o lançamento de uma terceira via para forçar a realização de segundo turno

Andrea Pinheiro - Diário de Pernambuco

Depois de passar pelo Sul do país, o pré-candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) chega ao Norte nesta quinta-feira (24). Ele vai cumprir uma extensa agenda em Belém, capital do Pará, durante todo o dia. No estado, o PSB ainda vai definir se permanece na base de apoio do governador Simão Jatene (PSDB) ou se lança candidatura própria. A decisão deverá ser tomada até o fim de maio.

A maioria dos socialistas paraenses defende o lançamento de uma terceira via. O governador Simão Jatene, que tem como vice Helenilson Cunha Pontes, do PSB, concorrerá à reeleição. No campo adversário, está o PMDB numa aliança com o PT, com a pré-candidatura de Helder Barbalho. Na avaliação dos socialistas, a disputa entre os dois é equilibrada. "Os dois têm uma rejeição muito alta", cita o presidente estadual do PSB, Ademir Andrade. O lançamento de um outro nome para a disputa estadual, acreditam os socialistas, poderia levar a eleição para o segundo turno.

Segundo Ademir Andrade, o nome do partido para concorrer ao cargo seria o deputado estadual Sidney Rosa, ex-prefeito de Belém. "Ele é muito bem avaliado", assegurou. Em mantendo o apoio a Simão Jatene, o PSB poderia ocupar a vaga ao Senado como o mesmo nome. A legenda, no Pará, conta com dois deputados estaduais. Nestas eleições, pretende dobrar a bancada na Assembleia e eleger um ou dois federais.

Ao chegar no estado, Eduardo Campos concede entrevistas para veículos de imprensa locais. Em seguida, almoça com dirigentes das federações de Indústria, da Agricultura e do Comércio. São esperadas 80 pessoas. À tarde, o presidenciável visita o governador Simão Jatene. E, à noite, se reúne com lideranças e militantes do PSB e da Rede no estado. O evento será realizado em um auditório com capacidade para 1,5 mil pessoas sentadas. "Ao vir ao estado, Eduardo vai sentir o clima, conhecer a nossa militância e esperamos que ele decida pela terceira via", afirmou Ademir Andrade.

A ex-senadora Marina Silva, ao contrário do que era esperado, não participará da agenda no Pará. Ela já tinha firmado um compromisso em Brasília e não pode se juntar à comitiva.

Nesta sexta-feira, Eduardo Campos irá a Manaus (AM), onde realiza mais um seminário para discutir as diretrizes programáticas para a elaboração do programa de governo. Na cidade, ele também recebe o título de cidadão, concedido pela Câmara de Vereadores

Governo quer usar CPI da Petrobras para atingir Campos, diz fonte

Jeferson Ribeiro – Reuters

Além de uma investigação no Congresso de um suposto cartel de trens e metrôs que pode atingir políticos do PSDB, o governo estuda uma estratégia para ganhar tempo na CPI da Petrobras com depoimentos repetidos e para atingir o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, disse à Reuters uma fonte do Palácio do Planalto nesta quinta-feira.

A estratégia está começando a ser montada e os primeiros movimentos foram vistos durante esta quinta, depois que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, concedeu, na véspera, liminar a pedido da oposição para que seja instalada uma CPI exclusiva para investigar denúncias contra a estatal.

Numa das frentes, os senadores governistas, que até então lutavam para evitar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, mudaram de posição e decidiram acelerar os passos para instalação da investigação política e usá-la para atingir a gestão de Campos como governador de Pernambuco.

Esse seria uma parte da estratégia que está sendo discutida no Palácio do Planalto, segundo a fonte que falou sob condição de anonimato.

Numa outra frente, os governistas pretendem instalar uma CPI mista, com deputados e senadores, para investigar um suposto cartel de empresas que atuou no sistema de trens e metrôs de São Paulo e do Distrito Federal. O governo quer usar essa investigação para atingir políticos da oposição, mais especificamente do PSDB, que comanda o governo paulista.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), chegou a provocar os tucanos mais cedo dizendo que aguarda o apoio deles à essa investigação também.

"Se a oposição pensa que nós vamos deixar de lado a investigação sobre o metrô de São Paulo, e sobre outras suspeitas que pairam de má aplicação de dinheiro público federal, estão enganados", disse Costa mais cedo.

Pelos planos iniciais traçados nesta quinta, o governo deve pautar os primeiros depoimentos da comissão com dirigentes e ex-dirigentes da Petrobras já ouvidos pelo Congresso na semana passada.

Nessa lista estão a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró. O governo acredita que não haverá novidades a serem exploradas nesses depoimentos e o movimento daria tempo para viabilizar nas próximas semanas a CPI mista para investigar o suposto cartel de trens e metrôs.

Segundo essa fonte, esse movimento inicial ajuda o governo a barrar parte do discurso da oposição de que não há interesse em investigar as denúncias de má gestão na Petrobras.

No curso da CPI da Petrobras, segundo a fonte, os governistas também devem se concentrar em analisar contratos e investimentos feitos na refinaria Abreu e Lima, que está instalada no complexo industrial de Suape, em Pernambuco, uma das vitrines de campanha de Campos.

Essa estratégia de desgastar o socialista pode ser bem sucedida, já que o governo tem condições de controlar os trabalhos de investigação, pois os maiores partidos são aliados e, portanto, irão eleger o presidente da CPI e indicar o relator, que determinam na prática o ritmo das convocações e pedidos de quebras de sigilo.

Além de denúncias de um suposto superfaturamento na compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, a CPI também deve investigar denúncias de que houve pagamento de propina a funcionários da Petrobras num contrato com uma empresa holandesa, a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e a ativação de plataformas de exploração de petróleo sem todas as condições de segurança.

Conta de luz pode subir 18,7% em 2015

Impacto virá do socorro ao setor e de uso de térmicas. Relatório prevê reservatórios a 15% em novembro

Danielle Nogueira, Henrique Gomes Batista e Lino Rodrigues – O Globo

RIO e SÃO PAULO - Depois que o governo aprovou um reajuste de até 29% nas tarifas este ano, a conta de luz dos consumidores deve ficar ainda mais salgada em 2015. Segundo cálculos da consultoria Safira Energia, o aumento médio será de 18,7% no próximo ano. Boa parte desse reajuste é resultado do socorro ao setor elétrico, que já soma R$ 24,2 bilhões este ano. E, mesmo assim, alguns especialistas avaliam que o montante não será suficiente para sanar os problemas por que passa o setor, com um cenário de chuvas escassas e uso intenso de usinas térmicas, uma energia suja e cara. Ou seja, na prática, o peso da conta para o consumidor pode se tornar ainda maior.

Dos R$ 24,2 bilhões de socorro, entram no cálculo da Safira o aporte do Tesouro Nacional de R$ 9 bilhões previsto no Orçamento deste ano — que será custeado via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com impacto de 4,6% na conta de luz este ano — e o empréstimo de R$ 11,2 bilhões ao setor via Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Um novo aporte, de R$ 4 bilhões, anunciado em março deste ano, não foi considerado porque ainda não está claro como será custeado.

Relatório vê reservatório abaixo de 2001
A consultoria considerou em seus cálculos um percentual de 7,5% em média este ano de reajuste de tarifa das distribuidoras. Além disso, a estimativa leva em conta o custo do despacho das térmicas este ano, que, por decisão do governo, só afetará a conta de luz a partir de 2015.

O impacto da energia térmica é da ordem de R$ 9,6 bilhões, mas o valor deve ser diluído entre 2015 e 2018. Da mesma forma, o ressarcimento do empréstimo tomado via CCEE, de R$ 11,2 bilhões, só deve ocorrer entre 2015 e 2016.

De acordo com os cálculos da Safira, o reajuste de 18,7% deve se repetir em 2016, caindo para 14,1% em 2017 e mais 14,1% em 2018.

— O problema do setor elétrico começou quando distribuidoras de energia ficaram subcontratadas porque algumas geradoras, entre elas térmicas do grupo Bertin, não conseguiram entregar a energia vendida nos leilões. As distribuidoras, então, tiveram que comprar energia no mercado de curto prazo, em que o preço estava muito elevado. A situação se agravou com o nível baixo dos reservatórios — diz Fábio Luiz Cuberos, gerente de Regulação da Safira.

Na avaliação de Cuberos, o resultado do leilão de energia marcado para a próxima quarta-feira será determinante para dimensionar se o socorro dado ao setor até agora é suficiente. Segundo ele, as distribuidoras precisam contratar 3.200 MW médios, mas acredita que esse volume não será ofertado no leilão. A estimativa é que metade ou pouco mais da metade da demanda seja preenchida.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que o polêmico empréstimo de R$ 11,2 bilhões assumido pela CCEE é apenas um dos fatores de preocupação no setor elétrico. Sem uma equação definitiva, temem que os problemas sejam maiores e que, ainda no segundo semestre, o governo precise fazer nova injeção de recursos nas empresas elétricas.

Um dos fatores que corroboram essa avaliação é um relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) que mostra que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste podem chegar a 15,7% em novembro, início do período chuvoso. O cálculo considera que entre maio e novembro o índice de chuvas seria de 75% da média histórica para o período.

O patamar é inferior ao dos piores momentos de 2001, o ano do racionamento, quando o patamar dos reservatórios na mesma região foi de 20%. Atualmente, o patamar dos reservatórios está em 37,7%. Procurado oficialmente, o ONS não quis se pronunciar sobre o assunto.

— Se não chover a partir de novembro, estamos lascados — disse uma fonte familiarizada com o relatório.

Caso este prognóstico se confirme, será necessário usar mais energia térmica. Além disso, a medida pode aumentar o temor de racionamento. Para especialistas, será necessário rever a estrutura do setor.

— Provavelmente no segundo semestre será necessário um novo aporte no setor, mas não podemos dizer que será por empréstimo, pode ser alguma outra solução — disse uma fonte próxima à negociação que pediu para não ser identificada.

Segundo esta fonte, a crise mostra que a política de modicidade tarifária, que visava a aumentar a competitividade reduzindo o custo da energia, se mostrou inviável.

— Há um temor de novos esqueletos para o setor elétrico — disse a fonte.

Cláudio Pinho, membro do comitê de Petróleo e Gás do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB) e professor da Fundação Dom Cabral, lembra que o empréstimo evidencia a necessidade de reformulação do o setor elétrico:

— O planejamento do Ministério de Minas e Energia para 2030 é baseado em dados de 2005. Na Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), os dados são de 2008. Isso é anterior ao forte crescimento da demanda, anterior àcrise mundial e à recuperação americana, baseada no uso do gás. Aqui, o planejamento não leva em conta isso, o gás, regido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), não é visto como fundamental para o setor de termelétricas.

O advogado lembra que este empréstimo é um “tapa-buraco” para o setor, que pode ter mais déficits estruturais se não houver uma revisão do marco regulatório:

—A relação das empresas é privadas, mas a estrutura da tarifa ainda é estatal.

Segundo fonte, os bancos estariam finalizando as discussões sobre o percentual de taxa de juros que será cobrada nos empréstimos, que variou de 1% a 1,9%. Esta mesma fonte disse ainda que os bancos consideram o socorro às distribuidoras um “excelente” negócio, com risco baixíssimo.

— A garantia são as contas de luz, conta que ninguém deixa de pagar — destacou.

Dos cinco bancos procurados, apenas o Bradesco se manifestou. Segundo o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, a operação de financiamento está sendo construída pelos bancos e terá estrutura e garantias para que seja segura.

Funcionários do IBGE em 5 Estados aprovam proposta de paralisação

Alessandra Saraiva e Diogo Martins – Valor Econômico

RIO - Funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Alagoas, Espírito Santo, Maranhão, Pernambuco e parte dos servidores do Rio, entre os quais os que trabalham na diretoria de pesquisas, aprovaram, em assembleias realizadas ontem, estado de greve.

Isso significa que essas unidades poderão interromper atividades a qualquer momento, caso as exigências feitas à direção do IBGE não sejam atendidas. Para a próxima terça-feira, foram aprovadas paralisações de 24 horas nas unidades de São Paulo e Paraíba.

Os servidores do instituto pedem retratação pública da presidente Wasmália Bivar, que no dia 10 suspendeu a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua para revisão do cálculo de rendimentos, que servirá como base para rateio do Fundo de Participação dos Estados. A decisão irritou a área técnica.

Os funcionários, representados pelo sindicato ASSIBGE, exigem também que a direção do IBGE abra negociações com o Ministério do Planejamento - ao qual o instituto é subordinado - para a contratação de funcionários, recomposição orçamentária, reajuste salarial e autonomia técnica nas pesquisas produzidas. Com o corte de gastos do governo federal, o orçamento do IBGE foi reduzido em 14%.

"Estamos dispostos a parar com todas as pesquisas. Tem de haver retratação da direção", disse Ana Magni, diretora do sindicato. Segundo ela, as assembleias acontecerão até a semana que vem em outras unidades estaduais para aprovação de estado de greve. Ana afirmou que o sindicato pediu há duas semanas reunião com a direção do IBGE, mas não foi atendido.

Procurado, o IBGE informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a presidente avalia o pedido de reunião e que ela não se pronunciaria sobre as assembleias e a possibilidade de greve.

Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, disse que os técnicos continuam "trabalhando muito" na elaboração dos relatórios a serem apresentados à direção do instituto, atestando a metodologia da Pnad Contínua. Ele disse que não há data para a entrega desses documentos, mas afirmou que está "otimista" com o retorno das divulgações da pesquisa.

Ontem, o Ministério Público Federal de Goiás (MPF-GO) acionou na Justiça o IBGE para garantir o retorno da divulgação da Pnad Contínua. O procurador da República Ailton Benedito pediu antecipação de tutela no caso - medida que adianta ao requerente, total ou parcialmente, os efeitos do julgamento de mérito, em primeira instância ou em recurso. Na ação, Benedito pediu, ainda, liminar para que o IBGE dê prosseguimento ao cronograma pré-estabelecido na divulgação da pesquisa, que previa anúncio dos próximos resultados no dia 3 de junho.

No caso de retardamento ou omissão no cumprimento da ordem judicial, o Ministério Público pede aplicação de multa diária de R$ 1 milhão ao IBGE e de multa diária pessoal, no valor de R$ 100 mil, aos agentes públicos que dirigem o órgão. O IBGE disse que ainda não foi notificado da decisão pela Justiça.

Merval Pereira: Defesa da democracia

- O Globo

A decisão liminar da ministra Rosa Weber tem uma importância que vai muito além da própria CPI da Petrobras, que ela autorizou a funcionar com o foco restrito à estatal, como queriam as oposições. O mais relevante mesmo é a defesa da democracia embutida em seu voto, especialmente do “pluralismo político como fundamento do Estado democrático de Direito”, previsto na Constituição.

“Há situações em que a aplicação pura e simples, no processo de decisão política, da regra da maioria resulta em injustiça, na medida em que negam direitos titularizados por indivíduos ou minorias”, ressalta a ministra do Supremo Tribunal Federal.

A ministra se refere ao artigo 58 da Constituição para reafirmar que, “preenchidos os requisitos para a instauração de CPI, o seu conteúdo, (...) com o fato determinado apontado pela minoria parlamentar, não está à disposição da maioria, tampouco das Mesas das Casas Legislativas e de seus presidentes”.

Com isso, ela rebate a tentativa de inviabilizar a CPI pedida pela minoria, acrescentando-se a ela novos focos de investigação: “Na prática, tal procedimento equivale a submeter à deliberação majoritária a própria instauração da comissão nos termos requeridos pelo grupo signatário, o que não encontra respaldo na jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal”.

No Senado, já havia sido registrada pelo senador Francisco Dornelles a inconstitucionalidade da manobra situacionista. O senador do Rio de Janeiro recusou-se a ser o relator do requerimento da CPI, porque “o sexto (existência de cartel no sistema de trens e metrôs de São Paulo e do Distrito Federal) e o sétimo (superfaturamento de convênios e contratos na área de tecnologia da informação) são fatos determinados que não possuem nenhuma conexão com o conjunto de fatos relativos à Petrobras”. São temas que deveriam ser investigados em CPIs distintas, salientou Dornelles.

A ministra Rosa Weber agiu da mesma maneira: indeferiu o requerimento da situação e aceitou o da oposição. Seu argumento para isso foi direto:

“Não é suficiente à garantia constitucional da minoria que se deflagre alguma investigação”, diz a ministra, mas “é preciso respeitar a iniciativa da minoria, expressa em seu requerimento”.

Em seu voto, a ministra Rosa Weber responde às alegações do presidente do Senado, Renan Calheiros, a quem mandou ouvir antes de tomar sua decisão. O presidente do Senado, a exemplo do que fez na nota oficial comentando a decisão da ministra, alega que os regimentos internos do Congresso Nacional, leis internas do Parlamento, “são importantes instrumentos para elucidar a matéria”.

Renan cita o regimento interno da Câmara dos Deputados, que determina que, “na ocorrência de requerimentos com objetos coincidentes, prevalecerá aquele de espectro mais abrangente. É uma premissa bastante sensata e que se aplica ao caso”.

Mas a ministra Rosa Weber esclarece que “o direito constitucional alegado opera acima da esfera regimental; acima e soberanamente. Violação do direito constitucional da minoria não depende do exame de normas regimentais. É o que afirma a jurisprudência desta Suprema Corte, em vários precedentes (...), diante de situação em que a formal observância do regimento interno do Parlamento implicou ofensa à Constituição da República”.

A respeito da independência dos poderes, “um dos pilares das democracias modernas” na argumentação de Renan, a ministra Rosa Weber esclarece que questões internas de outros poderes da República devem ser preservadas, mas, quando, “como no caso dos autos, (está) em jogo a interpretação do texto da Lei Maior, abre-se a jurisdição constitucional, cabendo ao Poder Judiciário exercer o controle da juridicidade
da atividade parlamentar”.

O senador Renan Calheiros diz ainda em sua nota que é preciso evitar “um precedente que implique futuras investigações seletivas, restritivas ou mesmo persecutórias a serviço de maiorias circunstanciais”.

Assim como distorceu o sentido da posição do exministro do STF Paulo Brossard para aceitar a inclusão de assuntos desconexos na CPI — o que o jurista gaúcho nega em seu voto —, Renan Calheiros finge que não sabe que a questão central desta vez é de proteção às minorias, que “maiorias circunstanciais” querem impedir de atuar.

Roberto Freire: Cipoal de contradições no escândalo de Pasadena

- Brasil Econômico

Quanto mais o governo tenta empastelar a CPI para investigara compra da refinaria de Pasadena e outras denúncias de malfeitorias na Petrobras, mais contradições surgem e levam Dilma Rousseff ao centro da desastrosa operação. Em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli chamou a presidente da República às falas e afirmou categoricamente que ela, na época presidente do Conselho de Administração da empresa, "não pode fugir da responsabilidade" pela transação que causou um prejuízo demais de US$ 1,2 bilhão aos cofres nacionais.

As declarações de Gabrielli, homem de confiança do ex-presidente Lula, também se chocam como que disse a atual comandante da Petrobras, Graça Foster, para quem a compra de 50% de Pasadena por US$ 360 milhões "não foi um bom negócio". Afinal, apenas um ano antes de a estatal brasileira desembolsar esse valor pela refinaria americana, a companhia belga Astra Oil pagou US$ 42,5 milhões pela mesma empresa.

Graças a duas cláusulas contratuais, a Petrobras ainda teria de assegurar aos belgas uma rentabilidade de 6,9% ao ano independentemente do resultado obtido pela refinaria, além de comprar os 50% restantes se houvesse impasse entre os sócios, o que acabou ocorrendo, com perdas ainda maiores após uma batalha judicial nos Estados Unidos. Como se não bastassem a sucessão de equívocos e a irresponsabilidade com o dinheiro público, a Petrobras se recusou a revender a parte adquirida da refinaria americana de volta aos sócios, em 2007, quando o grupo belga sugeriu a recompra, segundo informou a "Folha de S. Paulo".

À medida que são revelados novos fatos envolvendo a nebulosa operação de Pasadena, o cipoal de contradições formado pelos artífices do negócio se mostra cada vez mais enredado. Dilma, Graça Foster, Lula, Gabrielli e até o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, a quem a presidente da República culpou por elaborar um resumo executivo "técnica e juridicamente falho" que omitia as duas cláusulas controversas do contrato, não se entendem na tentativa de explicar o inexplicável.

A verdade é que não há justificativa possível para tamanho descalabro. A entrevista de Gabrielli e os depoimentos de Graça Foster e Cerveró, assim como a manifestação titubeante da Presidência da República, lançam sombras sobre a gestão temerária que vem dilapidando a Petrobras desde o governo Lula e reforçam a necessidade de uma CPI para abrir a caixa-preta da empresa mais importante do país.

Não se trata apenas de investigar Pasadena, mas também a construção da refinaria Abreu e Lima, orçada em US$ 2,5 bilhões e que já superou os US$ 20 bilhões. O estouro no orçamento do complexo petroquímico do Rio, que saltou de R$ 19,5 bilhões para R$ 26 bilhões. O pagamento de US$ 30 bilhões em propinas a funcionários que teriam favorecido uma empresa holandesa em contratos. A prisão de diretor suspeito de participar de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou US$ 10 bilhões.

A sociedade, cujo vínculo com a Petrobras se confunde com a própria nacionalidade brasileira, exige explicações. Ao invés de tentar esvaziar as investigações no Congresso, Dilma Rousseff deveria seguir a recomendação de Gabrielli, pupilo de Lula, e assumir suas responsabilidades. Se não o fizer, assinará o atestado de culpa pelo desastre de Pasadena.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Luiz Carlos Azedo: Nervos em frangalhos

O PT ainda acredita que pode domar uma CPI exclusiva. Para isso conta com dois aliados de peso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que já deu declarações contra a decisão da ministra do STF Rosa Weber, e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI)

- Correio Braziliense

O deputado André Vargas (PT-PR) não tem a menor chance de escapar de uma cassação pela Câmara. A sentença foi antecipada não pelo relator do seu caso, o deputado Julio Delgado (PSB-MG), temido por ter sido o algoz do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu — ainda preso em regime fechado na Papuda (DF) —, mas pelo presidente do PT, Rui Falcão, que foi à tevê pedir sua renúncia imediata. Vargas passou a tarde e a noite de quarta-feira reunido com seus colegas de legenda, em Brasília, mas resistiu às pressões, aos prantos. Mesmo diante dos apelos dos amigos, que acham essa atitude uma imolação em praça pública, reiterou que resistirá e não renunciará ao mandato. Ninguém tem dúvida de que o Conselho de Ética proporá sua cassação e que a mesma será aprovada em plenário, com votos da maioria da bancada petista. Além disso, Vargas corre o risco de ser expulso da legenda.

Por que Vargas não renuncia logo e põe um ponto final na própria agonia? Segundo interlocutores, porque perdeu as condições de agir racionalmente e atribui sua desgraça à presidente Dilma Rousseff, que supostamente estaria interessada em transformá-lo em bode expiatório de toda a crise do PT envolvendo a Petrobras. Ao sangrar em praça pública, o parlamentar tolamente acredita que acabará por desgastar e inviabilizar a candidatura à reeleição da presidente da República. Ex-vice-presidente da Câmara, Vargas era um dos líderes do Volta, Lula! e imagina que ainda contaria com a solidariedade de outros parlamentares, mas o clima não é bem esse. É um auto-engano. Só lhe resta o consolo dos amigos.

Outros supostos envolvidos na operação Lava-Jato andam como baratas tontas pelo Congresso. Um dos que virou zumbi é o deputado baiano Luiz Argôlo, do recém-criado Partido da Solidariedade, o SDD. A Polícia Federal também interceptou conversas do parlamentar com o doleiro preso Alberto Yousseff . Ex-integrante do PP, Argôlo ameaça chutar o pau da barraca e falar tudo o que sabe sobre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, preso com o doleiro. É pressionado a renunciar pelo líder da bancada, deputado Fernando Francischini (SDD-PR), que é ex-delegado da Polícia Federal com fama de ferrabrás e tenta preservar a nova legenda de envolvimento no escândalo.

CPI exclusiva
A tensão na base governista aumentou ainda mais porque a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber determinou que o Senado instale uma CPI exclusiva — como queria a oposição — para investigar a Petrobras. A decisão ainda pode ser revisada pelo plenário, pois o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já anunciou que pretende recorrer. A rigor, Renan, que está em Roma, não pode impedir a instalação da CPI. Ontem, o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), que é candidato a presidente da República, pediu ao vice-presidente da Casa, senador Jorge Viana (PT-AC), que solicitasse aos líderes de bancada a indicação dos integrantes da CPI. No fim da tarde, o líder do PT, Humberto Costa (PE), passou a admitir a instalação da CPI exclusiva.

A CPI foi convocada para investigar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, um negócio que gerou prejuízo de US$ 530 milhões à Petrobras, segundo a presidente da empresa, Maria das Graças Foster, que considerou a operação um mau negócio. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli defende a empreitada e disse que a presidente Dilma Rousseff é corresponsável pela compra, o que irritou o Palácio do Planalto e provocou a mobilização do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), para jogar água fria na fervura. Gabrielli é outro que anda com os nervos à flor da pele.

Apesar de tanta confusão, o PT ainda acredita que pode domar uma CPI exclusiva. Para isso conta com dois aliados de peso no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que já deu declarações contra a decisão da ministra do STF Rosa Weber, e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ambos interessados em manter seus respectivos partidos em posições chaves na Petrobras. A estratégia governista continua sendo empurrar tudo com a barriga e ameaçar ampliar o espectro de investigação da CPI para os contratos de obras do metrô de São Paulo e do Porto de Suape (Pernambuco). Em termos eleitorais, até agora, esse tem sido um jogo de perde-perde.

Eliane Cantanhêde: Cavando a cova da CPI

- Folha de S. Paulo / EBC

A estratégia governista para deixar a CPI da Petrobras para lá está bem clara: Lula diz que está "por fora", Dilma continua olimpicamente em campanha, o PT jura que não tem nada contra investigações e todos juntos ameaçam abrir CPIs contra a oposição.

Enquanto os petistas se preservam, o senador Renan Calheiros mata no peito e assume o papel mais impopular. É ele quem vai entrar com recurso, junto ao plenário do Supremo Tribunal Federal, contra a decisão da ministra Rosa Weber pela CPI exclusiva da Petrobras --que é tudo que os governistas não querem.

A abnegação de Renan tem vários motivos. Ele tem a posição institucional de presidente do Senado, é gato escaldado, acostumado a apanhar, e sabe apostar e investir. Quanto mais críticas a Dilma, mais ele exibe sua fidelidade ao projeto.

CPIs são típicas da luta política, mas nem governo nem oposição trabalham de fato para que a da Petrobras vingue, e menos ainda uma da Alstom, ou do cartel de trens de São Paulo ou da refinaria pernambucana. Se alguém quer CPI neste momento é a sociedade. E daí?

Para a oposição, o que interessa é manter as perdas, as dívidas e os prejuízos da Petrobras em pauta até a campanha eleitoral, para desgastar Dilma e o PT. Para o governo, o importante é aguentar o tranco da melhor forma possível até a Copa, emendando com o recesso.

Depois disso, os senadores estarão muito mais preocupados com suas eleições do que com investigações sobre o que quer que seja em Brasília. Aliviados, claro, por não caírem na rede de alguma CPI.

Como previsto, a CPI da Petrobras é mais instrumento de luta política do que uma comissão de inquérito para valer. Não por falta de motivos.

Aliás... após Petrobras, BB, Ipea e IBGE, a crise é na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), onde três dos cinco conselheiros renunciaram. Por quê? Ora, por causa da mão pesada do governo do PT.

Fernando Gabeira* Bom dia, Cinderela

- O Estado de S. Paulo

As pesquisas eleitorais recentes mostram Dilma Rousseff em queda. Quando se está caindo, a gente normalmente diz opa!. Não creio, porém, que Dilma vá dizer opa! e recuperar o equilíbrio. Além dos problemas de seu governo, ela é mal aconselhada por Lula nos dois temas que polarizam a cena política: Petrobrás e Copa do Mundo.

São cada vez mais claras as evidências de que se perdeu muito dinheiro em Pasadena. Lula, no entanto, não acredita nas evidências, mas nas versões. Se o seu conselho é partir para a ofensiva quando se perdem quase US$ 2 bilhões, a agressividade será redobrada quando a perda for de US$ 4 bilhões e, se for de US$ 6 bilhões, o mais sábio será chegar caindo de porrada nos adversários antes que comecem a reclamar.

Partir para a ofensiva na Copa do Mundo? Não é melhor deixar isso para os atacantes Neymar e Fred? Desde o ano passado ficou claro que muitas pessoas não compartilham o otimismo do governo nem consideram acertada a decisão de hospedar a Copa.

O governo acha que sufoca as evidências. O próximo passo desse voluntarismo é controlar as evidências. O papel do IBGE e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, começa a ser deformado pelo aparelhamento político. Pesquisas que contrariam os números de desemprego são suspensas. E o Ipea foi trabalhar estatísticas para Nicolás Maduro, que acredita ver Hugo Chávez transmutado em passarinho e, com essa tendência ao realismo mágico, deve detestar os números.

Controlar as evidências, determinar as sentenças pela escolha de ministros simpáticos à causa, tudo isso é a expressão de uma vontade autoritária que vê a oposição como vê os números desfavoráveis: algo que deva ser banido do mundo real. A visão de que o País seria melhor sem uma oposição, formada por inimigos da Petrobrás e por gente que torce contra a Copa, empobrece e envenena o debate político.

Desde o mensalão até agora o PT decidiu brigar com os fatos, e isso pode ter tido influência na queda de Dilma nas pesquisas. O partido foi incapaz, embora figuras como Olívio Dutra o tenham feito, de reconhecer seus erros. Está sendo incapaz de admitir os prejuízos que sua política de alianças impôs à Petrobrás ou mesmo que a Copa do Mundo foi pensada num contexto de crescimento e destinava-se a mostrar nossa exuberância econômica e capacidade de organização a todo o planeta. Gilberto Carvalho revelou sua perplexidade: achava que a conquista da Copa seria saudada por todos, mas as pessoas atacaram o governo por causa dela.

Bom dia, Cinderela. O mundo mudou. Dilma e o PT não perceberam, no seu sono, que as condições são outras. Brigar com os fatos num contexto de crescimento econômico deu a Lula a sensação de onipotência, uma crença do tipo "deixa conosco que a gente resolve na conversa". Hoje, em vez de contestar fatos, o PT estigmatiza a oposição como força do atraso. Ele se comporta como se a exclusão dos adversários da cena política e cultural fosse uma bênção para o Brasil. A concepção de aniquilar o outro não é vivida com culpa por certa esquerda, porque ela se move num script histórico que prevê o aniquilamento de uma classe pela outra. O que acabará com os adversários é a inexorável lei da história, eles apenas dão um empurrão.

Sabemos que a verdade é mais nuançada. O governo mantém excelentes relações com o empresariado que financia por meio do BNDES e com os fornecedores de estatais como a Petrobrás. Não se trata de luta de classes, mas de quem está se dando bem com a situação contra quem está ou protestando ou pedindo investigações rigorosas contra a roubalheira, na Petrobrás ou na Copa.

A aliança do governo é aberta a todos os que possam ser controlados, pois o controle é um objetivo permanente. Tudo o que escapa, evidências, vozes dissonantes, estatísticas indesejáveis, tudo é condenado à lata de lixo da História. Felizmente, a História não se faz com líderes que preferem partir para cima a dialogar diante de evidências negativas, tanto na Petrobrás como na Copa ou no mensalão. Nem com partidos incapazes de rever sua tática diante de situações econômicas modificadas.

Dilma, com a queda continuada nas pesquisas, sai da área de conforto e cai no mundo em que os candidatos dependem muito de si próprios e não contam com vitória antecipada pelo peso da máquina. Será a hora de pôr de novo em xeque a onipotente tática de eleger um poste. Nem o poste nem seu inventor hoje conseguem iluminar sequer um pedaço de rua. Estão mergulhados no escuro e comandarão um exército de blogueiros amestrados para nublar as redes sociais. Com a máquina do Estado, o prestígio de Lula, muita grana em propaganda e na própria campanha eleitoral, o governo tem um poderoso aparato para enfrentar a realidade. Mas essa abundância de recursos não basta. Num momento como este no País, será preciso horizonte, olhar um pouco adiante das eleições e estabelecer um debate baseado no respeito às evidências.

Esse é um dos caminhos possíveis para recuperar o interesse pela política. No momento, a resposta ao cinismo é a indiferença com forte tendência ao voto em branco ou nulo. Embora a oposição também seja parte do jogo, a multidão que dá as costas para a escolha de um presidente é uma obra do PT que subiu ao poder, em 2002, prometendo ampliar o interesse nacional pela política, mas conseguiu, na verdade, reduzi-lo dramaticamente. Para quem se importa só com a vitória eleitoral, essa questão da legitimidade não conta. Mas é o tipo de cegueira que nos mantém no atraso político e na ilusão de que adversários são inimigos. O PT comanda um estranho caso de governo cujo discurso nega o próprio slogan: Brasil, um país de todos. De todos os que concordam com a sua política.

Até nas relações exteriores o viés partidário sufocou o nacional, atrelando o País aos vizinhos, alguns com sonhos bolivarianos, e afastando-o dos grandes centros tecnológicos. Contestar esse caminho quase exclusivo é defender interesses americanos; denunciar corrupção na empresa é ser contra a Petrobrás; assim como questionar a Copa é torcer contra o Brasil.

Bom dia, Cinderela, acorde. Em 2014 você pode se afogar nos próprios mitos.

*Fernando Gabeira é jornalista.