quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Em encontro com artistas no Rio, Marina afirma que adversários sofrem ‘síndrome de Estocolmo’

• Ex-ministro de Lula, Gilberto Gil declara apoio a pessebista e canta música de sua autoria feita para a campanha da candidata

Marco Grillo – O Globo

RIO — A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, voltou a elogiar ações realizadas durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula e defendeu novamente a ideia de “governar com os melhores”. Durante o encontro “Mais cultura com Marina”, realizado na noite desta quarta-feira na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Centro do Rio, a ex-senadora demonstrou que vê com naturalidade a ideia de procurar nomes do PT e do PSDB em um eventual governo. Representantes do setor cultural como Marcos Palmeira, Marco Nanini, Jorge Mautner, Charles Gavin, Victor Fasano, Bruno Wainer, Ernesto Neto, Leonel Kaz, Liszt Vieira estiveram no encontro.

— Fernando Henrique foi tutelado pelo PFL. Lula, pelo PMDB. Será que não está na hora de acabar com isso? Estamos vivendo a síndrome de Estocolmo: eles se apaixonaram pelos sequestradores de seus sonhos. Será mais fácil conversar com Lula e Fernando Henrique do que foi conversar com Sarney e Antônio Carlos Magalhães. Já imaginaram o PSDB escalando os melhores para acabar com a inflação e o PT para a distribuição de renda? É uma aliança programática. Não dá para cada um continuar com um pedaço de estado para chamar de seu — disse Marina, que discursou por uma hora.

Sobre suas propostas na área cultural, a candidata propôs método colaborativo na indicação das soluções.

— Investir em meio ambiente e cultura não é custeio, é investimento. Nosso plano de governo foi feito de forma colaborativa por cerca de seis mil pessoas, em cinco seminários regionais e vários seminários temáticos — disse ela aos artistas e intelectuais presentes.

O cantor Gilberto Gil, ministro da Cultura durante o governo Lula, afirmou que apoia Marina porque ela tem visões parecidas com as dele e ficou irritado quando questionado se haveria possibilidade de mudar o voto e escolher Dilma no segundo turno. Gil foi companheiro das duas no governo: Dilma ocupou as pastas de Minas e Energia e Casa Civil, enquanto Marina foi ministra do Meio Ambiente.

— Qual o sentido dessa pergunta? Como vou votar na Marina no primeiro turno e contra ela no segundo? Me responda: tem algum senso? — afirmou Gil, que descartou a possibilidade de assumir cargo em um eventual governo, caso convidado.

Durante o encontro, Gil cantou uma música que fez para a campanha de Marina e que será usada na propaganda eleitoral. O ex-ministro da Cultura contou que a gravação será finalizada na semana que vem. Doze representantes de áreas diversas do setor cultural fizeram breves discursos durante o encontro. Marina defendeu uma maior participação da cultura no orçamento, mas não chegou a citar valores. O presidente da Associação de Servidores do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão ligado ao Ministério da Cultura, disse que o “patrimônio público está se deteriorando”. Segundo André Angulo, “prédios antigos (do governo federal) funcionam precariamente”.

— As politicas culturais correm risco de serem inviabilizadas por causa do baixo orçamento e da falta de servidores — afirmou.

Na letra da música composta por Gil para a campanha da candidata, há especial atenção em pontuar que as diferenças, sobretudo as religiosas, serão respeitadas em um eventual governo de Marina.

"Marina, vou eu, votar na Marina, Marina / Marina, vou eu, sonhar que a Marina vai chegar / Vai chegar para tomar conta da gente, e a gente vai cantar / Com a bênção de Jesus Nazaré e o axé de um Oxalá / Com a fé de todo povo, a razão de todo ateu / Eu que sou eu, ele que é ela / Ela quer você e eu / Marina, vou eu, votar na Marina, Marina / Marina vou eu, sonhar que a Marina vai chegar / Vai chegar com sua pele morena, e o apelo popular / Com recado, com respeito / Comandando, o muçulmano e o judeu / Eu que sou eu, ele que é ela / Ela quer você e eu / Marina, vou eu, votar na Marina, Marina / Marina vou eu, sonhar que a Marina vai chegar"

Ataques de rivais
A ex-senadora ironizou as acusações de que, se eleita, vai interromper a exploração do pré-sal e de que faltaria comida na mesa dos brasileiros caso o Banco Central se torne autônomo, em referência a uma propaganda da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

— Isso não é uma pessoa, é o exterminador do futuro. Contra o marketing selvagem, não existem argumentos. Dizem que a Grande Família (programa de televisão) acabou também por culpa minha — brincou.

A candidata rebateu também as críticas a Neca Setúbal, coordenadora de seu programa de governo:

— Quando foi pra fazer o plano de governo do prefeito (Fernando) Haddad, foi (convidada) como educadora. Quando ela foi chamada para ser secretária de Educação (em São Paulo), foi como educadora. Agora que está comigo, é chamada de banqueira.

Sem citar o nome do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a candidata disse que, quando ela se manifesta sobre o tema, ele “abaixa a cabeça, com vergonha”.

— Sei que o ministro não entende nada de energia — disparou.

Apelo das ruas
A presidenciável disse ainda que acredita que este é o momento em que “as cartas vêm das ruas”, fazendo referência a “Carta ao Povo Brasileiro” escrita por Lula durante a campanha de 2002.

— Teve um presidente da República que se elegeu com base em apelo aos brasileiros: me deixem ganhar a eleição que vou dar continuidade a essa história do Plano Real. Depois, não bastava só gerar riqueza, tinha que distribuí-la, e veio um presidente e fez o apelo: me dê um voto de confiança. Teve que botar no papel. Agora, é a vez das ruas. Foi isso que as manifestações de junho disseram. Nesses 30 dias (de campanha), vi uma coisa fantástica acontecendo no país. Como pode alguém com dois minutos (de televisão) contra alguém com 11, que tem mais de 20 mil cargos só na administração direta? São deputados, senadores, amigos e inimigos históricos, todo mundo junto.

Acompanhada de lideranças que ajudaram na articulação da Rede no país, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou que uma “ação política” impediu o registro do partido a tempo da participação nas eleições deste ano.

— Outros três partidos foram criados ao mesmo tempo, mas com uma diferença: não tinham uma liderança política que já tinha recebido 20 milhões de votos e que estava com 26% das intenções de voto. A média de invalidação de nossas assinaturas era de 20% (nacionalmente). Em Brasilia, onde era nossa maior densidade, tivemos perda de 33% (das assinaturas). Em São Paulo, 35%. Em algumas áreas do ABC paulista chegou a 78%.

A ex-senadora, que lembrou várias vezes de Eduardo Campos mas não citou o PSB durante o discurso, chegou ao local acompanhada do deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ) e do ex-secretário de Cultura de Pernambuco, Sérgio Xavier, ambos articuladores da criação da Rede. O vereador Jefferson Moura (Psol), o deputado federal Miro Teixeira (Pros), ambos integrantes do movimento, participaram do encontro, assim como a deputada estadual Aspásia Camargo (PV).

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