domingo, 12 de outubro de 2014

Luiz Carlos Azedo: O dilema de Dilma

• A candidata petista tenta ganhar tempo ao falar em “tentativa de golpe” e “vazamento de informações” em vez de agir “doa a quem doer” e passar a limpo os malfeitos da Petrobras

Correio Braziliense

Os depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef à Justiça, ambos em regime de delação premiada, assombram o Palácio do Planalto e põem na berlinda a cúpula do PT, em plena campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Por causa do suposto envolvimento do atual tesoureiro da legenda, João Vacari Neto, no esquema de desvio de recursos da Petrobras para a base aliada, que envolveria também o PP e o PMDB. Também foram citados no depoimento o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Renato Duque.

Enquanto o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, cobra explicações da presidente Dilma Rousseff sobre os escândalos envolvendo a Petrobras, a candidata petista reforça o discurso de que as denúncias estão sendo apuradas por seu governo, “doa a quem doer”. Na verdade, bateu um desespero no estado-maior petista, que se fechou em copas. O presidente do PT, Rui Falcão, defende o tesoureiro da legenda, que corre o risco de virar um novo Delúbio Soares, o ex-tesoureiro petista condenado no mensalão.

O comportamento dos acusados na Operação Lava-Jato, porém, foge à lógica de atuação de envolvidos em escândalos como esse, por causa da chamada “delação premiada”, na qual os réus colaboram com a Justiça para receber penas mais leves. Desprezaram o esquema clássico de defesa adotado pelos advogados criminalistas, que se baseia no chamado “Dilema do Prisioneiro”, um problema clássico da Teoria dos Jogos.

O que fazer?
Originalmente formulado por Merrill Flood e Melvin Dresher em 1950, o problema foi aperfeiçoado por Albert W. Tucker, que adicionou o tempo da sentença de prisão ao problema original e deu-lhe o nome pelo qual ficou famoso. Há várias versões, mas o esquema clássico funciona assim: dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia, que não tem provas suficientes para os condenar. Então, separa-os em salas diferentes e oferece a ambos o mesmo acordo:

1- Se um dos prisioneiros confessar (trair o outro) e o outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos.

2- Se ambos ficarem em silêncio (protegerem um ao outro), a polícia só pode condená-los a 1 ano cada um.

3- Se ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva 5 anos de cadeia.

Cada prisioneiro faz a decisão sem saber a escolha do outro — eles não podem conversar. Como o prisioneiro vai reagir? Os prisioneiros não podem combinar a decisão (estão em salas isoladas e sem comunicação) e devem escolher simultaneamente. Cada jogador quer ficar preso o menor tempo possível, ou seja, maximizar seu resultado individual. Qual a melhor decisão? Considerando os incentivos oferecidos, a mais racional é trair.

Trair é uma solução de equilíbrio, já que cada um pegará 5 anos de pena. Se o prisioneiro A mudar unilateralmente para colaborar, sai perdendo (15 anos); o mesmo ocorrendo com o prisioneiro B. A melhor solução no “Dilema dos Prisioneiros”, porém, é ficar em silêncio: cada um cumpriria apenas um ano de prisão. Ou seja, a escolha da melhor solução individual conduz à traição mútua, enquanto que o silêncio, isto é, a solução coletiva, proporcionaria melhores resultados. Foi a estratégia adotada pelos réus do “mensalão”.

No “Dilema dos Prisioneiros”, os incentivos e a racionalidade induzem a um resultado pior porque as pessoas não podem conversar e combinar as ações. Se fizessem acordo prévio, tudo se resolveria, certo? Errado. Isso não é necessariamente verdade. Se um suspeito quer ficar em silêncio, ninguém garante que o seu parceiro fará o mesmo? É o que está acontecendo na Operação Lava-Jato. Daí o dilema posto para a presidente Dilma Rousseff em plena campanha eleitoral.

Qual será a reação dos aliados do PT, do PP e do PMDB que forem jogados ao mar por causa das denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef? Vão seguir a estratégia do “Dilema do Prisioneiro” ou aderir à “delação premiada”? Aparentemente, a candidata petista tenta ganhar tempo ao falar em “tentativa de golpe” e “vazamento de informações” em vez de agir “doa a quem doer” e passar a limpo os malfeitos da Petrobras.

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