terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Bancoop: vítimas querem investigar suposto benefício a Lula

• Compradores que não receberam apartamentos suspeitam que ex-presidente foi beneficiado por empreiteira

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - Seis associações de vítimas da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) se reunirão hoje à noite para redigir um documento que será enviado ao Ministério Público Estadual (MPE) pedindo que os promotores apurem se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiado pela construtora OAS, que finalizou o edifício Salinas, do Condomínio Solaris, no Guarujá, litoral Sul de São Paulo. O triplex 164-A do ex-presidente nesse edifício ainda está em nome da OAS Empreendimentos S/A, uma das empresas investigadas pela Operação Lava-Jato.

A OAS assumiu, em 2010, as obras do edifício comercializado pela Bancoop a partir de 2006. A OAS começou a finalizar o edifício ainda na gestão de João Vaccari Neto, que era o presidente da Bancoop e hoje é o tesoureiro do PT, também investigado pela Operação Lava-Jato. As obras ficaram prontas no final do ano passado.

Os integrantes das Associações das Vitimas da Bancoop suspeitam que Lula tenha sido favorecido pela empreiteira na reforma do apartamento de três andares, com piscina na cobertura e elevador privativo ligando o 16º ao 18º andar. As reformas terminaram na semana passada.

- Suspeitamos que Lula foi favorecido, pois não são todas as quatro coberturas do edifício que têm elevador privativo. Só a de Lula tem. Queremos saber também quem pagou as reformas no apartamento, se foi o ex-presidente ou se foi a OAS - disse Marcos Migliaccio, conselheiro da associação.

Segundo certidão obtida ontem pelo GLOBO junto ao Cartório de Imóveis do Guarujá, o triplex de Lula, com 297 m2, ainda está em nome da OAS Empreendimentos S/A, com sede na Avenida Angélia, no bairro da Consolação. O Condomínio Solaris começou a ser construído em 2007, com a compra do terreno que pertencia a Lourenço Chohfi, em nome da Bancoop. Mas em 2010, incapacitada de continuar a obra, a Bancoop transferiu o empreendimento para a OAS, que incorporou o imóvel, incluindo o que foi adquirido por Lula e dona Marisa Letícia, sua esposa, ainda na planta. Nessa época, o presidente da Bancoop já era Vaccari Neto.

Quando estava sob gestão da Bancoop, o empreendimento chamava-se Mar Cantábrico, e o apartamento de Lula era um duplex. Quando a OAS assumiu, o duplex foi transformado em triplex e a empreiteira suprimiu o 1º andar, para edificar um lance a mais que levou ao triplex. Tanto que, segundo moradores do edifício, o prédio não tem primeiro andar. Começa no segundo.

Quando Lula transferir o triplex para seu nome, terá que pagar uma taxa de 5% do valor do imóvel chamada de "laudêmio", imposta a quem constrói em áreas da Marinha (todas localizadas à beira mar e a menos de 33 metros da praia).

Em julho de 2010, a OAS deu o imóvel por hipoteca para a Planner Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda, de São Paulo, como garantia de uma dívida de R$ 3,2 milhões. A hipoteca já foi levantada. O dono da Planner, Carlos Arnaldo Borges Souza foi condenado em 1994 por gestão fraudulenta.

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