sábado, 24 de maio de 2014

Aliados que complicam

• Planalto considera ‘imprevisível’ posição do PR

• Candidatura de Dilma também enfrenta resistências de PMDB e PP nos estados

Fernanda Krakovics e Flávio Ilha – O Globo

BRASÍLIA E PORTO ALEGRE - A duas semanas do início das convenções partidárias ficam a cada dia mais nítidos quais são os reais problemas na aliança para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Mesmo reunindo um enorme arco de partidos em sua coligação, que lhe garantirá sozinha praticamente o mesmo tempo no horário eleitoral gratuito que todos seus adversários juntos, o cenário é pontuado por várias turbulências. O principal problema hoje está no PR, que está rachado. O Palácio do Planalto considera, neste momento, “imprevisível” o resultado da convenção nacional do partido que definirá a posição da sigla nas eleições.

O ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto, que está preso em decorrência do processo do mensalão, trabalha pelo rompimento com o governo e o apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG). Já o atual presidente, senador Alfredo Nascimento (AM), defende o apoio à reeleição de Dilma. No início do ano, o Planalto dava como certo o apoio da legenda, que terá 1min56 em cada bloco do horário eleitoral gratuito.

— A situação do PMDB está mais tranquila. Eles vão aprovar o apoio à reeleição (na convenção nacional) e vão liberar os estados. Aí tudo bem, porque nem o PT a gente controla completamente nos estados. Mas no PR a situação está mais imprevisível — disse um ministro do PT.

O PMDB realiza sua convenção nacional no dia 10 de junho. Mesmo com rebelião nos estados, o grupo do vice-presidente da República, Michel Temer, aposta que terá de 65% a 70% dos votos pela reedição da aliança com o PT. Há problemas nos diretórios do Rio, Rio Grande do Sul, Bahia, Acre, Piauí, Pernambuco e Ceará.

Enquanto a principal insatisfação do PMDB é com a falta de apoio do PT a seus candidatos a governador, no PR o descontentamento é com a indicação de César Borges para o Ministério dos Transportes, um feudo do partido. Borges é filiado ao PR, mas foi uma escolha pessoal da presidente Dilma, e não do partido.

Valdemar articula rumos do PR
O PR perdeu espaço no ministério desde que o então titular da pasta Alfredo Nascimento foi defenestrado em meio a um escândalo de corrupção, assim como o então diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot.

Integrantes do PR afirmam que recebem telefonemas de Valdemar Costa Neto, para tratar de articulação política, durante sua jornada de trabalho em um restaurante industrial, no Distrito Federal. Ele cumpre pena em regime semiaberto e teve o direito a trabalho externo revogado anteontem. Em São Paulo, estado de Valdemar, a executiva estadual do partido se reúne hoje com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e deve anunciar apoio à sua reeleição.

— O partido está muito dividido. Quem vai definir (o apoio nacional) são os deputados federais. São 32 e cada um tem um voto — disse o senador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), que defende o apoio a Dilma.

No Rio, o pré-candidato do PR ao governo do estado, deputado Anthony Garotinho, diz que ou vai ficar neutro na disputa presidencial ou vai apoiar o candidato do PSB, Eduardo Campos. Ele ficou irritado porque Dilma tem cumprido agenda com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição.

— O Aécio eu não apoio porque está com o PMDB (no Rio) — disse Garotinho.

PP fecha apoio a Aécio no Sul
Em encontro com o presidente do PT, Rui Falcão, em fevereiro, Garotinho pediu reciprocidade, ou seja, apoiaria a reeleição de Dilma desde que ela fosse também a seu palanque e não privilegiasse nenhum candidato. Falcão concordou na época. No Rio, há quatro candidatos da base aliada: além de Garotinho e Pezão, o pré-candidato do PT, senador Lindbergh Farias, e o ex-ministro Marcelo Crivella (PRB).

Outro partido dividido é o PP. A direção da sigla deve anunciar apoio à reeleição de Dilma na próxima semana, mas essa não é a posição dos diretórios do Rio Grande do Sul, Minas e Rio. Pouco mais de um mês depois de costurar o apoio do PP gaúcho à candidatura presidencial do PSDB, Aécio volta hoje a Porto Alegre para sacramentar a chapa que inclui também o Solidariedade.

O encontro na Assembleia Legislativa marcará o lançamento oficial da candidatura da senadora Ana Amélia (PP) ao governo do estado. Pelas última pesquisa Ibope, de 5 de abril, Ana Amélia tem 38% das intenções de voto contra 31% do governador Tarso Genro (PT).

O palanque do PP para Aécio é importante porque o PSDB tem estrutura precária no Rio Grande do Sul: apenas um deputado federal e 21 prefeitos — o estado tem 497 municípios — e 247 vereadores. Já o PP tem 136 prefeituras e 1.179 vereadores.

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