sexta-feira, 13 de junho de 2014

Quatro vezes hostilizada, apesar da blindagem

• Mesmo sem ser anunciada, sem discursar nem declarar aberto o Mundial, Dilma foi xingada por parte dos torcedores no Itaquerão. Petistas consideram o ato desrespeitoso, e a oposição destaca a rejeição da presidente

Paulo de Tarso Lyra, Felipe Seffrin – Correio Braziliense

A presidente Dilma Rousseff tentou ser discreta para evitar a repetição das vaias recebidas no ano passado, na abertura da Copa das Confederações, mas não deu certo. Por quatro vezes, ela — que não discursou, não declarou oficialmente aberta a Copa do Mundo, nem sequer foi anunciada no sistema de som do estádio — foi xingada por torcedores presentes no Itaquerão, em São Paulo, para assistir ao jogo de abertura entre Brasil e Croácia.

Dilma ofereceu ontem um almoço para nove chefes de Estado e foi direto à arena. Lá, tomou um elevador privativo que a levou para a área reservada às autoridades, onde já se encontrava o presidente da Fifa, Joseph Blatter. As primeiras hostilidades aconteceram antes mesmo do início do jogo. Um grupo de pessoas sentadas na área vip (o setor mais caro), gritou, em um coro que acabou se espalhando pelas arquibancadas. "Ei, Dilma, vai tomar no c...". O mesmo xingamento foi estendido à entidade máxima do futebol: "Ei, Fifa, vai tomar no c...".

O protesto da torcida durou menos de um minuto, mas confirmou as preocupações do Palácio do Planalto. A própria presidente optou por não se pronunciar no evento, alegando que este era um momento da Seleção. Encaminhou uma carta desejando sorte aos jogadores, pediu aos jornalistas, na saída do hotel onde ofereceu o almoço para os chefes de Estado, que se "concentrassem para o jogo", mas não quis arriscar palpites de placar.

Após o Hino Nacional, embora tenha demonstrado emoção com a música encerrada à capela pelo coro de 62 mil vozes presentes ao estádio, mais uma vez Dilma foi xingada por parte dos torcedores brasileiros. Os apupos e as ofensas foram abafados por aplausos, gritos e assobios direcionados aos jogadores e cessaram quando a bola rolou e a política cedeu espaço ao futebol.

Com o sofrimento diante de um empate duro com a Croácia, os torcedores se esqueceram da presença da presidente no estádio. Mas, quando Neymar converteu o pênalti, inexistente, e virou o jogo para o Brasil, o telão mostrou uma Dilma, vestida de verde, comemorando. Foi a deixa para, mais uma vez, ela ser hostilizada com a mesma frase dita anteriormente.

Dilma ainda foi xingada uma última vez, próximo ao fim da partida, quando Oscar, de biquinho, fez o terceiro gol, selando a primeira vitória do Brasil na Copa do Mundo realizada em casa. Com isso, Dilma foi hostilizada mais vezes do que na abertura da Copa das Confederações no ano passado, quando foi vaiada em três oportunidades — em nenhum momento, os torcedores presentes no Estádio Nacional de Brasília xingaram a presidente.

Ausência de Lula
Para o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), os ataques à presidente estavam misturados com as vaias direcionadas à seleção da Croácia. "Não vi tanta gente assim vaiando a presidente", desconversou ele, que estava chegando à Fifa Fan Fest de Fortaleza, acompanhado do governador do Ceará, Cid Gomes. Na próxima terça-feira, a capital cearense sediará a partida entre Brasil e México.

Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), as vaias e críticas direcionadas a Dilma só fazem sentido se forem analisadas pela ótica dos pessimistas que "torciam para que a Copa no Brasil fosse um fracasso, o que não será". E completou. "Foi um ato desrespeitoso, mas a presidente terá maturidade para encarar isso. Ela tem muitas coisas a mostrar ao Brasil, além da Copa, e o povo saberá reconhecer isso nas urnas", completou.

Já o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldmann (SP), concorda que é natural políticos serem vaiados em jogos de futebol, por serem elementos estranhos ao ambiente. "Mas ser xingada sem ter sido anunciada, sem ter feito discurso, mal aparecendo no telão, mostra o nível de rejeição que ela enfrenta em São Paulo", disse Goldmann, acrescentando que, se Lula estivesse no Itaquerão ontem, também teria sido criticado. "Por que ele, grande autor intelectual deste Mundial, recusou-se a assistir ao jogo no estádio? A rejeição de ambos entre os paulistas é equivalente", disse o dirigente tucano.

Troca de informações entre Brasil e Chile
Antes de a bola rolar ontem, a presidente Dilma Rousseff assinou um tratado sobre as violações dos direitos humanos nos regimes militares com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, no Palácio do Planalto. No encontro, elas também falaram sobre temas da agenda bilateral, em especial as questões relacionadas à cooperação energética, à integração física, ao comércio e aos investimentos. Bachelet foi convidada a assistir ao jogo hoje do Chile contra a Austrália, em Cuiabá (MT). No domingo, Dilma recebe a chanceler alemã Angela Merkel, que assistirá à seleção da Alemanha contra Portugal, na Arena Fonte Nova, em Salvador (BA).

Presidenciáveis na torcida
Os dois principais adversários da presidente Dilma Rousseff na disputa eleitoral de outubro optaram por assistir à estreia do Brasil na Copa acompanhados das famílias. O pré-candidato tucano, senador Aécio Neves (MG), acompanhou a partida contra a Croácia ao lado da esposa, Letícia Weber, que segue internada na Clínica Perinatal Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Aécio comprou duas camisas da Seleção e personalizou-as com os nomes dos gêmeos Júlia e Bernardo, nascidos no último sábado. Amanhã, Aécio estará em São Paulo para a convenção nacional do PSDB que ratificará sua candidatura ao Planalto. Já o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, acompanhou ao lado da esposa, Renata, e dos filhos, em sua residência, no Recife. Na página oficial de uma rede social, Campos escreveu: "O primeiro passo rumo ao hexa foi dado. Vamos em frente, Seleção. O povo brasileiro merece essa alegria". Mais cedo, Campos esteve em Brasília, com a pré-candidata a vice, Marina Silva, em audiência na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

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