domingo, 27 de julho de 2014

Discurso de candidatos na prática é outro

• À frente de governos, Dilma, Aécio e Campos agiram de forma diferente da que preconizam aos eleitores

Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - Os três principais candidatos à Presidência da República apontam as mazelas dos outros, mas têm em comum alguns exemplos de "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Dilma Rousseff (PT), por exemplo, procurou, no início de seu governo, criar a imagem de gerentona que não aturava malfeitos. Por isso, demitiu a diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), afastou o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e disse que, a partir dali, tudo seria diferente.

Presidente Recuperou PR e Lupi
Com o calendário da eleição apertando-lhe o calcanhar, e com a traição do PTB, que depois de lhe ter feito juras de amor caiu nos braços de Aécio, Dilma cedeu aos apelos do PR: afastou o ministro Cesar Borges que, apesar de ser do partido, não tinha a simpatia dos mandachuvas, e, em troca, levou o tempo de TV que tanto queria. A faxina ficou debaixo do tapete. No lugar de Borges, a presidente voltou a escalar Paulo Sérgio Passos, que já havia fora ministro em outras ocasiões e vivia orbitando pelo governo.

Dilma também trabalhou para que Carlos Lupi se demitisse do Ministério do Trabalho, em dezembro de 2011. Ele caiu depois de uma série de denúncias de que sua pasta beneficiava ONGs vinculadas a partidários do PDT. A própria Comissão de Ética da Presidência recomendou a exoneração dele. Lupi chegou a peitar a própria Dilma, dizendo que só deixava o cargo "abatido à bala". Depois, fez troça com a situação, dizendo que amava sua chefe.

Mas o amor, na ocasião, não lhe manteve na cadeira. Agora, porém, irritada com a aliança entre o PT e o PSB no Rio, que tem o craque Romário como candidato a senador, Dilma resolveu apoiar o ex-auxiliar.

PMDB é aliado de Campos em PE
O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, disse que, uma vez eleito, não governará com o PMDB. Não faltaram críticas ao partido, sobretudo aos senadores José Sarney (AP), que já anunciou que se retirará da vida pública, e Renan Calheiros (AL), um dos principais líderes da legenda.

O PMDB já foi o principal adversário de Campos em Pernambuco. Jarbas Vasconcelos, eleito prefeito e governador, rompeu com Miguel Arraes e virou a cara para seus descendentes, Campos incluído. No entanto, no segundo mandato do socialista no governo do estado, o PMDB passou a frequentar a antessala do gabinete do governador. E Jarbas e Campos selaram a paz. Nesta eleição, Jarbas concorre a deputado federal. O PMDB integra a aliança de Paulo Câmara, o candidato de Campos para substituí-lo.

Campos também costuma apresentar-se como o novo na política, que deseja romper com velhas práticas. Porém, em seu governo, foi aliado de Severino Cavalcanti (PP) e Inocêncio Oliveira (PR), deputado federal desde 1975. Em seu primeiro mandato, criou 29 secretarias, e hoje ataca o governo federal pelo número de ministérios - 39. Antes de deixar o governo neste ano, ele reduziu a 23 as secretarias.

A tática de criticar certas atitudes quando se está na oposição, e fazer o contrário, quando no governo, também foi usada por Aécio Neves. Enquanto o PSDB usa todo o espaço que dispõe para pedir CPI sobre qualquer assunto que envolva o governo federal, quando Aécio era governador de Minas a Assembleia Legislativa, controlada por ele, não criou nenhuma CPI. E não foi por falta de propostas da oposição. Uma delas queria investigar a reforma no Mineirão e a cessão do espaço para uma empresa pública administrar. Mas o governo atuou e a proposta não prosperou.

Aécio, que se apresenta como alternativa ao PT, uniu-se ao partido nas eleições de 2008 ao apoiar, com Fernando Pimentel (PT), o candidato do PSB, Márcio Lacerda, à Prefeitura de Belo Horizonte.

A assessoria da campanha da presidente Dilma informou que a resposta para o fato de ela ter aceitado as condições do PR para trocar o ministro dos Transportes estava no discurso que fez na posse de Paulo Sérgio Passos, em substituição a Cesar Borges, em 26 de junho.

- Nesse momento nós estamos fazendo uma pequena reorganização no time que toca a infraestrutura logística no governo. Eu estou realocando as melhores pessoas em funções diferentes, ainda que semelhantes na essência e nos princípios. Altero a equipe e passo a aproveitar ainda mais a competência de três servidores públicos exemplares, que já exerceram diferentes atividades e em todas se saíram muito bem - discursou Dilma, sem menção ao PR.

A assessoria não informou por que Dilma, que antes não morria de amores por Lupi, agora o apoia ao Senado no Rio.

A assessoria de Eduardo Campos reafirmou que o candidato quer reduzir à metade o número de ministérios, e justificou a criação de 29 secretarias em sua administração como forma de "empoderar algumas áreas sem haver acréscimo de gastos ou cargos comissionados".

Negação de clientelismo
Sobre as alianças com Severino Cavalcanti e Inocêncio Oliveira, a assessoria afirmou que elas se deram "em torno de um programa de governo considerado inovador e voltado para os que mais precisam". Ainda segundo a assessoria, Campos nunca foi pautado pelo clientelismo ou pelo fisiológico. "Conversamos com todas as forças políticas, mas nosso critério para o preenchimento de cargos sempre foi a competência."

A assessoria observou que as críticas dirigidas pelo candidato ao PMDB referem-se apenas à ala do partido vinculada aos senadores Sarney e Renan.

Através da assessoria, Aécio argumentou que CPIs são instrumentos fundamentais das minorias para fiscalizar e investigar as ações de um governo, mas não podem ser banalizadas e usadas apenas para a disputa política. "No caso de Minas Gerais, absolutamente nenhum fato determinado com alguma consistência surgiu", afirmou.

Aécio disse que em 2008 foi feita uma ousada aliança política em favor de um nome que ele e Pimentel achavam ter as qualidades necessárias para administrar Belo Horizonte. "Mesmo sendo governador e tendo alta aprovação na capital, abri mão de lançar uma candidatura de meu partido porque considerava que a eleição de Márcio Lacerda era a que melhor atendia aos interesses da população", disse o tucano.

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