quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Vinicius Torres Freire - O preço do bode na sala

• Nomeação virtual dos economistas de Dilma 2 melhora o crédito do governo, ao menos por ora

- Folha de S. Paulo

A nomeação virtual do trio que vai dirigir a economia no governo Dilma Rousseff 2 deu um tombo nas taxas de juros de prazo mais longo, cerca de 0,3 a 0,5 ponto percentual, uma enormidade, nas finanças.

Pode-se dizer que esse é o preço dos bodes extras que entraram na sala do Brasil desde outubro. A mera perspectiva de estancar a piora desanuviou o ambiente.

As taxas de juros vinham em alta pelo menos desde setembro. Saltaram no início de novembro e deram piruetas aéreas quando a Polícia Federal prendeu executivos acusados de rolo no Petrolão.

Trata-se aqui dos "juros cobrados do governo", preço exigido pelo investidor ("o mercado") para ser credor do governo, para manter ou comprar um título da dívida pública, custo que obviamente influencia as demais taxas do mercado.

A nomeação do trio econômico indicaria a intenção de Dilma Rousseff de tomar medidas que contenham o aumento irresponsável de deficit e dívida e, assim, o aumento do descrédito do governo.

Aumento do descrédito signifi- ca literalmente alta das taxas de juros. Essa despiora do ambiente fez com que aumentasse o risco de os donos do dinheiro grosso perde- rem um tutu, dadas as apostas vigentes até a semana passada, de juros mais altos. Logo, eles mudaram de posição.

Tudo isso pode se alterar em horas, minutos. Não se trata de dizer que "já começou a melhorar". Ressalte-se: a queda dos juros é apenas o efeito da retirada de uns bodes da sala hiperlotada.

Qualquer que seja a equipe econômica, ela terá de lidar com uma encrenca. Precisa reduzir o buraco das contas públicas, mas não terá meios de fazê-lo rapidamente sem causar desordem contraproducente no governo ou tumulto político.

Não tem meios porque há muito gasto contratado, engessado, irreversível no curto prazo. Porque a receita de impostos vai aumen- tar quase nada, dado o baixo crescimento da economia. Porque aumentar a receita por meio de uma alta grande de impostos é politicamente inviável. Porque parte do ajuste depende do Congresso, o que leva tempo.

Logo, a fim de indicar que vai fazer o acerto das contas, o governo terá de cumprir na risca a meta mesmo modesta de redução do deficit para 2015 e apresentar um plano de quatro anos, com limitação de despesa, como parece ser a intenção dos ministros.

Isso feito, não quer dizer que o Brasil crescerá sem mais, lá por 2017. Isso é uma arrumação elementar das contas públicas. Há outros consertos primários. Por exemplo, arrumar a Petrobras e estatais arrebentadas, situação que deprime investimentos e receita do governo.

Ou lidar com o risco de enguiço das concessões e obras de serviços públicos, por causa do impacto do Petrolão. Ou com o risco sério de falta d"água e de luz, risco que por si só eleva custos.

Além do rudimentar, é preciso de um plano de mudanças institucionais, "reformas", como dizem os "liberais", embora teor, ritmo e sequência das mudanças necessárias a fim de acelerar o crescimento no médio prazo sejam controversos e sujeitos a disputa política razoável (estourar as contas do governo para fazer "tudo pelo social" é apenas bobagem, não é uma opção política).

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