sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Economistas divergem sobre Banco Central

• Analistas ligados a PSDB e PSB apoiam independência, criticada por petista

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - Economistas representantes dos três candidatos mais bem colocados na disputa pela Presidência deram ontem suas receitas para o país voltar a crescer e controlar a inflação. Também discutiram se o Banco Central (BC) deve ter autonomia para impor a política de controle de preços.

Para os economistas responsáveis pelos programas do PSB, de Marina Silva, e do PSDB, de Aécio Neves, o BC deveria ser autônomo e livre de pressões políticas para definir a taxa básica de juros (Selic). Alexandre Rands (da campanha de Marina) contou inclusive que foi colega do presidente do BC, Alexandre Tombini, e o classificou como um ótimo economista, mas que não tomou as decisões corretas.
- É um cara muito competente, mas ele não faz aquilo que sei que ele defenderia, porque tem intervenção do governo federal, da presidente Dilma. Ela grita lá uma coisa, o Tombini tem de responder aqui, tem de se ajustar - atacou Rands.

Petista reage a críticas
Já Márcio Pochmann, da campanha da presidente Dilma, foi em sentido contrário. Disse que o país não tem condições de dar autonomia ao BC.

- O Brasil não tem maturidade democrática. É um retrocesso democrático - afirmou: - É retirar do povo a decisão de como deve atuar o Banco Central.

Pochmann disse ainda que não se pode deixar essas decisões na mão de "tecnocráticos" com "cabeças de planilha". E ainda defendeu a criação de mais bancos públicos. E afirmou que há uma "forte névoa que aliena os analistas". Também culpou a imprensa por não retratar fielmente a situação da economia brasileira.

O economista listou conquistas do governo do PT. Disse que o Brasil é um dos poucos países que conseguiram diminuir pobreza e desigualdade simultaneamente. E que construiu uma base política que negou o neoliberalismo. E, em um recado sobre o risco de Marina ser eleita, alertou que, sem base política, não há como governar a nação.

- Fazer proposta de reformas sem base no Congresso é ventania - disse.

Pochmann afirmou que a definição da equipe econômica será tomada depois das eleições, e não para agradar ao mercado financeiro.

Mansueto Almeida, economista do PSDB, criticou a falta de transparência, a qualidade dos gastos públicos e o atraso do repasse do Tesouro Nacional para Caixa Econômica Federal, com objetivo de maquiar as contas públicas. Disse que o país não tem como ampliar as despesas sociais sem voltar a crescer:

- A gente não tem dinheiro para ter a mesma saúde da Finlândia ou a mesma educação da Inglaterra. Para isso, a gente tem de crescer. Sem crescimento, não dá para gastar com o social - disse Almeida.

Ele ainda atacou a atual política econômica:

- Esse excesso de intervenção não foi feito por maldade, mas a série de incentivos setoriais não trouxe mais crescimento. Não tem mágica.

Já Alexandre Rands criticou a opção do governo federal pelo aumento do consumo interno e disse que a solução para a economia é educação. Ao contrário de Pochmann, Rands fez uma enfática defesa da autonomia do Banco Central:

- A primeira coisa que você tem de fazer para que haja uma intermediação política dos conflitos sociais é uma inflação estritamente controlada. E não resta dúvida de que a autonomia do BC é essencial. Todos os países em que há autonomia do BC têm menos inflação.

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