terça-feira, 1 de julho de 2014

Raymundo Costa: O perde e ganha da sucessão presidencial

• Pano de fundo é a mão forte do Estado na economia

- Valor Econômico

Assentada a poeira das convenções partidárias, é possível fazer o balanço e projetar o futuro imediato das principais candidaturas à Presidência da República.

A presidente Dilma Rousseff, que por ser candidata à reeleição é a referência do processo eleitoral de 2014, conseguiu o que se propôs a conquistar nesse período: o maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Para a campanha de Dilma o tempo de tevê é considerado fundamental para estabelecer a comparação entre os 12 anos de governo do PT com os oito anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Num momento em que mais de dois terços do eleitorado manifesta um forte desejo de mudança, conforme registrado por uma série de pesquisas, no entanto, a campanha de Dilma derrapou ao entregar para o PR o Ministério dos Transportes por um punhado de segundos a mais de propaganda eleitoral.

Algo em torno de 75 segundos, para ser mais preciso, cujo preço será cobrado de Dilma na campanha. Ainda mais quando se sabe que a negociação envolveu um presidiário, o ex-deputado Valdemar da Costa Neto, condenado por seu envolvimento no esquema do mensalão. Valdemar ainda hoje detém o poder real no PR.

O candidato do PSDB, senador Aécio Neves, também atolou-se em antigos vícios da política tradicional. Nada mais feio do que o conselho que o tucano deu a potenciais aliados para "sugar" tudo o que fosse possível do governo, antes de trocar de lado. Referia-se a PP, PR e PSD. Não levou nenhum. Nesse jogo, o governo tem muita mais bala na agulha.

Aécio também foi levado a buscar um candidato a vice-presidente em São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira. Se o vice não fosse de São Paulo, a falta de compromisso do PSDB estadual com a chapa presidencial seria completa. Com Aloysio, os tucanos paulistas ainda devem ter algum engajamento na campanha. Mas nem isso é garantido.

Sintomático é o discurso proferido por José Serra na convenção que oficializou a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin: "Há economistas, viu Aécio, que dizem que o Brasil não tem poupança e nem capital para poder investir. Isso é falso", disse. Serra falava de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e a principal referência econômica da campanha de Aécio Neves - em recente entrevista ao Valor, Armínio afirmou que a taxa de poupança do país está "quase tão baixa quanto os níveis dos reservatórios". A falta de sincronia tucana foi anotada no Palácio do Planalto.
Para o candidato do PSB, Eduardo Campos, o fim do período das convenções pode ser encarado com um certo alívio. A composição das alianças e palanques estaduais era um fator estressante nas relações entre os correligionários de Campos e de sua candidata a vice, Marina Silva. Se Marina atrapalhou muito durante a etapa das negociações, agora pode ajudar.

O PSB vai explorar ao máximo a incorporação do Rede Sustentabilidade, com a elaboração de uma agenda própria para Marina Silva, a ser cumprida simultaneamente com a agenda de Eduardo Campos. Nem Dilma nem Aécio dispõem do mesmo potencial com os respectivos candidatos a vice, Michel Temer e Aloysio Nunes Ferreira, muito embora a presidente tenha Lula como cabo eleitoral. Eduardo e Marina não precisam estar juntos para transmitir a mensagem de que podem ser uma alternativa a PT e PSDB.

Em relação ao futuro imediato, a campanha de Dilma Rousseff está mais empenhada do que nunca em estabelecer a comparação entre os 12 anos do PT e os oito anos de FHC. A indicação de Armínio Fraga como referência econômica de um eventual governo Aécio Neves põe na mira do PT um alvo fixo - seu período no BC é objeto de minucioso exame.

No QG da presidente acredita-se que a candidatura de Aécio Neves cresceu nas pesquisas em cima de um diagnóstico da política econômica, mas no debate ele estará vulnerável à pergunta que importa: o que o Aécio faria se estivesse no lugar Dilma? Do lado de Dilma argumenta-se que o crescimento é baixo, mas no cenário de crise internacional o Brasil ainda é um dos poucos países a apresentar alguma variação positiva.

Armínio fala em "desindexação" e critica a política de subsídios. Desindexar, dirá a campanha Dilma, entre outras coisas significará a redução dos benefícios da Previdência Social; o fim dos subsídios, o aumento brusco de preços como o da gasolina e o comprometimento de programas como o Minha Casa, Minha Vida. Preços "administrados" - afirma-se no governo e na campanha da presidente - são o que o nome diz, "administrados".

O pano de fundo é que, se não fosse a mão forte do Estado, o país estaria em uma crise ainda mais profunda. Fazer diferente significaria exatamente o quê, em termos de desemprego e do impacto que as "medidas duras" terão entre os mais pobres? Na visão palaciana, a política econômica não tem como ser descolada da política social.

Assim como Dilma quer comparar os 12 anos de governos do PT com os oito anos de FHC, a proposta da campanha de Aécio é separar os quatro anos de Dilma dos oito anos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O PSB, por sua vez, já definiu sua linha de ação. No discurso, o partido não deve ser mais radical contra Dilma do que Aécio. Eduardo Campos deve explicar por que saiu do governo: não renega o projeto que elegeu Lula em 2002, mas acredita que ele se esgotou e perdeu a capacidade de se renovar.

O partido também não planeja atacar Lula. Ele pode ser o fiador da governabilidade em um eventual governo de Eduardo Campos, pois tem como atrair parte do PT para ajudar o PSB. Campos confia na sua capacidade de persuasão para atrair parte do PSDB para um novo projeto de governabilidade que prescinda do PMDB. A campanha destaca que Eduardo não precisa de "um Armínio Fraga" para avalizar sua política econômica, pois é reconhecido seu compromisso com o equilíbrio das contas públicas. O eixo de seu programa de governo será "educação".

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