terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Vinicius Torres Freire - A economia de Dilma 1 no desmanche

• Futuro ministro da Fazenda revoga política econômica de 2011-2014 em dia de anúncio de deficit público

- Folha de S. Paulo

No mesmo dia em que o governo federal anunciou o resultado mais desastroso do seu balanço de receitas e despesas em cerca de 20 anos, o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vinha a público insinuar o desmonte integral das políticas que produziram a calamidade. Foi em uma entrevista publicada nesta segunda (29) no jornal "Valor".

Ato contínuo, o governo federal divulgou medidas a fim de cortar exageros de gastos com seguro-desemprego no país do pleno emprego. O que mais virá?

Levy ainda discorre em termos genéricos, quando não teóricos, mas depreende-se o seguinte.

Primeiro, a virada na economia mundial torna ainda mais premente um programa que eleve a poupança doméstica (o Brasil gasta demais "lá fora", tem deficit externo excessivo para uma situação em que pode nos faltar financiamento e em que vai mal o preço dos nossos produtos principais de exportação).

Isso implica o já anunciado plano de aumento de poupança do governo (superavit primário), aperto no crédito dos bancos públicos e no consumo e outras medidas que contribuam para a desvalorização do real.

Segundo, o plano de contenção do crédito dos bancos públicos junta a fome com a vontade de comer.

Dada a necessidade de conter o aumento da dívida pública, não haveria de qualquer modo dinheiro adicional para os bancos públicos, sem o qual tais instituições não podem conceder mais crédito. Mas seria conveniente frear os bancos públicos também a fim de dar um tranco no consumo.

Em 2014, o crédito, o total dos empréstimos, terá crescido apenas devido à banca estatal.

Por fim, o plano parece ser o de dar fim não apenas ao inchaço dos bancos públicos e da estatização de parte do crédito como mudar o padrão de financiamento das empresas, de privatizar o crédito de longo prazo, e de retirar o peso que o crédito público barato joga na política monetária.

Terceiro, há preocupação em tomar medidas (ou de remover empecilhos) a fim de contribuir para a desvalorização do real, para o que já contribuiria o tranco no consumo de governo e famílias. Mas o que mais virá? Passada a turbulência global que deve ocorrer em meados de 2015, o BC vai deixar murchar seu programa de intervenção no câmbio?

Quarto, pretende-se reduzir as barreiras ao comércio exterior. Quais, como e quando? Por meio de programas de abertura seletiva, impondo mais competição a alguns setores desde já? Ou também por meio de acordos comerciais, que levariam tempo, pois o Brasil jogou tudo isso no lixo, na última década?

Um real mais desvalorizado pode contribuir para reduzir resistências a mais abertura. Há setores da indústria que não se interessam mais por protecionismo. Ainda assim, depois de anos de razia, o que se vai dizer à indústria, em particular à mais entrincheirada nas proteções (do BNDES às tarifas)?

Quinto, o superavit primário maior compreende um plano de corte de subsídios. Quais? O governo subsidia empresas por meio de empréstimos baratos, os quais promete encolher e que já começaram a encarecer. Há subsídios diretos e indiretos à conta da eletricidade, que, parece, vão ser cortados. Mas há subsídios também no Minha Casa, Minha Vida, por exemplo.

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