terça-feira, 9 de setembro de 2014

Raymundo Costa: Aécio aposta na "terceira onda"

• Há 12 anos fora do governo, PSDB é um partido sob pressão

- Valor Econômico

A campanha de Aécio Neves não quer falar em segundo turno antes de 6 de outubro, dia seguinte à eleição, contrariando aliados de dentro e fora de sua coligação, para os quais o mais sensato, a esta altura da eleição, é pavimentar o caminho para compor com Marina Silva na grande final contra Dilma Rousseff.

Pode-se dizer que parte do Democratas embarcou nesta ideia, apesar do recuo do senador José Agripino (RN), coordenador-geral da campanha de Aécio, em uma declaração que fez nesse sentido há uma semana. Um conhecedor profundo tanto da alma tucana quanto do antigo PFL, diz que o DEM ficou pequeno mas não ficou burro. A ficha do PSDB é que ainda não teria caído, embora os sinais estejam por todas as partes.

O mais escandaloso deles seria a intenção de votos de Aécio Neves em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. Segundo pesquisa Datafolha, o senador tucano está em terceiro lugar em sua terra natal, atrás de Dilma e Marina. Pimenta da Veiga, candidato do PSDB, no momento tem mais intenções de votos para o governo do Estado que Aécio para a Presidência da República. Talvez seja comparar abacate com banana, mas o que se esperava é que Aécio estivesse "puxando" a eleição de Pimenta para o governo.

A campanha de Aécio espera por uma "terceira onda", para usar a expressão do tucano mineiro Marcos Pestana. A primeira teria sido a "onda reeleição da presidente Dilma no primeiro turno"; a segunda, a "comoção" causada pelo acidente aéreo que matou o ex-governador Eduardo Campos, faz um mês no dia 13. A terceira seria a da "razão" entre a continuidade representada por Dilma e a "aventura" que seria a eleição de Marina Silva, uma candidata sem equipe nem maioria para governar, de acordo com o discurso do PSDB.

Em desvantagem, Aécio fez uma inflexão na sua campanha de televisão, sem mudar as pessoas da equipe, e avançou sobre um terreno que os marqueteiros brasileiros, em geral, preferem evitar: o ataque aos adversários. É menos marketing e mais política, como se faz na Argentina. O adversário prioritário é o PT, mas sem perder Marina de vista.

Entende-se, no arraial de Aécio, que essa é uma contradição própria do processo eleitoral em dois turnos. A campanha tucana tem o dever de ressaltar as diferenças entre os candidatos, sem grosseria, para não inviabilizar as conversas no segundo turno eleitoral. Pode ser. Na prática, Aécio subiu o tom do discurso também em relação à candidata do PSB, ao ligar Marina ao PT e ao mensalão.

Para aliados do PSDB, coligados ou não, essa é uma visão míope do processo eleitoral. Essas forças consideram fundamental ganhar do PT, mas também já estão olhando para a composição de um eventual governo do PSB. É evidente que Marina formará sua maioria de governo, em primeiro lugar, com quem estiver com ela no segundo turno. Aécio não precisa abandonar sua candidatura. O que ele não deve fazer, segundo esses aliados, é partir para cima de Marina Silva. O PSDB deve liderar a composição de segundo turno. A campanha de Marina já sinalizou que a escalada dos ataques de Aécio pode prejudicar o entendimento.

O tratamento que o PSDB dará às denúncias de corrupção na Petrobras deve modular o tom da campanha do partido, até a eleição. A primeira reação de Aécio foi chamar as denúncias de "mensalão 2", pois as acusações, ainda sem provas, apontam para a existência de um "condomínio da governabilidade" integrado pelos partidos da base aliada.

O PSDB mais que o PSB - restrito a poucos minutos na televisão - pode fazer uso de seu tempo no horário eleitoral gratuito para fazer a notícia chegar a todos os recantos do país. Notícia que caiu como uma luva no discurso de Marina Silva, num momento em que sua candidatura era atacada pelos dois adversários e dava sinais de desaceleração. Ela não perdeu a oportunidade para botar PT e PSDB no mesmo balaio: "Quero que todos os casos sejam investigados, seja o mensalão na época do Lula, seja o mensalão do PSDB em Minas Gerais, seja este caso lamentável de desmanche da maior empresa brasileira".

Há quase 12 anos longe do governo, o PSDB é um partido sob pressão. Uma nova derrota pode ter repercussão profunda sobre o futuro da sigla, que deve sair da eleição como um partido de médio porte.

O "filhotismo" está em alta nas eleições de 2014, segundo pesquisa do analista político Antonio Augusto Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que identificou quase uma dúzia de candidaturas à Câmara de parentes nos casos em que o titular ou chefe político desiste de concorrer ou disputa um cargo majoritário. "Ao contrário do que se imagina, essa não é uma característica exclusiva de regiões menos desenvolvidas nem de determinados partidos políticos", diz Queiroz.

Os casos mais difundidos são as candidaturas aos governos estaduais dos filhos de Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL) e do ministro Edison Lobão (MA). Mas a lista é bem mais extensa quando se trata de candidatos a deputado federal. No Nordeste, Garibaldi Alves (PMDB-RN), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Wilson Santiago (PTB-PB), lançaram os filhos, enquanto o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e o deputado João Maia (PP-RN), lançaram irmãos, e o deputado Oziel Oliveira (PDT-BA), a mulher.

No Sudeste, Anthony Garotinho (PR-RJ), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Newton Cardoso (PMDB-MG) e Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) lançaram os filhos, assim como os deputado Armando Vergílio (SD-GO) e Maguito Vilella (PMDB-GO), no Centro-Oeste. No Sul, os deputados Vilson Covatti (PP-RS) e João Pizolatti (PP-SC) lançaram seus filhos. No Norte, Marcelo Miranda (PMDB-TO) lançou a mulher, e Arthur Virgílio (PSDB-AM), prefeito de Manaus, o filho, assim como Neudo Campos (PP-RR), candidato ao governo de Roraima.

O número chega à centena, se forem computadas candidaturas às assembleias.

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