quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dilma e Marina comparam uma a outra a Collor

• Na TV, petista questiona capacidade de ex-senadora governar; socialista contra-ataca e lembra que tem experiência

Luiz Ernesto Magalhães e Sérgio Roxo – O Globo

RIO E SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Collor de Mello serviu de munição para Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) se atacarem ontem. Foi o PT quem partiu primeiro para a ofensiva. O programa eleitoral gratuito de Dilma na TV chegou a comparar Marina, devido a uma suposta falta de apoio político, com os ex-presidentes Jânio Quadros, que renunciou ao mandato logo no início de seu governo, e Collor, que sofreu o impeachment.

Nos programas de Dilma exibidos à tarde e à noite, um locutor em off questionou a capacidade de Marina de governar e chegou a compará-la a um salvador da pátria. Enquanto isso, apareciam na TV imagens de Jânio Quadros e uma manchete de jornal noticiando o impeachment de Collor, em 1992. No programa, o locutor afirmou: "Duas vezes na nossa História, o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do partido do eu sozinho".

Marina contra-atacou durante a sabatina promovida ontem à tarde pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Questionada sobre o programa da petista, Marina respondeu com ironia e também comparou a petista a Collor.

- A sociedade brasileira me conhece, conhece os valores que eu defendo, a luta que tenho há mais de 30 anos. Comecei como vereadora, fui deputada, fui senadora por 16 anos, ministra do Meio Ambiente. Imagina se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita vereadora fosse eleita presidente do Brasil, aí sim poderia parecer Collor de Mello - afirmou ela, numa referência ao fato de Dilma ter sido eleita presidente da República, em 2010, na primeira eleição que disputou na vida.

O curioso na edição das imagens do programa de TV de Dilma é que, no caso de Jânio Quadros, o ex-presidente aparece inclusive em fotos e tem o nome reproduzido em reportagens de jornais. Em relação a Collor, o recorte de jornal exibido faz menção ao fato de o Congresso Nacional ter aprovado o impeachment na década de 1990, mas nem o nome nem a imagem de Fernando Collor - hoje um senador aliado de Dilma no Congresso - são exibidos.

O locutor prossegue: "Numa democracia, ninguém governa sem partidos. Ninguém governa sozinho. A base de apoio de Marina Silva tem hoje 33 deputados. Sabe de quantos ela precisaria para aprovar um simples projeto de lei? No mínimo 129. E uma emenda constitucional? 308. Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?"

Momentos antes do ataque, são exibidas imagens da presidente no debate de anteontem no SBT questionando Marina sobre a dificuldade que a adversária supostamente teria se fosse eleita sem o apoio de partidos.

"Candidata, sem apoio no Congresso Nacional não é possível assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais", afirmou a presidente no trecho do debate divulgado no programa eleitoral.

Também programa gratuito de TV, Dilma exibiu outras passagem do debate no qual questionava de onde Marina obteria recursos, se eleita, para ampliar investimentos em áreas como Saúde e Educação. A candidata do PT também acusou a ex-senadora de desprezar as reservas do pré-sal como um recurso importante para ampliar os gastos públicos com Educação:

-A senhora diz que vai antecipar 10% do PIB para a Educação. R$ 70 bilhões. Dez por cento da receita bruta para a Saúde: R$ 40 milhões. Passe livre para estudantes: mais R$ 14 bilhões. Mais dinheiro para os municípios: R$ 9 bilhões. E várias outras outras promessas. Todas as suas promessas dão R$ 140 bilhões. Quem governa tem que dizer como vai fazer. Não basta se comprometer ou prometer. O montante prometido pela senhora equivale a quase tudo que se gasta em Saúde e Educação. Não basta dizer que vai fazer um monte de coisas sem dizer de onde vem o dinheiro -disse a presidente.

Pré-sal também foi mencionado
Dilma prossegue falando do pré-sal:

"Jornais têm afirmado que a senhora pretende reduzir a importância do pré-sal. Em seu programa de governo de 242 páginas tem apenas uma linha sobre o pré-sal. E a senhora disse que o petróleo do pré-sal é uma aposta estratégica errada. O pré-sal é um dos maiores patrimônios brasileiros. É o nosso passaporte para o mundo. Explorado para termos uma Educação e Saúde com muito mais qualidade", disse ela no programa eleitoral.

"Ser contra o pré-sal é ser contra o futuro do Brasil", afirma o locutor.

Sobre os outros temas mencionados no programa de Dilma, Marina não deu nenhuma resposta ontem.

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