quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA – Beto Albuquerque

A nota revela que a parcela que hoje domina o PT perdeu completamente seu espírito republicano, abandonou seu norte político e transformou-se numa seita fundamentalista que ataca qualquer um, mesmo sendo um importante ator do campo das esquerdas, que discorde em qualquer medida da atual condução política e econômica do país e das velhas práticas políticas que se assiste em Brasília.

Beto Albuquerque
Líder do PSB na Câmara dos Deputados, “Nota Oficial do PSB sobre nota publicada no perfil oficial do PT no Facebook” Portal do PSB, 7 de janeiro de 2014.

Onda de violência: Dilma se cala para evitar críticas aos aliados Roseana e Tarso

Até agora, nem ministro da Justiça deu declarações sobre crise nas prisões

Paulo Celso Pereira e Luiza Damé

BRASÍLIA — O governo federal quer afastar ao máximo a presidente Dilma Rousseff da grave crise que atinge os sistemas prisionais do Maranhão e do Rio Grande do Sul. Os dois estados são comandados por aliados de primeira hora da presidente, os governadores Roseana Sarney e Tarso Genro, e são considerados fundamentais nas eleições deste ano. Diante da gravidade da situação nas prisões, a presidente não teria como fazer qualquer pronunciamento acrítico.
Por isso, a determinação do governo é que caberá ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pronunciar-se sobre o caso — o que ainda não havia ocorrido até o início da noite de ontem. Até agora, o Planalto permanece calado.

Na terça-feira, chegou a ser anunciada uma entrevista do ministro Cardozo para tratar de outros assuntos da área, mas ele acabou mandando representante, depois de se reunir por cerca de 40 minutos com a presidente Dilma no Alvorada. A única ministra a se pronunciar até agora foi a chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, que emitiu nota oficial repudiando “com veemência a barbárie e a banalização da vida”.

Apesar de não tratar publicamente do assunto, a presidente se reuniu com Cardozo e com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para discutir o tema. Em 2010, Dilma obteve no Maranhão sua segunda maior vitória eleitoral, com 79% dos votos no segundo turno, atrás apenas dos 80% obtidos no Amazonas.

Hoje, o objetivo da presidente é garantir o apoio das duas forças que deverão disputar o governo do Maranhão: o presidente da Embratur, Flávio Dino, e o candidato que vier a ser indicado pela família Sarney.

O palanque duplo no estado é um dos principais focos de animosidade entre peemedebistas e petistas. A direção nacional do PMDB está considerando o apoio do PT no Maranhão como uma pré-condição fundamental para que seja sacramentada a aliança nacional entre os dois partidos.
Os militantes do PT no estado, no entanto, são historicamente mais próximos de Flávio Dino. O comunista, no entanto, já fechou um acordo com o presidenciável Eduardo Campos e afirma, publicamente, que ele terá espaço em seu palanque independentemente de também vir a receber ou não apoio do PT.

Fonte: O Globo

Servidor ameaça com greve em ano eleitoral

Mesmo com um acordo assinado em 2012 que prevê 15,8% de reajuste em três anos, sindicatos da categoria articulam uma nova campanha salarial para os próximos meses. A perda de renda, imposta pela inflação, deve levar as lideranças do funcionalismo a abrirem negociações com o Palácio do Planalto. A paralisação de serviços, principalmente durante a Copa, não está descartada.

Servidores prometem guerra por reajustes

O funcionalismo promete entrar em guerra com o Palácio do Planalto em 2015. Seja quem for o eleito, a Presidência da República terá de enfrentar servidores federais furiosos com a perda de renda imposta por um acordo assinado em 2012. Até o próximo ano, os trabalhadores terão recebido 15,8% de aumento salarial desde que o compromisso foi firmado. Contudo, diante de uma inflação persistentemente elevada, o valor dado pelo governo se mostrou insuficiente para vencer a carestia. Em vez de ganho real, os servidores amargarão, ao fim do período, perda de 2,1%. A resposta para o prejuízo, garantem os sindicalistas, ocorrerá nas ruas.

Representantes das categorias prejudicadas pretendem dar, já em 2014, uma primeira mostra do que está por vir caso não sejam atendidos e, os danos inflacionários, corrigidos. Em pleno ano eleitoral, podem convocar uma paralisação geral dos serviços públicos, o que significaria o rompimento do acordo firmado em 2012, quando ficou acertado que não haveria greve até o vencimento do combinado. A greve deve coincidir com as manifestações programadas durante a Copa do Mundo, fato que já preocupa o governo e que resultará em problemas quando 2015 chegar.

A posição de sindicatos que representa os servidores é um gesto hostil ao Partido dos Trabalhadores, sigla que comanda o país e que, historicamente, sempre contou com o apoio explícito da maioria do funcionalismo, que tomou horror do PSDB, depois do processo de enxugamento da máquina pública promovido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Um dos braços do partido, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) está encabeçando o movimento de pressão dos insatisfeitos.

O próximo presidente terá a missão ingrata de negociar com os trabalhadores durante seu primeiro ano de mandato, um período que, no entender dos especialistas, exigirá um forte ajuste nas contas públicas. Depois de anos de gastos elevados com a justificativa de estimular a atividade e impedir que a crise se instalasse no Brasil, a fatura chegou.

O governo perdeu margem de manobra e tem pouco ou nenhum espaço fiscal para dar benesses ao funcionalismo. Fazer convergir a vontade dos servidores com as necessidades do Tesouro Nacional será um desafio hercúleo. "A racionalidade saiu do campo econômico. A decisão será política. Mesmo sem espaço para elevar as despesas, são grandes as chances de o próximo comandante do país conceder novo aumento para o funcionalismo", diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Pedro Armengol, secretário adjunto de Relações de Trabalho da CUT, defende que há dinheiro para reajustar os salários, independentemente da farra fiscal dos últimos anos, que pode resultar no rebaixamento do país pelas agências de classificação de risco. "Dizer que 2015 será um ano de ajuste é manter o olhar fiscalista que vem desde 2008, com a explosão da crise internacional", diz. "O Estado gasta demais e não se vê o retorno adequado em saúde, segurança e educação, que não melhoram. "Os investimentos no serviço público são reduzidos, esse é o problema", argumenta.

Serviços péssimos
Os argumentos do funcionalismo não comovem os especialistas em contas públicas. Eles, inclusive, não descartam uma rebelião de brasileiros sem emprego público e que dependem dos péssimos serviços oferecidos pelo Estado. Durante o governo Lula, os servidores contabilizaram ganhos expressivos. Tanto que a folha de pagamento do Executivo, desde 2003, aumentou 163,8%. A qualidade do atendimento à população, no entanto, continuou muito aquém do aceitável. Durante a campanha de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff foi eleita, uma das bandeiras do PT era a implantação da meritocracia no governo. A promessa nunca saiu do papel.

A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que representa quase metade do funcionalismo, queixa-se, além da perda para a inflação, de promessas não cumpridas, como a adoção de planos de carreira e a regulamentação de benefícios. "São vários os acordos assinados que não foram cumpridos pelo governo", afirma Sérgio Ronaldo da Silva, diretor da entidade. Ele garante que, até o fim de janeiro, serão dados os primeiros passos no sentido de mobilizar os trabalhadores. "Independentemente de Copa do Mundo e de eleições, já avisamos ao governo que o enfrentamento vai ocorrer", garante. "Em 2015, vamos para a rua, mesmo com o discurso de dificuldade fiscal", diz.

Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, acredita que a disputa entre os servidores e o Executivo pode parar na Justiça. "A margem para novos gastos é pequena. Será uma negociação difícil", observa.

Fonte: Correio Braziliense

Paralisia industrial já dura 5 anos e deixa setor mais 'pobre'

Denise Neumann

SÃO PAULO - A produção da indústria brasileira está praticamente estagnada. Os dados de novembro - divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - mostram que a produção brasileira de 2013 ficou apenas 0,3% maior que a de 2008, ano de início da crise mundial. Essa estagnação, contudo, embute comportamentos setoriais muito distintos - queda de 30% e aumento de 23% - e mudanças profundas em algumas cadeias produtivas. E o câmbio é apenas parte da explicação.

O câmbio intensificou um rearranjo produtivo em curso no mundo, com reflexos sobre a indústria brasileira. A produção doméstica perdeu "densidade", ficou mais pobre, mais dependente dos estímulos oficiais, e mais cara. Salvaram-se setores atingidos, direta ou indiretamente, por políticas governamentais, embora elas não tenham funcionado igualmente para todos os beneficiados.

Em 2008, o Brasil exportou US$ 3,1 bilhões em telefones celulares, e importou US$ 871 milhões dos mesmos bens, encerrando o ano com um expressivo saldo comercial de US$ 2,2 bilhões, 5% do superávit daquele ano. Depois daquele recorde, as exportações de celulares minguaram ano a ano até praticamente sumirem do mapa. Quase todo mercado, hoje, é atendido por importações.

A balança comercial de celulares é um exemplo perfeito do duplo impacto do câmbio valorizado, pois ele elevou competitividade das importações e reduziu a das exportações. O setor de material eletrônico e equipamentos de comunicações foi o principal afetado por essa combinação nos últimos cinco anos, com retração de 30% na produção entre 2008 e 2013.

Olhando estatísticas de comércio exterior, a exportação do segmento correlato (informática e eletrônicos) caiu de 11% da produção para 7,5% entre o terceiro trimestre de 2008 e igual período de 2013. Já o peso dos importados no consumo local do setor subiu de 43% para 52%, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex)


No conjunto da indústria, a produção nacional caiu em 11 dos 26 setores listados pelo IBGE ao longo dos últimos cinco anos. Dos 11, em 9 indústria encolheu mais de 10%. Para o professor Júlio Sérgio Gomes de Almeida, nesses setores existe a chamada desindustrialização. Entre os prejudicados, ele aponta todo o complexo eletroeletrônico, de informática e de comunicações (três setores), além do trio intensivo em mão de obra (têxtil, calçados e confecções), e o setor de metalurgia básica, afetado por uma grande oferta mundial.

Na avaliação setorial, além da desindustrialização, Gomes de Almeida identificou segmentos com baixo crescimento e outros com forte desempenho. Nesses, a presença do governo - especialmente via desonerações, mas também pela política de redistribuição de renda - fez diferença. Entre os beneficiados, direta ou indiretamente, estão o mobiliário, alguns segmentos de transporte, perfumaria e equipamentos médicos.

O pouco conhecido setor de instrumentos médicos e hospitalares foi, depois de "outros equipamentos de transporte", o que registrou maior crescimento entre 2008 e 2013 - 23%. Paulo Fraccaro, presidente-executivo da Abimo, que representa a indústria do setor, diz que o aumento da demanda por serviços de saúde, decorrente das políticas sociais e do aumento da renda, ajudou a indústria do setor.

Embora a importação desses bens tenha crescido, a indústria doméstica, diz ele, "mantém alta competitiva em relação aos produtos importados", porque o setor, ao longo dos anos, se adaptou para atender o orçamento baixo da área de saúde. Hoje, diz, 95% da demanda é atendida por fábricas instaladas no Brasil e 60% das encomendas vêm do setor público de saúde.

Intensivo em mão de obra, o trio têxtil, confecções e calçados - embora beneficiado pelas desonerações - foi afetado diretamente pela presença chinesa. Como os produtos podem ser facilmente importados, ao contrário de móveis, as desonerações tiveram impacto menor sobre esses segmentos. O professor Nelson Marconi, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, acrescenta que esses setores sofreram muito com os aumentos de salários dos últimos anos, um dos custos que tornaram a produção nacional mais cara.

Para Marconi, uma combinação de fatores ajuda a explicar a estagnação da indústria, na média, e a perda expressiva de alguns setores. Ele observa, contudo, que não apenas a importação, mas também a redução das exportações influenciou esse resultado. Em calçados, por exemplo, as exportações chegaram a representar 30% da produção, percentual que caiu para 23% no terceiro trimestre de 2008.

Jorge Arbache, professor de economia da UnB, observa que esses cinco anos foram de muita instabilidade, tanto na economia brasileira como na mundial, e também pondera que o período é relativamente curto para grandes mudanças. Mesmo assim, também vê reflexos do câmbio e do aumento de custos (salários relativos, especialmente) afetando setores intensivos em mão de obra, e efeitos benéficos nos setores que receberam alguma política indutora do governo. Outro elemento listado por Arbache está na demanda mundial por commodities, que ajudou setores como celulose e minerais não metálicos, entre outros.

Além dessas influências, Arbache tem levantado outra preocupação. Ele tem discutido a perda de "densidade" da produção nacional. O problema diz, não é só a queda da participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) que chegou a pouco mais de 13% em 2013, considerando apenas o segmento da transformação. Esse dado, defende, traduz apenas parte das mudanças em andamento.

Arbache, que também é assessor econômico da presidência do BNDES, diz que em vários locais do mundo (Estados Unidos na liderança) a indústria cada vez mais tem atuado junto com o setor de serviços, o que agrega valor aos seus produtos. No Brasil, isso não tem acontecido. A indústria que mais cresce não é a que demanda serviços de alto valor agregado - tecnologia, inovação.

Para Arbache, o Ipad é o exemplo clássico. Enquanto produto industrial, sem os softwares, seu valor é pequeno. Com eles, torna-se outro produto, e dá densidade à indústria que o fabrica. "Essa indústria não está presente, com raras exceções, no Brasil."

Fonte: Valor Econômico

Estado investiu apenas 16,8% do previsto de recursos próprios no saneamento em 2013

O governo tinha a previsão de investir R$ 759,4 milhões em água e esgoto, mas só repassou R$ 132 milhões à Secretaria de Obras e à Cedae

Emanuel Alencar, Waleska Borges

RIO - A falta d’água que vem irritando cariocas neste verão, somada às desagradáveis surpresas nas praias, em forma de espumas e colorações avermelhadas provocadas por algas, pode também ser explicada pela morosidade na aplicação de recursos em saneamento no Rio. O governo do estado tinha a previsão de investir R$ 759,4 milhões em água e esgoto em 2013, mas só repassou R$ 132 milhões à Secretaria de Obras e à Cedae. E foram efetivamente gastos — em quatro programas — R$ 127,6 milhões, o que representa 16,8% do total previsto no orçamento. Os dados são referentes aos investimentos diretos do tesouro estadual e foram compilados pelo deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) no Sistema de Informações Gerenciais (SIG), portal de receitas e execuções orçamentárias.

Faltando 939 dias para o início dos Jogos Olímpicos, compromissos como a despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas de Jacarepaguá seguem em marcha lenta, e o Rio continua sofrendo com antigos problemas de gestão em saneamento. Um relatório da própria Cedae, de 2012, revela que o desperdício de faturamento da empresa chega a 50% — ou seja, a companhia só consegue receber por metade da água que produz. Nos últimos anos, a média de desperdício na distribuição de água potável no Rio tem se mantido na faixa dos 30%. Desperdício que se reflete num consumo médio per capita nas alturas: o Estado do Rio (atendido pela Cedae e outras empresas) consumiu 237,8 litros por habitante/dia em 2011, superando a média de São Paulo (186,8 litros), Minas Gerais (155,5) e Espírito Santo (192). As informações são do Ministério das Cidades.

— Esse dado reflete a perda brutal de água, que é bem mais acentuada no Rio do que em outros estados do Sudeste. Essa situação limita o desempenho financeiro da Cedae e ajuda a explicar a falta de investimentos — destaca o economista Rudinei Toneto Júnior, professor da USP de Ribeirão Preto e autor de estudos sobre saneamento para o Instituto Trata Brasil.

Problemas recorrentes
Com as altas temperaturas, enfrentar dias de torneira seca vira um sacrifício ainda maior. Moradores de vários bairros da cidade relatam transtornos com a falta d’água. Na Zona Norte, alguns já convivem com o drama há quatro meses. Sem opção, muitas pessoas precisam encher baldes durante a madrugada. Nas casas, há garrafas e galões estocados, roupas sem lavar e louça suja empilhada nas pias. Além disso, tomar banho é uma tarefa difícil. O problema já dividiu até a família do eletricista Adriano da Silva Souza, de 43 anos, morador da Rua Pereira da Costa, em Madureira. Por causa da falta d’água, seus dois filhos e a mulher foram para a casa da sogra dele, em Campo Grande.

— Pago minha contas e estou sem água desde o dia 6 de novembro, mas a conta de R$ 249 já chegou. Minha família é obrigada a passar os dias na minha sogra — reclama Adriano, que tomou uma decisão radical. — Não vou pagar mais a conta.

A situação não é diferente para os moradores da Rua Ierê, em Vicente de Carvalho. A aposentada Maria Célia Gomes, de 63 anos, já fez um estoque de 12 baldes em casa. Ela conta que tem em casa um bebê de nove meses.

— Preciso ficar acordada até as 3h, quando a água começa a aparecer. Às 6h, já não cai nem mais uma gota. Já estou com esse problema há 15 dias — contou Maria Célia.

Em nota, a Secretaria estadual de Obras informou que o estado gastou R$ 327 milhões em obras de saneamento em 2013, dinheiro de recursos próprios e do governo federal. O órgão, no entanto, não detalhou em quais programas essa verba foi aplicada. Já a Cedae, cujo orçamento previsto para este ano é de R$ 5 bilhões, informou que os projetos de ampliação e modernização das redes de abastecimento de água já em curso e os que começarão em 2014 somam mais de R$ 2 bilhões.

A Secretaria estadual do Ambiente marcou para 11 de fevereiro a nova licitação para as obras de revitalização e recuperação ambiental das lagoas de Jacarepaguá. O secretário Carlos Minc cancelou o processo em julho do ano passado, depois de uma reportagem na revista “Época” ter levantado suspeita de fraude na licitação.

Fonte: O Globo

Chamado de 'playboy' pelo PT, Campos diz que ataques são 'covardes'

'Enquanto os cães ladram, a nossa caravana passa', respondeu o governador Eduardo Campos após texto publicado em rede social; PSB afirma que partido é 'seita fundamentalista'

Lilian Venturini

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou nesta quarta-feira, 8, que vai ignorar as críticas dirigidas a ele em um texto publicado na página oficial do PT no Facebook. Chamado de "tolo" e "playboy mimado", o provável candidato à Presidência em 2014 chamou o artigo de "ataque covarde" e disse que iria manter o "alto nível" do debate sobre o País.

"O resto a gente ignora. Porque, enquanto os cães ladram, a nossa caravana passa. Vamos em frente, pessoal", escreveu Campos em sua página no Facebook. Apesar de dizer que não responderá aos ataques, o governador reproduziu a nota oficial da sigla em resposta ao artigo, segundo a qual o PT perdeu seu "espírito republicano" e se transformou em uma "seita fundamentalista". Campos é o atual presidente do PSB.

A nota é assinada pelo líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), e foi divulgada no final da noite dessa terça. O parlamentar diz que as palavras dirigidas ao provável candidato do partido à Presidência refletem o "desespero da direção" do PT diante da discussão sobre a sucessão presidencial de 2014.

Publicado na rede social sem assinatura, o artigo intitulado "A Balada de Eduardo Campos" ataca o governador por ter rompido a aliança com a presidente Dilma Rousseff. Ao deixar o governo petista, diz o artigo, o governador vendeu sua "alma à oposição" e "rifou não apenas sua credibilidade política, mas se mostrou antes de tudo, um tolo".

O texto publicado na página do PT afirma ainda que os resultados apresentados pelo governo de Campos são reflexos do apoio federal ao Estado. "Alegar que o sucesso do governo de Pernambuco deveu-se a ajuda federal é no mínimo ingênuo, pois tal ajuda se fez presente a todos os Estados", rebateu o PSB.

Albuquerque reagiu também às críticas feitas à ex-senadora Marina Silva, filiada ao PSB no ano passado. "A nota revela que a parcela que hoje domina o PT perdeu completamente seu espírito republicano, abandonou seu norte político e transformou-se numa seita fundamentalista que ataca qualquer um", afirma Albuquerque.

A assessoria de imprensa do PT afirmou que a sigla não vai se manifestar sobre a publicação nem sobre a nota do PSB. Informou apenas que o artigo não é de autoria do presidente do partido, deputado estadual Rui Falcão (SP), e disse não saber quem o escreveu nem se é manifestação oficial da legenda.

Abaixo, a íntegra da nota do PSB:

Sobre nota publicada no perfil oficial do Partido dos Trabalhadores (PT) no Facebook, intitulada "A Balada de Eduardo Campos", o Partido Socialista Brasileiro (PSB) considera que:

1. Fica evidente o desespero da direção do Partido dos Trabalhadores frente à discussão democrática do PSB em ter candidato próprio à Presidência da República em 2014. Tal desespero só demonstra a força das ideias e do debate que o PSB está propondo, sendo a real alternativa para que o Brasil avance nas mudanças que o povo brasileiro clama e precisa;

2. É impossível negar os avanços que o Governo de Pernambuco obteve nos últimos sete anos, sob o comando do presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Alegar que o sucesso do Governo de Pernambuco deveu-se a ajuda federal é, no mínimo, ingênuo, pois tal ajuda se fez presente a todos os Estados, inclusive aqueles dirigidos pelo PT, que não tiveram a mesma capacidade de formulação de projetos, planejamento e execução que o Governador Eduardo Campos, o mais bem avaliado e aprovado do país, reeleito com a maior votação da história do seu Estado.

3. Além do ataque covarde e despolitizado ao Governador Eduardo Campos, a nota ainda usa termos chulos para tratar a ex-senadora Marina Silva, líder da Rede Sustentabilidade e filiada do PSB, uma ativista reconhecida internacionalmente pela sua defesa do desenvolvimento sustentável e figura de postura ímpar na política brasileira.

4. A nota revela que a parcela que hoje domina o PT perdeu completamente seu espírito republicano, abandonou seu norte político e transformou-se numa seita fundamentalista que ataca qualquer um, mesmo sendo um importante ator do campo das esquerdas, que discorde em qualquer medida da atual condução política e econômica do país e das velhas práticas políticas que se assiste em Brasília;

5. O PSB manter-se-á firme na propositura de mudanças profundas na forma de se fazer política no Brasil, resgatando a dignidade dos partidos e agentes políticos, tão desgastados pela descompostura daqueles que hoje formam a aliança que dirige Brasília.

6. Por fim, o PSB clama à sociedade brasileira que rechace a forma desrespeitosa, patética e desqualificada com a qual o Partido dos Trabalhadores está tentando conduzir o debate pré-eleitoral de 2014. O Brasil merece respeito.

Beto Albuquerque
Líder do PSB na Câmara dos Deputados

Fonte: O Estado de S. Paulo

Bate-boca de PT e PSB abre guerra virtual pelo Planalto

Eduardo Campos foi chamado de "tolo" na internet; líder do PSB e até o PSDB respondem com ataque ao PT.

Texto publicado na terça-feira na página oficial do PT no Facebook - no qual o governador Eduardo Campos (PE) é chamado de "tolo" por não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff - causou forte reação do PSB e abriu a guerra virtual da campanha presidencial. O PSDB do senador Aécio Neves entrou na discussão e disse em nota que Campos, ao romper com Dilma, enfrenta a "face covarde do ativismo petista". Líder do PSB na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (RS) afirmou que o PT age como uma "seita fundamentalista" ao atacar o antigo aliado. A nota foi compartilhada na página oficial de Campos no Facebook. O governador afirmou em entrevista que "enquanto os cães ladram, nossa caravana passa". O ataque a Campos faz parte da estratégia da cúpula petista de adotar um tom duro contra os adversários na internet. O material, porém, não passou pelo crivo do Planalto.

PT de Dilma e PSB de Campos abrem guerra virtual na disputa pelo Planalto

Vera Rosa, Daiene Cardoso

BRASÍLIA -Texto publicado na terça feita na página oficial do PT no Facebook no qual o governador de Pernambuco, Eduardo tampos, é chamado de "tolo" por não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff causou uma Forte reação do PSB ontem e Inaugurou a guerra virtual da campanha presidencial deste ano. Até o PSDB do senador Aécio Neves, outro pré-candidato ao Palácio do Planalto, entrou na discussão.

Líder do PSB na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (RS) afirmou em nota oficial que o PT, ao fazer os ataques ao antigo aliado, age como uma "seita fundamentalista" - a nota foi compartilhada na página oficial de Campos no Facebook. "Enquanto os cães ladram, nossa caravana passa. Foram ataques covardes, mas eu sou duro na queda", afirmou o governador pernambucano em entrevista ontem.

Os tucanos pegaram carona, dizendo que Campos, ao romper com Dilma, enfrenta a "face covarde do ativismo petista".

Estratégia. O ataque a Campos faz parte da estratégia que a cúpula petista pretende adotar na campanha: um tom duro com os adversários na internet. Responsável por gerenciar as redes sociais do PT, o primeiro vice-presidente do partido, Alberto Cantalice, aprovou o texto antes de sua divulgação. O material, porém, não passou pelo crivo do Palácio do Planalto.

A ordem entre os auxiliares diretos de Dilma é não esticar a polêmica e manter a política de boa vizinhança com Campos, de quem os petistas esperam receber apoio em caso de um eventual 2.° turno com Aécio. Na prática, porém, as estocadas devem continuar na internet.

Em conversas reservadas, petistas cotados para integrar a Coordenação da campanha de Dilma à reeleição dizem que Campos, provável adversário da presidente, está fazendo uma "tempestade em copo d"água" para popularizar com o PT. "Não temos de caiar crise onde não tem", disse o deputado José Guimarães (CE), líder do PT na Câmara.

Oficialmente, os petistas dizem que o texto que chama Campos de "tolo", "playboy mimado" e político "sem projeto" foi escrito pela equipe do Facebook "não representa a posição oficial do partido". "O problema é a forma do texto que não é do PT tem foi assinado pelo PT. Mas acho que não se deve dar o valor que está se dando", afirmou o Secretário nacional de Organização petista, Florisvaldo Souza.

Dilma orientou ministros do STF a não entrarem nessa discussão, que, no diagnóstico do Planalto, só interessa ao próprio governador. Antes de Campos empregar os dois ministérios que o PSB controlava no governo Dilma (Portos e Integração Nacional), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou convencê-lo a não lançar candidatura agora e esperar a eleição de 2018, quando poderia ter o apoio petista.

"Não faria isso. Temos de ter uma posição respeitosa com aliados e ex-aliados", avaliou o deputado Vicente Paulo da Silva (SP), que assumirá a liderança do PT na Câmara em fevereiro. "Só acho que Campos não teve paciência e pode estar cometendo um grave erro. Ele poderia, sim, ser o nosso candidato em 2018." "Eu fui o antídoto contra esse vírus", contou o líder do PSB na Câmara. "Disse ao governador que não se pode confiar no PT." Na nota divulgada ontem no site do PSB, Albuquerque afirmou que a parcela hoje dominante no PT "transformou-se numa seita fundamentalista que ataca qualquer um (...) que discorde (...) da atual condução política e econômica do País e das velhas práticas políticas que se assistem em Brasília". Para ele, fica evidente o "desespero da direção do PT" diante da candidatura do PSB.

Apoiador de Campos, o presidente do PPS, Roberto Freire (PE), saiu em defesa do novo aliado. Em seu perfil no microblog Twitter, Freire sugeriu que a reação do PT está relacionada às chances do governador na campanha presidencial.

"Será que o PT tem pesquisa interna que mostra Eduardo Campos começando a incomodar a reeleição de Dilma? Daí as patéticas e agressivas notas?", indagou o deputado federal.

Cantalice admitiu que o artigo contra o governador é "fruto da insatisfação" com as críticas feitas por ele às políticas do governo Dilma.

Divisão. Nos bastidores do PT, houve divisão sobre o tom do texto no que se refere às críticas feitas à ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que deve ser vice da chapa liderada por Campos na corrida presidencial. O artigo publicado na página do Facebook petista diz que ela praticou o "adesismo puro e simples" ao ingressar no PSB depois de o Tribunal Superior Eleitoral ter rejeitado a criação da Rede Sustentabilidade, transformando-se em "ovo da serpente" no ninho pernambucano.

Colaboraram João Domingos e Ricardo Galhardo

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB diz que ataques do PT contra Campos mostram ‘face covarde e autoritária’ do partido

Tucanos afirmam que militância do PT é exército especializado em tentar transformar mentira em verdade com ataques nas redes sociais

BRASÍLIA – O PSDB saiu em apoio ao presidente do PSB, Eduardo Campos, e da ex-senadora Marina Silva, nesta quarta-feira, após serem alvo de críticas em artigo publicado no Facebook do PT Nacional ontem, no qual Campos é chamado de “tolo” por deixar aliança com o PT. Na tarde de hoje, a executiva nacional do PSDB afirmou que os ataques do PT contra Campos, provável candidato à Presidência da República, mostram a “face covarde e autoritária” do ativismo petista, e a incapacidade do partido em conviver com adversários e propostas que vão contra o projeto de poder do governo Dilma Rousseff.

O PSDB ainda destacou que agora que passaram à oposição, o PSB e o Rede Sustentabilidade, legenda que está sendo criada por Marina Silva, estão sendo vítimas dos ataques recorrentes empreendidos pelo PT contra seus oponentes.

“Agora na oposição, o governador de Pernambuco e a líder do Rede Sustentabilidade experimentam a face covarde e autoritária do ativismo petista, da qual outros líderes das oposições têm sido vítimas contumazes nas redes sociais: ataques organizados, quase sempre encobertos pelo anonimato de uma suposta militância dedicada a destruir reputações, e que atua como um exército especializado em tentar transformar mentira em verdade e calúnia em informação”, afirmaram os tucanos.

O PSDB ainda diz que os brasileiros esperam a abertura de um novo ambiente político, sem “artimanhas de intolerância” contra opositores.

“Os brasileiros e a democracia brasileira reclamam um novo ambiente político, onde as divergências sejam respeitadas e as artimanhas de intolerância montadas para constranger adversários e impedir o debate democrático sejam desarmadas”, disse a legenda.

No texto publicado ontem, o PT afirma que por “desespero”, Campos mudou sua estratégia, mesmo após ter se beneficiado da aliança que tinha com o PT em anos anteriores e se mostrou “tolo”. “Ao descartar a aliança com o PT e vender a alma à oposição em troca de uma probabilidade distante – a de ser presidente da República –, Campos rifou não apenas sua credibilidade política, mas se mostrou, antes de tudo, um tolo”, afirma o texto. A publicação também classifica a possível candidatura de Campos à Presidência da República como “sem projeto, sem conteúdo e, agora se sabe, sem compostura política”, e diz que ela teria sido estimulada pelos “cães de guarda da mídia”.

O PSB reagiu nesta quarta-feira ao texto publicado ontem na página do Facebook do PT, que trazia críticas ao presidente do partido e possível candidato à Presidência da República, Eduardo Campos. Depois de o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque, rebater os ataques, o próprio Campos afirmou ser “duro na queda” e que não sucumbirá a ataques e afirmações petistas.

Fonte: O Globo

Partido dos Trabalhadores diz que ataque contra Campos foi um “desabafo”

PT diz que ataque foi um "desabafo"

Dirigente nacional petista, Alberto Cantalice crava que nota não reflete posição do partido. Na web, Eduardo Campos responde: "Os cães ladram, a nossa caravana passa"

Mais de 24 horas após a publicação da nota do Partidos dos Trabalhadores em sua página do Facebook, onde classifica o governador-presidenciável Eduardo Campos como "playboy mimado", o tema continua gerando polêmica. Responsável pela gestão de mídias sociais do partido, Alberto Cantalice, negou que o texto representasse um posicionamento oficial da legenda, mas reforçou o tom adotado, segundo ele, por um dos integrantes de sua equipe.

Cantalice chamou o texto de "desabafo" e afirmou que foi uma resposta às "diversas provocações" que o PSB e o governador vêm fazendo no ambiente virtual. "O grupo (que faz a gestão da rede) está insatisfeito com as críticas frequentes que o governador vem fazendo a um governo do qual ele participou por mais de dez anos, entende? Considero legítimo ele (Eduardo) se candidatar, mas não ficar fazendo críticas como se sempre tivesse atuado como oposição", disparou Cantalice, que também é segundo vice-presidente nacional do PT.

O dirigente nacional do PT negou, entretanto, que a publicação refletisse uma posição da Executiva nacional. "Tanto que não foi postado no site do partido", afirmou ele, que disse ter dado aval para a publicação. Mesmo admitindo o tom forte do documento, Cantalice tentou minimizar a repercussão da nota. "Ele (Eduardo) tem feito críticas sistemáticas a nós. Sentimos que precisávamos rebater e saiu esse texto. Não pretendemos retirar do ar ou bloquear. Isso acontece", afirmou o petista. O Palácio do Planalto não aprovou o ataque, mas também não teceu comentários publicamente.

No PSB, a orientação dada pelo governador é colocar "panos mornos" no episódio. As lideranças não devem rebater. Apesar da irritação com a postagem, Eduardo Campos quer reforçar o discurso de que não entrará em brigas.

Em sua página no Facebook, o socialista respondeu ao PT de forma curta e enfática - apesar de no mesmo texto ele mencionar que não se pronunciaria -, classificando a nota petista como "ataque covarde".

"Em respeito às inúmeras pessoas que mandaram mensagens, direi apenas que sigo firme no debate de alto nível sobre o Brasil. O resto a gente ignora. Porque, enquanto os cães ladram, a nossa caravana passa", provocou Eduardo.

Na mesma publicação, o presidenciável compartilhou a resposta oficial do PSB, de autoria do vice-presidente nacional da sigla, o deputado federal Beto Albuquerque (RS). O posicionamento, publicado também no site do partido, avalia a atitude do PT como "desespero" em meio "à discussão democrática do PSB em ter candidato próprio à Presidência da República". A assessoria de imprensa da ex-senadora Marina Silva (PSB) afirmou que ela não se manifestará. Em tom irônico, a nota petista acusa a ex-parlamentar de praticar "adesismo puro e simples" por causa da aliança com o PSB.

PSDB: apoio a Eduardo e Marina
Fora da polêmica protagonizada pelo PT e pelo PSB, a cúpula do PSDB manifestou-se ontem, por meio de nota da sua Executiva nacional, em defesa do governador Eduardo Campos e da ex-senadora Marina Silva. Classificando o Partido dos Trabalhadores de "intolerante", os tucanos se solidalizaram tratando o texto como uma artimanha para constranger os adversários.

"Agora na oposição, o governador de Pernambuco e a líder do Rede Sustentabilidade experimentam a face covarde e autoritária do ativismo petista, da qual outros líderes das oposições têm sido vítimas contumazes, nas redes sociais: ataques organizados, quase sempre encobertos pelo anonimato de uma suposta militância dedicada a destruir reputações, e que atua como um exército especializado em tentar transformar mentira em verdade e calúnia em informação", diz o texto assinado pela Executiva do PSDB.

Desde que Eduardo decidiu-se pela disputa presidencial, vem firmando parcerias com o PSDB nos ataques ao governo e até mesmo em um pacto de não agressão nas disputas de Pernambuco e Minas Gerais, que culminou com o sacrifício de alguns tucanos que vinham atuando numa oposição na Assembleia Legislativa, caso dos deputados estaduais Terezinha Nunes, Daniel Coelho e Betinho Gomes.

No texto, o PSDB afirma que é necessária a criação de um ambiente mais democrático no País. "Os brasileiros e a democracia brasileira reclamam um novo ambiente político, onde as divergências sejam respeitadas e as artimanhas de intolerância montadas para constranger adversários e impedir o debate democrático sejam desarmadas. O PSDB manifesta solidariedade ao presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos, e à ex-senadora Marina Silva por mais essa flagrante demonstração de intolerância do Partido dos Trabalhadores em relação aos seus opositores, o que confirma a incapacidade do partido de conviver com adversários e ideias que se contrapõem ao atual projeto de poder".

Em defesa de Eduardo
Aliado dos petistas, Armando Monteiro (PTB) diz que nota contra governador foi de "mau tom". Luciano Siqueira (PCdoB) minimiza mal-estar. Na web, PPS provoca PT

Aliado dos petistas, o senador Armando Monteiro Neto (PTB) criticou a nota publicada anteontem no perfil oficial do PT no Facebook. De férias na França, o parlamentar afirmou que não leu o texto, mas soube da repercussão por meio dos jornais e classificou a mensagem como "uma coisa de mau tom e nível baixo". Para ele, esta não é a forma correta de fazer o debate político.

Na opinião de Armando Monteiro, no entanto, a publicação não partiu de lideranças petistas. "Só posso imaginar que foi uma obra de alguma figura despreparada para o debate ou alguém que fez para prejudicar o próprio PT, porque isso não serve ao partido", comentou.

No fim do ano passado, sem sinalização de apoio de Eduardo Campos à pré-candidatura a governador de Armando Monteiro, o PTB rompeu a aliança estadual com o PSB. O parlamentar já avisou que estará no palanque de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

Principal liderança do PCdoB - partido integrante da base aliada do governo federal -, o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, preferiu minimizar o teor da nota do PT. Disse que a expectativa da legenda é que a eleição deste ano seja marcada por um debate sobre os problemas do Brasil e não se restrinja a questões pessoais.

"É importante destacar que são dois partidos que fazem parte do mesmo campo de forças. Não podemos permitir que as alianças de caráter eleitoral - uma realidade no Brasil hoje - possam terminar com uma relação política de mais de uma década", ponderou Siqueira.

A publicação foi um "prato cheio" para o presidente nacional do PPS - que integra a oposição ao PT e já anunciou apoio à candidatura de Eduardo Campos a presidente -, o deputado federal Roberto Freire (SP), provocar os petistas. "Será que o PT tem pesquisa interna que mostra Eduardo Campos começando a incomodar a reeleição de Dilma? Daí as patéticas e agressivas notas?", escreveu, no seu perfil no Twitter. Ele classificou a postagem como "arrogante" e uma "demonstração de desespero". (B.S. e G.L.)

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Fim da polarização PT-PSDB marcará ano, diz cientista

Elizabeth Lopes

Neste ano de eleições gerais, onde está em jogo a corrida pelo mais alto cargo público do País, a Presidência da República, o cenário político já começa a se delinear de uma maneira atípica em comparação aos outros de eleições gerais, como os de 2006 e 2010. A tradicional polarização PT e PSDB, por exemplo, deve ser quebrada com o anúncio, esperado para breve, da ex-senadora Marina Silva como vice na chapa encabeçada pelo governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos.

O anúncio deve alavancar a candidatura do socialista e acender o sinal amarelo para o candidato do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves, seu provável adversário na disputa pelo segundo lugar no primeiro turno. A avaliação é do cientista político e professor de administração pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Marco Antonio Carvalho Teixeira.

Além disso, continua Carvalho Teixeira, uma das mais tradicionais bandeiras de campanha da oposição, a da moralidade, já foi explorada exaustivamente no julgamento do mensalão e mesmo que o tema continue em pauta neste ano eleitoral, o impacto não deverá ser tão forte porque os principais personagens do escândalo já estão atrás da grades e a própria oposição terá de lidar com temas como o chamado mensalão mineiro e o cartel de trens em São Paulo.

"Com isso, surge a necessidade de se criar uma nova agenda de debate, o que infelizmente não está ocorrendo. Seria bom que as discussões de campanha levassem em conta a criação de uma agenda, com propostas concretas para o desenvolvimento do País, mas isso infelizmente não está ocorrendo", reitera o professor.

Na sua avaliação, mesmo num cenário atípico, continua o favoritismo da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, a despeito da percepção negativa de alguns agentes econômicos. "Só vamos ter uma noção exata do cenário econômico e os reflexos na campanha, sobretudo na da presidente Dilma, depois da Copa do Mundo de Futebol no País, que começa em junho", destaca Carvalho Teixeira, lembrando que a economia só reflete negativamente em um pleito se mexer na renda da população. Segundo ele, se o governo garantir "dinheiro no bolso e comida na mesa" da população, sobretudo a mais pobre, é um indício de que isso poderá ser traduzido em voto nas urnas.

Fraqueza
A respeito do favoritismo da presidente Dilma na corrida presidencial, o cientista político afirma que isso é fruto mais da fraqueza de seus adversários do que pelos próprios méritos dela. Isso, segundo ele, está baseado na incapacidade de se apresentar projetos novos, de fazer melhor ou de avançar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Alckmin oferece vice ao PSB para segurar aliado

Governador tenta evitar que prevaleça veto de Marina à coligação

Gustavo Uribe

SÃO PAULO — O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sinalizou nesta quarta-feira que, se o PSB apoiar sua candidatura à reeleição, o partido do governador Eduardo Campos terá garantida a vaga de candidato a vice ou de senador na chapa tucana. O aceno de Alckmin, que deve ser formalizado em encontro neste primeiro trimestre com Campos, foi feito em reunião com o vice-presidente do PSB em São Paulo, Jonas Donizete, na capital paulista. A reunião ocorreu dias após a ex-senadora Marina Silva ter vetado a aliança do PSB com o PSDB em São Paulo.

Na reunião desta quarta-feira, o tucano voltou a elogiar a ex-ministra do Meio Ambiente e ressaltou que a candidatura de Campos à sucessão presidencial é importante para o debate eleitoral. Num esforço para acalmar os ânimos dos tucanos de São Paulo, preocupados com o possível desembarque do PSB do projeto da reeleição de Alckmin, Donizete, que também é prefeito de Campinas, afirmou no encontro que a proposta de lançar uma candidatura própria é minoritária no partido. Ele disse que as negociações sobre um possível apoio à reeleição do tucano não foram interrompidas.

Donizete, aliado de Alckmin no interior do estado, foi escalado por Campos para atuar como um dos interlocutores do partido nas negociações em torno de uma possível aliança com o PSDB em São Paulo.

Rede resiste em apoiar PSDB
Segundo tucanos, após a divulgação da resistência de Marina a uma aliança com o PSDB, o prefeito de Campinas telefonou para Alckmin e negou que o PSB tenha decidido romper com o partido em São Paulo. O PSB comanda uma secretaria de estado e tem cargos em estatal. Para o governador de São Paulo, o PSB é um dos aliados mais importantes para a coligação nas eleições deste ano. A ala paulista do PSB, liderada pelo deputado federal Márcio França, quer manter a aliança, mas espera do governador uma proposta concreta sobre o espaço que a sigla teria na coligação.

Na segunda-feira, assim como nesta quarta-feira, o governador de São Paulo fez questão de elogiar publicamente Marina, em um gesto para tentar salvar a aliança com o PSB. Além de São Paulo, a Rede, liderada por Marina e abrigada no PSB, tem demonstrado resistência em apoiar os tucanos em estados como Paraná, Minas Gerais, Piauí, Ceará e Pará.

Em Minas, a direção estadual do PSB, que integra o primeiro escalão do governo do tucano Antonio Anastasia, vinha costurando um acordo em torno de uma candidatura do PSDB. No entanto, a Rede defende um nome próprio. Para evitar uma ruptura, o PSB começou a defender o nome do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, uma alternativa para que as siglas caminhem juntas em âmbito estadual.

Fonte: O Globo

Dilma incentivará candidatura de Crivella ao governo do Rio

Em busca do maior número possível de palanques no estado, presidente quer ter ao seu lado quatro dos cinco primeiros colocados nas pesquisas

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff deve chamar o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, para conversar nas próximas semanas de olho nas eleições de outubro. A disposição do ministro em se lançar ao governo estadual vem sendo vista com bons olhos pela presidente, que quer ter o maior número de palanques possíveis no Rio. Uma sólida vitória de Dilma no estado é fundamental, na avaliação do PT, para garantir a reeleição da presidente, já que a perspectiva é que haja uma redução da vantagem obtida em 2010 no Nordeste e que, ao contrário daquela eleição, ela perca em Minas Gerais. Hoje, o cenário dos sonhos da presidente é ter ao seu lado quatro dos cinco primeiros colocados nas pesquisas: Marcelo Crivella, Anthony Garotinho, Lindbergh Farias e Luiz Fernando Pezão. O quinto candidato é Cesar Maia, do DEM.

O ministro da Pesca já havia inclusive pedido uma conversa com a presidente para tratar do tema e, segundo interlocutores da presidente, receberá a garantia de que seu partido, o PRB continuará comandando a pasta. O nome mais provável é o do brigadeiro Átila Maia, atual secretário-executivo da pasta. Se no Rio o presidente do PT defende que o ministro ocupe o posto de vice de Lindbergh, em Brasília a avaliação é que a união de dois candidatos de perfis tão distintos pode gerar confusão no eleitor. Por isso, a preferência de Dilma neste momento é que o ministro se lance sozinho. A tendência é que Crivella seja assim o quarto ministro a sair do governo para disputar comandos estaduais, acompanhado de Alexandre Padilha (Saúde), Gleisi Hoffmann (Paraná) e Fernando Pimentel (Minas Gerais).

Em relação à saída do PT da gestão de Sérgio Cabral, Dilma continua inclinada a fazer o que for possível para preservar o apoio do PMDB no estado. Por isso, seu objetivo segue sendo manter os petistas na máquina estadual até março, quando Cabral deixará o Palácio Guanabara. Na avaliação da presidente, assim cresceriam as chances de Pezão manter seu apoio a ela, mesmo com o PT tendo candidato.

Indagado sobre a promessa de saída do PT do governo estadual, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) voltou a atacar:

— O PT vem dizendo que vai sair do governo e nunca sai, é a enésima vez que marcam uma data. O PT está parecendo novela mexicana, não ata nem desata. O que o PMDB tem dito é que nós desejamos a manutenção da aliança. Quem deseja romper são setores do PT, e essa decisão só cabe a eles. Eles descobriram que deveriam ter divergência com o governo após sete anos. Data marcada para o PT para a saída e nada é a mesma coisa, já marcaram várias vezes — afirmou.

Fonte: O Globo

Campos começa a articular candidaturas à sua sucessão em PE

Murillo Camarotto

RECIFE - Bombardeado desde o início do ano passado com perguntas sobre as próximas eleições, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), se cansou de repetir: "2014 a gente só discute em 2014". Chegado, enfim, o ano eleitoral, o pernambucano começa a colocar a própria candidatura presidencial na rua e também a definir sua sucessão no Palácio do Campo das Princesas.

Entre os muitos postulantes - sete nomes são cotados, todos do PSB -, o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor apurou que o secretário estadual de Fazenda, Paulo Câmara, saiu na frente na disputa pela indicação de Campos. Seu nome e o do secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, estão sendo submetidos a pesquisas de aceitação comandadas pelo publicitário argentino Diego Brandy, espécie de sombra de Campos.

Ambos têm laços familiares com o governador e jamais disputaram uma eleição, mas de acordo com interlocutores de Campos, o titular da Fazenda tem a preferência. Paulo Câmara, de 41 anos, é casado com uma prima de Campos, enquanto Tadeu Alencar, 50, é primo do governador e leva o sobrenome do avô de Campos, Miguel Arraes de Alencar, morto em 2005.

Formado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco - mesmo curso feito por Campos -, Câmara fez mestrado em gestão pública, é auditor do Tribunal de Contas do Estado e está no governo desde o início da gestão, em 2007. De lá para cá, comandou as secretarias de Administração, Turismo e Fazenda. Seu nome nunca esteve entre os mais falados para a sucessão, mas a idade, o perfil técnico e, principalmente, a confiança do governador o colocaram como favorito.

Confirmada sua candidatura, será repetida a estratégia vencedora nas eleições municipais de 2012, quando Campos apresentou à população o então desconhecido secretário Geraldo Julio (PSB), que jamais havia recebido um voto e foi eleito em primeiro turno para a Prefeitura do Recife.

A eleição de Pernambuco é fundamental para a manutenção da hegemonia política do PSB, principalmente em caso de insucesso de Campos na eleição presidencial - hipótese que está longe de ser desprezada. Apesar do imenso arco de alianças que comanda, Campos é extremamente cuidadoso - e desconfiado - na escolha dos integrantes de seu círculo mais próximo de auxiliares. Por isso, muitas vezes opta por familiares.

Assim, minguam as chances do ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra (PSB), que deixou o cargo a contragosto após o rompimento do PSB com o governo federal, em setembro último. Desde então, ele trabalha para viabilizar sua candidatura a governador, mas, com seu histórico de mudanças de lado na cena política local, deve se contentar com a candidatura ao Senado, para a qual foi barrado em 2010.

A vaga, no entanto, também é desejada pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que após 20 anos de brigas reatou com Campos em 2012. Ainda assim, são pequenas as chances de ele tentar renovar o mandato com apoio do governador. O PMDB deve ficar com a candidatura a vice-governador, provavelmente ocupada pelo deputado federal Raul Henry. Jarbas deve concorrer à Câmara.

Entre os demais postulantes à sucessão de Campos, destaque para o vice-governador João Lyra (PSB), que vai assumir a cadeira e a caneta no dia 2 de abril, data marcada para a desincompatibilização de Campos. Apesar da proximidade e da confiança depositada nele pelo governador, são pequenas as chances de ser Lyra o candidato.

Com bem menos chances, correm por fora os secretários Danilo Cabral (Cidades) e Milton Coelho (Governo). Outro nome comentado é o do ex-deputado petista Maurício Rands, que ameaçou deixar a política, mas voltou pelas mãos de Campos.

O candidato do PSB vai enfrentar nas urnas o senador Armando Monteiro (PTB), que rompeu com o grupo de Campos após perceber que não seria escolhido para encabeçar a sucessão estadual. Ele deve ter apoio do PT e espera contar com o entusiasmo do ex-presidente Lula, que é pernambucano e tem força para tumultuar a disputa, desde que demonstre o afinco para enfrentar Campos que lhe faltou na eleição de 2012, quando apoiou, sem muita energia, o senador Humberto Costa (PT), terceiro colocado na disputa pela Prefeitura do Recife.

Fonte: Valor Econômico

Solidariedade quer a vice de Aécio

Partido fundado no ano passado é o único aliado declarado do presidenciável tucano e sugere dois nomes para ocupar a vice na chapa do mineiro

SÃO PAULO - Único aliado declarado do senador Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial de 2014, o Solidariedade, partido fundado no ano passado e que conta com 23 deputados federais, reivindica a prerrogativa de indicar o candidato a vice na chapa encabeçada pelo tucano. Dois nomes serão apresentados como "sugestão": o deputado federal paranaense Fernando Francischini, líder do Solidariedade na Câmara, e o sindicalista Miguel Torres, presidente da Força Sindical.

"Vamos conversar neste mês com Aécio sobre isso. Esses dois nomes são fortes em duas áreas sensíveis e que serão importantes na campanha: segurança pública e sindicalismo", afirma o deputado Paulo Pereira. Presidente nacional e fundador do Solidariedade, ele comandou a Força Sindical até outubro, quando passou a direção da central para Torres.

Ex-tucano e com uma breve passagem pelo Partido Ecológico Nacional (PEN), Francischini é delegado da Polícia Federal. Apesar da pressão, os tucanos não devem aceitar a "sugestão" do aliado. Segundo dirigentes do PSDB, o critério de escolha do parceiro de chapa de Aécio será "geográfico" e não partidário. Um aliado do senador mineiro afirma que Francischini "está fora de cogitação" e classifica Miguel Torres como "um nome interessante" por agregar a Força Sindical. Mas ressalta que a definição do vice se dará depois das pesquisas de avaliação.

A prioridade dos tucanos é apresentar um vice paulista e o nome mais cotado é o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, que já foi até sondado para a vaga. Uma votação expressiva no Estado é considerada vital para levar Aécio ao segundo turno. Apesar de governado pelo PSDB há 20 anos, São Paulo pode ser um problema para o senador mineiro. Aecistas temem que os correligionários do Estado não se empenhem em seu projeto presidencial. O senador mineiro é acusado de ter feito "corpo mole" em eleições passadas, quando candidatos do Estado - Geraldo Alckmin e José Serra - disputaram a Presidência contra o PT.

A tendência no Estado é que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) forme uma aliança com o PSB, partido do governador Eduardo Campos, provável adversário de Aécio na disputa presidencial.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Irmã de Aécio terá cargo de chefia na campanha

Andrea Neves é chamada para coordenar área de comunicação e organizar convenção que vai oficializar candidatura do senador ao Palácio do Planalto

Pedro Venceslau e Ricardo Chapola

SÃO PAULO - Provável candidato à Presidência em 2014 pelo PSDB, o senador mineiro Aécio Neves escolheu sua irmã, a jornalista Andrea Neves, para coordenar uma das áreas mais sensíveis da campanha: a comunicação. O plano inicial do tucano era que ela deixasse em março a presidência do Serviço Voluntário de Assistência Social, cargo ocupa desde 2003 no governo mineiro, para assumir oficialmente o posto e organizar a convenção do partido que oficializará o nome de Aécio na corrida presidencial.

Em todas eleições disputadas por Aécio desde 2003, Andrea se desicompatibilizou do cargo que ocupava para integrar a equipe do irmão. No governo, tinha atribuições que iam além do cargo na assistência social. Coordenou o Núcleo Gestor de Comunicação Social. Também cuidava da imagem do irmão na mídia.

Sua saída, no entanto, foi antecipada para esta quarta-feira, 8, devido ao estado de saúde de Angela Neves, irmã mais nova da família, que sofreu em outubro uma isquemia cerebral e está em estado grave em um hospital no Rio.

"A entrada dela na campanha é natural pelo currículo na área e pela afinidade que tem com o Aécio", diz o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e um dos mais próximos aliados do senador. Ele explica, ainda, que Andrea terá um papel central na campanha, mas a coordenação geral será feita por um político de "envergadura nacional", provavelmente um senador ou ex-governador.

Os nomes mais lembrados por "aecistas"são o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, que também pode ser candidato a vice-presidente, ou Cássio Cunha Lima, ex-governador da Paraíba. Pestana também é cotado para a vaga.

Ao deixar o governo, Andrea acabou também antecipando o calendário político mineiro. Quem assumiu o comando da Servas foi Célia Pinto Coelho, mulher do vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP), que assumirá o governo em junho.

Com isso, o atual governador, Antonio Anastasia (PSDB), disputará o Senado, e o ex-ministro Pimenta da Veiga deverá concorrer ao governo do Estado.

Marqueteiro. Uma das primeiras tarefas de Andrea Neves na campanha será definir o nome do marqueteiro do tucano. Em dezembro, Aécio rompeu com o publicitário Renato Pereira, que produziu todas as propagandas do PSDB em 2013. O motivo do término da parceria foram as divergências de estratégia que surgiram entre os dois.

Com isso, o nome mais cotado para assumir o núcleo de marketing da campanha passou a ser o do publicitário mineiro Paulo Vasconcelos, que coordenou diversas campanhas do PSDB em Minas Gerais e conta com a inteira confiança do senador mineiro.

Antes de Vasconcelos, o senador Aécio Neves chegou a sondar o publicitário Nizan Guanaes. A ideia, no entanto, não teria avançado, segundo aliados do senador, devido ao estilo centralizador do marqueteiro, que fez as campanhas de José Serra em 2002 e de Fernando Henrique Cardoso em 1998.

O formato da comunicação da campanha tucana em 2014 será inédito. Em vez de deixar um publicitário tomar todas as decisões solitariamente, será instituído um conselho de comunicação, que deve ser comandado por Andrea Neves. De acordo com dirigentes tucanos, o modelo verticalizado e personalizado da condução do marketing eleitoral está esgotado e não é o mais saudável.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Moderação em xeque - Merval Pereira

A causa dos "moderados" na Malásia, movimento pára-governamental que pretende dar conteúdo político ao novo governo do primeiro-ministro Najib Razak, transformando-o em porta-voz da modernidade na região, está sendo contestada pelos fatores locais, o que provocou ontem, na primeira sessão do seminário da Academia da Latinidade aqui em Kuala Lumpur, uma grande discussão.

A começar pelo próprio staff do primeiro-ministro, que tem contestadores contra o projeto de "1 Malásia", a grande propaganda política governamental. O país se compõe de três etnias principais: Malaios (+/- 50%), Chinesa (30%) e Hindu (15%). De forma geral, estas três etnias tem papéis muito distintos na sociedade: Os malaios são funcionários públicos, os chineses se dedicam a negócios privados e os hindus são os prestadores de serviços (advogados, médicos, etc.).

A lei do país não permite que outra etnia que não os Malaios (muçulmanos) exerça o funcionalismo público. Também não permite que mulheres Malaias casem com não muçulmanos ou não malaios. A miscigenação é quase inexistente no pais. Dificilmente uma sociedade como essa poderia ser definida como exemplo de "multiculturalismo".

É verdade que esse movimento de moderados, liderado pela Fundação do Movimento Global de Moderados, uma instituição privada ligada ao partido governista, existe justamente para ajudar o governo como movimento da sociedade civil a superar esses obstáculos de segregação e de descriminação.

Os malaios são a maioria, mas os chineses dominam a economia. Foram criadas várias cotas para os malaios que deveriam se encerrar quando eles atingissem o controle de no mínimo de 30% da economia, o que por estatísticas privadas já acontece. As cotas no entanto permanecem, pois os números oficiais indicam que ainda não foi atingido o índice desejado.

A Constituição da Malásia estabelece que todo cidadão que nasce aqui é muçulmano, e portanto as cotas estabelecem um domínio da máquina pública pela etnia malaia. Há um movimento para que essa definição seja retirada da Constituição justamente para promover a igualdade entre as etnias, mas até agora foi uma esforço infrutífero.

No momento, há uma grande discussão pública entre os muçulmanos e os cristãos, que são minoria no país, sobre o uso do nome de Alá. Os muçulmanos radicais querem proibir que a Bíblia cristã se refira a Deus com o nome de Alá, alegando que isso causa confusão entre as religiões, enquanto os cristãos demonstram que o uso é histórico e não poderia ser proibido.

A disputa está levando a ações da parte do governo que resiste à moderação, com o uso de instrumentos da burocracia para criar dificuldades para a Sociedade Bíblica da Malásia. A discussão pública coloca em confronto os muçulmanos moderados, que querem modernizar a visão das políticas públicas e os radicais que estão representados no governo.

Enquanto não superam essas questões internas, o governo, com o auxílio dos moderados da sociedade civil, continua vendendo a tese da moderação como diferencial para a Malásia na região asiática. Coube ao professor Shamsul A. B. diretor do Instituto de estudos Étnicos da Universidade Nacional da Malásia, explicar a experiência bem sucedida da moderação na Malásia. Para ele, desde maio de 1969, quando aconteceu o último conflito étnico com muitas mortes, os malaios se convenceram de que a a violência não poderia ser uma opção, e mais de quatro décadas depois está constatado que durante esse período de paz a qualidade de vida melhorou para todos, houve uma grande redução da pobreza, que hoje está em cerca de 5% da população.

O Secretário de Estado dos estados Unidos, John Kerry, afirmou recentemente que a Malásia é um país "moderno, inovativo, e modelo de diversidade religiosa para o mundo". Para Shamsul A. B. o segredo pode ser definido pela sigla BN, que é a mesma do partido majoritário Barisan Nasional (Frente Nacional) mas corresponde a duas palavras: Barganha (no bom sentido de troca) e Negociação.

Fonte: O Globo

Ouro de tolo - Dora Kramer

A ofensiva do PT contra o governador e provável candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, mostra que o partido não compartilha da tese de que a presidente Dilma Rousseff esteja virtualmente reeleita.

Dá sinal de que não considera de fato, como diz a todo instante, que a candidatura de Campos esteja destinada a se desmontar nas divergências com o grupo de Marina Silva, no pouco tempo de televisão e na dificuldade de montar bons palanques regionais.

Se não, por que nessa altura o PT publicaria um artigo em sua página no Facebook chamando o governador de tolo, traidor e oportunista por ter se beneficiado da aliança com o ex-presidente Lula da Silva para se projetar nacionalmente?

Um ataque aparentemente algo gratuito e evidentemente descolado da realidade. Eduardo Campos não é um tolo. Se na concepção do PT o é, fica a dúvida sobre a razão pela qual o partido insistiu tanto em que ele continuasse aliado ao governo federal com a promessa de que teria apoio dos petistas para concorrer a presidente em 2018.

Exatamente por não ser tolo é que recebeu a proposta com dois pés atrás e uma indagação: "Se ainda tem gente aguardando o cumprimento de acordos de 2002, vou confiar em acertos para 2018?".

No quesito traição não conviria o PT se estender, pois foi o partido quem rompeu o acerto feito com o PSB para a eleição para a prefeitura do Recife, lançando o nome de Humberto Costa (contrariamente ao que havia sido combinado entre Lula e Campos) e levando o governador a bancar uma candidatura própria.

Venceu, resolveu buscar caminho independente e o que isso tem de extraordinário? Foi se afastando da unidade de oposição debaixo do guarda-chuva do então MDB que o PT fez carreira e chegou à Presidência. Todas as forças políticas têm o mesmo direito, pois não?

O episódio da prefeitura do Recife remete à questão da projeção nacional e à acusação de oportunismo. O governador de Pernambuco só começou a construir um nome nacional a partir de seu distanciamento do PT. Portanto, se benefício houve, não foi devido à aliança, mas à ruptura.

Maranhão. Roseana Sarney, governadora, herdeira e figura de ponta da oligarquia maranhense que tantas fez em suas décadas de dominação em prol da deterioração do Estado de menor renda per capita e alguns dos piores indicadores sociais do País e agora ocupando as manchetes por causa da violência nos presídios, já encantou boa parte do Brasil.

Essas coisas são boas de lembrar a fim de que não se perca a memória do mau passo. No caso, não chegou a se concretizar, mas chegou a se delinear a partir de setembro de 2001, quando Roseana (à época governadora reeleita) apareceu com 12% nas pesquisas de intenção de votos para a eleição de 2002, subiu para 16% em novembro, 19% em dezembro, 21% em janeiro e em fevereiro emparelhou com Lula com 23% contra 26% do petista.

Pré-candidata do PFL, Roseana chegou a se posicionar como a possível estrela daquela eleição. Principalmente entre o eleitorado feminino, que chegou a lhe dar índice de 61%. Era vista na imprensa como "fenômeno" e apresentada na propaganda do partido como exemplo de competência e renovação dos quadros na política.

Ela foi obrigada a desistir da candidatura em abril, quando a Polícia Federal encontrou R$ 1,34 milhão na empresa Lunus Participações, na qual Roseana era sócia do marido, Jorge Murad. O dinheiro foi posteriormente devolvido, mas sua origem nunca explicada.

Casa de louça. Se uma Marina Silva como candidata a vice já incomoda muita gente, um Joaquim Barbosa incomodaria muito mais.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Quem vai pagar a conta das eleições - Cristian Klein

Saída deverá empurrar o custo para o Estado

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que pode pôr fim ao financiamento de empresas às campanhas eleitorais é o que mais se aproxima de uma reforma política radical, desde que clamores mais fortes por mudanças surgiram há cerca de 20 anos.

Os ministros do Supremo começaram a botar a mão num vespeiro. Mas, pelo discurso dos magistrados, eles parecem encarar a tarefa como se fossem doutores completamente seguros de como fazer a operação num paciente cujos sintomas são, há tempos, associados a uma espécie de doença crônica.

No entanto, nem o colegiado do STF é especialista na matéria, nem o sistema político está decrépito como muitos insistem em diagnosticar.

Quatro dos 11 ministros da Corte já votaram a favor da proibição. O julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) deve ser retomado neste semestre. A tendência é que o Supremo dê um prazo para que o Congresso mude as regras em 24 meses.

Os magistrados querem derrubar o modelo baseado majoritariamente em doações de empresas, mas não sabem o que colocar no lugar.

A consequência, contudo, é previsível. Como o Brasil - e a maioria das democracias no mundo, à exceção da americana - não tem a cultura de doações de campanha pulverizadas feitas pelos cidadãos, a saída deverá ser empurrar a conta para o Estado - ou seja, para o contribuinte - por meio de um grande fundo que banque as eleições.

Uma das soluções pregadas por entidades como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e a OAB é estimular as doações de pessoas físicas - no limite de um salário mínimo. É muito pouco. Dada a desconfiança da população em relação aos partidos políticos, o montante que pode ser daí amealhado não arcará nem com o custo de campanhas franciscanas.

Democracia de massa requer dinheiro. O eleitor já está acostumado a um padrão de qualidade de propagandas eleitorais bem produzidas, que não destoam muito, na técnica, do restante da programação de rádio e TV onde são veiculadas. Se, mesmo assim, a atenção dispensada aos programas eleitorais geralmente está aquém à da audiência das emissoras, o panorama que se desenha será, na verdade, de um estímulo ao alheamento do cidadão ao processo eleitoral - com campanhas modorrentas - ou ao financiamento por baixo dos panos - o caixa dois, que tende a se proliferar.

Para evitar esse cenário é que restará ao Congresso poucas opções a não ser criar um grande fundo estatal para bancar as campanhas. Não será o financiamento exclusivamente público - tal como defendido por alguns partidos, PT à frente - já que poderá estar combinado com as contribuições de pessoas físicas. Mas a busca por estabilidade levará os políticos a confiar mais nos recursos de um fundo com dotação orçamentária prevista e polpuda do que em parcas doações de simpatizantes.

Numa demonstração de como o problema é mais complexo do que vem sendo tratado pelo Supremo, a criação do fundo, por sua vez, exigirá critérios de distribuição. A lógica é que, pela tradição eleitoral, os partidos maiores fiquem com as maiores fatias - o que distorcerá o ideal da igualdade de condições de disputa, no qual se baseiam os argumentos contra o suposto desequilíbrio promovido pelo poder econômico das empresas a favor de determinados partidos e candidatos. Do outro lado, siglas menores ficarão com um butim pequeno, mas suficientemente vultoso a ponto de despertar as frequentes críticas de que dinheiro público está caindo nas mãos de donos de legendas de aluguel.

Com isso, o sistema fica mais fechado e mais propenso ao descontentamento da população. Sem contar a alta probabilidade de que o caixa dois se estabeleça em níveis mais elevados.

Objeções de outra natureza são feitas por profundos conhecedores - embora não desinteressados da luta política - das engrenagens do financiamento eleitoral. Um deles, que prefere o anonimato, chama a atenção para o fato de que a decisão do Supremo pode gerar um desequilíbrio, ao tirar uma das pernas do sistema político. Para esta fonte, a legislação eleitoral - como qualquer lei - é resultado de uma correlação de forças, de uma composição de interesses. Prevê benefícios para alguns grupos mas tem, no geral, um equilíbrio. E permitiria, na prática, pela falta de fiscalização, que segmentos da sociedade, como sindicatos e igrejas, exerçam influência eleitoral.

"A lei cria uma série de privilégios para vários grupos e teoricamente esses privilégios se equilibram razoavelmente. Na hora em que você tira uma das pernas desse equilíbrio, você está fazendo uma lei que, sob pretexto de tirar um privilégio, você acaba beneficiando um grupo. Claramente, beneficia o governo e o PT", aponta.

O interlocutor afirma que é ilusão acreditar que o empresariado abrirá mão de exercer sua influência sobre o processo eleitoral. "O poder econômico é um poder. Já viu um poder abrir mão de seu poder? Você acha que existe algum setor da sociedade que abra mão de seu direito de influenciar a eleição? Querer regular isso é besteira", diz.

Tampar à força esse poder, cogita a fonte, poderá levar à invenção de novas formas de participação dos empresários. Um grupo deles, por exemplo, poderá se reunir para fazer um jornal de distribuição gratuita pelo qual pode liquidar um candidato ou eleger outro, "com a maior cara de pau". Seria uma alternativa à proibição, afirma, ao lado do caixa dois, expediente largamente utilizado, lembra, na maior democracia que proíbe o financiamento privado.

"Me diz o último presidente francês que não foi acusado de caixa dois? Todos foram", destaca.

Para o interlocutor, no entanto, a ideia de que as doações de empresas são decisivas em determinar vitórias eleitorais não passa de um mito. "Não tem financiamento que vá torcer o resultado da eleição. Mesmo para a Presidência, o candidato passa a ter mais doações porque já tem vento a favor e vai ser o ganhador", argumenta.

Fonte: Valor Econômico

Afinidades eletivas ou eleitorais - Michel Zaidan Filho

Depois de consumada a aliança com a irmã Marina, a declaração de apoio do PDT local e da banda podre do PMDB local, chegou a hora do PSDB local. Pelo visto em Pernambuco, vamos ter uma campanha "sui generis": a nivel nacional, os partidos vão apoiar a Presidenta Dilma (por conta dos cargos); mas a nivel regional ficam com a candidatura do governador (também por cargos). Afinidades políticas ou fisiológicas?

O Brasil é um país grande e desigual. Sua estrutura federativa é assimétrica e multicultural. Uma lei como a verticalização das coligações deveria corrigir esses disparates, onde partidos que estão juntos na esfera federal, estão separados na estadual e municipal. No entanto, O caráter de uma federação anômala e competitiva como a nossa estimula os partidos e os políticos a fazerem todo tipo de aliança e coligação, cujo objetivo é meramente eleitoral.

No caso da aliança do PSB com o PSDB, não deveria haver muita surpresa. O governador de Pernambuco nunca escondeu sua admiração pelo candidato do PSDB, Aécio Neves. Chegou - inclusive - a importar um grande assessor do ex-governador mineiro para "dar um choque de gestão" em seu secretariado. E inquirido àquela época o porquê daquela aproximação, respondeu o mandatário pernambucano que o motivo eram os altos índices de aprovação da gestão do político mineiro. Sem dúvidas, há muito mais afinidades entre ele e Aécio, do que entre ele e Dilma. Além de que ambos disputam a mesma coisa: o lugar de Dilma. A diferença é que o neto de Arraes foi governista até pouco tempo atrás. Sua saída despertou muitas dúvidas e críticas de oportunismo etc. Enquanto o ex-governador mineiro sempre foi uma oposição ao PT.

Na verdade, essa aliança com o PSDB, com Marina, com um pedaço do PMDB e o PPS tem tudo para ser uma aliança pragmática, com os olhos voltados para a conquista do cargo. Uma vez atingidos os objetivos eleitorais, faz-se sem nenhum pudor o loteamento da administração pública federal, como aliás foi feito aqui em Pernambuco com os partidos aliados. O que menos importa é a convergência doutrinária ou ideológica, porque disso a eleição não se ocupa.

Como dizia um vereador do PSDB de carteirinha: política e eleição nada tem a ver. Ele mesmo profundamente incomodado agora com essa aproximação do seu partido com o governo do Estado. É uma pena. Precisamos de uma oposição séria, consequente e de princípios.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

A hora e a vez da imprensa apartidária - Eugênio Bucci*

Com a aproximação das eleições, ganha estridência o embate polarizado entre os cabos eleitorais de uns e outros. Nada mais natural, nada mais previsível - e nada mais medíocre. Quando rótulos ideológicos se convertem em xingamentos, a escalada de ofensas não apenas não esclarece coisa nenhuma, como agrava a confusão geral, além de incentivar a idolatria dos salvadores da Pátria e o irracionalismo ensandecido. É num ambiente assim, pautado por fanatismos - às vezes forjados, outras vezes sinceros -, que autoridades condenadas por crimes de corrupção podem ser endeusadas como se fossem figuras heroicas (o que se vê nas franjas da candidatura de Dilma Rousseff) e que notórios coletores de propinas são rifados como se nunca tivessem feito parte da agremiação (postura mais ou menos endêmica nas hostes tucanas).

A guerra eleitoral tem disso, sempre teve disso, mas, convenhamos, onde a polarização desembestada dá as cartas, fenece a utopia iluminista segundo a qual o livre debate de ideias seria capaz de gerar a luz, a razão e a verdade. Entregues aos cabos eleitorais e às propagandas partidárias, as eleições não passariam jamais de uma luta de morte entre mentiras descomunais, dotadas de efeitos especiais, ainda que eventualmente motivadas por boas intenções. Se as eleições são melhores do que isso - e elas têm sido -, o mérito é, ao menos em parte, da imprensa.

Por não ter parte com a lógica interna dos partidos, a imprensa deveria ser capaz de convidar o eleitor a pôr os pés no chão e avaliar a procedência de cada um dos argumentos, a viabilidade de cada proposta, a sustentabilidade de cada estratégia, ajudando a sociedade a separar as pirotecnias verbais das ações realmente possíveis para um mandato no Poder Executivo. Onde as candidaturas procuram beneficiar-se das paixões, do encantamento e da devoção - emoções naturais, repita-se, nas disputas democráticas - a imprensa cumpriria o seu papel se procurasse iluminar o que há de factível nos sonhos bons e nas bravatas perversas. 

Enquanto os candidatos tendem a inflar em si mesmos e nos seus seguidores a capacidade de mudar o mundo, ou, pelo menos, o País, os jornalistas deveriam ocupar-se de alertar o público para as inviabilidades e para os méritos das conclamações eleitoreiras. Se o candidato - tomemos o exemplo de Barack Obama - pode legitimamente embarcar no slogan "Yes, we can", a imprensa deveria levantar a mão, na hora, e perguntar: mas com que dinheiro? Com que legislação? Com que servidores públicos?

Numa eleição como a que se aproxima, podemos experimentar diretamente o valor de uma redação verdadeiramente apartidária. O serviço público que ela pode prestar é, numa palavra, inestimável. A pergunta, então, passa a ser a seguinte: a imprensa brasileira está à altura desse dever institucional? Ela é apartidária? Ou melhor, existem núcleos de fato independentes dentro da vasta instituição da imprensa no Brasil? E esses núcleos conseguem imprimir, inspirar e liderar os padrões de qualidade do debate público, exigindo dos postulantes a cargos eletivos um ordenamento de propostas factível e verificável?

As respostas para isso estão em aberto. Os principais órgãos informativos do Brasil terão de provar, agora, em 2014, que são dignos da função que a democracia lhes reserva. E não será fácil provar. Se você quiser alguns indicadores para saber se a prova está sendo feita (ou não), aí vão eles:

A cobertura do julgamento do mensalão tucano terá de ser tão detalhista e obstinada como foi a do mensalão do PT.

A separação entre as páginas de opinião e as páginas de reportagens factuais terá de ser administrada com um zelo paranoico.

A origem de recursos de cada projeto de cada programa de governo deverá ser verificada no nível do centavo, uma vez por semana (no mínimo).

O espaço (objetivo) e a ênfase (que envolve elementos valorativos) dados a cada candidato majoritário deverão obedecer a critérios de proporcionalidade claros, públicos e verificáveis.

A propósito: qual o plano de cobertura eleitoral de cada veículo jornalístico? Você conhece? Quais as perguntas centrais para cada um? Como você, eleitor, poderá comparar as declarações entre os vários candidatos sobre os mesmos tópicos? Como você poderá verificar de que forma os interesses dos principais doadores se refletem nas propostas de cada candidatura?

O ano de 2014 se abre como um desafio do tamanho do mundo para a imprensa brasileira. Os veículos que se renderem ao comodismo de atuar como panfletos apontados contra os inimigos dos amigos verão a sua credibilidade minguar ainda mais. Os que insistirem em recusar o pluralismo e em contrabandear opinião (e preconceitos) sob o disfarce de informação objetiva perderão terreno e perderão lugar - e isso não no futuro longínquo, mas no ano que vem. Os que acreditam que ainda podem adotar dois pesos e duas medidas sem que ninguém perceba ficarão falando sozinhos. Hoje as pessoas do público sabem tanto quanto o jornalista. Estão vendo tudo.

Os reizinhos da imprensa estão nus, ridiculamente nus. A cada dia mais, o que separa o jornalista profissional do cidadão genérico não é mais a quantidade de informação que o primeiro guarda sem que o segundo saiba. O que distingue o jornalista, atualmente, é a capacidade - e o dever - de lançar perguntas a partir de um ponto de vista independente, que não se deixa inibir pela agenda posta pelos partidos. O público vai rechaçar, cada vez mais, os renitentes que procuram, por meio de subterfúgios e campanhas difamatórias, direcionar indevidamente a formação da opinião pública, para entregar vantagens impróprias aos amigos.

O desafio está posto. Está aí, na cara de todos nós. Haverá quem finja que ele não existe. Esperemos que alguns, pelo menos alguns, tenham a lucidez de enfrentá-lo com boa-fé e desprendimento.

*Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP e da ESPM.

Fonte: O Estado de S. Paulo