sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

PMDB pressiona PT e ameaça convenção para rediscutir chapa com Dilma

César Felício

BRASÍLIA - O PMDB deve aumentar a pressão sobre o PT nas próximas semanas para reforçar seus palanques estaduais. Já existe entre os Estados insatisfeitos número de diretórios suficiente para uma convocação de uma pré-convenção nacional no dia 26 de abril para rediscutir a presença do vice-presidente Michel Temer na chapa em que a presidente Dilma Rousseff deve disputar a reeleição.

O assunto ainda é tratado com discrição dentro da sigla e não há uma proposta formal, mas a possibilidade foi mencionada pelo próprio vice-presidente, em entrevista ao jornal "Correio Braziliense" no início do mês, parcialmente reproduzida em sua conta da rede social Twitter. Temer disse que "fará todo o possível" para a reedição da chapa presidencial, mas ressalvou que "nunca deixou seu partido de lado" e o que o PMDB decidir será acatado.

As pré-convenções pemedebistas são um instrumento de pressão tradicional na sigla para fortalecer seus palanques regionais. Acontecem cerca de dois meses antes das convenções estaduais. Apenas em 1994 levaram a uma ruptura com o Palácio do Planalto. Em 1998, o partido decidiu se ausentar da eleição presidencial, o que interessava ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu impedir a candidatura do ex-presidente Itamar Franco. Em 2006, o instrumento foi utilizado para bloquear a candidatura do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho.

Atualmente, segundo o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), só há alianças entre o PT e o PMDB em três Estados. A ruptura entre as duas siglas já está definida na Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Acre e Rio de Janeiro. Caminha para o impasse na Paraíba, Sergipe, Paraná e Ceará. Para a convocação da pré-convenção, basta a assinatura de nove diretórios.

"Eles estão achando que vão resolver os problemas, mas eles são graves. Está tudo parado", comentou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Eunício é candidato a governador no Ceará e tenta obter o apoio do governador Cid Gomes (Pros) e do PT à sua pretensão. O PT local definiu o Pros como seu aliado preferencial no Estado, desde que tenha assegurada a candidatura ao Senado na chapa. Para a imprensa local, neste fim de semana, o senador foi mais incisivo, e afirmou que havia "muita gente querendo o PMDB", em uma alusão ao PSB do governador pernambucano Eduardo Campos e ao PSDB do senador mineiro Aécio Neves, ambos oponentes de Dilma e sem candidato a governador no Ceará.

Cid Gomes, que não pode se reeleger, tenta prolongar o processo de definição até junho, estimulando duas candidaturas de seu partido, só hegemônico no Ceará: a do vice-governador, Domingos Filho, e a do presidente da Assembleia Legislativa Zezinho Albuquerque. A vinculação entre Cid Gomes e a presidente é forte: o governador cearense enfraqueceu a candidatura presidencial de Eduardo Campos no Nordeste, ao sair do PSB no fim do ano passado. E o Ceará foi um dos estados que mais recebeu investimentos do governo federal. Somadas às transferências voluntários, o estoque da carteira aplicada equivale a um orçamento estadual.

A aposta do PMDB nas eleições regionais é alta este ano. De acordo com Raupp, são 17 candidaturas próprias a governador até o momento. "Serão poucos os Estados em que o PT e o PMDB estarão juntos. O problema é que o PT insiste em palanque duplo mesmo em estados onde eles não são competitivos", disse Raupp. O dirigente citou como exemplo o caso de Goiás, em que o PMDB lançou o empresário Júnior da Friboi. O PT, que governa a capital no Estado, lançou o prefeito de Anápolis, Antonio Gomide.

A pressão por palanques estaduais aumentou este mês em função da substituição dos dois ministros da cota do partido que são deputados federais, o da Agricultura Antonio Andrade e o do Turismo Gastão Vieira. Dilma decidiu nomear técnicos para as duas pastas, mas ainda não negociou os nomes com a cúpula pemedebista. Uma reunião entre Dilma e Temer era prevista para a tarde de quarta-feira, mas os dois conversaram apenas por telefone e o PMDB não conta com uma solução para a reforma ministerial antes do feriado do Carnaval.

"É muito grande a preocupação entre os deputados de que em função desses impasses haja uma redução de bancada na próxima eleição", disse o deputado gaúcho Darcisio Perondi. No Rio Grande do Sul, o PMDB lançou a candidatura do ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori, contra a reeleição do governador Tarso Genro (PT).

"Uma redução de bancada nesta eleição tende a diminuir o espaço do PMDB no governo em um segundo mandato de Dilma. A ausência de ministros com representação política agrava a falta de apoio nos estados que já existe", afirmou o deputado goiano Sandro Mabel.

Fonte: Valor Econômico

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