segunda-feira, 3 de março de 2014

José Roberto de Toledo: Tempo gira e oposição roda

Todas as pesquisas de todos os institutos confirmam que dois de três eleitores querem mudanças no governo. Mas as pesquisas mostram que esses mesmos eleitores não sabem a quem recorrer para mudar. É como se olhassem à volta, só vissem Kombis 76 sem capota traseira e se perguntassem: "E se chover?" De repente, viver com a tia Dilma mais uma temporada não parece tão ruim.

Daí a aparente contradição de a presidente seguir na liderança da corrida eleitoral, com mais intenções de voto do que a soma dos seus adversários, apesar de esta ser uma eleição mudancista. Como é possível que um terço daqueles que clamam por mudança declarem voto em Dilma Rousseff? O eleitor é um idiota que não sabe o que quer da vida nem do governo? Não e não.

A decisão do voto é sempre pragmática. O cálculo eleitoral começa pelo que o eleitor pode ganhar votando em um candidato específico. Se ele não reconhece nenhuma vantagem pessoal na eleição de qualquer dos candidatos, o raciocínio muda e passa a ser o que ele tem a perder com a vitória de cada um deles. Nesse caso, quem oferece menor risco tende a ser o vencedor.

Dilma é, hoje, a aposta menos arriscada para mais de 40% do eleitorado. Pelo menos metade desse contingente não está terrivelmente excitado com a perspectiva de ver a presidente dando as ordens por mais quatro anos no Palácio do Planalto. Só cita seu nome depois de compará-lo aos dos demais candidatos ao cargo. Chega a Dilma por eliminação da concorrência.

Isso aparece na comparação dos resultados dos vários cenários eleitorais pesquisados pelo Datafolha. A intenção de voto estimulada em Dilma varia de 40% a 47%, dependendo de quem são os adversários. Sua maior vantagem é quando enfrenta só Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). E a menor é com Marina Silva (PSB) e Joaquim Barbosa (STF) no páreo, além do tucano.

No cenário que inclui os nanicos, Dilma perde 3 pontos (cai de 47% para 44%), mas Aécio e Campos também perdem: 1 ponto e 3 pontos, respectivamente - porque eleitores evangélicos e verdes tendem a preferir candidatos com seu perfil ideológico.

Isso mostra duas coisas: 1) Aécio e Campos não estão conseguindo catalisar o desejo de mudança tão bem quanto Marina e Joaquim; 2) mesmo quando aumenta o número de adversários, Dilma sustenta um eleitorado que a levaria pelo menos ao segundo turno.

Antes de entrar pelos problemas da oposição, convém entender por que Dilma mantém tantos eleitores potenciais. A resposta óbvia é porque metade dos brasileiros aptos a votar dá pelo menos nota 7 ao governo da petista, segundo o Datafolha. E, nessa metade, 77% declaram intenção de votar em Dilma.

A chance de alguém votar na candidata incumbente é proporcional à sua satisfação com o governo. Dilma tem 60% dos votos de quem lhe dá nota 7, 80% de quem lhe dá 8, e 90% dos 9 e 10. Abaixo de 7, porém, sua penetração no eleitorado é mínima: 14%.

Afora torcer para a presidente não sustentar seus 19% de notas 9 e 10, 18% de 8 e 15% de 7, Aécio e Campos têm que calibrar o discurso eleitoral para maximizar suas chances. Quanto mais radicalmente contra o governo ele for, mais apelo aos mudancistas ele terá, mas será também maior o risco de ambos alienarem a metade do eleitorado que têm simpatia por Dilma.

Além de saber o que dizer, os dois nomes da oposição precisam cavar oportunidades para fazer seu discurso chegar aos eleitores - principalmente na pré-campanha. Isso porque, quando o palanque eletrônico começar no rádio e na TV, eles terão contra si uma desvantagem maior do que Geraldo Alckmin e José Serra tiveram em 2006 e em 2010: têm, juntos, menos da metade do tempo de Dilma.

Tudo isso torna imprescindível aos candidatos, a todos eles, entender o que o eleitor quer mudar e como. Sem descobrir isso, vão rodar em falso enquanto o relógio gira rumo a outubro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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