terça-feira, 19 de agosto de 2014

Míriam Leitão: Erros do mercado

- O Globo

O mercado financeiro tem sido sistematicamente mais otimista em relação à economia brasileira do que os fatos comprovam. Entre 2011 e 2013, as projeções para o PIB em janeiro foram sempre maiores do que o crescimento que ocorreu. Em 2014, a estimativa no início do ano era de 1,95% e já caiu para 0,79%, na 12ª retração semanal consecutiva. Os números positivos acabam não se confirmando.

Ográfico abaixo mostra o que o mercado previu, no início de cada ano, e o resultado final, divulgado pelo IBGE, entre 2011 e 2013. Para 2014, ilustra a projeção feita em janeiro e a última estimativa, divulgada ontem pelo Banco Central (BC). Os números finais são sempre menores, quando o assunto é PIB, e maiores, quando se trata de inflação.

O Relatório de Acompanhamento da Pesquisa Focus, elaborado pelo Departamento de Estudos Econômicos do Brasil, mostra que o mercado já previu crescimento de 4,5% para o PIB brasileiro de 2014. Isso aconteceu ainda em 2011, quando o país crescia a uma taxa de 7,5% e muita gente acreditava que o ritmo se sustentaria nos anos seguintes. De lá para cá, no entanto, o que se viu foi o número murchando até chegar à previsão de 0,79%.

O erro de diagnóstico tem acontecido principalmente na produção industrial. Em janeiro deste ano, o Focus estimava alta de 2,2% para a indústria e agora projeta queda de 1,79%. Isso significa uma alteração de quatro pontos percentuais em oito meses. A projeção em janeiro de 2013 era de 3%, quando o resultado final foi 1,2%. No ano anterior, a estimativa de 3,3% foi frustrada com um resultado negativo de 2,7%. Em 2011, previa-se 5%, em janeiro, e deu apenas 0,3%.

Quando o assunto é inflação, tem acontecido o contrário. O problema vem sendo subestimado. Em janeiro de 2014, estimava-se o IPCA em 5,97%. Agora, o número é 6,25%. No ano passado, previa-se alta de 5,49%, quando o resultado final foi 5,91%. O erro maior aconteceu em 2011, quando a inflação ficou no teto da meta.

O Boletim Focus é uma forma de os bancos e consultorias informarem ao BC sobre o que estão enxergando no desempenho da economia. Isso ajuda a própria autoridade monetária a definir a política de juros. Os modelos, no entanto, estão rodando longe da realidade e por isso as revisões para baixo têm sido constantes. Está na hora de os economistas de bancos e consultorias ajustarem seus padrões.

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