sexta-feira, 25 de abril de 2014

PF liga ex-ministro Padilha a empresa de doleiro preso

Relatório sugere que petista indicou ex-assessor para empresa sob investigação

Suspeita da polícia é baseada em mensagem do deputado André Vargas; ex-ministro nega ter feito indicação

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo / EBC

CURITIBA - Novo relatório da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha indicou no ano passado um ex-assessor para dirigir o laboratório farmacêutico Labogen, controlado pelo doleiro Alberto Youssef.

A suspeita da PF é baseada numa mensagem enviada pelo deputado André Vargas (PT-PR) ao doleiro por telefone celular no dia 28 de novembro e interceptada pela PF. Segundo o relatório, Vargas deu o nome e o número do ex-assessor e escreveu: "Foi Padilha que indicou".

A PF diz que o Padilha citado é "possivelmente" o então ministro da Saúde, que deixou o cargo neste ano para se candidatar ao governo de São Paulo pelo PT. Padilha negou ontem ter indicado o ex-assessor para o Labogen.

Segundo a polícia, o dono do telefone indicado na mensagem interceptada é Marcus Cezar Ferreira de Moura, que em 2011 foi nomeado por Padilha para a função de coordenador de promoção e eventos do Ministério da Saúde.

Na época em que essa mensagem foi interceptada, o Labogen negociava sua entrada numa parceria com o ministério para produzir um medicamento considerado estratégico pelo governo, um projeto que poderia render até R$ 31 milhões em cinco anos.

Vargas e Youssef estavam à procura de um executivo para o laboratório e, de acordo com o relatório da PF, queriam achar alguém que "não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras".

No projeto analisado pelo Ministério da Saúde, o Labogen associou-se ao laboratório da Marinha e a outro laboratório privado, o EMS, por sugestão do próprio ministério, de acordo com outras mensagens interceptadas pela PF.

A parceria foi aprovada pelo ministério em dezembro e cancelada em março, antes que fosse assinado um contrato, depois que a Folha revelou a ligação do doleiro com o Labogen e os indícios de que André Vargas tinha usado sua influência política para patrocinar a parceria.

Alberto Youssef está preso desde março, acusado de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado ilegalmente R$ 10 bilhões nos últimos anos.

Nesta semana, ele se tornou réu numa ação em que é acusado de ter usado o Labogen e outras empresas de fachada para enviar US$ 444,7 milhões para o exterior ilegalmente.

Em outra mensagem interceptada pela polícia, de 26 de novembro, André Vargas disse ao doleiro: "Falei com pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo". Segundo a PF, "Pad" pode ser Padilha.

O relatório da PF cita também contatos que o doleiro teve com os deputados Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido, do PT de São Paulo. Segundo a polícia, Youssef era esperado por Vaccarezza numa reunião que ele teve em sua casa em Brasília com Vargas e o ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, que fez parte do governo Fernando Collor e tinha interesse em comprar o Labogen.

Vaccarezza disse ontem que Vargas pode ter ido a sua casa com Alberto Youssef porque ele é vizinho do deputado em Brasília, mas negou ter se reunido com o doleiro.

Em outra mensagem analisada pelo relatório da polícia, de setembro de 2013, Vargas diz ao doleiro que precisa "captar". Youssef conta que um executivo que trabalhava com ele esteve com Vicente Cândido em São Bernardo, mas diz que a prospecção "não andou". Vargas responde então que "vai atuar".

Cândido afirmou ter conhecido o doleiro numa viagem a Cuba, mas afirma não se lembrar de ter encontrado seu emissário em São Bernardo.

Segundo a PF, seis dias antes de ser preso, Youssef representou Vargas numa reunião no Funcef, o fundo de pensão da Caixa Econômica, que tem patrimônio de R$ 52 bilhões. Quem recebeu o doleiro foi Carlos Borges, diretor de participações. Não se sabe do que conversaram.

Colaboraram Flávio Ferreira e Lucas Ferraz, de São Paulo

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