terça-feira, 13 de maio de 2014

Campos fará inflexão à esquerda para se diferenciar de Aécio

César Felício – Valor Econômico

SÃO PAULO - O pré-candidato do PSB à Presidência, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, fará uma inflexão para a esquerda nas próximas semanas, de acordo com o coordenador executivo de sua pré-campanha, o dirigente do PSB Carlos Siqueira. Campos deverá intensificar sua agenda com representantes do que Siqueira chamou de "setores populares", como representantes de movimentos feministas, negros e da juventude, entre outros. "Será reafirmada a marca da candidatura dentro da centro-esquerda. Ele é candidato de um partido socialista. A direita tem seus próprios candidatos", disse Siqueira ao Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor.

Os eventos empresariais continuam tendo destaque na agenda do pré-candidato, que se instalou em São Paulo desde que se desincompatibilizou do governo estadual na primeira semana de abril. Hoje mesmo Campos será um palestrante em dois eventos empresariais na capital paulista.

Segundo Siqueira, há uma preocupação em demarcar diferença em relação ao principal pré-candidato oposicionista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG). O objetivo será demonstrar que o ex-governador pernambucano teria sensibilidade maior com questões sociais. Na visão da campanha, o segundo turno na eleição presidencial deste ano já está consolidado. "É patético imaginar que esta eleição se resolve em um turno só, considerando a liderança política e a avaliação de governo que Dilma tem", afirmou.

A pré-candidatura de Campos, nesta visão, alimenta-se tanto de eleitores egressos da base de apoio da presidente Dilma Rousseff quanto da de Aécio. "O eleitor dele não necessariamente é um petista desiludido. Há também tucanos insatisfeitos e não são poucos", disse Siqueira, para quem a presença da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva como na vice na chapa não bloqueia a entrada de Campos em um eleitorado afeito ao PSDB: "A quantidade de eleitores que rejeita votar no Campos por causa da Marina na chapa é absolutamente insignificante."

O pré-candidato do PSB deve começar a reafirmar seu caráter esquerdista no momento em que a candidatura própria ao governo do Estado em São Paulo será rediscutida. Segundo Siqueira, a decisão final caberá à seção local do partido, que hoje se inclina em sua maioria para apoiar a reeleição do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

De acordo com o dirigente, aliar-se ao tucano e ficar sem palanque próprio em São Paulo "é uma hipótese, mas "há mais alternativas em análise", disse, sem antecipar qual seria o rumo paulista do partido. O PSB paulista é a maior seção estadual da sigla comandada por Campos, e se afastou de Alckmin por imposição de Marina Silva, que exige palanque próprio no Estado. O impasse fez com que o presidente local do PSB, deputado Márcio França, se lançasse para o governo estadual a contragosto, para bloquear o avanço dos aliados de Marina sobre a indicação.

No país, o grupo de Marina só tem um candidato a governador, o deputado Miro Teixeira (RJ), que está abrigado no Pros. Disputa o Senado apenas no Ceará, com Geovanna Cartaxo (PSB). Há chances de Apolo Heringer, um aliado de Marina, ser candidato a governador em Minas Gerais. O PSB no Estado havia decidido apoiar a candidatura do ex-ministro das Comunicações João Pimenta da Veiga (PSDB), mas a decisão será revista, segundo Siqueira.

São Paulo e Minas Gerais são as principais dúvidas na estrutura regional de apoios de Eduardo Campos, que está definida em apenas 17 dos 27 Estados, de acordo com Siqueira. O PSB considera resolvido o apoio à reeleição do governador tucano Beto Richa no Paraná e à eleição dos pemedebistas José Ivo Sartori (RS), Marcelo Castro (PI) e Nelson Trad (MS). O partido irá apoiar o PT no Acre, o PCdoB no Maranhão e o senador pedetista Pedro Taques no Mato Grosso, além do Pros no Rio. Firmou candidaturas próprias em Pernambuco, Bahia, Paraíba, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Ceará, Amapá e Roraima.

Ontem, em evento de pré-campanha eleitoral em Vitória da Conquista (BA), Campos voltou a afirmar que não quer o apoio "da base tradicional, atrasada, reacionária, patrimonialista", afirmou, em uma crítica que pode ser interpretada tanto contra Aécio quanto contra Dilma. "Essa gente vai estar na oposição na campanha, e, a partir de 1º de janeiro, vai estar na oposição também", disse o ex-governador.

Campos procurou na entrevista coletiva se distanciar de Aécio. "Nossa candidatura tem compromissos históricos diferentes da candidatura do PSDB. Nossa forma de pensar o mundo não é a mesma que eles têm", disse Campos, que admitiu entretanto alianças locais. "Os arranjos regionais nem sempre guardam a mesma regra. Há certas circunstâncias que temos que respeitar", disse.

Nenhum comentário: