segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Brasil paga taxa maior para atrair investidor

Prêmio de risco cobrado por investidores que apostam no Brasil supera o de emergentes

Martha Beck

BRASÍLIA - O Brasil já paga o preço da crise de credibilidade junto ao mercado, apesar dos esforços da presidente Dilma Rousseff para mostrar que seu governo está comprometido com o controle da inflação e com o equilíbrio fiscal. Economistas ouvidos pelo GLOBO apontam como sinal da desconfiança crescente o atual patamar do prêmio de risco cobrado pelos investidores que apostam no país. Na semana passada, o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos - título considerado um dos termômetros da confiança no país - estava sendo negociado a 210,9 pontos-base, acima dos 157 pontos com que encerrou 2013. Na mesma data, outros países da América Latina que têm perfil comparável ao brasileiro estavam com taxas de CDS bem inferiores. No México, o prêmio de risco era de 111,5 pontos; na Colômbia, 134,4 pontos; no Peru, 144,3 pontos; e no Chile, 82,3 pontos.

O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, explica que o prêmio de risco é uma combinação de diversos fatores, entre eles, o crescimento da economia, a inflação e as contas públicas. Por isso, num momento em que esses indicadores apresentam uma piora, os investidores cobram mais caro para apostar no mercado nacional.

Problemas internos em xeque
- No Brasil, o que se vê é uma acomodação do crescimento que torna o país menos atraente. Esse quadro acaba se agravando com problemas como a falta de transparência na área fiscal - afirma Padovani.

As taxas do CDS de cinco anos ainda não colocam o Brasil numa situação como a do fim de 2008, quando começou a crise econômica internacional e elas chegaram perto de 400 pontos. Em 2009, por exemplo, a taxa alcançou 360 pontos base. Mas o país já viveu períodos bem mais favoráveis em relação à confiança dos investidores, como em maio de 2007, por exemplo, quando a taxa do CDS estava em 67 pontos.

Outro sinal da perda de credibilidade está na alta do dólar e na redução dos investimentos estrangeiros diretos em capital, destaca o diretor da corretora de câmbio NGO, Sidnei Nehme. Ele reconhece que o câmbio e o fluxo de recursos estrangeiros que ingressam no país estão sendo fortemente afetados pelas mudanças na política monetária dos Estados Unidos, que vêm provocando uma fuga de capital de economias emergentes, mas acredita que a desconfiança dos investidores acaba sendo maior em relação ao Brasil devido aos problemas domésticos.

- O governo joga a culpa no mercado internacional, mas a verdade é que os problemas internos são mais agudos que os externos - afirma Nehme.
Esta também é a avaliação do economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano:

- O governo quer atribuir seu insucesso a fatores externos. Mas é equivocado dizer isso. A possibilidade de as agências de classificação de risco rebaixarem a nota brasileira é fruto das políticas adotadas no Brasil.

Para o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e fundador da Schwartsman & Associados, se o governo tivesse mantido uma política fiscal mais sólida e a inflação próxima ao centro da meta, o país estaria melhor agora, num momento em que o mundo olha as economias emergentes com desconfiança. No ano passado, o superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) ficou em 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), sendo que meta era de 2,3% do PIB. Já a inflação terminou o ano em 5,91%, mais próxima do teto de 6,5%.

- O problema é que agora o cenário pressiona o câmbio, que vai acabar se refletindo numa inflação que já está alta - disse o ex-diretor do BC.
O diretor da NGO destaca que outros emergentes como o México saíram do Fórum Econômico Mundial de Davos melhor avaliados pelo mercado que o Brasil. Dados do Banco Central mostram que, no ano passado, US$ 12,26 bilhões deixaram o Brasil, o que representou a maior retirada de recursos desde 2002. Este ano, o fluxo cambial está positivo em US$ 1 bilhão, mas, segundo Nehme, isso não é uma tendência:

- O cenário para o ano é ruim. Tanto que mesmo com o fluxo positivo de dólares para o Brasil e com os esforços do Banco Central para segurar a moeda americana, o real está se desvalorizando - disse ele, acrescentando:

- Nem sempre o BC encontrará respostas a suas intervenções, pois grande parte da alta é pela piora das perspectivas e não ainda por demanda efetiva no mercado à vista ou futuro, e nestas circunstâncias o preço da moeda americana não sobe com base nos fundamentos, mas como costumamos chamar “no vazio”.

Indicadores favoráveis
Os técnicos do governo, no entanto, discordam dos analistas. Segundo eles, a alta do prêmio de risco está atingindo todas as economias emergentes indistintamente.

- O mercado está reprecificando os ativos por causa das mudanças dos Estados Unidos e também pela acomodação da economia chinesa. Isso tem um efeito negativo para os mercados emergentes, que estão sendo tratados pelos investidores de forma generalizada - afirma um integrante da equipe econômica.

Ele acredita que, num segundo momento, os investidores vão retomar a confiança nos emergentes e aí verão que o Brasil tem indicadores favoráveis. Um deles, segundo o governo, é o fato de o país ter reservas elevadas, de US$ 376 bilhões, e já ter adquirido US$ 6,5 bilhões antecipadamente para honrar dois anos de pagamentos da dívida externa.

- Isso dá tranquilidade aos investidores - explica.

Fonte: O Globo

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