sábado, 12 de abril de 2014

PR volta a ditar as cartas no Ministério dos Transportes

Alvo da ‘faxina’ de Dilma em 2011, partido ganha cargos, mas ainda está dividido sobre apoio à reeleição

Danilo Fariello e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA — Após ameaçar romper com o governo ao aderir ao blocão formado em março no Congresso, o Partido da República (PR) está recompondo seu poder no setor de Transportes, encolhido após a “faxina” da presidente Dilma Rousseff em 2011. Na quarta-feira, o então presidente do partido no Pará, Anivaldo Vale, pai do deputado Lúcio Vale (PR-PA), foi oficialmente nomeado para a secretaria executiva do ministério, com o apoio da bancada. A pasta é comandada pelo ministro César Borges.

Outros nomes já indicados para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e enviados pelo ministério à Casa Civil para a diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) também passaram pelo crivo do partido e de seu ex-presidente Valdemar Costa Neto. Preso por envolvimento no mensalão, Valdemar continua influente no partido: ele vem se encontrando com o líder Bernardo Santana (MG) e outros caciques da sigla. Desde o início do ano, o PR já exerce interferência na diretoria da Valec.

Mas a recente conquista de cargos no setor de Transportes ainda não uniu integralmente o PR em apoio à reeleição de Dilma. Há conflitos entre deputados do partido e um enfrentamento entre as bancadas da Câmara e do Senado. Parte dos deputados, como o ex-líder Lincoln Portela (MG), defende a postura de independência e até uma candidatura própria à Presidência.

— Eu defendo o Magno Malta para presidente. Candidatura própria fortalece o partido — disse Portela, referindo-se ao senador pelo Espírito Santo.

Ministro “da presidente Dilma"
Parte da bancada do PR se insurgiu contra o ministro Borges, queixando-se de que ele não tem atendido aos pedidos da sigla. Os insatisfeitos dizem que ele “não é um ministro do partido, mas, sim, da presidente Dilma”. A interlocutores, líderes do PR dizem que o baiano Borges foi colocado na pasta mais por influência do governador da Bahia, o petista Jacques Wagner, do que pelas bancadas do partido.

Pressionado a colaborar mais com o partido no mês passado, o ministro chegou a pôr o cargo à disposição do PR, que estava votando repetidamente contra o governo, com a formação do blocão no Congresso. Satisfeito com os resultados do ministro à frente da pasta, o Palácio do Planalto saiu em defesa dele. Após um acordo envolvendo a nomeação de novos indicados pelo partido a cargos no governo, a maioria do PR voltou à base. Segundo um parlamentar do PT, Dilma também aconselhou Borges a se fortalecer junto aos deputados do PR aliados do governo.

Contrários à sua relação com o partido, alguns integrantes do PR comparam Borges ao ex-ministro do Trabalho Brizola Neto, que não teve apoio da bancada do PDT e acabou deixando o cargo. O sentimento de parte dos deputados do PR é o de que o partido não deve apoiar a reeleição de Dilma. Muitos vêm defendendo, nos bastidores e nos encontros com aliados de outros partidos, o “volta, Lula”.

Anivaldo Vale substituiu Miguel Masella, que estava no ministério desde o governo Lula e que agora deve seguir para a Empresa de Projetos e Logística (EPL). Vale foi deputado pelo PR e vice-prefeito de Belém. Outros três novos diretores foram indicados ao Dnit no início deste mês, em cargos que eram pleiteados pelo partido. Os nomes ainda deverão ser sabatinados pelo Senado. Apesar de serem três técnicos, o PR tem buscado “apadrinhá-los”, segundo fontes a par da nomeação.

O Ministério dos Transportes enviou à Casa Civil, nos últimos dias, quatro nomes para compor a diretoria da ANTT. Servidores e empresas do ramo temem uma pressão por aparelhamento político da agência, principalmente depois de o governo ter retirado nomes já indicados para o órgão ano passado, sob risco de reprovação no Senado. A recondução do atual diretor-geral, Jorge Bastos, foi aprovada em março, com o apoio de senadores do PMDB.

Quatro nomes enviados por Borges
Dos quatro nomes enviados por Borges, dois são técnicos e dois seriam indicações políticas, segundo fontes. Estão na lista os atuais diretores interinos Ana Patrizia Gonçalves Lira e Carlos Fernando Nascimento, que ainda buscam apoio político para sua aprovação pelo Senado. Um ex-secretário do governo de Alagoas, que havia sido indicado pelo presidente da Comissão de Infraestrutura, senador Fernando Collor (PTB-AL), teria desistido da nomeação, já enviada à Casa Civil. O último nome é de Noboru Ofugi, ex-diretor da ANTT e funcionário da agência, que estaria também na cota do PR, segundo três diferentes fontes.

— Eu, particularmente, não sei de nada (sobre nomeação apoiada pelo PR) — disse Ofugi.

O temor entre servidores e empresas do ramo é o de que uma maioria de indicações políticas à ANTT, entre os cinco membros da diretoria colegiada, possa reduzir o nível técnico das decisões da agência, que está no centro do ousado programa de concessões do governo federal. A agência também tem lidado com temas polêmicos, como a nova licitação de linhas de ônibus interestaduais.

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