domingo, 13 de julho de 2014

Para ampliar bancada de deputados, PMDB aumenta número de candidatos a governador

• Sigla lançou o maior número de candidatos a governador desde 1994: 18, contra 13 em 2010

Mariana Sanches – O Globo

SÃO PAULO - Se a política fosse um jogo de tiro ao alvo, o PMDB estaria mirando na borda para acertar no centro. Em 2014, a sigla lançou o maior número de candidatos a governador desde 1994: 18, contra 13 em 2010. Aliado do governo Dilma em plano nacional, o partido enfrentará o PT em 17 unidades da federação. Em 2010, peemedebistas e petistas estavam em polos opostos em 12 disputas estaduais.

A mudança de postura do PMDB, segundo analistas e políticos, tem um objetivo claro: fortalecer a campanha estadual para garantir a eleição de grande número de deputados federais. Quanto maior a bancada, maior a presença e o poder de barganha do partido na Câmara e mais robusta a sua importância, qualquer que seja o próximo governo.

A tática adotada pelo PMDB tem sido pensada por seus estrategistas desde o começo da gestão Dilma. Para o sociólogo Rudá Ricci, ela faz sentido.

— Nas últimas eleições parlamentares, o governador eleito levou quase sempre as maiores bancadas federais. É importante perceber que candidatura majoritária puxa as bancadas — diz Ricci.

Em 2012, PMDB perdeu prefeituras
Na leitura de dirigentes do partido, a mudança de postura do PMDB é uma reação à agressividade do seu maior parceiro federal, o PT, nas eleições mais recentes. Segundo Marcos Nobre, cientista político da Unicamp e autor da tese do “peemedebismo”, o partido está replicando uma estratégia adotada primeiramente pelo próprio PT:

— Durante seu governo, Lula inventou uma acomodação com o PMDB: o PT ficava com o Executivo federal e deixava os dividendos políticos miúdos para o PMDB. O PMDB tinha preferência nas disputas estaduais e municipais e, em troca, cedia seu espaço na TV para a campanha presidencial. Mas, quando saiu do poder, Lula voltou a investir pesado nas forças locais e quebrou esse acordo tácito — afirma Nobre.

A postura competitiva do PT ficou evidente já na disputa municipal de 2012. Naquela eleição, o partido fez a maior quantidade de prefeitos de sua história (635), impondo uma derrota ao PMDB, que perdeu quase 200 prefeituras e chegou ao seu mais baixo patamar desde 2000. Mesmo assim, não perdeu a liderança no ranking, com 1.023 prefeitos eleitos. Coerente com esta trajetória, em 2014 os petistas voltam à carga: lançaram 16 candidatos a governador, contra dez candidaturas em 2010.

O objetivo do PT é aumentar sua bancada federal e ficar menos vulnerável a rebeliões da bancada peemedebista, como aconteceu no fim do ano passado e começo de 2014. Na ocasião, capitaneado pelo deputado federal Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara, um grupo de deputados rebeldes quase deixou de aprovar o Marco Civil da Internet, defendido pelo Executivo, e ameaçou impor uma derrota política ao governo, ao criar a CPI da Petrobras. A crise foi grave.

PT conquista eleitor peemedebista
A mudança de comportamento do PT foi sentida por caciques do PMDB e provocou preocupações para além da disputa deste ano. Para Rudá Ricci, peemedebistas se deram conta de que, nos últimos anos, o PT tem investido e conquistado setores de seu eleitorado cativo, tradicionalmente “mais pobre e de mais baixa instrução”. Tal realinhamento teria acontecido em 2006, quando uma parcela de baixa renda e conservadora da população consolidou o entendimento de que o Bolsa Família aliviava a pobreza, sem abalar as estruturas sociais do país, e decidiu dar seu apoio ao projeto petista.

Desde então, de acordo com Ricci, o PT vem avançando sobre esse eleitorado, tirando do PMDB uma fatia maior a cada eleição e aumentando sua bancada federal. O raciocínio de Ricci se apoia na tese defendida pelo cientista político André Singer, que batizou o fenômeno de “lulismo”:

— Quando o PT anuncia que pretende fazer 150 deputados federais nesta eleição, quem perde é o PMDB, e não a oposição. Ao lançar muitos candidatos aos governos estaduais, o PMDB tenta se impor como aquele que dará estabilidade ao Executivo nacional eleito, qualquer que seja ele. Uma aliança muito ampla, em um momento em que aliados avançam sobre seu espaço eleitoral, traria o risco de diminuir o tamanho do partido— avalia Ricci.

Um dos principais antagonistas do governo dentro do PMDB, Eduardo Cunha confirma a análise dos cientistas políticos:

— Agora, o PT quer partir para fazer bancada. É mais uma parte do processo de hegemonia deles. Tudo bem, partido está aí para competir mesmo, é do jogo. Mas contestamos a ruptura de algumas alianças que já existiam, como a do Rio e a do Ceará, e, por isso, uma grande parte do PMDB se rebelou e rompeu. Estamos reagindo à mudança de postura do PT — dispara Cunha.

Apoio a Dilma por margem apertada
A tensão na relação entre os dois partidos levou uma pequena maioria do PMDB a ratificar a união em torno do nome de Dilma Rousseff — apenas 59% do partido aprovaram a coligação. A divisão interna dos peemedebistas ficou clara.

Ao se enfrentarem em arenas estaduais, PT e PMDB estão decidindo a importância que cada um deles terá nos rumos do próximo governo. Mas não só. Embora detenha a vice-presidência na chapa de Dilma, com Michel Temer, o PMDB acena também para a oposição com a possibilidade de compor uma nova coalizão governista, se o PT for derrotado. Tucanos e socialistas enviaram sinais trocados às intenções ambíguas do PMDB. No fim de junho, Aécio Neves (PSDB) não escondeu o interesse em ampliar sua base aliada, atraindo partidos que hoje compõem a sustentação política de Dilma.

— Muito mais gente já desembarcou, e o governo ainda não percebeu. Vão sugar um pouco mais. E eu digo para eles: façam isso mesmo, suguem mais um pouquinho e, depois, venham para o nosso lado — disse Aécio, em evento pré-eleitoral em Pernambuco.

Semana passada, Eduardo Campos (PSB) adotou postura oposta. Em visita ao Maranhão, terra do recém-aposentado senador José Sarney (PMDB), Campos declarou que, se eleito, não aceitará o apoio do PMDB:

— Fui o único candidato que disse, com todas as letras, que, quando eu e Marina estivermos governando o Brasil, a partir de 1º de janeiro, o PMDB, de José Sarney, estará na oposição. Será a primeira vez, em 50 anos, que a gente vai ter muita unidade política. Quem quiser prestar homenagem a Sarney vota na Dilma. Quem quiser continuar com o Sarney no governo pode votar também no Aécio, porque todo mundo sabe que esse PMDB está com o pé em duas canoas. Agora, a única canoa em que ele (o PMDB) não bota o pé é a nossa — disse Campos, em São Luís.

Apesar das palavras fortes do candidato do PSB, é unânime entre analistas políticos o entendimento de que a governabilidade é quase inalcançável sem uma composição com o PMDB.

Petistas querem manter o aliado
A depender do PT, uma eventual disputa dos opositores por seu maior aliado não ocorrerá. O partido tem feito uma crítica interna, segundo a qual o governo não soube lidar com os peemedebistas, adotando um estilo muito centralizador e de pouca negociação com os partidos aliados, e que a costura para a disputa eleitoral foi mal feita. Os dirigentes do PT acreditam que um governo Dilma sem o PMDB seria inviável.

— É claro que gostaríamos de fazer uma bancada de 140, 150 deputados e conquistar a presidência da Câmara, mas nenhum partido no Brasil é capaz disso. Então, deveríamos ter nos preparado melhor para a disputa, mas não o fizemos. Nem o PT, nem o PMDB tiveram uma postura de construir um projeto para 2014. Em vez disso, ficaram riscando a faca um para o outro. Então, vamos ter que competir com o PMDB nas urnas. Mas, depois da eleição, vamos ter que continuar conversando com eles. Não nos interessa exercitar a política da intriga — contemporizou Florisvaldo Souza, dirigente nacional do PT.

Perguntado sobre alianças de governo, Eduardo Cunha respondeu como típico peemedebista, que conhece a vocação do partido para mirar nas bordas e acertar no alvo:

— A campanha nem começou ainda. Vamos ver como é que fica depois da eleição.

As disputas mais ruidosas
Embora PT e PMDB se enfrentem em 17 unidades da federação (contra 12, em 2010), em três a relação entre os partidos ficou muito tensa: Rio de Janeiro, Ceará e Goiás.

No Rio, o PT apoiou a eleição de Sérgio Cabral (PMDB) ao governo. Os peemedebistas consideravam certo o apoio dos petistas para o sucessor de Cabral, Luiz Fernando Pezão. Porém, diante da baixa popularidade do então governador, o PT resolveu lançar candidato próprio, o senador Lindbergh Farias.

No Ceará, o PMDB também esperava o PT na coligação que lançaria o peemedebista Eunício Oliveira. No entanto, o PT resolveu fechar um acordo de última hora com os irmãos Cid e Ciro Gomes (PROS) e encampou o nome do deputado estadual Roberto Santana (PT) como candidato. Em retaliação, Eunício, que lidera a disputa no estado, fechou aliança com o PSDB e abriu palanque para o tucano Aécio Neves.

Em Goiás, o PT rompeu um apoio supostamente acertado desde 2012 e lançou Antonio Gomide (PT) para enfrentar o peemedebista Iris Rezende.

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