terça-feira, 13 de maio de 2014

Raymundo Costa: PSB tenta escapar da polarização PT-PSDB

• Oposições não capitalizam desejo de mudanças

- Valor Econômico

O alto comando do PSB se reúne hoje em Brasília, num momento em que as pesquisas de opinião desenham os contornos de uma nova eleição presidencial polarizada entre PT e PSDB. Espera-se por uma inflexão à esquerda da campanha do candidato Eduardo Campos, sem descuidar do discurso de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff e da demarcação de diferenças com o senador e pré-candidato do PSDB, senador Aécio Neves. A terceira via, tudo indica, encontra dificuldades para se posicionar na corrida sucessória.

Não chega a ser novidade. Mas deveria acontecer mais tarde, na campanha propriamente dita. Todos os que estiveram na mesma posição, nas últimas eleições, enfrentaram os mesmos obstáculos. Ciro Gomes (PPS), em 2002, e Marina Silva (PV), em 2010, saíram de Estados pouco expressivos em termos de contingente eleitoral - respectivamente o Ceará, que detém pouco mais de 4% do eleitorado nacional, e do Acre, com menos de 1%. Para efeito de comparação, o senador Aécio Neves já entrou na disputa de 2014 contando com a retaguarda do segundo maior colégio do país, Minas Gerais e seus mais de 15 milhões de eleitores.

Ciro Gomes, em 2002, foi quem chegou mais perto de romper a lógica bipolar das eleições presidenciais, mas perdeu fôlego na campanha, quando já havia ultrapassado o tucano José Serra na preferência do eleitorado, segundo as pesquisas de opinião. Ciro acabou a disputa em quarto lugar, atrás inclusive de Anthony Garotinho (PDT), abatido por uma série de erros que cometeu na campanha. Mas sua candidatura serviu para deixar claro que havia espaço para outra opção, além de PT e PSDB.

A exemplo de Ciro Gomes, o ex-governador Eduardo Campos também vem de um Estado, Pernambuco, sem grande força eleitoral - cerca de 5% do eleitorado nacional, de acordo com os dados da Justiça Eleitoral referentes ao ano de 2013. Seu partido, o PSB, dispõe de uma infraestrutura maior que o PPS de Ciro em 2002, mantém cinco dos seis governadores que elegeu em 2010 (o desfalque é Cid Gomes, do Ceará, mudou para o Pros), prefeitos nos 27 Estados e no DF e 25 deputados federais, mas nada comparável com o poderio do PSDB, que entrou na campanha com os governadores de São Paulo (23% do eleitorado) e Minas.

O candidato do PSB perde de Dilma e Aécio em outros dois aspectos importantes na logística de uma campanha: grandes palanques regionais e tempo de rádio e televisão no horário eleitoral gratuito. Mas está na disputa em pelo menos em outros dois desses aspectos: financiamento (se não for engolido por PT e PSDB) e campanha nas redes sociais.

Sem partido nem palanques regionais, mas com algum financiamento e redes sociais, a ex-senadora Marina Silva conseguiu 20% dos votos na eleição de 2010 - precisava tirar pouco mais da metade diferença em relação a José Serra, que teve 32%, para passar de turno. Marina ganhou a eleição ou teve bom desempenho em colégios eleitorais importantes como Belo Horizonte, de onde saiu com 560 mil votos contra 434 mil de Dilma Rousseff e 389 mil de José Serra. Para escapar da inércia PT-PSDB, Campos deve formar um palanque em Minas.

A avaliação da cúpula do PSB é que a conjuntura parece mais favorável à terceira via que no passado recente. A pesquisa divulgada na semana passada pelo Datafolha, por exemplo, registra que 74% dos eleitores, ou seja, mais de dois terços dos entrevistados, quer mudanças no governo. Correto. Mas também é certo que até agora a oposição não conseguiu a adesão dos descontentes registrados pelas pesquisas.

A polarização PT-PSDB parece algo anacrônico, vista nos dias de hoje. Cerca de 42% da população não era nascida em 1990 e tem pouca informação sobre a superinflação ou o governo Fernando Henrique Cardoso, ainda a principal referência do discurso eleitoral do PT. Houve também redução da tensão social e crescimento do emprego e renda, o eleitor parece mais exigente. O desafio da terceira via de Eduardo Campos estará na capacidade de traduzir corretamente a vontade das ruas e atrair esse contingente que manifesta o desejo de mudar.

O PMDB foi o partido da redemocratização do país, fez a transição entre a ditadura militar e o regime civil, já se vão 29 anos. No governo José Sarney foram legalizados os partidos políticos extintos pelos generais e convocada a Assembleia Constituinte que escreveu a Carta de 1988. O PSDB foi o partido responsável pela estabilização da economia, após uma série de tentativas frustradas para domar a superinflação. O PT assumiu em 2002 e comandou a redução das desigualdades sociais.

A pergunta a ser feita é se esses partidos ainda têm algo mais a oferecer ou se esgotaram a ponto de tornar viável a chegada ao poder da via alternativa. Por enquanto, a despeito do sentimento de mudança detectado nas pesquisas de opinião, a disputa sucessória de 2014 está outra vez caminhando na direção de PT e PSDB. Para se tornar em uma nova opção para o eleitor, o PSB precisa se posicionar e encontrar uma identidade que o distinga do PSDB e do PT aos olhos do eleitor.

Segundo Carlos Siqueira, secretário-executivo do PSB, "é autoritária" a exigência de que Eduardo Campos tenha desde já um discurso pronto e acabado. "Ele será construído durante a campanha", diz. Siqueira ressalta que Eduardo Campos é conhecido por apenas 25% do eleitorado, enquanto o índice de Aécio chega a 60% e o de Dilma, a quase 100%. Ele aposta que a mensagem do candidato será transmitida e entendida no momento oportuno, o início oficial da campanha, a partir de julho, e o horário eleitoral gratuito, em agosto.

Se Eduardo Campos passar para o segundo turno, fará história. Será o primeiro a quebrar a lógica da polarização, desde 1994. Se parar nos mesmos obstáculos que derrubaram os outros candidatos à terceira via, restará se posicionar num segundo turno que provavelmente será entre PSDB e PT. Ao dizer que o "PSDB sabe que já tem o cheiro da derrota no segundo turno", pelo menos sua candidata a vice, Marina Silva, já se posicionou.

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