sábado, 29 de março de 2014

Petistas contrariam o partido e permanecem no governo Cabral

De 252 filiados que deveriam ter sido exonerados, metade não deixou cargos

Cássio Bruno e Juliana Castro – O Globo

RIO - Dois meses depois de anunciar o desembarque do governo de Sérgio Cabral (PMDB) e ordenar que seus filiados deixassem os cargos sob ameaça de expulsão, o PT do Rio ainda tem seus indicados na administração estadual. O GLOBO teve acesso à lista com 252 nomes levada pelo partido ao governador para que fossem exonerados. O cruzamento da listagem com o Diário Oficial e o sistema de Consulta à Remuneração do governo mostra que mais da metade dos petistas ainda continua empregada na gestão peemedebista, desobedecendo resolução do partido no estado que determinou que todos pedissem demissão até o dia 31 de janeiro.

Do total de pessoas da lista, 127 não deixaram o cargo, enquanto 103 já tiveram a exoneração publicada no Diário Oficial até ontem. A relação do PT contém nomes incompletos e com grafia errada. Em 16 casos, não foi possível localizar as nomeações e exonerações nos DOs ou a existência das pessoas no sistema de Consulta à Remuneração do governo, onde estão reunidos todos que fazem parte da folha de pagamento do estado. Em seis casos, atos publicados no DO tornaram as nomeações sem efeito. Assim, esses indicados do PT para cargos de confiança não estão no governo.

Governador não reteve lista
A lista contém apenas nomes de ocupantes e ex-ocupantes de cargos comissionados na Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, até então comandada pelo petista Zaqueu Teixeira, hoje deputado estadual. O presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, disse-se surpreso:

— A decisão foi de que nenhum petista fica no governo.

A assessoria de imprensa do governador negou que ele tenha recebido, no encontro que teve com Quaquá, a lista com os nomes dos petistas. O presidente do PT disse que Cabral não quis ficar com a relação:

— Cabral não pegou a lista. Falou apenas que os novos secretários tinham autonomia para exonerar e nomear.

No dia em que se encontrou com Cabral, Quaquá disse que aqueles petistas que não deixassem a gestão seriam expulsos. Perguntado se mantinha a palavra, ele declarou que esperaria a publicação da reportagem para agir.

Na época do encontro com Cabral, o presidente estadual do PT afirmou que o número de petistas no governo devia ser maior do que o da listagem, podendo chegar a 350. Internamente, membros da legenda dizem que seriam 700.

— Encaminhei as exonerações dos petistas que pediram. Eles entraram com requerimentos e eu os encaminhei à Casa Civil — afirmou Zaqueu, que não soube dizer quantos nomes havia na sua relação de demitidos.

Os deputados estaduais petistas Carlos Minc e Zaqueu Teixeira foram exonerados em 31 de janeiro do comando das pastas do Ambiente e de Assistência Social e Direitos Humanos, respectivamente.

Para o lugar deles, o governador nomeou o presidente do PSD no Rio, Indio da Costa, e o presidente do Solidariedade na capital fluminense, Pedro Fernandes. Arrematou o apoio dos partidos dos dois para a campanha do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), isolando o senador Lindbergh Farias (PT).

Pedro Fernandes disse que não está preocupado em exonerar os petistas:

— Não quis ter acesso à lista. Quem identifiquei que queria trabalhar e está mostrando resultado, vai ficar.

Minc disse que estava de férias na Bahia quando o PT determinou a entrega dos cargos e, segundo ele, a então presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, entregou a carta de demissão dos dois ao governo, assim como uma lista com nomes de 20 petistas que estavam na secretaria.

— No dia 30 (de janeiro), a Marilene mandou uma carta assinada por ela e por mim e tinha uma lista de 20 pessoas, entre eles um diretor do Inea e os meus superintendentes. Essa lista foi oficialmente entregue ao governador dia 30 e todos saíram — afirmou Minc.

O ex-secretário admitiu que nomeou para seu gabinete 14 pessoas que fazem parte de seu grupo de confiança e foram exoneradas da secretaria. Ao fazer o cruzamento, O GLOBO constatou que ao menos quatro exonerados da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos foram nomeados para o gabinete de Zaqueu Teixeira na Alerj.

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