terça-feira, 22 de abril de 2014

Opinião do dia:Aécio Neves

O país também nos exige rigor, responsabilidade e austeridade na condução do estado. Rechaça, e rechaça de forma vigorosa, os escândalos em série, intermináveis e vergonhosos, que nos humilham como povo e reduzem nossa dimensão perante a comunidade internacional. Não é esse o Brasil que queremos. O país nos cobra, exausto e indignado, a necessidade de uma reforma política, onde não haja mais qualquer espaço para a conivência, o aparelhamento, o compadrio, os desvios de conduta e a corrupção endêmica que tomou de assalto o estado nacional.

Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB, em solenidade em Ouro Preto (MG), 21 de abril de 2014.

Dilma rebate Gabrielli e diz que atas de conselho provam a sua versão

Segundo Planalto, presidente disse que ficou registrado desconhecimento de cláusulas polêmicas

Paulo Celso Pereira - O Globo

BRASÍLIA — Apesar de publicamente a presidente Dilma Rousseff ter evitado o confronto com o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli sobre a polêmica compra da refinaria de Pasadena, no Texas, fontes do Planalto rebateram nesta segunda-feira a fala do ex-presidente da Petrobras. Eles lembraram que a responsabilidade de Dilma quando era presidente do Conselho de Administração da empresa está descrita nas atas das reuniões.

Elas mostrariam que a compra dos primeiros 50% foi feita sem o conhecimento das cláusulas Marlim e put option e que o mesmo conselho — do qual Dilma fazia parte — nunca autorizou a compra dos outros 50%. Essas atas, destacam interlocutores da presidente, foram inclusive assinadas por todos os conselheiros, incluindo a própria Dilma e Gabrielli.

No domingo, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Gabrielli assumiu sua responsabilidade pelo relatório que viabilizou a polêmica compra da refinaria de Pasadena, em 2006, quando comandava a estatal, e afirmou que a presidente, na época presidente do Conselho da empresa, não deveria “fugir da responsabilidade dela”.

A cláusula “put option“ obrigou a Petrobras a comprar a outra metade da refinaria de Pasadena quando entrou em disputa judicial, e a Marlim compensava a então sócia Astra por possíveis prejuízos.

“Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões. Mas é legítimo que ela tenha dúvidas”, afirmou Gabrielli ao Estado de S. Paulo.

No domingo, o ex-presidente da Petrobras no governo Luiz Inácio Lula da Silva defendeu enfaticamente a compra da refinaria e disse que a omissão de duas cláusulas não mudaria a posição dos conselheiros.

“Sem dúvida nenhuma (o relatório) foi omisso porque as duas cláusulas mencionadas (Put Option, que obrigou a Petrobrás a comprar a outra metade da refinaria, e Marlim, que compensaria a então sócia Astra por possíveis prejuízos) não constavam da apresentação feita aos conselheiros”, e complementou dizendo sobre os critérios dos conselheiros para a compra: “isso não é relevante, a meu ver, para a decisão do conselho. O que é relevante é se o projeto é aderente tecnologicamente e estrategicamente ao que você faz e ter dado rentabilidade com os pressupostos daquele momento. Essas três condições fariam a decisão do negócio”.

Em março, críticas às informações incompletas
No início de março, o Palácio do Planalto divulgou nota afirmando que a compra de Pasadena foi feita após “documentação falha” e “informações incompletas” serem prestadas ao conselho da estatal. Segundo Dilma, a decisão tomada foi embasada em um resumo executivo feito pelo Diretor da Área Internacional da estatal, Nestor Cerveró, o qual não informava sobre duas cláusulas.

Para especialistas e analistas ouvidos pelo GLOBO, os US$ 360 milhões pagos pelos primeiros 50% da refinaria em 2006 faziam sentido, do ponto de vista da estratégia da empresa, que era aumentar sua capacidade de refino, elevando o valor agregado de seus produtos.

A Petrobras exportava petróleo pesado e importava derivados. Segundo os especialistas, o valor pago pela estatal levava em conta não só o valor do ativo , mas as perspectivas de geração de receita.

Porém, o negócio acabou sendo ruim, dizem, em decorrência da aplicação das cláusulas de “put option” e Marlim, o que tornou obrigatória a compra da outra metade da refinaria em 2008. No fim, o valor pago pela refinaria superou US$ 1,2 bilhão, em um processo que só se encerrou em 2012, após um acordo extrajudicial.

Dilma responde a Gabrielli e no rádio exalta as gestões do PT na Petrobrás

Presidente rebate ex-presidente da estatal e reafirma ter se baseado em um relatório falho

Tânia Monteiro, Eduardo Bresciani e Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff rebateu ontem a declaração do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli de que ela "não pode fugir da responsabilidade" sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Dilma, por meio de seu ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, reafirmou ter aprovado o negócio em 2006 com base em um resumo executivo que não continha duas cláusulas importantes do contrato.

Para evitar que o conflito se estenda ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Gabrielli é próximo, Dilma aproveitou mais cedo o seu programa semanal de rádio para enaltecer as gestões petistas à frente da Petrobrás.

A entrevista de Gabrielli ao Estado, publicada no domingo, contrariou Dilma por causa da cobrança feita pelo ex-presidente da companhia. Ontem ela acionou Mercadante por telefone e pediu que ele divulgasse seu posicionamento.

"Como já foi dito pela presidente e demais membros do Conselho de Administração da Petrobrás, eles assumiram as suas responsabilidades nos termos do resumo executivo que foi apresentado pelo diretor internacional da empresa", disse o ministro ao Estado. "Este episódio está fartamente documentado pelas atas do conselho que demonstraram que os conselheiros não tiveram acesso às cláusulas Marlim e Put Option e não deliberaram sobre a compra da segunda parcela. Gabrielli, como presidente da Petrobrás à época, participou de todas as reuniões do conselho e assinou todas as atas que sustentam integralmente as manifestações da presidente."

A compra aprovada por Dilma foi de 50% da refinaria em 2006 por US$ 360 milhões. A cláusula Put Option obrigava a Petrobrás a adquirir a outra metade da belga Astra Oil em caso de desacordo comercial, enquanto a Marlin previa uma rentabilidade mínima à sócia devido a investimentos que seriam feitos para que a refinaria passasse a processar óleo pesado, como o produzido no Brasil.

Após uma disputa na justiça norte-americana, o negócio acabou custando US$ 1,25 bilhão à estatal brasileira. Em 2005, a Astra tinha comprado a mesma refinaria por US$ 42,5 milhões. Segundo a Petrobrás, porém, a empresa belga teve outros gastos e teria investido US$ 360 milhões antes da parceria.

A manifestação da presidente expõe as contradições entre as versões defendidas por Dilma e a atual presidente Graça Foster e a gestão anterior da companhia: Gabrielli e o ex-diretor internacional Nestor Cerveró. Dilma e Graça culpam a omissão das cláusulas pelo prejuízo de US$ 530 milhões registrado no balanço da companhia, enquanto Gabrielli e Cerveró atribuem à crise financeira internacional, às mudanças no mercado de petróleo e à falta de investimento os problemas no negócio.

Na entrevista, Gabrielli afirmou que a "presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do Conselho" na época. Ele concordou que o relatório preparado por Nestor Cerveró foi "omisso" ao deixar as duas cláusulas de fora, mas afirmou que isso "não é relevante para a decisão do Conselho". O ex-presidente da Petrobrás disse acreditar que o órgão presidido por Dilma aprovaria a compra mesmo se soubesse das duas cláusulas. Na Câmara, Cerveró já tinha feito um discurso na mesma linha de Gabrielli.

Dilma, porém, insiste que o posicionamento seria diferente. Em nota ao Estado no mês passado, ela afirmou que baseou sua decisão em um resumo "técnica e juridicamente falho". Alinhada com Dilma, a atual presidente da Petrobrás sustentou, na semana passada, que a diretoria comandada por ela não teria também dado o aval à compra, que na visão de Graça Foster "não foi um bom negócio".

'Renascimento'. Com a exposição cada vez maior das diferentes versões, Dilma tenta adotar uma linha de defesa da Petrobrás e exaltar o que considera acertos da gestão petista em um aceno a Lula, Gabrielli e ex-integrantes da companhia. No programa de rádio Café com a Presidenta, defendeu o papel da estatal no que definiu como "renascimento" da indústria naval brasileira e elogiou o antecessor. "Graças à política de compras da Petrobrás iniciada no governo Lula e desenvolvida no meu governo, renasceu uma indústria naval dinâmica e competitiva, que irá disputar o mercado com as maiores indústrias do mundo", disse.

A política destacada por Dilma, porém, não tem sido capaz de atender às demandas da estatal. O Estado mostrou no domingo que a Petrobrás transferiu a conclusão de duas plataformas de exploração de petróleo para o estaleiro Cosco, na China, a fim de tentar garantir o cronograma de produção do pré-sal da Bacia de Campos. O Sindicato de Metalúrgicos do Rio de Janeiro estimou a perda de 5 mil postos de trabalho com a medida./ Colaborou Andreza Matais

Estatal no café de Dilma

Grasielle Castro – Correio Braziliense

Em meio a ataques à gestão petista na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff voltou a defender a política de negócios da estatal. No programa de rádio Café com a presidenta, Dilma enalteceu a política de compras da estatal e ressaltou que, por causa dela, a indústria naval brasileira vem apresentando crescimento constante. Segundo ela, a decisão de priorizar os produtos brasileiros, iniciada no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou empregos e foi capaz de fazer renascer “uma indústria naval dinâmica e competitiva”. “Decidimos que as compras da Petrobras deveriam ser feitas preferencialmente em indústrias que produzissem no Brasil, para gerar, aqui, crescimento industrial e emprego”, explicou.

De acordo com dados apresentados pela presidente, em 2017, a indústria naval empregará 100 mil trabalhadores. O discurso sobre o potencial da estatal já tinha sido pincelado na semana passada. Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), a presidente disse que, no início do governo Lula, ouviu comentários de que ela — então ministra de Minas e Energia — e a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, não seriam capazes de produzir um casco de navio. “Hoje estamos fazendo navio”, destacou.

Na cerimônia de viagem inaugural do navio petroleiro Dragão do Mar e batismo do navio Henrique Dias, no Estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca (PE), no último dia 14, ela declarou, em clima de comício, que não ficará calada diante das denúncias de corrupção na empresa, que ela considera um ataque à própria Petrobras. A quebra do silêncio da presidente, ontem, sinalizou a estratégia de responder às acusações da oposição de que a maior estatal brasileira encolheu no seu governo.

Para o eleitor ver
Desde sexta-feira sem compromissos oficiais, a presidente, que vinha de uma série de viagens para inauguração de obras e eventos relativos a programas do seu governo, retoma amanhã o périplo de viagens. Nos próximos três dias, ela voará pelo menos 8 mil quilômetros, com escalas em São Paulo, Cuiabá, Belém e Barcarena (PA).

Outros pré-candidatos a Presidência da República também não estão dispostos a perder tempo. Além do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-governador Eduardo Campos (PSB) tem participado de eventos em várias cidades do país. Hoje, Campos e Marina Silva, sua futura companheira de chapa, iniciam por Santa Catarina uma jornada de visitas a 150 cidades do país até junho. No próximo fim de semana, os dois vão ao Amazonas e ao Acre.

A agenda vitaminada dos pré-candidatos, de acordo com o cientista político Lúcio Rennó, faz parte do processo democrático, mas chama atenção pela linha tênue que separa o processo natural do partido de organizar coligações e a campanha em pleno curso. “É natural que os partidos se estruturem, que os pré-candidatos rodem o país para construir alianças. Muitas vezes, é difícil discernir se o pré-candidato está descumprindo a legislação, que proíbe campanha antecipada”, analisa.

Aécio critica 'aparelhamento e compadrio'

Em Ouro Preto, pré-candidato tucano e reforma política: 'corrupção endêmica tomou de assalto o Estado nacional'

Ricardo Galhardo - enviado especial de O Estado de S. Paulo

OURO PRETO - A tradicional cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência transformou nesta segunda-feira, 21, a Praça Tiradentes, em Ouro Preto, em palanque para o pré-candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, que, sem citar nomes, fez fortes ataques ao governo federal e ao PT.

A convite do governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho (PP), Aécio foi o orador oficial da cerimônia, que ele mesmo chamou de "a mais importante tribuna de Minas" e aproveitou a oportunidade para fazer um discurso de candidato no qual defendeu um novo pacto federativo e uma reforma política.

"O País nos cobra, exausto e indignado, a necessidade de uma reforma política, onde não haja qualquer espaço para a conivência, aparelhamento, compadrio e os desvios de conduta e a corrupção endêmica que tomou de assalto o Estado nacional", disse o senador tucano.

O tema do evento em 2014 foi os 30 anos da campanha pelas Diretas-Já, que Aécio acompanhou ao lado do avô Tancredo Neves. Ao falar da campanha, o senador citou Tancredo, Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Leonel Brizola (fundador do PDT, partido do qual o mineiro tenta se aproximar) e Miguel Arraes, avô do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência pelo PSB. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também teve papel determinante na Diretas-Já, foi esquecido.

Aécio aproveitou a efeméride da morte de Tancredo, no dia 21 de abril de 1985, para dizer que a "Nova República boa parte restou intocada" e listar os avanços e carências do País nas últimas três décadas.

‘Escândalos’ e ‘plantão’. Depois de enaltecer o combate à inflação promovido pelo tucano Fernando Henrique Cardoso e pelo mineiro Itamar Franco, o pré-candidato tucano disse que os progressos sociais das últimas décadas são obra de "vários líderes" e partiu para as críticas dirigidas ao governo federal. "O País rechaça e rechaça de forma vigorosa os escândalos em série e intermináveis que nos humilham como povo."

Pouco antes, em entrevista coletiva, Aécio disse que vai "fazer plantão" nesta terça-feira em Brasília à espera da decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, sobre a instalação da CPI da Petrobrás.
Outro ponto central do discurso do tucano foi a criação de um novo pacto federativo que garanta o crescimento equânime entre as regiões e reduza a dependência de prefeitos e governadores do que chamou de "ferrolho do poder central".

Segundo ele, municípios estão em "insolvência e insuficiência financeira para cumprir suas obrigações mais básicas."

Aécio critica sucessão de crises

Orador da solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto, Aécio Neves fez do evento mais um palanque para atacar o governo federal

Marcelo da Fonseca – Correio Braziliense

Ouro Preto (MG) — O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador mineiro Aécio Neves, cobrou ontem, na solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), um esforço para que se mantenham as principais conquistas do país nas últimas décadas. Em discurso na Praça Tiradentes, na noite de ontem, o senador relembrou o movimento das Diretas Já, de luta pela democracia, e alertou para os retrocessos que o país tem vivenciado nos últimos anos devido a falhas na condução da política econômica.

Pela primeira vez como orador do evento, o tucano lembrou a atuação de políticos mineiros no cenário nacional — dos inconfidentes aos ex-presidentes Tancredo Neves e Itamar Franco —, que garantiu ao país, historicamente, avanços significativos. “Foram esses valores que forjaram nossa coragem e alimentaram nosso ânimo para perseverar em defesa da democracia ultrajada e superar a longa e obscura noite da ditadura. Foram esses mesmos valores que iluminaram o coração de tantos homens e mulheres ao longo da nossa história. E que agigantaram homens como Ulysses, Tancredo, Montoro, Teotônio, Brizola, Arraes e tantos outros brasileiros. E todos pisaram no chão desta praça”, disse Aécio, sobre a comenda.

O senador destacou, entretanto, que o país necessita de mudanças para que conquistas históricas não sejam anuladas por erros de gerenciamento e de escolhas baseadas em interesses eleitoreiros. “Percebemos esse sentimento, não apenas em Minas, mas em todo o país. Esta data é importante para revisitarmos nossa história. Agora, um novo salto precisa ser dado. A democracia tem que se transformar em instrumento de crescimento econômico homogêneo. Temos que ter um olho no retrovisor, mas os dois olhos no futuro”, discursou o senador.

O tucano fez questão de sublinhar que as principais conquistas na última década só foram possíveis graças às administrações que antecederam a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, mesmo assim, o atual governo não conseguiu avançar em questões fundamentais. “Apesar dos avanços das últimas três décadas, resultado da contribuição de diferentes líderes e gerações de brasileiros, permanecemos portadores de uma das maiores desigualdades do planeta. Novas crises se acumulam e nos exigem vigilância atenta e disposição.”

O tucano criticou também a falta de resultados na saúde e cobrou um compromisso maior dos governantes para tirar do papel antigas promessas de melhorar o atendimento médico da população e a educação pública. “O país não aceita o regime de insuficiências, elevado à enésima irresponsabilidade, que tanto precariza o sistema nacional de atendimento à saúde pública, as filas intermináveis, a espera humilhante, a falta de médicos, leitos, remédios e respeito a quem mais precisa e o país sonha ainda hoje verem cumpridas as promessas que se repetem em vão para ser redimido em suas fragilidades estruturais por uma educação de verdade. Que ofereça e prepare para o trabalho, mas especialmente forme cidadãos conscientes dos seus direitos”, afirmou Aécio.

CPI da Petrobras
O senador também aproveitou a solenidade para criticar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que estaria atuando para impedir a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) exclusiva para investigar a petroleira. “Com essa decisão (de impedir a abertura da CPI) gravemente equivocada do presidente Renan, estamos impedidos não só de investigar a Petrobras, mas, daqui por diante, não haverá mais espaços para que o Legislativo investigue fatos relevantes. Basta que a maioria coloque 10, 15 ou 100 temas e cobre que todos sejam investigados em conjunto. Não se pode violentar a Constituição nem a função do Congresso, que é fiscalizar as ações do poder Executivo.”

Segundo Aécio, os parlamentares de oposição vão manter a mobilização em Brasília pela abertura da CPI exclusiva. Aécio concorda que mais CPIs sejam abertas para investigar outras denúncias, mas que temas polêmicos não podem ser usados para impedir a fiscalização das denúncias contra a Petrobras. “Estarei de plantão aguardando a decisão da Ministra Rosa Weber, que confiamos ser de respeito à Constituição e ao regimento do Senado, que garante a instalação de CPIs quando os requisitos são alcançados. Defendo que se instalem outras CPIs, inclusive terei o prazer de dar minha assinatura”, avaliou Aécio.

Em Ouro Preto, Aécio diz que CPI da Petrobras é ‘uma demanda da sociedade’

Senador mineiro e pré-candidato à Presidência da República foi orador da solenidade de entrega da Medalha Inconfidência

Ezequiel Fagundes – O Globo

BELO HORIZONTE — O senador e pré-candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) usou a tradicional solenidade em homenagem a Tiradentes, na cidade histórica de Ouro Preto, para reafirmar as fortes críticas que vem fazendo ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Orador oficial do evento de entrega da Medalha Inconfidência, Aécio evitou nomes, mas em discurso forte declarou que o país não suporta mais escândalos de corrupção. Em rápida entrevista antes da solenidade, ele voltou a comentar sobre a expectativa positiva da oposição em relação à criação da CPI da Petrobras, que nesta semana será avaliada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

— A CPI é uma demanda da sociedade, é um instrumento da minoria. Estamos animados com sua criação.

Em seu pronunciamento, o senador tucano também fez referência à falta de infraestrutura, inflação, violência e da necessidade de novo pacto federativo e reforma política.

— O país também nos exige rigor, responsabilidade e austeridade na condução do estado. Rechaça, e rechaça de forma vigorosa, os escândalos em série, intermináveis e vergonhosos, que nos humilham como povo e reduzem nossa dimensão perante a comunidade internacional. Não é esse o Brasil que queremos. O país nos cobra, exausto e indignado, a necessidade de uma reforma política, onde não haja mais qualquer espaço para a conivência, o aparelhamento, o compadrio, os desvios de conduta e a corrupção endêmica que tomou de assalto o estado nacional — defendeu.

Neste ano, o evento em Ouro Preto homenageou 240 personalidades, entre elas políticos, empresários e membros do judiciário. No grande palanque montado na praça principal da cidade, o presidenciável criticou o aumento da violência nos estados.

— Apesar dos avanços das ultimas três décadas, resultado da contribuição de diferentes líderes e gerações de brasileiros, permanecemos portadores de uma das maiores desigualdades do planeta.

Novas crises se acumulam e nos exigem vigilância atenta e disposição à luta. O país assiste, passivamente, um forte recrudescimento da violência em cada um dos estados federados. São mais vidas perdidas do que nas guerras ao redor do mundo. Uma geração inteira de brasileiros se esvai vitimada pela brutalidade ou aliciada pelo crime. Da mesma forma, o país não aceita o regime de insuficiências elevado à enésima irresponsabilidade, que tanto precariza o sistema nacional de atendimento à saúde pública: as filas intermináveis, a espera humilhante, a falta de médicos, leitos, remédios e respeito a quem mais precisa e menos tem — discursou.

Primeiro a discursar, o prefeito de Ouro Preto, Zé Leandro (PSDB), explicitou o tom de campanha eleitoral ao evento.

— Minas Gerais vai eleger o presidente da República — declarou.

Dezenas de PMs foram destacados para fazer o isolamento de pessoas e manifestantes que foram afastados da Praça Tiradentes, onde a solenidade foi realizada. Várias barreiras foram montadas em diversos pontos de Ouro Preto, impedindo o acesso de carros e pessoas ao centro histórico. Apenas grupos de militantes governistas puderam acompanhar de perto a solenidade.

A Medalha da Inconfidência foi criada em 1952, pelo governador Juscelino Kubitscheck, para homenagear pessoas que prestaram relevantes serviços para a promoção de Minas. É a maior comenda concedida pelo estado.

Nos últimos dez anos, a cerimônia já rendeu homenagens a diversas personalidades brasileiras, cada um em seu campo de atuação, desde o ministro Joaquim Barbosa, orador em 2013, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, orador em 2012, até a atriz Fernanda Montenegro, em 2004.

Também foram oradores da Medalha da Inconfidência nos últimos anos a presidente Dilma Rousseff (2011), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003), a ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia Rocha (2010), o embaixador da França no Brasil, Antoine Pouillieute (2009), o então vice-presidente da República José Alencar (2008), o arquiteto Oscar Niemeyer (2007), Maria Estela Kubitschek (2006) e o ex-presidente de Portugal Mário Soares (2005).

Eduardo Campos inicia nesta terça-feira maratona de viagens por seis estados

Périplo faz parte da estratégia para tornar o pré-candidato do PSB mais conhecido

Silvia Amorim e Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO — Menos de uma semana depois de se mudar com a família para São Paulo, o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, inicia hoje um giro em que visitará seis estados em uma semana. O périplo faz parte da estratégia para tornar o ex-governador Pernambuco mais conhecido. Na pesquisa Datafolha divulgada no último dia 5, apenas 58% dos eleitores disseram conhecer Campos.

A agenda de viagens, que começará hoje por Santa Catarina, prevê reuniões com políticos e empresários. Mas o pré-candidato do PSB vai mirar também um flanco valioso para sua estratégia eleitoral: jornais e emissoras de TV regionais. O ritual de entrevistas será repetido à exaustão até junho, em vários estados. Antes de encontros políticos, organizados pelo PSB e pelos partidos aliados, PPS e Rede, Campos atenderá jornalistas e gravará participações em programas de rádio e televisão.

Amanhã, o ex-governador pernambucano visitará cidades do interior do Paraná. Na quinta-feira, Campos estará no Pará. No sábado, em Manaus, ele participa do encontro programático do PSB, da Rede e do PPS. No domingo, visitará o Maranhão e o Piauí.

Conhecida por 87% dos eleitores, segundo o Datafolha, a pré-candidata a vice de Campos, Marina Silva, tentará ajudar o cabeça da chapa a se tornar mais popular e estará ao seu lado no Pará e em Manaus.

Líderes do PSB querem que Campos priorize em suas viagens as cidade médias brasileiras, aquelas com mais de 200 mil habitantes e consideradas polos em suas regiões. A mudança para São Paulo faz parte da estratégia para se tornar mais popular fora do Nordeste. Na noite da última terça-feira, um dia após o anúncio da chapa com Marina em Brasília, Campos se instalou em num flat na Zona Sul da capital paulista com a mulher, Renata, e três dos cinco filhos — Pedro, de 17 anos, José, de 8, e Miguel, que completará na próxima semana três meses.

No dia seguinte, esteve em Campinas, a maior cidade administrada pelo PSB no estado. No sábado, junto com os outros dois filhos — Maria Eduarda, de 21 anos, e João, de 20 — visitou os dois principais parques paulistanos: o Villa-Lobos e o Ibirapuera. A família participou da Missa de Páscoa, em Aparecida, na manhã de domingo. À noite, fizeram um programa tipicamente paulistano: saíram para comer pizza.

— Chegamos a São Paulo para aqui funcionar nossa base e para daqui dialogarmos e ouvirmos o Brasil — disse Campos, em seu discurso a militantes do PSB em Campinas.

Eduardo Campos defende maior independência do BC

Agência Estado

O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, disse em entrevista nesta segunda-feira, 21, que está inclinado a defender que o Banco Central (BC) seja formalmente independente e avaliou que esta seria uma forma de aumentar a confiança na economia do País. Ele afirmou que ainda discute com seu time se a proposta será incluída em sua plataforma de campanha. Na avaliação de Campos, seria possível "encorajar investidores" e "ajudar o Brasil a retomar o rápido crescimento".

Campos falou ainda sobre a Petrobras e defendeu que a companhia precisa de mais "transparência" em sua política de preços. O ex-governador de Pernambuco considerou que a empresa de petróleo sofre interferência política e disse que é preciso libertá-la destes efeitos. O candidato do PSB falou também sobre a necessidade de simplificar a legislação tributária para que o País seja mais competitivo. Ele afirmou que o Brasil precisa melhorar infraestrutura e produtividade para competir globalmente e abastecer o mundo com mais do que commodities. "O Brasil precisa ser mais do que uma grande fazenda, exportando materiais no estado bruto", declarou.

Na entrevista, campos considerou que a economia brasileira está estagnada e culpou a presidente Dilma Rousseff por ter perdido o controle da inflação. "As pessoas percebem que ela não deixou o Brasil melhor, que as mudanças pararam de acontecer e que os fundamentos da economia perderam consistência", criticou. Fonte: Dow Jones Newswires.

Marina: Dilma deixou como marca de governo o retrocesso

A declaração foi dada à CCTV America, de Washington, onde a ex-senadora participa de um evento sobre o ativista ambiental brasileiro Chico Mendes, morto em 1988

Estado de Minas / Agência Estado

Infelizmente, a presidente Dilma não foi capaz de ter a própria marca de governo, a não ser a marca do retrocesso", disse Marina Silva

A ex-senadora Marina Silva disse em entrevista a uma rede de televisão norte-americana que a presidente Dilma Rousseff não conseguiu firmar um estilo próprio à frente do Palácio do Planalto. "Infelizmente, a presidente Dilma não foi capaz de ter a própria marca de governo, a não ser a marca do retrocesso", afirmou à CCTV America, de Washington. Marina foi à capital dos Estados Unidos participar de um evento sobre o ativista ambiental brasileiro Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988.

Indagada sobre um ponto positivo e outro negativo do atual governo, Marina disse que, apesar de ter sido bom para o País manter as políticas sociais da gestão do ex-presidente Lula, o governo Dilma é marcado por retrocessos. Ela citou o baixo crescimento da economia, a inflação, dificuldades no planejamento da infraestrutura e a recente situação energética. Segundo Marina, o governo retrocedeu no que se refere à renda, à proteção das florestas e dos direitos indígenas.

Eleições
A vice da chapa de Eduardo Campos à Presidência nas eleições de 2014 destacou que os 20 milhões de votos recebidos por ela em 2010 têm um significado "muito profundo". "Significa que, para o povo brasileiro, a ideia de um modelo de desenvolvimento econômico que produza riquezas, trabalho, moradia digna e serviços essenciais não é incompatível com a proteção do meio ambiente", afirmou. Segundo Marina, o Brasil pode ajudar a resolver o que chamou de "desafio deste século". "É preciso mudar o antigo paradigma de que a economia é separada da ecologia. O mundo vai precisar cada vez mais de fazer essa integração", comentou.

Marina destacou que a aliança com o PSB, de Campos, ainda está sendo desenhada e que o objetivo é manter as bandeiras defendidas pela Rede Sustentabilidade no centro do debate. "O que me moveu para o PSB é a necessidade de que as ideias de 2010 continuem relevantes nas eleições de 2014", afirmou.

Corrupção
A solução para enfrentar a corrupção no Brasil é encará-la como um problema de todos e não apenas como algo relacionado ao governo ou aos poderes Legislativo e Judiciário, na avaliação da ex-ministra do Meio Ambiente. Marina destacou que o governo pode ser mais transparente e que o Congresso tem de ser uma ferramenta para "vigiar e monitorar", mas alertou que o tema tem de ser visto como um problema de toda a sociedade.

Segundo Marina, a pobreza era tida apenas como uma preocupação do governo, mas quando passou a ser enfrentada como um problema de todos começou-se a criar um processo de inclusão social. "O mesmo vale para a corrupção. Enquanto não for um problema nosso, não haverá solução", avaliou.

Protestos
Marina também foi questionada sobre os protestos relacionados à Copa do Mundo e respondeu que o ponto negativo da realização de grandes eventos é o fato de não se pensar nos legados que podem ficar para a população. As manifestações nas ruas mandaram uma mensagem forte, segundo ela.

Para Marina, a população encara como uma prioridade investir para sediar a Copa, mas também deveria ser prioridade garantir saúde, educação, segurança pública, transporte e vida digna para os brasileiros, "necessidades muito mais profundas", observou.

Parabéns a Brasília
A ex-senadora Marina Silva usou sua conta no Facebook para dar os parabéns a Brasília pelos 54 anos de fundação da capital federal. "A cidade é meu segundo lar há 20 anos, desde quando aqui cheguei com toda a família para meu primeiro mandato de senadora, aos 35 anos", disse.

A vice da chapa de Eduardo Campos à presidência da República afirmou que Brasília cresceu muito nos últimos anos e hoje "enfrenta os mesmos problemas graves de outras grandes cidades brasileiras: falta de mobilidade, violência, crescimento desordenado, para citar apenas alguns", comentou.

Segundo a ambientalista, a cidade é rica culturalmente e recebe gente de todo o País. "A novidade é que a participação dos jovens só aumenta, com foco na defesa da cidade que é patrimônio do mundo e na criação de alternativas políticas", destacou. Para Marina, a participação mais ativa dos cidadãos vai trazer soluções para reinventar a cidade.

Aécio Neves conversa com presidente estaduais tucanos

- Diário de Pernambuco

A Executiva Nacional do PSDB se reúne nesta terça-feira (22), em Brasília, com os presidentes dos diretórios estaduais. O encontro será coordenado pelo senador e pré-candidato à Presidência da República, Aécio Neves. Estão em pauta as alianças tucanas nos estados brasileiros com vistas às eleições de outubro.

"Esta será uma reunião importante, porque estarão presentes todos os presidentes de diretórios dos 27 estados brasileiros. Vamos definir a data da convenção, vamos fazer uma avaliação sobre os palanques regionais", comentou Aécio Neves no último dia 18.

O tucano lembrou que, atualmente, 80% dos estados brasileiros com palanques do PSDB já estão consolidados. "São palanques extremamente competitivos. Não há nenhum partido no Brasil hoje, incluindo aí o PT e o próprio PMDB, que tenha um número de candidaturas tão competitivas como tem o PSDB. Isso no momento em que se inicia a campanha faz uma enorme diferença", disse o tucano.

A Executiva Nacional do PSDB é composta por 39 membros. O senador Aécio Neves é o presidente da legenda desde maio de 2013, quando foi eleito durante a 11ª convenção nacional do partido. O deputado federal Mendes Thame (SP) é o secretário-geral e são seis os vice-presidentes: os ex-governadores Alberto Goldman (SP) e Tasso Jereissati (CE), os senadores Alvaro Dias (PR), Cássio Cunha Lima (PB) e Cyro Miranda (GO) e o deputado federal Bruno Araújo (PE).

Ainda durante será definida a data da convenção nacional da legenda. De acordo com as regras eleitorais impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), elas devem ocorrer entre os dias 10 e 30 de junho. Geralmente os partidos optam por fazê-las nos últimos dias.

Esses encontros servem para a formalização das candidaturas. Em 2014, estarão em disputas os cargos de presidente, vice-presidente, governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais e deputados distritais (no DF).

Nas eleições de 2010 o PSDB fez seis senadores, 53 deputados federais, mais de 100 deputados estaduais e oito governadores o que fez com que o partido governasse mais de 50% da população brasileira. O partido também obteve mais de 43 milhões de votos na dispouta presidencial, que contou com José Serra como candidato.

Brasil está entre os países líderes do ranking da inflação

De 16 economias monitoradas pelo BC, a brasileira só tem custo de vida menor que o da Venezuela, da Argentina e do Uruguai. Na média do mundo, preços estão em baixa

Deco Bancillon – Correio Braziliense
Depois de quase duas décadas de estabilidade, o Brasil voltou a figurar em um ranking nada lisonjeiro: o das nações com as maiores taxas de inflação do mundo. No país, enquanto as famílias lutam para acomodar a disparada dos preços em um apertado orçamento — da batata inglesa às carnes, da gasolina ao plano de saúde, tudo aumentou —, nos Estados Unidos, o governo torce pela elevação da carestia e, na Europa, o valor de produtos e serviços caiu tanto a ponto de a ameaça de deflação pôr em risco a recuperação da região.

Desde o início de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff tomou posse, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a carestia oficial no país, avançou 22%. Ou seja, em média, a cada ano, a inflação engoliu 6% da renda da população. Tamanho descuido com esse mal produziu um efeito indesejado, como mostra levantamento realizado pelo Correio, com base em uma lista de 16 economias monitoradas pelo Banco Central. Os dados indicam que a nossa carestia só não foi maior do que o custo de vida observado em três vizinhos sul-americanos: Venezuela, Argentina e Uruguai.

Não por acaso, esses são países que tentam combater a inflação da pior forma possível, ao recorrer a medidas como congelamento de preços e intervencionismo em setores-chave da economia. Essas experiências extravagantes, com as quais o Brasil está flertando, ao segurar os reajustes da gasolina e do diesel e ao derrubar as tarifas de energia por decreto, têm, no entanto, alcance curto e pouca eficácia para combater a verdadeira raiz dos problemas. “Uma inflação muito elevada, em geral, é reflexo de uma economia com desarranjos estruturais”, diz o economista Wellington Ramos, da Austin Rating. Nos últimos anos, tornou-se evidente o descompasso entre a demanda das famílias e a oferta limitada de produtos e serviços no país, quadro agravado pela baixa produtividade da mão de obra.

Ao estimular o consumo sem a devida contrapartida da produção, tudo o que o governo Dilma conseguiu foi produzir mais inflação. Há quatro anos consecutivos, o custo de vida sobe muito acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%. Em 2014, a estimativa da instituição é de que os preços ultrapassem os 6%. Pelos cálculos do mercado, o IPCA romperá o teto da meta, de 6,5%, entre maio e junho próximos, e encerrará o ano em 6,47% — a maior taxa desde 2011.

Petrobras não quis vender 50% de Pasadena a belgas em 2007

Se tivesse sido aceita, proposta teria reduzido prejuízo da estatal com o negócio

Informação consta de depoimentos dados por executivos da Astra; estatal só falará após investigação interna

Samantha Lima, Fabio Brisolla – Folha de S. Paulo /EBC

RIO - A perda bilionária registrada com a refinaria de Pasadena, que tem exigido da presidente Dilma Rousseff e de executivos da Petrobras um grande esforço para explicar sua compra, poderia ter sido um negócio com impacto financeiro bem menor caso a empresa tivesse topado vendê-la de volta aos sócios, como eles chegaram a propor.

O grupo belga Astra, de quem a Petrobras comprou metade da refinaria em 2006 por US$ 360 milhões, aí incluídos estoques de petróleo, sugeriu ao então presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli recomprar a fatia na empresa, em 2007. Na época, os dois sócios começaram a divergir sobre os planos para investir na unidade.

A informação consta de depoimentos dados por executivos do Grupo Astra à Associação Americana de Arbitragem, aos quais a Folha teve acesso. O tribunal foi um dos que julgaram a disputa entre as sócias entre 2008 e 2012.

Gilles Samyn, então presidente do Conselho de Administração da Astra Transcor, acionista da Astra Oil, contou que, em conversa telefônica com Gabrielli em agosto de 2007, ambos reconheceram as dificuldades em chegar a um consenso sobre os investimentos para dobrar a capacidade da refinaria, como queria a Petrobras.

O custo era de US$ 2,5 bilhões, considerado alto pela Astra. "Para resolver a questão, eu ofereci comprarmos de volta a participação de 50% da Petrobras, mas Gabrielli insistiu que isso deveria ser resolvido de outra maneira", afirmou o executivo na arbitragem.

Em 14 de setembro de 2007, Samyn reuniu-se com Gabrielli e Nestor Cerveró, então diretor internacional da Petrobras, na Dinamarca.

Samyn disse ter refeito a oferta. "Gabrielli, em resposta, sugeriu oferecer, até o fim de setembro, uma proposta firme para comprar da Astra o resto da refinaria e da trading" comercializadora de combustível".

Outro depoimento, do então presidente da Astra Oil Mike Winget, também presente à reunião de Copenhagen, confirma a versão: "Gabrielli se recusou a vender de volta a participação e insistiu que Petrobras deveria comprar a participação da Astra".

Ainda segundo o depoimento, ao fim de setembro, a Petrobras enviou proposta de US$ 550 milhões pelo restante de Pasadena. Samyn, então, teria dito que a Astra esperava receber US$ 1 bilhão.

Samyn e Winget foram ao Rio, onde, no dia 26 de novembro de 2007, Cerveró afirmou ter autorização do Conselho de Administração da Petrobras para oferecer até US$ 700 milhões pela refinaria.

O Conselho da Petrobras também não foi informado sobre a proposta de recompra da refinaria pela Astra.

Planejamento
Em 5 de dezembro, depois de intensa troca de correspondências com Samyn, Cerveró assinou carta concordando em pagar os US$ 700 milhões e mais US$ 88 milhões pela "trading".

No final, após uma batalha judicial encerrada em 2012, a Petrobras acabou pagando US$ 885 milhões pelo resto da refinaria.

No total, a estatal brasileira desembolsou US$ 1,25 bilhão por um negócio comprado pela Astra por apenas US$ 42,5 milhões em 2005.

Dilma, que presidia o Conselho de Administração da Petrobras à época da compra da refinaria, afirmou recentemente que só aprovou o negócio porque Cerveró enviou ao Conselho um parecer falho, que omitia cláusulas que eram desvantajosas para a estatal. A declaração gerou polêmica e fez a oposição cobrar a criação de uma CPI para investigar o negócio.

Procurado, Cerveró não retornou os contatos. Gabrielli disse que a refinaria "atendia ao planejamento estratégico da companhia, definido no governo de Fernando Henrique, que previa investir em refino no exterior".

A Petrobras informou que só se pronuncia depois de concluída a investigação interna. A Astra não comentou o caso.

Depois do PMDB, PSD defende chapa ‘Aezão’

Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo

Depois de um jantar com a bancada do PMDB do Rio, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, se encontrará com os parlamentares do PSD no Estado. 

Na semana passada, deputados do PMDB fluminense lançaram a chapa Aezão numa referência ao palanque que reúna Aécio e o governador Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do partido ao governo do Rio.

Na próxima sexta-feira, está previsto um encontro com os deputados federais e estaduais do PSD, que deve indicar Ronaldo Cézar Coelho como candidato a vice-governador na chapa de Pezão. O jantar está previsto para ocorrer no apartamento da mãe de Aécio, Inês Neves, em São Conrado.

Enquanto as lideranças locais do PMDB e do PSD defendem a aproximação com Aécio, as direções nacionais dos dois partidos são favoráveis ao apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

A alma do negócio: O Estado de S. Paulo / Editorial

O governo federal gastou no ano passado R$ 2,3 bilhões em publicidade com a administração pública direta e indireta, o que inclui as estatais. É a maior despesa desse tipo já registrada desde o ano 2000, quando começou a ser divulgada.

Assim, a presidente Dilma Rousseff supera seu mentor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, cuja Presidência, em 2009, usou R$ 2,2 bilhões para trombetear as reais e supostas conquistas de seu governo. Somente com a administração direta, a despesa foi de R$ 761,4 milhões, também um recorde.

Não terá sido por mera coincidência que, tanto no caso de Lula quanto no de sua sucessora, espantosas quantias de dinheiro tenham sido despejadas no período imediatamente anterior a um ano eleitoral.

Lula teve de ampliar o investimento em publicidade porque precisava eleger um "poste", e não se faz isso sem uma formidável máquina marqueteira. Em 2013, como o "poste" não traiu sua natureza - com a agravante de que mais e mais brasileiros começam a se dar conta de sua incompetência -, o governo repetiu a dose e foi além, atingindo um valor que coloca a administração pública federal entre os maiores anunciantes do País.

Com efeito, o governo Dilma aparece em quarto lugar no ranking do Ibope sobre os investimentos em publicidade em 2013. Supera até mesmo a gigante Ambev, cuja necessidade de disputar mercados - coisa que a maior parte das empresas estatais e o governo não precisam fazer - a levou a gastar R$ 1,8 bilhão.

Sem o carisma de Lula e agora com sua alardeada capacidade administrativa em xeque, em decorrência dos atrasos em obras importantes, dos problemas na administração da economia e dos erros crassos na Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff sabe que sem reforçar os gastos com publicidade não conseguirá se manter no Planalto.

A dependência de Dilma em relação à publicidade se comprova não apenas pelos números de 2013, mas pelo conjunto de seu mandato até aqui. Na média do primeiro biênio, o atual governo gastou R$ 1,78 bilhão por ano, 23% a mais do que a média de Lula em seus dois mandatos. Se a comparação for apenas com o primeiro termo de Lula, que gastou, em média, R$ 1,32 bilhão por ano, Dilma é ainda mais perdulária.

Além da despesa exorbitante, o problema é a óbvia utilização político-eleitoral da propaganda de governo, atitude que afronta a lei. A Constituição, em seu artigo 37, estabelece que "a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas deve ter caráter educativo, informativo ou de orientação social". A publicidade do governo, no entanto, atende a outras finalidades.

Conforme o jornal Folha de S.Paulo, a Secretaria de Comunicação da Presidência argumenta que "em 2013 o governo federal apresentou novas campanhas de utilidade pública voltadas à prevenção de acidentes de trânsito, de combate ao uso do crack e de lançamento do programa Mais Médicos".

Assim, o governo mistura no mesmo balaio utilidade pública com campanha eleitoral explícita, caso da publicidade do Mais Médicos - que usa as mesmas técnicas de propaganda para candidatos e partidos.

O objetivo das peças que "vendem" esse controvertido programa, portanto, não é informar, educar ou orientar ninguém; é simplesmente fazer autopromoção - como se sabe, o Mais Médicos deverá ser o carro-chefe da campanha de Dilma à reeleição e da de seu ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha ao governo do Estado de São Paulo.

O padrão da gastança continua firme neste ano. Conforme a legislação, o teto para a despesa com esse tipo de publicidade oficial em ano eleitoral deve ser a média dos três anos anteriores - que, como se observou, foi substancialmente elevada por Dilma. O site Contas Abertas, que acompanha os gastos públicos, mostrou que, nos dois primeiros meses de 2014, o governo Dilma já despendeu R$ 30 milhões a mais em publicidade do que no mesmo período de 2013.

Para um governo que se diz tão popular e tão competente, e que se jacta de ter revolucionado o País, é estranho que a presidente tenha de gastar tanto em publicidade para mostrar o que realizou.

Alberto Dines: A culpa não é do contínuo

Por que razão Maria das Graças Foster é designada como presidente da Petrobrás enquanto sua amiga e chefe Dilma Roussef tem o título de presidenta da República?

- El País

Por que razão Maria das Graças Foster é designada como presidente da Petrobras enquanto sua amiga e chefe Dilma Rousseff tem o título de presidenta da República? Algo a ver com o show de assertividade, competência e clareza na última terça no Senado protagonizado pela executiva-chefe da maior empresa do país, a quarta empresária mais poderosa do mundo?

Essa, evidentemente, não é a questão central da crise que está sacudindo a estatal de petróleo. Como também não é central, ou relevante, a questão da CPI específica ou genérica para investigar malfeitorias dos negócios públicos. Se a Petrobras, a Polícia Federal, Ministério Público e CGU continuarem a agir com autonomia, rapidez, firmeza e eficácia o jogo de sofismas sobre o âmbito da apuração parlamentar pode seguir no ritmo e formato habituais.

Falta fôlego à nossa sociedade para manter acesa uma pauta múltipla. Mas falta ao atual esquema de governança uma autoridade para exercer a autoridade. Alguém (ou agência ou força-tarefa) capaz de colocar os escândalos semiabertos num pacote único, cobrando resultados diários, amarrando as providências sem esperar as manchetes do dia seguinte.

A imprensa parece nervosa e desnorteada, talvez este seja o seu papel numa sociedade cada vez mais propensa ao nervosismo e ao desnorteamento. Mas não se pode confrontar a fala de Maria das Graças Foster com a de um subordinado demitido com uma rica compensação para manter-se calado.

Cabe ao governo governar. Com murros na mesa, broncas homéricas ou oferecendo satisfações contínuas, o importante é que o cidadão perceba que alguém está tomando conta da loja. Neste momento, imperam os constrangimentos. Ao contrário de Junho passado, desta vez não há lugar para perplexidades.

Nem se pode confiar mais no acaso. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, caiu na rede de investigações da PF por casualidade. Os agentes da Operação Lava Jato foram à sua casa para investigar algo relativo aos carros, o porteiro avisou: assustado, o executivo convocou filhas e genros para limparem seus computadores – seus telefones estavam grampeados, confessou antes de ser acusado.

Os ponteiros estão correndo, estamos diante de prazos irrecorríveis, fatais: em Junho quando começar a Copa, o Caso Petrobras precisa estar encaminhado ao Judiciário. Será um vexame vê-lo ainda nas capas dos jornais. Motins como o de Salvador na última quarta não podem repetir-se, muito menos as greves dos policiais militares que insuflam a desordem.

A reeleição da presidente Dilma depende menos do controle da inflação do que da sua capacidade de exercer plenamente a chefia do Estado. Não se trata mais de testar sua aptidão para gerenciar crises, mas da competência para mandar e fazer acontecer. Duela a quien duela, como diria Collor de Melo no seu impecável portunhol.

Inquestionável: Pasadena foi um mau negócio. Alguém deve ser claramente penalizado pelo fiasco – mas não o office-boy que grampeou o resumo da operação levada ao Conselho de Administração da estatal.

Raymundo Costa: A reeleição de Dilma, a Petrobras e o PT

Compra de refinaria expõe interesses e divisão no PT

- Valor Econômico

O índice de aprovação do governo Dilma Rousseff caiu para 34% de "ótimo" e "bom", segundo a última pesquisa Ibope. É o limite que os especialistas consideram mínimo para um governante pensar na reeleição. Há um ou dois meses, esse percentual seria o bastante para incendiar o movimento "Lula 2014", já em curso nas redes sociais, com uma adesão bem abaixo do que seria previsível. Mas no momento a preocupação do PT é outra ou pelo menos está dividida entre a reeleição e a crise da Petrobras, sendo que uma permeia a outra.

É possível que o movimento pela volta de Lula na internet não tenha deslanchado porque o ex-presidente segura as iniciativas do gênero. Há uma semana, Lula recebeu a visita de um antigo companheiro do movimento sindical. O ex-presidente já conhecia o resultado da pesquisa Ibope. "Nós vamos perder a eleição, você precisa voltar", provocou o amigo. Se quer voltar, Lula não abriu o jogo: "Nós não vamos perder não, mas também não dá para voltar", disse. "E se for para perder, nós vamos perder com ela".

Lula, segundo seus interlocutores, diz que não pode fazer mais do que já está fazendo por Dilma. Em conversas com a sucessora, pediu para ela não se preocupar com o "Volta, Lula", porque se trata de um movimento que acabará naturalmente. "A gente tem que passar despercebido, até uma hora em que os do 'Volta, Lula' vão entender: 'Volta, Lula', não. É você". O ex-presidente, no entanto, entende que Dilma é quem tem que defender o seu governo. "Depois eu e o PT". Nessa ordem.

Em 2010, Dilma era desconhecida e Lula foi o seu garantidor. Agora, a presidente é conhecida e grande o bastante para tomar a frente da campanha da reeleição, defender o que fez e dizer o que pretende fazer em eventual novo mandato.

Confirmada como candidata e com a promessa reiterada do apoio de Lula, Dilma ainda precisa conquistar o PT. No atual governo, a presidente e o partido quase sempre operaram em sintonias diferentes. Mas foi o julgamento do mensalão, no segundo semestre de 2012, que quebrou uma relação já trincada. Pressionada, Dilma se recusou a prestar solidariedade aos réus condenados na AP 470. As pesquisas de opinião recebidas no Planalto indicavam que a presidente não deveria ficar contra a opinião pública. As manifestações de junho de 2013, quando Dilma perdeu 30 pontos de aprovação, encorajaram o PT (e Lula) a "cercar e tomar conta" do governo.

O "Volta, Lula" ganhou corpo, desde então. De início, quando era advertida para a movimentação de auxiliares próximos ao ex-presidente, Dilma cortava a conversa na raiz. "Não quero falar disso", dizia. Depois, a presidente passou a falar que as notícias sobre a eventual troca do candidato do PT não passavam de uma intriga destinada a dividi-los. Primeiro, com sinceridade; mais tarde, por cálculo político. O pior, para Dilma, nem era saber da conjuração no PT, mas que Lula também falava mal do governo.

Lula, na realidade, nem tentava disfarçar. No fim de 2012, o ministro Aloizio Mercadante, hoje na Casa Civil, sondou o ex-presidente sobre o "Volta, Lula". Ouviu de volta críticas como a de que a presidente se afastara dos políticos e não falava com os empresários, entre outras recorrentes. Lula não falou na conversa com Mercadante, mas é certo, por exemplo, que atribui a candidatura de Eduardo Campos (PSB) a presidente à falta de gosto de Dilma para fazer política.

Dias depois Lula pediu que as críticas que fez a Dilma fossem relevadas. Ela era a sua candidata, tanto que concordou em fazer o lançamento da candidatura da presidente à reeleição, a pedido dela, o que ocorreu em fevereiro de 2013, antes, portanto, das manifestações populares de junho.

O contexto ajuda a explicar a reação da presidente, quando o caso da refinaria da Petrobras em Pasadena, no Texas (EUA), bateu à porta de seu gabinete. Dilma já se sentia desconfortável com o "Volta, Lula". A sugestão de que fora conivente com um mau negócio deixou-a enraivecida. Fontes próximas da presidente contam que ela escreveu com raiva a nota na qual diz que só aprovou o negócio de Pasadena por ter recebido "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho".

Uma reação do tipo que teve o ex-presidente João Figueiredo depois da explosão da bomba do Riocentro, em maio de 1981, quando pediu que as bombas fossem atiradas contra ele. Figueiredo estava pessoalmente furioso, seu governo virtualmente acabou naquele 1º de maio, mas nada podia fazer, pois os circuitos da bomba passavam por dentro de seu governo. Recado ou não, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli reagiu, nos bastidores, com a faca nos dentes: não havia como a presidente dizer que não sabia do que acontecia na Petrobras.

Os ânimos só foram acalmados depois da conversa que Dilma teve com Lula no último 4 de abril, a primeira depois que o negócio de Pasadena voltou à ordem do dia. Gabrielli recuou e compareceu a uma reunião da bancada do PT na Câmara, na qual defendeu a posição da presidente da República. O ex-diretor da área internacional da empresa, Nestor Cerveró, que insinuara revelações bombásticas, isentou Dilma de alguma responsabilidade.

Dilma apanha na Petrobras mais por suas virtudes que por seus defeitos. Fontes próximas da presidente reconhecem que ela não tinha como desconhecer os problemas da gestão de Gabrielli, abençoada por Lula, seu grande eleitor. Dilma e a presidente da Petrobras, Graça Foster, contrariaram muitos interesses montados em torno da maior estatal brasileira.

No dia 15, quando falou no Senado, Graça Foster não recorreu a meias palavras para dizer que a compra da refinaria de Pasadena fora um mau negócio para a Petrobras. No fim de semana, Gabrielli saiu da sombra. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" afirmou que Dilma "não pode fugir da responsabilidade dela", à época. Há irritação no PT, mas Dilma pode ter comprado a boa briga. Falta saber se terá condições de levá-la adiante.

Merval Pereira: Símbolo atingido

- O Globo

A Petrobras continua no centro do debate político desde que a presidente Dilma Rousseff cometeu o “sincericídio” de admitir que a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi um mau negócio feito com base em relatório “técnica e juridicamente falho”.

Assumiu assim, às vésperas da campanha eleitoral, uma atitude crítica às administrações anteriores à sua gestão, que tiveram um cunho marcadamente político nos dois mandatos do ex-presidente Lula, primeiro com José Eduardo Dutra e depois com José Sérgio Gabrielli.

Como não pode ir adiante nas críticas, a presidente ficou paralisada numa ação política de alto risco, que a expôs ao mau humor de seus adversários internos no PT. “Ela não pode fugir às suas responsabilidades”, retrucou Gabrielli em entrevista, colocando a presidente como coautora da decisão da compra, já que presidia o Conselho da companhia.

Além de afetar sua imagem de boa gestora, a esta altura totalmente desacreditada, a queda de valor da Petrobrás no mercado de ações afeta diretamente milhares de eleitores que usaram o Fundo de Garantia para comprar suas ações, e também um símbolo nacional que já serviu de base para campanhas petistas e hoje se tornou uma carga pesada.

Não é um debate promissor para quem começa a ter dificuldades na corrida presidencial, com queda de popularidade e aprovação do governo que a coloca em rota de redução de possibilidades de se reeleger. O recorte da pesquisa Datafolha que analisa a preferência dos 17% que conhecem igualmente os três candidatos à presidência da República a coloca em pé de igualdade com os adversários Eduardo Campos e Aécio Neves, o que implica deduzir que quando todos forem igualmente conhecidos, o favoritismo da presidente se esvairá.

Mais que isso, no hoje provável segundo turno, a presidente perde para os dois nesse grupo, o que reforça a ideia de que qualquer um que vá ao segundo turno receberá o apoio da maioria dos eleitores do outro, uma situação totalmente diferente das eleições anteriores, quando boa parte dos que votaram com a oposição no primeiro turno retornou para Lula no segundo.

E ainda tem a CPI da Petrobras. A ministra Rosa Weber, que pode dar a decisão hoje sobre a sua constitucionalidade, tem diante de si uma questão técnica com alto teor político, fundamental para a garantia de que a democracia brasileira assegura às minorias uma margem de atuação que não pode ser sufocada por maiorias eventuais. A maioria pode tudo numa democracia, menos impedir seu funcionamento.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é um instrumento típico das minorias, e por isso é tratada na Constituição com clareza em vários artigos, de definição muito simples e direta: se tem fato determinado a ser apurado e o número de assinaturas suficiente, deve ser instalada imediatamente.

A manobra do presidente do Senado Renan Calheiros, aceitando o ineditismo de os governistas acrescentarem fatos novos à CPI pedida pela oposição, com a intenção de inviabilizá-la, não tem guarida na Constituição nem no parecer do ex-ministro do Supremo Paulo Brossard, que Calheiros utilizou indevidamente como base de sua argumentação, fazendo uma estranha exegese do que Brossard pretendeu dizer.

O jurista gaúcho, ex-ministro da Justiça e ex-senador, reagiu em entrevista quando viu seu voto ser distorcido na decisão de Calheiros: "Uma das ideias centrais da CPI é justamente que a investigação deve recair sobre um fato certo. Não pode ser sobre dois, três, quatro temas. De forma alguma!".

Segundo o relatório do ex-ministro no julgamento do habeas-corpus nº 71.039 em 1994, fatos sem conexão com o objeto inicial da CPI, como no caso do suposto cartel de trens em São Paulo, devem ser analisados por novas comissões de inquérito, não podendo ser incluídas na original.

Somente “fatos conexos” que surgirem no transcorrer das investigações podem ser incluídos. O presidente do Senado já desmentiu que pretenda recorrer ao plenário do STF, alegando que a definição da CPI seria uma questão interna do Congresso, caso a ministra Rosa Weber dê hoje razão à oposição.

Está admitindo, assim, que a disputa é mesmo de natureza constitucional e deve ser definida pela mais alta instância do Judiciário.

Tereza Cruvinel: O bode

Até os detratores do ex-ministro José Dirceu reconhecem o viés persecutório com que é tratado na execução penal comandada pelo ministro Joaquim Barbosa

- Correio Braziliense

Nada mais enfraquecedor da crença na Justiça do que a percepção de que ela, em vez da justa punição, pratica a perseguição. Ou de que se vinga em um bode expiatório por não ter conseguido punir como desejava outros acusados. Essa percepção vem se ampliando diante da nítida exceção de tratamento dado ao ex-ministro José Dirceu, prisioneiro da Papuda e de um emaranhado de decisões que o mantêm no regime fechado embora tenha direito ao semiaberto, privando-o de direitos já concedidos aos outros condenados da ação penal 470, a do mensalão, como o de trabalhar fora. No centro da teia, estão o presidente do STF, Joaquim Barbosa, e parte do Ministério Público.

Em 14 de novembro passado, horas antes de expedir o primeiro mandado de prisão contra Dirceu, Genoino, Delúbio e outros, Barbosa deu o primeiro ponto na trama que lhe garantiria o controle total sobre a execução das penas dos condenados. Conforme revelou ontem o Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães, ele baixou naquela data a Resolução 470, estabelecendo que em ações penais julgadas pelo STF, “o relator ficará responsável pela execução penal dos condenados até o fim de suas penas”. No caso do mensalão, ele próprio. Tal inovação, dizem juristas e advogados, é inadequada porque ofende o princípio da separação entre julgar e executar penas, razão pela qual a lei prevê varas específicas para a segunda tarefa. Depois, porque subordina ministros da mais alta e atarefada Corte a funções subalternas. E ainda porque, mesmo tendo cargo vitalício, nem sempre um ministro estará no tribunal até o fim da pena de um condenado. Mas, garantido o poder de Barbosa, teve início para Dirceu uma execução penal com um viés persecutório, reconhecido até por seus detratores.

Do outro lado, no Ministério Público, soma-se a ação de procuradores que confundem a relevância da instituição intocabilidade. É o caso da procuradora Marcia Milhomens, que no curso da investigação da denúncia de que Dirceu falou ao telefone com um secretário de estado da Bahia, pediu a quebra do sigilo telefônico dos aparelhos usados em um perímetro coberto por determinadas coordenadas geográficas. Os advogados de Dirceu constataram que, posicionado entre a latitude 15º47’56.86” e a longitude -47º51’38.67”, fica o Palácio do Planalto, e entre a latitude -15º55’04.51” e longitude -47º47’04.51”, a Papuda. Depois, se soube que as coordenadas cobrem também o Congresso e o próprio prédio do STF. Só a prepotência explica a ousadia de querer quebrar centenas de sigilos na moita. Como só o procurador-geral teria poderes para pedir a quebra dos sigilos da presidente da República, a Advocacia Geral da União reclamou ao Conselho Nacional do Ministério Público. Esta semana, o corregedor do conselho, Alessandro Tramujas, pode decidir sobre a abertura de procedimento disciplinar contra a procuradora, que, segundo outros conselheiros, não tinha competência para tal.

Mas a sequência de medidas para manter Dirceu no regime fechado é bem anterior. A primeira ação polêmica de Barbosa no comando da execução penal foi a substituição do juiz titular da Vara de Execuções Penais, Ademar de Vasconcelos, por Bruno Ribeiro e dois auxiliares. Três dias depois eles denunciaram estar havendo “quebra de tratamento isonômico” na Papuda, um assunto que se tornou recorrente. Em janeiro, a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, replicou notícia de jornal baiano sobre a conversa que Dirceu teria tido no dia 6 daquele mês com o secretário James Correia. Ambos negaram, mas foi aberta a investigação e suspenso o segundo pedido para trabalhar fora, desta feita no escritório do advogado José Gerardo Grossi. No fim do mês, as autoridades carcerárias informaram ao juiz que concluíram pela improcedência da denúncia. Ele, entretanto, não arquivou o processo.

Com Barbosa de férias, o ministro Ricardo Lewandowski autorizou o trabalho externo do preso, mas, graças ao fato de a diligência continuar aberta, na volta, Barbosa anulou a decisão de seu vice. Seu depoimento sobre o telefonema sofreu adiamentos, retardando o exame do pedido para trabalhar. Até que, no dia 15, Bruno Ribeiro deu seguimento ao pedido dissimulado de quebra de sigilos nos três Poderes, que a procuradora apresentou em fevereiro. A delonga ajudou a manter o preso na Papuda.

No Livro dos Levíticos, Aarão coloca as mãos sobre a cabeça de um bode e, segundo o judaísmo, para ele transmite todos os pecados do povo de Israel. Nasceu ali a figura do bode expiatório, que costuma fazer aparições na história política brasileira. Dos inconfidentes, só Tiradentes foi à Forca. Na Confederação do Equador, Frei Caneca foi enforcado, mas seus pares mais importantes escaparam para o exílio. Dirceu é o bode do mensalão.

Mercado já projeta inflação acima do teto da meta em 2014

Ana Conceição - Valor Econômico

SÃO PAULO - A expectativa dos analistas de mercado para a inflação continua a se deteriorar e eles já preveem que o índice oficial de preços do país supere o teto do intervalo da meta neste ano, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central, que colhe estimativas entre cerca de cem instituições.

A mediana das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu pela sétima semana consecutiva, desta vez de 6,47% para 6,51%, ligeiramente acima, portanto, do teto de 6,5%.

Os analistas do grupo Top 5 – os que mais acertam as previsões – estão mais pessimistas. A mediana de médio prazo do grupo para o IPCA em 2014 saiu de 6,49% para 6,59%.

Com relação a 2015, a mediana geral do mercado seguiu em 6%, enquanto a mediana de médio prazo do Top 5 caiu de 6,27% para 6%. Em 12 meses, a expectativa passou de 6,12% para 6,07%.

As expectativas se deterioraram apesar de o IPCA-15 de abril, prévia da inflação do mês, ter subido menos que o esperado. O indicador avançou 0,78%, de 0,73% em março, mas ficou abaixo da média de 0,85% apurada pelo Valor Data entre 19 analistas.

Apesar da surpresa positiva, os economistas ouvidos pelo Valor avaliaram que a resistência do grupo alimentação e bebidas e os reajustes de energia elétrica e de medicamentos vão manter a inflação pressionada na segunda quinzena do mês e devem levar o índice oficial de inflação a encerrar abril c om alta próxima de 0,75%, acima dos 0,55% obse rvados em igual período do ano passado. O grupo alimentação e bebidas foi responsável por 58% da alta do IPCA-15 em abril, segundo o IBGE.

No Focus, a expectativa para o IPCA de abril subiu de 069% para 0,80%. A expectativa para a alta dos preços administrados também subiu, de 4,60% para 4,70% em 2014 e de 5,90% para 6% em 2015.

Apesar de prever inflação bem mais salgada, os analistas em geral não mudaram suas expectativas para a Selic, que seguiram em 11,25% ao fim deste ano e em 12% no fim de 2015. Atualmente, a taxa básica de juros está em 11% ao ano. Entre os Top 5 nada mudou. Eles continuaram a prever Selic de 11,88% em 2014 e de 13% em 2015.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

• Petrobras: oposição mira ‘lista negra’ de empresas
Diante da tentativa do governo Dilma de naufragar investigações contra Petrobras, os partidos de oposição – PSDB, SDD e DEM – decidiram apostar fichas na comissão externa criada para apurar as denúncias de corrupção. A estratégia será mirar empresas que tem contratos com a estatal e para as quais o ex-diretor Paulo Roberto Costa operava em troca de propinas, em muitos casos de até 50% do valor do contrato.

• Siga o dinheiro
A oposição vai apresentar na comissão pedidos para Ministério Público, Polícia Federal e TCU quebrarem sigilo fiscal e bancário das empresas.

• O esquema
Planilhas obtidas na operação Lava Jato detalham empresas e o valor das comissões cobradas por Paulo Roberto, preso pela Polícia Federal.

• Lavanderia
O ex-diretor da Petrobras e doleiro Alberto Youssef, sócio do deputado André Vargas (PT-PR), teriam movimentado cerca de R$10 bilhões.

• Financiamento
As empresas listadas por Paulo Roberto foram responsáveis por elevar em mais de dez vezes doações a campanhas eleitorais da base aliada.

• PSDB não apoia Lucena ao Senado na Paraíba
O senador Cássio Cunha Lima (PB) obteve a garantia do senador e presidenciável Aécio Neves (MG) de que dificilmente a cúpula nacional do PSDB favorecerá a reeleição de Cícero Lucena ao Senado, o que prejudicaria a candidatura de Cunha Lima governo estadual. Cunha Lima, que oferecerá palanque ao presidenciável Aécio Neves, costura para dar a vaga ao Senado para o PP do ex-ministro Aguinaldo Ribeiro.

• Tempo de TV
Também está cotado para integrar a chapa o PTB de Wilson Santiago, em troca de apoio a eleição de Cunha Lima. Leia-se: tempo de TV.

• Carne e unha
Homem de confiança de Cunha Lima, o deputado e presidente estadual do PSDB, Ruy Carneiro, tem sido apontado no partido para vice.

• Juntos na causa
Aspirante ao governo da Paraíba, Veneziano (PMDB) deve contar com apoio do PT para enfrentar a reeleição de Ricardo Coutinho (PSB).

• Chapa de força
O PMDB do Rio Grande do Sul já fechou o palanque de Ivo Sartori para o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE). A chapa do PMDB com PSB e PSD deverá ter o maior tempo de TV nas eleições ao governo.

• Bode expiatório
A fim de tirar o foco do petista André Vargas (PR), o PT trabalha para aprovar suspensão por 90 dias de Alberto Leréia (PSDB-GO), amigo do bicheiro Cachoeira. Com voto aberto, a sigla aposta que ele vai rodar.

• Insalubre
Trabalhadores da plataforma P-33, na Bacia de Campos, reclamam da precariedade da unidade. Falta copo plástico para água, fio dental, assento sanitário etc. De sobra só as baratas que infestam o refeitório.

• Ditadura 50 anos
No rescaldo dos 50 anos do golpe militar, a Comissão de Educação da Câmara discutirá dia 24 com Emir Sader, Marcos Guerra, Sadi Dal Rosso, Renato Rabelo e Moacir Gadotti sobre educação na ditadura.

• Faxina no erário
A Câmara dos Deputados vai gastar R$7,3 milhões para limpeza e manutenção de garagens e de apartamentos funcionais em Brasília, onde a maioria de Suas Excelências não mora, ainda que de graça.

• Jogando a toalha
O índice de 5% de desemprego apresentado pelo IBGE contempla as pessoas que procuram trabalho. Muitas devem ter desistido, pois a criação de vagas de março de 2014 caiu quase 90% frente a 2013.

• Pega, mata e come
Cotado para suceder a governadora Roseana Sarney, o senador João Alberto (PMDB) é conhecido na política maranhense como “carcará”, pela virulência com a qual combateu criminalidade quando governador.

• Programa em debate
Sob a coordenação do advogado e professor de Direito da Mackenzie, José F. Siqueira Neto, os ministros Arthur Chioro (Saúde), Luis Adams (AGU) e o sub-procurador-geral da República, Eugênio José Guilherme de Aragão debatem no dia 28, em SP, o programa Mais Médicos.

• Pensando bem…
…é a Copa do Mundo que não está preparada para o Brasil.

Brasília-DF: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), aproveitará a Executiva Nacional do partido hoje para apresentar-se como pré-candidato ao Planalto. Não que seja uma notícia desconhecida. mas a intenção é marcar um fato político, a exemplo do que fizeram Eduardo Campos e Marina Silva na semana passada.
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Marina e Eduardo, contudo, ratificaram a aliança, tendo a ex-senadora como vice. Aécio ainda está em busca de um companheiro (ou companheira) de chapa. Dois nomes surgem como opção: Mara Gabrilli (PSDB-SP) e a ex-presidente do STF, Ellen Gracie.
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Chamou a atenção a desenvoltura com que Mara comportou-se durante audiência, há duas semanas, pressionando o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. Segundo interlocutores do partido, ela começou a se inteirar mais dos assuntos nacionais. Por outro lado, Gracie teria a vantagem de já ter presidido o STF, o que lhe confere mais experiência institucional se comparada com a deputada tucana.

Lavo as mãos
Os tucanos não querem saber de defender o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), cujo pedido de suspensão está parado há sete meses na Mesa Diretora da Câmara. Os petistas tentam atrelar Leréia a André Vargas (PT-PR). O primeiro mantinha relações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e, o segundo, com o doleiro Alberto Youssef. Por via das dúvidas, o PSDB já rifou Lereia.

Relações aéreas
Durante depoimento de Nestor Cerveró na Câmara, o deputado Amaury Teixeira (PT-BA) preocupava-se com o adiantado da hora. Temia que Cerveró perdesse o voo de volta para o Rio de Janeiro. “Tem problema não. Se ele perder, pede um jatinho para o Alberto Youssef”, provocou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). O doleiro, preso na Operação Lava-Jato, emprestou uma aeronave para André Vargas passar as férias no Nordeste.

Check-in
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem intensificado as conversas no Instituto Lula. Dias atrás chamou um parlamentar ligado ao setor produtivo para saber o que o empresariado pensa do governo Dilma. Lula não quer saber de avaliações individuais. Procura sempre uma análise macro, sem dizer se pretende ou não candidatar-se novamente.

Mudar para quê?
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) considera um equívoco a pressão de setores do PT que defendem o movimento Volta Lula. “Não por conta do presidente Lula, que é uma grande liderança. Mas a presidente Dilma é a presidente da República, é candidata à reeleição e está fazendo um governo que está dando respostas à população brasileira. Por quê tem que mudar?”, questiona.

Fim de ciclo
O pré-candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos, não acredita que a população votará em Dilma só por causa de Lula, como ocorreu em 2010. “Essa eleição marca o fim de um ciclo. As pessoas votam em vereador e deputado estadual por recomendação de alguém. Para presidente, elas vão votar em um nome que trará mudanças para o país”, declarou.

Segurança/ Aécio tem dito que a presença de Fernando Henrique Cardoso na campanha serve como um lastro moral e administrativo. “Ao vê-lo, as pessoas se recordam de alguém que sabe montar uma boa equipe.”

Herança maldita/ Para o senador tucano, nas pesquisas qualitativas que o PSDB tem feito, ninguém remete a imagem de FHC ao apagão, por exemplo, algo que o PT sempre procurou fazer. “Além disso, os eleitores votarão no futuro, não no passado”, aposta o tucano, descartando qualquer análise de que FHC tiraria votos pela rejeição com a qual encerrou o mandato.

Eternamente/ Já o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), lembra que o ex-presidente jamais esteve de fora das campanhas tucanas para presidente. “Mesmo quando nós, do PSDB, mudávamos o assunto, o PT fazia questão de ressuscitar Fernando Henrique e colocá-lo novamente no centro do debate”, reforçou Aloysio.

Arnaldo Jabor: Onde está o mal?

- O Estado de S. Paulo

Um dos dramas de hoje é que não há mais fatos - só expectativas. A história vai devagar e por linhas tortas. A última grande mudança foi a queda das torres em NY. Em dez minutos, nossa vida mudou. A obra de arte de Osama foi ter criado um fato. E o Ocidente acorreu para esmagar o herege, o psicopata que criou um acontecimento em um país que imaginava ter controle do seu destino. Ele ousou "acontecer". Se ele abriu o precedente, tudo ficou possível.

Só um maluco, um marginal poderia furar o cordão sanitário da vida controlada. Mas, Osama não era maluco. Ele criou a imagem das torres caindo por toda a eternidade, gravada no tempo, como a Queda da Bastilha, o holocausto e a destruição de Hiroshima. Osama nos trouxe de volta à realidade, furou a barreira virtual do nosso Truman Show.

Havia no ar um desejo de destruição da "paz americana", mesmo entre os americanos. Em cada detalhe da vida, havia indícios: em filmes-catástrofe gozando o arrasamento de NY, nos livros em que o futuro é sempre distópico e até na arquitetura, como sacou o italiano Paolo Portoghesi, quando disse que a forma do museu de Frank Gehry em Bilbao é o desejo de um desabamento. Os americanos têm uma relação de amor/ódio com o implacável progresso que os acorrenta a uma escravidão produtiva.

Eu mesmo, profetinha autoproclamado, já escrevi que aquelas agulhas góticas pareciam pedir destruição. Que pode acontecer a uma lança herética arranhando os céus de Deus? A queda. Só a queda. Havia uma fome de fatos no ar; Osama veio satisfazê-la. Achavam que a técnica era invencível em sua marcha fria para um futuro sem 'sujeitos', previsível e programado. Osama nos fascinou porque assumiu o papel de 'sujeito da história', como os marxistas se chamavam antigamente. Sozinho, destruiu a técnica com as armas da técnica, numa homeopatia apocalíptica.

Desde que nos entendemos, nunca vimos uma mutação tão inesperada. Não apenas nas mentalidades, mas na matéria da vida, nas engrenagens que movem o mundo. Talvez a Crise de 2008 tenha começado com a desmoralização das torres caídas. O 11 de setembro foi o início da Crise atual. Até o 11 de setembro, tínhamos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias. Uma liberdade vagabunda para nada, para o exercício de um narcisismo ilusório, o fetiche de uma liberdade transformada em produto de mercado. E se o impossível acontece, a liberdade se restaura - nos ensina esse ato gratuito do terror.

Buraco negro. Este fato que mudou o Ocidente está ali em NY, deflorado, negro buraco e, por mais que tentemos, não conseguiremos desfazer a ligação entre os fios invisíveis que unem a loucura do fanatismo do Oriente até nossa vida pessoal.

Precisamos de uma forma nova de "transcendência", abolida pelo consenso tecnocientífico; uma nova liberdade se tornou urgente, a liberdade de 'não' ser moderno.

Este artigo me ocorreu porque o escrevi na Quinta-feira Santa e me vi subitamente sonhando com um novo "Cristo" que nos trouxesse esperança de salvação, não de ir para o céu, mas que trouxesse de volta o mistério de algo que explicasse o mundo. Também andei lendo ensaios de Paul Valéry que, nos anos 30, já previa com espantosa clareza o mundo de hoje.

Cito aqui trechos desse genial pensador visionário.

"A desordem do mundo atual nos habitua intimamente a ela; nós a vivemos, nós a respiramos, nós a criamos e ela acaba por ser uma verdadeira necessidade nossa. Nós encontramos a desordem à nossa volta e dentro de nós mesmos, nos jornais, nos dias e noites, em nossas atitudes, nos prazeres, até em nosso saber. A desordem nos anima e o que nós criamos nos leva a lugares onde não queremos ir." (A Política do Espírito.)

Ou então: "A vida social exige a presença de coisas ausentes; a ordem resulta do equilíbrio dos instintos pelos ideais". (...) "Uma sociedade que elimine tudo que é vago ou irracional, para impor o mensurável e o verificável, poderá sobreviver?" (Prefácio das Cartas Persas.)

Precisamos de um ideário que acrescente alguma inutilidade ao mundo. Precisamos de fatos, e não de expectativas, precisamos de um conjunto orgânico de verdades (ou de crenças) que espiritualize nosso vazio.

Mas, afinal de contas, com quem estou falando quando digo estas coisas aqui, sempre na forma de recomendações 'sensatas'? Com quem falamos? Com a ONU, com os presidentes, com os filósofos, com o bispo, com o umbigo? Com quem? É impressionante como os discursos de hoje, as conclamações, os manifestos, os ensaios usam o tom de "precisamos". "Precisamos impedir as mudanças climáticas, precisamos distribuir melhor a renda mundial, precisamos..." Mas ninguém nos responde.

Ou seja, não há o que fazer a não ser confiar em soluções que surjam pelo cansaço do erro, ou, pior ainda, pelos dias seguintes a uma grande catástrofe que nos leve, pelo pavor, a uma nova era de mínima racionalidade, até que, de novo, o caos se anuncie.

Até o mal ficou difuso. Onde está o mal, hoje? Entre os terroristas, no meio da miséria, entre fezes? O mal ficou arcaico. Por isso, o mal dos terroristas consiste em injetar o arcaico no moderno, esse inferno 'clean' que o capital inventou. E não adianta tentar a "beleza do mal" como busca invertida do bem. Já foram tentados: o culto à perversão, a violência ideológica, a crueldade por 'bons' motivos, tudo. Nada deu em nada. Existe hoje no mundo um novo mal, um mal sem culpados visíveis. O mal no mundo atual é o "incompreensível". Como disse Baudrillard: "Contra o mal, só temos o fraco recurso dos direitos humanos".

E, para fechar este artigo "cabeça", deprimido e citador, aqui vai o poema de Yeats, escrito em 1919, A Segunda Vinda:

"Tudo se desmancha no ar.
O centro não segura
a imensa anarquia solta
sobre o mundo.
Terrível maré de sangue
invade tudo e
as cerimonias da inocência
são afogadas.
Os homens melhores
não tem convicção;
e os piores estão tomados
pela intensa paixão do mal".