sábado, 18 de janeiro de 2014

Luiz Carlos Azedo: A esfinge dos rolezinhos

Presidenciáveis prepararam um discurso padrão para o movimento de jovens nos shoppings. Não que tudo seja óbvio. Ao contrário. O problema é que os políticos, ou não sabem exatamente o que dizer, ou simplesmente têm medo de desagradar ao eleitor, ou virar o alvo dos protestos, como nas manifestações de junho

Não confie em alguém com mais de 30 anos. Se ele for um político, redobre os cuidados. O conselho é para os integrantes dos rolezinhos, marcados nos shoppings país afora. Nada é muito sincero no mundo do poder, ainda mais quando os poderosos não sabem o que dizer ou fazer. E aqui todos os presidenciáveis do PT, PSDB e PSB se igualam no discurso “o-direito-de-circulação-tem-de-ser-preservado”, mas a “polícia-deve-agir-caso-exista-risco-de-vandalismo”.

Com as devidas proporções, os rolezinhos se assemelham às manifestações de junho do ano passado em pelo menos dois aspectos. Primeiro, as convocações são feitas pelas redes sociais. Depois, há a incapacidade dos políticos em interpretar o fenômeno. Não é lá muito fácil. Para os integrantes do Planalto, por exemplo, os rolezinhos ainda são vistos, de forma proposital, com distanciamento. A cautela é fácil de explicar.

Nada mais delicado para Dilma Rousseff do que vincular a gestão federal aos rolezinhos, como ocorreu em junho do ano passado nas manifestações. Por mais que parecesse óbvia a necessidade do pronunciamento da presidente na noite de sexta-feira, 21 de junho, tinha gente que alertava sobre riscos. As manifestações daquela época ainda estavam no início e, até então, não se sabia a extensão dos protestos. A turma que defendia a declaração da presidente ganhou. E lá foi Dilma para a televisão.

A primeira frase na época era o reconhecimento da “força da democracia” e o “desejo da juventude” de fazer o “Brasil avançar”. As palavras, apesar de estudadas — “avançar” em vez de “mudar” —, não impediram que a popularidade da presidente despencasse. Há quem considere até hoje que o discurso apenas serviu para levar Dilma para o centro dos protestos. Por mais que os governadores — principalmente o do Rio — tenham sido atingidos pelo turbilhão, ela ficou com o desgaste.

Preconceito
Hoje, escaldada, Dilma prefere o silêncio público. Assim, os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Marta Suplicy (Cultura) foram uma espécie de porta-vozes do Planalto. Enquanto Carvalho disse que os rolezinhos são uma resposta ao preconceito sofrido pelo jovem da periferia e que a repressão apenas colocaria “gasolina no fogo”, Marta defendeu abrir o diálogo com o jovem. Blá-blá-blá. As declarações de oposição de Eduardo Campos (PSB) e de Aécio Neves (PSDB) não foram melhores.

Aécio disse que o rolezinho não é uma questão de segurança, mas um “fenômeno natural”. E continuou: “Esse é um governo que lava as mãos, que coloca sobre o ombro dos estados, principalmente, a responsabilidade total da questão da segurança pública”. Campos, por sua vez, disse: “Não se pode ter um olhar só de polícia, não pode ter preconceito”. Para ele, “se em alguns desses episódios houver depredação, alguma violação de direito de outros, aí passa a ser um problema de segurança”.

Parece que governo e oposição combinaram o discurso. Ao mesmo tempo que exaltam o direito à livre circulação, mostram-se contrários à violência. O óbvio. Os políticos sabem que parte do eleitorado é contra os rolezinhos. E que, caso façam uma defesa apaixonada do movimento, possam se arrepender no futuro. Assim, preferem permanecer distantes. À espera do próximo rolezinho.

Sem terno
A moda do funcionalismo público do Rio em abolir o terno e a gravata ao longo do verão bem que poderia chegar a Brasília, que beirou os 32° nos últimos dias. A saúde do cidadão — obrigado a vestir a indumentária ao longo deste mês de janeiro na capital federal — agradeceria. No Tribunal de Justiça de lá, por exemplo, a regra vale até 21 de março, quando começa o outono. Por ora, o terno foi abolido, mas é preciso usar calça e camisa social “devidamente fechada”. Pelo menos não tem gravata, não é mesmo?

Fonte: Correio Braziliense

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