sábado, 8 de março de 2014

Opinião do dia: Antonio Gramsci

Sobre a revolução passiva. Protagonistas “os fatos”, por assim dizer, e não os “homens individuais”. Como, sob um determinado invólucro político, necessariamente se modificam as relações sociais fundamentais e novas forças políticas efetivas surgem e se desenvolvem, as quais influenciam indiretamente, com pressão lenta mas incoercível, as forças oficiais, que, elas próprias, se modificam sem se dar conta, ou quase.

Antonio Gramsci (22/1/1891-27/4/1937), Cadernos do Cárcere, v. 5 – O Risorgimento, p.328. Civilização Brasileira, 2002

Brasil vota contra missão da OEA na Venezuela

O Itamaraty votou contra o envio de uma missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) e se opôs a uma reunião de chanceleres do grupo para tratar da situação do país

Demétrio Weber

BRASÍLIA - O Itamaraty informou nesta sexta-feira que o Brasil votou contra o envio de uma missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) à Venezuela, bem como se opôs à realização de uma reunião de chanceleres dos países que compõem a OEA para tratar especificamente da situação venezuelana.

Segundo o Itamaraty, a posição do governo brasileiro é que seria prematuro adotar qualquer uma das propostas neste momento, pois isso só serviria para acirrar tensões na Venezuela.

As duas propostas foram levantadas durante reunião extraordinária da OEA que se realiza desde quinta-feira, em Washington, na sede da entidade. Ambas foram rejeitadas. A reunião ainda está em andamento. O representante interino do Brasil na OEA é o ministro de segunda classe Breno Dias da Costa.

Fonte: O Globo

Venezuela expulsa embaixador e outros três diplomatas panamenhos

Expulsão acontece no mesmo dia em que a OEA discutiu nova proposta do Panamá para convocar chanceleres da região com o objetivo de buscar uma saída para crise venezuelana

CARACAS - A Venezuela ordenou nesta quinta-feira a saída em 48 horas do embaixador e de outros três diplomatas panamenhos, a quem declarou persona non grata, depois de romper relações com o Panamá e pôr em suspenso o pagamento da dívida dos empresários venezuelanos com a zona franca panamenha.

- No dia de hoje (quinta-feira) recebemos uma nota da chancelaria da Venezuela que foi entregue em nossa embaixada onde declarava persona non grata quatro pessoas que trabalham em nossa embaixada e que são diplomatas na Venezuela - informou a vice-chanceler do Panamá, Mayra Arosemena.

A expulsão acontece no mesmo dia em que a Organização dos Estados Americanos (OEA) discutiu uma nova proposta do Panamá para convocar os chanceleres da região com o objetivo de buscar uma saída para a crise venezuelana.

Tal proposta provocou a ira do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que rompeu na quarta-feira relações diplomáticas, políticas e comerciais com o Panamá ao considerá-la uma ingerência que busca justificar uma intervenção externa para derrubar o seu governo.

- Nem Panamá nem seu governo pedirão desculpas por propiciar o diálogo e a paz na Venezuela. Sempre defenderemos os interesses do Panamá - respondeu nesta quinta-feira o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli.

- Agradeço às demonstrações de apoio e solidariedade à iniciativa panamenha na OEA, emitidas por cidadãos de dentro e fora do país - acrescentou Martinelli.

- Mandamos retirar nosso pessoal no dia de hoje e eles estão viajando para o Panamá amanhã (sexta-feira) - manifestou Arosemena.

Os diplomatas panamenhos expulsos são o embaixador Pedro Pereira, o encarregado de negócios Jaime Serrano e outros dois funcionários da sede diplomática.

A Venezuela é há um mês foco de protestos contra o governo de Maduro, com um saldo de 20 mortos, quase 300 feridos e dezenas de violações de direitos humanos.

Fonte: O Globo

Chanceleres sul-americanos devem se reunir no Chile para discutir situação da Venezuela

Um dia depois da posse da presidente reeleita do Chile, Michelle Bachelet, deverá acontecer uma reunião dos chanceleres dos países sul-americanos para discutir a crise política que a Venezuela vem enfrentando.

O Brasil tem participado das negociações para a realização do encontro e já ficou acertado que a conversa não envolverá presidentes. Isso foi decidido para não atrapalhar a festa de posse de Bachelet, que teria seu destaque reduzido por conta de uma reunião presidencial sobre a Venezuela.

Nos bastidores, o governo brasileiro vai defender que o presidente venezuelano Nicolás Maduro tente adotar um tom mais conciliador para tentar reduzir a tensão política no País. O Brasil vem sendo cobrado pela oposição venezuelana para se manifestar sobre a crise, mas tem preferido não se manifestar sobre o assunto.

Fonte: O Estado de S. Paulo

OEA tenta acordo para negociar crise venezuelana, mas proposta é rejeitada

Depois de mais de oito horas de reunião, a falta de consenso sobre a convocação de um diálogo mostrou a força do bloco ALBA, da qual fazem parte Venezuela e Cuba, e que rejeitam papel da organização

Eva Saiz

WASHINGTON - Espremida entre o desdém do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e a irritação de boa parte da comunidade internacional diante de seu prolongado silêncio sobre a violência espalhada pelas ruas da Venezuela, a Organização dos Estados Americanos (OEA) estava disposta, na quinta-feira, a definir finalmente sua postura diante da crise no país sul-americano. Depois de oito horas de reunião, a Venezuela conseguiu obter sua maior quantidade de votos nos últimos anos e impedir que os Estados membros adotassem algumas medidas que seriam discutidas: a convocação de uma reunião de consulta dos chanceleres, o envio de uma missão de observação e a redação de uma resolução sobre o conflito. A falta de acordo deixa em evidência a fratura, cada vez mais exposta, no cerne da entidade e pressupõe, além disso, outra oportunidade perdida para recuperar sua debilitada autoridade no hemisfério, que poderá ser parcialmente recuperada nesta sexta-feira, se for possível obter uma declaração de consenso na segunda parte da sessão.

“O que é evidente é que os propósitos intervencionistas dos que convocaram este Conselho foram freados”, afirmou à imprensa Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA, após uma longa reunião – que começou às 17h30 e terminou por volta da 1h na madrugada da sexta-feira- realizada a portas fechadas. A Venezuela soube angariar o apoio dos países do Caribe, cujos votos têm um peso decisivo no núcleo da organização, e que lhe tem permitido pender a balança a seu favor em muitas ocasiões nos últimos anos. Na quinta-feira, o apoio dos blocos ALBA e Caricom fez com que nem sequer fosse considerada a convocação dos ministros de Relações Exteriores da OEA para debater a resposta conjunta da organização diante da crise venezuelana, nem o envio de uma missão de observação, duas opções duramente criticadas por Maduro durante as cerimônias de aniversário da morte de Hugo Chávez.

Descartadas ambas alternativas, a declaração conjunta para a convocação das negociações entre as partes parecia a opção com maiores possibilidades de consenso. No entanto, a forma, extensão e conteúdo desse diálogo travaram o debate entre os Estados membros. Na reunião do Conselho foi apresentada uma proposta inicial, liderada pela Bolívia, em nome do bloco ALBA e países simpatizantes como Argentina, Uruguai e Brasil, que elogiava os esforços do Governo da Venezuela para lidar com os protestos sociais no país e a conferência de paz convocada por Maduro, como o foro legítimo para manter esse diálogo. A esse texto pretendeu-se incorporar, na forma de emenda, uma iniciativa promovida pelo Peru e o bloco da Aliança do Pacífico, além da Costa Rica, Panamá, Estados Unidos e Canadá, que pedia “uma continuação” dessas negociações para garantir o envio periódico de informações sobre o andamento das conversas ao secretário-geral, José Miguel Insuiza.

Durante a tarde, foi possível a redação de um rascunho com cinco pontos básicos que contemplavam, entre outros assuntos, uma investigação da violência, a garantia de não interferência da OEA em assuntos internos da Venezuela –como foi pedido por Maduro- e a observação da institucionalidade democrática e do Estado de Direito sob o marco da Carta Democrática da organização, temas sobre os quais houve um certo consenso. A negativa do bloco ALBA em aceitar a inclusão da proposta peruana impediu, no entanto, a possibilidade de se chegar a um acordo tímido, o que obrigou o adiamento da reunião para esta sexta-feira.

Nenhuma das partes parece disposta, a priori, a fazer concessões imediatas na segunda parte da sessão do Conselho Extraordinário. Em princípio, a reunião será retomada a partir da proposta boliviana, que enfrenta a oposição de países como Panamá, que convocou a reunião, Estados Unidos e Canadá. “Queríamos ver linhas de ação no texto da Bolívia, não simplesmente que se lamentem as coisas. Será preciso revisar essa iniciativa e minha opinião é que a OEA ficaria muito mal se apoiasse essa posição, porque o Conselho Permanente deve manter certo grau de neutralidade, já que a ideia não é nem atacar o Governo da Venezuela, nem tampouco abalá-lo”, afirmou o embaixador do Panamá na OEA, Arturo Vallarino.

Uma perigosa fratura
O nível de sutilezas embaralhadas para alcançar uma redação final de declaração é um claro exemplo do xadrez continental jogado na OEA. Os atritos em torno do chavismo e a rejeição de muitos Estados à própria organização foram determinantes para seu prolongado silêncio diante da crise venezuelana. Todas as instituições regionais do hemisfério, Nações Unidas, União Europeia, até o papa Francisco divulgaram comunicados, mais ou menos mornos, todos pedindo o diálogo e, alguns, repudiando a violência. A OEA permaneceu calada, em uma espera que como seu secretário-geral, José Miguel Insuiza, reconheceu durante a sessão fez surgir “tensões desnecessárias” entre seus membros.

Durante sua intervenção, o secretário-geral reivindicou, no entanto, a vigência e a importância da OEA no continente. “A expectativa provocada serve para defender que esta Organização continua sendo o principal foro de debate das Américas”, afirmou o chefe da entidade num discurso muito firme, no qual não se recusou em reconhecer a profunda divisão entre seus membros mas destacando a importância da pluralidade de vozes em seu núcleo –não é à toa que a OEA é a única entidade que agrupa todos os países do continente. “As crises polarizam e esta organização, que é política, está sempre no centro delas [...]. Aqui, os de direita, de esquerda ou de centro têm direitos iguais e a OEA é governada, de maneira aberta e conhecida, sob o marco da democracia do Estado de Direito, por seus Estados membros, reunidos no Conselho ou em Assembleia Geral”, afirmou Insuiza.

Apesar da clareza das palavras do secretário-geral, a incapacidade de se chegar a um consenso sobre a situação na Venezuela evidencia uma enorme fratura que afeta sua influência no hemisfério, cada vez mais afogada no mar de novos organismos regionais –Unasur, CELAC... –, em águas cujos seus Estados membros parecem nadar mais à vontade.

Fonte: El Pais /Espanha

Maduro diz que EUA reagiriam da mesma forma que ele sobre protestos

Presidente venezuelano, em entrevista à CNN, pediu que americanos 'respeitem' Caracas e a América Latina

WASHINGTON - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou em entrevista exclusiva à rede de televisão americana CNN, que o governo americano reagiria da mesma forma que o seu governo reagiu com relação aos protestos no país.

"O que fariam os Estados Unidos se algum grupo dissesse que vai incendiar os EUA para que Obama saia, para que renuncie, para mudar o governo constitucional dos EUA. Seguramente o Estado reagiria, utilizaria toda a força da lei para restabelecer a ordem", disse o presidente venezuelano.

Questionado pela jornalista Christiane Amanpour sobre os violentos distúrbios que ocorrem em seu país há quase um mês, Maduro insistiu que os que se manifestam contra ele são uma "minoria".

"Devem saber nos EUA e aqueles que nos assistem neste prestigiado programa que os que anteciparam este plano violento são uma minoria, um grupo pertencente à oposição, que colocou em apuros o restante dos dirigentes políticos da oposição."

Perguntado sobre qual seria a sua mensagem aos EUA, Maduro falou em "respeito". "Minha mensagem é de respeito, diálogo, superação das visões que eles têm sobre a Venezuela. Não entre em um beco sem saída em relação a Venezuela e América Latina. Nossa mensagem para todos no poder nos EUA é: respeitem a Venezuela, respeitem a América Latina, e vamos estabelecer novos níveis de relacionamento."

Os protestos que vem ocorrendo na Venezuela voltaram a se tornar violentos na quinta-feira 6, com mais duas mortes em Caracas. As manifestações no país deixaram, até o momento, 19 mortos e 318 feridos, segundo dados oficiais.

Os protestos começaram no dia 12 de fevereiro com uma passeata convocada por estudantes e opositores que terminou em violência e na qual morreram três pessoas e dezenas ficaram feridas. Esses acontecimentos foram o estopim para que ocorressem novas manifestações, concentrações, enfrentamentos e barricadas./ EFE

Fonte: O Estado de S. Paulo

Venezuela afunda na crise pela falta de diálogo: O Globo / Editorial

População não vislumbra solução para o enfrentamento, que ameaça conquistas do chavismo na área social e joga o país numa grande zona de incerteza

O primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez, quarta-feira, deu a seu sucessor, Nicolás Maduro, oportunidade para promover um grande evento com a presença de alguns de seus aliados externos, como o presidente Raúl Castro, de Cuba. “Chávez vive” foi uma das frases mais ouvidas em discursos e na programação das TVs estatais, no esforço para recriar a comoção causada pelo desaparecimento do fundador do chavismo. E, ao mesmo tempo, para respirar diante da onda de descontentamento popular causada pela mais séria crise que o país atravessa nos últimos 15 anos. Mas o truque de tentar governar ao lado de um cadáver tem prazo de validade. Que, pelo visto, se esgotou.

Tanto que o alívio, se houve, durou pouco. Logo o número de mortos em confrontos entre opositores e partidários do regime, em choques com a polícia bolivariana e em ataques dos “coletivos” (bandos pró-governo armados, em motocicletas) subiu para 20 desde o dia 12 de fevereiro. Relatores especiais da ONU para direitos humanos enviaram a Maduro uma carta pedindo explicações sobre o uso da violência e a prisão de manifestantes, jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação.

Surgiram sinais de fissura no dispositivo militar sobre o qual se apoia o chavismo. Três coronéis da Guarda Nacional Bolivariana foram destituídos e estão sob investigação porque teriam expressado descontentamento com os excessos na repressão a manifestantes em Carabobo.

Chávez encomendou a crise ao esbanjar petrodólares em programas sociais populistas, estatizar empresas e assim desestimular a produção nacional em todas as áreas, financiar o governo cubano e apoiar outroscompañeros como Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Cristina Kirchner (Argentina). Ao herdar o comando do chavismo, Maduro não teve capacidade nem coragem de mudar o rumo. Pelo contrário, decidiu aprofundar a revolução bolivariana. Hoje, a Venezuela sangra sob índices recordes de criminalidade; pena nas filas para comprar produtos de primeira necessidade, comida e remédios; desorganiza-se sob uma inflação anual de 56%; acende velas para enfrentar os apagões; sai às ruas para protestar sob risco crescente de repressão; não tem como se informar porque o governo controla os meios de comunicação.

O chavismo tem pontos positivos, como o esforço para dar educação, assistência médica e melhoria de renda aos mais pobres. Por isso, ainda tem muitos seguidores. Mas não irá longe sem um diálogo nacional e uma agenda comum para os graves problemas do país, que incluem o terrorismo de Estado, agora nas ruas. Não será com manobras para desviar o debate para fóruns onde só há aliados, como a Unasul, para fugir aos multilaterais, como a OEA, que Caracas conseguirá algo de positivo. Só um estadista recuaria agora para iniciar a reconstrução das instituições democráticas. Mas Maduro parece muito longe disto.

As feministas pedem que Dilma não ceda mais às pressões religiosas contra o aborto

Só no ano passado, penúltimo do Governo da primeira presidenta do Brasil, 850.000 interrupções de gravidez foram feitos no país, que se tornou refém de parlamentares fundamentalistas

“O mesmo amor com que se faz um parto se faz um aborto”

Talita Bedinelli / Raquel Seco

SÃO PAULO - Ele não é um ginecologista normal, pois a ginecologistas normais, para consultas normais, mulheres não costumam ir com seus parceiros. E a sala de espera está cheia deles. Namorados nervosos grudados às mãos de garotas jovens, homens tranquilos que fazem piadas para tentar descontrair, parceiros que usam o WhatsApp em silêncio. Da televisão, um programa de variedades grita em alto volume. As mulheres entram e saem em bom ritmo. Em um intervalo de cerca de uma hora, as que estão ali vão ter: entrado numa sala, passado por uma consulta de 300 reais, trocado suas roupas por um avental, deitado em uma maca, adormecido pela ação do anestésico propofol (o mesmo que usado em excesso pelo cantor Michael Jackson colaborou para sua morte em 2009), passado por uma aspiração ou uma curetagem para a retirada do feto, acordado e saído pela porta do consultório, sentindo apenas uma leve indisposição física –e, na maioria dos casos, alívio.

A clandestinidade se percebe nos detalhes: o circuito de câmeras que aponta para a porta do consultório, os namorados na sala de espera, o teto estragado do banheiro que tem pequenas manchas de sangue no chão, a grande quantidade de dinheiro em notas - a consulta é paga de maneira oficial, com cartão, mas a outra parte se cobra em efetivo, à vista, pouco antes da intervenção -, a falta de higiene. Uma europeia que passou por um aborto na Espanha e outro no Brasil recorda de seu choque quando deram a ela um avental usado com manchas de batom e quando o médico entrou na sala de operação falando em seu celular.

Estima-se que apenas no ano passado, 850.000 mulheres tenham passado por um aborto, segundo um levantamento feito a pedido do EL PAÍS pelo o professor aposentado da UERJ Mario Giani Monteiro, o mesmo que em 2005 realizou um estudo a pedido do Ministério da Saúde e chegou a uma cifra de um milhão de abortos naquele ano. A grosso modo, 2.328 abortos foram feitos em cada um dos 365 dias de 2013. Ainda que o Brasil restrinja os abortos legais aos casos de estupro, grave perigo para a mãe e anencefalia do feto, clínicas como essas são algo que todos sabem que existe: qualquer amiga e muitos ginecologistas têm um nome, um telefone, alguns conselhos. Quase todos os caminhos levam ao médico mencionado anteriormente, um dos de maior reputação em São Paulo, que há mais de três décadas atende consultas ginecológicas e também interrompe gestações.

Longe desta clínica central, cravada em um prédio de escritórios repleto de fisioterapeutas e advogados, em alguma região periférica dezenas de mulheres que não têm 3.000 reais disponíveis também estarão interrompendo uma gravidez. Algumas, introduzindo comprimidos de Cytotec, talvez falsificados, na vagina, ou usando agulhas de tricô e sondas infectadas na esperança de que o corpo expulse o feto. Outras, recorrendo a alguma clínica que funciona em um fundo de quintal, com alguém que, possivelmente, nunca passou perto de uma faculdade de medicina e fará o procedimento sem a mínima higiene ou cuidado. Todas correrão o risco de sofrer hemorragia, perder o útero ou, até, a própria vida –o aborto é a quinta causa de mortalidade materna no Brasil; a cada dois dias, uma mulher morre após ter tentado interromper uma gravidez de forma insegura no país.

Quase 200.000 das 850.000 mulheres que abortaram em 2013 procuraram algum hospital do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar uma curetagem, seja porque passavam por um aborto natural, para realizar o procedimento amparadas pela lei, ou após um aborto clandestino malsucedido. É um número expressivo, ainda mais se comparado com as internações causadas por doenças como câncer (243.709) ou pelas que afetam o sistema respiratório (236.940), por exemplo. Apesar de todos esses dados, bastante conhecidos pelo Governo, o caso continua não sendo tratado como um problema de saúde pública. Nem durante a primeira presidência feminina do país, que tem a frente Dilma Rousseff (PT), que em 2007, quando era ministra-chefe da Casa Civil, afirmou publicamente que era um "absurdo" que o país ainda não tivesse descriminalizado o aborto.

Após esses primeiro quatro anos de governo, que chegam ao fim neste ano, a avaliação dos movimentos feministas é que a presidenta tornou-se refém de uma bancada de parlamentares considerados “fundamentalistas” que nos últimos anos tentam endurecer ainda mais a legislação já restrita que o país tem em relação ao aborto.

“Os movimentos feministas, neste momento, trabalham na retranca. Estamos tentando evitar que haja uma regressão no direito ao aborto no país”, desabafa Jolúzia Batista, socióloga e assessora parlamentar do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), uma das instituições mais atuantes junto a parlamentares do Congresso.

Um levantamento feito pela instituição em julho do ano passado aponta que de 34 proposições que tramitavam naquele momento na casa com o tema “aborto”, 31 propunham “retrocessos graves” na legislação. Entre elas, constam leis que querem transformar o aborto em crime hediondo, o Estatuto do Nascituro, que dá direitos ao feto e transforma o aborto em delito culposo (quando há intenção para o crime e torna as penas mais duras) até outro que prevê penas para quem induzir a gestante ao aborto com informações sobre a interrupção da gravidez.

Depois de julho, foram propostas outras três, que pretendem restringir a profilaxia pra evitar que vítimas de aborto engravidem. Uma resposta à uma lei aprovada após um “cochilo” dos deputados anti-aborto, que regulamenta o atendimento de mulheres vítimas de estupro nos sistemas de saúde e obriga os hospitais a oferecerem a pílula do dia seguinte para todas elas –o mais próximo que o Governo Rousseff chegou do assunto nestes quatro anos.

A ofensiva contra o aborto tem crescido ano a ano no legislativo brasileiro devido, especialmente pela presença de legisladores evangélicos. A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida – Contra o Aborto, refundada em 2011, contava em julho com 205 parlamentares empenhados em pensar leis anti-aborto.

Às vésperas das eleições presidenciais de outubro, Rousseff sofre um novo desgaste na Câmara. A recente troca de ministros desagradou o PMDB, principal partido da base governista e importante aliado eleitoral da presidenta. O líder do PMDB é Eduardo Cunha, que propôs duas das três legislações anti-aborto do final do semestre passado.

Esse cenário amedronta os defensores do aborto, que temem que diante da tensão pré-eleitoral, os deputados contrários à interrupção da gravidez usem o tema do aborto como mais uma barganha política. Para tentar conseguir mais votos nas eleições de outubro ou chantagear a presidenta, que sofreu acusações de ser “aborteira” no segundo turno das últimas eleições de 2010, os deputados do PMDB podem forçar a votação de algumas das proposições anti-aborto.

O baque sofrido por Rousseff durante a campanha de 2010 foi tão forte que ela se posicionou, contrariando discursos feitos anteriormente, desfavorável à qualquer mudança da legislação e se comprometeu a não tocar no tema durante os quatro anos de seu governo.

O EL PAÍS pediu uma entrevista sobre o assunto para as assessorias de imprensa de Rousseff, do Ministério da Saúde e da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ninguém quis falar.

O silêncio prometido pela presidenta em 2010 foi rigorosamente cumprido.

Cuidar de recém-nascidos: a pena para a mulher que aborta
Apesar de diretrizes dos conselhos de medicina que proíbem que médicos denunciem as mulheres que chegam aos hospitais com algum sinal de que tentaram fazer um aborto, ainda há profissionais que acionam a polícia, quando suspeitam disso.

São poucos os casos e geralmente envolvem mulheres pobres, que correm o risco de ficar atrás das grades por um período que varia de um a três anos, explica a defensora pública de São Paulo Juliana Belloque.

Para evitar a pena, as mulheres geralmente concordam com a suspensão do processo em troca de um período de prova. Por um período de dois a quatro anos, tem que cumprir com imposições do juiz, comparecer perante a um fórum e fazer trabalhos voluntários. “Para transformar o processo em uma lição de cunho moral, religioso, geralmente o juiz estabelece que ela deve prestar serviços comunitários em hospitais ou serviços que atendem aos recém-nascidos. Isso traz um sofrimento psicológico enorme para elas.

Fonte: El Pais

Pelo menos um a cada três deputados do PMDB quer romper com o PT

Presidente convoca o vice, Michel Temer e o presidente do PMDB, Valdir Raupp, para reunião neste domingo, no Alvorada, a fim de conter grupo de deputados insatisfeitos com o governo

Daiene Cardoso e Débora Bergamasco

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião para este domingo, 9, a fim de definir parte dos palanques regionais e, assim, tentar aplacar a crise com o PMDB. A presidente deve encontrar um partido rachado. Ao menos um terço dos deputados peemedebistas considera a relação com o governo insustentável e prefere um desfecho radical: romper a aliança

O Estado ouviu 54 dos 74 deputados do PMDB em atividade - um está de licença médica. A opção pela ruptura imediata foi de 23 parlamentares. Outros 25 deputados disseram ser a favor da aliança, embora haja nesse grupo peemedebistas críticos à condução política do governo.

Apenas um não quis opinar e cinco afirmaram que votarão com o líder da bancada, deputado Eduardo Cunha (RJ), que na terça-feira postou no Twitter que o PMDB deveria "repensar a aliança" com Dilma e o PT. As entrevistas foram realizadas entre quarta-feira, um dia após a reação de Cunha, e sexta.

É este o tamanho da batalha que o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), enfrentará para convencer os deputados do partido a baixarem o tom para que ele e o vice-presidente da República, Michel Temer, consigam negociar melhor tratamento à legenda com Dilma e com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), no encontro marcado pela presidente para amanhã, no Palácio da Alvorada. O governo tenta deixar Cunha isolado, mas a tarefa não se mostra tão simples.

Nesta sexta, Raupp conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o impasse entre os partidos. "Ficou combinado que o Lula segura de lá (o PT) e eu seguro de cá (o PMDB)", contou Raupp.

Os peemedebistas reclamam da falta de participação nas decisões do governo. Alguns defendem que a maior legenda aliada de Dilma mereceria mais cargos que os atuais cinco ministérios.

O deputado Darcísio Perondi (RS) afirmou que, se houvesse uma convenção hoje, votaria para romper a aliança. "O PMDB tem cinco ministérios, mas não manda nada. Queremos par-ti-ci-par. Queremos candidatura própria", disse. Marllos Sampaio (PI) estende a crítica aos próprios dirigentes peemedebistas: "O PMDB não tem nada no governo. Apenas uma meia dúzia de integrantes do PMDB tem tudo nesse governo e se diz dona do partido".

Estados. Os rebelados se queixam ainda da dificuldade em fechar acordo para os palanques regionais e apontam a existência de uma estratégia petista de diminuir a força política do partido. "É uma estratégia (do PT) franca e aberta para diminuir as bancadas do PMDB (no próximo governo). Da forma como está hoje, é preciso romper a aliança para a própria preservação política do PMDB", declarou o deputado Leonardo Picciani (RJ), filho do presidente do diretório fluminense da sigla, Jorge Picciani, que já anunciou apoio ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) na disputa pelo Planalto. "Não podemos dormir com o inimigo."

Embora a maioria apertada dos entrevistados defenda a manutenção da parceria, quase todos reclamam do tratamento dispensado pelo governo, do "represamento" das emendas individuais e do veto às indicações da bancada para a reforma ministerial. O deputado Carlos Bezerra (MT) acha que agora é tarde demais para romper, embora "politicamente o governo seja um desastre". "Ficaríamos desmoralizados se deixássemos o governo no último minuto do segundo tempo."

Para Bezerra, o PMDB deveria ter deixado a aliança há um ano. "O DEM (antigo PFL) era enorme, mas ficou anos gravitando em torno do PSDB e morreu. O PMDB não pode ser o DEM do PT, ou morreremos também."

Já o deputado Saraiva Felipe (MG) acredita na melhora da articulação com o governo. "Seria importante antecipar a convenção e discutir (a relação). Se não caminhar para um entendimento, aí sim (devemos romper)."

‘Nova noiva’. Os parlamentares contrários ao rompimento alegam que o PMDB tem a Vice-Presidência e que não há tempo hábil para viabilizar uma candidatura própria. "Temos a Vice-Presidência com o Temer, estamos suficientemente contemplados. E não temos candidato", afirmou Osmar Serraglio (PR). O argumento foi o mesmo usado por Francisco Escórcio (MA). "Não temos tempo para encontrar uma nova noiva."

Os peemedebistas rebelados prometem dar trabalho nas votações previstas para o retorno do recesso de carnaval. O primeiro item da pauta é o pedido de criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações sobre as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás.

Fonte: O Estado de S. Paulo

'Ficou combinado que Lula segura de lá e eu de cá', disse Raupp

Senador peemedebista se comprometeu a empreender esforço conjunto com o ex-presidente para reduzir a crise instalada na relação entre PMDB e PT

João Domingos

BRASÍLIA - O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), conversou nesta sexta-feira, 7, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para combinar uma forma de reduzir a crise gerada por desentendimentos na relação de seu partido com o PT. "Ficou combinado que o Lula segura de lá (o PT) e eu seguro de cá (o PMDB)", disse Raupp.

Ele informou que terá um encontro neste sábado, em São Paulo, com o vice-presidente da República, Michel Temer, e no domingo pela manhã com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Nas duas reuniões, tentará avançar na política de alianças entre o PT e o PMDB nos Estados para que, à tarde, no Palácio da Alvorada, todos já possam entregar à presidente Dilma Rousseff uma solução mais ou menos alinhavada para o conflito entre os dois partidos.

Raupp disse que o grande problema é o das alianças regionais. "Esse é o estopim. As conversas foram interrompidas e nosso pessoal ficou nervoso, irritado e apreensivo. Ninguém quer passar pelo risco de ter um adversário do PT no Estado com a garantia de que a presidente Dilma estará no palanque dele, enquanto o nosso não receberá nada. Mas acho que isso vai ser resolvido nas conversas daqui para a frente", afirmou Raupp.

Nesta quinta, o presidente do PMDB esteve com Mercadante no Palácio do Planalto e adotou um discurso conciliador. Após o encontro, Raupp disse que o impasse com o PT foi no calor do carnaval e que, assim como a festa, deveria também acabar. "Foi no calor do carnaval do Rio de Janeiro que saíram essas trocas de acusações. O carnaval já passou e isso aí deve passar também", disse.

Fonte: O Estado de S. Paulo

'Temos que reeleger Dilma para Lula voltar em 2018', afirma Falcão

Presidente nacional do PT falou sobre cenário eleitoral e sobre a possibilidade do ex-presidente voltar a disputar eleições nos próximos quatro anos

José Roberto Castro

SÃO PAULO - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse nesta sexta-feira, 7, que o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faria muito bem ao Brasil, mas somente em 2018. "Falei outro dia que temos que reeleger Dilma para que Lula volte em 2018", comentou, em tom descontraído, durante café da manhã promovido pela agência de notícias espanhola Efe.

Falcão afirmou ainda não saber se Lula aceitaria voltar à Presidência e disse que o ex-presidente tem dois tipos de resposta quando questionado sobre o assunto. Em um momento, o ex-presidente se compara ao piloto Michael Schumacher, que retornou à Formula 1 após uma carreira de 7 títulos mundiais e não obteve sucesso. Em outros momentos, Lula diria que voltaria caso os adversários o incomodem muito.

'Tensão pré-eleitoral'. Rui Falcão também voltou a comentar a atuação do bloco de parlamentares dissidentes do governo federal na Câmara dos Deputados encabeçados pelo líder do PMDB Eduardo Cunha. Para o petista, a atuação dos parlamentares descontentes é fruto da "tensão pré-eleitoral".

O presidente do PT lamentou que o grupo esteja travando a pauta de votações, que inclui o Marco Civil da Internet, projeto considerado importante pelo governo federal, mas considerou "normal" o aumento da disputa por espaços no governo. "O que trava a pauta não é o projeto, é a disputa por espaço", disse.

Falcão não acredita, porém, que a pressão por um aumento de espaço do PMDB no governo federal coloque em risco a aliança do partido para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Acho que os mais responsáveis no PMDB vão manter a aliança", disse. "O que questiono é o papel de oposição de um partido que tem cinco ministérios e a vice-presidência."

O presidente petista disse que as mudanças feitas até agora pela presidente Dilma nos ministérios foram a pedido dos antigos titulares, que vão se candidatar nas eleições de outubro, e que, por isso, na opinião de Dilma, não deveria haver uma alteração na fatia de cada legenda na Esplanada dos Ministérios.

Ele disse ainda que tanto ele quanto Lula estão de acordo com a intenção da presidente de não fazer concessões na disputa por espaço no governo. Ele rejeitou, contudo, a ideia de que a presidente Dilma se negue a negociar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PT diz que PMDB não ganhará novo ministério e nem negociará candidatura de Lindbergh no Rio

Presidente do partido Rui Falcão, que esteve reunido com Dilma e Lula, diz que se alinha com o governo em não fazer concessões ao partido aliado

Thiago Herdy

Lindbergh e Rui Falcão durante reunião do PT no Rio Fábio Rossi / O Globo - 11/10/2013
SÃO PAULO - O presidente do PT Rui Falcão disse nesta sexta-feira que o governo está decidido a não ceder à reivindicação do PMDB de ampliar sua participação no ministério petista, apesar das ameaças de retirada de apoio à reeleição de Dilma Rousseff, em outubro. No entanto, sinalizou com a hipótese de ampliar o espaço do partido em estatais.

Falcão, que nesta semana esteve reunido no Palácio da Alvorada com Lula e Dilma, disse que ambos concordam que o PMDB não deve ganhar um sexto ministério no governo federal. O petista também descartou a hipótese de retirada da candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ao governo estadual, como deseja o partido aliado no plano federal.

Em função de suas reivindicações por espaço, o PMDB tem travado votações no Congresso Nacional.

- Me alinho à posição da presidente de não fazer concessões dentro dos princípios que ela tem mantido no governo. (…) Não vamos ceder um novo ministério para o PMDB. Agora, concessão para discutir projeto de lei, espaço em estatal, para isso estamos abertos a negociação - disse o dirigente petista durante café da manhã promovido nesta sexta-feira pela agência de notícias EFE, em São Paulo.

Falcão defendeu a candidatura de Lindbergh ao governo do Rio, por considerar que o partido nunca teve um “candidato tão competitivo” na disputa pelo Palácio da Guanabara, por isso não poderia voltar atrás.

- No Rio nunca tivemos candidato tão forte, com tantas propostas e tanta energia como Lindbergh, que será mantido contra todas as pressões que se fizeram - disse Falcão, que contabiliza mais apoios do PT ao PMDB em disputas por governos estaduais (quatro), do que o inverso (um caso sacramentado, segundo o petista).

Sem citar o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem se posicionado de forma mais contundente a favor de uma renegociação entre governo e partido, Falcão disse estar "otimista em relação ao desenlace” da situação, mesmo que “haja essa retórica mais inflamada neste momento”.

- Eu imagino que a maioria do PMDB e os setores mais responsáveis do PMDB vão manter a aliança e vão contribuir para a eleição da presidente Dilma - disse o petista, que defendeu “calma e moderação” para resolução do problema.

Falcão avaliou como “natural” a busca de ampliação de espaços por parte dos partidos, mas disse que isso cria uma tensão para a base. Para Falcão, a ocupação de um novo ministério permitiria ao PDMB realizar novos convênios até junho, dentro do limite estabelecido em ano eleitoral, obter mais exposição pública da legenda e aprovar com mais celeridade emendas parlamentares.

- O PMDB detém ministérios importantes, como o Ministério de Minas e Energia, que tem sobre si a Petrobras, a maior empresa do país, uma das maiores empresas do mundo - afirmou o petista, justificando a negativa de atendimento ao pleito de um novo ministério.

Enquanto Falcão falava em evento, em São Paulo, o presidente nacional do PMDB, Valdir Raupp, anunciava uma reunião de emergência com a presidente Dilma Rousseff e a cúpula do partido no próximo domingo.

Joaquim Barbosa é adversário
Perguntado sobre a possibilidade de Joaquim Barbosa vir a ser candidato a cargo eletivo nas eleições de 2014, Falcão disse que esta hipótese só poderá ser confirmada depois de 5 de abril, data limite para magistrados se filiarem a partidos políticos. No entanto, disse estar certo de que, caso isso ocorra, Barbosa e o PT estarão em campos opostos.

- Para mim é indiferente (a candidatura), porque nós não escolhemos adversários - disse Falcão.

Perguntado sobre o que pensava do comportamento profissional de Barbosa, o petista criticou:

- Como político, acho que é um bom magistrado; como magistrado, acho que é um bom político.
Questionado sobre a hipótese de Lula disputar as eleições neste ano no lugar de Dilma Rousseff, Falcão descartou a ideia.

— Temos que reeleger Dilma para Lula voltar em 2018 - disse o petista, completando acreditar que a volta de Lula em campanha presidencial daqui quatro anos “faria bem ao Brasil”, apesar das sinalizações recentes do ex-presidente de que não estaria disposto a disputar novamente cargo eletivo.

O presidente do PT voltou a defender a regulamentação da mídia, como forma de evitar a ocorrência de oligopólios e monopólios em meios de mídia eletrônica, e também a concessão de meios de comunicação para políticos. Afirmou, contudo, que a proposta deve preservar o direito à liberdade de expressão.

Fonte: O Globo

Após troca de farpas, cúpula do PMDB vai se reunir com Dilma no domingo

Crise entre legendas foi assunto da reunião entre Valdir Raupp e o ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante

BRASÍLIA - O presidente nacional do PMDB, Valdir Raupp, esteve reunido na manhã desta sexta-feira com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para tratar da crise entre PT e PMDB. Eles acertaram para domingo um encontro da cúpula do partido com a presidente Dilma Rousseff.

Segundo Raupp, o maior problema dentro do PMDB são as alianças regionais para a eleição de 2014. A presidente, que embarcou ontem para a Bahia, voltará a Brasília no domingo, mas ainda não há previsão do horário do retorno.

- O ponto de atrito tem sido com a direção do PMDB no Rio de Janeiro, com a liderança na Câmara, que é da executiva do PMDB no RJ. O Rio de Janeiro eu diria que hoje é o maior problema. É um diretório forte do PMDB, com maior número de delegados e convencionais - disse o presidente do PMDB.

Na avaliação de Raupp, a reforma ministerial é uma questão que tem de ser resolvida pela presidente Dilma Rousseff.

- Não cabe ao PMDB ficar pedindo cargos no governo - afirmou, completando: - O PMDB tem tamanho suficiente para ser respeitado e o governo sabe a importância que o PMDB tem. Não cabe a nós apontar que cargo o PMDB vai ocupar.

Ele também criticou a troca de farpas entre petista e peemedebistas, protagonizada por Eduardo Cunha, Rui Falcão e Washington Quaquá:

- Isso não ajuda, e eu acho que isso já está sendo colocado um fim nessa questão. Eu espero que a partir de agora, essa troca de farpas entre lideranças do PT e PMDB possa chegar ao fim. Isso não ajuda em nada, verdadeiramente não ajuda em nada.

Fonte: O Globo

Diretório do PMDB no Rio já trabalha por aliança com Aécio

Bancada federal se reuniu com o tucano há duas semanas

Cabral não se opõe à aproximação

Juliana Castro

RIO - Inconformado com as atitudes do PT e alvo de críticas recentes da direção nacional do partido, o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, já está com a mão na massa para eleger o pré-candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB). Ele tem conversado com cada um dos delegados do estado que tem voto na convenção nacional do partido para convencê-los a se posicionar contra a aliança pela reeleição da presidente Dilma Rousseff. Os votantes são, principalmente, prefeitos e deputados estaduais e federais.

O diretório do Rio é o que mais tem votos na convenção nacional - 75 de um total de 740 - que decidirá sobre o apoio do partido a Dilma. A expectativa dos peemedebistas fluminenses é de que outros estados insatisfeitos, como Ceará e Bahia, defendam o rompimento com o PT nacional.

O governador Sérgio Cabral não se opõe ao que está sendo feito e nem fez nada para contê-lo. Em um desses movimentos de apoio ao tucano, deputados da bancada do PMDB do Rio se reuniram com Aécio há aproximadamente duas semanas. Os parlamentares relataram ao senador a grande insatisfação com o PT. O presidenciável tucano, por sua vez, nutre esse racha por avaliar que quanto mais dissidência da campanha de Dilma, melhor para sua campanha.

Nos bastidores, PMDB e PSDB não descartam a possibilidade de que o vice-governador Luiz Fernando Pezão, que deve concorrer ao governo do estado, seja o palanque de Aécio no Rio. Picciani já adiantara ao GLOBO que vai colocar em votação na convenção estadual o apoio a Aécio.

Como não existe mais a exigência da verticalização, em que os estados eram obrigados a seguir as alianças nacionais, PMDB e PSDB podem ficar juntos oficialmente no estado sem problemas.

- Evidentemente, se avançar a conversa com o PSDB, acho perfeitamente possível que o partido integre formalmente a coligação do Pezão, o que daria possibilidade de aumentar o tempo de TV - afirmou o deputado federal Leonardo Picciani, que integra a Executiva nacional do PMDB.

A estratégia do PMDB de se aproximar de Aécio começou quando o próprio governador costurou alianças de apoio a Pezão com o PSD e Solidariedade. O presidente do PSD no Rio, Indio da Costa, foi vice na chapa de José Serra (PSDB) à Presidência em 2010 e não esconde que votará em Aécio.

Já o Solidariedade é presidido pelo deputado federal Paulinho da Força e nasceu como oposição ao governo Dilma.

Fonte: O Globo

No mês de aniversário do golpe militar, rua será palco de ‘duelo’ de extremos

Enquanto conservadores tentam reviver ‘Marcha da Família’, anarquistas preparam ato de repúdio

Tatiana Farah

SÃO PAULO - Às vésperas dos 50 anos do golpe militar, extremistas da direita e prometem um “confronto” nas ruas de São Paulo. Nascidos nas redes sociais, grupos conservadores articulam a reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade para o dia 22 de março, pedindo a volta dos militares ao poder. Para a mesma data e horário, foi marcada a Marcha Antifascista, convocando anarquistas e comunistas às ruas do centro. Os movimentos que lutam pela memória das vítimas da ditadura militar devem se mobilizar somente em 31 de março, dia que marca os 50 anos do golpe militar.

A extrema direita pede a volta dos militares e diz temer um golpe comunista. Os chamados “antifascistas” prometem levar aos conservadores “a verdadeira baderna do povão”. As convocações são feitas pela internet, por meio de diversas páginas de “evento”, algumas delas com mais de dois mil internautas inscritos.

“Vamos comemorar, gente, 50 anos da nossa revolução. Uma data bonita, histórica; e que devemos estar aqui, todos unidos, para mostrar que o gigante não dormiu.” É assim que Cristina Peviani convoca as pessoas para a reedição da Marcha da Família.

Repreendida em depoimento
Atuante nas redes sociais e apresentadora dos vídeos que defendem a marcha, Cristina foi repreendida em dezembro passado por um agente da Justiça Federal por lixar ruidosamente as unhas enquanto uma ex-presa política relatava ao juiz as torturas e abusos sexuais que sofreu na Operação Bandeirante (Oban). Ela prestava apoio aos agentes da repressão que estavam no banco dos réus.

De outro lado, grupos anarquistas e comunistas sem filiação partidária articulam a Marcha Antifascista, marcada para a mesma data também no centro de São Paulo. A página da marcha no Facebook é coordenada por Ação Antifascita Brasil e Movimento Popular Revolucionário, com mais de duas mil adesões.

“Setores ultrarreacionários querem trazer de volta a marcha fascista que deu aval ao golpe de 64 no Brasil”, diz o texto dos chamados “antifascitas", que conclui: “Já que eles querem tanto a ordem, vamos trazer para a burguesia a verdadeira ‘baderna do povão’ já que, como disse o ilustre ditador Figueiredo, ‘prefiro o cheiro de cavalos ao do povo”.

Fonte: O Globo

PSDB antecipa programa na TV para turbinar Aécio

Marcos de Moura e Souza

BELO HORIZONTE - O PSDB vai antecipar a exibição de seu programa partidário em horário gratuito em rádio e TV. Em vez de maio, a propaganda - de dez minutos - será em abril. A avaliação no grupo mais próximo ao senador mineiro Aécio Neves, pré-candidato do partido à Presidência da República, é a da necessidade de reforçar o quanto antes sua imagem nacionalmente e que em maio, às vésperas da Copa do Mundo, os eleitores estarão mais interessados em futebol do que em discurso político.

Além da Copa, segundo disse um tucano mineiro do círculo do senador, outro argumento é que, ao antecipar para abril, Aécio e o PSDB conseguirão ampliar por mais tempo sua exposição no rádio e na TV. É que em maio o partido utilizará as inserções curtas na programação ao longo do dia. Com a mudança serão dois meses seguidos de propaganda gratuita com a qual os tucanos esperam que Aécio suba nas pesquisas de intenção de voto.

Na sondagem de fevereiro, feita pelo Datafolha, o tucano aparece em segundo lugar, com 17% das intenções. Em terceiro, está Eduardo Campos (PSB), com 12%. A presidente Dilma Rousseff lidera com larga folga, com 47% das intenções de voto.

A mudança de data do programa tucano foi possível graças a um arranjo com o Democratas, tradicional aliado dos tucanos e que estará novamente na aliança do PSDB este ano.

"Entramos em um entendimento com o PSDB porque é conveniente para nós termos nosso programa veiculado mais perto das convenções do partido [que devem ocorrer em junho]", disse o presidente do DEM, o senador José Agripino, que está em Roma.

Segundo ele, interessa ao PSDB "colar" o programa partidário nas inserções curtas de maio.

Os dois partidos fizeram uma petição ao Tribunal Superior Eleitoral, que designou um relator e deu parecer favorável à troca, disse Agripino.

A propaganda do PSDB terá a assinatura de publicitários já conhecidos do grupo de Aécio. Um deles é Paulo Vasconcelos, da Vitória Comunicação Institucional. Vasconcelos esteve à frente da campanha que em 2002 elegeu no primeiro turno o tucano como governador de Minas Gerais. Outro é o argentino Guillermo Raffo, que atuou no primeiro turno da campanha de 2008 de Márcio Lacerda à Prefeitura de Belo Horizonte. Lacerda teve Aécio como um dos padrinhos políticos e foi reeleito prefeito no ano passado. O argentino já havia trabalhado em 2004 para o PT, na campanha de Fernando Pimentel - hoje pré-candidato ao governo de Minas - à prefeitura.

Como em suas campanhas anteriores, Aécio pretende interferir bastante no desenho da propaganda eleitoral e sua equipe fala que a decisão dele é garantir espaço para que partidários participem da definição do conteúdo. Andréa Neves, irmã do senador que o ajuda nas decisões de comunicação e imagem, também terá participação nesse processo.

Uma pessoa que atua em sua campanha disse à reportagem que os marqueteiros não ficarão "num bunker fechado com o candidato" como teria ocorrido, segundo ele, nas campanhas presidenciais do PSDB em 2006 e em 2010, quando os candidatos foram o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador, José Serra. O publicitário nas duas foi Luiz González.

Fonte: Valor Econômico

Adversários políticos evitam situações constragedoras no enterro de Sérgio Guerra

Políticos de todas as matizes foram à Assembleia Legislativa de Pernambuco para prestar homenagem

Júlia Schiaffarino

Presidenciáveis Eduardo Campos e Aécio Neves estiveram juntos no velório do deputado tucano

RECIFE – Tal qual a vida política do deputado federal Sérgio Guerra (PSDB), o velório do corpo dele, nessa sexta-feira, foi permeado de encontros e desencontros. Como previsto, personalidades das mais diversas siglas compareceram à Assembleia Legislativa de Pernambuco para prestar homenagens ao parlamentar, morto na quinta-feira, vítima de infecção pulmonar. Estrategicamente, porém, evitaram situações que pudessem provocar constrangimentos. Dessa forma, poucos “adversários” se cruzaram.

Os primeiros a chegar foram os tucanos paulistas. O atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi ao velório acompanhado do ex-governador e ex-ministro José Serra. Ambos foram curtos nas palavras. “Ele (Sérgio Guerra) tinha essa capacidade de viver com os contrários, estabelecer pontes e manter aberto o canal de diálogo”, comentou Alckmin. “É uma grande perda para a política”, resumiu Serra.

Pouco tempo depois foi a vez de o governador de Pernambuco e presidenciável, Eduardo Campos, ingressar no Legislativo, acompanhado de políticos locais. Eduardo fez questão de esperar a chegada do senador de Minas Gerais pelo PSDB e também pré-candidato à Presidência da República, Aécio Neves. Apesar de adversários, os dois mantêm boas relações e avalisam alianças consistentes nos respectivos estados. O mesmo, porém, não se repetiu em relação a José Serra que, minutos antes da chegada de Aécio, deixou o plenário – onde estava o corpo de Guerra – e foi para a sala da Presidência da Casa. Assim, evitou esbarrar com o correligionário.

Aécio Neves também driblou o assunto nas conversas com jornalistas e políticos. Limitou-se a comentar a relação que mantinha com Sérgio Guerra e destacar que, por causa dele, chegou ao comando da agremiação tucana. “Se sou hoje presidente nacional do PSDB, é pela mão de Sérgio Guerra”, declarou. Na ocasião da disputa, José Serra era o principal adversário. Posteriormente, ele brigou pela presidência do Instituto Teotônio Vilela, mas foi novamente derrotado, e o cargo coube ao deputado federal morto anteontem.

Aécio também não quis comentar se a morte do tucano poderá influenciar na política de alianças em Pernambuco, onde Guerra havia aproximado o PSDB do PSB. Embora Eduardo Campos e Aécio Neves sempre tenham se esforçado para dialogar, inclusive sobre aliança em um eventual segundo turno, as demais lideranças do partido não se entendiam no estado.

O senador Humberto Costa e o deputado federal João Paulo, ambos do PT, e o pré-candidato ao governo de Pernambuco, senador Armando Monteiro (PTB), chegaram juntos no período da tarde, quando os caciques tucanos e socialistas já tinham ido embora. Ficaram no velório por aproximadamente 20 minutos e cumprimentaram os parentes de Guerra.

O caixão ficou no plenário até as 15h30, quando foi levado para um cemitério na cidade de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, onde o corpo foi cremado.

O deputado federal morreu na quinta-feira, aos 66 anos, após ficar internado 21 dias no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratar uma pneumonia. O tucano, que lutava contra um câncer no pulmão, coordenou as campanhas presidenciais de Alckmin, em 2006, e de Serra, em 2010. Na época, o deputado sempre deixou claro aos mais próximos sua predileção por Aécio Neves como candidato à Presidência da República. (Com agências)

Fonte: Diário de Pernambuco

Merval Pereira: Teorias conspiratórias

Desde que o Supremo Tribunal Federal reviu a pena de formação de quadrilha no julgamento do mensalão estabeleceu-se no país um debate completamente paranóico sobre o aparelhamento do plenário do STF pelo fato de que os dois novos ministros, Luis Roberto Barroso e Teori Zavascki, indicados pela presidente Dilma, foram decisivos para a mudança da condenação em absolvição.

Os petistas, por sua vez, consideraram uma vitória a absolvição por quadrilha e correram a alardear um suposto reconhecimento de que o Supremo errou no primeiro julgamento.

Não concordo com a teoria da conspiração que denuncia um plenário manipulado, embora pessoalmente defenda a tese de que não seria possível a realização de um assalto ao dinheiro público tão bem planejado, em diversos níveis de atuação, se não houvesse um comando central de uma organização criminosa por trás.

Da mesma maneira é risível a tentativa de transformar a mudança do STF em indicativo de que há espaço para uma revisão criminal que anule o julgamento. Tanto a formação de quadrilha quanto a lavagem de dinheiro – outro crime que possivelmente será anulado pelo novo plenário na análise dos embargos infringentes – são de definição controversa, e é perfeitamente natural a interpretação da lei em sentido contrário, tanto que dos doze ministros que votaram no julgamento a esse respeito, metade foi para um lado e a outra metade para o outro.

Não é à toa que minha leiga percepção da questão teve o respaldo de nada menos que seis ministros do Supremo no decorrer do julgamento, enquanto ao final outros seis ministros votaram em sentido contrário. A maioria “feita sob medida” a que se referiu pejorativamente o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, foi formada circunstancialmente, mas não tem nada de anormal.

A Suprema Corte dos Estados Unidos tende a ficar mais liberal ou conservadora à medida que presidentes democratas ou republicanos nomeiam ministros.

Segundo Diego Werneck Arguelhes, professor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas e especialista no sistema Judiciário americano, sabe-se que há uma tendência geral a um alinhamento de crenças e valores básicos entre o indicado e quem indicou.

Nas últimas décadas, isso significa que Presidentes mais liberais tendem a indicar ministros com crenças mais progressistas em questões morais e mais simpáticos à regulação estatal, enquanto Presidentes mais à direita indicam ministros do outro lado do espectro nessas questões.

Os juízes John Roberts e Samuel Alito, indicados por George W. Bush, são publicamente próximos do partido Republicano. Já as juízas Elena Kagan e Sonia Sotomayor, indicadas por Obama, têm perfil significativamente mais progressista. A diferença é que Suprema Corte não trata de questões criminais, como o STF.

Talvez essa seja uma grande diferença, pois ser conservador ou liberal em relação a questões éticas e morais é uma coisa, outra é definir o quanto os valores morais e políticos de um ministro, claramente importante na interpretação constitucional, podem e devem - ou não – influir no julgamento de uma ação criminal originária.

Mas no fundo, estamos falando da mesma coisa, se considerarmos que não ver crime de quadrilha no mensalão equivale a compreender o caso como uma consequência das leis eleitorais, e não como ação delinquencial de políticos petistas.

Se pegarmos a história dos dois novos ministros, não há nenhuma indicação de que sejam juízes ou juristas sujeitos a pressões ou manipuláveis. Têm simplesmente seus pontos de vista, revelados em anos de atuação. O que acontece, pelo menos no caso do Barroso, é que ele tem "proximidades ideológicas" com o governo petista, e uma visão bastante próxima da dos que defendem a tese de que houve “apenas” caixa 2 eleitoral.

O ministro Luis Roberto Barroso, considerado um dos maiores constitucionalistas do país, sempre foi um advogado ligado à esquerda. Defendeu a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos, pesquisa com células-tronco embrionárias, união homoafetiva e rejeição da extradição de Cesare Battisti, todos temas caros à esquerda que se auto-intitula progressista.

O ministro Teori Zavascki é muito respeitado pela doutrina criada nas áreas de Direito Administrativo e Tributário, com atuação de destaque no Superior Tribunal de Justiça. O que deve ter acontecido é que vendo posições anteriores dos dois, o Palácio do Planalto os tenha escolhido sem mesmo precisar macular a sabatina com uma pergunta direta sobre suas posições específicas. (Continua amanhã)

Fonte: O Globo

Roberto Freire: Petrobras mergulhada em escândalos e suspeitas

Entra ano, sai ano, mais um carnaval chega ao fim, mas a folia das ruas não é capaz de fazer os brasileiros se esquecerem dos desmandos do governo de Dilma Rousseff. O escândalo da vez atinge novamente a Petrobras, alvo de denúncias de pagamento de propina em um esquema que movimentou mais de US$ 250 milhões e envolveu a empresa holandesa SBM Offshore, a maior fabricante de plataformas marítimas e exploração de petróleo do mundo. Segundo a revista “Veja”, funcionários e intermediários da Petrobras teriam recebido ao menos US$ 30 milhões.

As operações seriam comandadas por um dos mais influentes lobistas do setor, que assinava os contratos de consultoria com a SBM nos quais se previa o pagamento de uma “comissão” de 3% do valor dos acordos (1% ao próprio empresário e 2% a diretores da Petrobras). A investigação ainda aponta que uma troca de e-mails entre três diretores da empresa holandesa faz referência a uma suposta reunião com um engenheiro-chefe da Petrobras, para que se tratasse da renovação do aluguel de uma plataforma de petróleo sem licitação.

Este não é o primeiro escândalo que atinge a estatal nos governos petistas. Em 2006, a companhia comprou por nada menos que US$ 360 milhões 50% de uma pequena refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que não tinha condições de processar o petróleo extraído na costa brasileira. Um ano antes, a mesma empresa havia sido adquirida pela belga Astra Oil por US$ 42,5 milhões – o que significa que houve uma valorização inexplicável de 1.500% em apenas 12 meses. Após uma disputa judicial com os belgas, a Petrobras foi derrotada e teve de pagar mais US$ 839 milhões pela outra metade da refinaria americana, acumulando um prejuízo de mais de US$ 1 bilhão.

Patrimônio de todos os brasileiros, a Petrobras não pode continuar sendo dilapidada, como tem acontecido desde aquela que já é reconhecida como gestão temerária do petista José Sérgio Gabrielli. É fundamental que o Congresso aprove a criação de uma comissão externa ou mesmo de uma CPI para investigar o novo escândalo. Desta vez, apesar da pressão governista para que a iniciativa não prospere, é provável que a comissão seja instalada, pois o PMDB e outros partidos da base aliada, em conflito aberto com o governo Dilma, estão muito propensos a votar favoravelmente às investigações.

Algumas pessoas se dizem preocupadas com os eventuais danos à imagem do Brasil que podem ser causados por algumas camisetas sobre a Copa do Mundo, confeccionadas por uma fornecedora alemã de material esportivo, com imagens de mulheres de biquíni. É evidente que se trata de uma hipocrisia sem tamanho, pois não é nada muito diferente daquilo que todos estamos acostumados a ver diariamente em nossas praias. Devemos nos preocupar, isso sim, é com o incalculável prejuízo que escândalos em série em nossa principal empresa certamente trazem à reputação do país.

Propinas, compra suspeita de refinaria, perda em valor de mercado, atraso no pagamento a fornecedores, dívidas fiscais milionárias, entre outras proezas que só um governo incompetente é capaz de produzir, transformaram a Petrobras em um dos maiores símbolos de um momento sombrio de nossa história. A mais importante empresa brasileira mergulhou 8 mil metros abaixo do nível do mar em busca do pré-sal. Mas, sob comando do PT, afundou mesmo é nas profundezas da corrupção.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Cristovam Buarque: A cor da mente

Analfabeto adulto é filho e neto de analfabetos

Nos anos 70, a televisão mostrou uma série com o nome de “Raízes”, contando a trajetória de uma família de negros americanos, desde seu passado na África. A série emocionou centenas de milhões de pessoas ao mostrar o sofrimento de sucessivas gerações que tinham em comum a cor da pele e a escravidão por serem negras.

Trazida para o presente, a série “Raízes” pode ser escrita sob outro ângulo: as sucessivas gerações de pessoas carregando a característica do analfabetismo. A genealogia de um analfabeto mostra quase toda sua linha de transmissão no analfabetismo. Raramente o filho de alfabetizados cai no analfabetismo. Já o analfabeto adulto é filho e neto de analfabetos.

Mas diferentemente da transmissão da escravidão pela cor irremovível, a transmissão do analfabetismo decorre da falta de programas educativos para sua erradicação. Porque a cor da mente é mutável pela educação.

Muito provavelmente, os 13 milhões de analfabetos de hoje são descendentes dos 6,5 milhões de analfabetos que povoavam o território brasileiro em 1889. Naquele ano, a elite republicana fez uma bandeira com um lema escrito, mesmo sabendo que seus cidadãos eram incapazes de reconhecê-lo porque não sabiam ler. E desde então 125 anos se passaram sem um gesto enfático e duradouro que abolisse a tragédia, que permitisse a todos os brasileiros lerem a sua bandeira.

A repetição genealógica do analfabetismo é causada pelo descaso com a educação das crianças, que deixa aberta a torneira por onde surgem novos analfabetos adultos, e pela falta de um programa concreto e persistente para a erradicação desta tragédia entre os adultos.

Para resolver o problema em cinco anos seria necessária a mobilização de 130 mil jovens bolsistas ao custo anual inferior a R$ 1 bilhão, e mais R$ 2 bilhões de outros gastos operacionais.

Essa era a intenção do Ministério da Educação no primeiro ano do governo Lula ao criar uma Secretaria Extraordinária da Erradicação do Analfabetismo, destinada a gerir o programa Brasil Alfabetizado. A secretaria chegou a formular o Programa de Apoio ao Estudante, proposto no projeto de lei nº 2.853/2003, pelo qual os alunos de universidades particulares receberiam bolsas para pagar seus estudos, desde que aceitassem exercer atividades relacionadas à alfabetização de adultos, por seis horas semanais, durante um dos semestres de seus cursos.

Além disso, foram implantados programas de “leituração” para manter a alfabetização conquistada. Em 2004, a secretaria foi extinta, e o programa perdeu vigor; o PAE se transformou em Prouni sem exigência aos beneficiados. O resultado é que o problema continua e, em 2013, houve aumento no número de analfabetos: os 6,5 milhões de 1889 duplicaram, em 2013, para 13 milhões.

Quem sabe se, neste ano, algum candidato a presidente vai apresentar o compromisso e dizer como, quanto custa e de onde sairão os recursos, financeiros e humanos para romper a genealogia do analfabetismo, mudando a cor da mente desses brasileiros.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo

Rolf Kuntz: Não culpem o tomate nem o petróleo

Parem de caluniar o petróleo e o tomate. Nem o tomate foi culpado pela inflação, no ano passado, nem o petróleo é o vilão da balança comercial, como andaram dizendo nos últimos dias. Se os preços no varejo continuam subindo muito mais que no resto do mundo, é porque há desequilíbrios graves na economia brasileira, como tem havido há muitos anos. E o comércio exterior vai mal porque a atividade interna também vai mal, com custos altos e crescentes, produtividade baixa, indústria emperrada e governo incompetente. Se as importações de combustíveis e lubrificantes consumiram em fevereiro US$ 3,59 bilhões, 7,9% mais que um ano antes, foi principalmente porque a produção nacional tem sido insuficiente para acompanhar a demanda.

Em janeiro a produção interna de petróleo e líquido de gás natural (LGN) foi 2,4% menor que em dezembro - apenas a continuação de uma longa queda. O volume produzido caiu de 2,02 milhões de barris/dia em 2011 para 1,98 milhão em 2012 e 1,93 milhão no ano passado. Em contrapartida, a extração de água, em algumas áreas, passou a igualar a de petróleo.

Desde a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a interferência do governo central na condução dos negócios da Petrobrás levou a empresa a investimentos errados no Brasil e no exterior, distorceu prioridades, afetou a geração de caixa, aumentou seu endividamento e derrubou seu valor de mercado. A perda de produção e a maior dependência da importação de derivados foram desdobramentos dessa história de irresponsabilidades. A maior empresa brasileira foi subordinada às ambições políticas do grupo governante, usada para uma diplomacia contrária a seus interesses e convertida em instrumento de uma política industrial anacrônica.

Mas a decadência empresarial da Petrobrás explica só em parte o mau desempenho comercial do Brasil. A cena fica mais clara quando se consideram os números do primeiro bimestre. Em janeiro e fevereiro as exportações somaram US$ 31,96 bilhões, valor 1,4% maior que o de um ano antes. Mas a variação se torna negativa - queda de 3,4% - quando se comparam as médias dos dias úteis (42 em 2013 e 40 em 2014). No caso das importações, a comparação entre os valores absolutos indica um aumento de 3,6%. 

Quando se confrontam as médias dos dias úteis, o resultado é uma queda de 1,4%, bem menor que a das vendas ao exterior. Em 12 meses, pelo mesmo critério, a receita diminuiu 0,9% e a despesa aumentou 4,4%.

O déficit comercial de US$ 6,18 bilhões no primeiro bimestre é um retrato de um País com graves desarranjos. A receita obtida com a venda de produtos básicos aumentou de US$ 13,6 bilhões para R$ 14,06 bilhões, mas o valor médio diário diminuiu 1,5%. Considerando-se a evolução dos preços, foi um bom resultado. Ruins, mesmo, foram as vendas de produtos da indústria.

A receita dos manufaturados caiu 5,6%. A de semimanufaturados diminuiu 7,2%. O problema da competitividade continua muito grave. Além disso, o País sofre os efeitos da crise na Argentina, seu maior parceiro na América Latina e um dos principais mercados para a indústria brasileira. Em janeiro e fevereiro as vendas para o mercado argentino, US$ 2,37 bilhões, foram 16% menores que as do primeiro bimestre de 2013.

O melhor resultado foi o das vendas para a China. A receita de US$ 5,02 bilhões nos dois primeiros meses foi 25,5% maior que a de um ano antes. As exportações para os Estados Unidos também avançaram bem e renderam US$ 3,96 bilhões, 7,4% mais que em janeiro e fevereiro do ano passado. Mesmo com alguma desaceleração, o mercado chinês continua absorvendo enormes volumes de matérias-primas e de bens intermediários.

Mas o comércio com os Estados Unidos tem uma composição muito mais equilibrada, porque o mercado americano absorve boa parte das exportações brasileiras de manufaturados. Em janeiro, último mês com números detalhados até esse nível, apenas 4,5% das vendas brasileiras à China foram de manufaturados. O total dos industrializados (com inclusão dos semimanufaturados) chegou a 25,78%. Quase metade das exportações para os Estados Unidos (45%) foi de manufaturados. Os industrializados corresponderam a 66,23%.

O Império, portanto, é um bom cliente da indústria brasileira, enquanto o grande emergente, eleito como parceiro estratégico pela diplomacia brasiliense, mantém com o Brasil um comércio de tipo colonial.

Não há nenhum mal em exportar grandes volumes de commodities. Algumas das potências mais desenvolvidas, como Estados Unidos e Canadá, também são grandes vendedoras de matérias-primas e bens intermediários. A grande besteira cometida pelas autoridades brasilienses, a partir de 2003, foi desprezar os acordos comerciais com os mercados mais desenvolvidos, dar prioridade ao chamado comércio Sul-Sul e deixar esboroar-se o poder de competição da indústria nacional. O agronegócio ainda se mantém competitivo, mas até quando? A tentativa de ressuscitar políticas industriais talhadas segundo o modelo dos anos 50 e 60 produziu o efeito esperado pelas pessoas sensatas e menos provincianas. O fracasso era tão previsível quanto os efeitos da tolerância à inflação.

A esperança de resultados melhores com a depreciação do câmbio e a reativação do mercado global é igualmente enganadora. O câmbio é a menor parte do problema, como já mostraram os números do ano passado, e um mercado mundial mais favorável será aproveitado principalmente pelos produtores mais eficientes. Isso é óbvio, exceto para o governo brasileiro e, curiosamente, para uma parcela dos empresários da indústria. Mas essa parcela tem diminuído, como indicam as boas análises publicadas por algumas entidades do setor, como o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Rolf Kuntz é jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Demétrio Magnoli:A cena que Garcia viu

Temos dois ministros das Relações Exteriores. O ministro oficial, Luiz Alberto Figueiredo, não tem jurisdição na América do Sul, esfera de operação do ministro-fantasma, Marco Aurélio Garcia, que opera como plenipotenciário do presidente fantasma, Lula da Silva. Garcia assistiu, na Venezuela, às cerimônias governamentais que marcaram o primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez. Ele viu, mas não falará.

Ele viu o desfile no Paseo de Los Próceres, a esplanada de Caracas delimitada por postes de iluminação situada no perímetro do Forte Tiuna e adornada por objetos esculturais de inspiração helenística que se abre para o monumento aos heróis da independência. Não foi exatamente um evento em memória ao caudilho "bolivariano", mas uma exibição do equipamento militar importado da Rússia e da China: caças Sukhoi, mísseis terra-ar, blindados T72. Nos discursos, entremeados por torrentes de palavras de ordem, Chávez foi mencionado como "comandante eterno", "nosso pai" e "líder supremo", enquanto a Venezuela ganhou a qualificação de "pátria socialista, revolucionária e majoritariamente chavista".

A nação, Garcia viu, é um movimento, um partido, um ponto de vista político, uma ideologia. Isso, porém, não passa de déjà vu. O novo é outra coisa, que Garcia também viu. O presidente Nicolás Maduro alertou que "somos um povo valente na defesa de nossos direitos" e --mensagem direta!-- insistiu em esclarecer o sentido de conjunto da performance em curso. Maduro disse que as tropas equipadas, as milícias armadas e os franco-atiradores treinados cumprem uma função política: estão ali para enfrentar "quem ouse se contrapor ao projeto cívico-militar". O "povo valente" de Maduro não são os venezuelanos, mas apenas os chavistas. Garcia viu e ouviu.

O conceito de "inimigo interno" tem história na América do Sul. À sua sombra, deflagraram-se os golpes militares no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai. Em nome do combate ao "inimigo interno", a Junta Militar promulgou o AI-5 e, entre tantos outros, Dilma Rousseff foi presa e torturada. A linguagem da "revolução bolivariana", expressa tanto em discursos oficiais como nos palanques dos comícios, estrutura-se em torno do mesmo conceito que sustentou as "ditaduras de segurança nacional". Garcia permaneceu calado. O governo brasileiro afunda-se na cumplicidade com um regime que, imitando Cuba, qualifica a divergência política como traição à pátria.

A Venezuela não é, ainda, uma ditadura: ditaduras não promovem eleições em cenários de liberdade partidária. Contudo, já não é uma democracia: democracias conservam a independência do Judiciário e não restringem a liberdade de imprensa. A ditadura nasce no solo da linguagem. Leopoldo López, uma destacada liderança da oposição, foi preso na onda de protestos sem nenhuma acusação específica: o governo substituiu o ônus de acusá-lo pela facilidade de insultá-lo, crismando-o como "fascista" e "incitador do ódio". Entidades de direitos humanos pedem a sua libertação; Garcia, não.

A linguagem importa. Numa entrevista em que criticou a "metodologia" de bloqueios de ruas dos protestos oposicionistas nos bairros de classe média do leste da capital, um líder opositor local de Catia, na periferia da Grande Caracas, ofereceu uma aula gratuita de ciência política aos jornalistas. Saverio Vivas disse que os "coletivos" (as milícias chavistas) servem, principalmente, para atemorizar a população das periferias pobres. Nessas periferias, também ocorrem manifestações. Mas, explicou Vivas, sob a intimidação dos "coletivos", os manifestantes apressam-se em qualificá-las como "sociais", não "políticas". Na Venezuela, "política" é para poucos: só pode ser feita pelo regime --e, ainda, mas cada vez menos, por opositores nos santuários de classe média. Isso é o que Garcia viu.

Miriam Leitão: Erros elétricos

Na reunião de quinta-feira no Palácio do Planalto, o primeiro a falar foi o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp. E fez um cenário otimista sobre as chuvas nos próximos três meses. A presidente Dilma mandou pôr o climatologista Carlos Nobre no viva voz. Os participantes entenderam que ele não era tão otimista, mas também que havia muitas incertezas.

“Então, não há nada conclusivo!”, disse a presidente, quando desligou o telefone.

O ministro Edison Lobão, o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, e o secretário executivo do MME, Márcio Zimmerman, continuaram a dar força à ideia de que as águas vão rolar e tudo vai se resolver naturalmente.

Os meteorologistas estão prevendo chuva neste fim de semana no Sudeste e os próximos dias podem ser mesmo aguados. Mas o governo tem empreendido neste caso uma marcha da insensatez. O racionamento pode ser evitado, mas já se formou um grande problema fiscal na energia. Agora o governo prepara duas canetadas para empurrar tudo para diante.

Uma canetada que se espera no setor é a de interferência na formação de preços no mercado spot. Em vez de ser o preço mais alto da energia até o limite de R$ 822 o MWh, passará a ser o preço médio da energia que entra no sistema. Com isso, melhora a situação das distribuidoras que estão descontratadas, ou seja, as que não conseguiram fechar contrato de compra com preço certo de toda a energia que têm que entregar e, por isso, estão expostas aos preços altos do mercado spot.

— Tudo bem, isso melhora a situação das distribuidoras, mas quem vai pagar o custo da energia mais cara? — pergunta um especialista do setor.

Outra forma de tapar o sol com a peneira será mais gasto público para cobrir o rombo criado pelo uso das usinas térmicas. Ontem à noite, a Fazenda já anunciou um aporte de R$ 1,2 bi na Conta de Desenvolvimento Energético, apenas para cobrir gastos de janeiro. Em fevereiro, segundo cálculos do setor, serão necessários mais R$ 2,5 bi, e a conta deve chegar ao final do ano em R$ 23 bilhões. No futuro, as distribuidoras repassarão isso aos consumidores.

O ONS divulgou que as previsões de chuva para março são de 77% da média histórica. No começo do mês, previa 67%, e, na primeira semana, choveu apenas 55%. Aí ele decidiu rever para cima. O número só será atingido se chover, na média, 81% no resto do mês.

O Fórum das Associações do Setor Elétrico, entidades que representam o setor, foi ao ministro Edison Lobão com uma carta em que, no tom mais suave possível, pediu para ser ouvida. Segundo o texto, “Nesse cenário de escassez de recursos hidráulicos e de recursos térmicos com capacidade instalada limitada, em nossa opinião, a situação merece cautela. Qualquer proposição deve ser tecnicamente embasada para que se possa encontrar, em conjunto com os agentes, soluções para fazer frente ao atual quadro de dificuldades e, adicionalmente, preservar o fluxo de pagamentos ao longo da cadeia entre produção e consumo, dando estabilidade ao setor.”

No último parágrafo, o setor reclama que a decisão de que eles participariam do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico foi revogada. O que todos os integrantes das diversas entidades, associações e empresas do setor dizem é que não há interlocutor. Eles não são ouvidos nem têm com quem conversar. Um deles contou que recentemente tentou explicar para uma autoridade o erro técnico que havia numa medida. E ouviu que ele fosse até a presidente Dilma para explicar o problema. “Se ela me chamar eu vou concordar com você; mas não vou lá dizer isso a ela.”Conclusão: os integrantes do governo na área elétrica têm medo da presidente. Preferem errar.

Fonte: O Globo