terça-feira, 29 de julho de 2014

Dilma: comunicado do Santander 'é inadmissível para qualquer país'

• Para Aécio, não houve interferência política na carta do banco sobre cenário eleitoral

Catarina Alencastro, Sílvia Amorim e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff classificou como inadmissível e lamentável a análise enviada pelo banco Santander a clientes de alta renda relacionando a melhora da situação da petista nas pesquisas eleitorais a uma piora na economia. Esta foi a primeira vez que ela se manifestou sobre o caso. Suas declarações foram dadas durante entrevista à "Folha de S.Paulo", ao UOL, ao SBT e à Jovem Pan no Palácio da Alvorada. Segundo Dilma, todos que especularam durante o período eleitoral "não se deram bem".

- Acho muito perigoso especular em situações eleitorais. O Brasil tem experiência disso, que aconteceu com o presidente Lula na eleição de 2002 e não foi bem-sucedido. Eu acho que é inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro de forma institucional na atividade eleitoral. A pessoa que escreveu a mensagem fez isso, sim (especulação). Isso é lamentável, inadmissível para qualquer candidato - disse a presidente, afirmando que terá uma atitude "bastante clara" em relação ao banco.

Dilma disse ter considerado o pedido de desculpas que recebeu do Santander "bastante protocolar". O presidente mundial do Grupo Santander, Emílio Botin, solicitou oficialmente uma audiência com a presidente para se desculpar e deve ser recebido nos próximos dias.

Pessimismo sobre economia
Em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, disse não considerar o comunicado do Santander uma interferência no cenário político-eleitoral, e criticou dirigentes do PT pela cobrança de demissões no banco.

- Não adianta um dirigente partidário cobrar demissões dentro de uma instituição financeira porque teriam que demitir praticamente todos os analistas de todas as instituições financeiras. Todos eles são muito céticos em relação ao cenário da economia brasileira se continuar o atual governo - afirmou Aécio.

O ex-presidente Lula criticou a direção do Santander ontem à noite, na abertura da 14ª Plenária Nacional da CUT. Disse que que o banco deveria demitir a diretora que enviou a análise aos clientes. Para Lula, o banco ganha mais dinheiro no Brasil que em qualquer outro país.

- Essa moça não entende porra nenhuma de Brasil e de governo Dilma. Manter uma mulher dessa num cargo de chefia, sinceramente... Pode mandá-la embora e dar o bônus dela para mim - disse Lula.

Dilma avaliou que o mesmo pessimismo que se espalhou sobre a capacidade de realização da Copa está sendo observado agora em relação à economia.

- Eu acho que há no Brasil um jogo de pessimismo inadmissível. Eu acho que está havendo com a economia o mesmo pessimismo que ocorreu com a Copa. Mas na economia é mais grave. (...) É especulação contra o país - reclamou ela.

Dilma rebateu as críticas sobre o fraco desempenho da economia e comparou a situação brasileira com a de outros países emergentes. Disse que seu governo tem enfrentado a crise econômica internacional e gerado 5,1 milhões de empregos. Perguntada sobre uma troca do ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso seja reeleita, ela respondeu que não comenta ministério.

- A última vez que botaram o carro na frente dos bois sentaram na cadeira do prefeito antes da eleição e perderam a eleição - disse, em referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em 1985 sentou na cadeira de prefeito de São Paulo antes das eleições para fazer uma foto e não se elegeu.

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