segunda-feira, 10 de março de 2014

Crise entre PMDB e PT começa a corroer liderança de Temer

Cesar Felício, Bruno Peres e Lucas Marchesini

BRASÍLIA - A crise entre o PMDB e o PT nos Estados começa a corroer a liderança do vice-presidente Michel Temer dentro na sigla. Temer é presidente licenciado do partido e está no comando da legenda desde 2001. Interlocutor preferencial da presidente Dilma Rousseff para a aliança, o vice-presidente esteve ontem no Palácio da Alvorada para discutir o espaço da sigla no governo e a montagem dos palanques estaduais, em reunião que durou duas horas e quinze minutos, da qual participou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Antes, Temer se reuniu com o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o líder do partido na Casa, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), no Palácio do Jaburu. O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não participou do encontro prévio, mas chegou ao Jaburu à noite onde encontrou os participantes da reunião do Alvorada. Depois de uma hora e meia, saíram sem falar com a imprensa.

"Há uma dificuldade da direção do partido em se impor quando as questões estaduais estão em jogo", comentou o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, integrante da Executiva Nacional e pré-candidato ao governo da Bahia. Em pelo menos dez Estados o PMDB luta contra o PT para garantir espaço nas eleições majoritárias. Temer opera para ampliar o espaço pemedebista no governo e permanecer na chapa presidencial. O apoio a Dilma garantiria os seis minutos diários que o partido tem no horário eleitoral gratuito e o PMDB ficaria liberado para as alianças nos Estados, da mesma forma como se deu em 2010.

Desta vez, entretanto, o partido está mais frágil. O PMDB corre o risco de perder os governos do Rio e do Maranhão, onde os governadores Sérgio Cabral e Roseana Sarney estão desgastados e com dificuldade de fazer o sucessor. O partido não concorre em situação favorável em nenhum outro Estado de grande porte. No Ceará, Eunício Oliveira lidera as pesquisas mas é pressionado pelo PT a sair do caminho do candidato lançado pelo governador Cid Gomes, que abandonou o PSB para permanecer aliado do Planalto.

A crise entre o governo e o partido começou quando Dilma ensaiou passar o Turismo, da cota dos deputados do PMDB, para o PTB e convidar Eunício para comandar o ministério da Integração Nacional, com a concordância de Temer. Eunício recusou o convite. O vice-presidente em seguida articulou a nomeação do senador Vital do Rego (PB) para o Turismo. O parlamentar paraibano está sendo pressionado pela bancada do PMDB na Câmara a recusar.

Amanhã, em reunião convocada pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), os deputados da sigla devem discutir a apresentação de requerimento uma pré-convenção nacional que sinalizaria o fim da aliança presidencial. A reunião aconteceria já no próximo mês e poderia levar Temer a sair da chapa. Entre os Estados com maior conflito regional com o PT, estão o Rio, de Cunha, e as bases de seus dois vice-líderes, Danilo Forte (CE) e Lúcio Vieira Lima (BA).

Ontem, provocado pela imprensa, o vice-presidente reagiu em uma visita à sua cidade natal, Tietê (SP), e afirmou que dentro do partido há uma maioria de dois terços pela manutenção da aliança. "Não é nem A, nem B, nem C, nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou outro, é a convenção nacional", afirmou. Foi uma alusão indireta à movimentação dos deputados pemedebistas que temem uma redução da bancada. A pressão do PT sobre o partido tem também esse objetivo, o de conquistar maiores bancadas nas Casas e remover o PMDB das presidências da Câmara e Senado.

No Senado, onde 15 dos 20 senadores da sigla não renovam mandato este ano, a situação do governo é mais cômoda. Nas reuniões de ontem, a preliminar realizada no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, e o encontro de Temer com Dilma, que entrou pela noite, ficou clara a intenção do governo de trabalhar com o PMDB do Senado e isolar o da Câmara.

Fonte: Valor Econômico

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