quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lula mobiliza partido em defesa da presidente

• Ex-presidente diz que PT é a ‘bola da vez’ por ser alvo preferido da oposição e conclama militância a revidar

Vera Rosa, Daniel Carvalho e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou nesta quarta-feira, 10, o PT a sair da defensiva e ajudar a presidente Dilma Rousseff, que, na sua avaliação, enfrenta uma tentativa de golpe. Na abertura da segunda etapa do 5.º Congresso do PT, em Brasília, Lula disse que o partido é a “bola da vez”, previu tempos difíceis pela frente e afirmou que ninguém deve pensar agora na eleição de 2018.

Lula criticou a elite e os meios de comunicação e pediu aos petistas que não aceitem a pecha de corruptos. “Agora, a bola da vez somos nós”, afirmou ele, ao mencionar o escândalo da Petrobrás, desvendado pela Operação Lava Jato. Sob aplausos, Lula foi irônico ao falar sobre a arrecadação da campanha do PSDB. “Parece que os tucanos arrecadam dinheiro como se fosse Criança Esperança. Não tem empresário.”

A crise na Petrobrás e a necessidade de reação aos ataques também compuseram o cardápio do almoço oferecido por Dilma a Lula, no Palácio da Alvorada, cinco horas antes da abertura do congresso do PT. À mesa também estavam o presidente do PT, Rui Falcão, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o governador da Bahia, Jaques Wagner – cotado para ocupar o Ministério das Comunicações.

Diante de um cenário de turbulências na política e na economia, Lula deu sinais de que terá papel de mais protagonismo no segundo mandato de Dilma. Na passagem por Brasília, ontem, ele se reuniu, pela manhã, com deputados e senadores do PT. Tentou pôr um freio de arrumação na crise e elogiou a nova equipe econômica. Ao ouvir queixas sobre a articulação política do governo, garantiu que tudo vai melhorar, mas cobrou dos correligionários respostas mais duras à ofensiva da oposição.

Mensalão. À noite, na abertura do Congresso do PT, Lula comparou o escândalo na Petrobrás ao mensalão e disse que, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki for analisar a delação premiada, a imprensa já terá condenado o PT. Ao sustentar que a delação premiada foi aperfeiçoada no governo do PT, ele reclamou da interpretação dada às investigações feitas na Lava Jato. “Daqui a pouco vão querer saber a cor e a qualidade do papel higiênico que se usa no Palácio”, afirmou.

Lula admitiu que filiados do PT podem ter cometido erros, mas fez um discurso exaltando o partido e todas as realizações nos quase 12 anos de governo.

Com estocadas na direção do PSDB do senador Aécio Neves, Lula disse que, para os tucanos, a campanha ainda não acabou. “Eles começam a ficar apavorados com a perspectiva de quinto mandato. Mas ninguém tem de pensar em 2018, mas, sim, na posse da Dilma, no dia 1.º de janeiro, e no sinal que ela vai dar do ponto de vista econômico, das políticas sociais, de desenvolvimento, de crescimento”, insistiu o ex-presidente, interrompido pelo coro de “Lula, Lula”, ao citar a eleição de 2018. “Não podemos permitir que os coxinhas ocupem a Avenida Paulista e a gente não mostre a nossa presença”, emendou Falcão, numa alusão aos tucanos.

Apesar do discurso sob medida para animar a plateia, formada por 500 pessoas, Lula admitiu que é preciso “repensar” o partido. Não foi só: comparou o PT a um filho “que cresce e começa a dar problema”. Para ele, no entanto, a sigla que fundou tem mais virtudes do que defeitos. “Eu não sou melhor do que ninguém, mas, se enfiar todos eles um dentro do outro, eles não são mais honestos do que eu.”

Na despedida, Lula pediu que cada correligionário se transforme em “uma Dilma” para defender a presidente e o governo. “Ninguém aguenta uma passeata um dia sim e outro também. Deixem a mulher trabalhar, gente!”, exclamou.

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