segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ministério encrencado

• Sustentada por uma base política fragmentada e pressionada pelas denúncias na Petrobras, Dilma não consegue conciliar todos os interesses partidários para, enfim, anunciar sua nova equipe

Josie Jeronimo - IstoÉ

O atraso na definição da nova equipe ministerial é um sintoma da dificuldade que a presidente Dilma Rousseff tem para harmonizar uma composição de nove partidos. E os contratempos são tantos que Dilma não resistiu a uma inconfidência. Em conversa com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner – em áudio que escapou nos microfones de jornalistas que cobriam a 47ª reunião da cúpula do Mercosul –, ela resumiu seus embaraços na reforma ministerial. "Estou formando. É muito difícil, muito difícil. Você não sabe no Brasil como é difícil." A coalizão presidencial à brasileira supera a tradição das composições partidárias comuns em outros países. Dilma tem 39 ministérios, dezenas de autarquias, agências e empresas de economia mista para distribuir, mas, mesmo com tanto espaço, a acomodação dos aliados continua sendo um grande problema.

Nos últimos dias, a dificuldade tem sido debelar as insatisfações no PT. Dilma decidiu reduzir a cota do PT para conquistar o apoio dos aliados de uma maneira mais sólida num momento em que precisa estar fortalecida politicamente, por causa das denúncias envolvendo a Petrobras. A provável ascensão ao primeiro escalão de Kátia Abreu (PMDB-TO) e Gilberto Kassab (PSD-SP) reflete esse novo cenário. Mas o xadrez permanece intrincado. O PMDB quer ter prioridade na escolha de cinco ministérios. A dificuldade de Dilma é conciliar os cinco postos com as preferências do partido e as subdivisões da legenda. Embora seja filiada ao PMDB, Kátia Abreu não é considerada da cota do partido. Confirmada, será considerada uma "ministra de Dilma".

A presidente ainda precisa contornar as diferenças regionais entre partidos aliados. O Estado do Ceará pode ganhar dois importantes ministros na nova equipe. Os planos iniciais do governo eram deixar Cid Gomes (PROS) com o Ministério da Educação e o senador Eunício Oliveira (PMDB) com o Ministério da Integração Nacional. Mas Gomes não ficou satisfeito e recusou o convite. O governador do Ceará avalia que a Integração oferece mais dividendos políticos do que a Educação. Até o início de 2014, a cota da Integração pertencia ao PSB. Quando o partido deixou a base do governo para disputar a Presidência, o feudo ficou sem dono. A rejeição de Cid obrigou o governo a rever a programação de distribuição de cargos.

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