quinta-feira, 8 de maio de 2014

'Presidente tem que dialogar', diz Campos

• Para pré-candidato do PSB, o que o diferencia de adversários é ser capaz de 'romper com a velha prática política' do País

Ana Fernandes - Agência Estado

SÃO PAULO - O pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, acredita que a chapa composta por ele e pela ex-ministra Marina Silva é a "possibilidade de romper com a velha prática política". A declaração foi dada em entrevista ao Broadcast Político em resposta a uma pergunta sobre o que o diferencia do senador Aécio Neves (PSDB-MG), um de seus prováveis adversários nas urnas em outubro.

Campos também pontuou como diferencial o que chamou de capacidade de conversar com diversos setores da sociedade. "É fundamental um presidente que possa dialogar com todos os brasileiros." Tanto Aécio quanto a presidente Dilma Rousseff são criticados porque sofreriam resistências, respectivamente, de setores mais populares e de parte do empresariado.

Nas relações com os partidos em um eventual governo, o ex-governador de Pernambuco disse que vai buscar quem o ajude a "renovar" o presidencialismo. "Conheço gente no PMDB no Brasil afora que é de um PMDB que tem uma outra visão de prática política."

Crítico da atual política econômica do País, Campos afirmou que o governo não deve usar só as taxas de juros para cumprir a meta de inflação e defendeu mais austeridade e transparência fiscal.

O que é o "novo desenvolvimentismo" que o senhor propõe?

No Brasil não cabe mais improviso. Precisamos ter clareza no planejamento de longo prazo, um rumo estratégico. Esse rumo precisa de uma governança macroeconômica segura, que tenha compromisso com o centro de uma meta inflacionária, que deve iniciar nos 4,5%, mas deve ser projetada para, nos próximos cinco anos, apontar para abaixo disso. Uma garantia de que vamos manter o tripé dos fundamentos macroeconômicos. Uma governança no Banco Central independente. Uma governança na política fiscal com controle social, com conselho fiscal da República, para que se acompanhe o gasto público.

Como o senhor avalia a política econômica da atual gestão?

Ficou muito bem provado nos últimos anos que o improviso na tentativa de trocar algum crescimento pela taxa de inflação deu no que deu... Inflação batendo no teto, preços administrados represados e o menor crescimento da história republicana do País. Fora isso, uma quebra da confiança dos agentes no futuro do Brasil, com redução dos investimentos. Teremos uma agenda macroeconômica com condução completamente segura e uma agenda do crescimento sustentável que precisa resgatar o clima de confiança e retirar do papel investimentos estruturantes.

Como fazer a inflação convergir para o centro da meta e, depois, reduzir esse centro?

Não se pode imaginar que a tarefa de botar a inflação no centro da meta é uma tarefa só da taxa de juros. Não é. É da articulação de uma política fiscal responsável com uma política monetária independente que garanta o centro da meta.

Como lidaria com a questão dos preços administrados?

Precisamos resolver esse passivo. Precisamos definir regras claras para que não se dê a oportunidade no futuro de o País administrar a inflação como administrou no período pré-Real, contendo os preços administrados de maneira artificial.

No primeiro dia de um eventual governo do senhor, os preços da gasolina seriam reajustados?

Não sei nem se o atual governo vai conseguir segurar esses preços até a eleição. É preciso chegar o primeiro dia de governo para a gente poder pôr em prática o que estamos colocando como regra. Não é saudável para a economia, para os cidadãos, muito menos para a Petrobrás e para o setor do etanol, que está pagando um preço muito caro. Talvez, se você adiar muito e alongar demais, termine carregando no efeito arrasto a expectativa inflacionária e isso acabe sendo pior para a população mais pobre.

De forma geral, o senhor se diria favorável a medidas mais ortodoxas na economia? Seria contra o controle de preços?

Já me coloquei publicamente contra isso e não é hoje, que sou candidato. É possível, e o Brasil vai percebendo cada dia mais, que o único caminho para um desenvolvimento sustentável é o de quem tem uma boa governança macroeconômica. Todas as grandes nações que se desenvolveram não o fizeram a partir de piques, mágicas, pacotes. O crescimento econômico continuado é obtido em função de uma narrativa de longo prazo, de uma política previsível e de uma agenda de desenvolvimento nos mais diversos setores.

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