sexta-feira, 18 de abril de 2014

Petrobras, de novo, no meio do debate eleitoral

Nas últimas três disputas presidenciais, a empresa esteve presente na discussão entre os postulantes ao Planalto. Em 2014, não será diferente, com um componente a mais: uma CPI, cuja abrangência será definida na semana que vem

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Os embates verbais travados na última segunda-feira entre os três principais postulantes ao Planalto em 2014 envolvendo a Petrobras comprovaram que a principal estatal brasileira, independentemente ou não de a CPI ser instalada no Congresso, estará no centro do debate eleitoral de outubro. No Recife, Dilma Rousseff afirmou que “não deixará a oposição destruir a Petrobras”; em Brasília, Eduardo Campos rebateu que a “Petrobras não vai se transformar em caso de polícia”; e em Salvador, Aécio Neves declarou que “a presidente terá de devolver limpo o macacão da Petrobras”.

A Petrobras como centro do debate eleitoral, contudo, não é novidade. Isso ocorre desde 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva derrotou José Serra na corrida presidencial. A eleição marcou o fim dos oito anos de mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o candidato petista afirmou que, se eleito, toda a produção envolvendo a principal estatal brasileira seria nacionalizada: plataformas, estaleiros e outras compras governamentais.

Era uma resposta às suspeitas de superfaturamento na compra de plataformas no exterior e à estratégia, adotada pelo PSDB durante a gestão de FHC, de ampliar a participação externa da Petrobras, inclusive com a mudança do nome da empresa para Petrobrax. Naquele ano eleitoral, o volume de investimentos da Petrobras era de R$ 18,8 bilhões.

Quatro anos depois, na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva pela reeleição, o valor de investimento da empresa quase dobrou, saltando pra R$ 33,6 bilhões. Mas a Petrobras, novamente, apareceu na campanha. Lula e o PT afirmaram que, se os tucanos voltassem ao poder, privatizariam a Petrobras e outras empresas públicas, a exemplo do que fizeram com a Vale do Rio Doce e as companhias telefônicas, no biênio 1997/1998.

O PSDB acusou o golpe e o então candidato, Geraldo Alckmin, foi obrigado a se deixar fotografar com o macacão no qual estavam colados os nomes de diversas estatais, como a Petrobras, os Correios, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. A estratégia petista deu certo e Lula foi reeleito para mais quatro anos.

Em 2010, fim do ciclo de Lula na Presidência, a Petrobras amplia para R$ 76,4 bilhões o volume de investimentos e, mais uma vez, vira mote de campanha. O governo anunciara, durante o segundo mandato de Lula, a descoberta dos campos do pré-sal. “O Brasil tirou um bilhete premiado com as reservas de petróleo da camada de pré-sal, que são um passaporte para o futuro em riquezas para o povo brasileiro”, declarou Lula, à época.

Em 2014, como adiantou o Correio, a Petrobras terá uma caixa de R$ 90 bilhões para investimentos, praticamente seis vezes o volume do ministério mais atraente da Esplanada, o dos Transportes. E, de novo, estará sendo intensamente debatida, agora por conta das suspeitas envolvendo a refinaria de Pasadena (Texas) e as investigações que correm na Polícia Federal, no Tribunal de Contas da União e no Ministério Público Federal, além de a possibilidade concreta de uma CPI no Congresso.

Para o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), essa hiperpolitização da Petrobras é culpa do PT. “Eles criaram a falácia da privatização da Petrobras, apresentaram o pré-sal como a panaceia de todos os males do país e lotearam a empresa e as subsidiárias com indicados políticos. Por isso a empresa está sempre no centro do debate”, criticou Aloysio.

O tucano acredita que outros erros foram cometidos, como a estratégia de segurar o reajuste dos combustíveis para segurar a inflação. “Com essa decisão política, eles deixaram a empresa descapitalizada e não conseguiram controlar o surto inflacionário”, completou Aloysio.

Prisão
Líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF) não se espanta com o protagonismo da estatal. “A Petrobras não é qualquer empresa, ela é o nosso maior patrimônio”, elogiou o aliado de Eduardo Campos. Ele destaca, contudo, uma diferença entre os debates anteriores e o atual. “Em 2002, 2006 e 2010, a Petrobras entrou no debate como algo positivo, com ganhos e feitos que impulsionariam o Brasil. Desta vez, as notícias não são boas para o governo.”

Rollemberg declarou serem muito duras as notícias de que um ex-diretor da empresa está preso (Paulo Roberto Costa) e de que a Polícia Federal fez uma diligência na sede, no Rio, em busca de documentos referentes à Operação Lava-Jato. “Precisamos defender a Petrobras deste governo que está aí”, completou Rollemberg.

Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), não acha nada natural todas as atenções estarem voltadas para a empresa neste atual momento. “Nas disputas anteriores, a Petrobras era citada como impulsionadora do desenvolvimento do país. Hoje, contudo, estamos vivendo uma clara disputa política feita pela oposição, que sabe que todos os órgãos competentes já estão investigando a empresa”, devolveu Costa.

Foco do debate

2002
PT promete nacionalizar produção e navios-tanque e plataformas

2006
Lula acusa PSDB de querer privatizar Petrobras e outras estatais

2010
Descoberta do pré-sal

2014
Denúncias de superfaturamento na refinaria de Pasadena (Texas).

Estratégia semelhante em 2009
Em 2009, o governo conseguiu sepultar uma CPI sobre a Petrobras, a exemplo da estratégia que adota agora no Congresso. Na época, as principais acusações envolviam contratos de publicidade para festas juninas que supostamente teriam sido fraudados ou superfaturados. Além disso, o país vivia um outro momento, com crescimento econômico consolidado e um governo bem avaliado perante a população.

Hoje, além de as denúncias serem mais complexas, a presidente Dilma Rousseff enfrenta um desgaste na avaliação de governo e o crescimento econômico é menos consistente. Além disso, independentemente da instalação da CPI, diariamente surgem novas denúncias contra a empresa, o que aumenta o desgaste de uma operação-abafa. “Mas eles vão tentar abafar, de qualquer forma. A nossa esperança é que a resposta final está nas mãos da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal”, disse o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

Para o senador Rodrigo Rollemberg, a vida do governo em 2009 era mais fácil, com irregularidades mais simples. “Hoje a própria Petrobras está bem diferente do que era lá atrás, caiu da 12ª posição no ranking das empresas mais valiosas para o 120º lugar”, completou o socialista.

O senador petista Humberto Costa considera normal que haja algum tipo de desgaste, mas aposta que ele será socializado entre todos os partidos. “Mesmo que o STF decida pela CPI mais restrita, não será difícil aparecer outros fatos correlatos envolvendo o doleiro Alberto Youssef e os partidos de oposição”, completou o petista. (PTL)

Aécio no ataque
O programa gratuito eleitoral do PSDB, que foi ao ar ontem à noite, mostrou o pré-candidato à Presidência da República, o senador Aécio Neves, no ataque. A gestão da presidente Dilma Roussef (PT) foi o principal alvo das críticas. Numa conversa dentro de um estúdio com o apresentador, o tucano abordou as denúncias de corrupção na Petrobras, a lentidão do governo federal para entregar as obras da Transnordestina e Transposição do São Francisco e o risco da volta da inflação. O programa exibiu imagens das manifestações de rua que sacudiram o país em junho do ano passado. “O Brasil tem jeito. O Brasil tem muito jeito. O problema não é o Brasil. O problema é o governo que tá aí”, disse o presidente do PSDB. No início do programa, o candidato se apresentou aos brasileiros e relembrou toda a trajetória do seu avô Tancredo Neves, que morreu em 1985, pouco antes de assumir a Presidência da República.

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