terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: José Casado

Lula vê em Campos mais do que ameaça à chance de reeleição de Dilma, esteja na liderança ou em aliança com o PSDB. Enxerga uma rebelião no território onde o PT definiu sua hegemonia. Com agravante: a candidatura do governador pernambucano se tornou estuário para os potes de mágoas dos derrotados nas lutas fraticidas do petismo nordestino, como constatou o presidente do PT, Rui Falcão, nos últimos 15 dias.

José Casado, jornalista, “Um duelo pernambucano”. O Globo, 4 de fevereiro de 2014

Dilma dá tom eleitoral a despedida de ministros

Presidente deseja ‘muito sucesso’ nas urnas a ex-ministros; Padilha fala de ‘legado malditos’ em discurso

Dilma dá posse a novos ministros e promete '2014 melhor que 2013'

Presidente aproveita solenidade para fazer balanço de sua gestão e diz que trocas fazem parte do 'calendário da democracia'

Ricardo Della Coletta, Ricardo Brito, Daiene Cardoso e Rafal Moraes Moura

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira, 3, que o ano de 2014 será "ainda melhor do que o de 2013". Na cerimônia de troca e posse de quatro ministros, no Palácio do Planalto, Dilma disse que a missão do governo é continuar garantindo direitos e destacou pontos da política econômica. Aos novos titulares, pediu que atendam "à determinação de trabalhar muito" pelo País.

Durante seu discurso, Dilma fez breve análise de sua gestão e afirmou que objetivos propostos foram "manter os fundamentos macroeconômicos, com crescimento da economia", a manutenção do processo de inclusão social inaugurado com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, e manter o País na "liderança" da redução do processo de desigualdade do mundo. A presidente prometeu cumprir todas as suas tarefas até o dia 31 de dezembro de 2014, data em que se encerra seu atual mandato.

"Um dos outros princípios que nos nortearam foi a expansão, a garantia e a expansão da nossa solidez democrática, conquistada por nós a duras penas", disse a presidente há pouco. "O respeito integral aos demais poderes, aos movimentos sociais, às demandas da população", concluiu.

Dilma deu posse a Aloizio Mercadante na Casa Civil, a Arthur Chioro na Saúde, José Henrique Paim na Educação e Thomas Traumann na Secretaria da Comunicação Social. As trocas inauguraram a primeira etapa da reforma ministerial deste ano e novas mudanças serão anunciadas ainda neste mês. A presidente disse que as substituições "fazem parte do calendário da democracia". "Persistiremos trabalhando para garantir a execução de todos os programas e o cumprimento de todas as metas que propusemos para este ano", destacou ela. "Nós sabemos que temos de prestar contas ao povo cada vez mais consciente dos seus direitos e exigente em suas cobranças", completou.

Segundo Dilma, as mudanças ministeriais são "inevitáveis" em uma democracia e lembrou que alguns dos ministros deixaram as pastas para participar das eleições deste ano. Ela citou Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, que disputará o governo do Paraná, e Alexandre Padilha, da Saúde, que concorrerá ao governo paulista. "Desejo muito sucesso na sua caminhada", afirmou ela, após palmas.

A presidente agradeceu à "excelente condução" de Gleisi na Casa Civil, citando a coordenação dela em programas do governo e o programa de concessões. Ela também deu seus "sinceros e calorosos" agradecimentos a Padilha e citou o programa Mais Médicos, momento até agora mais aplaudido da solenidade. "O grande destaque mesmo foi o Mais Médicos. É um grande destaque porque o Mais Médicos tem um papel fundamental", completou.

Mercadante assume a Casa Civil também com a função de melhorar a articulação política do governo Dilma. Caberá a ele também fazer a ponte com a campanha da petista à reeleição.

As provocações do PT e do mensaleiro

Único condenado no processo do mensalão que mantém o cargo de deputado federal, João Paulo Cunha (PT-SP) aproveita os dias que lhe restam fora da prisão em tom de deboche. Ontem, quando tanto o Legislativo quanto o Judiciário retornaram aos trabalhos após o recesso, o parlamentar visitou o acampamento que petistas e sindicalistas montaram no estacionamento externo do Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro, para protestar contra as penas impostas aos mensaleiros, e almoçou com os "companheiros". Enquanto Cunha comia sob uma lona azul, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, participava da solenidade de abertura do ano legislativo no Congresso. Caberá a Barbosa definir o destino de Cunha. Enquanto o ministro não decreta a prisão do parlamentar — e, portanto, não notifica a Câmara sobre a decisão —, ele permanece solto. E o processo de perda de mandato nem sequer será aberto.

João Paulo Cunha passou a segunda-feira na expectativa de ser preso a qualquer momento. Barbosa, porém, não tomou qualquer decisão relativa ao processo do mensalão. Em 6 de janeiro, o ministro havia encerrado a Ação Penal 470 em relação ao petista, mas, no dia seguinte, viajou sem que tivesse decretado a prisão do congressista. Ontem, o ministro participou da cerimônia de abertura do ano no plenário da Câmara e apenas declarou que a prisão não tinha data para sair. Ele passou a maior parte do tempo mexendo no celular, o que foi percebido pelo vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR). O petista usou o próprio celular para se fotografar ao lado de Barbosa, sem que o ministro percebesse. "Tentei, mas não deu para ver o que ele escrevia. Curiosidade não faltou", admitiu Vargas, que repetiu o gesto com o punho fechado feito por mensaleiros petistas no momento em que foram presos.

Mesmo com a retomada das atividades da Câmara, não há data para ser aberto o processo de cassação contra Cunha. A reunião da Mesa Diretora para esse fim seria hoje, mas foi desmarcada pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). "Não chegou nenhuma comunicação do Supremo, temos que esperar", disse Alves. André Vargas garante que o último mensaleiro deputado não pretende renunciar. "Por todas as vezes que falei com o João Paulo Cunha, ele está determinado a enfrentar o processo, foi o que ouvi da boca dele", afirmou.

Renúncia
Em entrevista ontem, após ter almoçado com militantes do PT, Cunha evitou falar em renúncia. "Esse é um assunto que não está colocado agora, então eu prefiro não considerar", frisou. Ao ser questionado se está preparado para ser preso, ele foi enfático: "Preparado ninguém pode falar que está. Mas, de qualquer forma, quem tem a consciência tranquila certamente dormirá bem".

O petista acrescentou que ainda não decidiu se, depois de preso, pedirá transferência para São Paulo. O deputado adiantou, no entanto, que não abrirá mão do direito de trabalhar e de estudar — ele cursa o 5º ano de direito em Brasília. "Tudo que tiver ao nosso alcance nós vamos utilizar, quer seja revisão da pena, quer seja a busca em organismo internacional."

A tendência é de que o presidente do Supremo assine a papelada relativa à prisão de João Paulo ainda hoje — e o comunicado pode chegar ao Congresso ao longo da semana. O petista foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Ele, no entanto, cumprirá pena inicial de 6 anos e 4 meses em regime semiaberto pelos dois primeiros crimes, porque terá direito ao julgamento dos embargos infringentes.

Fim do recesso
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, foi o único a discursar na rápida solenidade de abertura do Ano Judiciário de 2014, na própria Corte. Sem mencionar o mensalão, o ministro limitou-se a ressaltar a importância do julgamento de processos com repercussão geral e disse que priorizará esse tipo de ação ao longo do ano. O objetivo é permitir que os tribunais brasileiros apliquem o entendimento da Suprema Corte em processos que aguardam apenas uma decisão final do STF. A Corte estava em recesso desde 19 de dezembro. Durante o período, funcionou em esquema de plantão.

Almoço com os "companheiros"
Em clima de festa, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) foi recebido para um almoço, no começo da tarde de ontem, em um acampamento erguido por militantes no estacionamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Lado a lado com cerca de 30 petistas, ele passou 40 minutos no local, onde comeu um cozido de carne, mandioca e batata, além de couve refogada, arroz, feijão e salada. O parlamentar chegou ao local por volta das 14h30, vestido com uma calça jeans e camiseta branca com uma estrela. Tirou fotos com os "companheiros" e voltou a dizer, em entrevista, que é inocente e que recorrerá a todas as instâncias possíveis, inclusive a organismos internacionais, contra a condenação. "Resolvi dar uma passada hoje e provar um pouco a comida deles, que já estão aqui há tantos dias (desde novembro) e mostrar solidariedade de quem está aqui e de quem não pôde vir, como é o caso dos nossos companheiros Zé Dirceu, Genoino e Delúbio", disse João Paulo. (DA)

Fonte: Correio Braziliense

Congresso abre os trabalhos para 2014 com leitura de mensagem de Dilma

Mensagem em tom político

Em ano eleitoral, Dilma diz a Congresso que ajuste nas contas não prejudica área social

No texto, entregue por Mercadante, a presidente destacou desafio de responsabilidade fiscal e citou programas do governo na área social

Cristiane Jungblut, Isabel Braga

BRASÍLIA - O Congresso Nacional abriu os trabalhos de 2014 nesta segunda-feira, em sessão no plenário da Câmara. O novo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, chegou ao Congresso acompanhado da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e foi escoltado até o plenário pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Mercadante entregou a mensagem da presidente Dilma Rousseff ao Congresso, que teve a introdução lida em plenário pelo senador João Vicente Claudino (PTB-PI). O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, também participou da cerimônia.

Na mensagem presidencial, como O GLOBO antecipou no último sábado, a presidente Dilma Rousseff reforçou o compromisso com a responsabilidade fiscal e o ajuste nas contas públicas. A presidente fez questão de destacar os feitos de seu governo e enfatizar que em 2014, muitas de suas promessas serão cumpridas. A presidente citou números e recursos dos principais programas desenvolvidos pelo governo, como o Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos e os programas da área da Educação. Disse ainda que o "desenvolvimento recente do Brasil, além de fiscalmente responsável, macroeconomicamente sólido e socialmente inclusivo, é, também, ambientalmente sustentável". Um de seus adversários na eleição deste ano, o governador Eduardo Campos (PSB) terá na chapa a ambientalista Marina Silva.

- Continuamos empenhados na redução substancial do desmatamento, especialmente na região amazônica. Vamos cumprir, antes do prazo estipulado, nosso compromisso de redução das nossas emissões de gases do efeito estufa, consolidando o Brasil como exemplo de país líder no desenvolvimento e no uso de energias renováveis.

Ao encerrar a mensagem, Dilma voltou a fazer referência ao mote de sua campanha presidencial de 2010.

- Reafirmo que o fim da miséria é somente um começo. O começo de um novo Brasil muito mais justo e muito mais forte. Ao liberar a força antes contida do povo brasileiro, criamos um horizonte de novas fronteiras, de novas possibilidades a serem exploradas. O Brasil nunca será maior ou menor que o seu povo. Ao engrandecer e libertar nosso povo, engrandecemos e libertamos a Nação - disse a presidente, acrescentando:

- Todos esses compromissos que aqui mencionei assentam-se na melhoria do bem-estar de toda a população. É esse compromisso que vem criando um novo país, inclusivo, justo e forte, para todos os brasileiros. É sobre esse compromisso que temos de assentar nosso futuro.
Segundo Dilma, a responsabilidade com as contas públicas não está dissociada da responsabilidade social.

- O governo continuou os esforços para construir uma ampla nova classe média e superar definitivamente a pobreza extrema, com programas como o Bolsa Família e o Brasil Sem Miséria, concretizando o sonho de gerações - disse Dilma.

A presidente afirmou que "é digno de nota" a criação de volumes expressivos de emprego no Brasil, em conjuntura internacional de elevada e persistente taxa de desemprego nas economias mais desenvolvidas do mundo. Reforçou a criação de 1,1 milhão de empregos formais e o "saldo de 4,5 milhões de empregos" criados em seu governo. A presidente também destacou o aumento na renda dos trabalhadores brasileiros, especialmente a elevação do Salário Mínimo, que beneficia "os setores mais desprotegidos do mercado de trabalho". A presidente frisou que os critérios definidos na política de valorização progressiva do salário mínimo, a partir de janeiro de 2014 este rendimento o salário mínimo vale hoje R$ 724, "um aumento de 70% no seu poder de compra em relação a 2003."

- O Brasil de hoje enfrenta exitosamente a crise, sem o sacrifício de sua população, como ocorria no passado. Estamos também enfrentando o desafio de dotar o Brasil de infraestrutura e logística proporcionais à sua grandeza e ao seu recente dinamismo. São centenas de bilhões de Reais investidos em portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, metrôs, geração de energia e outros itens relevantes da nossa infraestrutura - acrescentou a presidente.

Dilma destaca dados do Minha Casa Minha Vida
Ao falar do sucesso do Programa Minha Casa, Minha Vida, Dilma classificou-o como "o maior programa de habitação popular já visto no País".

- O Minha Casa, Minha Vida alcançou, em 2013, a marca de 2,24 milhões de moradias contratadas somente em meu governo, e de 1,53 milhão de moradias entregues desde 2011. Até o final de 2014, vamos atingir a meta de contratar a construção de 2,75 milhões de moradias, realizando o sonho da casa própria para milhões de famílias que, sem o apoio do Programa, dificilmente conseguiriam conquistar sua moradia - afirmou Dilma.

Na área de segurança pública, além de citar números sobre recursos destinados a estados e municípios, Dilma citou o início da construção do quinto presídio federal em Brasília. E garantiu que o governo continuará parceiro no enfrentamento dos desafios da segurança pública.

A presidente também cobrou a votação da reforma política, citando as manifestações de junho do ano passado e disse que o governo vem investindo na transparência da gestão pública e na eficiência dos órgãos de controle para "acabar com a chaga histórica da corrupção, algo que a sociedade não mais tolera."

- O combate à corrupção é como o combate à inflação: exige compromisso de todos, Governo Federal, entes federados e sociedade, e demanda prazo para sua consolidação e sedimentação. O Brasil está avançando e, com certeza, vencerá definitivamente mais esse desafio - disse a presidente na mensagem.

Dilma também destacou a política de desoneração de impostos do governo, em especial da folha de pagamentos em 2013, o que permitiu as empresas deixar de recolher, em forma de tributos, 1% do PIB, e os empréstimos do BNDES e outros bancos oficiais para o setor produtivo, tanto industrial, quanto do agronegócio. Também frisou a redução da tarifa de energia em 2013, tanto para os consumidores, quanto para os setores industriais. Citou ainda a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, para garantir a desburocratização na abertura de pequenos negócios. Dilma falou sobre as ações para ajuda de cidades e estados que sofrem com a seca e de ações de prevenção de acidentes naturais, como desmoronamento de encostas. A presidente citou números de máquinas, carros-pipas.

Dilma destacou ainda que "o Brasil é, e continuará sendo, um dos mercados mais atraentes para o investidor externo", citando que em 2013 a entrada de investimento estrangeiro direto atingiu US$ 64 bilhões.

- Para 2014, as novas concessões, os investimentos estruturantes em andamento, o desenvolvimento do Campo de Libra e os grandes eventos são oportunidades extraordinárias que o Brasil oferece - disse a presidente.

Espionagem: Dilma promete adotar medidas de segurança cibernética
A presidente também fez referência às revelações de espionagem de e-mails e telefonemas de cidadãos, empresas e do próprio governo brasileiro pelos Estados Unidos. Dilma afirmou que, além de fazer do tema sua principal intervenção da reunião das Nações Unidas, apresentou junto com a Alemanha projeto de resolução sobre o direito à privacidade na era digital, aprovado por unanimidade.

- Avançaremos, em 2014, na adoção de medidas que assegurem a disponibilidade, integridade, confidencialidade e autenticidade das informações de interesse do Estado brasileiro, em especial no que se refere à segurança cibernética. Continuaremos nossos esforços junto à ONU para manter o direito à privacidade e à confidencialidade das informações na Internet. O Brasil está comprometido com a manutenção da Internet como um território livre e neutro, que sirva aos grandes propósitos da paz, da aproximação dos povos e da livre circulação de informações - disse a presidente.

Fonte: O Globo

Henrique Alves diz que Congresso vai ‘desarmar pautas- bomba’

Para o presidente da Câmara, a Casa é um espaço para o “sonho ser sonhado”

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) , disse no discurso de abertura do ano no Congresso que a Casa, em ano eleitoral, não vai se pautar pelo clima eleitoral e que não vai "armar pauta-bomba e sim desarmar estas pautas-bomba".

Ele exaltou feitos do Legislativo, que disse ser um espaço “para o sonho ser sonhado” mesmo nos momentos mais difíceis da democracia.

- As pautas se armavam lá fora e aqui se desarmavam – disse. - Esta Casa não vai se permitir, em ano eleitoral, guiar suas decisões pelo clima eleitoral – afirmou.

No Congresso, estão para ser votados projetos que preocupam o governo, como a velha proposta do piso salarial dos agentes de Saúde e a derrubada do veto presidencial ao projeto que cria 269 novos municípios. O peso da maioria governista pode pender a favor do Palácio do Planalto ou contra ele, a depender do resultado das mudanças que a presidente Dilma Rousseff ainda está fazendo no primeiro escalão do governo.

O Palácio do Planalto já identificou problemas na pauta de votações. O primeiro teste para ver o tamanho da insatisfação da base aliada com os rumos da reforma ministerial e com o cronograma de pagamento de emendas impositivas será a votação do veto presidencial à lei que permite a criação de 269 novos municípios.

Fonte: O Globo

Aécio critica viagem de Dilma e promete governar com metade dos ministérios

Pré-candidato tucano também criticou a reforma ministerial em andamento

Luciano Barros

CASCAVEL (PR) - Na primeira entrevista coletiva concedida em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência da República, criticou nesta segunda-feira recente viagem a Portugal da presidente Dilma Rousseff (PT), afirmando o episódio serve como uma amostra da falta de transparência do governo federal. Aécio esteve em Cascavel (PR), onde prestigiou, ao lado do governador Beto Richa (PSDB) e do senador Alvaro Dias (PSDB), a abertura do Show Rural Coopavel, evento direcionado à difusão da tecnologia do agronegócio.

- O que faltou ali é o que tem faltado em várias áreas do governo, mas dessa vez a situação foi retratada de forma caricata: é transparência. A ausência (de transparência) causou mais danos do que a verdade causaria. O que é mais grave é que isso não se restringe a esse episódio. O governo tem omitido várias informações, como o acinte do BNDES e a forma com que foram concedidos os recursos para financiamento do porto cubano. Foi a inauguração da primeira grande obra de seu governo. Poderia ser no Brasil, como no Porto de Paranaguá, que precisa de tantos investimentos, mas não foi - disse o senador mineiro.

Aécio disse ainda que, caso eleito, vai reduzir pela metade o número de ministérios; hoje são 38 os ministérios.

- É um número acintoso e vergonhoso.

Segundo ele, o Brasil só perde para o Sri Lanka.

- E se novos partidos surgirem, com cinco ou dez minutos de televisão, vamos perder também para Sri Lanka.

O pré-candidato tucano criticou a reforma ministerial em andamento.

- Ninguém reforma para piorar. Infelizmente, a lógica que rege as ações do governo não é do interesse nacional, é do interesse eleitoral. Não temos uma presidente da República full time. Nós temos uma candidata a presidente da república full time, com a agenda quase toda focada a reeleição.

Ele afirmou também que vai redirecionar o papel do Ministério da Agricultura, no sentido que recupere a capacidade de influenciar nas decisões da política econômica.

- O Brasil tem sido pouco ousado em seu comércio exterior e na busca por novos mercados. Vamos ter uma safra recorde, mas parte dela será perdida pela falta de capacidade de armazenamento e pela ausência de um seguro agrícola que garanta a tranquilidade e o estímulo ao setor produtivo - afirmou Aécio

Fonte: O Globo

Reforma representa ‘governismo de cooptação’, diz Aécio

Para o senador, Dilma apenas tem focado suas ações na agenda da sucessão presidencial e 'a lógica que rege as ações do governo não é do interesse nacional, é do interesse eleitoral'

Erich Decat

BRASÍLIA - O presidente do PSDB e provável presidenciável tucano, senador Aécio Neves (MG), classificou nesta segunda-feira, 3, a reforma ministerial iniciada pela presidente Dilma Rousseff como um retrocesso e um modelo de "governismo de cooptação".

"É uma reforma que anda para trás, uma reforma que atende ao interesse do partido e, provavelmente, nos próximos dias, dos aliados", disse Aécio durante visita a Cascavel, no Paraná. "Não temos um governismo de coalizão, como se estabeleceu chamar essa ampla e heterogênea aliança que conduz o Brasil. Nós temos, na verdade, um governismo de cooptação."

Para o senador, Dilma apenas tem focado suas ações na agenda da sucessão presidencial e "a lógica que rege as ações do governo não é do interesse nacional, é do interesse eleitoral".

"Já dizia isso há algum tempo e reitero hoje: há mais de ano não temos uma presidente da República full time. Temos uma candidata à presidente da República full time."

O tucano mineiro afirmou ainda que a mudança no primeiro escalão do governo federal é uma "reforma onde os feudos do PT são garantidos".

‘Marketing’. Aécio reiterou críticas à gestão da petista e chamou o programa Mais Médicos - uma das vitrines do governo que a presidente Dilma deve utilizar durante a campanha eleitoral - de "uma peça de marketing".

"Porque o mesmo governo que traz médicos para atuarem no Brasil - e sempre defendi que eles pudessem vir, mas passando pelo Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas) - é o que fechou, nos últimos dois anos, 13 mil leitos hospitalares", disse o senador.

Ele também repetiu críticas à gestão econômica e cobrou investimentos em infraestrutura. Para Aécio, após "demonizar" as privatizações, o governo faz agora concessões de forma "atabalhoada".

Na capital do Paraná, o tucano também afirmou que a gestão Dilma "descrimina" o Estado comandado pelo correligionário Beto Richa na aplicação de recursos. "É inexplicável, injustificável que haja perseguição a qualquer Estado da Federação", disse.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSB e Rede propõem reforma do Estado

Campos e Marina divulgam nesta terça-feira programa de governo que militância discutirá até julho

João Domingos

BRASÍLIA - O programa de governo que a parceria PSB-Rede lançará nesta terça-feira, 4, em Brasília, vai pregar uma reforma do Estado e condenar o excesso de ministérios e de cargos em comissão do atual governo. O documento fala em um Estado profissional, desburocratizado, cada vez mais ocupado por especialistas que deverão substituir as nomeações políticas. Um Estado que possa até utilizar as novas ferramentas da internet para o bem-estar do cidadão.

O lançamento das diretrizes ocorrerá às 10 horas, na Câmara dos Deputados, sob direção do governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB/Rede a presidente da República, e da ex-ministra Marina Silva, provável vice na chapa. Antes, Campos e Marina vão se encontrar com o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), para lhe entregar uma cópia do documento e chamar o partido a dar contribuição para o programa.

Serão cinco os eixos principais da proposta do PSB/Rede: o desenvolvimento sustentável, a reforma urbana, a reforma do Estado, o meio ambiente e os recursos naturais e, por fim, saúde e educação de qualidade, dignas de um país que é a sexta economia do mundo. Não constará nada de à política exterior porque não houve tempo para tratar do assunto, informaram dirigentes do PSB e da Rede.

O documento destaca os benefícios que o agronegócio e a agricultura rural trouxeram à economia brasileira - mas afirma que só isto, como têm feito os governos do PT, não basta. É preciso manter o agronegócio, de forma sustentável, mas também valorizar a indústria brasileira, tornando-a competitiva. O PSB/Rede não chega a dizer que há uma desindustrialização, como sustenta o PSDB. Mas admite que a indústria está sucateada, parada, desvalorizada. Para o PSB/Rede, esse é o desafio mais urgente do País.

A política industrial, segundo o documento, deve ser uma política de Estado. Portanto, terá de ter uma ação integrada com a educação de qualidade, que forme cientistas capazes de ocupar o espaço nas empresas de forma a dar um salto de qualidade na produção. Ao mesmo tempo, é pregada uma ampla melhoria no atendimento à saúde.

Uma parte grande do documento é dedicado à reforma urbana. Para o PSB/Rede, não adianta nada fazer novas estradas, ruas ou viadutos, se ao mesmo tempo não for também resolvida a questão da falta de saneamento. Há severas críticas à forma como os últimos governos encararam a questão urbana, com proliferação de favelas por todas as cidades - grandes, médias ou pequenas. De acordo com o documento, as populações desses lugares vivem uma violência de guerra, o que gera o tráfico de drogas e grande mortandade de jovens negros e pessoas mais pobres.

Até julho. No Recife, o governador Eduardo Campos previu nesta segunda-feira, 3, que o texto final da proposta deve ser conhecido em meados do ano. "Até julho vamos entregar à sociedade um programa devidamente construído, mostrando que é possível melhorar o Brasil". O que se divulga hoje são "as linhas gerais" do projeto. ‘Vamos aprofundar e detalhar, fazer seminários regionais com militância de cada região do Brasil".

Campos lembrou que o atual documento foi fruto de quatro meses de debate com militantes dos dois partidos. Segundo ele, é possível retomar o crescimento com distribuição de renda e melhorar os serviços públicos, "mas para isso é preciso fazer um pacto social e político em torno de ideias, é preciso melhorar a política".

Colaborou Ângela Lacerda

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos: Ofensiva eleitoral contra PT

Em discurso na abertura do ano legislativo, na Alepe, governador, em tom de despedida, presta contas de sua gestão e critica política econômica do governo Dilma

Ayrton Maciel

Com um discurso de 1h10 de duração, abrindo o ano legislativo da Assembleia de Pernambuco - com tons de despedida e de candidato -, o governador Eduardo Campos (PSB) apresentou detalhada prestação de contas do governo de 2013, no qual o desempenho da economia e da gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) foi alvo de novas críticas. Em contraponto, os resultados da economia e dos serviços públicos, no Estado, foram apresentados como diferenciais do desempenho do governo socialista, num comparativo com indicadores e percentuais nacionais e dos Estados do Nordeste.

O governador acusou o direcionamento dado à economia pelo ex-aliado governo petista como grande responsável pelo pequeno crescimento e o retorno da inflação. "A crise que impactou as principais economias globais desde 2008 e que veio afetar significativamente a economia brasileira, a partir de 2011, recrudesceu em nosso País no ano de 2013, muito em função da manutenção de um modelo econômico de desonerações tributárias para estímulo ao consumo, que além de não ter sido capaz de gerar riquezas para o País e de afastar a ameaça da volta da inflação, ainda penalizou fortemente as receitas do nosso Estado e municípios", apontou.

Reeditando citações feitas ao longo do segundo semestre de 2013, Eduardo afirmou que as manifestações que levarem "milhões de pessoas às ruas, na mais significativa onda de protestos da história recente do País", foi um clamor por "melhores serviços públicos e novas formas de condução do processo político". De forma indireta, ressaltou que os atos de junho resgataram "a esperança de um País mais justo e solidário e de uma gestão pública operosa, eficiente, pautada por valores democráticos e republicanos".

Os dados de desempenho de sete anos do atual governo foram divulgados também num comparativo com o legado de 2007, início da primeira gestão, deixado pelas gestões Jarbas Vasconcelos (PMDB)/Mendonça Filho (DEM), o primeiro senador e hoje na base de apoio socialista e cotado à reeleição na chapa governista. Eduardo destacou que os resultados apontam que "os valores éticos, a forma de tratar a coisa pública e as opções estratégicas adotadas", consubstanciadas em novo modelo de gestão "referência no Brasil e no exterior", permitiram que o Estado consolidasse um caminho "na direção de um novo patamar civilizatório".

O governador - que deve se sair em abril para ir à disputa pela Presidência da República - expôs minucioso contingente de resultados dos sete anos de governo. "Pernambuco de antes era campeão de desemprego do Brasil, o Estado mais violento do País, terceiro pior IDH do Nordeste. O de hoje retomou seu protagonismo regional e nacional e manteve em 2013 crescimento econômico superior ao do Nordeste e ao do País. Em seis anos, dobrou o seu PIB. Senhores, vivemos atualmente no Estado mais seguro do Nordeste brasileiro", detalhou.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos busca ampliação da aliança

Murillo Camarotto

RECIFE - Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), vai pregar hoje, em Brasília, um "realinhamento histórico" com políticos dos mais diversos partidos. Ao lado da ex-senadora Marina Silva (PSB), sua provável candidata a vice, o pernambucano vai convocar lideranças de legendas alinhadas com outras candidaturas a se juntarem ao seu projeto presidencial, que até o momento conta apenas com PSB, PPS e o nanico PPL, além do grupo ligado ao Rede Sustentabilidade.

Campos e Marina vão apresentar na Câmara as diretrizes do programa de governo que vão oferecer ao país na eleição deste ano. Segundo apurou o Valor, consta no documento a preocupação em atrair forças políticas independentemente das barreiras partidárias. "Acho que a palavra 'inovação' sintetiza bem o que queremos apresentar. Uma inovação na forma de fazer alianças", disse uma pessoa que ajudou a elaborar o documento.

Um exemplo dessa categoria informal de alianças é o grupo formado pelos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro Taques (PDT-MT), Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Eles devem trabalhar pela candidatura de Campos e Marina, apesar de seus partidos integrarem a base aliada ao governo federal.

Parte das propostas que vão ser apresentadas hoje foram colhidas por quase quatro meses em uma plataforma disponível na internet. A utilização da tecnologia para simplificar a participação popular também vai ser defendida pela dupla do PSB durante o evento. "Apoiamos mais interação direta das pessoas com os processos decisórios", disse a mesma fonte.

Campos discursou ontem na abertura do ano legislativo em Pernambuco. Em sua fala, críticas pesadas à política econômica do governo Dilma Rousseff: "A crise que impactou as principais economias desde 2008 - e que veio a afetar o Brasil em 2011 - recrudesceu em 2013, muito em função de um modelo calcado em desonerações tributárias para estímulo ao consumo que, além de não ter sido capaz de gerar riqueza e de afastar o risco da inflação, penalizou fortemente o caixa dos Estados e municípios", disse Campos.

O presidenciável mencionou ainda as manifestações ocorridas no país em junho passado. Segundo ele, as ruas pediram uma "gestão pública operosa, eficiente e pautada por valores democráticos e republicanos".

No mais, Campos listou - em mais de uma hora de discurso - os feitos dos sete anos de sua administração, com destaque para o desempenho da área fiscal. Ele ressaltou que Pernambuco teve superávit nas contas em 2013, apesar de o Banco Central ter apontado déficit de R$ 1 bilhão. O governador explicou que o valor apontado pelo BC desconsidera, entre outras coisas, os mais de R$ 1,4 bilhão que o Estado tinha em caixa na virada de 2012 para 2013.

Questionado sobre o veto de Dilma ao projeto de criação de novos municípios, que está na pauta do Congresso, o pernambucano defendeu que haja uma regra clara que avalie caso a caso. "O que não pode ficar é um vazio legislativo que impeça situações consolidadas. Precisa ter debate equilibrado e um marco que possibilite ter uma regra; o que não temos", completou.

Fonte: Valor Econômico

Após reunião, Dilma e Temer ficam sem consenso sobre reforma

Presidente cogitou conceder mais um ministério ao PMDB, mas principal legenda aliada do governo reivindica o comando de outras duas pastas, além das cinco já ocupadas

Vera Rosa e Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Na noite dessa segunda-feira, 3, Dilma se reuniu com o vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, por quase seis horas, em mais uma tentativa de acertar a nova fatia do PMDB no primeiro escalão. Antes do encontro, Dilma disse a Temer que poderia ampliar o espaço do PMDB em mais uma vaga, desde que o partido não reivindicasse Integração

Indicados pela Câmara, dois dos cinco ministros do PMDB - Antônio Andrade (Agricultura) e Gastão Vieira (Turismo) anunciaram que deixarão os cargos até o carnaval para concorrer a mais um mandato parlamentar. A bancada do PMDB no Senado, por sua vez, insiste na nomeação de Vital do Rêgo (PB) para Integração, Portos ou Ciência e Tecnologia.

"Nós aprovamos a indicação do Vital, mas não aceitamos ficar sem dois ministros do PMDB da Câmara em troca de um do Senado", afirmou o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). "Ou temos dois ministérios ou não temos nenhum. Se for para ficar com menos, nós entregamos os cargos e ficamos independentes", emendou ele, escancarando a insatisfação.

Atualmente, o PMDB controla cinco pastas: Minas e Energia, Previdência, Aviação Civil, Turismo e Agricultura.

A reunião no Planalto foi dividida em duas partes: na primeira, Dilma e Temer também avaliaram os problemas entre o PT e o PMDB para a formação dos palanques nos Estados. Depois, a presidente chamou para o encontro o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante; os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), além do líder do PMDB no Senado, Eduardo Braga (AM). Depois do encontro no Planalto, todos os peemedebistas seguiram para o Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer, para nova reunião do partido.

Além da polêmica do PMDB, o xadrez da reforma inclui ainda o atendimento ao PTB, que já ofereceu apoio à reeleição de Dilma, quer um ministério para seu presidente em exercício, Benito Gama. Outro partido que também já anunciou apoio à reeleição de Dilma e quer ampliar seu espaço na Esplanada é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.

Nessa segunda, a presidente deu início à reforma com a posse a Aloizio Mercadante na Casa Civil, a Arthur Chioro na Saúde, José Henrique Paim na Educação e Thomas Traumann na Secretaria da Comunicação Social. Segundo Dilma, ainda em fevereiro serão anunciadas as demais alterações.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Merval Pereira: Rumo a 2018?

Ficar pelo menos 20 anos no poder tem sido o sonho de consumo dos partidos políticos brasileiros desde que PC Farias prognosticou que o governo Collor iniciaria uma saga dessa duração. Depois foi Serjão, o trator do PSDB, quem definiu que em 20 anos os tucanos transformariam a face do país, e fez-se a reeleição.

Hoje, o PT está mais próximo do que jamais estiveram os outros partidos de cumprir essa sina, e não é à toa que já se anuncia que Lula estaria disposto a voltar a se candidatar em 2018, dando como favas contadas a reeleição da presidente Dilma este ano.

De todos os partidos que estiveram em proeminência na política brasileira depois da redemocratização, o PT é sem dúvida o que montou a máquina política mais eficiente do ponto de vista eleitoral, não de gestão pública, e vem trabalhando com competência para atingir seu objetivo, sem que entre nesse julgamento qualquer valor ético ou moral.

Caberá à presidente Dilma, por esses azares que só a política sabe montar, a consolidação do projeto petista, logo ela que não é uma petista de raiz e não conseguiu capturar a alma dos petistas.

Caso se reeleja, como indicam as pesquisas, e o PT vença os governos estaduais em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, estará aplainado o caminho para a afirmação da hegemonia petista por 20 anos ou mais.

Mais paradoxal ainda, Dilma poderá ser, por outro lado, a culpada pela interrupção da escalada no poder do PT, pois tem feito até o momento um governo mais que medíocre que abre às oposições, ampliadas pela defecção à esquerda do PSB de Eduardo Campos, a melhor chance dos últimos tempos de vencer as eleições de outubro.

De fato, embora Dilma continue sendo a favorita, nunca houve melhores condições objetivas e subjetivas de derrotar o PT, e certamente é por isso que tantas trapalhadas administrativas vêm acontecendo, transformando situações corriqueiras, como a necessidade de escalas técnicas em viagens internacionais, em crises políticas que a oposição vem explorando com o mesmo grau de intransigência que caracterizou a atuação petista na oposição.

As condições subjetivas estão nas ruas desde junho do ano passado, surpreendendo quem se considerava dono das manifestações populares. As coisas estão muito tumultuadas no país hoje, com a incerteza tomando conta da percepção popular quer com relação à situação econômica, quer quanto à de segurança pública, e ambientes incertos quanto ao futuro não fazem bem aos governos.

Dizer que a oposição é tão fraca que não oferece perigo à hegemonia petista é simples jogo político, pois a situação não é tão fácil quanto querem que pareça. A oposição, não importa que candidato apresente, tem recebido sistematicamente entre 40% e 45% dos votos no segundo turno, isso porque o PT, apesar de toda a força popular de Lula, nunca conseguiu vencer uma eleição presidencial no primeiro turno, e, no entanto, Lula foi derrotado nessas circunstâncias por Fernando Henrique duas vezes seguidas.

Mesmo o fato de terem vencido três eleições seguidas não dá ao PT a hegemonia que ostenta, pois bastaria uma derrota para o PSDB este ano para que a igualdade se estabelecesse.

O fato é que o país continua virtualmente dividido entre as forças políticas que apoiam PT e PSDB, sendo que o lado petista tem uma superioridade artificial neste momento, depois que perdeu o apoio do grupo ecológico liderado pela senadora Marina Silva, e agora uma dissidência socialista consolida a ruptura de forças políticas ponderáveis à esquerda, deixando o PT nas mãos de partidos de centro ou de direita como o PMDB, o PP, o PSD.

Uma aliança frágil que pode se romper a qualquer momento, como está acontecendo em alguns estados, como a Bahia e o Rio de Janeiro. Independentemente de ações acertadas da oposição, há problemas para o governo em todos os estados em que teve grande votação na eleição de 2010, até mesmo no Maranhão.

A presidente Dilma é temida, mas não amada por seus aliados não ideológicos. E o PT nem é temido nem amado. Todos prefeririam ganhar com Aécio Neves ou Eduardo Campos do que com ela ou o PT.

Fonte: O Globo

Dora Kramer: Alma do negócio

Carlos Alberto Parreira, o coordenador técnico da seleção brasileira de futebol, até onde a vista alcança não é um agente a serviço do negativismo oposicionista.

É um profissional respeitado, um homem de modos e temperamento comedidos, de experiência incontestável. De onde há que se prestar atenção ao que ele diz sobre a Copa do Mundo de 2014, sem imputar-lhe outra intenção que não a da constatação pura e simples de uma realidade cristalina.

Parreira falou dia desses à rádio CBN sobre o que qualificou como "descaso total" em relação às obras de infraestrutura para o Mundial. Criticou o menosprezo ao planejamento, aos prazos, lembrou que o Brasil teve tempo suficiente para se preparar (desde 2007) e não o fez e, por fim, concluiu: "Perdemos a oportunidade de mostrar um Brasil diferente".

Não falava só de estádios. Aliás, nem abordava em detalhes esse assunto. Não entrava no mérito de quantos estariam prontos e testados a tempo, não discutia gastos nem fazia comparações de quanto dinheiro poderia ser investido nisso ou naquilo.

Referia-se ao mínimo: "Precisamos de aeroportos, de segurança, de conforto". Em condições razoáveis isso aqui não há. Nem para os locais nem para os que virão assistir aos jogos. Nada indica que até junho - daqui a cinco meses - haverá nas cidades tudo o que até agora não houve.

A rigor, não precisaria Carlos Alberto Parreira dizer, pois nesse cenário todos convivemos. Mas, é sempre bom quando uma voz moderada (e abalizada) aponta o óbvio a fim de que não acabemos convencidos de que nossos temores sejam fruto de um alistamento ao exército de soldados da guerra psicológica travada por trás de qualquer crítica.

Ninguém está dizendo que não haverá Copa muito menos torcendo para que seja tudo um fiasco. Apenas, nesse momento em que o governo se prepara para lançar uma megacampanha publicitária para fazer frente aos questionamentos sobre gastos e atrasos nos preparativos, é de se perguntar se a propaganda seria a arma mais eficaz.

É a ferramenta predileta do Planalto, sem dúvida. Em junho do ano passado, por exemplo, assim que os protestos encorparam, a presidente Dilma Rousseff foi para São Paulo se reunir com o antecessor Lula da Silva e com o jornalista João Santana para discutir uma estratégia de reação.

Lula é bamba na política e Santana um ás no marketing. Como se vê agora pela preocupação com os sinais da volta das manifestações, tais atributos não deram conta do recado.

Claro, pois faltou ouvir o que estavam dizendo as pessoas. Não queriam política habilidosa nem propaganda maravilhosa, mas serviços eficientes. Receberam meia dúzia de promessas desconexas e ficou tudo por isso mesmo.

De novo o Planalto recorre ao estratagema publicitário. A comunicação é de suma importância. Indispensável para seu êxito, no entanto, é a qualidade do produto.

Trazer a Copa e as Olimpíadas para o Brasil proporcionou uma alta exposição positiva ao governo Lula. Os dois lances se incorporaram ao patrimônio que ajudou a eleger Dilma em 2010.

Mesmo o governo não tendo se mexido para a Copa desde a escolha do Brasil até então, o eleitorado não reclamou. Antes, confiou. O governo é que não deveria ter atuado na base do "na hora tudo se ajeita". Está feito.

A Copa sairá de qualquer maneira. Mas o governo federal e os governos estaduais (inclusive os comandados por partidos de oposição a Dilma) não poderão espetar eventuais prejuízos na conta dos incidentes. Nem esperar que a campanha publicitária corrija os problemas da realidade.

A melhor propaganda para a Copa de 2014 teria o planejamento correto e a execução dos compromissos assumidos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde: 'Rolezinho' político

O Brasil oficial só acorda mesmo depois que o Carnaval passa, mas já começou a espreguiçar ontem, com a reabertura do Judiciário e do Legislativo.

De manhã, Dilma aproveitou a posse dos novos ministros para mais um discurso de defesa de sua política econômica. Logo depois, veio a balança comercial: a pior em 20 anos.

À tarde, Henrique Alves e Renan Calheiros fizeram apaixonada defesa da Câmara e do Senado, depois da leitura longa e estéril da mensagem presidencial. Henrique desmentiu que o Congresso esteja "armando bombas" para explodir as contas públicas, e Renan entrou na onda: também há "rolezinhos" no Congresso, mas não políticos, só legislativos. (E, certamente, não de turminhas da periferia, mas da turma da pesada do centro do poder.)

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha passaram mais um dia de gato e rato. Desafiador, Cunha filou a boia dos militantes que acampam na frente do tribunal em favor dos réus (só dos petistas). Teimoso, Barbosa insiste em não assinar o encruado mandado de prisão do (ainda) deputado.

Mas a oposição também não tem o que comemorar: o ministro Marco Aurélio, relator do caso Siemens no STF, foi logo avisando, já no primeiro dia, que não vai manter sigilo desse processo, que pega os tucanos de jeito em São Paulo.

E esse foi o menor problema do governador Geraldo Alckmin quando o Brasil oficial começou a encarar 2014. Além do discurso do petista Alexandre Padilha sobre "heranças malditas", ao trocar a Saúde pela campanha paulista, Alckmin teve a notícia de que bandidos atacaram o carro em que estavam seu filho e sua neta no centro de São Paulo.

O drama é pessoal, e o risco, político. Enquanto flagelo de favelas e periferias, a violência é só estatística, mas, quando chega às áreas nobres e aos poderosos, ganha destaque. E atinge em cheio as reeleições.

Fonte: Folha Online

Raymundo Costa: Um ministério com mais Lula e PT

É menor a margem de manobra da presidente

A presidente Dilma Rousseff é candidata favorita à reeleição, mas seu espaço para experimentos no governo acabou. Dilma perdeu margem de manobra entre a formação do primeiro ministério e o gabinete que começou a tomar forma ontem, com a posse de quatro novos ministros - Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Henrique Paim (Educação), Arthur Chioro (Saúde) e Thomas Traumann (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).

Apesar da sombra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal eleitor, Dilma fez as escolhas que quis no início de seu governo. Algumas foram tácitas, como Antonio Palocci para a Casa Civil da Presidência. Nem precisava, mas Dilma consultou Lula. O ex-presidente respondeu como responderia em todos os casos em que foi consultado: a escolha dos ministros era atribuição da presidente eleita. Havia a intenção clara de passar a imagem de independência da presidente em relação a seu criador.

Mas assim como houve Palocci, que tinha a inteira concordância de Lula para o cargo, houve também casos como o do ex-deputado José Eduardo Cardozo (Justiça). Se dependesse de Lula, Cardozo dificilmente seria ministro de um governo do PT. Idiossincrasias petistas. No entanto, Dilma bancou sua nomeação para o cargo.

O espaço para experimentos apareceu quando Palocci teve de deixar o governo: a presidente ignorou solenemente o PT e levou para seu lugar, na Casa Civil, uma senadora de carreira promissora mas ainda em seu primeiro mandato: Gleisi Hoffmann, que agora deixa o cargo para disputar o governo do Paraná contra o PSDB.

Palocci saiu em junho de 2011. Logo depois a presidente teve de entregar a cabeça de outro ministro palaciano, Luiz Sérgio (Secretaria de Relações Institucionais), encarregado da coordenação política do governo.

Novamente Dilma passou por cima do que pedia o PT, especialmente a bancada da Câmara, e impôs o nome de Ideli Salvatti para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). No Senado, Ideli ganhou pontos com o Palácio do Planalto devido à firme defesa que fazia do governo, não importava a circunstância. Ganhou fama de parlamentar leal, mas de pouco trânsito entre os colegas e sobretudo entre os deputados.

Gleisi deu uma feição mais técnica à Casa Civil. Demorou, mas entregou projetos como o de concessões de aeroportos e ferrovias. Irritou muito ministro com suas cobranças matinais. Ideli, espécie de unanimidade contra, pode dizer que aprovou tudo o que de fato interessava ao governo, como a lei de portos e o pacto dos partidos aliados para evitar que o Congresso aprovasse medidas com impacto fiscal, no fim do ano passado. Isso, se efetivamente deixar o governo, pois pode ganhar uma sobrevida, sobretudo se acertar os ponteiros com Mercadante - ela tem dificuldades para viabilizar sua candidatura ao Senado, em Santa Catarina.

A mudança mais importante da reforma ministerial, até o momento, é a nomeação de Aloizio Mercadante para a Casa Civil. A presidente tinha a possibilidade de fazer escolhas pessoais. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, por exemplo, é seu amigo desde os tempos da guerrilha. O chefe de gabinete, Giles Azevedo, ficou muito próximo da presidente. Outra opção técnica seria Carlos Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência.

Pimentel, no entanto, é candidato competitivo do PT ao governo de Minas Gerais. Gabas, os olhos e ouvidos do governo no Ministério da Previdência, comandado pelo PMDB. Giles terá papel importante na campanha da reeleição, seja no comitê ou no Palácio do Planalto.

Desde que a substituição dos ministros começou a ser discutida, o PT sinaliza a vontade de ter alguém com um perfil mais político na Casa Civil. O ex-senador Aloizio Mercadante era o nome mais qualificado e próximo da presidente com esse perfil. O problema é que Mercadante tinha - e ainda tem - dificuldades no PT.

Dilma o escolheu assim mesmo, mas precisou recorrer à ajuda de Lula a fim de aparar as arestas de seu preferido no partido. Nesse processo, Mercadante teve de assumir compromissos. O chefe da Casa Civil envolve-se em todas as discussões de governo, inclusive de política econômica, e é o ministro mais próximo da presidente da República. O que faz ou fala inevitavelmente é interpretado como vontade da presidente. Há uma risca de giz que Mercadante não deve passar, a não ser com expressa autorização de Dilma. Mesmo com ceticismos, mas ganhou o aval do PT.

Dilma tinha 27 secretários de Saúde estaduais e do Distrito Federal, além de 26 secretários das capitais entre os quais poderia escolher o novo ministro da Saúde. Noves fora os secretários de governos dos partidos da oposição, ainda assim certamente teria à disposição nomes com mais experiência e reconhecimento que o secretário da Saúde de São Bernardo do Campo. Mas foi no berço político de Lula que ela foi buscar o novo ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Circula em Brasília a informação segundo a qual a presidente ficou bem impressionada com Chioro, numa viagem que fez a São Bernardo para inaugurar uma unidade de Saúde. Na volta, Dilma teria feito perguntas e comentários sobre o secretário ao ministro Alexandre Padilha, que deixa o cargo para disputar o governo de São Paulo. Padilha gostaria de deixar no cargo seu secretário-executivo, mas teria entendido, na conversa, que seu substituto seria Chioro.

Paim é a continuidade na Educação - era o segundo desde o governo Lula. O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Thomas Traumann, já estava no Palácio do Planalto, na função de porta-voz da presidente da República. É uma herança da época de Palocci na Casa Civil (era seu assessor de imprensa). Para substituir a ministra Helena Chagas, contou com o apoio do ex-ministro Franklin Martins. Deve afinar o discurso do governo com a campanha. Ou seja, mais contundência na defesa dos pontos de vista do Palácio do Planalto.

Fonte: Valor Econômico

Tereza Cruvinel: Perfis e necessidades

Mudanças no ministério, nas democracias, são mesmo "inevitáveis", como disse ontem a presidente Dilma Rousseff, mas a reforma ministerial em curso não derivou apenas do determinismo eleitoral, como ela sugeriu, embora boa parte dos ministros que saem sejam candidatos a cargos eletivos. Com as mudanças, Dilma se arma para a batalha da reeleição e também para enfrentar os novos desafios de seu governo, na gestão e na economia.

A segunda etapa da reforma, sim, será diretamente relacionada com o projeto reeleitoral, buscando consolidar as alianças partidárias que lhe garantirão tempo de tevê, máquinas e palanques. Já as posses de ontem se relacionam com os desafios e as novas necessidades de Dilma. Não por acaso, no discurso de posse, ela disse ter honrado os compromissos de 2010, como os de manter os fundamentos macroeconômicos e as políticas sociais. Ela beijou a cruz em Davos, mas as incertezas econômicas continuam visitando os países emergentes. O ajuste, mais cedo ou mais tarde, terá que ser feito, podendo sacrificar consumo e bem-estar para garantir estabilidade. Para não ter que fazer isso em 2014, Dilma precisa de um governo mais enérgico, mais determinado e eficiente.

A presença de Aloizio Mercadante na Casa Civil deve imprimir nova dinâmica ao governo. A oposição criticou o espírito eleitoral da reforma, mas muitos de seus líderes elogiaram a escolha, por sua vivência parlamentar e experiência de governo. Dilma, palmeira no gramado, contará com um homem forte na paisagem, seja na coordenação interna do governo, seja no relacionamento com o Congresso, a sociedade, o empresariado, as forças sociais em geral. A mensagem dela, por ele levada ao Congresso, toca num dos desafios: conter o gasto público, que o Congresso é sempre tentado a expandir em safras eleitorais. Será preciso enfrentar o touro com energia. Ele gosta do poder, sabe exercê-lo, na negociação e no confronto. Sua personalidade e certo olhar para o alto podem gerar colisões. Mas é pacífico, não só no PT. Entre os quadros disponíveis, Dilma fez a melhor escolha.

Alexandre Padilha saiu para ser candidato, mas, por que agora? Para que seu substituto, o também petista e paulista Arthur Chioro, possa dominar logo a máquina que tem programas de grande apelo eleitoral, especialmente o Mais Médicos. E, no Ministério da Educação, também estratégico, a efetivação de Henrique Paim, já aprovado como secretário executivo, foi a opção por não correr riscos.

A mudança na Secom é que tem propiciado interpretações mais equivocadas. A troca não teve nada a ver com a escala em Lisboa e muito menos com uma suposta opção por uma relação truculenta com a imprensa, na base do bateu, levou. Dilma teria que ser estúpida para fazer agora tal inflexão. A troca foi imposta pela debilidade do governo na área, por sua incapacidade de estabelecer o contraditório. De demonstrar, por exemplo, que os gastos com estádios são inferiores aos realizados com mobilidade e outras obras que serão "legado". Em relação a outros temas, o governo tem sido igualmente tímido e tíbio, tenha ou não bons argumentos para apresentar.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, contribuiu para ampliar a algaravia em torno da troca na Secom, ressuscitando o tema da regulação da mídia, também alheio à mudança. O projeto do ex-ministro Franklin Martins, que Bernardo engavetou, nunca tratou de regular conteúdo, mas o "espectro" do controle voltará a ser brandido. Ele tocava em outras questões essenciais, como a propriedade cruzada de veículos, a falta de conteúdos regionais e o direito de resposta. Bernardo apontou o Google como "o grande monopólio" e defendeu a regulação da publicidade na internet, que vitima os veículos tradicionais. Embora sejam questões pertinentes, Dilma não deve estar interessada em debatê-las agora. Aliás, ela nunca se interessou por elas, nem por comunicação pública e assuntos conexos. Mas é legítimo que ela queira uma Secom mais disposta ao debate e ao contraditório, desde que observada uma relação respeitosa com a imprensa, como ela disse, a "liberdade e a pluralidade essenciais" na democracia. É o que a trajetória profissional de Thomas Traumann sugere que esperemos dele.

Novo líder
A bancada do PT deu posse ontem a seu novo líder, o deputado Vicentinho, observando o velho sistema de rodízio. Outros partidos farão agora a troca da guarda nas lideranças.

Novo alvo
A preocupação de Dilma ontem, depois da posse dos ministros, era com a busca de um substituto para Fernando Pimentel na pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ele deixará o cargo na semana que vem para mergulhar na campanha para o governo de Minas Gerais. Com a opção de Josué Alencar pelo sacrifício, ou seja, por disputar o Senado com o governador Anastasia, considerado imbatível, Dilma busca um nome que dialogue especialmente com a Indústria. Robson Andrade, da CNI, era cogitado.

Fonte: Correio Braziliense

José Casado: Um duelo pernambucano

Lula vê em Campos ameaça à hegemonia do PT. Para desidratá-lo, constrói a candidatura local de um herdeiro da aristocracia nordestina que confrontou nos últimos 25 anos

Começou a temporada de caça a votos.

Hoje, em Brasília, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a provável vice, Marina Silva (Rede), dão impulso à sua campanha com um esboço de ideias para “fazer mais, com menos e em menos tempo” na educação básica, na política ambiental, na forma de organização do governo e de intervenção estatal na economia.

Na próxima segunda-feira (10) o Partido dos Trabalhadores festeja 34 anos de existência, dos quais 12 no centro do poder. Será vez de o ex-presidente Lula apresentar as razões pelas quais, ele acha, a presidente Dilma Rousseff deveria ser premiada com um novo mandato.

Na sequência, ainda sem data, o ex-governador de Minas Gerais e senador Aécio Neves (PSDB) desfila suas propostas de mudanças.

Essa disputa contém um inédito tempero pernambucano — o duelo entre Lula e Campos.

Aos 68 anos, o ex-presidente resolveu dar um tom pessoal ao embate naquela ponta geográfica do país. “Vou morar em Pernambuco”, tem repetido, em tom típico de quem se sente ofendido ou lesado pelo governador, figurante do seu ministério por 18 meses (2004 a 2005).

Nascido em Caetés, a 250 quilômetros do Recife, Lula escolheu seu estado como vitrine do reformismo social e econômico do Nordeste. Ali, programas de Previdência e Bolsa Família praticamente aniquilaram a intermediação do coronelismo na assistência aos pobres.

Numa etapa de bonança econômica, uniu-se a Campos e retomaram o projeto portuário-industrial de Suape, iniciado pelos liberais pernambucanos em meados dos anos 70. Programaram investimentos de US$ 30 bilhões em refinaria e estaleiro ao longo de duas décadas, confirmando uma constatação do economista Alberto Hirschman: o Nordeste só ganhou relevo no mapa do poder republicano depois de grande seca ou quando um nativo ocupou área-chave do governo central.

Com pouco menos de um terço do eleitorado nacional, a região se tornou vital à hegemonia do PT. Garantiu a Lula a reeleição (76,6% dos votos) e o favoreceu na sucessão, com Dilma (70,5%). Pernambuco deu votação recorde ao lulismo tanto em 2006 (78,5%) quanto em 2010 (75,6%).

Campos, nascido no Recife, se elegeu com votação menor (65,3%). Surpreendido pelas urnas, recrutou equipe no Tribunal de Contas e se dedicou à consolidação do partido herdado do avô, Miguel Arraes, sertanejo casmurro e habilidoso na pregação da justiça social. Tornou-se líder entre governadores em aprovação na base local.

Lula vê em Campos mais do que ameaça à chance de reeleição de Dilma, esteja na liderança ou em aliança com o PSDB. Enxerga uma rebelião no território onde o PT definiu sua hegemonia. Com agravante: a candidatura do governador pernambucano se tornou estuário para os potes de mágoas dos derrotados nas lutas fraticidas do petismo nordestino, como constatou o presidente do PT, Rui Falcão, nos últimos 15 dias.

Para desidratá-lo, Lula constrói algo até então inimaginável para muitos: a candidatura ao governo estadual de Armando Queiroz Monteiro Neto, de 62 anos, senador, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria, herdeiro de fortuna assentada na banca e em usinas de açúcar — síntese da aristocracia nordestina que Lula transformou em alvo constante nas campanhas pelo sertão nos últimos 25 anos.

Fonte: O Globo

Xico Graziano* : MST, 30 anos

Há três décadas era fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Naquela época, com inflação galopante, pouco importava produzir. A terra configurava excepcional reserva de valor. Por outro lado, cresciam as cidades, inchadas pelo êxodo rural, provocando crise no abastecimento popular. Tempos difíceis.

Originado na luta dos colonos gaúchos que acamparam na Encruzilhada Natalino, entre os municípios de Ronda Alta e Sarandi, o MST surgiu nos braços católicos da Teologia da Libertação. Favorecia suas ações o clima político do País. Em 1982 haviam sido, afinal, realizadas as primeiras eleições livres após o golpe militar e a oposição elegera a maioria dos governadores. No Rio Grande do Sul, Leonel Brizola brilhava com sua retórica.

Com a redemocratização em marcha, grupos alinhados à esquerda botavam suas asas para fora. No Leste, capengava o comunismo soviético; aqui, ao contrário, se animavam as ideias socialistas. Chegara a hora do ajuste de contas com o passado colonial. No campo, isso significava derrotar o latifúndio por meio da reforma agrária distributivista. "Terra para quem nela trabalha" - o slogan alimentava o sonho da justiça social.

Com José Sarney na Presidência da Nova República, o governo surpreendentemente anunciou seu ousado Plano Nacional de Reforma Agrária. Prometia assentar nos lotes, em quatro anos, 1,4 milhão de trabalhadores sem terra. A meta era, objetivamente, impossível de ser cumprida, mas todos nela acreditaram. Formulada nos anos 1960, a teoria do desenvolvimentismo nacional exigia quebrar a concentração da propriedade rural para fazer o País progredir. Reforma agrária, na lei ou na marra.

Nesse contexto vingava o MST, rivalizando com a tradicional Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, entidade criada pelo sindicalismo de Getúlio Vargas. Manipulada historicamente pelo governo, a Contag tornara-se útil ao jogo do poder político. Pelega, como se dizia. A sociedade, querendo mudança, torcia pelo MST, que passou então a simbolizar a nova utopia agrária.

Durante seus 30 anos de existência o MST passou por três fases. Na primeira, logo se expandiu pelo País. Dirigida por jovens lideranças, a organização deixou o sul e rumou, inicialmente, para o Pontal do Paranapanema (SP), Pará, Mato Grosso e Pernambuco. Arregimentou e treinou quadros, articulou invasões, enraizando-se estrategicamente pelo território nacional. Aonde chegavam, contrastavam aqueles jovens loiros, de olhos claros, sotaque sulino, com as pessoas pobres e analfabetas, amorenadas pelo sol escaldante, mãos calejadas, estas parecendo ouvir profetas da redenção humana. Ninguém como o MST soube misturar a luta ideológica com o apelo messiânico.

Na segunda fase o MST radicalizou sua tática, construindo uma "fábrica de sem-terra" a partir da massa de desempregados urbanos. Até veículos com alto-falantes se utilizavam na periferia vendendo o passaporte da felicidade no campo. Bastava pagar uma taxa de inscrição, montar uma barraca de lona preta na beira da estrada e pronto: o excluído transformava-se num sem-terra. A moda pegou. Dezenas de movimentos "revolucionários", com nomes assemelhados, surgiram alhures, destinados a invadir fazendas. Jagunços gostaram da ideia, montaram seus esquemas criminosos e o banditismo rural se expandiu. Junto, cresceu a violência.

Nesse mesmo período, todavia, avançava a modernização capitalista da agropecuária. Progressivamente, quem, na verdade, estava derrotando o latifúndio era a tecnologia, a produtividade puxada rentabilidade do mercado. Mais adiante, após a estabilização da economia e a globalização, o Brasil começou a consolidar um modelo de produção rural altamente competitivo, tropicalizado, hoje admirado mundialmente. Os recordes na safra de grãos expressam facilmente tal revolução produtiva no campo. Mas na pecuária também se verificou um salto extraordinário: o Censo do IBGE mostrava, em 1980, uma relação de 0,68 cabeça de gado por hectare de pastagem; em 2006, a relação subiu para 1,1. A produção de leite por vaca/ano passou de 934 litros para 1.618 no mesmo período. Incrível.

É a modernização da agropecuária que explica, em parte, a terceira fase do MST: a decadência. Falta atualmente mão de obra em todos os setores da roça, uma escassez que eleva a remuneração do trabalho. Um tratorista, por exemplo, aufere ganhos que, em Mato Grosso, chegam a cinco salários mínimos. O que é preferível: padecer num lote distante da tecnologia e longe do mercado, ou conseguir um bom emprego, carteira assinada? Aguentar doutrinação velhaca, pagar comissão ao MST, ou crescer na vida emancipado?

Dentre as várias razões que explicam a derrocada do MST, uma delas recai sobre o sucesso da causa: o Brasil realizou, em 20 anos, a maior reforma agrária do mundo, distribuindo terras para 1,1 milhão de famílias. Dessas, 55% se encontram sob o domínio político da organização, que precisa, agora, cuidar da cria, mostrar resultado. Qualidade, não apenas quantidade. Um programa de reforma agrária, afinal, não pode virar rosca sem fim.

Perguntam-me sempre se foi importante o MST. Em termos, sim. Cumpriu papel histórico. Ao combater a terra ociosa, empurrou a burguesia agrária rumo ao progresso capitalista. Mas quando decidiu fazer justiça com as próprias mãos, tornando-se violento, manipulador dos miseráveis, passou a agredir a modernidade. Pior, ao participar do jogo da corrupção escondido entre os convênios do governo, maculou sua aura. Desviando dinheiro público, prostituiu-se.

Aos 30 anos, o MST perdeu o bonde da História. Sofre sua crise de identidade.

*Xico Graziano é agrônomo e foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Diário do Poder – Cláudio Humberto

• Itaú critica contas, mas não quer pagar imposto
O banco Itaú foi ao Fórum de Davos e alertou sobre a fragilidade das contas do governo. De volta ao Brasil, não cumpre sua parte para ajudar o país a resolver seu problema de caixa: anunciou que vai recorrer da multa de R$ 18 bilhões aplicada pela Receita Federal por não pagar impostos devidos na compra do Unibanco, há cinco anos. Desde a operação, o Itaú acumula lucro que já supera R$ 62 bilhões.

• Tem mais
Nesta terça-feira (4), ao anunciar o lucro do quarto trimestre de 2013, o total dos ganhos do Itaú deve pular para R$ 65 bilhões.

• Que ambiente…
Substituto de Aloizio Mercadante no MEC, o petista José Paim – réu por improbidade – foi o mais aplaudido durante as posses no Planalto.

• Peso na convenção
Sob ameaça constante de levar do PT “bola nas costas”, diretórios do PMDB se rebelam no Paraná, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Sul.

• Elogio à sujeira
O governo petista do DF reluta em acabar com o favelão de adoradores de mensaleiros acampados há meses no estacionamento do STF.

• ‘Tartaruga’ desafia Justiça e dá espaço ao crime
Policiais militares desafiam a Justiça, que ordenou o fim da “operação tartaruga” no Distrito Federal, mesmo sob ameaça de multa diária de R$ 100 mil para suas entidades. Somente o final de semana, treze assassinatos ocorreram no DF, autorizados pelo corpo mole da PM. À meia-noite de ontem, uma viatura da PM obedeceu à placa de 40km/h, na pista de saída do aeroporto de Brasília, deixando que seguisse sem proteção comitiva da Costa do Marfim que acabara de desembarcar.

• Sem obrigação
Oficialmente, a Polícia Militar pôs panos quentes, alegando que não tinha obrigação de fazer a segurança da comitiva. Ah, bom.

• Tudo bem
Houve alívio no Itamaraty: a comitiva da Costa do Marfim chegou em segurança. Um incidente internacional daria visibilidade ao motim.

• Plantando, dá
Ervas daninhas devem estar atacando os jardins da Presidência da República, que gastou R$ 52,8 mil em herbicidas.

• Script ensaiado
Antes de se reunir com a presidenta Dilma para tratar de reforma ministerial, o vice Michel Temer almoçou ontem com o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), no Palácio do Jaburu.

• Climão
Presidente do STF e relator do mensalão, Joaquim Barbosa não trocou uma palavra com o vice da Câmara, André Vargas (PT-PR), ao lado de quem ficou sentado na leitura da mensagem de Dilma ao Congresso.

• Conversa paralela
A interminável leitura da mensagem da presidenta Dilma ao Congresso pelo jeito não empolgou em nada parlamentares. Além de esvaziado, o evento mais serviu para os poucos presentes colocarem o papo em dia.

• Apelação
Para tentar sair do charco onde se meteu, sob denúncias de corrupção, o dono do PDT, Carlos Lupi, ressuscitou nos comerciais do partido, na TV, o fundador Leonel Brizola, que ele havia “deletado” do pedetismo.

• Briga por títulos
A bancada do PT na Câmara tenta emplacar o deputado José Guimarães (CE) na liderança do governo no Congresso em lugar de José Pimentel (CE), que ambiciona a liderança do PT no Senado.

• Dança das cadeiras
Após ocupar o lugar de Helena Chagas na Secretaria de Comunicação Social da Presidência, o novo ministro Thomas Traumann deverá trocar o secretário de imprensa, José Ramos, e seu adjunto Ênio Vieira.

• Reforma ministerial
Diante de frenesi no PMDB, o vice Michel Temer reuniu no Jaburu no domingo: ministro Moreira Franco (Aviação) e senadores Romero Jucá (RR), Eduardo Braga (AM), Renan Calheiros e Eunicio Oliveira (CE).

• Despedida
O suplente Sérgio de Souza (PMDB-PR) fez questão de comparecer ontem a sua última sessão como parlamentar em 2014: a petista Gleisi Hoffmann, que deixou Casa Civil, reassumirá sua cadeira no Senado.

• Pensando bem…
…além dos três empossados ontem, Dilma terá um super-ministro oculto: Rolando Lero, para empurrar o governo com a barriga.

Fonte: Diário do Poder

Brasília-DF – Denise Rothenburg

Padilha da discórdia
A mesma Dilma Rousseff que exalta o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha acaba de vetar um outro Padilha para sua equipe. O deputado Eliseu Padilha, do PMDB. A presidente não quer ver como ministro da Secretaria de Portos aquele que ajudou a arrecadar recursos para as duas campanhas de Fernando Henrique Cardoso e ainda auxiliou José Serra contra a eleição dela, em 2010, e a de Lula, em 2002. Isso sem contar o peso em favor de Geraldo Alckmin em 2006.

Para a presidente, a proximidade com antigos adversários tem limite. No Rio Grande do Sul, entre os peemedebistas, ela só obteve o apoio para valer do deputado Mendes Ribeiro, que deixou o Ministério da Agricultura para cuidar da saúde e se recuperar de um tumor no cérebro. Até aqui, o nome provável para a Secretaria de Portos é o do senador Vital do Rêgo Filho, o Vitalzinho, do PMDB da Paraíba. Os deputados do partido ainda estão a ver navios.

Minha vingança...
Mal a notícia do veto a Padilha chegou ao PMDB, um grupo de deputados começou a tramar o troco. O primeiro movimento é no sentido de emplacar o deputado Darcísio Perondi presidente da Comissão de Saúde da Câmara. Perondi é um dos independentes que infernizam a vida do governo no Congresso.

...será maligna
Perondi foi um dos mentores do projeto que tentou ampliar os recursos da saúde além do que
o governo pretendia conceder dentro do Orçamento Impositivo. Como presidente da Comissão de Saúde da Casa, nada impedirá que tente repetir a dose em outros projetos. E, sabe como é, nesse primeiro semestre, o governo ainda não tem tanta tranquilidade para enfrentar o Congresso.

Recordista
A cúpula do PT dá como certo que Ideli Salvatti será mantida na Secretaria de Relações Institucionais. A média de permanência ali era de um ano. Ela está desde junho de 2011. Alguns deputados, inclusive do PT, que estão de olho no cargo não perdoam: "Ela tem dois troféus, o de mais tempo como ministra e o de quem menos fez em todo esse período".

Riscos &apostas
Para alegria dos deputados mais descolados e menos conservadores, o PSC de Marco Feliciano não terá direito a presidir comissões técnicas da Câmara este ano. Para preocupação do governo, a Fiscalização e Controle deve ser a primeira escolha do PMDB. O PT, que abre a ordem de pedidos, ficará com a Comissão de Constituição e Justiça, onde o nome mais cotado é o do deputado Vicente Cândido, de São Paulo.

CURTIDAS

No embalo/ Os líderes do PTB na Câmara, Nelson Marquezelli, e no Senado, Gim Argello, conversavam animadamente com o presidente em exercício do partido, Benito Gama (foto), quando se aproximou o ministro do Turismo, Gastão Vieira. "Oba, vamos fazer a troca do bastão logo aqui", disse Gim, referindo-se a Benito. O Ministério do Turismo é o sonho de consumo dos petebistas hoje.

Questão de prioridade/ Enquanto o senador João Vicente Claudino (PTB-PI) lia a mensagem da presidente Dilma ao Congresso, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros, aproveitaram para repassar os próprios discursos que fariam em seguida.

Memória I/ Ao ver o novo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, recebido com toda a pompa no Congresso Nacional, alguns senadores lembravam animadamente da brincadeira que faziam quando algum integrante do Senado passava por outro sem cumprimentar. Aquele que não recebia o cumprimento logo se virava para o colega e dizia "bom dia, Mercadante".

Memória II/ Naquela época, Mercadante era senador e não eram poucos os colegas que o chamavam de "mercapedante". Agora, garantem, que esse tempo acabou. Pelo menos, é o que dizem.

Fonte: Correio Braziliense