terça-feira, 2 de setembro de 2014

Campanha de Dilma elege como alvo principal candidata do PSB

• Petistas avaliam que Aécio é "carta fora do baralho" e refazem tática da polarização

Luiza Damé, Simone Iglesias e Fernanda Krakovics- O Globo

BRASÍLIA - A coordenação da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff avalia que a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva (PSB), consolidou-se como sua principal adversária e que Aécio Neves (PSDB) tende a cair ainda mais nas próximas semanas. A polarização entre Dilma e Marina é vista pelos petistas como difícil de ser enfrentada, porque se dá no plano emocional. No caso de Aécio, as diferenças eram mais objetivas e fáceis de serem demarcadas.

- A disputa contra Marina é mais difícil, porque não se dá no plano racional, se dá no plano emocional. Ela junta o voto contra o PT e o voto próprio dela, que vem de três vertentes: o ambiental, o religioso mais evangélico do que católico, e o antipolítico - disse um integrante do comando da campanha.

Análise do programa do PSB
Com o forte sentimento de mudança demonstrado pelos eleitores nas últimas pesquisas de intenção de voto, dirigentes trabalham com a estratégia de tentar colar em Marina a imagem de que ela representa uma aventura e tem posições contraditórias. Os petistas foram instruídos a se debruçar sobre o programa de governo apresentado pelo PSB/Rede na última sexta-feira, um calhamaço de 250 páginas. Nele, afirma um dirigente petista, está o arsenal necessário para desconstruir Marina.

- O programa é fraco, contraditório e muito ruim na parte econômica. A reforma política de Marina é retrógrada, propondo a unificação das eleições, o que tira a visibilidade das eleições municipais, e o voto majoritário para deputado, tirando a importância dos partidos. Ela própria nos deu munição - afirmou esse dirigente.

A campanha à reeleição da presidente Dilma deve declarar hoje ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter arrecadado em torno de R$ 100 milhões até o momento. Há um mês, a receita declarada foi de R$ 10,1 milhões. O montante é o dobro do que foi declarado, em 2010, na segunda prestação de contas parcial da campanha de Dilma: R$ 50,3 milhões em valores atualizados.

Alusão a Jânio e a Collor
O discurso do medo, usado pelo PT no começo da campanha contra o PSDB, mira agora a ex-petista. Na tentativa de estancar o crescimento de Marina, além de questionar que ela seja uma terceira via, o PT se empenha em combater a imagem de que a candidata do PSB seria o "Lula de saias", devido à origem humilde e à trajetória de vida. No último sábado, o vice-presidente do diretório estadual do PT do Rio, Marcelo Sereno, distribuiu, pelo WhatsApp, artigo do jornalista Ricardo Kotscho intitulado: "Marina não é Lula de saias, mas Jânio e Collor". Kotscho foi secretário de Imprensa do governo Lula e declara apoio à reeleição de Dilma.

Programas sob ameaça
""Jânio, Collor e Marina têm um ponto em comum: lançaram-se candidatos com discursos contra a "velha política", à margem dos grandes partidos, prometendo nas campanhas criar um "novo Brasil" e uma "nova política", baseados unicamente em suas vontades e carismas, como se isso fosse possível. Pelos exemplos do passado, sabemos que isso não dá muito certo", escreveu Kotscho.

A campanha pretende propagar a ideia de que Marina acabará com o crédito subsidiado e que inviabilizaria programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os petistas vão enfatizar ainda que Marina vai reduzir a importância do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil na concessão de financiamentos a empresários - grandes e pequenos -, até mesmo diminuindo o crédito agrícola, que se expandiu a partir de 2003, no primeiro ano do governo Lula.

PT teme união de Aécio e PSB
Para o PT, Aécio é considerado "carta fora do baralho" e só conseguirá se recuperar se tiver "uma grande sacada" nas próximas cinco semanas, até a realização do primeiro turno das eleições. Por isso, a orientação da campanha petista é não gastar energia atacando o tucano.

Na avaliação dos petistas, a tendência, a partir da queda de Aécio, é que tucanos "flertem" com a candidatura de Marina o que, eleitoralmente, é uma dificuldade a mais a ser enfrentada pela campanha de Dilma. Naturalmente, disse um dirigente, muitos votos irão migrar para a candidata do PSB.

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