quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Costa revela que delatou 35 políticos

'Acontece no Brasil inteiro'

• Paulo Roberto Costa diz que corrupção é generalizada e que, na estatal, há 35 políticos envolvidos

André de Souza e Evandro Éboli – O Globo

BRASÍLIA - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que ficou calado durante seu primeiro depoimento à CPI mista da Petrobras, em setembro, ontem resolveu abandonar o silêncio e contou, em nova sessão, que as irregularidades descobertas na estatal se estendem a todo o Brasil, atingindo obras como rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas. Ele disse que confirmava tudo o que contou no acordo de delação premiada que firmou com a Justiça, acrescentando que citou no processo o nome de dezenas de políticos.

Após o término da sessão, em conversa reservada com o deputado Ênio Bacci (PDT-RS), Paulo Roberto Costa informou que há 35 políticos envolvidos no esquema. Na sessão, ele confirmou também que mandou um e-mail, em 2009, para a então ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma Rousseff, alertando sobre as irregularidades na Petrobras. Funcionário da estatal cobravam propina de empreiteiras para celebrar contratos, e partidos teriam participação no esquema.

A CPI fez ontem uma acareação entre Paulo Roberto Costa e o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró para esclarecer as divergências em depoimentos anteriores feitos pelos executivos. Acusado de irregularidades na Petrobras, Paulo Roberto está colaborando com as investigações. Ele disse estar arrependido de ter participado das fraudes, e que decidiu participar da delação premiada por orientação da família. Isso teria lhe trazido "sossego à alma". À Justiça, ele já havia dito que houve pagamento de propina para que a empresa adquirisse a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Cerveró, por outro lado, sempre negou as irregularidades.

Apoio político para ser diretor
Em sua primeira fala, Paulo Roberto Costa disse que, assim como na primeira vez que foi à CPI mista, em 17 de setembro, permaneceria calado, justamente para não atrapalhar o processo de delação premiada. Segundo ele, todas as dúvidas já haviam sido esclarecidas a Ministério Público, Polícia Federal e Justiça Federal. Mas ressaltou que faria alguns esclarecimentos. Neles, lembrou que assumiu o posto de diretor de Abastecimento 27 anos depois de ter entrado na empresa por concurso público. Nesse período, disse, ocupou postos importante por sua competência técnica, mas destacou que isso não seria suficiente para se tornar diretor.

- Quando chegou a oportunidade de ter uma diretoria da Petrobras, era um sonho meu chegar a diretor, e quem sabe chegar a presidente da companhia. Mas, desde o governo Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma, todos os diretores da Petrobras e diretores de outras empresas, se não tivessem apoio político, não chegavam a diretor - afirmou Paulo Roberto Costa. - Estou extremamente arrependido de ter feito isso (ser diretor). Se tivesse oportunidade de não o fazer, não faria novamente isso. Isso tudo, para tornar minha alma um pouco mais pura, um pouco mais confortável para mim e para minha família, me levou a fazer a delação. Eu passei lá na carceragem em Curitiba seis meses preso. Até que resolvi fazer a delação de tudo o que acontecia na Petrobras, e não só na Petrobras. Isso está no noticiário. O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas. Isso acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar.

Também disse, em várias ocasiões, que confirmava tudo o que disse no processo de delação premiada, mas não quis dar detalhes. Segundo eles, fatos e pessoas envolvidas nas irregularidades serão conhecidos no momento oportuno:

- Tudo que falei lá eu confirmo. Não tem nada lá que eu não confirme. É um instrumento sério, que não pode ser usado de artificio, de mentira, que não pode ser na frente confirmado. Nos mais de 80 depoimentos que fiz, foram mais de duas semanas de delação, o que está lá eu confirmo. Provas existiram e estão sendo colocadas. Falei de fatos, de pessoas. Na época oportuna, virão a conhecimento público.

Um trecho do depoimento dele à Justiça Federal chegou a ser reproduzido na sessão pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Nele, Costa diz que havia pagamento de propinas para Nestor Cerveró e que seu ex-colega de Petrobras era ligado ao PMDB. Cerveró refutou as acusações e disse, ainda, desconhecer irregularidades na empresa.

- Eu posso debitar isso na conta de uma ilação do Paulo. Eu desconheço esse tipo de pagamento - disse Cerveró, acrescentando que alcançou o cargo de diretor por mérito, e não por indicação política.

Os dois ex-diretores concordaram quando trataram das responsabilidades do Conselho de Administração da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena, que causou prejuízos à Petrobras e na qual o Tribunal de Contas da União encontrou irregularidades. O Conselho era presidido pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O TCU decidiu responsabilizar apenas os integrantes da diretoria na época, isentando os conselheiros.

- A responsabilidade pela aquisição de ativos na Petrobras, ativos no Brasil e no exterior, cabe ao Conselho de Administração - afirmou Cerveró.

- A responsabilidade final de aprovar uma compra de um ativo como Pasadena é 100% do Conselho de Administração. A diretoria da Petrobras não tem autonomia para compra de um ativo como Pasadena. Então, eximir o Conselho de Administração a respeito da compra de Pasadena é um erro - concordou Paulo Roberto Costa.

Costa, por duas vezes, disse que estava enojado com o esquema de corrupção na Petrobras do qual fazia parte. Ele usou esse termo pela primeira vez ao se referir ao episódio no qual, em setembro de 2009, enviou um email "diretamente para a ministra da Casa Civil na época" (Dilma), no qual tratava de problemas da estatal com o TCU.

- Nessa época eu estava já enojado desse processo todo - disse.

Cerveró confirmou que sua defesa está sendo paga pela Petrobras, mas de forma indireta, por um seguro que cobre ações dos gestores da empresa:

- A minha defesa está sendo paga pelo seguro, é uma forma indireta. Modelo americano que cobre atos de gestão de diretores e conselheiros. Cobre toda atividade de defesa de gestão desses diretores.

Costa negou que seja tratado pelo ex-presidente Lula como "Paulinho", dizendo que isso é folclore. Ele afirmou que a família está sofrendo e que foi por orientação dela que resolveu colaborar:

- Falavam: por que só você? E os outros? Você vai pagar sozinho?

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