sexta-feira, 30 de maio de 2014

Consumo das famílias recua pela 1ª vez desde 2011, e PIB cresce só 0,2 % de janeiro a março

• Indústria caiu pelo terceiro trimestre consecutivo, segundo o IBGE

• Índice de 2013 foi revisto de 2,3% para 2,5% por causa de nova fórmula de cálculo da produção industrial

• Taxa de poupança também caiu, de 13,7% no ano passado para 12,7% nos primeiros três meses de 2014, menor valor desde 2000

Cassia Almeida, Lucianne Carneiro e Rennan Setti – O Globo

RIO - A economia brasileira cresceu 0,2% entre janeiro e março deste ano, frente ao quarto trimestre de 2013, informou o IBGE nesta sexta-feira. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) avançou 1,9%. Em reais, o PIB somou R$ 1,2 trilhão.

O consumo das famílias caiu 0,1% frente ao último trimestre de 2013, pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2011, quando havia encolhido 0,3%. A agropecuária avançou 3,6% na mesma comparação e liderou o crescimento nesse trimestre, favorecida por safras de soja, algodão e arroz. Os três produtos têm perspectiva de crescimento para o ano. A produção de algodão deve avançar 23,5%, enquanto espera-se que a soja avance 6,3% — o cereal foi prejudicado por estiagem no começo deste ano.

Já a indústria caiu 0,8%, no terceiro trimestre consecutivo de recuo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador de investimentos, também encolheu: 2,1%. A taxa de investimento alcançou 17,7% do PIB no primeiro trimestre do ano, contra 18,2% no mesmo período do ano passado. A fatia foi a menor desde o primeiro trimestre de 2009, auge da crise global, quando ficara em 17% do PIB.

Essa queda nos investimentos foi a principal influência negativa para o crescimento da economia de 1,9% no primeiro trimestre na comparação com o primeiro trimestre de 2013, segundo Rebeca Palis, gerente da coordenação de contas nacionais do IBGE. Houve recuo da 0,9% da indústria da construção. Já a maior influência positiva foi a expansão de 2% de serviços.

— Quem puxou para baixo foi o investimento — disse Rebeca.

Na indústria, foram responsáveis pela queda de 0,8% na atividade os subsetores de indústria de transformação (redução também de 0,8%) e de construção civil, cujo desempenho foi 2,3% menor que no trimestre anterior. Por outro lado, avançaram os segmentos de extração mineral (0,5%) e eletricidade, gás, aguá e limpeza urbana (1,4%).

Na comparação com os primeiros três meses de 2013, a indústria cresceu. Mas o segmento de transformação permanece com resultado negativo na comparação anual, com queda de 0,5% na atividade por causa de produção menor de veículos, máquinas e aparelhos elétricos, informou o IBGE. A construção civil também recuou nesse tipo de comparação, com queda de 0,9%. Já o segmento extrativo mineral avançou 5,4%.

A taxa de poupança da economia brasileira também caiu, de 13,7% no ano passado para 12,7% nos primeiros três meses de 2014. É o menor valor desde 2000.

O crescimento de 2013 foi revisto de 2,3% para 2,5%. Este é o primeiro anúncio do PIB já com o novo cálculo da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), que foi atualizada com a ampliação dos setores e produtos analisados, além do peso de cada um deles no resultado geral. O sistema tinha como base a produção de 1999 — agora, passou a ser o ano de 2010. Com isso, o número total de itens pesquisados subiu de 755 para 805 no cômputo nacional.

Com o recálculo, no primeiro trimestre de 2013, o crescimento foi de 0,4% frente ao trimestre anterior, e não a estagnação que tinha sido divulgada inicialmente. No segundo trimestre, a taxa foi de 1,6%, frente aos 1,8% anteriores. No terceiro trimestre, o recuo do PIB foi de 0,3%, menor que os 0,5% que tinham sido divulgados. No quarto trimestre, a alta foi de 0,4% e não de 0,7%.

O maior impacto ocorreu na indústria de transformação. O crescimento, que tinha sido de 1,9%, passou a ser de 2,7%.

— A indústria de transformação foi a mais afetada pela incorporação da pesquisa da indústria, que mostrou crescimento maior. Pela ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu. É preciso lembrar que a indústria de bens de consumo foi a que mais avançou na produção — afirmou Rebeca.

O consumo das famílias passou de 2,3% para 2,6% em 2013.

A partir do primeiro trimestre do ano que vem, o IBGE também deverá apresentar o recálculo da nova base para os dados anuais até 2012, o que deve gerar nova rodada de revisões nos trimestres. A nova Pesquisa da Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF) passará a trazer uma nova amostra, embora não tenha mudança da metodologia. Entram na lista 944 produtos, contra 830 presentes na antiga lista. As unidades locais dobrarão para 7.800.

Investimentos
Com a revisão, o investimento medido pela formação bruta de capital fixo teve o desempenho revisado para 2013 de 6,3% para 5,2%. A diminuição foi causada pelas revisões negativas nos dados de indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos para a produção) e na construção civil, de 1,9% para 1,6%.

— O que importa é que, apesar das revisões, as explicações para o desempenho da economia em 2013 não mudaram em nada. Continuamos vendo o o investimento crescer mais que o resto e a contribuição negativa do comércio exterior, com importação mais forte que exportação — disse Rebeca.

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